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28 março 2022

ISSB + GRI

 

A IFRS Foundation e a Global Reporting Initiative (GRI) assinaram um acordo de colaboração sobre os padrões de sustentabilidade. Em termos práticos, poderá existir programas de trabalho e padrões conjuntos entre o International Sustainability Standards Board (ISSB), o braço de trabalho da IFRS para o assunto e o Global sustainability Standards Board (GSSB).

Se por um lado a IFRS tem como foco o mercado de capitais e o investidor, através de padrões relacionados com as demonstrações contábeis, o GRI procura atender um público mais amplo. Assim, haveria uma complementação no trabalho dos reguladores, o que pode ajudar na redução – ou no aumento, sendo mais cínico – no volume de relatórios para as empresas.

Em 2020 havia um grande número de entidades que se propunham emitir normas para os relatórios de sustentabilidade. A demanda por um sociedade mais preocupada com a questão ambiental, de governança e social – denominada de ESG - foi captada pela IFRS Foundation como uma oportunidade de ocupara um espaço precioso entre as empresas. Em 2021 a Fundação construiu um projeto onde seria possível também lidar com a emissão de padrões, através de uma entidade, a ISSB, oportunisticamente lançada durante o encontro de Glasgow, no final do ano. No lançamento, a ISSB já anunciou que pelo menos três entidades fariam parte do novo comitê.

Enquanto o ISSB juntava forças com outras entidades previamente estabelecidas, era necessário mostrar serviço e, ao mesmo tempo, legitimar com a principal entidade para emissão de normas na área ESG. Enquanto a Europa continua seu trabalho de normatização, através do EFRAG, e os Estados Unidos anunciam um plano para área, via sua Comissão de Valores Mobiliários (SEC), o acrodo pode ajudar na legitimação. Um outra medida, que envolve apressar a divulgação de novas normas, também está sendo utilizada pela ISSB (vide postagem a seguir).

Ao mesmo tempo, as denúncias de manipulação das informações ambientais – denominada de “lavagem verde” – trouxe a preocupação de alguns investidores. Aliado a isto, a Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO), entre outras, está buscando o alinhamento dos padrões.

É bom lembrar que o propósito de uma entidade como a IFRS Foundation é a emissão de normas. E estas medidas são coerentes com esta finalidade. Pode não ser a melhor finalidade para o usuário. 

 Foto: Aaron Burden

(Repararam a sopa de letrinhas na postagem? É isto...)

Apressem as normas


Uma norma, antes de ser publicada, geralmente segue um certo ritual. Para que a norma seja legitimada é necessário que seja debatida pelo público, especialmente àqueles que serão afetados pela regra. Isto inclui um período de debate, com possibilidade de até retornar para prancheta caso a norma não agrade. Isto já ocorreu antes, por exemplo, com a norma de leasing (aqui).

Já comentamos aqui que a Fundação IFRS criou um braço somente para normatizar a área de sustentabilidade. Isto foi anunciado em novembro. Em janeiro foi escolhido o comandante para nova entidade. E o quadro deve ser completado até meados do ano. Mas enquanto isto outros atores estão se movimentando. A SEC mudou sua atitude de ser contrária ao assunto recentemente. E o EFRAG está produzindo documentos a pleno vapor. 

Na tentativa de não ficar atrás, o Comitê de Supervisão do Processo (DPOC) confirmou que é válido o presidente e o vice do ISSB divulgarem rascunhos de exposição. Segundo o IasPlus "a definição de padrões nessas áreas é percebida como urgente e, embora o processo de nomeação de membros do ISSB tenha começado, ainda pode demorar um pouco até que o ISSB tenha quorum". 

Veja como é um caso de "concorrência" na área de emissão. O próprio IasPlus indica isto ao afirma que "como várias jurisdições pretendem expor seus próprios requisitos específicos juridicionais nos próprios meses (por exemplo, União Européia e os Estados Unidos", a divulgação do rascunho seria interessante. 

Foto: John Cameron

Rir é o melhor remédio

Recrutamento de especialista

27 março 2022

Princípio da Precaução versus Análise Custo benefício


Li um extenso ensaio sobre Emily Oster, com um monte de links e uma discussão sobre o uso da economia para a vida diária das pessoas.

