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08 junho 2010

A questão ambiental

A notícia a seguir refere-se ao desastre de Bhopal. Somente 25 anos após a desastre, o julgamento.

Somente mais de 25 anos após a morte de milhares de pessoas na cidade de Bhopal, um tribunal indiano condenou sete ex-funcionários da subsidiária indiana da multinacional Union Carbide por negligência no vazamento de gás, num dos maiores desastres industriais já ocorridos no mundo. Sobreviventes do acidente que aguardavam do lado de fora do corte consideraram a sentença muito leve — dois anos de prisão — e muito atrasada. Estima-se que 100 mil pessoas ainda sofram os efeitos do gás. Os condenados saíram sob fiança e ainda podem recorrer da sentença.

— Essa punição não é suficiente. Eu perdi o meu filho, um irmão e meu pai. Eu ainda tenho pesadelos — contou Ram Prasad, de 75 anos.

O governo indiano calcula que 3.500 pessoas tenham morrido quando gás vazou de uma fábrica da Union Carbide em Bhopal, numa área próxima a favelas. Ativistas estimam em 25 mil o número de pessoas mortas imediatamente e nos anos seguintes, em decorrência do gás.

Os sete empregados — todos indianos e muitos já na faixa dos 70 anos — foram ainda multados em 100 mil rúpias (cerca de R$4 mil), enquanto a divisão indiana da empresa deverá pagar 500 mil rúpias (R$20 mil). Um oitavo funcionário morreu antes do julgamento. Organizações como a Anistia Internacional (AI) defendem que o governo indiano leve agora à Justiça a Union Carbide Corporation (UCC), que tem sede nos Estados Unidos.

“Estas são condenações históricas, mas muito pequenas e muito tardias. Vinte e cinco anos é uma demora inaceitável para os sobreviventes do desastre e para as famílias dos mortos aguardarem pela conclusão de um julgamento criminal”, disse Audrey Gaughran, diretor da AI para Assuntos Globais. Segundo a organização, 100 mil pessoas sofrem de doenças relacionadas ao gás.

Na manhã de 3 de dezembro de 1984, uma fábrica de pesticida controlada pela Union Carbide deixou escapar cerca de 40 toneladas de isocianato de metila, um gás letal. Investigadores dizem que o acidente ocorreu quando entrou água num tanque contendo o gás altamente reativo, elevando a pressão. A empresa afirma que foi um ato de sabotagem, nunca esclarecido.

Mais de três mil pessoas morreram logo após o vazamento. Crianças e idosos, a maioria extremamente pobre, morreram na cama, cerca de três minutos após inalar o gás. O alarme da indústria falhou, não soou imediatamente, e milhares de pessoas não sabiam que deviam fugir.

Segundo a Central de Investigação da Índia, a empresa não seguia os procedimentos de segurança adequadamente, e os efeitos do gás elevaram o número de mortes nos anos seguintes. Ativistas dizem que até hoje crianças nascem na região com danos cerebrais e defeitos físicos devido ao acidente.

Anos depois a empresa vendeu a subsidiária, que hoje se chama Eveready Industries India. Nos Estados Unidos, a Union Carbide disse ontem, numa declaração em seu website, que a empresa e seus empregados não estão sujeitos à jurisdição indiana, já que não estavam envolvidos no funcionamento da fábrica. Segundo a Dow Chemical, que comprou a Union Carbide em 2001, o caso foi resolvido em 1989, quando a empresa pagou US$470 milhões ao governo indiano — cerca de R$864 milhões.


Sentença branda e tardia na Índia
O Globo - 8/6/2010

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