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30 agosto 2022

A distância entre a teoria e os livros de Finanças Pessoais


Qual a diferença entre os livros de finanças pessoais e as pesquisas realizadas com um elevado rigor metodológico? Eis uma resposta aos livros de finanças pessoais

Mas a assessoria financeira popular tem dois pontos fortes em relação à teoria econômica. Primeiro, o conselho recomendado é freqüentemente facilmente computável por indivíduos comuns; não há necessidade de resolver um complexo problema de programação dinâmica. Em segundo lugar, o conselho leva em conta as dificuldades que as pessoas têm na execução de um plano financeiro devido, digamos, a uma motivação limitada ou a reações emocionais. Portanto, os conselhos populares podem ser mais úteis na prática para o cidadão comum. individual.

De um modo geral, os livros de finanças pessoais são de baixa qualidade. 

Ensino remoto e invasão da privacidade

Eis a notícia lá de fora:


Um juiz do tribunal federal decidiu na segunda-feira que as varreduras de salas - um componente de muitos serviços de procura on-line - violam a Constituição.

Juiz J. Philip Calabrese, do Tribunal Distrital dos EUA no Distrito Norte de Ohio ficou do lado com o autor em uma decisão que foi descrita por alguns observadores legais como injetando uma nota de cautela sobre o uso dos polêmicos softwares, que explodiram durante a pandemia. O autor, um estudante da Cleveland State University, foi convidado a fazer uma breve varredura de seu quarto no início de 2021, antes de fazer um teste remoto.

Realmente o ligar da câmera é invasivo. Lembro da primeira pergunta que tive de responder de um aluno durante o início da pandemia: que livros eram aqueles que estavam após a minha imagem? Quase todos alunos desligavam suas câmeras e restava falar para uma tela do computador. 

Também lembro de uma entrevista de seleção da pós-graduação, onde a câmera era obrigatória estar ligada, sendo possível ver o local onde estava a pessoa. Em alguns casos, era possível perceber o ambiente. 

Em casos como este, o objetivo é evitar fraudes nos exames. Um tema bem complicado. 

Efeito do remoto no xadrez


Via Marginal Revolution, uma avaliação do desempenho dos jogadores de xadrez em partidas online, durante a pandemia:

Durante a pandemia do COVID-19, torneios tradicionais de xadrez (offline) foram proibidos e, em vez disso, mantidos online. Exploramos esse cenário único para avaliar o impacto de políticas remotas de trabalho no desempenho cognitivo dos indivíduos. Usando a inteligência artificial incorporada em um poderoso mecanismo de xadrez para avaliar a qualidade dos movimentos do xadrez e erros associados, encontramos uma diminuição estatisticamente e economicamente significativa no desempenho quando um indivíduo compete remotamente versus offline em um ambiente presencial. O tamanho do efeito diminui com o tempo, sugerindo uma adaptação à nova configuração remota.

Foto: Dipesh Shrestha

Emissão por quilograma de alimento

 O OurWorldData criou um gráfico para informar quanto o consumo de um determinado alimento afeta a emissão. Fiz uma seleção pessoal de alimentos e eis o resultado:


A pecuária é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Café, salmão e bacon aparecem depois. 

Rir é o melhor remédio

 

Síndrome do impostor é quando você acha que é incompetente, quando não é bem verdade. Não tem nenhuma relação com "não ter ideia do que está fazendo". 

29 agosto 2022

Acordo entre EUA e China permitirá a atuação do PCAOB

São poucas as vezes que uma questão contábil adquire uma importância estratégia, envolvendo duas potências. Este é o caso da inspeção das auditorias que empresas chinesas, com ações negociadas nas bolsas dos Estados Unidos. 

Desde a criação do PCAOB, fruto do escândalo da Enron e da Sarbox, esta entidade dos EUA faz inspeção regular no trabalho das empresas de auditoria. Isto envolve qualquer ativo negociado nos Estados Unidos. Somente dois países no mundo não aceitavam a inspeção do PCAOB, dificultando a verificação da qualidade da auditoria: China e Hong Kong. 

