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27 janeiro 2022

Novos membros do ISSB

Após a nomeação do chairman do ISSB, o francês Emmanuel Faber, a Fundação IFRS anunciou a nomeação de Sue Lloyd (foto) para ocupar o cargo de vice-presidente na nova entidade. 

Lloyd é uma figura muito conhecida na área contábil, atuando na Fundação desde 2014. Atualmente é vice-presidente do Iasb e presidente do comitê de interpretações. Além dela, a Fundação anunciou Janine Guillot como assessora especial da presidência da ISSB. Guillot é originária da VRF, uma entidade que atua na área de sustentabilidade e que será absolvida pela ISSB. 

O mandato de Lloyd será de quatro anos. Naturalmente que ainda faltam os demais membros 

Steinhoff luta para sobreviver

A empresa Steinhoff, com sede na África do Sul, está lutando para sobreviver. No centro de um escândalo contábil, que tratamos no blog diversas vezes (aqui) ou como estudo de caso no livro Curso Prático de Contabilidade (co-autoria com Fernanda Fernandes Rodrigues), a empresa fez aquisições erradas, provavelmente vítima de executivos que tomaram decisões contrárias ao interesse dos acionistas. 

Em 2021 a empresa conseguiu recursos de seguros, pouco para o tamanho do problema. Mas ano novo, vida nova e a empresa começou a pagar investidores que foram lesionados com o escândalo contábil. A conta é de 1,4 bilhão de euros. Parece muito, mas o total de solicitações de indenizações chega a 8 bilhões. 

Transcrevo a seguir uma postagem que resume os problemas da empresa:

Steinhoff International talvez seja uma empresa desconhecida de muitos brasileiros. Mas com mais de 90 mil empregados, segundo dados de 2015, a empresa atua no ramo de comércio de mobiliário e produtos para casa, com operação na Europa, África, Ásia, Estados Unidos e Nova Zelândia.

Originalmente é uma empresa alemã, fundada em 1964. Em 1997, a Steinhoff comprou parte de uma empresa da África do Sul e terminou por mudar sua sede, atraída pelos baixos custos de produção. Também tornou-se uma empresa com ações negociadas na bolsa de Joanesburgo. Na década seguinte, a empresa comprou a empresa Conforama, com atuação em diversos países da Europa e mais de 200 lojas. Em dezembro de 2015 passou a ter ações negociadas na bolsa de Frankfurt, embora a gestão continuasse na África.

Sua atuação cobre mais de 30 países, 40 marcas, com uma forte presença na Europa. No dia 8 de dezembro a empresa informou que estava cancelando uma reunião anual com banqueiros em Londres, originalmente marcada para esta segunda, reprogramando para o dia 19 de dezembro. Dois dias antes, no dia 6 de dezembro, seu principal executivo tinha renunciado ao cargo depois que a empresa anunciou irregularidades contábeis. Além disto, a empresa informou que estava adiando a divulgação dos relatórios contábeis.

Na quinta, a empresa também anunciou que estaria vendendo algumas unidades, o mais rápido possível, para manter sua liquidez, em um comunicado dúbio. O mercado acionário reagiu a falta de transparência e a possibilidade de grandes perdas em razão das irregularidades contábeis. Em junho as ações da empresa eram negociadas a 5 euros. Em agosto, diante da notícia que promotores alemães estariam investigando a empresa por inflar receitas de suas subsidiárias, a ações começaram a cair, chegando a 3 euros no início da semana passada. Na quarta, diante da confirmação das irregularidades contábeis, as ações caíram para 1 euro, chegando a 0,47 euros na sexta. Em termos de valor de mercado, a queda foi de 18 bilhões de euros para 2 bilhões de euros entre junho e agora.

A figura abaixo mostra o comportamento dos bônus da empresa.


Os problemas da empresa parecem envolver empresas de executivos e certas parcerias que o grupo assumiu que comprometeu o fluxo de caixa para os acionistas. A empresa de auditoria responsável pelas contas da Steinhoff é a Deloitte e as autoridades da África do Sul já solicitaram uma investigação para entender a responsabilidade da Big Four.

