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26 agosto 2023

Previsão e contabilidade

A questão da previsão é um assunto que interessa de perto à contabilidade. Há diversas situações em que a contabilidade necessita olhar para o futuro e, nesses casos, saber como lidar com previsões ou estar a par das mais recentes previsões realizadas por especialistas pode ser importante.

Na contabilidade, o exemplo onde a previsão é fundamental ocorre na determinação sobre a continuidade ou não de uma entidade. Apesar de existirem ferramentas para saber sobre a chance de uma empresa entrar em processo de descontinuidade, estamos falando de modelos probabilísticos, que podem estar certos ou não.


Outro exemplo é a previsão sobre a vida útil de um ativo. Baseada em fatos passados, a contabilidade determina uma vida útil e a partir daí faz-se o cálculo de depreciação. Novamente, a previsão exerce um papel crucial na mensuração. E podemos falar das previsões dos clientes que irão pagar, dos estoques que não serão vendidos e perderão validade, da chance de ocorrer um evento que irá demandar recursos da entidade para processos judiciais, da obtenção de uma patente, entre muitos outros eventos.

De maneira mais moderna, a contabilidade passou a escolher certos caminhos que dependiam substancialmente da previsão, sem que isto significasse necessariamente um aumento na qualidade da informação. Ao contrário da meteorologia, onde a previsão teve um grande desenvolvimento nos últimos anos, o olhar para o futuro da sociedade, da economia e das transações ainda carece de melhoria.


Quando trazemos a questão ambiental de forma explícita para as informações empresariais, as incertezas são enormes. Vamos lembrar um pouco o que ocorreu nos anos setenta. Após diversas guerras contra Israel, alguns países árabes começaram a usar o petróleo como arma política. O cartel formado pelos produtores incentivou uma crise, onde o preço de um insumo até então barato, subiu de forma considerável. A crise do petróleo aumentou os preços e fez com que os países importadores gastassem quantias muito maiores na compra do insumo.

Neste momento, as previsões eram que o produto sofreria por muitos anos com seu preço. Seria necessário encontrar substitutos que possibilitassem a redução da dependência dos países em relação aos árabes. Cinquenta anos depois, ainda temos uma economia baseada no petróleo, indicando que as profecias falharam. E o preço está bem acessível em relação ao esperado. E o Brasil, tradicional importador, hoje tem no petróleo a segunda fonte de exportação. Ou seja, a bola de cristal dos anos setenta estava errada. E estamos falando de cinquenta anos em termos de horizonte de tempo.

A expectativa com o futuro do mundo também deve levar em consideração o fato de sabermos muito pouco sobre como fazer previsões adequadas. Em um artigo da Vox, no endereço https://www.vox.com/future-perfect/23834709/social-cost-carbon-future-predictions-climate-change-progress-possibilities, há uma discussão sobre nosso histórico de previsões e a situação atual sobre o que sabemos sobre a mudança no clima. Apesar de termos hoje mais instrumentos de previsão do que há cinquenta anos, a humanidade ainda não sai bem nas previsões sobre aspectos vinculados à mudança climática.


Parte do nosso problema, embora não seja somente isto, está na inovação. Nos anos setenta, um dos motivos de preocupação era o fato dos automóveis consumirem combustível de forma exagerada. Alguns modelos parecem que não evoluíram, mas hoje é comum encontrar automóveis com um consumo médio de 15 quilômetros por litro ou mais, o dobro do que existia há cinquenta anos.

Quando temos que mensurar o custo do carbono, isso está vinculado à quantidade de CO2 que é liberada na atmosfera. Mas também como a mudança climática irá afetar as pessoas. Não temos a alternativa de esquecer o futuro, mas trabalhar com modelos preditivos falhos pode ser pior. Uma crítica feita no texto da Vox é que algumas das estimativas tentam fazer previsões para o ano 2300; isto é lidar com uma grande incerteza. Talvez ser menos ambicioso, como fazer previsões para as próximas décadas, seja melhor.

Não há como evitar o problema central aqui. Temos o poder, como civilização, de mudar o mundo em que vivemos de maneiras duradouras e potencialmente irreversíveis; as decisões que tomamos provavelmente afetarão nossos distantes descendentes. Adivinhar qual será a produtividade das culturas em 2300 pode ser quase impossível, e cálculos sobre os custos sociais do carbono que dependem dessas suposições sobre a produtividade das culturas terão uma incerteza extraordinariamente alta.


Mas declarar que não faremos essas suposições não significa que não afetamos o mundo no futuro distante, apenas que paramos de tentar adivinhar como. Eu tendo a pensar que é melhor ter suposições inadequadas do que não ter suposições, melhor ter uma ampla faixa de possibilidades do que tratar uma pergunta como desconhecida e, portanto, calcular como se seu valor fosse zero. Mas é importante prosseguir com um sentimento doloroso da inadequação dessas suposições. 

Foto: Vox e JJ Jordan

25 agosto 2023

Impacto da Inteligência Artificial no Crescimento

O uso cada vez maior da IA (inteligência artificial) leva a questionar sua influência sobre a economia. Segundo Cowen, no blog Marginal Revolution, essa influência deverá ser moderada, mas não excepcional. Essa conclusão seria baseada na história econômica, que mostra que a taxa de crescimento durante a Revolução Industrial na Inglaterra foi de 2,4% ao ano em média, acima do crescimento anterior de 0,6%. O período analisado seria entre 1831 e 1873, e a taxa não seria excepcional. No entanto, o que importa aqui é que o crescimento ocorreu por um longo período de tempo.