O problema foi sendo levado ao longo do tempo, mas recentemente o governo dos Estados Unidos ameaçou com a retirada de 200 empresas asiáticas do pregão. Sem uma inspeção da qualidade da auditoria, não seria possível continuar a negociação. 

Sexta feira foi anunciado o que parece ser um acordo para permite a fiscalização. Isto fez com que o preço das ações das empresas chinesas tivessem um aumento. O impasse de décadas pode ser resolvido e há um cronograma dos trabalhos iniciarem em setembro, em Hong Kong. 

Da parte chinesa existia uma preocupação com a segurança nacional. O acesso a documentos poderia ser sensível, sob a ótica chinesa. O anúncio informa que não ocorreu nenhuma concessão especial para que a China aceitasse os termos. Como o número de empresas é grande e o tempo sem inspeção também, o PCAOB poderá precisar ter um grande número de inspetores na Ásia para verificar a qualidade das auditorias e isto pode levar meses. O PCAOB pode selecionar a seu critério qual empresa ou auditoria irá investigar. Isto inclui entrevistas com os auditores. 

Obviamente, como isto é um assunto delicado, envolvendo não somente a contabilidade, como as relações internacionais, não será surpresa se ocorrer algum tipo de recuo de uma das partes. 

Fonte: aqui, aqui, aqui, aqui

A Engraçada história do Forte Blunder


Logo após a Batlha de Plattsburgh, entre os Estados Unidos e os britânicos do Canadá, o presidente dos primeiro país, em 1816, determinou a construção de um forte no Lago Champlain.  No ano seguinte, o então presidente Monroe chegou a visitar o local.

A parte engraçada da história: uma pesquisa descobriu que o forte estava localizado a um quilômetro da fronteira. Ou seja, o forte estava localizado no Canadá. 

Com base nisto, a construção foi abandonada e recebeu este nome (igual a "engano" em português). Outro forte foi construído, agora em território dos Estados Unidos. 

Agora imagine que existia o teste de recuperabilidade em 1816. Como seria o lançamento na contabilidade do governo dos EUA? Em que momento? 

Blogs acadêmicos morreram?


O leitor deve ter percebido que nos últimos meses as postagens do Contabilidade Financeira ficaram inconstantes. E este texto, publicado no LSE questiona se os blogs acadêmicos morreram. Eis alguns trechos (usando DeepL para a versão em português)

O blog pessoal era uma característica definidora da Internet inicial e ainda existem vários blogs acadêmicos de alto nível, mantidos estudiosamente por acadêmicos solitários. No entanto, para pesquisadores novos em blogs acadêmicos, ainda vale a pena criar seu próprio blog? Refletindo sobre sua própria trajetória de blog Mark Carrigan, sugere que talvez seja hora de colocar o blog acadêmico pessoal para descansar.

O que é blog acadêmico? (...) estabeleci um. blog pessoal, que mantive nos últimos 12 anos, abrangendo 4593 postagens em uma ampla gama de tópicos, desde comentários rápidos sobre links e vídeos até ensaios longos. Olhando para trás em minhas postagens, posso ver meu doutorado e duas monografias tomando forma, mas também vejo uma série de outros tópicos, que nunca se tornam parte do meu trabalho "formal".

O blog foi o meio central pelo qual desenvolvi uma perspectiva distinta como pesquisador, fornecendo-me um convite aberto para refletir sobre o que tenho lido, analisado, organizado e ensinado. Faço isso há tanto tempo que acho difícil imaginar o que gostaria de ser um acadêmico sem um blog. Eu sempre me identifiquei Descrição de Cory Doctorow de seu blog como, um cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”, permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia pela Internet. Blogar nesse estilo tem sido frequentemente comparado a um livro comum em que os leitores registram material relacionado a um tópico comum.

Se você blogar dessa maneira, sua capacidade de recuperar postagens se tornará tão importante quanto compartilhá-las. Costumo me recuperar de postagens em conversas com colaboradores, lembrando fragmentos relacionados ao que estamos fazendo, mesmo que eu não tenha percebido nenhuma conexão no momento da redação. (...)