Antes de comentar o ensaio, uma contextualização. Quando o Freakonomics surgiu, o trabalho de Oster foi colocado em evidência; o seu trabalho sobre a influência da TV a cabo nas mulheres da Índia. Depois disto, Oster decidiu produzir livros, mostrando como as ferramentas analíticas da economia podem ser aplicadas em situações como gravidez ou decisões familiares. Isto inclui a noção de análise custo-benefício.

O problema é que este tipo de análise rejeita o princípio da precaução, amplamente adotado por ambientalistas e especialistas em saúde pública. Quando temos um cenário de incerteza científica sobre os riscos de algo, os tomadores de decisão devem optar por minimizar ou reduzir o risco potencial. Para Oster, o princípio de precaução pode ser ruim para as pessoas. Há, no artigo, um exemplo dos efeitos do álcool na gravidez. Oster considera que os conselhos sobre o assunto são opressivos para as mães já que considera preocupações desnecessárias e restritivas nas suas escolhas. Os estudos sobre os efeitos do álcool na gravidez são inconclusivos e muitos deles de baixa qualidade. A economista interpreta tal fato como sendo igual a baixo risco, o que seria contra o princípio da precaução.

A posição de Oster tornou-se mais proeminente durante a pandemia. Ela escreveu artigos e publicou pesquisas defendendo uma posição mais flexível nas políticas públicas. Isto agradou a direita, que passou a contribuir financeiramente com o Painel Nacional de Resposta Escolar Covid-19, lançado por Oster. Mas a posição da cientista tornou-se crítica naquilo que seria sua principal crítica do princípio da precaução: a fragilidade dos seus dados. Oster usou dados para decretar que a abertura das escolas teria baixo risco na disseminação viral. Usando dados com uma amostra muito pequena – apenas duas semanas de informações – coletada somente nas escolas que participavam do seu Painel, Oster declarou que as escolas não eram foco de transmissão da doença. O problema é que isto não era possível de concluir de forma científica.

Mais ainda: quando questionada, emitiram uma correção, reconhecendo os problemas da qualidade dos dados, mas sustentaram que os erros não alteravam suas conclusões. Eis a conclusão do artigo:

Nossa falha na resposta pandêmica, que resultou em um milhão de mortes até agora [nos Estados Unidos] foi baseada na substituição total de valores morais ou éticos compartilhados por suposições individualistas sobre riscos, benefícios e valor. As realidades de um surto de doença infecciosa mostraram-se profundamente inconvenientes para os privilegiados, os interesses do capital e os ideólogos de direita, que trabalharam para justificar essas hierarquias. O resto de nós deve considerar a ação coletiva e a solidariedade como pré-condições essenciais para atender às necessidades sociais, enfrentar as crises do planeta e trabalhar na direção de um mundo que não sacrifique o bem social no altar do interesse próprio.

E a contabilidade? - Confesso que não conhecia o princípio da precaução e sua aplicação nas políticas públicas de saúde. Mas sua formulação no texto lembrou o conservadorismo contábil. A aplicação de princípios econômicos de análise, como o uso inapropriado do valuation em mensuração contábil, lembrou o passo que demos na contabilidade a partir dos anos oitenta.

Fadiga de decisão

Decision fatigue is an applicable concept to healthcare psychology. Due to a lack of conceptual clarity, we present a concept analysis of decision fatigue. A search of the term “decision fatigue” was conducted across seven research databases, which yielded 17 relevant articles. The authors identified three antecedent themes (decisional, self-regulatory, and situational) and three attributional themes (behavioral, cognitive, and physiological) of decision fatigue. However, the extant literature failed to adequately describe consequences of decision fatigue. This concept analysis provides needed conceptual clarity for decision fatigue, a concept possessing relevance to nursing and allied health sciences. 

Fonte: aqui

Quando a norma contábil foca na entrega da informação para que o usuário tome a decisão sobre o assunto, está contribuindo com a fadiga da decisão. Mais informação, uma estratégia típica de regulador que não sabe o que pedir, também ajuda no processo. 