Regulador na mídia social


Parece que a relação entre regulação e mídia social começa a ser objeto de interesse para a contabilidade. Eis uma pesquisa: 

This paper presents the first evidence of the effect of financial regulators’ social media use on corporate and individual behavior. Using the staggered launch of U.S. Securities and Exchange Commission (SEC) regional offices’ Twitter accounts, I find that financial regulators’ presence on social media reduces opportunistic insider trading, customer complaints against investment advisers, and financial misreporting. Additional tests suggest that the salience and dissemination of regional offices’ enforcement activities via Twitter play a role. The deterrence effect of SEC regional offices’ Twitter use is concentrated among offices with more followers, firms with more retail investors, and advisers with more retail clients. I also show that investors react more strongly to enforcement actions after the enforced firm’s regional office initiates Twitter use. Taken together, the results suggest that financial regulators’ use of social media helps deter misconduct. 


Outro texto, analisa o caso específico de Musk

Rir é o melhor remédio

 

Criatividade, com um velho tema

26 janeiro 2022

Bandeira como ativo - parte 2


Em 2020, em postagem no blog, comentamos sobre a possibilidade de uma bandeira ser um ativo. 

A bandeira de um país ou de um povo pode ser considerada um ativo? Talvez falte aqui a característica da geração de riqueza. Se eu uso uma bandeira, não irei pagar royalties pelos lucros obtidos. Bem, há uma exceção, pelo menos: a bandeira dos aborígines da Austrália. 

Esta bandeira foi criada por Harold Thomas, em 1971, e tornou-se o símbolo dos povos aborígenes. Mas Thomas registrou sua criação e cobra royalties pelo seu uso (cerca de 20% [de quê, o texto não diz]). Assim, para Thomas, a bandeira pode ser considerada uma ativo.

Agora a notícia que o governo da Austrália negociou com Harold Thomas a aquisição dos direitos da bandeira e irá permitir que as pessoas utilizem a mesma sem a necessidade de efetuar nenhum pagamento. 

Youtube retira o "não gostei"

Recentemente o Youtube, do Google, que hospeda este blog, retirou dos vídeos a numeração da quantidade de "não gostei" ou "dislike". É possível instalar a função através de uma extensão, mas o usuário comum provavelmente não irá fazê-lo. Pode parecer pouca coisa, mas a internet lembro que a ausência desta informação pode ser um problema. Veja um meme:

Ao não saber que um canal que ensinava a fazer bolo tinha um grande número de "não gostei", talvez sua escolha não tenha sido tão adequada assim. O meme a seguir mostra a situação onde um milhão de likes para o Simpson disfarça os 19 milhões de dislikes. 



Links

 Vinho tinto pode ajudar no combate à Covid?

Brasil recebe convite para entrar na OECD 

Fraude foi um fator importante para crise de 2008

Tendências para 2022 para contabilidade e finanças 

Rir é o melhor remédio

 


Corte de imposto e criptomoeda como intangível

25 janeiro 2022

Aula de Comércio de Lisboa

Miguel Gonçalves publica um artigo muito relevante sobre a história da contabilidade na Enfoque Contábil. Eis o resumo:

O artigo apresenta, de forma inédita, o discurso pronunciado em Lisboa em 21 de Agosto de 1776 por Alberto Jaquéri de Sales (1731-1791), professor da Aula do Comércio (AC), por ocasião da inauguração do quinto curso da AC. Nesse ano, a AC registou o maior número de alunos matriculados da história da instituição, 307 no total. A literatura contém diversas referências a este documento impresso em 1776, mas, por circunstâncias desconhecidas, o opúsculo parece não constar do acervo documental das principais bibliotecas portuguesas; e tampouco a localização do folheto é fornecida pela literatura de forma precisa, pelo menos tanto quanto é do nosso conhecimento. Desta forma, este estudo visamostrar à comunidade o documento que persiste mais ou menos desencontrado com a história da contabilidade portuguesa e que se localizou no Catálogo de Miscelâneas da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Aproveita-se também a oportunidade para dar conhecimento de uma fotografia da AC, datada de 1894 (que se crê inédita no âmbito do tema AC), a qual mostra o edifício em Lisboa onde a escola se instalou e funcionou de 1759 a 1768

Lembrando que Portugal partiu, de forma tardia, na adoção das partidas dobradas. Mas foi a primeira nação a abrir uma escola de ensino formal da contabilidade, a Aula de Comércio. 

Eis a fotografia:

No mesmo periódico, um artigo sobre a obra de Bernardo Cotrugli, o primeiro autor de contabilidade conhecido. Cotrugli, ao contrário de Pacioli, não imprimiu sua obra e por isto o seu pioneirismo perdeu relevância. Além disto, enquanto a obra de Pacioli teve muita influência nas gerações seguintes, o livro de Cotrugli não foi tão relevante. 