De fato, blogs acadêmicos pessoais parecem estar em declínio.

Algumas das razões para isso são óbvias. É percebida como uma atividade demorada (corretamente, se você espera atrair um público), o que o torna indesejável dentro de uma academia definida por pressa crônica. Existe um medo compreensível de que compartilhar tão abertamente possa facilitar o roubo de idéias e deixar alguém aberto a abusos pessoais. A maneira pela qual as mídias sociais consumiram atenção on-line também significa que ficou mais difícil criar um público apenas através de blogs. (...) Isso contribui para um senso de blogs pessoais como relíquias antiquadas de uma era anterior da web, lutando para ganhar atenção no cenário da mídia cacofônica de 2022. O rápido crescimento de plataformas de boletins como TinyLetter e Substack ilustra ainda como ainda há uma audiência para conteúdo escrito de forma longa, mas o modelo mais antigo de blogs a seguir está sendo espremido pela entrega privatizada por e-mail.

O fato de eu estar escrevendo isso na forma de uma postagem no blog é, no entanto, o melhor indicador de que os blogs acadêmicos estão longe de estar mortos.

Beneficiou minha carreira de blogueiro, tanto em termos de apoio à produtividade da minha pesquisa, como alguém que raramente foi empregado como pesquisador, quanto no sentido mais nebuloso de aumentar minha visibilidade entre as comunidades acadêmicas. (...)

O grifo é meu e expressa muito o que penso. O Blog tem funcionado desta forma. Também tem ajudado a escrever e aperfeiçoar minhas possíveis explicações em sala de aula. E, finalmente, é parte do processo de publicar e pesquisar. Muitas pesquisas (quase todas) que sugeri para meus orientandos vieram de postagens. Creio que eles não perceberam isto. 

Viva o Contabilidade Financeira !!! Vida longa para os blogueiros !!!

Futebol europeu e o fairplay financeiro


Há poucos dias postei sobre a questão do Fairplay financeiro. Eis que revendo alguns textos não lidos de meses passados, achei um artigo de Bruno Bonsanti sobre o tema, de abril deste ano. Selecionei um trecho:

Agora que está tudo esclarecido, vamos às novas regras: basicamente, foi estabelecido um teto para gastos dos clubes com transferências, salários e comissões de agentes. Haverá um período de adaptação, mas, em três anos, esse limite terá que ser de 70% – caindo gradativamente de 90% em 2023/24 e 80% em 2024/25.

O controle de custos é um dos três pilares do plano. Os outros dois são solvência, para garantir que os clubes tenham dinheiro para pagar o que devem, e estabilidade, que se assemelha ao mecanismo do Fair Play Financeiro que calculava receitas e despesas para limitar prejuízos. As perdas permitidas foram dobradas: de € 30 milhões para € 60 milhões em um período de três temporadas.

As punições variam de multas a perdas de pontos, rebaixamento dentro das competições da Uefa, limitação do tamanho do elenco, exclusão dos torneios e até suspensão de jogadores individualmente, segundo o Guardian.

A questão do desequilíbrio esportivo passa pelas finanças dos clubes. As entidades que gastam em excesso ou possuem acesso a fontes privilegiadas estarão em vantagem, em relação aos "pequenos" clubes. Mas o desequilíbrio pode ser combatido por medidas como esta? Há uma questão importante que precisa ser contemplada: a relação financeira entre clubes. Se uma entidade esportiva tem uma relação financeira com outra, ambas podem estar em uma mesma competição? 

Foto: Adrià Crehuet Cano

Blockchain e um história da ilha de Yap

Um artigo de Matheus Bombing, Sistema usado por habitantes de ilha até o século 19 pode ter inspirado tecnologia blockchain, publicado na Exame, mostra que a "ideia" do Blockchain remota ao século XIX:

Se você desembarcasse na ilha de Yap com os bolsos cheios de moedas de ouro ou prata, provavelmente não iria conseguir comprar nada.

Isso porque até o século XIX, os habitantes da ilha utilizavam um curioso sistema de pagamento: grandes e pesadas pedras circulares esculpidas em calcário que eram obtidas nas pedreiras da ilha de Palau.


