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29 agosto 2020

Refazimento para mais


A petroleira PetroRio informou na manhã desta sexta-feira que seu conselho de administração ratificou a contratação da EY como auditoria externa e independente de sua contabilidade em substituição à Lopes, Machado Auditores (BKR) [1], e que refez demonstrações financeiras após discussões com a nova prestadora [2].

Foram feitos ajustes nas demonstrações financeiras referentes aos exercícios 2019 e 2018, o que levou ao refazimento dos formulários de informações trimestrais referentes aos períodos de três e seis meses encerrados em 30 de junho de 2019 e 30 de junho de 2020, e período de três meses findo em 31 de março de 2020.

Após as inúmeras [3] correções apresentadas nessas contas, foi registrado impacto positivo de R$ 206,4 milhões no resultado de 2019 [4], passando o lucro líquido consolidado do período para R$ 842,3 milhões, além de mudanças também nos percentuais comparativos com outros exercícios.

[1] Trocou uma empresa "pequena" por uma Big Four. 

[2] Pelos motivos a seguir, a contratação parece que compensou. 

[3] Achei interessante o termo "inúmeras". Fico imaginando um parâmetro numérico para isto. 

[4] Este é o número. Aumento no lucro. Geralmente o refazimento muda para pior os números. Ainda mais com uma mudança na auditoria. 

Fonte: PetroRio muda auditoria, refaz demonstrações e chega a lucro R$206,4 milhões maior em 2019  - Valor 28 de agosto

Logo do Governo da Austrália lembra algo indesejável

 O governo da Austrália gastou 7,2 milhões de dólares para fazer um novo logo baseado na "Golden Wattle"  ou acácia


A árvore é nativa da Austrália e chega a mais de 8 metros de altura. A partir daí, o governo apresentou o seguinte logo:


Que corresponde a flor estilizada, com as letras "AU" de Austrália. O desenho foi apresentado em julho, mas já está sendo "esquecido". Razão? Lembra algo indesejável... (Via aqui)

Contabilidade? - governo gastando dinheiro público de maneira insensível existe em todo lugar do mundo. 

Rir é o melhor remédio

 

Como meus amigos tiram minhas fotos x como eu tiro as fotos deles
veja mais aqui

28 agosto 2020

A volta ao trabalho

 
 Achei bem legal esta propaganda sobre a volta ao trabalho. Via aqui

Maiores prejuízos do Semestre

 

A listagem da Economática (publicada no jornal O Estado de São Paulo) aponta os maiores prejuízos do semestre na América Latina. O preço do petróleo foi uma das justificativas para o prejuízo da empresa estatal brasileira Petrobras. O resultado negativo foi de 9,4 bilhões de dólares. Ao contrário da lista dos maiores lucros, concentrada no setor financeiro, os maiores prejuízos tem o setor aéreo como "destaque", mas com somente quatro empresas na lista. Observe que a lista, ao focar nas empresas de capital aberto de alguns países, deixa de fora potenciais candidatas como PDVSA e Pemex. Talvez a grande surpresa seja a presença do Itau Corpbanca na relação. 

Maiores Lucros do Semestre

 

A tabela dos maiores lucros da América Latina, entre empresas de capital aberto, aponta que o grande ganhador no semestre da pandemia foi o setor financeiro. Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e até o Santander - que na Espanha teve um grande prejuízo - foram destaques. Dos 20 maiores lucros, 60% são do setor. 

Rir é o melhor remédio

 

Antes de começar alguma coisa, pense também em como terminar

27 agosto 2020

Executivo em live


A CVM soltou uma nota sobre a participação de executivo em lives:

As incertezas sobre o efeito da pandemia da Covid-19 no desempenho das companhias abertas e as modificações nas rotinas de trabalho nos últimos meses popularizaram a realização de transmissões ao vivo com a participação de executivos de companhias abertas. Por isso, a Superintendência de Relações com Empresas da Comissão de Valores Mobiliários (SEP/CVM) divulga orientações sobre as boas práticas que devem ser adotadas em relação a esse tipo de evento.

