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02 agosto 2011

Impacto de mudanças na economia dos EUA

O mercado internacional está com os olhos fixos na decisão que o Congresso dos Estados Unidos precisa tomar até esta terça-feira (2) sobre a elevação do teto da dívida pública do país. A medida, em discussão há meses, é defendida pelo presidente Barack Obama para evitar calote aos credores externos. Professores da Universidade de Brasília dizem que aumentar o limite do endividamento é inevitável, mas informam que a decisão trará consequências para muitos mercados, incluindo o brasileiro.

O Brasil é o quinto maior credor da dívida americana. O país tem hoje cerca de US$ 210 bilhões em títulos do tesouro dos Estados Unidos. Apesar de remota, a possibilidade de não pagamento da dívida abalaria a economia nacional. “Haveria grande impacto nas contas brasileiras. O crédito seria encarecido e o país passaria a contar com menos reservas”, explica Adriano Benayon do Amaral, professor aposentado de Economia Internacional do Instituto de Ciência Política. Na análise do especialista, o calote poderia dificultar a oferta de capital e afetar o setor produtivo com o esfriamento do consumo e, em conseqüência disso, com retrações no mercado de trabalho.

Adriano Benayon lembra que, além de aumentar o teto da dívida, os congressistas americanos discutem cortes nos gastos públicos para evitar o calote. “Os conservadores querem cortes com os gastos sociais. O que seria penoso para os idosos e para a seguridade social”, diz. Com menos dinheiro em circulação na maior economia global, as exportações brasileiras também seriam comprometidas. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam que, na última década, os Estados Unidos foram responsáveis pela compra de 16% de tudo o que o Brasil vendeu para fora.

O chefe do Departamento de Economia, Joaquim Pinto de Andrade, considera “fora de questão” a declaração de um calote. Ele diz que o congresso deve selar um acordo para afastar o risco. “De todo modo, a ameaça já foi muito ruim para todo mundo”, avalia. Ele considera que o episódio põe em xeque o papel hegemônico dos Estados Unidos e aponta a queda de credibilidade do país, classificado como bom pagador pelas agências internacionais. “Os países emergentes passarão a ocupar um papel ainda mais importante após a crise e devem aumentar a participação na economia mundial”, conclui.

Motivações políticas também interferem no momento econômico americano, segundo o professor de Direito Econômico, Marcos Faro de Castro. “O problema envolve as pretensões políticas dos republicanos que lutam contra a reeleição de Obama”, afirma. Segundo ele, qualquer que seja a decisão dos parlamentares, a desconfiança sobre a economia dos Estados Unidos tende a permanecer. “A medida é evitar o calote, mas pode não evitar o rebaixamento do triplo A americano”, diz em referência da classificação máxima conferida pela agência internacional Moody’s aos países que cumprem seus compromissos econômicos.

O economista Newton Marques, professor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, considera inevitável o corte dos gastos nas despesas públicas norte-americanas. Ele diz que a diminuição de aportes na área social pode ser "um caos” nesse momento de crise, mas enxerga como positiva a possível redução com gastos militares. “Provavelmente os Estados Unidos terão que retirar suas tropas de alguns países e gastar menos com armamentos, o que seria um benefício para humanidade”.

A dívida americana chegou a US$ 14,3 trilhões em maio, valor máximo estabelecido pelo Congresso. A intenção dos governistas é ampliar esse teto em mais de US$ 2 trilhões e cortar gastos públicos de forma gradual para refrigerar a economia americana. O presidente Barack Obama tem feito apelos sistemáticos nas últimas semanas para que os parlamentares adotem as medidas necessárias para evitar “uma crise profunda” que seria fruto de um comportamento “imprudente e irresponsável”.


Fonte: Hugo Costa - UnB Agência

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