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09 julho 2020

Quanto vale um técnico de futebol?


  • O Jornal Econômico usou o valor das transferências passadas de atletas 
  • Isto não é adequado pois (a) é passado (b) venda de atletas não é uma boa medida de valor e (c) nem sempre o técnico é o responsável pela decisão

Pergunta difícil e resposta ainda mais. Eis que o Jornal Econômico tenta responder a esta questão, fazendo uma análise comparativa entre três técnicos de futebol que no passado comandaram o clube Benfica. Um deles é o aclamado técnico Jorge de Jesus. O critério usado pelo jornal foi bem interessante e original e chegou a um resultado favorável ao técnico:

Transações: Quanto vale Jorge Jesus?

Numa altura em que o treinador lisboeta parece estar de volta ao futebol português, importa perceber o que valeu Jorge Jesus em compras e vendas nas seis épocas em que representou (1) o SL Benfica. De acordo com o site ‘Transfermarkt’, nesta meia dúzia de temporadas, o clube ‘encarnado’ vendeu (2) jogadores num total de 358,38 milhões de euros e gastou 229,49 milhões de euros em contratações. Assim, o balanço entre vendas e aquisições é positivo nestas seis temporadas em 128,89 milhões de euros para o técnico que pode estar de regresso à Luz na época de 2020/21.

Se calcularmos a média de vendas e de compras neste período, é possível concluir que o SL Benfica de Jesus alienou jogadores para outros emblemas num valor médio de 59,73 milhões de euros por temporada e gastou 38,24 milhões de euros por época em contratações. Assim, e falando em valores médios, o SL Benfica de Jesus apresentou um saldo positivo de 21,49 milhões de euros por temporada.


Eis alguns comentários:
(1) como o valor refere-se ao futuro, o uso de transações ocorridas no passado não é a melhor alternativa para quem deseja determinar este valor. Este é um problema.
(2) a medida de "venda de jogadores" é usada como o grande critério de determinação do técnico. Se o contrata atletas por um montante e vende por outro, a diferença seria de responsabilidade do técnico, não de outros fatores. Isto certamente é questionável, já que um clube de futebol europeu não deve ter na venda de jogadores como o seu principal foco. Veja que títulos, vitórias, aumento de arrecadação e outras variáveis são desconsideradas aqui. Se um clube tem um bom plantel de jogadores no início da carreira do técnico e vende estes jogadores, o técnico teria mais valor.
(3) a outra simplificação que é considerar que o técnico de futebol é o único responsável pela contratação e venda de atletas. Em grandes clubes isto nem sempre é verdade. Klopp conta a história de como influenciou em negociações dos atletas, mas assessorado por uma equipe, nos clubes que passou. 

Não leia as "Recomendações para o Comitê de Auditoria para o Novo Normal"

O IFAC soltou um documento com recomendações para o Comitê de Auditoria. Eis o que diz sua página:

Nesta declaração, o CEO da IFAC, Kevin Dancey, e Richard Chambers, Presidente e CEO do Instituto de Auditores Internos (IIA) compartilham recomendações específicas para que as organizações enfrentem com mais vigor as incertezas e turbulências que possam ameaçar sua integridade, transparência e responsabilidade. Essas recomendações fazem parte de um plano de ação para comitês de auditoria, considerando os desafios atuais e futuros. (Tradução livre do Tradutor)

Como o IFAC anunciava que eram seis recomendações para o "novo normal" fiquei curioso. O documento anuncia as recomendações:

1. Mantenha informado - Mantenha uma compreensão clara e oportuna do ambiente operacional em constante evolução e como ele pode impactar os objetivos e o desempenho organizacional. Os comitês de auditoria precisam estabelecer e manter um entendimento firme em todas as áreas de vulnerabilidade, desde objetivos estratégicos até operações rotineiras. (...)

2. Comunique e colabore (...)

3. Alavanque as competências disponíveis (...)

4. Promova melhorias constantes (...)

5. Pense de forma holística (...)

6. Abrace a tecnologia

(Os chavões são tantos que resolvi não perder tempo na tradução para o leitor).

