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24 fevereiro 2025

Amazon e Walmart

Apesar do grande crescimento da Amazon nos últimos anos, a maior empresa de varejo do mundo ainda era o Walmart. Agora não é mais. Conforme o gráfico abaixo, a Amazon superou, pela primeira vez as receitas, com 187,8 bilhões de dólares de receitas no último trimestre. 

O interessante é que a origem da receita da Amazon é muito mais diversificada que do Walmart:

Assim, considerando somente o foco do negócio do Walmart, a receita da Amazon ainda está bastante longe do varejista. Mas, por outro lado,


a lucratividade é bem maior. E o mercado já reconhece que a Amazon tem mais valor que o Walmart desde 2016:


 


23 fevereiro 2025

Com o governo Trump, PCAOB perde força


Nos Estados Unidos, o escândalo da Enron, no início do milênio, resultou na criação do PCAOB. Basicamente, a nova entidade deveria funcionar como reguladora e fiscalizadora das empresas de auditoria, sendo uma reação do legislativo aos problemas contábeis de então.

O PCAOB iniciou um trabalho de impor regras às empresas e de fiscalizar a qualidade do trabalho realizado. Apesar do aparente poder, é importante destacar que o PCAOB é subordinado à SEC, a comissão que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos. Mais de vinte anos depois, o órgão alcançou algum poder e obteve certos feitos. Nesse período, impôs regras, mas também sofreu reveses, como no caso de ex-funcionários que deixaram a entidade para trabalhar — e revelar planos de fiscalização — em uma grande empresa de auditoria.

Em novembro de 2024, o PCAOB sentiu-se forte o suficiente para impor regras no mercado, buscando obter informações sobre os recursos humanos na área de auditoria. Naturalmente, as empresas de auditoria não ficaram satisfeitas, mas as regras precisavam ser aprovadas pela SEC.

Com a chegada de Trump ao poder, parece que medidas como essa tornaram-se impopulares entre os detentores do poder. Antes de serem analisadas pela SEC, as mudanças propostas pelo PCAOB foram retiradas, sem qualquer explicação ou justificativa.

O caso do PCAOB evidencia que impor regras rigorosas enfrenta desafios políticos e regulatórios. 

Razões para brigar pelo poder de uma fundação do terceiro setor

Uma leitura interessante é o texto sobre uma disputa estranha entre um bilionário e sua ex-mulher. Basicamente, trata-se do bilionário Herbert “Herbie” Wertheim (foto) e de sua ex-mulher Nicole, que o acusa de desviar milhões dos ativos da fundação filantrópica familiar. Após um episódio de infidelidade que resultou no pedido de divórcio de Nicole em julho de 2023 (concedido em outubro), a briga judicial passou a girar em torno do controle dos bens da fundação, avaliada em cerca de US$ 4,5 bilhões.

Há acusações de fraude e fofocas típicas de colunas sociais. O interessante é que parte da disputa se concentra em uma fundação filantrópica. Qual seria o motivo disso, já que uma fundação como essa existe para fazer o bem? Um trecho traz uma resposta curiosa:

Por que travar uma batalha assim sobre dinheiro destinado à caridade? “A filantropia dá poder a quem a controla”, diz Al Cantor, um consultor independente de filantropia que não está envolvido no caso. Grandes doadores veem seus desejos atendidos ao doar grandes somas. Ceder o controle de até mesmo alguns ativos beneficentes significa abrir mão de um pouco desse poder.

Em outro trecho, aparece também um segundo motivo, que seriam os impostos:

Mas então ele [Herbie] revela um pouco mais sobre suas motivações, que parecem contradizer suas intenções de doar sua fortuna: “As pessoas doam para fundações para compensar passivos e impostos."


Foto: aqui

22 fevereiro 2025

IA e risco na contabilidade


Eis uma notícia sobre os riscos de usar IA para dados contábeis:

A Sage Copilot (seu novo chatbot de IA) mostrou os dados financeiros de um cliente para outro.

O incidente aconteceu quando os usuários pediram ao Sage Copilot uma lista de faturas recentes. A IA exibiu faturas de outras empresas.

Este é um dos grandes desafios de segurança da integração da IA nos sistemas de negócios SaaS.

Se a mesma IA puder acessar várias empresas, poderá revelar involuntariamente informações ao cliente errado.

 

21 fevereiro 2025

J&J continua tentando encontrar como não pagar um passivo de bilhões

O caso do talco da J&J tem recebido destaque na imprensa econômica e apresenta repercussões contábeis interessantes. Em resumo, a empresa produziu, durante muitos anos, um talco amplamente utilizado em todo o mundo. No entanto, há tempos, a J&J tinha conhecimento de que um dos componentes utilizados no produto era cancerígeno: o amianto. Mesmo ciente desse risco, a empresa não tomou nenhuma medida para alterar o produto ou alertar os consumidores, que confiavam na segurança do talco. Como resultado, até recentemente, o talco contendo amianto continuava a ser comercializado em países desenvolvidos.

À medida que surgiam evidências sobre os problemas de saúde causados pelo talco, diversos consumidores começaram a processar a empresa. Muitos deles adoeceram enquanto utilizavam o produto. Na contabilidade, processos judiciais desse tipo devem ser analisados com cautela e, caso exista alguma chance de êxito para os ex-consumidores, a empresa deve reconhecer um passivo correspondente.

Com o tempo, o número de processos ultrapassou facilmente dezenas de milhares. O volume de ações cresceu a tal ponto que a continuidade operacional da empresa começou a ser questionada. O reconhecimento adequado desse passivo reduz o patrimônio líquido, aumenta o endividamento e impacta negativamente a lucratividade. O problema continua a crescer, pois novos casos são descobertos e novos processos são abertos na justiça.


Diante desse cenário incerto, a empresa elaborou uma estratégia controversa: criar uma subsidiária e transferir todos os passivos para essa nova entidade. Como o valor desses passivos era imenso, essa manobra limpava o balanço da J&J, transferindo para uma entidade financeiramente inviável o ônus das demandas judiciais.

A empresa tentou essa estratégia duas vezes, mas em ambas as ocasiões a justiça rejeitou a abordagem considerada desonesta e oportunista. Agora, a J&J voltou a solicitar judicialmente a permissão para criar a subsidiária. Fala-se em um passivo de 10 bilhões de dólares, embora esse valor possa variar conforme a decisão judicial.

A empresa nega a existência do problema, mas segue com a estratégia de recuperação judicial. Nesta terceira tentativa, o caso será julgado em Houston, Texas, uma jurisdição conhecida por favorecer empresas em questões judiciais. A J&J afirma agora ter o apoio esmagador dos demandantes, o que é difícil de comprovar.

A decisão judicial pode sair no final de fevereiro. Você consideraria isso um passivo para a J&J?

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Controle da geração de riqueza e moda

Uma das condições para reconhecermos um ativo é estar enquadrado na sua definição. A definição aceita nos dias atuais diz que ativo é um benefício futuro que é controlado por uma entidade. E se não existir o controle do benefício futuro? Então não temos um ativo. 


O caso da moda já foi explorado aqui. Já comentamos da dificuldade em conseguir proteger os direitos de criação. Por isso, as casas que criam os vestuários não se preocupam em registrar um desenho de uma roupa. Eis um debate sobre o tema:

Roupa tem dono? No mundo da moda, onde as tendências se espalham na velocidade da internet, proteger uma criação é um desafio quase tão complexo quanto desenhá-la. Mas Cassey Ho, empresária e influenciadora por trás das marcas Popflex e Blogilates, conseguiu um feito raro: graças à patente que detém sobre seus modelos de roupas fitness, ela derrubou 499 cópias de suas peças do mercado. A decisão reacendeu uma velha discussão no setor: afinal, até que ponto é viável patentear o design de uma peça de vestuário? E quais são os desafios legais e práticos dessa proteção?

O diretor criativo Giovanni Bianco explica que os direitos autorais protegem apenas a parte artística de uma peça, enquanto as marcas registradas garantem a identidade da empresa, mas não necessariamente o design de uma roupa. Em outras palavras, isso significa que uma marca pode proteger seu logotipo ou um padrão específico, mas não pode impedir que outra empresa crie uma roupa parecida, desde que não use esses elementos registrados. “A Chanel, por exemplo, registrou o design matelassê da icônica bolsa 2.55 em 1955, e a Gucci protegeu sua famosa faixa verde e vermelha como marca registrada”, exemplifica Bianco.

Leia mais em:

20 fevereiro 2025

Dunning-Krueger e gênero

Eis o resumo. Atente para a parte final

O efeito Dunning-Kruger (DKE) afirma que pessoas com níveis mais baixos de habilidade tendem a autoavaliar sua capacidade de forma menos precisa do que aquelas com níveis relativamente mais altos de habilidade. Assim, a correlação entre as habilidades cognitivas objetivas de uma pessoa e suas habilidades autoavaliadas é maior em níveis mais altos de habilidades cognitivas objetivas. Há um grande debate sobre se esse efeito realmente existe ou se é um artefato estatístico.


Este artigo replica e amplia os estudos de Gignac e Zajenkowski (2020) e de Dunkel, Nedelec e van der Linden (2023) para testar se o DKE existe usando várias medidas de habilidade e dados representativos de uma coorte de nascimentos britânica. Para isso, construímos uma medida de habilidades cognitivas objetivas utilizando 18 testes realizados nas idades de 5, 10 e 16 anos, e uma medida de habilidades subjetivas autoavaliadas usando estimativas de desempenho escolar e percepção de inteligência nas idades de 10 e 16 anos.

Replicamos seus modelos e mostramos que o DKE existe em nossos dados secundários. Importante, somos os primeiros a analisar se essa relação é heterogênea por gênero e descobrimos que, embora o viés de autoavaliação seja específico de gênero, o DKE não é. O DKE surge do fato de que homens tendem a superestimar relativamente suas habilidades, enquanto mulheres tendem a subestimá-las relativamente.