Proporção, racionalidade e contabilidade


Em uma entrevista, o professor Paulo Quattrone lembra da origem da palavra proporção

A palavra racionalidade vem de proporção. Proporção, em latim, significa duas coisas. Uma é a razão, então a proporção. Para ser racional, você precisa ser equilibrado, precisa ser proporcionado. Dois é conta, porque conta dá a ideia de simetria e equilíbrio (...) Uma coisa interessante também é que nos primeiros tratados contábeis (...) para explicar àqueles que estão lendo esses tratados sobre o que era a contabilidade, um exemplo usado é a metáfora do espelho. 

A entrevista é longa e há mais conteúdo lá, mas lembro que o nome do primeiro livro de contabilidade impresso chamava-se Summa de arithmetica, geometria, Proportioni et proportionalita.

Rir é o melhor remédio

Projeção usando Excel
 

24 janeiro 2022

Contabilidade para o mercado e para o fisco


A existência de duas regras contábeis, uma para o mercado e outra para o fisco, resultou em uma proposta de tributação baseado no resultado do mercado nos Estados Unidos. Alguns políticos e comentaristas perceberam que grandes empresas geram muito lucro, mas pagam pouco imposto. Assim, surgiu a proposta de um imposto mínimo sobre o lucro apurado para fins de divulgação para o mercado. 

Surgiram alguns argumentos de que a apuração do resultado para o mercado, baseada nos princípios de contabilidade, o GAAP, seria politizada com a adoção do imposto sobre o resultado. O promarket apresentou alguns pontos favoráveis a tributação do resultado para o mercado. Segundo Ramanna, o autor do texto, as empresas hoje possuem fortes incentivos para exagerar nas receitas da contabilidade financeira, melhorando os resultados para os investidores e, com isto, aumentando o preço das ações. Também nos dias atuais, as empresas possuem incentivos para reduzir a receita para o fisco, para reduzir o imposto de renda. 

Eis um trecho que achei interessante:

Quanto ao argumento da politização, a criação de regras do GAAP já é política devido às suas enormes implicações financeiras, mas às vezes tão pouco competitiva que os interesses especiais das empresas podem prevalecer sem muita luta. De fato, há quase trinta anos. acadêmicos têm alertado que as regras que definem a receita do GAAP estão sendo silenciosamente diluídas para serem menos "prudentes" (...). Diferentemente das regras de contabilidade tributária, que são marteladas ruidosamente nos corredores de um Congresso dividido, sob os holofotes da mídia e do escrutínio do IRS, as regras de contabilidade do GAAP dos EUA são feitas por uma organização privada, em um parque de escritórios gentil, no subúrbio arborizado de Connecticut. 

Eis um exemplo contrário as regras GAAP (que correspondem as regras do Fasb):

em janeiro de 2009, mesmo quando o mundo ainda estava sofrendo de uma crise financeira que ameaçava enviar a economia para uma segunda Grande Depressão, o conselho privado de criação de regras do GAAP revisou seus próprios padrões para remover a necessidade de que a receita de contabilidade financeira seja "confiável" ou "verificável".”

Ebitda e FCO são iguais?

 Eis um resumo de uma pesquisa:

O objetivo desta pesquisa é analisar a relação entre o uso Fluxo de Caixa Operacional (FCO) e o indicador EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation e Amortization) das empresas de capital aberto com negociações na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão). Para os indicadores escolhidos, é testada a série história de 2013 a 2019, compreendendo uma amostra de 250 empresas de capital aberto no mercado brasileiro. A coleta de dados ocorreio por meio da Economatica e os testes estatísticos foram realizados pelo programa STATA para as análises das estatísticas descritivas, teste de médias, correlação e modelo de regressão. Os resultados indicam que o indicador EBITDA e o Fluxo de Caixa Operacional (FCO) apresentam diferença na comparação entre as médias da amostra. Além disso, os resultados mostram uma relação significativa entre ambos, indicando que o uso do EBITDA está atrelado ao Fluxo de Caixa Operacional para análise do potencial de geração de caixa, inclusive na maioria dos setores da B3. A contribuição deste estudo é de que as empresas brasileiras de capital aberto apresentam uma relação significativa entre o EBITDA e o FCO, entretanto existe uma diferença expressiva na média, evidenciando que no mercado brasileiro o EBITIDA não é considerado proxy do FCO. 