Aplicando nosso conhecimento da história econômica à situação atual para medir o impacto da IA, a estimativa poderia ser feita ao analisar como a inteligência humana tem sido incorporada no desenvolvimento social e econômico, segundo Cowen. Contudo, para ele, essa nova inteligência humana parece não ter aumentado materialmente o crescimento nos últimos tempos, o que sugere cautela quanto ao impacto da IA.

Com base nisso, uma suposição de crescimento anual de um quarto a meio ponto percentual decorrente da IA pode ser uma estimativa mais realista.

Isso não é algo para ser menosprezado: Considere que a renda per capita nos EUA está se aproximando de US$ 80.000. Se crescer a uma taxa de 2% ao ano, em 50 anos esse valor será quase US$ 215.000. Por outro lado, se a economia crescer a 2,5% ao ano, será quase US$ 275.000 - uma diferença substancial, e com retornos compostos essa diferença se amplia ao longo do tempo. 

Foto: Christopher Burns

Padrões Obscuros

Padrões obscuros são quando as pessoas projetam interfaces com a intenção de enganar ou ludibriar. Infelizmente, todos estamos familiarizados com esses padrões. Eles estão por toda parte.

Pode ser o teste gratuito que levou inesperadamente a uma assinatura ou a assinatura que foi fácil de fazer, mas precisou ser cancelada enviando uma carta. Ou pode ser uma tentativa externa de dar controle sobre a privacidade, mas com opções tão confusas a ponto de fazer o oposto. Talvez você tenha tentado ajustar as preferências de cookies em um site de notícias, mas só encontrou um botão para 'Aceitar todos' depois de editar suas preferências — grrrr! Enganar as pessoas dessa forma para compartilhar mais informações do que o pretendido passou a ser conhecido como "Privacy Zuckering" (alusão a Mark Zuckerberg).

Lembra dos pop-ups que só podiam ser fechados depois de encontrar um pequeno 'x' que se movia pela tela?


Recentemente, eu queria pausar uma assinatura, mas fui informado de que isso invalidaria todos os créditos não utilizados acumulados que eu já tinha pago (e ainda estou pagando). O The Pudding publicou uma ótima análise sobre como cancelar assinaturas de serviços online. Às vezes, isso pode ser involuntário — naturalmente, há menos incentivo para trabalhar em ótimas experiências de encerramento de conta e cancelamento de assinatura do que para se inscrever.

O exemplo no esboço (figura acima) foi uma situação real que vivenciei (eu gostaria de ter tirado um screenshot) em um site de companhias aéreas, onde os designers esconderam a opção de não comprar seguro dentro da lista de seleção de país.

E esses padrões não se limitam apenas ao ambiente online. Cassinos astutos empregam técnicas de design no mundo físico para seu benefício, como remover referências ao passar do tempo, como relógios ou janelas, usar navegação labiríntica e os sons constantes de moedas tilintando para dar a sensação de ganho contínuo.

"Padrões obscuros" foi cunhado por Harry Brignull e documentado no site Deceptive patterns e agora em um livro.

Fonte: aqui

Quando a má reputação afeta o valor do ativo

Veja um caso bem interessante: trata-se de uma propriedade chamada Rancho Zorro. É uma casa com 2500 metros quadrados, uma pista de pouso privativa e uma garagem com espaço para sete vagas. Inicialmente, em 2021, essa propriedade estava à venda por $27,5 milhões de dólares. No ano seguinte, em 2022, o valor da mansão foi reduzido para $18 milhões. Ainda não sabemos exatamente por quanto foi vendida, mas é provável que o preço esteja mais próximo desse segundo valor.



Agora, em maio deste ano, algo semelhante ocorreu com duas ilhas privadas que foram vendidas por $60 milhões, mesmo tendo sido inicialmente anunciadas por $125 milhões.

O que chama atenção é que tanto o Rancho Zorro quanto as ilhas têm algo em comum, além do fato de terem sido vendidos com um grande desconto. Eles eram de propriedade de Jeffrey Epstein, um financista que se envolveu em escândalos. Quando pensamos em um investimento, consideramos o quanto ele pode gerar de riqueza ao longo do tempo. No entanto, ter uma propriedade que um dia pertenceu a um criminoso como Epstein pode não ser vantajoso para gerar renda no futuro.

Iguatemi e Sustentabilidade

O Grupo Iguatemi S.A., uma empresa de shopping centers, realizou sua primeira avaliação de carbono e preparou seu primeiro inventário de gases de efeito estufa (GEE) em 2022. A empresa também garantiu 100% de sua energia de fontes renováveis, implementou um projeto de economia de energia e divulgou um Relatório de Sustentabilidade para comunicar suas iniciativas e metas.

O relatório foi publicado no site de Relações com Investidores (RI) da empresa, em resposta à demanda crescente por comunicação de sustentabilidade. 

A CEO da empresa, Cristina Betts, enfatiza a importância de medir, comunicar e ensinar sobre práticas sustentáveis e destaca os planos de crescimento contínuo para o futuro.