Essas pedras, além de grandes, são muito pesadas, o que não permite que as pessoas da ilha fiquem carregando-as para efetuar suas transações.

E como as transações ocorriam então?

Os habitantes da ilha sabiam conjuntamente quem é dono de qual pedra e possuíam guardados mentalmente os registros das transações passadas.

Se um jovem trabalhador quisesse comprar o barco da pescadora, então ele anunciava para os habitantes da ilha que a pedra dele, localizada na beira da praia, seria transferida e pertenceria à pescadora. Logo em seguida, essa informação era espalhada pela comunidade.

Futuramente, se a pescadora quisesse transferir essa pedra para outra pessoa, os habitantes poderiam permitir, pois todos (ou pelo menos a maioria) sabia que a pedra pertencia a ela. Resumindo, qualquer habitante poderia utilizar uma pedra para comprar algo desde que a maioria da comunidade concordasse que ele é o atual dono da pedra.

Sendo assim, não havia como roubar as pedras, dado que a sua posse era de conhecimento de todos na ilha. O valor de cada pedra não era só devido ao tamanho e peso, e sim pela história. Se muitas pessoas tivessem morrido enquanto esta estava sendo transportada para a ilha, então ela era considerada mais rara e mais valiosa. Ou seja, quanto mais histórias cercavam a pedra, maior era seu valor.

A parte curiosa desse sistema é que a atividade econômica na ilha ocorria sem que qualquer pedra precisasse ser fisicamente movida. Uma pessoa poderia ser dona de uma pedra que está do outro lado da ilha e não precisava se preocupar de alguém roubá-la.


Esse sistema financeiro funcionava tão bem que, mesmo que uma Pedra Rai fosse perdida (caísse no fundo do mar durante seu transporte, por exemplo), todos concordavam que ela ainda deveria existir e ela continuava sendo usada em transações.

A lenda local diz que o povo de Yap descobriu as pedreiras de calcário, em Palau, há cerca de 500 anos, quando Anagumang, um marinheiro yapese, liderou uma expedição para lá. Ele notou que não existiam essas pedras em sua ilha e esse fato as tornava preciosas.

A princípio, Anagumang ordenou que os primeiros blocos fossem cortados em forma de peixe, mas logo depois passaram a recolher pedras em formato de roda, para ficar mais fácil de transportar. Os trabalhadores costumavam colocar um tronco dentro do buraco no meio para facilitar o transporte.

Os Yapeses não levavam as pedras de Rai de graça. Era necessário negociar com o povo de Palau, que exigia grandes quantidades de miçangas e polpa de coco.

Esse sistema de consenso distribuído tem algumas vantagens em relação a um sistema centralizado. Vamos imaginar que uma pessoa da ilha de Yap fosse responsável por manter o registro oficial da posse e das transferências das pedras (ou seja, fazendo o papel de um banco).

Nesse caso, ela poderia facilmente exigir que todos pagassem uma taxa de transação para ela, poderia “roubar” pedras simplesmente alterando o registro de quem possuía aquela pedra e até perder esse registro, o que causaria um caos na ilha.

O sistema de pedras de Rai é, ao mesmo tempo, intangível (sem necessidade de carregar pedras pela ilha) e descentralizado (sem necessidade de confiar em um intermediário).

O grande ponto é que sistemas monetários intangíveis necessitam de confiança. Só cedemos nossa custódia se pudermos confiar em uma instituição ou pessoa que consiga manter um registro fiel. No caso da ilha de Yap, a confiança era no sistema distribuído (registro mental que todos os habitantes da ilha possuíam) e não em um intermediário.

Mas esse sistema funcionou bem até 1871, quando o navegador David O'Keefe naufragou próximo à ilha e foi resgatado pelos habitantes locais.

Após o acidente, O’Keefe percebeu que seria lucrativo adquirir cocos da ilha e revendê-los para produtores de óleo de coco no continente. Porém, nada que ele oferecesse seduzia os locais, que já gozavam de uma boa vida e não viam utilidade nas formas de dinheiro que eram oferecidas.