26 março 2022

Links


As religiões no mundo

Vídeo: produtos incríveis que saíram do mercado

Os gênios não existem mais? - a participação das pessoas "geniais" na população é cada vez menor (figura acima).  Mas os três argumentos são interessantes: boas ideias são cada vez mais difíceis de encontrar; descobertas são distribuídas nos dias atuais; e a cultura atual não celebra mais os gênios. 

Formações geológicas interessantes

Normas internacionais revisadas recentemente

Rir é o melhor remédio

 

9 ou 6. Uma forma simples de resolver sem confusão. Fonte: aqui

24 março 2022

Representação fidedigna e Mapas da Guerra

Uma das postagens interessantes deste blog nos últimos tempos foi sobre a representação fidedigna. (Se fosse orgulhoso não escrevia isto; todas as postagens do blog são interessantes, não?)

O texto lembra do mapa do metrô, que não reproduz de forma fiel o mapa da cidade e das linhas, mas cumpre sua função sem ser fidedigno. Ou seja, nem sempre a informação deve ter como qualidade este quesito. 

Eis agora uma postagem do Boing Boing sobre os mapas da guerra. Quando a invasão da Ucrânia começou, os jornais apresentavam mapas como este:

Pareciam mapas antigos de guerra. O problema é que o exército não conquista uma extensa área, como parece indicar lá no mapa. Geralmente os soldados caminham por estradas e focam nos seus objetivos militares. Assim, o exército russo não conquistou as áreas em vermelho do mapa acima. 

Com o passar do tempo, alguns jornais mudaram seu desenho para algo assim:
As setas são mais informativas sobre o que está ocorrendo no campo de batalha. Os soldados russos não ocuparam grandes extensões de terras, mas algumas cidades mais relevantes (em vermelho, os círculos). As setas indicam a movimentação das tropas pelas estradas e os traços azuis as barreiras de resistências. É bem mais informativo que o mapa anterior. 

A televisão russa mostra o seguinte mapa:
Bem mais adequado à propaganda russa. 



Retornos e patrimônio em empresas privadas

 Eis o abstract:

We use micro data from Orbis on firm level balance sheets and income statements to document that accounting returns for privately held businesses are dispersed, persistent, and negatively correlated with firm equity. We also show that firms experience large, fat-tailed, and partly transitory changes in output that are not fully accompanied by changes in their capital stock and wage bill. This implies that capital and labor choices are risky, as fluctuations in output are accompanied by large changes in firm profits. We interpret this evidence using a model of entrepreneurial dynamics in which return heterogeneity can arise from both limited span of control, as well as from financial frictions which generate differences in financial returns to saving. The model matches the evidence on accounting returns and predicts that financial returns to saving are half as large and dispersed as accounting returns. Financial returns mostly reflect risk, as opposed to collateral constraints which play a negligible role due to firms' unwillingness to expand and take on more risk.

Fonte: aqui

Contabilidade é um trabalho chato?

A contabilidade tem a fama de ser um trabalho chato. Assim, o resultado de uma pesquisa recente parece não ser surpreendente. Veja a seguir um texto sobre o assunto:

As pessoas acreditam que a contabilidade é uma profissão bastante chata, de acordo com a estudo recente do Universidade de Essex.

O estudo não fez afirmações absolutas sobre o que é e o que não é chato, mas se aprofundou no que as pessoas consideram entediantes. Envolveu pesquisa com mais de 500 pessoas, em uma série de cinco experimentos diferentes, sobre o que elas acham chato, quão chatas essas escolhas são comparadas entre si e como os entrevistados reagem a indivíduos chatos.

Em termos de profissões, os sujeitos disseram que os cinco empregos mais associados às pessoas chatas são, do máximo ao mínimo: análise de dados, contabilidade, impostos / seguros, limpeza e serviços bancários. Por outro lado, as profissões mais emocionantes foram, do máximo ao mínimo: artes cênicas, ciências, jornalismo, profissional de saúde e ensino.

O estudo também descobriu que ser percebido como chato leva as pessoas a associarem a baixa competência e baixo calor interpessoal. O periódico disse que isso, por sua vez, poderia levar as pessoas consideradas chatas a estarem com maior risco de danos, dependência e problemas de saúde mental devido à potencial ostracização social.