Leia mais aqui

24 agosto 2023

Uma Carcaça pode ser um ativo

Eis um exemplo onde uma carcaça de um automóvel pode ser considerado um ativo. É isto mesmo, uma carcaça: 


A fotografia não deixa dúvida. Você consideraria isto um ativo? Para um especialista no assunto a resposta seria um sonoro SIM. Trata-se dos restos de um raro carro esportivo da Ferrari, um modelo 500 Mondial, que passou por várias mudanças de proprietário e incidentes ao longo dos anos. O carro foi construído no início dos anos 1950 e teve várias mudanças de proprietário até os anos 1970. Em algum momento, sofreu um acidente grave com danos de incêndio. O carro foi adquirido pelo especialista em carros da Ferrari, Ed Niles, mas foi vendido sem motor. Em seguida, passou por algumas propriedades nos EUA até ser adquirido por Walter Medlin em 1978. O carro permaneceu em condições danificadas pela corrida e não foi restaurado, mantendo sua placa de chassi original e alguns componentes.

O carro é considerado extremamente raro, sendo o segundo modelo construído da série 500 Mondial. O carro vem acompanhado de documentos de fábrica e papéis de autentificação de origem.

Mistério da Casa Queimada

A cultura neolítica de Cucuteni-Trypillia prosperou na região que abrange partes da Ucrânia, Moldávia e Romênia entre 5500 a.C. e 2750 a.C. Ela é nomeada após duas localidades onde seus vestígios foram primeiramente encontrados: Cucuteni, na Romênia, e Trypillia, na Ucrânia. Embora não seja tão renomada quanto a cultura suméria, pode ser considerada uma das sociedades mais antigas da Europa.


Um aspecto intrigante dessa cultura é o costume das "casas queimadas". Em intervalos regulares, os habitantes das cidades dessa região incendiavam suas próprias residências. A teoria de que os incêndios eram resultado de causas naturais ou de ataques inimigos já foi descartada como explicação plausível. Isso nos leva a questionar: qual seria então a razão por trás da destruição periódica das casas?


Um artigo no site do Jstor apresenta algumas explicações possíveis. Mirjana Stevanovic, uma arqueóloga da Sérvia, sugere que a queima das casas tinha um significado simbólico, ocorrendo após a morte dos habitantes de uma residência. Evgeniy Yuryevich Krichevski, um arqueólogo russo, propõe que o incêndio tinha a finalidade de fortalecer as estruturas das habitações. Outra perspectiva é que o fogo fosse usado para criar espaço para novas construções.

Agora, imagine um contador lidando com as finanças de uma casa, sabendo que ela seria consumida pelo fogo no futuro. Essa situação não seria tão complexa de gerenciar, já que a vida útil da propriedade poderia ser claramente determinada. Se a interpretação da arqueóloga Stevanovic estiver correta, onde a queima está associada a vida do proprietário, a duração deste ativo estaria vinculada à vida do proprietário, eliminando a questão de herança. Se a ideia de Krichevski, que considerava que a queima fortalecia os alicerces da residência, for a explicação correta, então a queima poderia ser vista como uma espécie de "manutenção", prolongando a vida útil do bem.

Queda da WeWork

A empresa WeWork foi fundada em 2010 e tinha como finalidade fornecer espaços de trabalho compartilhados para profissionais, startups e empresas que buscavam escritórios flexíveis. A empresa alugava espaços em contratos de longo prazo, os dividia e depois os realocava.

Atualmente, a empresa vale apenas 1% do seu valor máximo (gráfico abaixo). Em certo momento, chegou a atingir um valor de 47 bilhões de dólares. Um grande investidor, o SoftBank Group, começou a investir na empresa e, em 2019, já possuía 80% dela. Contudo, críticas aos gastos excessivos, à contabilidade criativa e à viabilidade da empresa resultaram na renúncia do fundador e na demissão de muitos funcionários.

Na tentativa de reverter o rumo, um novo executivo foi nomeado em 2020. No entanto, a pandemia e o trabalho remoto reduziram a demanda por espaços de escritório, que eram o cerne dos negócios da WeWork. De um valor de 47 bilhões, a empresa viu seu valor de mercado cair para menos de meio bilhão. Os prejuízos contábeis, medidos pelo resultado líquido e agora mais alinhados com uma contabilidade precisa, atingiram 11,4 bilhões entre 2020 e junho de 2023.


O negócio da empresa carregava um risco elevado. As despesas eram fixas em contratos de longo prazo, enquanto as receitas eram variáveis em contratos de curto prazo. Isso porque a empresa alugava imóveis por períodos prolongados e os sublocava por prazos mais curtos. Uma crise como a pandemia colocou em xeque o modelo de negócios da empresa.

Isso se reflete nos resultados contábeis. Inicialmente, no resultado líquido, como mencionado anteriormente. Se a contabilidade for realizada adequadamente, a estrutura de receita e despesa da empresa ficará evidente em seus resultados. Outro sinal é o fluxo de caixa operacional recente. Compromissos assumidos no aluguel de imóveis foram impactados pelos recebimentos de aluguel reduzidos devido ao trabalho remoto. A existência de um fluxo de caixa operacional negativo a longo prazo indica risco de insolvência. Em um trecho do relatório contábil entregue à SEC, a empresa afirma: “No entanto, nossas perdas e fluxos de caixa negativos das atividades operacionais levantam dúvidas substanciais sobre nossa capacidade de continuar como uma entidade em funcionamento."

Foto: Sargent Seal e Cars & Life Blog

Salários elevados no setor público inibe crimes?

Uma pesquisa realizada na Itália parece indicar que sim. Eis o resumo (traduzido pelo GPT)

Salários adequados são uma ferramenta importante para proteger os funcionários públicos de interesses especiais e corrupção. Mas qual é o efeito de equilíbrio de salários mais altos na presença de grupos de pressão criminais, que usam tanto subornos quanto violência? Por meio de um desenho de regressão descontínua, mostramos que um aumento na remuneração dos gabinetes municipais italianos desencadeia um aumento significativo e substancial nos ataques criminais contra seus membros. Argumentamos que isso é desencadeado pela menor probabilidade de funcionários mais bem remunerados cederem a interesses criminais. Em particular, demonstramos que políticos mais bem remunerados têm significativamente mais probabilidade de prevenir a corrupção em contratações públicas, uma área-chave de interações ilícitas entre o Estado e organizações criminosas. Análises adicionais revelam que o efeito disciplinador dos salários é impulsionado por uma mudança no comportamento dos ocupantes do cargo, em vez de uma seleção aprimorada. Essas descobertas revelam como, na presença de grupos criminosos, salários mais altos podem limitar a corrupção, mas também estimular o uso da violência como uma ferramenta alternativa para influenciar a formulação de políticas.

O resultado não é homogêneo para toda a Itália, conforme o mapa abaixo:





Redes Sociais e Especialistas

Interessante o texto a seguir, de Tracy Coenen sobre o uso de redes sociais por parte de especialistas

Pergunte a advogados o que eles pensam sobre as redes sociais e você obterá uma ampla variedade de respostas. Alguns estão ativamente envolvidos, outros são leitores ávidos e alguns evitam ao máximo o seu uso. Ainda há uma certa relutância em se envolver, quer seja em redes sociais mais "sociais" (como o Facebook ou Instagram) ou em redes mais profissionais (como o LinkedIn ou possivelmente o Twitter). Também incluído nas redes sociais está o blog, algo que existe desde os anos 90, mas que muitos advogados e especialistas ainda se recusam a participar ativamente.

As redes sociais representam uma oportunidade para escrever sobre o que você sabe e promover seu negócio e expertise. Você pode dialogar com pessoas de lugares distantes. Há muito a ser aprendido com as interações nas redes sociais e muitos relacionamentos podem ser desenvolvidos (o que antes seria quase impossível).

Mas é claro que há armadilhas. Existe um viés comum contra as redes sociais: que elas são simplesmente uma perda de tempo porque se trata principalmente de socializar e jogar. Embora definitivamente haja um componente pessoal no Twitter, Facebook e outras redes sociais, sua utilidade vai muito além de ser apenas uma forma divertida de passar o tempo.

As redes sociais estão sendo ativamente e agressivamente utilizadas por pessoas que têm um motivo comercial para estar lá. Muitos participam porque adoram a troca de conhecimentos e estão ansiosos para informar outros sobre eventos atuais, acontecimentos da indústria ou notícias interessantes (1). Outros participam principalmente para promover suas empresas e marcas de alguma forma. Alguns participam das discussões para elevar seus perfis profissionais e ganhar credibilidade em suas áreas.

Seja qual for o objetivo por trás do uso das redes sociais, é importante manter o foco no objetivo final. Sim, muito tempo pode ser gasto navegando nesses sites e conversando com outras pessoas. No entanto, para tornar as interações úteis, é necessário ter um foco nessas interações. E para ter sucesso com as redes sociais, deve haver uma troca mútua que precisa ocorrer (2). Muitos profissionais acham que há um equilíbrio delicado entre usar as redes sociais de maneira profissional e pessoal.

Alguns advogados têm receio das redes sociais, e muitas vezes com razão. Na maioria das vezes, é porque eles simplesmente não conhecem o suficiente sobre os sites e interações. Em outros momentos, é porque têm medo de que algo inadequado seja dito ou encontrado através das redes sociais. Ambas são preocupações válidas.

Deveríamos estar preocupados se a testemunha especialista em seu caso está blogando ou postando regularmente em um site como o Twitter, Facebook ou LinkedIn? Provavelmente não. Para um bom testemunho especializado, as redes sociais deveriam ser um meio de demonstrar expertise.

No entanto, os advogados frequentemente se perguntam sobre as ramificações quando um especialista testemunha em um caso. Será que a parte contrária poderia encontrar uma série de escritos online e usá-los contra o especialista? Esperamos que os escritos sejam encontrados, mas não haverá nada preocupante neles. Novamente, esta é uma preocupação válida a ser abordada, mas a paranoia em torno disso provavelmente está um pouco exagerada.


É importante que o especialista testemunha seja sempre consistente. Isso vai além de usar uma metodologia consistente de caso a caso. Agora também inclui ser consistente em todas as escritas, online ou offline. Isso não deveria ser difícil de fazer se o especialista conhecer bem seu campo e tiver estabelecido um conjunto central de valores e opiniões.

Existem certos tópicos que um especialista provavelmente deveria evitar discutir online (3). Claro, ele ou ela não pode falar sobre um caso pendente e deve ter cuidado ao falar sobre casos passados relacionados a informações confidenciais. Tópicos inflamatórios como raça e religião também podem ser evitados pelo especialista cauteloso.

Em geral, no entanto, um bom especialista sabe que linhas não devem ser cruzadas. Definitivamente faz sentido dar uma olhada no que um especialista está fazendo online. Vá em frente e procure coisas como um blog pessoal ou um perfil no Twitter ou LinkedIn e leia brevemente o que foi escrito. Familiarize-se com os tópicos sobre os quais o especialista escreve e veja que tipos de discussões estão acontecendo em torno desses tópicos.