Ainda que a companhia não seja a organizadora da live e seu representante seja um convidado, o entendimento da área técnica da CVM é que se aplicam a tais eventos as mesmas regras previstas nas normas que tratam da divulgação de informações relevantes e as regras gerais sobre conteúdo e forma das informações.

Comunicado ao mercado 
O documento destaca que o emissor deve divulgar informações de forma abrangente, equitativa e simultânea para todo o mercado, como previsto na Instrução CVM 480. Portanto, ainda que as transmissões ao vivo sejam organizadas por outras entidades e realizadas em plataformas abertas ao público em geral, a sua ocorrência deve ser divulgada, com antecedência, informando data, horário e endereço na internet em que será transmitida a “live”, que contará com a participação de algum representante da companhia.

Neste sentido, a recomendação é que seja divulgado, com antecedência, um Comunicado ao Mercado, informando data, horário e endereço na internet em que será transmitida a live que contará com a participação de algum representante da companhia.

Apresentações visuais 
Eventuais apresentações, em slides ou outros formatos, deverão ser enviadas pelo Sistema Empresas.NET. Caso não haja apresentação visual, o Comunicado ao Mercado que informar sobre a realização do evento deverá conter também uma relação dos temas a serem discutidos e, quando possível, das perguntas que serão feitas.

“Se não for possível divulgar com antecedência o conteúdo da apresentação, por impossibilidade de se obter tais informações junto aos organizadores, ou por conta de um formato livre de apresentação, recomendamos que o evento aconteça fora do horário de pregão, preferencialmente após o fechamento do mercado, para que a equipe de RI tenha tempo de preparar o material que deverá ser divulgado após o fim do evento no Sistema Empresas.NET”, destaca o superintendente de Relações com Empresas (SEP), Fernando Soares Vieira.

Imagem aqui

Crime Solucionado: pouca justiça para os criminosos

 

O gráfico do The Conversation, para os Estados Unidos, mostra que 50% dos crimes são relatados para polícia. A maior parte dos crimes, por decisão dos lesados principalmente, não são objeto de registro. Deste total, a polícia prende 11% dos casos, sendo que em 2% há uma condenação. Veja o grifo: nos Estados Unidos. 

Corona: vírus x cerveja

 Em janeiro, quando as notícias sobre o corona vírus começavam a ganhar força, muitas pessoas confundiram o problema de saúde com a marca da cerveja. Inexplicavelmente o Google Trends apontava um aumento na pesquisa sobre Corona Beer. Em fevereiro foi divulgada uma pesquisa mostrando que 38% dos americanos não consumiriam a cerveja em hipótese nenhuma. Em abril era nítido que o vírus tinha afetado a empresa que fabricava a cerveja, apesar do interesse no Trends ter reduzido.

Estamos em agosto e até o momento a cerveja persiste. A empresa sabia que o ano seria difícil e preparou uma estratégia defensiva. Conseguiram isolar os clientes que faziam a confusão entre o vírus e a cerveja e reduziram o impacto. 

O gráfico da cotação do preço da ação indica o menor valor justamente em março. Apesar de ainda não estar no seu ponto máximo, o preço da ação mostra uma recuperação. 



Nada mal. Lembrando que no passado um doce com o nome Ayds - que já existia, não sobreviveu à doença da AIDS. Eis um comercial do produto

 

Rir é o melhor remédio

 Alguns americanos estão preocupados com vacinas que possam ter microchips para rastreá-los.

Seus telefones:



26 agosto 2020

Nota de R$200: uma péssima ideia


Recentemente, o Banco Central anunciou que irá lançar a cédula de R$200 reais. Para o Banco Central, o lançamento é necessário em virtude da inflação acumulada. 