Dado que apenas as pedras de Rai poderiam resolver, então O’Keefe foi para Hong Kong, adquiriu um barco grande e explosivos, extraiu várias pedras de Palau e as levou para Yap para serem trocadas pelos cocos. Para sua surpresa, os locais não quiseram aceitar as pedras pois, segundo eles, elas foram conseguidas sem esforço. Para eles, somente as pedras extraídas com esforço, sangue e suor teriam valor. Porém, alguns yapeses viram uma oportunidade e aceitaram as pedras em troca de coco.

A consequência é que isso gerou um conflito na ilha e, a partir de então, todo sistema de registro distribuído começou a ruir.

Hoje, a ilha usa o dólar como moeda oficial. Porém, as pedras de Rai continuam sendo usadas em cerimônias sociais, como casamentos, acordos e negócios como uma forma de selar alianças.

Dois aspectos sobre este texto que gostaria de destacar:


1. A lenda da ilha rendeu um filme de 1954, His Majesty O'Keefe, com Burt Lancaster. Em 1991 o famoso economista Milton Friedman comparava o sistema ao padrão ouro do FED. Um artigo de 2022 argumenta que esta, e outras interpretações, não expressam o real significado da pedra. Eis a conclusão do artigo (via DeepL):

As comparações existentes entre o dinheiro de pedra e o Bitcoin parecem insustentáveis, enganadoras e contribui para uma história de deturpação colonial das culturas econômicas iaponesas. Os fundamentos por fazer tais comparações em primeiro lugar são fracas, e as condições discursivas atuais em torno das finanças em cadeia (Blockchain Finance) sugerem que uma comparação extremamente escrupulosa corre o risco de reforçar mitos imprecisos e injuriosos. De modo mais geral, muito mais cautela deve ser adotada no estudo e invocação pedagógica das culturas econômicas iaponesas, incluindo maior cuidado para centrar vozes passadas e presentes, para refletir posicionalidade e incerteza, assim como para suportar testemunha das histórias coloniais. Entretanto, sugiro que as culturas econômicas iaponesas devem continuam a figurar nos livros de economia como uma forma de começar a transformar as dívidas incorridas por deturpações anteriores. Esta poderia ser uma oportunidade para corrigir erros factuais notáveis, apresentar aos estudantes de economia de todo o mundo a história e a cultura Yapese, apresentam conceitos em antropologia econômica, e oferecer alimentos para reflexão sobre a interseção de o poder colonial e a história e o futuro do dinheiro. 

2. Mesmo admitindo a história, o texto mostra que o sistema pode ser mais frágil do que imaginado. Em lugar de enaltecer o Blockchain - que parecia ser a ideia original do artigo - o texto termina por enfatizar suas fragilidades. 

Fotografias do verbete da Wikipedia

Rir é o melhor remédio

 

Letra da apresentação

28 agosto 2022

Modelo de capital intangível

Um modelo para intangíveis propõe tratar de duas características:

Our main contribution is to propose a simple model that captures these two core economic properties of intangibles — non-rivalry within the firm, and limits to excludability. The model has a number of novel theoretical implications. Non-rivalry implies that intangibles are ”scalable”, in a specific sense: the stock of intangibles of the firm, and the firm’s span or scope, are complements. However, imperfect excludability can also limit the incentive for entrepreneurs, managers, or key personnel to create and develop intangibles, potentially leading to inefficiently low investment.

A ideia é a seguinte:

Even once the intangible is stored in a particular medium, it can be difficult to assign control and cash flow rights to the surplus that it creates. We refer to this property as limited excludability. Without some degree of excludability, intangible capital cannot become an intangible asset


ISSB completando seus assentos

 

As cadeiras do ISSB já possuem treze assentos ocupados, com a indicação de mais três membros recentemente. Parece que há uma preocupação com a presença de mulheres, já que seis já foram indicadas. O perfil parece ser do "executivo" que trabalhou nas empresas na área de sustentabilidade. A experiência pode contar aqui, mas talvez seja preciso escutar o que a ciência tem a dizer sobre o assunto. 