O especialista demonstra consistência nas opiniões? É exercido bom julgamento no que é postado? Há algo que possa prejudicar o seu caso? É bem fácil identificar material problemático e eliminar esse especialista. O outro lado desse processo de triagem é que você também pode descobrir que seu especialista é mais experiente do que você antecipou ou possui algumas conexões profissionais que poderiam beneficiar você ou seus clientes.

Muitas pessoas ainda estão aprendendo o básico das redes sociais, e é algo que está em constante evolução. A ferramenta de redes sociais popular de hoje provavelmente será substituída por outra daqui a um ano ou dois. A única coisa em que se pode confiar nas redes sociais é que elas continuarão mudando rapidamente. No entanto, as redes sociais não são algo a ser temido nas mãos de usuários responsáveis.

Notas:

(1) um pouco este blog, não? 

(2) Infelizmente isto não tem ocorrido na proporção que gostaria

(3) Isto ocorre também aqui. 

Foto: Anete Lūsiņa

23 agosto 2023

Modelo climático de Nordhaus

Já comentamos anteriormente aqui a influência de Nordhaus sobre o clima. Aqui um texto do NakedCapitalism dos problemas do trabalho. Eis um resumo:


Nordhaus cometeu erros catastróficos em sua modelagem climática, ignorando a ciência climática. Ele equivocadamente equiparou exposição à mudança climática com exposição ao clima, subestimando o impacto. Suas estimativas de danos econômicos devido ao aquecimento global eram baseadas em "pressentimentos" pessoais. Essas estimativas errôneas influenciaram o painel do IPCC, que acabou prevendo uma queda de 10-23% no PIB global devido ao aquecimento de 4°C até 2100. Pettifor destaca que a abordagem de Nordhaus influenciou os formuladores de políticas, investidores e o público, levando à complacência diante da crise climática iminente.

Foto: Nicholas Doherty

Dificuldade de pesquisar em educação

Por que a pesquisa em educação é particularmente problemática? Eu tenho algumas especulações:

1 - Todos nós temos muita experiência em educação e muitas lembranças de situações em que a educação não funcionou bem. Como estudante, muitas vezes ficou claro para mim que as coisas estavam sendo ensinadas de forma errada, e como professor, muitas vezes fiquei desconfortavelmente ciente de como estava fazendo um trabalho ruim. Há muito espaço para melhorias, mesmo que nem sempre o caminho para chegar lá seja tão óbvio. Então, quando as autoridades fazem afirmações contundentes de "melhoria de 50% nas pontuações dos testes", isso não parece impossível, mesmo que devêssemos saber que é melhor não confiar cegamente nelas.


2 - As intervenções educacionais são difíceis e caras de serem testadas formalmente, mas fáceis e baratas de serem testadas informalmente. Um estudo formal requer colaboração de escolas e professores, e se a intervenção for no nível da sala de aula, requer muitas turmas e, portanto, um grande número de alunos. No entanto, informalmente, podemos ter muitas ideias e testá-las em nossas aulas. Coloque isso junto e você terá uma longa lista de ideias esperando por estudos formais.

3 - Não importa o quanto você sistematize o ensino, por meio de testes padronizados, planos de aula preparados, cursos online massivos ou qualquer outra coisa, o processo de aprendizagem ainda ocorre no nível individual, um aluno de cada vez. Isso sugere que os efeitos de quaisquer intervenções dependerão fortemente do contexto, o que por sua vez implica que o efeito médio do tratamento, seja qual for a definição, não será tão relevante para a implementação no mundo real.


4 - Continuando com o último ponto, o grande desafio da educação é a motivação dos alunos. Métodos para ensinar X geralmente podem ser enquadrados como uma mistura de Métodos para motivar os alunos a quererem aprender X e Métodos para manter os alunos motivados a praticar X com consciência. Essas coisas são possíveis, mas são desafiadoras, em parte devido à dificuldade de definir claramente a "motivação".

5 - A educação é um tópico importante, muito dinheiro é gasto nela e está enraizada no processo político.

Juntando tudo isso, temos uma bagunça que não é bem atendida pelo modelo tradicional de apertar um botão, tomar uma pílula e buscar significância estatística no campo das ciências sociais quantitativas. A pesquisa em educação está repleta de pessoas convencidas de que suas ideias são boas, com muita experiência pessoal que parece apoiar suas opiniões, mas com grande dificuldade em obter evidências empíricas sólidas, por razões explicadas nos itens 2 e 3 acima. Portanto, é compreensível como os defensores de políticas podem ficar frustrados e exagerar as evidências a favor de suas posições.

Traduzido, via GPT, daqui. Foto: Aaron Burden

Veja que basicamente temos um problema de isenção (do professor, do político e assim por diante) e da generalização - tomar um caso de sucesso como geral para toda educação. 

Rir é o melhor remédio

Educação e vida
 

Bored Ape e o desafio da mensuração contábil

Quando os Tokens não Fungíveis, ou NFTs, surgiram, a figura do macaco feio conhecido como Bored Ape passou a ser um símbolo dessa nova era. O que inicialmente parecia uma imagem boba, foi transformado em arte digital baseada na tecnologia blockchain (Ethereum), vinculado ao Bored Ape Yacht Club (BAYC). Lançado durante o auge da pandemia, em abril de 2021, o BAYC conquistou popularidade e desejabilidade.


As dez mil imagens de macacos, cada uma desenhada de forma única, proporcionavam aos proprietários direitos exclusivos e benefícios relacionados à posse da NFT. Essas vantagens incluíam convites para eventos e interações online.

