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14 março 2025

Vulnerabilidades do Clima

A tabela mostra que, por exemplo, no Brasil, 75-100% das unidades geográficas estão expostas a um alto risco de inundação e 28,6% dos ativos bancários estão localizados nessas regiões.

 
O Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) publicou em janeiro um relatório para avaliação das vulnerabilidades do clima. É um arcabouço analítico e um conjunto de ferramentas para avaliar esse tipo de risco.

Uma ferramenta complementar ao arcabouço inclui três categorias de métricas para monitorar vulnerabilidades climáticas de forma prospectiva. São elas: (i) indicadores que fornecem sinais iniciais sobre potenciais fatores de risco físico e de transição; (ii) métricas de exposição para avaliar a extensão dos impactos diretos e indiretos na economia real e no sistema financeiro; e (iii) métricas de risco para quantificar os impactos sobre as instituições financeiras e o sistema como um todo. Embora essas métricas já sejam utilizadas domesticamente por alguns membros do FSB, diversos desafios metodológicos e de dados precisam ser superados para que possam ser aplicadas ao monitoramento global.

Esquemorfismo

 

Esquemorfismo seria uma tradução para o termo Skeuomorph. Veja o desenho acima: o ícone de "salvar" representa um disquete, um instrumento que já não é utilizado há mais de vinte anos. Ainda assim, as pessoas compreendem seu significado. Observe também que o telefone é um objeto arcaico. E o que dizer da lupa, que simboliza a função de pesquisa?

Ao criar a representação visual de um produto ou serviço, utilizamos elementos familiares e intuitivos, muitas vezes inspirados em objetos do passado.

Na contabilidade, o termo "caixa" é, de certa forma, um exemplo de esquemorfismo. Originalmente, as pessoas guardavam dinheiro em uma "caixa", e o termo passou a ser utilizado nesse contexto. No entanto, nos balanços atuais, "Caixa e Equivalentes" representa, em grande parte, os equivalentes, e muito pouco o caixa propriamente dito.

Fake news e informações contábeis

Muito interessante:


Apresentamos evidências empíricas sobre o papel das informações contábeis na formação dos incentivos para a produção de fake news. Documentamos que os autores de fake news estrategicamente (1) publicam seus artigos próximos aos anúncios de resultados, aproveitando a ampla atenção do mercado que esses eventos atraem e (2) dentro desse período, evitam publicar após o anúncio, quando os investidores estão menos suscetíveis a fake news devido à divulgação das informações contábeis.

Ao expandir nossas análises para o ambiente mais amplo das informações contábeis, constatamos que os autores de fake news são menos propensos a mirar em empresas com informações contábeis mais robustas e geram reações menores no mercado quando o fazem. Esses resultados destacam os papéis ex-ante e ex-post das informações contábeis na proteção das empresas contra a desinformação financeira.


Telefone sem fio das notícias financeiras


Examinamos como as notícias financeiras são distorcidas à medida que se espalham por diferentes veículos de imprensa, de forma semelhante ao "telefone sem fio". Utilizando uma amostra de artigos exclusivos do Wall Street Journal, empregamos o ChatGPT-4 para quantificar o viés de transmissão à medida que veículos concorrentes recontam essas histórias. Encontramos fortes evidências de que os artigos recontados tendem a ser mais opinativos e negativos, além de menos factuais e atraentes em comparação com a história original. A especialização reduzida dos veículos de imprensa, o maior intervalo de tempo entre a publicação original e sua recontagem, e a presença de narrativas concorrentes de outros meios de comunicação contribuem para essa distorção. A distorção midiática prevê negativamente os retornos anormais do mês seguinte, sugerindo que o viés de transmissão cria uma percepção pública mais forte e pessimista da história original. Esse viés afeta principalmente investidores de varejo e leva a um maior desacordo entre traders sofisticados e não sofisticados.

Fonte: aqui. Imagem: aqui

13 março 2025

Responsabilização climática

Enquanto o tema parece estar em retração em algumas partes do mundo, em outras, a pauta ainda é relevante e pode trazer consequências para as empresas poluidoras. No final de dezembro de 2024, o estado de Nova York aprovou uma lei que entrará em vigor em 2028. A legislação prevê a análise das emissões de carbono das grandes empresas nos primeiros 19 anos do século, com o objetivo de reparar os danos causados.