Alguns dados são interessantes (via aqui). O custo de produção de um nota de R$200 é de R$0,32 por unidade; da nota de R$100 é de R$0,29. Assim, imprimir nota de R$200 significa um custo menor que a nota de R$100. Entretanto, o preço da nota é quase igual ao da moeda de R$1

Existe um grave problema com a decisão do Banco Central em lançar esta cédula. O economista Kenneth Rogoff chamou a atenção que cédulas de alto valor são apreciadas pelos criminosos. Lembram do apartamento com malas de dinheiro? Cédulas de elevado valor são propícias para os criminosos, pois reduzem o número de malas que irão usar. Tanto é assim, que a diretora de administração do Banco Central apressou em afirmar que o anúncio “não significa retrocesso na estratégia de combate à lavagem de dinheiro”.  Segundo ela, “nos fóruns internacionais contra a lavagem de dinheiro, não aparece a sugestão de retirar cédulas de alta denominação de circulação” [sic] [Ou seja, ela não conhece a experiência da Europa e da Índia ou está manipulando?] Assim que a notícia apareceu, três partidos entraram com ação no Supremo para impedir a circulação da nova cédula.

Há um interessado direto no lançamento: a Casa da Moeda. Sendo deficitária, a nova emissão poderia ajudar a reduzir seu déficit. Com a redução da emissão de passaportes - em razão da pandemia - a Casa da Moeda considera que a produção pode trazer receita.

Outro interessado, indireto, são as empresas concorrentes da cédula como meio de pagamento, como Cielo e PagSeguro. Em lugar de emitir uma cédula mais útil para população, com as notas de R$10 ou R$20, emitir uma cédula com elevado valor é tornar a moeda corrente um meio de pagamento pouco atrativo para população. Quem já tentou pagar alguma coisa com uma nota de R$100 sabe o que isto significa. Ademais, notas menores são usadas pela população mais pobre, excluídas do sistema financeiro. Assim, a decisão do Banco Central é contra os interesses desta parcela da população. Resumindo:

Agora com o lançamento da nota de R$200, podemos perceber ainda mais claramente que o aumento da participação das cédulas de alta denominação nos meios de pagamento brasileiro é um esforço consciente do BCB. Apesar dessa política superficialmente parecer ser benéfica por causa dos menores custos de produção, ela não passa pelo filtro de uma análise mais detalhada. Ela tem custos “escondidos” indiretos altíssimos, seja por uma menor conveniência para a população em ter que usar cédulas de alta denominação para transações de baixo valor e com pouca disponibilidade de troco, seja porque ela facilita as atividades informais e ilegais, o que pode implicar em custos altíssimos para a sociedade.  (Christiano Arrigoni Coelho)

E  a Contabilidade? - Veja que a discussão envolve custo de produção, controles internos, corrupção e outros temas. 

Lideranças narcisistas e a empresa


Sobre líderes narcisistas, um ponto interessante é o dilema confiança e competência:

A questão é que é mais comum olharmos para a “confiança” do que para a “competência”, diz. “A maioria das organizações não é tão meritocrática ou centrada no talento quanto poderia ser. Os preconceitos, o nepotismo e a política superam as evidências e a ciência”, diz Chamorro-Premuzic. “As pessoas são bastante previsíveis, mas você precisa confiar em dados e ferramentas com base científica, e não na sua intuição”. Atualmente, ele avalia que a maioria das empresas que se diz “people analytics” usa dados e tecnologia para prever resultados positivos, como engajamento. No nível do funcionário, no entanto, há muitos exemplos de como os dados podem prever o absenteísmo, a rotatividade, comportamentos contraproducentes ou antissociais. “A tendência é começar a fazer isso com os líderes com mais frequência. Imagine que um líder corrupto tenha um efeito muito corrosivo e um impacto tóxico na empresa. Culturas tóxicas são o resultado direto de liderança antiética”. 

(Lideranças narcisistas não enxergam sua incompetência.  Por Barbara Bigarelli - 24/08/2020, Valor)

E a contabilidade? - Há muito os pensadores da contabilidade perceberam que o profissional poderia ser um bom contrapeso para empresa, com o seu conservadorismo. Mas a "virtude" da representação fiel (?) e neutra (?) começou a colocar a contabilidade em um nível muito mais próximo da "confiança" dos executivos. Até ser freada, em parte, com a ginástica que o IFRS fez para adequar a "prudência" dentro da representação fiel. Talvez no Brasil isto não seja um problema tão sério, pois as empresas são tipicamente familiares. Mas o problema da confiança persiste. 