Crime e finanças

Três notícias em locais diferentes. A primeira:

A máfia italiana ‘Ndrangheta, que está envolvida com tráfico de drogas, extorsão e contrabando de armas, estava por trás de diversos títulos emitidos no mercado internacional a investidores, por meio de empresas de fachada italianas.

Estima-se que 1 bilhão de euros desses títulos privados foram vendidos a investidores internacionais entre 2015 e 2019, de acordo com o jornal americano Financial Times.


A segunda (dica de Claudio Santana, grato):

El Ejército mexicano desvió 240,5 millones de pesos (unos 14,8 millones de dólares) a una empresa fantasma que actuaba en confabulación con otras compañías para encarecer los bienes que ofertaba a la dependencia militar. Entre 2013 y 2016, durante el sexenio de Enrique Peña Nieto, la Secretaría de la Defensa Nacional (Sedena) realizó compras a DRM Aceros Internacional por supuestos insumos para la producción de armamento, municiones, explosivos y equipos militares. Sin embargo, la autoridad tributaria determinó en octubre de 2018 que esta era una empresa fantasma que simulaba sus operaciones porque no contaba con empleados ni infraestructura para comercializar los bienes.

Finalmente, a terceira é no Brasil:

Investigadores à frente da operação que levou à prisão do fundador da Ricardo Eletro, Ricardo Nunes, afirmam que a empresa tinha um comportamento recorrente de não pagamento de valores recolhidos de ICMS na venda de seus produtos, de acordo com os indícios colhidos até agora nas investigações. O valor era cobrado dos clientes, aparecia nas notas fiscais, mas não era repassado ao estado, dizem os investigadores. A Ricardo Eletro tem uma dívida estimada em 380 milhões de reais com o estado de Minas Gerais.

Rir é o melhor remédio

Para quem achava que o Covid não era sério

08 julho 2020

Ache o erro

Eis um trecho para brincar de "ache o erro":

As coisas estão indo bem para Jeff Bezos. Muito bem. As ações da Amazon, gigante do comércio eletrônico e da computação em nuvem que ele fundou 26 anos atrás, atingiram níveis máximos históricos hoje (8), elevando a capitalização de mercado da empresa a uma alta de US$ 1,52 trilhão. Isso faz com que Bezos, dono de 11,1% da empresa, valha um recorde de US$ 181,5 bilhões a partir da tarde desta quarta-feira –o maior patrimônio líquido que a Forbes registrou em quase quatro décadas monitorando bilionários.

Fonte: Aqui

Frase

That matters because Netflix, Hulu, Amazon Prime and other streaming services don’t make more money when people watch more content — only when they sign up and renew their subscriptions.

Esta frase parece muito óbvia. Mas como muitas coisas óbvias, nunca é demais lembrar. Quando uma pessoa assiste um programa no seu screaming isto não afeta a DRE da empresa. Somente quando paga a assinatura (ou a renovação). Quando algum conhecido falar que a Netflix está ganhando muito dinheiro já que as pessoas estão assistindo as séries, lembre-se da frase acima.

Webinar

Inscrição gratuita

Tesouro Nacional premiará monografias e soluções em ciências de dados


Estão abertas as inscrições para o 25º Prêmio Tesouro Nacional, concurso que tem a finalidade de expandir as fronteiras do conhecimento em finanças públicas, promovendo a normalização de temas específicos quando tratados consistentemente pela pesquisa científica.

Em sua 25ª edição especial Jubileu de Prata, o Prêmio Tesouro Nacional selecionará os melhores trabalhos inscritos nas categorias “Monografias” e “Soluções”. A premiação é promovida pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), tendo a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) como realizadora do evento e a Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ) como patrocinadora.

Categoria “Monografias”

Tem como objetivo estimular a produção científica na área de finanças públicas, reconhecendo os trabalhos de maior qualidade técnica.

