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10 janeiro 2013

Renda fixa ou variável?


É assunto dos debates e tertúlias entre analistas, economistas e operadores de mercado a possível realocação da poupança privada, de instituições e indivíduos, que gradualmente transfeririam parte de seus recursos dos títulos de renda fixa para os de renda variável (ações, debêntures conversíveis, fundos de ações). Esse prognóstico vem sendo justificado pela substancial queda das taxas de juros que experimentamos nos últimos anos e que agora estão nos seus níveis mais baixos depois de longo período.
Investidores brasileiros, historicamente por conhecidas razões, privilegiam títulos de renda fixa. Anos de superinflação com títulos indexados, sejam públicos ou privados, atraíam a inquestionável preferência. No momento, no entanto, pessoas físicas não dão nenhum sinal de que realmente estejam considerando mudar preferências que se solidificaram ao longo de décadas, enquanto os investidores institucionais reagem lentamente.
Não creio que devemos nos surpreender com esse comportamento, pelas seguintes razões:
Durante longos períodos, a rentabilidade dos títulos de dívida em geral foi boa, superando a inflação. Esta, por sua vez, provocou o encurtamento do horizonte temporal dos investidores. A insegurança sobre o futuro da moeda tinha como consequência a busca de resultados em prazos curtos e não atraía os investidores em ações;
Em dezembro de 2012, a Bolsa registra somente 621 mil acionistas, ante 559 mil em 2008. Estima-se um potencial de 2 milhões de acionistas;
Os intermediários financeiros, com algumas honrosas menções, não estavam (ou ainda não estão) equipados para investir mais agressivamente na educação dos investidores e para redirecioná-los. O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, está coordenando a revisão do sistema de distribuição de valores mobiliários, que deve ser vista com aplausos. Assim, caberá aos intermediários parcela importante desse trabalho educativo, lembrando que maiores ganhos implicam maior risco;
A economia brasileira patinando, com taxas de crescimento insatisfatórias, não cria ambiente propício para o investimento;
O ambiente externo, com uma conjuntura internacional mal resolvida e com as bolsas refletindo esse ambiente, não cria um cenário favorável para as ações;
Novos lançamentos de ações durante 2013 ficaram muito abaixo da expectativa. Vale lembrar que o número de empresas listadas em bolsa no Brasil, em dezembro de 2011, era de 373, ocupando o 27.º lugar no mundo. A Índia tinha, naquele ano, 6.752; Hong Kong, 3.838; Austrália, 3.079; e a Coreia, 1.816. No entanto, efetivamente no caso brasileiro, as companhias com liquidez estariam em torno de somente 150;
Recomendações recentes de alguns analistas indicam que grande parte das ações projeta um quociente P/L (preço/lucro) superior a 15 vezes. Mesmo reconhecendo que a taxa de juros, agora no seu nível mais baixo, justificaria um quociente P/L mais alto, ainda assim as ações das boas empresas, em geral, não estão baratas;
O que poderá acelerar a canalização de um maior volume para o mercado será o comportamento do investidor institucional, particularmente dos fundos de pensão. Em grande parte, terão de ajustar seus planos, revendo compromissos atuariais;
Outra variável importante será a do investidor estrangeiro, que em anos passados foi grande aplicador, seja diretamente em Bolsa ou em novas emissões. O seu humor com relação ao Brasil alterou-se nos últimos meses, mostrando preocupação com uma questão fundamental: a previsibilidade.
Creio que, no médio prazo, consolidando-se uma nova fase da economia brasileira, essa transferência de recursos irá acontecer, mas vai requerer uma série de iniciativas - aqui resumidamente apresentadas, ressaltando a questão da confiabilidade institucional.
Fonte: aqui

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