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01 abril 2011

Reagir ou ficar indiferente?

Robert Kaplan é um dos cientistas influentes da historia da contabilidade. Depois de escrever um livro de contabilidade gerencial, com uso de método quantitativo, que tive a oportunidade de estudar durante meu doutorado, ele se uniu a Robert Cooper para criar a estrutura conceitual do custeamento por atividades (ABC). Isto após escrever Relevance Lost, uma das obras mais polêmicas da contabilidade gerencial. Mais adiante, já na década de 1990, juntamente com David Norton, propôs o Balanced Scorecard. Recentemente divulgou, com Anderson, um livro sobre o ABC simplificado.

No número de março de 2011 do periódico Accounting Review (1), Kaplan faz um balanço atual, honesto e crítico da pesquisa contábil. O texto deveria ser leitura obrigatória para os estudantes de mestrado e doutorado (2).

Fazendo um apanhado dos últimos quarenta anos de pesquisa contábil, podemos notar forte viés para pesquisa entre informação e mercado. Isto inclui tópicos como evidenciação, anomalias ou accruals.

Entretanto, mesmo com esta grande quantidade de pesquisa, Kaplan afirma que raramente isto contribui com a inovação e o avanço da prática contábil. ´Acadêmicos têm contribuído com a prática dos reguladores contábeis testando as reações dos padrões propostos e implementados e comunicados´, afirma Kaplan. A pesquisa tornou-se um fenômeno de estudos estatísticos, usando dados históricos. ´Uma característica destas pesquisas é a existência de múltiplas tabelas´.

Uma análise dos artigos submetidos na Accounting Review mostra uma grande parcela de pesquisas usando o método ´empirical-archival´.

Entretanto, a agregação do conhecimento quando lemos mais um artigo sobre accruals é reduzida. Isto significa que as pesquisas são reativas, estudando o que já existe, mas não contribuindo com o avanço da prática contábil. Kaplan estranha isto, já que nos últimos anos muitas coisas ocorreram na contabilidade. Em outras palavras, os pesquisadores estão perdendo uma oportunidade ao se tornarem desconectados da prática.

Ele cita como exemplo a questão do risco. Apesar de sua relevância, os reguladores (Iasb e Fasb) debatem ainda a avaliação de ativos e passivosa, mas não seus riscos. Citando o valor justo, para Kaplan a profissão contábil não está preparada para usar este conceito. Os contadores delegaram a outros a tarefa de aplicar o valor justo. Kaplan lança dúvida se os contadores possuem condição de validar as estimativas realizadas no seu cálculo. Isto ocorre em razão de não sabermos economia, matemática e estatistica na quantidade suficiente.

Assim, como no livro Relevance Lost, neste artigo ele faz uma crítica a pesquisa contábil. Resta saber se iremos reagir ou manter nossa indiferença.

(1) Accounting Scholarship that advances professional knowledge and practice. Accounting Review. vol 86, n2 p. 367-383
(2) Aos leitores interessados posso encaminhar o arquivo em PDF.

3 comentários:

  1. Bom dia Professor César,

    Diante da dura verdade, gostaria de ler um pouco mais sobre o texto do Kaplan.

    Mas gostaria de lembrar que muitos trabalhos "diferentes" se podem ser chamados assim, são duramente criticados por professores em bancas para aprovação de periódicos, talvez por acharem que os estudantes querem mudar a matéria contábil o que não é bem verdade(talvez por isso a quantidade de trabalhos com assuntos repetidos), mas tudo bem continuaremos explorando a nossa imensa ciência contábil!

    toledo.renan@hotmail.com

    Obrigado!

    Renan Toledo

    Blogabilidade

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  2. Bom dia Professor César,

    Realmente devemos buscar aprofundar mais as pesquisas contábeis.

    gostari de conhecer melhor o artigo acima mencionado.

    danilo0801@gmail.com

    Grato

    Danilo Borges

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  3. Boa tarde,Ilustre Prefessor! Excelente a chamada à atenção do artigo acima. Gostaria também de conhecer mais sobre o assunto, agradecendo indicações. Ah, no mais, às ciências citadas, gostaria de incluir no rol a Engenharia de Avaliações, reginda por normas técnicas da ABNT, ciência autônoma que se utiliza de metodologias estatísticas de cálculo normatizadas especialmente para aferir valores de MERCADO de ativos.
    Abs.
    Sandro Pandolpho da Costa

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