A combinação da tecnologia (blockchain e NFT) com a atratividade de fazer parte de um grupo exclusivo era de fato intrigante. Afinal, a propriedade era verificável pela tecnologia.


Contudo, uma grande questão estava na volatilidade dos preços. Mesmo sendo uma forma alternativa de arte ou investimento, os valores oscilavam consideravelmente ao longo do tempo. Em maio de 2022, o preço de uma NFT ultrapassou os 400 mil dólares, elevando o valor total do Bored Ape acima dos 4 bilhões de dólares - algo notável mesmo nos dias de hoje. Porém, em agosto de 2023, o preço de uma NFT caiu para 43 mil dólares, ou seja, apenas 11% do valor anterior.

Havia desconfiança de que o Bored Ape NFT pudesse ser uma fraude, em parte pelo declínio acentuado no preço. Outro indicativo de que talvez a posse do "macaco feio" não fosse tão lucrativa era o fato de que um grupo de compradores levou o caso à justiça, alegando que o preço estava inflacionado, em parceria com a casa de leilões Sotheby's. Entre esses compradores estavam diversas celebridades, como Justin Bieber, Snoop Dogg, Serena Williams, Madonna, Gwyneth Paltrow, Paris Hilton e Jimmy Fallon. Uma das alegações do processo era que a Sotheby's promoveu um leilão enganoso, no qual o vencedor, um colecionador mais tradicional, seria a FTX, empresa de criptomoedas que recentemente enfrentou problemas.


O caso dos Bored Ape evidencia que objetos colecionáveis, cujo preço se apoia principalmente em ligações emocionais em vez de utilidade prática, podem ser integrados ao patrimônio de uma empresa ou indivíduo. No entanto, persiste o desafio de atribuir um número claro às NFTs na contabilidade. Utilizar o preço de mercado resultaria em um valor de 400 mil dólares em maio de 2022 para cada item, mas apenas 11% desse montante em agosto de 2023. Ou seja, uma perda de 356 mil dólares em apenas quinze meses. Isso tornaria evidente que a decisão de compra foi equivocada. Por outro lado, manter o preço original da compra evitaria a flutuação volátil dos valores, mas não forneceria essa informação crucial.

O universo da mensuração contábil é verdadeiramente complexo. 

Foto: Markus Spiske, BoingBoing e Wikipedia

Monitoramento no setor público vale a pena?

Este artigo examina os trade-offs do monitoramento dos gastos públicos excessivos. Ao penalizar os gastos desnecessários, o monitoramento melhora a qualidade dos gastos públicos e incentiva as empresas a investir em tecnologia de conformidade. Estudo um grande programa do Medicare que monitorava os gastos excessivos com assistência médica e considero seu efeito nas economias governamentais, no comportamento dos prestadores de serviços e na saúde dos pacientes. Cada dólar gasto pelo Medicare em monitoramento gerou economias governamentais de $24 a $29. A maioria das economias decorre da dissuasão de cuidados futuros, em vez de pagamentos recuperados de cuidados anteriores. Não encontro evidências de que a saúde do paciente marginal seja prejudicada, indicando que o monitoramento principalmente dissuade cuidados de baixo valor. O monitoramento aumenta os custos administrativos do prestador de serviços, mas esses custos são principalmente incorridos no início e incluem investimentos em tecnologia para avaliar a necessidade médica dos cuidados.

(Traduzido pelo GPT). Texto completo aqui

Mais um problema na gestão de um clube de futebol

 Do site Trivela, mais um problema com a gestão, inclusive contábil, de um clube de futebol. Desta vez é o clube inglês Chelsea. Em resumo, a notícia é a seguinte:


O Chelsea está sob investigação da Premier League devido a irregularidades nas contas do clube durante a gestão de Roman Abramovich (foto). O clube fez pagamentos milionários através de empresas em paraísos fiscais. Os atuais proprietários do clube denunciaram essas atividades suspeitas para a Uefa e a Premier League. O Chelsea já havia recebido uma multa de €10 milhões da Uefa por irregularidades detectadas nos relatórios financeiros durante a gestão de Abramovich. As irregularidades na Premier League também ocorreram sob o comando de Abramovich e envolvem transferências de jogadores e pagamentos a empresas offshore. O clube corre o risco de sofrer sanções, incluindo perda de pontos na liga. O Chelsea ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso. O novo proprietário Todd Boehly gastou consideravelmente em transferências desde que assumiu o clube, levantando preocupações sobre a sustentabilidade financeira do projeto do Chelsea. As suspeitas em torno das transferências e dos pagamentos suspeitos também envolvem outros nomes conhecidos, incluindo Bruce Buck e Marina Granovskaia, que estavam envolvidos na administração do clube durante a gestão de Abramovich.

22 agosto 2023

Roubo do Roubo

Eis a notícia

"O Museu Britânico foi vítima de furto", disse o ex-curador do Museu Britânico Nigel Boardman em um comunicado. "Estamos absolutamente determinados a usar nossa revisão para chegar ao fundo do que aconteceu."


Boardman referia-se à notícia de que o museu descobriu que "joias de ouro, gemas e vidros datando de até o século XV a.C. estavam desaparecidos de um depósito", informou o The Washington Post. O museu desde então demitiu um funcionário.