Certos observadores da profissão contábil podem discordar dessa caracterização, dada a ampla gama de empregos disponíveis para contadores em praticamente todos os setores, muitos dos quais poderiam ser percebidos como, se não emocionantes, pelo menos não chatos. Os resultados sugerem uma falta de conhecimento entre os sujeitos do teste sobre o que os contadores realmente fazem.

Os pesquisadores concordaram que a visão dos contadores, entre outros profissionais, pode não ser totalmente justa e lamentaram que não tenham oportunidades de provar que essas percepções estão erradas porque, como o estudo também descobriu, as pessoas tendem a evitar aqueles que consideram chatos. Além disso, apontou-se que, chatas ou não, essas profissões também desempenham um papel vital na sociedade.

“A verdade é que pessoas como banqueiros e contadores são altamente capazes e têm poder na sociedade - talvez devêssemos tentar não perturbá-los e estereotipá-los como chatos!" disse o Dr. Wijnand Van Tilburg, que liderou o estudo.

O estudo também analisou outras características que os entrevistados podem considerar chatas, concluindo que a pessoa mais chata do mundo será alguém que trabalha na entrada de dados, é religioso, vive em uma cidade versus uma cidade e gosta de assistir TV

Rir é o melhor remédio

 

E alguém pergunta se está tudo bem...

23 março 2022

Resoluções CVM


A CVM decidiu emitir resoluções. Eis as resoluções do dia 22 de março (pode ser que tenha esquecido alguma):

Resolução CVM 71 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 15(R1) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, que trata de combinação de negócios.

Resolução CVM 72 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 25, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, que trata de provisões, passivos contingentes e ativos contingentes. 

Resolução CVM 73 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 27, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC, que trata de ativo imobilizado.

Resolução CVM 74 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 29, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC, que trata de ativo biológico e produto agrícola.

Resolução CVM 75 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 37(R1), do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata da adoção inicial das normas internacionais de contabilidade.

Resolução CVM 76 - 22/03/2022 - Aprova a Consolidação do Pronunciamento Técnico CPC 48, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC, que trata de instrumentos financeiros.

Foto: Christa Dodoo

SEC discute a questão ambiental


A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, aprovou na segunda uma minuta de documento sobre a mudança climática. O longo documento, de 500 páginas, defende que as empresas com ações negociadas na bolsa de valores devem divulgar informações para os usuários externos. Tendo por base um documento de 2010, a SEC entende as empresas necessitam tornar público informações sobre emissões de gases que possam prejudicar o ambiente. 

A posição da SEC é coerente com a agenda política do governo Biden. Tanto é assim que a decisão da SEC foi comentada positivamente por pessoas vinculadas a Casa Branca. O documento pode receber criticas e comentários nos próximos sessenta dias, antes de ser uma regra obrigatória. 

Há uma expectativa que a medida que incentiva a divulgação seja judicializada. Alguns entendem que não cabe à SEC a normatização da área ambiental. Outros consideram que a SEC já tem instrumentos que incentivam a divulgação; especificamente, qualquer fato que possa afetar, de maneira material, o resultado futuro de uma empresa, deve ser evidenciado. Assim, há dúvidas se a norma teria condições de ser promulgada rapidamente ou até mesmo ser promulgada. 

O mercado de consultoria irá agradecer caso a proposta seja aprovada. Atualmente cerca de um terço das sete mil empresas divulgam algum tipo de informação. Como nos últimos anos há uma redução do entusiasmo das empresas para abrir seu capital, espera-se que a medida por aumentar o custo de divulgação e, naturalmente, reduzir o incentivo pela captação de recursos no mercado acionário. 

Para finalizar, a proposta estipula que as maiores empresas também devem divulgar informações sobre o escopo 3. Isto significa que não basta mostra o impacto da empresa no ambiente, mas também da sua cadeia produtiva. 

Caso deseje mais detalhes, aqui uma análise crítica de Cochrane (aqui também). Ele faz um alerta importante para os excessos da proposta, incluindo um exemplo onde cita o Brasil. Um texto mais jornalístico, e extenso, foi publicado no NY Times. Aqui uma explicação mais técnica do Accountancy Daily. Aqui também. A Forbes trabalha sobre a questão da mensuração. 