Alguns dos indicados só começarão a trabalhar no futuro. Como o Brasil tem sempre um boa presença nos órgãos consultivos - e o país tem um importância natural óbvia - parece faltar o membro brasileiro. 

Rir é o melhor remédio

 

Enviado por Claudio Santana, grato. Acrescento este:


Justin deixou o celular em uma cena do crime. Os policiais de Nottingham encontraram e mandaram uma mensagem para ele: 

Como você pode ver, temos seu telefone celular, que você deixou no local de um crime, em vez de nós virmos para encontrá-lo, sugerimos que você se entregue imediatamente. Se algum amigo de Justin no Facebook quiser notificá-lo, por favor, faça-o. Obrigado

27 agosto 2022

Controle de estoques


Um dos primeiros ensinamentos de um curso de contabilidade é sobre o controle de estoques. Quando uma entidade adota um sistema de controle, isto ajuda na sua lucratividade. Mas para isto é necessário mecanismos de controle interno implamentamos. Sobre isto, no capítulo 7 do livro Curso Prático de Contabilidade há alguns itens básicos sobre o tema.

Eis agora um caso prático sobre a relevância deste assunto. Com a invasão da Ucrânia, alguns países resolveram ajudar o país na luta contra a Rússia de Putin, enviando armas. No passado, este tipo de ajuda resultou em desvio das armas para um mercado secundário. Quando da tentativa de derrubar o presidente sírio al-Assad, as armas para resistência terminaram com o Estado Islâmico e outros grupos ligados a Al Qaeda.

No caso da Ucrânia, por enquanto não há uma comprovação do desvio, mas a preocupação existe. Falta um rastreamento das armas. Neste caso, o estoque pode ser identificado pelos números de série. O governo da Ucrânia tenta passar uma ideia de que estão controlando os estoques fornecidos pelos aliados, para evitar que terminem no mercado negro ou de grupos não autorizados.

Alguns países já falam da necessidade de uma auditoria para garantir que o fluxo está dentro da normalidade. O fato é agravado pela grande quantidade de contratos relacionados com a Ucrânia, mais de 7.800, com um valor de 2,2 bilhões de dólares.

Parece que falta contadores para ajudar na guerra da Ucrânia. 

Rir é o melhor remédio


Expectativa e realidade:

Amor por você ou amor pelos outros
Complexidade e simplicidade
Fim de jogo
paixão e motivação
pesquisar para dentro e expressar para fora
Liderar ou seguir o líder
Complexidade ou não



26 agosto 2022

Kaplan e um relatório medindo a questão ambiental

Robert Kaplan é um dos autores contábeis mais renomados. Em 2021, a Harvard Bussiness Review publicou uma proposta sua de contabilizar a mudança climática. Eis o texto:

Although about 90% of companies in the SP 500 issue some form of environmental, social, and governance (ESG) report, the current system of reporting is inadequate and subject to greenwash, i.e., selective metrics to show the company in a favorable light. The purpose of this article is to provide a more rigorous approach to ESG reporting referred to as an E-liability accounting system. It focuses on the environmental element of ESG which is the easiest component to measure, and the most urgent threat to humanity.

What's Wrong with the GHG Protocol

Most of the companies that provide estimates of greenhouse gas (GHG) emissions rely on an approach called the GHG protocol that identifies three types of GHG emissions.

Scope 1: Direct emissions from sources owned or controlled by the company.

Scope 2: Emissions at facilities that generate electricity bought and consumed by the company.

Scope 3: Emissions from upstream operations in a company's supply chain, and emissions produced downstream by the company's customers and end-use consumers.

Many companies report their scope 1 and 2 emissions. However, scope 3 emissions is the fatal flaw in the GHG reporting system. Estimating all the upstream and downstream emissions introduces large measurement errors as well as potential bias and manipulation. As a result many companies ignore scope 3 measurements entirely. The authors' solution to this problem is based on how accountants estimate a company's value added. Value added is the difference between what an organization pays for goods and services from its immediate suppliers, and what it receives when it sells products to immediate customers. This approach can be applied to GHG emissions.