Imagem: aqui

Executivo que afundou a empresa ganha bônus de desempenho


A lei dos Estados Unidos restringe o pagamento de bônus para os executivos de empresas que declararam falência. O que está ocorrendo agora? Um pouco antes de decretar a falência, a empresa efetua uma boa remuneração para estes executivos, alegando que isto é importante para "reter" um bom executivo. O mesmo que não impediu o problema da empresa. Parece sem sentido, e é mesmo. Na verdade é malandragem. Eis um texto sobre o assunto do Financial Times (Companhias pagam bônus antes de falência, Valor, 24 de agosto, Joe Rennison e James Khan):

Empresas em todos os Estados Unidos têm dado bônus de “retenção” multimilionários a altos executivos pouco antes de declararem falência, o que enfurece credores, que classificam esses pagamentos de recompensa por fracassos.

A prática se tornou comum entre empresas em dificuldades e levadas ao extremo pela pandemia do coronavírus. A lista inclui quebras de grande visibilidade, como as de JC Penney, Hertz e Neiman Marcus; empresas pressionadas pela recessão no setor de energia, como a Whiting Petroleum; e grupos menores cujas receitas foram prejudicadas pela crise de saúde pública, como a centenária fabricante de motores para cortadores de grama Briggs & Stratton. 

(...) Mas os credores têm revidado, especialmente contra empresas que premiaram gestores que presidiram o afundamento de seus negócios. É frequente que pagamentos de retenção sejam concedidos semanas ou dias antes de que os grupos demitam trabalhadores e se recusem a pagar empréstimos.

(...) Brad Holly, executivo-chefe da Whiting, recebeu US$ 6,4 milhões em março, dentro de um novo programa de compensação aprovado pela diretoria, que ele preside, menos de uma semana antes de a empresa entrar com pedido de falência. A Whiting, que espera sair do Capítulo 11 da Lei de Falências no mês que vem, informou que Holly deixaria o cargo de executivo-chefe quando isso acontecer e receberia US$ 2,53 milhões adicionais como indenização rescisória.

Prêmios de retenção concedidos às vésperas de declarações de falência tornaram-se mais comuns nos últimos anos, na esteira de uma lei de 2005 que restringiu o pagamento de bônus após a empresa entrar em processo de falência. Os críticos dizem que eles burlam a lei, cujo objetivo era limitar indenizações para executivos com a empresa está em dificuldades.

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Rir é o melhor remédio

 


Lawrence Ward: A Disney irá refilmar Esqueceram de Mim. Esta é uma petição para que eles escalem novamente o Macauley Culkin de 38 anos como o Kelvin McCallister de 9 anos e faça com que ninguém no filme reconheça isso.

Macauley Culkin: Eu tenho um grande problema com esta petição. Na verdade eu tenho 39 anos.

25 agosto 2020

Tarda e Falha ? - Parte 3

Nem bem acabei de postar sobre o pedido de vista, percebo que a CVM divulgou parte do julgamento da Petrobras. A parte é o julgamento dos administradores e conselheiros fiscais. A parte dois e três, os auditores. Em resumo, a questão é a aplicação do impairment entre 2010 a 2014. 

Foram condenados os ex-presidente Gabrielli (multa de R$ 150 mil), o diretor de RI Almir Barbassa (idem), o diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa (idem). Especificamente o teste na Refinaria Abreu e Lima, Graças Foster (idem), Almir Barbassa (idem), José Cosenza (idem), além dos conselheiros de administração (Francisco Albuquerque, Sérgio Quintella e Josué Gomes da Silva, todos com a mesma multa). Mas foram absolvidos outros dirigentes, incluindo Aldemir Bendine, Ivan de Souza Monteiro, Guido Mantega, entre outros. 

Sobre os auditores, a KPMG (e os técnicos Manuel F de Sousa e Bernardo Peixoto Neto) teve a sessão suspensa pelo pedido de vista [E o SEI, pergunto eu?], assim como da sessão PwC.

Tarda e Falha - Parte 2

 

Sobre o julgamento da Petrobras na CVM (aqui a postagem de ontem), o mesmo foi adiado:

Foi adiado o desfecho do caso em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) analisa se 17 ex-diretores e conselheiros de administração da Petrobrás violaram seu dever de diligência ao aprovar obras bilionárias da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O julgamento iniciado nesta segunda-feira, 24, foi suspenso por um pedido de vista do diretor Gustavo Gonzalez. O relator do caso, Henrique Machado, votou por condenações que somariam R$ 10,5 milhões ao grupo. (Mariana Durão, Estado de S Paulo, 25 de agosto de 2020)

Confesso que não entendo bem. A CVM usa o SEI para seus processos eletrônicos. Isto permite que o relator do caso possa disponibilizar o assunto com antecedência e os outros membros acompanharem seu parecer (ou pelo menos estudar os documentos). Qual o sentido de "pedir vista"? Confesso que não entendo. Isto deveria ser proibido ou coibido em qualquer entidade do setor público que estivesse julgando algo. 

É possível a convivência entre ESG e Valor?

Robert Armstrong escreve sobre os limites dos investimentos ambientas, sociais e de governança (ESG). Há uma crítica bem fundamentada nos argumentos. Alguns trechos a seguir (O Apelo Dúbio do Investimento ESG, 25 de agosto de 2020, Financial Times e Valor Econômico)

Portanto os apoiadores do ESG têm razão de que as empresas não podem sempre maximizar os lucros de longo prazo por pretender fazer isso. Elas têm de ter como meta fornecer produtos excelentes, o que cria lucro como efeito colateral. Em muitos casos, a excelência gera bons resultados para as partes interessadas também, que vão desde investimentos nos funcionários até baixas emissões de carbono. Mas isso não significa que os retornos dos acionistas e o bem social sempre possam se alinhar. E existe um caminho importante no qual esses dois fatores têm de se separar.

Este é um primeiro ponto. Nem sempre ESG significa valor (ou retorno dos acionistas). 

Parte da justificativa para o investimento em ESG é que desinvestir de determinados setores produtivos (combustíveis fósseis ou tabaco, digamos) cria pressão econômica em favor da mudança, mesmo efeito passível de ser produzido pelo boicote aos produtos de uma empresa. O desinvestimento aumenta o custo do capital para uma empresa: quando há um número inferior de investidores dispostos a comprar suas ações ou bônus, ela tem de vender esses papéis por valor menor. Isso encarece sua possibilidade de investir em projetos socialmente destrutivos.

Isto funciona se o volume de investimento ESG for suficiente significativo para alterar este padrão. Esta é uma informação que realmente não temos (uma vez que alguns investimentos ESG não podem ser considerados como tal). Em outras palavras, o argumento funciona se a oferta e demanda puder ser alterada. 

Qual é o corolário inevitável? O custo do capital para as empresas amigáveis ao ESG cai, na medida em os dólares são canalizados para elas. Suas ações e bônus ficam mais caros. Mantidas inalteradas as demais variáveis, isso tem de significar retornos mais baixos para os investidores em ESG. Se os retornos não tiverem diminuído, é sinal de que as opções dos investidores em ESG não afetaram os incentivos corporativos em absolutamente nada.

Ou seja, pense pelo lado do investidor. Ele realmente deseja trocar investimento tradicional por outro, classificado em ESG, com rentabilidade menor? 

Pelo fato de as coisas serem assim, muitos defensores do ESG assumem posição diferente. Argumentam que a questão não é mudar os incentivos corporativos, e sim investir em empresas que vão prosperar financeiramente exatamente por levarem o ESG a sério. Pode ser que um futuro distante e ideal nos separe desse objetivo. Mas mesmo os melhores dirigentes corporativos não podem agir tendo em mente o fim dos dias. Eles fazem escolhas sobre o que podem antever com certo grau de confiança.

Mas a economia é baseada em incentivos. 

Nessa amplitude, é evidente que os interesses dos acionistas e das partes interessadas podem conflitar. Se não conflitassem, haveria muito menos demissões anunciadas e muito menos poços de petróleo prospectados. Se o capitalismo dos “stakeholders” significa alguma coisa, é que os dirigentes corporativos têm às vezes que fazer escolhas que beneficiem as partes interessadas à custa dos acionistas.

Se os dirigentes corporativos silenciam, é porque sabem qual será sua escolha quando surgirem conflitos desse gênero. Eles recebem em ações, e, se os incentivos monetários não forem suficientes, há incentivos jurídicos. A maioria das empresas americanas são formalmente constituídas como corporação em Estados em que a lei exige que elas coloquem os acionistas em primeiro lugar. Promessas de virtude não mudam isso. Como destacam Aneesh Raghunandan e Shivaram Rajgopal, da Faculdade de Negócios de Columbia, os signatários corporativos da carta da Business Roundtable têm históricos em ESG piores do que seus pares setoriais.

Esta última frase é importante. Se for verdade, o ESG tornou-se um instrumento de marketing. 

Será que a resposta é, então, uma mudança completa dos pacotes de remuneração dos executivos e, de resto, da legislação corporativa? Não. Reescrever as regras internas do capitalismo corporativo poria em risco um sistema que nos atendeu bem em seu escopo: criar riqueza. Ao mesmo tempo, será que queremos que um maior quinhão do poder e responsabilidade para resolver nossos problemas mais prementes, desde a desigualdade até a mudança climática seja depositado à força nas mãos das corporações, que continuarão sendo comandadas e controladas pelos mais ricos dentre nós? Mais uma vez, não.

O capitalismo dos acionistas é uma excelente maneira de gerir nossa economia corporativa e deveríamos permanecer fiéis a ele. Temos, além disso, um conjunto muito bom, ainda que atualmente negligenciado, de ferramentas para garantir que todos participem dos frutos do progresso econômico.

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Terceirização do trabalho

Tenho pensado bastante em “Bob”. Ele foi um desenvolvedor de softwares americano que trabalhava de casa para uma grande companhia. Em 2013, veio à tona que ele estava terceirizando o próprio trabalho para a China. Ele mandava uma boa parte do seu salário para uma consultoria chinesa, que fazia o seu trabalho para que ele pudesse surfar no Reddit, negociar no eBay, atualizar seu Facebook e assistir vídeos de gatos, segundo postagem de Andrew Valentine no blog da Verizon, que investigou o caso.

A solução esperta de Bob para o equilíbrio entre trabalho e vida particular está em minha mente por causa da sugestão perturbadora de que se você trabalha à distância, seu patrão eventualmente poderá perceber que você pode ser substituído por outra pessoa do outro lado do mundo que fará seu trabalho por um preço menor.

Se o seu trabalho é de qualquer lugar, qualquer um pode fazer? - Andrew Hill - Financial Times

Na minha experiência profissional já vi casos de terceirização de aula por parte de professor. Ou seja, um professor contratava um conhecido para ministrar aula no seu lugar. Nos tempos do Covid isto não ficaria mais comum? 

Agora imagine este problema para um auditor. Como terá certeza que a pessoa que está trabalhando na empresa é Bob ou um chinês? 

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Mercado financeiro x economia real

 Resumo:


We analyze optimal monetary policy when asset prices influence aggregate demand with a lag (as is well documented). In this context, as long as the central bank's main objective is to minimize the output gap, the central bank optimally induces asset price overshooting in response to the emergence of a negative output gap. In fact, even if there is no output gap in the present but the central bank anticipates a weak recovery dragged down by insufficient demand, the optimal policy is to preemptively support asset prices today. This support is stronger if the acute phase of the recession is expected to be short lived. These dynamic aspects of optimal policy give rise to potentially large temporary gaps between the performance of financial markets and the real economy. One vivid example of this situation is the wide disconnect between the main stock market indices and the state of the real economy in the U.S. following the Fed's powerful response to the Covid-19 shock.


Fonte: Monetary Policy and Asset Price Overshooting: A Rationale for the Wall/Main Street DisconnectRicardo J. Caballero and Alp Simsek. 2020