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19 maio 2011

Errata: Eletrobras

Errata: Eletrobras – por Isabel Sales

Essa deveria ser a continuação de uma postagem de ontem, porém não a intitularei “Eletrobrás 2” por que houve um erro. Desculpem-nos! Após tanto debate sobre acentuar ou não o nome da empresa, ainda assim erramos e, quem sabe, desmerecemos um tanto do dispêndio da publicidade a respeito da nova marca da Eletrobras.

Segue uma errata então: o correto é Eletrobras e não Eletrobrás. Sentiu a diferença? Marcante, não? Percebemos assim que muitos dos gastos com publicidade para lançar a nova Eletrobras, uma, quem sabe, futura tipo-Petrobrás, foram bem aplicados, não é mesmo? Na mensagem da administração do relatório anual de 2010 a primeira frase afirma: “mais do que uma modificação de forma e de cores, a nova marca da Eletrobras, lançada em 2010, após meses de trabalho integrado envolvendo dezenas de profissionais, simbolizou a reinvenção da empresa, cada vez mais preparada para os novos tempos”.

Vamos aproveitar essa “errata”, para acrescentarmos dados a outros pontos mencionados ontem. Comecemos pelo [1] em que afirmamos “É estranho isto, já que uma situação tão grave não surge de repente. E os anos anteriores?”. Esse comentário se referia à frase em que pela primeira vez os auditores foram taxativos em relação a um rombo entre passivos e ativos circulantes das empresas distribuidoras do sistema.

Mas graças ao Google (novo pai dos burros) descobrimos que não, não foi a primeira vez que perceberam que a Eletrobrás apresenta risco de continuidade. Vejam só:

- Há um “formulário de referência” publicado pela Eletrobrás em 30 de junho de 2010, disponível aqui, que na página 172, tratando sobre o exercício social de 2007, afirma: “foram apresentados [pelos auditores independentes] parágrafos de ênfase relatando sobre o risco de continuidade operacional das subsidiárias de nossas controladas Eletronorte, Manaus Energia e Boa Vista Energia, e também sobre a continuidade de nossa controlada Eletroacre. Sobre o tema, a Companhia garante a continuidade operacional de tais investidas por meio de aporte de recursos financeiros”.

Na página 174, sobre o exercício social de 2009 notem os parágrafos de ênfase emitidos pela auditoria independente: “(...) a Companhia mantém provisão para perdas em adiantamentos para futuro aumento de capital em determinadas empresas controladas do segmento de distribuição de energia no montante de R$ 1.858.603 mil, sendo apresentada ainda provisão para passivo a descoberto no montante de R$ 53.660 mil. As empresas vêm apurando prejuízos repetitivos em suas operações, sendo que as informações financeiras dessas controladas foram elaboradas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil aplicáveis a companhias em regime normal de operações. Os planos da administração com relação ao equacionamento financeiro das referidas empresas incluem o processo de capitalização de dívidas e de adiantamentos para futuro aumento de capital ainda a ser efetivado, conforme mencionado na nota explicativa 42. As demonstrações financeiras não incluem quaisquer ajustes em virtude dessas incertezas”.

Na página 176 (ainda sobre o exercício social de 2009), a Eletrobrás, por sua vez, afirma que: “No que diz respeito ao risco de continuidade operacional de nossas empresas distribuidoras de energia, a Administração garante a continuidade dessas empresas em função de aporte de recursos financeiros e através de um plano de reestruturação dessas companhias”.

Legal. A auditoria vê risco de continuidade, mas a administração da Eletrobras garante a continuidade das empresas. Mas a que custo? E até quando? Vocês se lembram da postagem “energia cara tira indústrias do Brasil”? Pois é! E vocês se lembram da reportagem que saiu na The Economist, edição impressa de fevereiro, sobre o apagão brasileiro? Disponível em português aqui no sítio de notícias do UOL há referências sobre o Brasil ter que investir dinheiro da iniciativa pública e privada para conseguir suprir os problemas e a demanda por energia. E aqui no Estadão falando sobre a energia elétrica no Brasil já ser 2/3 mais cara que nos Estados Unidos, dentre outros fatos que complicam o sistema de distribuição de energia pelo Brasil.

Isso nos traz ao item [2] da postagem de ontem "Já é um avanço esta constatação. Mas será que resolve o problema?" que se refere ao seguinte trecho da reportagem do Valor Econômico: "Esse tipo de concessão não é para ser pública, a não ser que se crie uma cultura, que toma um longo prazo. Todos do setor sabem disso, o presidente da Eletrobras sabe, o governo sabe e os políticos estão começando a perceber.".

Acho que vou criar dissabores ao afirmar isso, mas a verdade é que eu sou a favor da privatização (acho que meu professor, o Dr. Carlos Alberto Ferreira Lima, tentará alterar a nota que recebi em sua matéria e me reprovar caso leia essa postagem). Mas para você, meu querido professor, e para todos os que pensarem em me bloquear no twitter, indico a postagem: Defesa da Privatização na qual se afirma - Não é função do governo fazer um pouco pior ou um pouco melhor o que os outros podem fazer, e sim fazer o que ninguém pode fazer, dentre outras coisas.

Além disso, tempos atrás tive a oportunidade de auxiliar os professores Pedro Oliveira e Paulo Lustosa em uma pesquisa sobre a privatização da Vale que mostrou melhoria na eficiência produtiva no período após a privatização. Na postagem “Brasil, Economia e Governo” destacamos um link para a resposta à pergunta “valeu à pena privatizar a Vale”? Na reportagem são levantados vários pontos contra e a favor, mas no fim do dia a conclusão é de que hoje temos sim uma empresa com mais valor.

A Eletrobras poderia ser uma ótima empresa, como ameaçaram transformar, mas acho que com a mentalidade estatal nos próximos anos pode até haver melhora, mas em uma quantidade sem importância. Pra você isso é o suficiente? Participe nos comentários.

Um comentário:

  1. Vou gerar mais polemica,na discussão, a privatização de uma empresa com má gestão e ineficiência operacional (com risco de descontinuidade) não vai amenizar o problema, vide os trens no Rio de Janeiro, essas subsidiarias não são "viáveis" economicamente, O Estado deve mante-las porém com gestão mais profissional (burocrática) e menos "politica".
    (ex aluno do Carlos Lima)

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