A ironia é evidente. Em 2014, o Queen's Counsel Geoffrey Robertson disse ao The Guardian: "Os curadores do Museu Britânico se tornaram os maiores receptadores de propriedade roubada/furtada do mundo, e a grande maioria de seu saque nem mesmo está em exibição pública."

Do The Washington Post: "Vamos direcionar nossos esforços para recuperar os bens roubados que anteriormente roubamos' pode não ser a atitude que os assessores de imprensa do museu nacional pensam que é", escreveu Dan Hicks, professor de arqueologia contemporânea de Oxford, na plataforma de mídia social X, anteriormente conhecida como Twitter."

Eis um assunto interessante (que poderia ser vinculado a questão do terrorismo, que falamos ontem). Um objeto roubado (ou furtado) pode ser um ativo? Fiz esta pergunta para minha turma no semestre passado e a resposta, daqueles que não estavam no celular, era que não. Se considerarmos a questão da propriedade como central para definição, a resposta dos alunos seria válida. Mas o Museu Britânico não reconhece a escultura Moai da fotografia acima como parte do seu acervo? Provavelmente sim. O problema é que a obra foi tomada ilegalmente da cultura Rapa Nui, o que significa roubo ou furto. 

Existindo a capacidade de gerar riqueza com um objeto incorporado ao patrimônio de maneira estranha, o mesmo não deveria fazer parte da contabilidade, segundo uma resposta mais ética. Mas e se a gestão da empresa ou seu contador não sabem da origem duvidosa do item? Isto compromete a resposta.

É bem mais complicado do que parece. Acho que tenho uma resposta mais realista: um objeto roubado ou furtado pode ser um ativo. Na minha aula eu citei explicitamente o Museu Britânico e seu acervo. Boa parte dele roubado/furtado.

Valor do setor de bens e serviços ambientais

Eis o resumo:

Qual é a proporção da economia focada na proteção, reabilitação ou gestão do meio ambiente? Para responder a essa pergunta, desenvolvemos uma forma para quantificar o setor de bens e serviços ambientais (EGSS, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. (...) No geral, estimamos que a produção bruta do EGSS foi de US$ 725 bilhões em 2019, ou cerca de 1,9% da produção bruta total da economia dos EUA. Os gastos governamentais (em todos os níveis) compõem uma parte substancial do EGSS nos EUA, uma vez que o setor público representou cerca de 27% da produção total do EGSS (US$ 197 bilhões) em 2019. Embora essas estimativas ainda sejam preliminares e não constituam estatísticas oficiais, os objetivos dessa pesquisa são fornecer novas perspectivas sobre desafios de classificação e medição na produção de contas de atividade ambiental de forma mais geral, ao mesmo tempo em que documentam lacunas de dados e questões contábeis no contexto dos EUA de forma mais específica.

Por categoria, o resultado é o seguinte:


Também achei interessante a seguinte tabela:

Ou seja, a informação ambiental ao longo do tempo tem aumentado e chegou a 10% da amostra. Parte desta amostra é de empresas brasileiras (cerca de 170) 





 

Boa governança é uma má ideia

Boa Governança é uma Má Ideia - 9 de Agosto de 2023

por KATHARINA PISTOR

FRANKFURT - Era uma vez, não faz muito tempo, comentaristas e especialistas retratavam a "boa governança" como o único ingrediente necessário para o crescimento econômico e o desenvolvimento. Durante muitos anos, foi um elemento básico nos conselhos de política convencionais e nas reformas institucionais. Em um relatório de 1992, "Governança e Desenvolvimento", o Banco Mundial definiu o termo como consistindo em quatro componentes: capacidade e eficiência na gestão do setor público, responsabilidade, estruturas legais para o desenvolvimento e informação e transparência.


O termo caiu em desuso desde então, talvez porque o próprio conceito perdeu parte de sua relevância. Embora não haja nada de errado em nenhum dos seus quatro componentes, ou no princípio de equidade processual na administração de assuntos públicos e privados, a suposição de que a boa governança resolveria problemas sociais e políticos complexos estava profundamente equivocada.

Além disso, alguns críticos argumentam que a agenda da boa governança sempre teve como objetivo mascarar estruturas de poder subjacentes, elevando a tomada de decisões tecnocráticas acima das lutas políticas. Quer intencionalmente ou não, os defensores do boa governança tendiam a focar na aparência em vez da substância: questões de "como" tinham precedência sobre questões de "o quê" - como se resultados positivos surgissem miraculosamente de processos sólidos.

Enquanto isso, uma indústria inteira emergiu para definir e redefinir o "boa governança", e para desenvolver indicadores após indicadores para medi-la. Esses indicadores se tornaram uma nova "tecnologia de governança", com medições servindo como referências de desempenho para orientar a ação e criar a aparência de melhoria real.


Não há escassez de críticas sobre como a boa governança é medida ou implementada. Mas os custos reais dessa moda - incluindo o deslocamento da ação política orientada por resultados nas últimas décadas - só se tornaram aparentes recentemente. Por exemplo, a agenda da boa governança reduziu a capacidade dos formuladores de políticas de resolver problemas complexos e desviou a atenção da necessidade de abordar perdas socioeconômicas de maneiras equitativas e politicamente viáveis.

Definir os parâmetros "corretos" para a tomada de decisões não produz automaticamente os resultados certos. Com seu foco singular implícito no crescimento econômico, a agenda da boa governança minimizou a necessidade de considerar as consequências distributivas e as externalidades ambientais negativas.


