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18 agosto 2022

Custo e o risco geopolítico

A decisão de uma empresa deve levar em consideração o custo e outras variáveis, como o risco geopolítico. Eis o que está ocorrendo agora com algumas multinacionais, como a Apple. 


A China sempre foi boa para esta empresas, em razão da mão de obra barata e comportada. Mas o risco geopolítico está fazendo com que as empresas estejam transferindo sua produção para o Vietnã. Este país já produz iPads e AirPods e poderá produzir MacBook brevemente. 

A questão é fazer isto sem comprometer os custos. principais beneficiários incluiria países como Vietnã, Índia, Brasil, Bangladesh, Indonésia, México, Turquia, Egito e África do Sul. 

Tim Cook, da Apple, parece ter aprendido uma lição valiosa este ano de que a alta exposição das cadeias de suprimentos à China durante as políticas de zero Covid de Pequim e o agravamento das tensões geopolíticas com o Ocidente são um coquetel perigoso, e a necessidade de diversificar a produção (...)            

Frase

A melhor parte de ser professor é dedicar bastante, para que seus alunos possam se dedicar pouco e aprender muito. (Gabriel F Silva) 

OMS e o esforço para escolher um nome

Isto parece tão estranho. A Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu buscar um novo nome para a varíola originada dos macacos, atualmente chamada de monkeypox. De uma modo geral, o nome das doenças são escolhidos pelos burocratas sem consulta pública, mas a OMS inovou agora abrindo o processo ao público. 


E pelo informado na reportagem da Época, a participação tem sido intensa:

A pressão está crescendo por um novo nome para a doença, em parte porque os críticos dizem que o atual é enganoso, já que os macacos não são o hospedeiro original do vírus. Um grupo de cientistas de renome divulgou um documento em junho se posicionando a favor de um nome que fosse "neutro, não discriminatório e não estigmatizante" em meio a temores de que o nome pudesse ser usado de maneira racista. 

No passado isto ocorreu com a gripe espanhola ou com a denominação do Covid como vírus chinês. Mas a própria OMS esteve envolvida em polêmica ao batizar uma variante do Covid como Omicron.

Acrescento mais um ponto: um entidade como a OMS está lançando uma consulta pública para a escolha de um nome de um vírus. O processo de consulta pública representa gastos, que talvez pudesse ser direcionado para outras atividades mais relevantes - imagino que o nome de uma doença talvez não seja tão importante assim. 

Foto: presidente Xi, da China, que também é uma letra grega e poderia ser o nome da variante que hoje conhecemos como Omicron.

BeReal: Como seus amigos realmente são

A mídia social BeReal parece que se tornou popular entre as pessoas da Geração Z. Lançada em 2020, de origem francesa, já tinha, em abril de 2022, 7 milhões de usuários. Em razão dos seus números, a rede está sendo avaliada em 600 milhões de dólares.


O que faz a BeReal ser diferente das demais mídias? Uma vez por dia, a BeReal notifica seus usuários, por um período de dois minutos, a postar uma foto, tanto da câmera frontal, quanto da câmera traseira. Veja a imagem acima, para um exemplo. As 9:41 os usuários tiveram que tirar as fotos daquilo que estavam fazendo naquele momento. É possível ver quantas tentativas a pessoa fez e onde a foto foi tirada. O limite máximo de postagem é de uma foto por dia.

Por conta de suas características, o BeReal poderá competir com o Instagram. Há dois problemas que percebi na mídia. O primeiro é a ênfase no vício da mídia social. Esta é uma crítica que está no verbete, mas penso que este não seja um problema não grande assim. Muitas pessoas acessam uma mídia como o Instagram mais de uma vez por dia e, para estes casos, o BeReal pode ser até um inibidor do uso de mídia social.


O segundo problema é que o BeReal pode ser inconveniente ou invasivo. Imagine que você esteja dirigindo um automóvel e receba a notificação para tirar a foto. O usuário irá parar o carro para tirar a fotografia. E se estiver embaixo do chuveiro? Em uma reunião? 

Em uma função de controller ou de auditoria, o BeReal pode ser útil para verificar se o funcionário que faltou ao trabalho por estar doente, realmente estava doente. Sendo um professor, posso querer acompanhar meus orientandos e meus alunos naquilo que estão fazendo. Obviamente que não irei fazer isto, mas quem garante que outro não irá fazer? 

Aversão à perda

Mais vale prevenir do que remediar


A aversão à perda talvez seja o mais conhecido conceito das finanças comportamentais. O termo nasceu nos anos setenta, através da pesquisa de Amos Tversky e Daniel Kahneman (1) e refere-se ao fato de que sentimos mais dor com a perda, do que nossa alegria com os ganhos. Recentemente uma pesquisa mostrou que a aversão à perda existe até mesmo em animais (2). 

E os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que é um comportamento oriundo da adaptação ocorrida por pressões evolutivas. Ao longo da história do homem, a aversão pode ter sido útil para sobrevivência. Diante de uma planta misteriosa, o ser humano sabia que comer algo desconhecido poderia significar a morte, ou então mais uma possibilidade na sua dieta. A escolha parece óbvia nesta situação, pois o aumento da chance de viver poderia ser útil na continuidade da espécie. 


Em termos numéricos, as pesquisas já estimaram que a dor da perda geralmente é duas vezes maior que a alegria do ganho (3). A medida desta relação é chamada de lambda e um valor maior que a unidade significa que há aversão a perda. 


O conceito tem sido confirmado na prática. Em uma fábrica chinesa, Tanjim Hossain e John List separaram os empregados em dois grupos (4). Para o primeiro grupo, foi anunciado um bônus de doze dólares caso conseguissem atingir uma determinada meta de produção. Para um segundo grupo, além do bônus, a possibilidade de perder o bônus, se a produtividade caísse.  A aversão à perda, além do efeito moldura, afetaram o ganho obtido. 


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O Banco Barings foi fundado em 1762 (5). Era um banco tradicional do sistema financeiro britânico, até que a aversão à perda de um gestor, combinado com a falhas no controle interno e problemas na decisão resultaram na sua falência. No início do ano de 1995, um gerente de uma filial asiática, Nick Leeson, apostou sobre o comportamento do mercado acionário japonês. Este tipo de aposta é comum em termos de investimento, sendo que quando a aposta é correta você pode ganhar dinheiro, mas se seu palpite não é bom, isto pode significar prejuízo. 

 


A aposta de Leeson era que o mercado acionário do Japão teria uma alta. O problema é que ocorreu algo que Leeson não esperava: um terremoto na cidade japonesa de Kobe. Um terremoto significa mortes e destruição de propriedades, afetando, de forma negativa, o mercado acionário. Foi o que ocorreu com o mercado japonês após o tremor de terra. 


As primeiras perdas que Leeson teve fizeram com que apostasse ainda mais, tentando recuperar o prejuízo para o banco. Parte do que ocorreu na filial só tornou-se conhecimento da matriz em Londres dias depois, quando já era tarde demais. E em casos como este, a distância temporal entre as primeiras apostas de Nick Leeson e o alarme soando na sala do presidente do Barings em Londres foi de alguns dias. Mas foi tarde para que fosse possível recuperar o banco. 


Ainda no final de fevereiro de 1995, o Barings tornou-se insolvente e um estabelecimento tradicional fechou as portas. A aversão à perda do operador Leeson mostrou um efeito enorme sobre uma entidade que até aquele momento era considerada sólida. 


***

Muitos conceitos de finanças comportamentais são extensamente explorados pela área de marketing. Parece até uma piada: os pesquisadores levam anos para descobrir um comportamento irracional do ser humano, propor uma abordagem teórica, fazer uma pesquisa para certificar que o conceito está correto, publicar a pesquisa, receber os louros da inovação científica e, no final, para descobrir que a área de marketing já sabia do assunto e explorava tal conceito.


Este também é o caso da aversão à perda. O conceito surgiu nos anos setenta, mas muito antes o vendedor da loja anunciava no microfone: “compre antes que acabe nosso estoque”. Este apelo está alertando o consumidor que a promoção está acabando e que haverá um arrependimento depois. Mas vamos modernizar nosso exemplo.


Você decidiu passar uma temporada na exótica Islândia. E começou a procura por hoteis e aluguel de automóveis. Apesar de receber milhões de turistas por ano, a ilha perto do polo norte tem uma oferta limitada de quartos. E o melhor período para viagem, entre maio e setembro, aumenta a pressão pelo mercado de hospedagem. 


Você entra no Booking em busca de um hotel, mas percebe que os preços estão elevados. Surge uma dúvida se vale a pena continuar com seu sonho de conhecer a exótica ilha. Enquanto você está pesquisando os quartos disponíveis, o Booking começa a mandar mensagens no navegador lembrando que o preço está garantido por pouco tempo, que outras pessoas também estão olhando o mesmo quarto e que restam poucas vagas. Observe que o Booking está apelando para a aversão à perda. É uma forma moderna de dizer: alugue antes que não exista mais oportunidade. 