Tracking Emissions Across an Entire Value Chain

The idea is illustrated by a car-door company and its suppliers. The tracking begins with a supplier that extracts coal and iron ore that eventually becomes part of the car doors. The supplier records its scope 1 emissions using chemistry and engineering combined with cost accounting. These emissions (GHG units emitted per ton of extracted material) are treated as an E-liability reflecting their environmental cost to society. When the mining company transfers the coal and iron to the shipping company, the shipping company assumes the E-liability on its E-account. The shipping company adds the GHG produced by the barges it uses and transfers the coal, iron and accumulated GHG to the steel company that will produce the steel for the car doors. The steel company allocates its purchased and incurred scope 1 emissions to each of the tons of steel it produces. When the steel is transferred to the railroad company, each ton of steel carries its accumulated E-liability from the mining, shipping, and steel companies. The tracking moves on to the car-door company that adds its own GHG to the E-liability, and continues to the consumer who buys the finished car.

Measuring and Allocating Emissions

The E-liability accounting system requires two basic steps:

1. Calculate the net E-liabilities the company creates and eliminates each period, adding them to the E-liabilities it acquires and has accumulated, and

2. Allocate some or all of the total E-liabilities to the units of output produced by the company during the reporting period.

The first step involves estimates by environmental engineers to measure the quantity of GHG emissions from the company's primary activities. The second step is to allocate the GHG E-liability units to the company's products in the same way costs are allocated in an activity-based costing system.

What Companies Report

An E-liability statement includes net E-liabilities at the beginning of the period, E-liabilities acquired, net E-liabilities produced during the period, E-liabilities disposed of (sold), and net E-liabilities at the end of the period.

The Benefits of E-Liability Accounting

The advantages of the E-liability accounting system include:

1. It eliminates the duplicate counting of emissions that are embedded in the current scope 3 measurements.

2. It reduces the incentives for gaming and manipulation. For example, outsourcing production will not reduce a company's E-liability.

3. The E-liability system can apply its own materiality standard for GHG regardless of the current standards based on material financial risk.

4. A company's end of period E-liability balance can be audited by environmental engineers and cost accountants.

5. The E-liability system can run on a company's existing financial-reporting and cost accounting system by simply using different units of measurement, i.e., the quantity of GHG emissions.

Deploying E-Liability Across the Economy

All companies should be encouraged to report on their E-liabilities along with State-owned enterprises and government agencies including defense, transportation, energy, and healthcare. The E-liability approach recognizes the integrated nature of pollution activities across the economy and encourages all businesses to take GHG emissions into account in their decisions regarding product design, purchasing, and sales.

Going Beyond E

ESG includes social and governance issues as well as environmental issues, but it is difficult to calculate the value of components such as a company's labor practices, workforce diversity and governance. A company's social impact could be measured using the same approach outlined in this article, but more difficult because opinions related to acceptable corporate behavior are controversial. A beginning could include measuring adverse social performance such as unsafe working conditions, child and slave labor, bribery and corruptions. An S-liability system could be developed to motivate companies to eliminate these practices. However, an E-liability environmental cost system is a good place to start improving ESG reporting because it is the easiest component to measure and the most serious threat to humanity.

Rir é o melhor remédio

 


25 agosto 2022

A Academia se opõe ao caminho escolhido pelo ISSB


Um texto da Accounting Today sobre a consulta pública realizada sobre o relatório de sustentabilidade da Fundação IFRS.

Quando os curadores da Fundação IFRS divulgaram seus Consultation Paper on Sustainability Reporting, a comunidade científica contábil respondeu com números incomumente altos. Isso reflete a falta de alinhamento das propostas [da Fundação] com a pesquisa acadêmica no campo.

Trinta e nove respostas à consulta vieram de 104 signatários acadêmicos em 74 organizações ou redes científicas e 20 países. A maioria (72%) desses 39 envios se opôs às propostas, e essa maioria contrária possui registros substanciais de pesquisa nos relatórios de sustentabilidade, em contraste com o grupo a favor. Mas mesmo entre os apoiadores, foram levantadas preocupações.