Eis o resultado principal:
Como os testes foram feitos com valores absolutos, sem levar em conta o ano, talvez fosse interessante ver se haveria mudança caso os dados fossem relativizados. Pesquisa futura, quem sabe.

Rir é o melhor remédio


 Três tipos de pessoas: que usam marcadores, os monstros e, óbvio, os que não leem. 

23 janeiro 2022

Retorno SP&P 500 por setor

 




História da Contabilidade: Ensino técnico em 1942

Um texto de Josué Montello, que é descrito como técnico de educação e substituto eventual do Diretor do Ensino Comercial, publicado no Illustração Brasileira, de 1942, edição 81, p. 41 e 42, traz informações sobre o Ensino Comercial no Brasil. É bom lembrar que em 1942 não existia o curso superior de contabilidade, a profissão não tinha uma entidade vinculada ao governo – o CFC foi criado alguns anos depois – e o país vivia uma ditadura.

Vou transcrever a seguir o trecho mais importante:

Foi a Republica (1) que deu ao ensino comercial um caminho mais seguro, libertando-o de caprichos empiricos e imprimido-lhe ritmo de eficiência consideral. É em 1905 que a Republica tem sobre esse ensino a sua primeira lembrança, consubstanciada em lei memoravel. Havia, então, no país, duas importantes casas de ensino (2) onde se formavam os homens que amavam as finanças e o comercio; a Academia de Comercio do Rio de Janeiro, no Distrito Federal, e a Escola Pratica de Comercio, em São Paulo, ambas fundadas em 1902. Em Janeiro de 1905, Rodrigues Alves, então presidente da Republica, declara de utilidade publica as duas escolas e reconhece como de carater oficial os diplomas por elas conferidos. Depois dessa deliberação – que é, por assim dizer, o marco de uma nova etapa do ensino tecnico de comercio em nossa terra – somente mais de vinte anos depois seria modificada, com o decreto 17.329, de 1926, a primitiva estrutura do plano de estudos nas Escolas de Comercio sob reconhecimento oficial. Quatro anos depois, em 1031, o Ministro Francisco Campos, numa visão muito feliz da realidade brasileira (3), reorganizou, pelo Decreto 20.158, o ensino comercial, e deu-lhe a orientação ainda hoje seguida.


A seguir o texto caracteriza o ensino comercial no Brasil, distribuído no curso propedêutico (de três anos, como um curso fundamental, com disciplinas gerais como Português, Francês, Inglês, Matemática, História e Caligrafia), o Curso Técnico, o Curso Superior de Administração e Finanças e o Curso de Auxiliar de Comercio. O curso técnico eram cinco: curso de secretariado, de guarda-livros, de administrador-vendedor, de atuário e de perito-contador. Sobre o curso de guarda-livros, em dois anos:

está constituido das seguintes disciplinas: Contabilidade, Matematica Comercial, Noções de Direito Comercial, Estenografia, Mecanografia, Legislação Fiscal e Tecnica Comercial e Processos de Propaganda.

Os cursos de atuário e perito-contador possuíam uma duração de três anos.

(1) optamos por manter a ortografia da época

(2) existiam outras casas de ensino no país. Uma pequena discussão pode ser encontrada aqui

(3) já comentamos aqui que a “visão muito feliz” do ministro Campos teve resistência na categoria

Custo e benefício


Eis uma aplicação - talvez um pouco simplista - da análise custo-benefício. Trata-se dos fiscais de bagaens de voos internacionais. O TCU questiona esta atividade: 

O gasto apresentado pelo Fisco à Corte de Contas foi de R$ 81,2 milhões por ano com salários de 247 servidores da Receita para R$ 38,7 milhões em valores retidos, além de R$ 7,3 milhões em 9.006 ocorrências em 2020, último dado apresentado. O total de bens declarados foi de R$ 1,68 bilhão. Em 2018, a retenção foi de R$ 115,97 milhões, valor que caiu para R$ 58,23 milhões em 2019. Nesses dois anos, não havia a pandemia, e o transporte aéreo funcionava normalmente.

Parece que o custo total não foi mensurado - tempo perdido pelo contribuinte em uma fila é um dos problemas, assim como os benefícios - a falta de fiscalização pode ter um efeito demonstração negativo. 

Rir é o melhor remédio

 Nem sempre é fácil encontrar piadas sobre contabilidade. É um assunto muito sério? Bom, eis uma piada do jornal Atualidades, de Santa Catarina, edição 6, de 1948: