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21 maio 2018

Transparência e decisões

Nas decisões colegiadas geralmente partimos da suposição que quanto maior a transparência, melhor será a decisão. Isto tem sido usado pela CVM ao divulgar as decisões colegiadas, responsáveis pela punição de auditores, funcionários e empresas. Geralmente clamamos que isto também ocorra nas grandes decisões do Supremo ou nos comitês das empresas.

Uma investigação recente questiona a crença que a transparência é algo bom. E que decisões mais transparentes são melhores decisões. Dois pesquisadores, um da Universidade de Constança (Alemanha) e outro de Warwick (Reino Unido) concluíram que em decisões colegiadas, a transparência pode não ser uma boa opção. Inicialmente Fehrler e Hughes desenvolveram um modelo teórico com três níveis de transparência: sigilo, transparência moderada e transparência. A diferença entre os modelos é que no sigilo tanto o voto individual quanto a argumentação são apresentadas em segredo. É o modelo de eleição do Papa, por exemplo, onde cada eleitor deposita seu voto em uma urna, sem revelar seu motivo ou sua escolha. O modelo de transparência é o adotado pelo Supremo, onde cada ministro apresenta seus motivos e seu voto. A transparência moderada é o nível intermediário. No modelo teórico de Fehrler e Hughes, as decisões são afetadas pelo nível de informação disponibilizada. Em geral, maior transparência induz a decisões incorretas, exceto quando a manutenção do status quo é a melhor opção.

Talvez você já tenha passado por esta experiência. Você acredita que a melhor decisão é alterar o status quo, mas o parecerista faz um voto pela manutenção da situação e as pessoas começam a votar. Há uma forte indução para o status quo, muito embora esta talvez não seja a melhor decisão.

Entretanto, o modelo teórico por si só não é suficiente para confirmar a teoria dos autores. Sabendo disto, os pesquisadores fizeram um experimento de campo, onde grupo de pessoas deveriam tomar decisões com estes três níveis de transparência. O resultado obtido por Fehrler e Hughes confirmou, com algumas pequenas diferenças, a suposição do modelo: a transparência pode conduzir a decisões erradas.

FEHRLER, Sebastian; HUGHES, Niall. How transparency kills information aggregation: theory and experiment. American Economic Journal: Microeconomics, v. 10, n. 1, p. 181-209, 2018.

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