 

O que o Booking faz no seu site, a companhia aérea também faz quando você começa a pesquisar sobre uma passagem aérea. Ou o corretor de imóvel alerta que só pode “segurar o preço até a sexta”. E o microfone do supermercado informa que existem mais três unidades de uma televisão e você deve correr para comprar, antes que acabe. 


Para algumas pessoas, “perder um bom negócio” é algo levado a sério e provoca uma ação, de compra, sem observar, de forma atenta, se é realmente um bom negócio. 


***

As pesquisas com aversão a perda na área de finanças mostram três aspectos importantes que merecem uma explicação cuidadosa. O primeiro aspecto é o impacto macro da aversão a perda nos países em desenvolvimento (6). 


Nestes países, há diversas oportunidades de investimento, com um determinado retorno, aliado a um risco. Mas nos países em desenvolvimento, a falta de liquidez do mercado, os problemas jurídicos, a burocracia excessiva e a inexistência de um sistema bancário mais evoluído, fazem com que o risco seja elevado. É muito comum que tenhamos investimentos arriscados, em razão dos problemas citados. 


A situação não ajuda muito quem tem aversão à perda. Esta pessoa evitaria fazer investimentos em razão da possibilidade de sofrer perdas. O impacto da aversão à perda em termos macro é justamente afastar os investidores dos investimentos. Como consequência, muitos investimentos, com um retorno adequado, não são explorados em razão deste comportamento das pessoas. 


O segundo aspecto é que lidamos com um conjunto de investimentos, que chamamos de carteira ou portfólio, e aversão à perda pode se manifestar de maneiras distintas. Considere que um aplicador alocou seus recursos em quatro investimentos. O primeiro investimento foi de $100, com um valor atual de $80; o investimento segundo foi de $200 e atualmente tem um saldo de $220, indicando que ocorreu ganho; o terceiro investimento foi de $400 e o valor atual é de $480; e o quarto investimento foi de $800, com um valor atual de $990. Se você somar os investimentos realizados temos um total de $1.500 e o valor atual é de $1.770, um retorno de $270 para a carteira (7). 


Este aplicador tinha tudo para estar feliz. Dos quatro investimentos realizados, teve um valor atual maior que a aplicação em três. E naquele que ocorreu uma perda, foi justamente o investimento de menor valor. Mas se o aplicador tiver a tendência de considerar as decisões de investimento de maneira separada, talvez isso seja um problema. A aversão à perda pode se manifestar, mesmo que no geral as escolhas realizadas tenham sido adequadas. 


***

Em 1985 foi publicado um artigo em um periódico de economia em que os autores indicam existir algo estranho ocorrendo com o mercado acionário (8). Quando um investidor resgata seu dinheiro do título do governo e aplica no mercado de ações, está tomando uma decisão de investimento onde retorno e risco devem ser considerados. A aplicação em títulos públicos traz um baixo retorno, mas seu risco também é reduzido. E colocar dinheiro em ações pode trazer mais retorno, mas o risco é maior. A diferença entre o retorno do título sem risco e o retorno das ações é denominado de prêmio pelo risco. 


O que os autores do artigo perceberam é que seria possível explicar, historicamente, um prêmio de 0,35%. O grande problema é que o prêmio histórico era quase de 6%, um valor bem maior do que a teoria explica. Talvez não a teoria tradicional, mas quem sabe existiria uma outra possível explicação para esta questão. 


Dez anos depois, dois pesquisadores comportamentais propuseram uma solução para a questão (9). Benartzi e Thaler olharam a questão sob a ótica da aversão à perda e a miopia do gestor. Para a questão da miopia, os autores pensaram que o número de vezes que os investidores ficavam olhando suas carteiras poderia fazer com que vissem uma perda e a aversão poderia aumentar seu sofrimento. Por exemplo, imagine que um investidor esteja economizando para a aposentadoria, que irá ocorrer em 30 anos. Se ele ficar olhando sua carteira semanalmente, estaria agindo como se seu horizonte temporal de planejamento fosse de curto prazo (10). 


Um acompanhamento de perto de carteiras torna possível que o investidor verifique pequenas perdas com mais frequência. Se o investidor estiver exposto à aversão à perda tende a retirar seus investimentos de ativos de risco. 


Este é o terceiro aspecto que merece uma explicação mais detalhada do nosso texto. Vamos agora olhar situações práticas onde a aversão à perda está presente. 


***

Em 1998, Odean publicou uma ampla pesquisa com contas de investidores e seu fluxo de resgate e aplicação, ocorrido entre 1987 a 1993 (11). O trabalho de Odean foi um dos primeiros que utilizou uma base de dados tão grande e permitiu observar alguns comportamentos inusitados dos investidores. Usando mais de dez mil contas, Odean descobriu que quando um investidor sofreu uma perda, este ficava com seu investimento por um prazo de 124 dias. Mas quando a ação era vencedora, o prazo mediano era de 102. 

 

A razão para este comportamento é a aversão à perda, associado com o frame (12). Um pouco depois, o mesmo Odean, agora em conjunto com Barber e Zheng (13) estudaram o comportamento de investidores de fundos mútuos, abrangendo 32 mil famílias, entre 1990 a 1996. 

 

Os pesquisadores perceberam que os investidores olham os fundos de investimento e seu desempenho passado. Esse é um comportamento de quem imagina que o passado irá se repetir no futuro. Mas quando se trata de vender um dos fundos de sua carteira, a preferência é para os fundos vencedores. O comportamento de aversão a perda se manifestou, com 14% das vendas sendo dos fundos com 20% de desempenho inferior. 


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As pesquisas descobriram que a aversão à perda não se manifesta de forma igual para todas as pessoas. Algumas pessoas possuem este sentimento de forma mais forte do que outras. É como se existisse uma escala. 


Em certas situações, ter uma grande aversão à perda por ser uma vantagem e em outros casos não. Geralmente os executivos das empresas possuem um excesso de confiança (14), não encontrado em um funcionário comum. No caso, a aversão à perda parece ser uma desvantagem nesta situação. Mas funções mais “conservadoras” pode demandar um comportamento mais avesso a perda. Uma pesquisa (15) relatou que os tesoureiros com maior aversão à perda são melhores na gestão de dívidas ruins. Esses tesoureiros tendem a manter os níveis de dívidas ruins abaixo de 1%, um parâmetro bem abaixo do usual. Um crédito ruim é considerado uma perda e para evitar a dor, associada a este tipo de perda, os tesoureiros gastam muito tempo gerenciando os créditos duvidosos. 


Algumas das melhores frases que podemos usar para tratar do assunto foram ditas por esportistas. A aversão à perda é algo valorizado nas competições esportivas. Um famoso tenista, Jimmy Connors, afirmou que 


Eu odeio perder mais que amo ganhar 


Quem possui aversão à perda detesta perder, mais do que ganhar. A derrota pesa mais que a vitória. E estamos falando de um tenista vitorioso, com muitos títulos. Evitar a derrota parece que impulsiona mais o esforço de Connors nas quadras do que a possibilidade de uma grande vitória. Billy Jean King, uma das maiores tenistas de todos os tempos, afirmava que 


A vitória é um encontro; a derrota é para sempre


Isto também traduz este sentimento ruim diante da perda. 


***

Quando estudamos sobre o nosso assunto, uma pesquisa clássica aparece. É bem verdade que mistura um pouco de moldura com a aversão à perda, mas usualmente é lembrada como uma típica situação de aversão à perda (16). 


Para um grupo de pessoas é feita a seguinte pergunta: 


Uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside. Um grupo de  cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600 pessoas morram por causa da  doença. Duas soluções para combater a doença foram encontradas: Solução “A” e Solução “B”. Se a Solução “A” for aplicada, 200 pessoas serão salvas. Se a Solução “B” for aplicada, há 1/3 de probabilidade de 600 pessoas serem salvas e 2/3 de probabilidade de ninguém ser salvo. Qual  das duas soluções você escolheria?


Antes de continuar é importante destacar que em termos frios, ambas soluções possuem um resultado parecido. A Solução “A” salva 200 pessoas e a Solução “B” salva um valor correspondente a 200 pessoas: afinal um terço de 600 pessoas corresponde a 200. Apesar da igualdade, geralmente as pessoas que respondem a esta pergunta preferem a primeira solução. Talvez o elemento de incerteza existente na segunda solução termine por conduzir esta escolha. 

 

A pesquisa não termina aqui. Para um outro grupo de pessoas, os pesquisadores fizeram uma pergunta ligeiramente diferente:


Uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside. Um grupo de  cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600 pessoas morram por causa da  doença. Duas soluções para combater a doença foram encontradas: Solução “X” e Solução “Y”. Se a Solução “X” for aplicada, 400 pessoas morrerão. Se a Solução “Y” for aplicada, há 1/3 de probabilidade de que ninguém morrerá e 2/3 de probabilidade de 600 pessoas morrerem. Qual  das duas soluções você escolheria?


Veja que a questão é a mesma, somente alterando a maneira como perguntamos: em lugar de 200 pessoas que serão salvas, temos 400 pessoas que irão morrer. O mesmo ocorre com a segunda solução apresentada: em lugar de um terço que serão salvos, é apresentado que um terço da chance de ninguém morrer. 


O resultado da segunda pergunta deveria ser o mesmo da primeira. Mas não é o que acontece. Outras perguntas derivadas destas podem ser feitas e o resultado geralmente é o mesmo. 


***

Nos dias atuais, diversos conceitos “clássicos” de finanças comportamentais estão sendo revistos, aprimorados e, em alguns casos, questionados. Isto também ocorre com a aversão à perda. As críticas são diversas e iremos, a seguir, apresentar algumas delas.

Talvez a principal crítica é sua generalização na nossa vida. Em outras palavras, será que a aversão à perda realmente é algo presente e relevante para a vida diária? Há controvérsias se o problema realmente funciona quando falamos em valores pequenos e quando não existe uma competição. Quem sabe este comportamento não possa ter outra explicação ou entendimento. 


Sendo o principal conceito da área de finanças comportamentais, o questionamento mais incisivo e definitivo também torna-se um alvo preferido para os críticos. Mas faz sentido, não faz? 




1 - Kahneman, D. & Tversky, A. (1979). "Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk". Econometrica. 47 (4): 263–291

2 - Chen, Keith; Lakshminarayanan, Venkat; Santos, Laurie. The Evolution of Our Preferences: Evidence from Capuchin Monkey Trading Behavior (June 2005). Cowles Foundation Discussion Paper No. 1524, Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=675503. Uma discussão pode ser encontrada em Wilkinson, Nick; Klaes, Mathias. An Introduction to Behavioral Economics. 2a. ed., 2012. Foto: By Basile Morin - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=74555820

3 - Na verdade, há diversas estimativas e fizemos aqui uma aproximação. Tversky e Kahneman, em 1992, chegaram a um valor de 2,25. Benartzi e Thaler (1995) estimaram em 2,77 e Schmidt e Traub (2002) chegaram a 1,43. Tversky, A., & Kahneman, D. (1992). Advances in prospect theory: Cumulative representation of uncertainty. Journal of Risk and uncertainty, 5(4), 297-323. Benartzi, S., & Thaler, R. H. (1995). Myopic loss aversion and the equity premium puzzle. The quarterly journal of Economics, 110(1), 73-92. Schmidt, U., & Traub, S. (2002). An experimental test of loss aversion. Journal of risk and Uncertainty, 25(3), 233-249.

4 - Hossain, T., & List, J. A. (2012). The behavioralist visits the factory: Increasing productivity using simple framing manipulations. Management Science, 58(12), 2151-2167.

5 - Algumas das informações a seguir vieram do verbete da Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Barings_Bank 

6 - Bernheim, B. Douglas; DellaVigna, Stefano; Laibson, David. Handbook of Behavioral Economics - Foundations and Applications 2. Amsterdam, Elsevier, 2019.

7 - a ideia do exemplo é apresentar uma situação simplista. Não estamos aqui detalhando em quanto tempo o retorno foi obtido, se são valores nominais ou se seriam arriscados. Obviamente que uma análise prática deveria levar em conta tais aspectos. 

8 - O artigo é "The equity Premium: A Puzzle", Journal of Monetary  Economics 15 (2), 145-161, de Raj Mehra e Edward Prescott. O artigo foi publicado em 1985.

9 - Benartzi, S., & Thaler, R. H. (1995). Myopic loss aversion and the equity premium puzzle. The quarterly journal of Economics, 110(1), 73-92.

10 - A ideia é que o acompanhamento regular faz com que a chance de surgir um sentimento de aversão seja maior. Se um investimento apresentou rentabilidade positiva em 90% dos dias, mas teve rentabilidade negativa em 10% dos dias, esta pequena parcela de tempo é capaz de trazer a aversão à perda.

11 - Odean, T. (1998). Are investors reluctant to realize their losses?. The Journal of finance, 53(5), 1775-1798.

12 - Sobre o efeito moldura, há uma extensa literatura sobre este tópico.  

13 - Barber, B. M., Odean, T., & Zheng, L. (2005). Out of sight, out of mind: The effects of expenses on mutual fund flows. The Journal of Business, 78(6), 2095-2120.

14 - vide Crabbi, T. M., Pereira, C. C., & Silva, C. A. T. (2019). Excesso de confiança: análise comparativa da capacidade cognitiva de julgamento entre profissionais de mercado e estudantes de graduação. Revista Contemporânea de Contabilidade, 16(40), 169-189.

Silva, C. A. T., Brandrão, A. L. S., & Crabbi, T. M. FATORES COGNITIVOS E PROCESSO DECISÓRIO: Um estudo sobre a relevância dos aspectos visuais na escolha dos usuários.

Crabbi, T. M. (2020). A confiança é confiável?.Mestrado. UnB. 

15 - Ramiah, V., Zhao, Y., & Moosa, I. (2014). Working capital management during the global financial crisis: the Australian experience. Qualitative Research in Financial Markets.

16 - Sobre isto veja Criticas recentes: https://www.contabilidade-financeira.com/2022/04/morte-da-economia-comportamental.html


Rir é o melhor remédio


 Chefe adicionando valor

17 agosto 2022

Apelido honorário e o caso da Mariah Carey

Uma frase pode ser um ativo? Eis um caso interessante que pode afetar sua resposta:



A cantora Mariah Carey entrou com um pedido de marca registrada para a frase Rainha do Natal.  Em 1994 a cantora lançou um álbum denominado Merry Christmas, sendo o disco natalino mais comprado de todos os tempos. Os números que a cantora alcançou, por conta do sucesso deste disco, são enormes. 

Há dois problemas aqui. O primeiro é que a solicitação vai além do termo "Rainha do Natal" e inclui até máscaras faciais. O segundo problema é que o título está sendo questionado, seja por cantoras que também se consideram "rainha do natal" como pelo fato de que, no passado, em 2021, a própria Mariah afirmou que não se concordava com o título. 

Se Mariah conseguir o registro, certamente poderá usá-lo para gerar riqueza e impedir que outras pessoas avance sobre a denominação. O registro, uma vez obtido, seria um ativo para a Mariah Carey. 

A propósito, na wikipedia há um verbete com uma lista de apelidos honorários na música. Alguns bem interessantes. 

Empresas de contabilidade no Reino Unido estão competindo no mercado jurídico


Um relatório da Thomson Reuters (via aqui) sobre o mercado jurídico britânico mostra que as Big Four, grandes empresas de auditoria, estão aumentando sua participação no mercado. Isto seria uma tendência crescente desde 2015. Entre as empresas, a PwC e a Deloitte aumentaram mais sua participação no mercado. 

Parte desta trajetória se deve aumento dos gastos legais internacionais. 

Lucinda Case, chefe dos profissionais jurídicos europeus da Thomson Reuters disse: "Ao entrarmos em um período de incerteza econômica, com o aumento das taxas de juros e da inflação, a demanda das empresas britânicas por serviços jurídicos continua robusta. O que é incomum nos dados deste ano é que um número tão grande de empresas britânicas está planejando aumentar tanto seus gastos em trabalho jurídico internacional quanto seus gastos em trabalho jurídico britânico".

O relatório também mostrou que os departamentos jurídicos corporativos do Reino Unido estão adotando cada vez mais a tecnologia. Oitenta e dois por cento de todos os departamentos jurídicos corporativos do Reino Unido usam agora assinaturas eletrônicas, com 71% usando tecnologia para ajudar na pesquisa jurídica, 56% usando tecnologia para conhecimento prático e 50% usando e-billing.

Entretanto, Thomson Reuters disse que havia várias ferramentas e soluções de tecnologia jurídica que ainda não estão sendo utilizadas pela maioria dos departamentos jurídicos. Isto inclui tecnologias como sistemas de gerenciamento de documentos e contratos, e-discovery, e ferramentas de conformidade.

O entendimento tecnológico estava entre as três principais habilidades que as corporações britânicas queriam que seus advogados demonstrassem, com 27% querendo que seu escritório de advocacia reconhecesse qual solução tecnológica pode ajudar a resolver um desafio particular que estão enfrentando.

Case disse: "Uma das melhores maneiras de os escritórios de advocacia britânicos demonstrarem seu valor aos clientes é mostrando que entendem a tecnologia jurídica mais apropriada para atender às suas necessidades. Ainda existe uma grande quantidade de ferramentas e soluções de tecnologia jurídica comumente utilizadas que não estão sendo alavancadas por alguns departamentos jurídicos. Isto significa que os escritórios de advocacia que adotam a tecnologia têm um bom ponto de entrada com clientes potenciais - especialmente o grande número que fez da digitalização uma prioridade máxima".

[Traduzido pelo DeepL) (Foto: Taisiia Shestopal)

Lucro de quase US$50 bilhões da Aramco


O aumento dos preços do petróleo ajudou no lucro da empresa de petróleo estatal saudita Aramco. No segundo trimestre de 2022, a empresa aumentou seu lucro, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, em 90%. O lucro chegou quase a 50 bilhões de dólares. O gráfico mostra esta evolução.

Se no início da pandemia a empresa reduziu seu lucro em razão da demanda menor do produto, o aumento agora tem a marca da invasão russa.

O desempenho da empresa traz consigo a praga da comparação entre um número contábil e o PIB. Aqui um texto que afirma que o lucro (que é trimestral e medido pela contabilidade) foi maior que metade do PIB dos países do mundo. Aqui transformou o lucro trimestral em diário e converteu para reais: lucra 2,5 bilhões por dia. E aqui a afirmação que o lucro não deve se repetir. 

Rir é o melhor remédio


 

16 agosto 2022

Discrepância salarial nas empresas brasileiras

 

Um amplo estudo sobre a remuneração média anual dos CEOs das empresas com ações negociadas que fazem parte do Ibovespa apresentou as maiores (acima) e as menores discrepâncias salariais. O levantamento foi realizado pelo Renato Chaves (do excelente Blog da Governança) e a FGV.

Em média, os executivos receberam, em 2021, 12,57 milhões de reais, versus uma remuneração média de 193 mil reais por ano. O Assaí paga ao CEO 535 vezes a remuneração dos seus funcionários. O segundo lugar ficou com outra empresa de varejo, as Americanas.

Entre as menores discrepâncias, as estatais, em razão do controle sobre os pagamentos. O estudo foi publicado pela Forbes

Periódicos internacionais mais relevantes em Contabilidade

 Na área de Business, a listagem dos periódicos relevantes é a seguinte:


Já na subárea de contabilidade e impostos temos:

O prestígio é dado pelo índice H5 do Google

Taxa de sucesso de 85% para precisão ideal de treinamento


O nível de aprendizado do ser humano é maximizado quando a taxa de acerto é de 85%. Ou seja, para cem questões, 85 devem estar corretas:

Em muitas situações, descobrimos que há um ponto ideal em que o treinamento não é muito fácil nem muito difícil, e onde o aprendizado progride mais rapidamente. [...] Para todos esses algoritmos estocásticos de aprendizado baseados em gradiente e descida, descobrimos que a taxa de erro ideal para o treinamento é de cerca de 15,87% ou, inversamente, que a precisão ideal do treinamento é de cerca de 85%.

A ideia é que o fracasso significa que você não irá aprender. Mas haverá um limite para o sucesso, onde o esforço adicional não vale a pena.

Em outro estudo, citado na mesma postagem, chegou a uma taxa para aprender matemática próximo: 

Em um estudo de matemática da quarta série, verificou-se que 82% das respostas dos alunos estavam corretas nas salas de aula dos professores mais bem-sucedidos, mas os professores menos bem-sucedidos tinham uma taxa de sucesso de apenas 73%. Uma alta taxa de sucesso durante a prática guiada também leva a uma maior taxa de sucesso quando os alunos estão trabalhando em problemas por conta própria.

Na minha vida acadêmica, eu tenho usado exercícios adicionais ao final de cada tópico em minhas aulas. O problema é que os alunos parecem pensar que não vale a pena realizar tais exercícios, pois valem pouco na composição da nota final. Mas há um elemento de aprendizado, geralmente traduzido pela correlação significativa entre as notas dos exercícios e as notas da prova.

Rir é o melhor remédio

 

Realidade e representação fidedigna

15 agosto 2022

Ver quem joga é importante? Você mudaria sua opinião sobre desempenho de um atleta?

 

Será que o fato de estarmos vendo os atletas - e isto inclui seu rosto e sua pele - afeta nossa percepção sobre o desempenho? 

Parece que sim. Uma empresa usou imagens de um jogo de futebol e transformou as imagens da vida real de tal forma que os participantes de um experimento não conseguiam identificar a raça e o gênero. 

Para um grupo de 47 fãs de esportes foi mostrado dois minutos de um jogo de Copa do Mundo, entre Senegal e Polônia. A maioria (70%) afirmaram que os jogadores de Senegal eram atléticos e rápidos. Para um segundo grupo, foi mostrado o vídeo sem a identificação de raça e gênero (vide figura). O resultado (via aqui) foi que 62% afirmaram que os jogadores da Polônia eram mais atléticos. 


Isto mostra que os jogadores negros são percebidos de maneira diferente. 

O estudo também usou um jogo de futebol feminino versus de uma liga do futebol inglês. Sem tratamento, as pessoas afirmaram que o jogo dos homens era de maior qualidade, 57 versus 43%. Mas quando a imagem recebeu um tratamento, para impedir a identificação de gênero, a partida das mulheres era considerada de maior qualidade: 59 a 41%. 

Custo de Minerar Bitcoin

O custo de minerar o Bitcoin varia conforme o país. O gráfico faz um amplo levantamento de 198 países. O custo médio é de 35 mil dólares - próximo ao custo no Brasil, mas pode variar muito entre os países.  A Venezuela é o país mais caro (246 mil) e o Kuwait é o mais barato (1,4 mil). 

Como melhorar a visibilidade da sua pesquisa


Eis algumas dicas da Enago para aumentar o impacto da sua pesquisa. 

1. Escolha um título atrativo, faça um bom resumo (muitos só irão ler estas poucas palavras) e seja seletivo nas palavras-chave. A localização do seu artigo será por estes poucos termos. 

2. Escolha o periódico certo. O fato de impacto conta muito e bons periódicos possuem mais visibilidade. Além disto, alguns periódicos fazem uma divulgação diferenciada de alguns artigos e isto pode ajudar. 

3. Opte por Open Acess ou seja, disponibilize sua pesquisa de forma livre, imediata e online. 

4. Obtenha um ORCID, que é um link digital permanente como pesquisador. Isto reduz o risco de ser confundido com outro pesquisador, com o mesmo nome.  

5. No seu perfil do ResearchGate e LinkedIn armazene o artigo. 

Outras formas de obter impacto após a publicação:

1. Use as mídias sociais

2. Crie apresentações em vídeo, bem produzido, que irá aumentar a atração por seu artigo

3. Faça figuras e gráficos animados

4. Faça uso de infográficos

5. Um podcast pode ser útil para aumentar o engajamento

6. Compartilhe os dados

7. Blog

8. Use os sistemas de press releases da sua universidade 

Princípios de Transparência Tributária

No início do mês de agosto foi aprovado, em Bogotá, Colômbia, durante a assembleia do GIFT, os Princípios de Transparência para a Política e Administração Tributária

É um avanço sobre o que corresponde a transparência da receita e como deveria ser feita a promoção na participação do público nas decisões sobre tributos. Do documento:

transparência tributária pode ser definida como a divulgação e publicação de dados quantitativos e qualitativos sobre o sistema tributário, que uma sociedade precisa responsabilizar os tomadores de decisão e obter julgamentos informados sobre o desempenho do sistema tributário durante um período de tempo específico. É um processo que fornece as informações necessárias para garantir que um sistema tributário funcione em benefício de todas as partes interessadas - dentro e fora do governo - administradores fiscais, outros funcionários do governo, legisladores, aqueles que os elegeram, e aqueles que pagam impostos, incluindo quaisquer grupos desfavorecidos e marginalizados identificados. 

As informações disponibilizadas por meio de uma estrutura de transparência tributária fazem parte de um processo integrado que inclui a coleta, análise, análise e disseminação de dados e a discussão subsequente sobre o desempenho do sistema tributário, bem como a estrutura fiscal mais ampla que inclui o lado de gastos da orçamentos públicos. 

Especificamente, as partes interessadas de um sistema tributário exigem as informações que lhes permitem: entender como é determinado o imposto que as pessoas têm que pagar; entender os procedimentos administrativos que prescrevem como os impostos são pagos; avaliar se os impostos que eles devem pagar são justos em comparação com a contribuição exigida de outras pessoas na sociedade da qual fazem parte; determinar se todos aqueles que deveriam pagar impostos realmente o fazem; avaliar quais opções alternativas para aumentar as receitas existem em sua sociedade; entender como o sistema tributário se compara aos de jurisdições semelhantes; e saiba como os impostos cobrados são usados pelo governo. 

Eis o princípio número 1:

01 Os governos e as autoridades nacionais devem seguir procedimentos que reconheçam as partes interessadas com o direito de acessar informações para permitir que elas cheguem a julgamentos e participem de consultas, sobre se um sistema tributário está cumprindo os objetivos declarados e trabalhando no interesse público. (BÁSICO). 

Rir é o melhor remédio