A pesquisa contábil convencional destacou a natureza política das práticas contábeis. A contabilidade não é simplesmente uma ferramenta técnica que fornece a resposta "correta", mas uma ferramenta à mercê dos poderosos, que pode ter conseqüências não intencionais. Quando se trata de relatórios de sustentabilidade, uma gama enorme de interpretações do que significa uma “perspectiva do investidor”, o que é financeiramente material e o período de tempo.

A própria Fundação IFRS não tem, a nosso conhecimento, informações deste ramo da academia de contabilidade. De fato, afirma [a Fundação] a importância da tomada de decisões com base em evidências, embora não tenha consultado acadêmicos ou se baseado em pesquisas ao desenvolver seu Documento. No entanto, alguns de seus apoiadores rotularam os acadêmicos nesse campo como extrema esquerda, rabugentos e mal-humorados.

Um grande ponto de discórdia entre os acadêmicos que se opunham foi o enquadramento conceitual - a conversa sobre materialidade financeira, fluxos de caixa e valor da empresa. (...) Um enquadramento conceitual que não atenda ao desenvolvimento sustentável e às fronteiras planetárias será interpretado como "negócios, como de costume".E isso terá um impacto negativo nos retornos de longo prazo. Isso incentivará a falta de responsabilidade pelos impactos de uma organização na consecução do desenvolvimento sustentável - isto é, em vez de ser reduzida, a lavagem verde florescerá. Os acadêmicos não questionaram a necessidade de requisitos obrigatórios de relatórios; longe disso, eles os pedem há décadas - mas para responsabilizar as empresas por seus impactos. A maioria das empresas sabe que seus stakeholders querem e entregam de qualquer maneira, mas sob um regime voluntário, a qualidade sofre.

Os acadêmicos questionaram a relevância global dos padrões de relatórios de sustentabilidade que adotam uma perspectiva de materialidade financeira.

Esse enquadramento conceitual da Fundação pode ser tolerado pela comunidade científica, não fosse a abordagem desdenhosa dos padrões da Global Reporting Initiative (GRI). Vinte e três das 39 submissões acadêmicas elogiaram o trabalho da GRI para a Fundação IFRS. Um memorando de entendimento (MOU) foi assinado pela IFRS Foundation e pela GRI, mas ainda não se sabe até que ponto ele irá abordar as preocupações da comunidade científica. É provável que a abordagem de várias partes interessadas da GRI não seja algo que a Fundação IFRS esteja confiante para replicar, dando o devido peso a, digamos, organizações da sociedade civil.

Apenas cinco das 39 respostas concordaram com a primeira abordagem climática, com 26 argumentando por uma cobertura mais ampla, principalmente porque enfraqueceria ainda mais a responsabilidade por uma ampla gama de impactos corporativos.

Outras críticas às propostas da IFRSfeitas por acadêmicos e informadas por evidências incluíram:

= > A suposição de que a IFRS possui a melhor estrutura de governança sem analisar o que mais existe ou o que é apropriado para os relatórios de sustentabilidade;

= > A IFRS Foundation carece de legitimidade para estabelecer padrões de relatórios de sustentabilidade e o que está sendo proposto não é um relatório de sustentabilidade;

= > A IFRS Foundation não possui os conhecimentos técnicos necessários;

= > As propostas não são compatíveis com os compromissos assumidos pelos governos nacionais em relação às mudanças climáticas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas ;

= > As propostas não são de interesse público mais amplo; e,

= > A falta de evidências que apóiam as propostas e o corpo de evidências indicando que elas não terão as conseqüências desejadas. (...)

Concluímos que a voz acadêmica oposta em relação às propostas dos curadores da IFRS Foundation sobre relatórios de sustentabilidade era credível e apoiada por evidências de pesquisa. No entanto, isso não foi levado em consideração. Assim como o documento de consulta dos curadores da IFRS Foundation não forneceu análises ou evidências para apoiar suas propostas, em grande parte, nem as submissões acadêmicas que os apoiavam.

Carol Adams - Professora de Contabilidade, Durham University Business School; Frank Mueller - Professor De Prestação De Contas, Organizações E Estratégia, Durham University

Foto imagem aqui