Em outras palavras, as empresas com maior impacto no problema climático serão responsabilizadas financeiramente. O montante a ser pago pode alcançar 3 bilhões de dólares por ano, e o dinheiro arrecadado será utilizado para cobrir os custos das mudanças climáticas. O estado de Nova York segue o exemplo de Vermont, que já havia aprovado uma lei semelhante no início de 2024. No entanto, como o peso econômico do primeiro é maior que o do segundo, o destaque acabou recaindo sobre aquela que seria a décima economia do mundo.

Há controvérsias sobre a medida, e uma potencial reação das empresas é esperada. No entanto, fico imaginando se as companhias que poderão arcar com essa dívida não terão incentivo para omitir ou distorcer informações sobre sustentabilidade, já aprovadas ou em elaboração pelos reguladores.

Fonte: aqui . Imagem: aqui

Como a não checagem de informações comprometeu uma revista

Saiu na Revista Pesquisa FAPESP: “Uso de e-mails falsos leva à retratação de 45 artigos de pesquisadores brasileiros: Avaliação por pares foi comprometida: três revisores indicados por autor não eram quem pareciam ser”. 

O caso ousado envolveu um biólogo “altamente produtivo”, do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), que acabou tendo 45 de seus artigos invalidados pela Science of the Total Environment (Elsevier), após descobrirem que ele enviou sugestões de possíveis revisores do trabalho com e-mails falsificados. Esses pareceristas renomados e realmente existentes, tiveram contas falsas criadas por “terceiros”. 

O autor nega qualquer envolvimento na manipulação dos pareceres, alegando que apenas forneceu sugestões de contatos, com base em informações antigas, coletadas de uma plataforma de publicações chinesa. Porém, ao ser solicitado, não conseguiu recuperar a origem dos dados. 

A questão vai um pouco além: a revista aceitou as contas de e-mail, há anos sem verificar a veracidade, o que comprometeu a integridade do processo de revisão.

Fonte da imagem: aqui

Multa de Big Four. De novo.

Fonte da imagem: aqui

Eu até tentei dar um tempo das Big Four, mas elas estão com tudo nas manchetes atuais.

Desta vez a Susep (Superintendência de Seguros Privados) noticiou a aplicação de penalidades envolvendo a Ernst & Young (EY) e sua auditoria sobre as demonstrações do IRB Brasil Resseguros. Os grifos são nossos:
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) concluiu, em reunião ordinária do Conselho Diretor realizada ontem (12), a análise de dois processos administrativos sancionadores relacionados à auditoria atuarial independente das demonstrações financeiras do IRB Brasil Resseguros S/A referentes a 31 de dezembro de 2019. Como resultado, foram aplicadas penalidades à Ernst & Young Serviços Atuariais S/S (EY) e a três profissionais que atuaram na auditoria, em razão de indícios de descumprimento de normativos regulatórios.

Trata-se de processos administrativos sancionadores submetidos ao Conselho Diretor da Susep para juízo de confirmação do julgamento realizado pela Coordenação Geral de Regimes Especiais, Autorizações e Julgamentos – CGRAJ, e as decisões ainda estão sujeitas a recurso.

As análises conduzidas pela Susep indicaram que a auditoria atuarial realizada não teria observado elementos que exigiam maior diligência na avaliação das provisões técnicas do IRB RE. Há indicativos de que documentos e informações disponíveis à época poderiam ter sinalizado inconsistências que não foram devidamente refletidas no parecer atuarial emitido.

Em um dos processos, o Conselho Diretor da Susep entendeu que havia elementos que indicam falhas na avaliação da adequação da Provisão de Sinistros a Liquidar (PSL) e da PSL "Legal Cedents". Em outro processo, foram identificados indícios de que o parecer atuarial foi emitido antes da conclusão de análises relevantes, sem apontar ressalvas sobre informações que ainda estavam pendentes de esclarecimento.

Considerando os elementos analisados, foram aplicadas penalidades de multas que ultrapassaram o montante de R$1 milhão de reais, além da inabilitação de um dos auditores para o exercício de cargo ou função pelo período de 4,4 anos (1.606 dias). A empresa de auditoria atuarial, EY, responde solidariamente pelo pagamento das multas aplicadas aos profissionais.

A Susep reforça que as decisões ainda estão sujeitas aos trâmites recursais e ressalta a importância da atuação diligente das auditorias independentes na verificação das provisões técnicas das entidades supervisionadas, em linha com os normativos vigentes e as melhores práticas do setor.
Além disso, em outubro de 2024, a PwC (PricewaterhouseCoopers) foi multada pela Susep em mais de R$ 2 milhões também por auditorias inadequadas relacionadas às demonstrações contábeis do IRB. Segundo a Susep, os processos ainda transitam pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), podendo ter novos desdobramentos.