Foto: Jeremy Bezanger

FMH e EMH

A hipótese do mercado eficiente (EMH) é bastante conhecida na literatura de finanças. Mas e a FMH ou hipótese do mercado fractal? Interessante, não? Eis um resumo:

The fractal market hypothesis (FMH) is one of the frontier theories of emerging finance and nonlinear science. The relationship between the FMH and the efficient market hypothesis (EMH) is easy to be confused, and its guiding role in investment practice needs to be clarified. For this reason, the theoretical origin, evolution, and cross-integration of EMH and FMH were expounded in this study using the phylogenetic method. The basic work illustrated in this study could help promote the integration and development of securities investment frontier theories using a more unified analysis framework and could guide investment practice at a higher level.

Muito interessante também a linha evolutiva dos autores:

Note que a EMH não começou com Fama, como muitos pensam. O quadro a seguir faz a diferença entre as duas teorias


Links

 Custo da comutação e o prejuízo para sua vida

NFTs e a questão tributária - as transações digitais ainda são objeto de dor de cabeça para as autoridades tributárias

Contadores e ESG - a profissão e o desafio contábil

Propaganda eleitoral e seus efeitos sobre o eleitor - caso da Espanha, mas há similaridades com o Brasil

Dividir o sono pode ajudar a dormir melhor?


Rir é o melhor remédio


 Serve tanto para o professor quanto para o aluno

22 março 2022

Amor, saúde, felicidade e finanças


Em um extrato do livro Why We Love algo bem inspirador. Sobre um estudo realizado por Julianne Holt-Lunstad e seus colegas em 2010

Julianne coletou os dados de 148 estudos que haviam explorado as taxas de mortalidade após doenças cronicas - câncer, doença cardiovascular e insuficiência renal sendo as mais proeminentes - e os aspectos da rede social de uma pessoa. (...) ela concluiu que estar dentro de uma rede social de apoio reduziu o risco de mortalidade em 50%. Isto coloca em igualdade com a interrupção do fumo e manter uma medida saudável de IMC. 

Assim, ter relações sociais de boa qualidade - que é denominado de capital social por Anna Machin, autora do livro, pode ser muito importante para saúde, felicidade e satisfação com a vida. Ter amigos, e isto inclui familiares, pode ser importante e fazer bem para a vida de uma pessoa. Mas como afeta as finanças? Melhor saúde significa melhor qualidade de vida e menor gasto com esta saúde. Nas palavras de Machin:

os neuroquímicos liberados quando você interage com as pessoas que ama têm um papel direto no funcionamento do sistema imunológico

Mas e o amor do título? Citando Machin:

o amor é a força que nos motiva a superar as dificuldades do grupo que vive para cooperar em um nível incomparável em relação a qualquer outra espécie. 

De forma curta: amor é sobrevivência. 

No capítulo 3 do livro Humanidade Bregman traz um ponto interessante. A ciência descobriu que em quatro testes de inteligência - compreensão espacial, cálculo, causalidade e aprendizado social - o ser humano começando a andar teve o mesmo desempenho que os chimpanzés e orangotangos. Exceto em aprendizado social, onde o ser humano foi absurdamente superior. Talvez esta seja a explicação para o fato do Homo sapiens ter prevalecido sobre o Homo Neanderthalensis, especula Bregman. 

Credibilidade da ciência e meio de divulgação

Lembro que já orientei uma pesquisa de TCC próxima, sobre o assunto. A fonte da informação pode fazer diferença em termos de credibilidade

projetamos e implementamos duas pesquisas em que os entrevistados indicaram a credibilidade em encontrar informações científicas on-line. Enquanto a primeira pesquisa comparou credibilidade em vários tipos de mídia, incluindo o Twitter, a segunda pesquisa se concentrou mais de perto nos elementos dos Tweets que podem contribuir para uma maior credibilidade. Este estudo nos permitiu estudar como as informações são percebidas on-line, bem como como os pesquisadores podem moldar suas mensagens para se destacar do dilúvio de informações na web.

O poder dessas pistas formais não deve ser subestimado. Nosso trabalho descobriu como as informações científicas on-line podem parecer mais credíveis, alterando apenas onde e como são apresentadas. A mesma descoberta científica foi percebida como mais credível se estivesse alojada em um local on-line mais credível (Fig. 1 [acima]). As capturas de tela de artigos científicos foram consistentemente consideradas as mais credíveis pelos entrevistados, o que sugere que as descobertas científicas originais geralmente começam em uma posição credível. Outros tipos de mídia, como notícias e postagens de blog, também tendem a ser um pouco credíveis. No entanto, obter cobertura da mídia ou escrever uma postagem completa no blog pode estar além das restrições de alcance ou tempo de um acadêmico ocupado. O Twitter, por outro lado, é a plataforma com a menor barreira de entrada para pesquisadores, facilitando o compartilhamento de seu trabalho pelos pesquisadores. Porém, descobrimos que as informações no Twitter eram consistentemente vistas como menos credíveis do que as outras opções.

Com respeito ao Twitter, apresentar uma figura do artigo ou do resumo traz mais credibilidade. 

Links


 Grande mestre Sergei Karjakin é banido do xadrez por seis meses pelo apoio à guerra

A marmota que faz previsão do tempo é uma fraude - parece óbvio, mas há pessoas acreditam (vide filme Feitiço do Tempo)

Evolução da democracia ao longo do tempo, com mapa interativo

Finlândia, um país que a população é conhecida por ser séria, foi eleito, pela quinta vez seguida, o país mais feliz do mundo - aqui memes. Talvez o problema esteja na medida.

Rir é o melhor remédio

 

cientista, quando conta uma piada na conferência e quando conta em casa

21 março 2022

Publicação da América Latina em Economia

Using Fontana et al.’s (2019) database, we analyze levels and trends in the global distribution of authorship in economics journals, disaggregating by country/region, quality of journal, and fields of specialization. We document striking imbalances. While Western and Northern European authors have made substantial gains, the representation of authors based in low-income countries remains extremely low -- an order of magnitude lower than the weight of their countries or regions in the global economy. Developing country representation has risen fastest at journals rated 100th or lower, while it has barely increased in journals rated 25th or higher. Fields such as international or development where global diversification may have been expected have not experienced much increase in developing country authorship. These results are consistent with a general increase in the relative supply of research in the rest of the world. But they also indicate authors from developing countries remain excluded from the profession’s top-rated journals.

 

Publicação na área de economia (escuro) e riqueza (azul). América Latina publica menos que sua relevância em termos econômicos. 

Mais aqui

Futebol e Chelsea

Sobre a questão do clube de futebol Chelsea, de propriedade de um russo


Tudo isso que está acontecendo nos ensina uma coisa: O futebol europeu vive em uma dicotomia moral e econômica total isso pode custar caro. Oligarcas de países com uma democracia duvidosa (se não inexistente) são bem-vindos em troca de um punhado de milhões, prejudicando a imagem do esporte mais seguido do mundo.

Na Espanha, temos casos claros com o Catar e a Arábia Saudita patrocinar e dirigir a partir do envelope algumas das principais equipes. E o exemplo mais claro é a Copa do Mundo disputada este ano no Catar, que foi denunciado por uma infinidade de organizações de direitos humanos.

Mesmo que a UEFA se apresse em expulsar equipes russas das competições europeias, o futebol tem muito dinheiro por trás das mãos manchadas. E o pior não é Roman Abramovich.

Links

 Sobre o valor do p e sua interpretação

A guerra da Rússia e a questão da economia - interessante o papel que Chipre pode ter neste conflito

Lição de Nadal: fazer o melhor não tem idade - o tenista ainda possui um elevado desempenho, com 35 anos de idade

Decisões sem vitória - fatos recentes mostram que muitas pessoas tomam decisões que não haverá resultado "bom" de imediato. Caso das autoridades sanitárias mundiais sobre a pandemia. 


Literatura em Contabilidade Comportamental

Um estudo da produção científica em Contabilidade Comportamental da dissertação de Juliana Moura Villas Boas. Os resultados são:

o estudo identificou crescente interesse (1) sobre o tema, principalmente na última década, e tendência à utilização de instrumentos online neste campo de pesquisa. A produção analisada apresentou características anglo-saxônica (2) e pouca expansão para outros países. O Brasil mostra um esforço de geração de conhecimento na área, embora não se identifique um centro produtor de conhecimento em contabilidade comportamental neste país, vislumbra-se um campo de pesquisa a ser explorado.

(1) Eis um gráfico:

Mas acho que isto deveria ser relativizado. O volume de pesquisa e publicação cresceu em todas as áreas. 
(2) talvez isto seja decorrente do uso de termos em língua inglesa na busca. Talvez. 

18 março 2022

Sobre o dinheiro a receber do Banco Central

 

O anúncio que o Banco Central estaria efetuando pagamento de dinheiro esquecido pelos correntistas criou uma esperança nas pessoas em receber algum recurso. A tabela acima mostra o volume de recurso, por faixa de valor. 

Pensando em termos de finanças públicas e de análise custo-benefício da informação, faz sentido o Banco Central mobilizar um grande volume de recurso para beneficiar milhões de pessoas com alguns centavos? Pense em termos de custo de sistema, controle, pagamento e outros itens. Não seria o caso do Banco Central sentar na mesa com o TCU ou o legislativo e arrumar uma solução mais racional? 

A materialidade não deveria prevalecer? 

Wirecard


Depois de dois anos, os promotores da Alemanha acusaram o ex-CEO da Wirecard, Markus Braun, e dois outros executivos de fraude. Braun foi acusado de assinar demonstrações contábeis mesmo sabendo que não expressava a realidade da empresa. No caso, receita acima do real e saldo de caixa que a empresa não possuía.

A defesa alega que as acusações são falhas e Braun não teria conhecimento do que estava sendo feito por outros funcionários da empresas, os reais culpados. É difícil de acreditar. 

A empresa alemã destacou por ter um rápido crescimento no mercado, mas em 2020 cerca de 1,9 bilhão de euros, que deveria estar na conta corrente da empresa, "desapareceu". 

Links


Chefão da saúde pública dos EUA e sua fonte de renda - o jornalista que publicou os valores na Forbes foi depois demitido

Barcelona e o limite para contratação

Trabalharam quase de graça para um filme

PCAOB ainda conversa com a China, sobre auditoria das empresas

Rir é o melhor remédio


 Para sexta, uma frase motivacional

17 março 2022

Mapas

 Para quem gosta de mapas, aqui aparece vários deles. Os mais curiosos:

Como é o sobrenome Smith em várias línguas europeias. Ferreira em Portugal.

O caminho mais longo que é possível fazer por uma pessoa caminhando. 
Países com mais ovelhas que pessoas
O que irrita um europeu em uma frase (veja Portugal => "você fala brasileiro?")
Os países que nunca foram invadidos pelos britânicos (em tom mais claro no mapa)


Regulando Charlatões

 Resumo:

We model a market for a skill that is in short supply and high demand, where the presence of charlatans (professionals who sell a service that they do not deliver on) is an equilibrium outcome. We use this model to evaluate the standards and disclosure requirements that exist in these markets. We show that reducing the number of charlatans through regulation decreases consumer surplus. Although both standards and disclosure drive charlatans out of the market, consumers are still left worse off because of the resulting reduction in competition amongst producers. Producers, on the other hand, strictly benefit from the regulation, implying that the regulation we observe in these markets likely derives from producer interests. Using these insights, we study the factors that drive the cross-sectional variation in charlatans across professions. Professions with weak trade groups, skills in larger supply, shorter training periods and less informative signals regarding the professional’s skill, are more likely to feature charlatans.

Berk, Jonathan B. and van Binsbergen, Jules H., Regulation of Charlatans in High-Skill Professions  Journal of Finance. 2022




Pandemia e aula

 


A pandemia trouxe um desafio para o docente: como manter a vontade de continuar transmitindo um conteúdo com entusiasmo. Uma das questões problemáticas é você falar um conteúdo e não poder olhar a reação dos discentes – quase todos mantém sua câmera desligada. E assim, toda semana, ligamos nossa câmera, abrimos o arquivo, geralmente uma apresentação de powerpoint, e começamos a falar. E falamos, falamos e falamos.

Em muitos momentos, no meio de algumas frases, dúvidas surgem na nossa mente. Ou novas ideias sobre o assunto, um novo paralelo, uma nova abordagem. Mas seguimos em frente. Provavelmente os alunos não viram este breve momento de pausa, pois estão com o som desligado ou fazendo outra coisa.

Recentemente tive uma experiência interessante. Comecei fazendo um exemplo em uma aula, usando uma planilha. Logo depois, fiz outro exemplo e para a compreensão de todos os aspectos da questão, aumentei um pouco a complexidade. O problema é que não aumentei somente um pouco, pois quando percebi o exemplo estava bem mais avançado do que gostaria. Ficava me questionando quando apareceria alguém para dizer que não estava entendendo a situação. Não apareceu. Será que estavam escutando o que estava passando em sala de aula virtual?

Hoje, alguns dias depois, leio que talvez o que aconteceu comigo em sala de aula virtual tem um nome: ignorância pluralística. Bregman, em Humanidade – um livro muito atual, para ser lido, para que possamos acreditar no ser humano – relata que Dan Ariely fez um pequeno experimento com isto. Durante uma aula, Ariely apresentou uma definição aparentemente técnica de um assunto. O que os alunos não sabiam é que os termos usados na definição foram gerados em um computador, de maneira aleatória, para produzir uma linguagem difícil, mas vazia. Os alunos ouviram e não reagiram. Ninguém comentou ou perguntou.

Individualmente, os alunos de Ariely acharam sua narrativa impossível de ser acompanhada, mas, ao verem os colegas ouvirem com atenção, consideraram que o problema era deles.

O problema é que isto parece inofensivo, uma mera experiência em sala de aula, mas explica problemas sérios. Usando o exemplo de Bregman, se você perguntar a um estudante se ele gosta de beber até cair, ele dirá que não. Mas pergunte se os colegas fazem isto, talvez digam que sim. Acho que tenho um exemplo melhor: quantas vezes você passou no sinal vermelho, dirigindo um automóvel, e falou para você que “todos fazem isto”.

Voltando a minha sala de aula, a ausência de manifestação de nenhum dos colegas talvez tenha levado a uma turma calada. E que levou o professor a acreditar que sua explicação foi maravilhosa – já que ninguém teve dúvida. (No meu caso, não pensei isto; pelo contrário, pensei “ninguém estava prestando atenção, pois se tivesse questionariam meu exemplo”)

No ensino presencial há alguns sinais que um professor consegue ver nos seus alunos. Não temos isto no Teams, quando a câmera está desligada. O processo de comunicação fica prejudicado.

Foto: Rachel Moenning

Rir é o melhor remédio

 Logo para as empresas que estão deixando a Rússia:








16 março 2022

Links

 Onde a internet é mais censurada e onde o país solicita exclusão de conteúdo no Google

Um jogo para disciplina de ética contábil (versão preliminar, criado pelos alunos da profa. Andréa)

Café: aquecer ou não aquecer (dica de Alexandre Alcântara, grato)

Regulador dos EUA e as NFTs (dica da profa. Ludmila)

Lado feio de alguns países do mundo (não tem Brasil)


Como você está na população

 

O site Population.io é bem divertido. Você coloca a data de nascimento, o país e o gênero. E o site informa quantas pessoas são mais jovens que você (no meu caso, acima, no dia 16 de março de 2022, as 23 horas) era 6 bilhões e 851 milhões. E quantas pessoas são mais velhas que você - somente 1 bilhão e 41 milhões de pessoas. O que parece ser um sinal de que estou ficando velho.

O site também indica qual minha data de validade: 2043. 

Clique aqui para fazer sua estimativa. 

Rir é o melhor remédio

 

Reunião que poderia ser por e-mail

15 março 2022

Carteira para investidores de longo prazo


Resumo:

How should long-term investors form portfolios in our time-varying, multi-factor and friction-filled world? Two conceptual frameworks may help: first, look directly at the stream of payments that a portfolio and payout policy can produce. Second, include a general equilibrium view of the markets’ economic purpose, and the nature of investors’ different preferences, risk-taking ability, and function in that equilibrium. These perspectives can rationalize some of investors’ behaviors, suggest substantial revisions to standard portfolio theory, and help us to apply portfolio theory in a way that is useful in practice.

John H Cochrane, Portfolios for Long-Term Investors, Review of Finance, Volume 26, Issue 1, February 2022, Pages 1–42, https://doi.org/10.1093/rof/rfab038