Essas deficiências agora foram expostas pela crise climática. Precisamos de ações reais para conter a poluição se este planeta vai continuar hospitaleiro para a maioria da humanidade, não apenas para os poucos que têm recursos suficientes para escapar de seus efeitos. No entanto, os indicadores e os exercícios de rotulagem dominaram a formulação de políticas climáticas. Apesar do surgimento do "ESG" (um conceito vagamente definido que engloba critérios "ambientais, sociais e de governança"), a maximização do valor para o acionista continua sendo o objetivo principal da "boa governança" corporativa.

Assim como no passado, uma indústria de consultores, consultores e profissionais de relações públicas surgiu para ajudar empresas e países a cumprir rótulos e padrões em constante mudança; e, assim como no passado, houve poucos resultados tangíveis. Três décadas após a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o mundo ainda está se aquecendo a uma taxa perigosa, e os efeitos das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais destrutivos e caros.

Pior ainda, indústrias altamente poluentes conseguiram um lugar na mesa de negociações internacionais, enquanto ativistas climáticos são excluídos. Na verdade, alguns até são sancionados - inclusive pela lei criminal - por violar as regras do jogo, um paradigma central do boa governança que, aqui como em outros lugares, geralmente serve para defender o status quo.

O acordo climático de Paris de 2015 buscou mudar o rumo ao estabelecer metas claras e comprometer governos a limitar o aumento médio da temperatura em 1,5° Celsius acima dos níveis pré-industriais. Os países são obrigados a produzir planos de ação especificando como alcançarão essas metas, e os ativistas climáticos foram estimulados a pressionar os formuladores de políticas.


Mas é muito mais fácil produzir uma "Contribuição Nacionalmente Determinada" do que alcançar resultados reais interna ou transnacionalmente. Governos e indústrias fizeram muitos compromissos para alcançar emissões líquidas zero até meados do século, mas ainda não cumpriram. Em vez disso, as elites do setor público e privado continuam a antiga dança de buscar a conformidade formal em vez de mudanças significativas. Rótulos, códigos de conduta flexíveis, relatórios e campanhas de relações públicas permanecem as estratégias de implementação preferidas, mesmo que uma após outra tenha sido desacreditada como ineficaz e, em alguns casos, francamente fraudulenta.

Em vez de servir como um chamado para uma mudança de estratégia, o ESG se tornou outro trem de luxo para o negócio de consultoria de conformidade. Ele oferece mais uma oportunidade de extrair renda de clientes, enquanto culpa os reguladores por falhas. As empresas não se atrevem a abrir mão desses serviços, porque, como diz a gigante global de contabilidade PwC, "os riscos de fraude no contexto do ESG estão aumentando com base na crescente pressão dos reguladores e do público".

A agenda do boa governança perdeu seu rótulo, mas continua viva e se tornou uma ameaça existencial. Combater as mudanças climáticas envolve resolver problemas e vencer lutas pelo poder, não apenas conferir caixas. A governança não é substituto para o governo (ou gerenciamento, no setor privado). Permitimos que ela nos distraísse por tempo demais.

Fonte: Aqui, negrito do blog. Foto: PS e Vince Veras (unsplash)

Contabilidade da Disney

Não é surpresa que a TSG Entertainment esteja processando a Walt Disney Company por tê-la enganado em relação aos lucros cinematográficos, algo bastante comum em Hollywood. A única coisa surpreendente sobre o caso é que ele está sendo apresentado em tribunal público - na maioria das vezes, acordos entre estúdios e empresas de produção exigem que esse tipo de questão seja resolvido em arbitragem, a portas fechadas.

Tenho atuado como testemunha especialista em muitos casos semelhantes ao longo dos anos, e eles geralmente envolvem sobrecarregar um filme com uma série de custos gerais e de marketing, sendo difícil provar se essas cobranças são ou não justificáveis em relação ao filme.(...)

Então veio o acordo inevitável. Mas a parte triste é que, se o estúdio quiser você de volta, eles estão mais do que dispostos a fazer um acordo. No entanto, se você for um ator secundário, há poucos recursos para recuperar o que lhe é devido por direito.

TSG declarou ter investido $3.3 bilhões na última década co-financiando mais de 140 filmes, incluindo "Avatar: The Way of Water", a franquia "Deadpool" e muitos outros filmes de alto perfil. Na ação judicial, "TSG acusa a Disney de ter tentado usar quase todos os truques do livro contábil de Hollywood" para privá-los de centenas de milhões de lucros devidos.


Eles ordenaram uma auditoria após verem lucros em declínio, que revelou que foram subpagos em $40 milhões pelo estúdio devido a "autonegociações desenfreadas" e "truques contábeis", bem como cobranças de dezenas de milhões de dólares em taxas de distribuição não autorizadas. Infelizmente, essa é uma prática muito comum em Hollywood. (...)

Na minha opinião, essa ação judicial será rapidamente resolvida com acordos de não divulgação envolvendo todos os aspectos do caso, garantindo uma saída rápida em relação à imagem pública. Lembra-se de 1996, quando o ex-CEO da Disney, Jeffrey Katzenberg, foi demitido e posteriormente processou a empresa por $500 milhões em danos?

O caso foi resolvido, mas, surpreendentemente, nenhum detalhe foi registrado em qualquer relatório 10Q ou 10K apresentado pela empresa, apesar de o acordo ser o que deveria ser divulgado como um evento relevante, mesmo pelos padrões da Walt Disney. (...)

Fonte: aqui. Foto: Benjamin Suter