Os trabalhos devem abordar um dos seguintes temas: política fiscal e crescimento; gestão de tesouraria e soluções de gestão financeira e orçamentária; federalismo fiscal: eficiência e equidade; e contabilidade pública, transparência e informações gerenciais. Os subtemas podem ser consultados no site da Enap.

Os autores dos três melhores trabalhos serão premiados com a quantia de R$ 20.000,00, R$ 10.000,00 e R$ 5.000,00, respectivamente. Os vencedores e as menções honrosas, se houver, também receberão o Certificado de participação, e terão sua monografia publicada em edição especial da Revista Cadernos de Finanças Públicas, do Tesouro Nacional.

Nesta categoria podem participar apenas pessoas físicas: servidores públicos, professores, estudantes, profissionais liberais e pesquisadores da área. Qualquer cidadão com idade mínima de 18 anos, de qualquer nacionalidade e formação acadêmica (graduação ou pós-graduação), pode concorrer com trabalhos individuais ou coletivos.

Categoria “Soluções”

A categoria “Soluções” – destaque em Inovação para as comemorações dos 25 anos do Prêmio Tesouro Nacional – tem como objetivo estimular o desenvolvimento de soluções em ciências de dados e inteligência artificial aplicadas a finanças públicas, com base no desafio proposto.

Desafio para as soluções: Facilitar o entendimento dos dados sobre finanças públicas, organizando-os de modo a traduzi-los em termos compreensíveis para a sociedade e o governo, ou seja, sistematizar e fornecer informações, se possível em tempo real, para permitir a percepção dos efeitos práticos das finanças públicas para a vida das pessoas.

Os proponentes de até três soluções receberão o prêmio de R$ 6.000,00, além de certificado e divulgação das propostas no Portal Tesouro Transparente.

Qualquer pessoa, empresa ou instituição pode concorrer ao desafio e propor soluções dentro de suas áreas de atuação, sendo permitida a inscrição individual ou em grupo. Serão reconhecidos os trabalhos de maior inovação, potencial de impacto e qualidade técnica.

Inscrições

As inscrições vão até o dia 15 de setembro de 2020 e deverão ser feitas por meio dos formulários eletrônicos disponíveis nos links Categoria “monografias” e Categoria “soluções”.

O regulamento e as informações completas sobre o XXV Prêmio Tesouro Nacional encontram-se disponíveis na página da Enap.


Fonte: Aqui

Rir é o melhor remédio


Favor observar: a seção de ficção pós-apocalíptica foi movida para assuntos atuais.

07 julho 2020

Fraude Acadêmica

Situação 1 - Ao avaliar projetos de iniciação científica, descobriu que dois deles tinham plágio. Isto constou do relatório do parecerista, mas a nova gestão da universidade optou por aprovar os dois, pois buscava o aumento no número de projetos, em relação à gestão passada. 

Situação 2 - Cinco alunos foram reprovados na disciplina por plágio. O aluno X entrou com recurso e a comissão de recurso não levou em consideração um documento do curso sobre o assunto (na verdade desconhecia o documento) e afirmou que a atitude do aluno, apesar das "similaridades", não poderia caracterizar má fé.

Situação 3 - O aluno colocou no seu currículo Lattes que estava cursando a instituição, indicando inclusive um orientador. No momento da entrevista, isto foi comentado, mas mesmo assim o aluno foi aprovado no processo seletivo.

Todos os casos são reais. Recentemente a questão da manipulação de currículo esteve em discussão pelo fato de que um potencial indicado a um cargo relevante no governo federal tenha manipulado seu currículo. Ao verificar o currículo, descobriu-se que o candidato não somente mentia no currículo, como tinha feito plágio na sua dissertação de mestrado.

Não é a primeira vez que alguém "importante" mente no seu currículo. Temos muitos exemplos disto, não somente no Brasil, mas também em outros países (aqui alguns exemplos). Assim, críticas ao currículo Lattes, um instrumento brasileiro da vida acadêmica no Brasil, não procede, na minha opinião.

Talvez o problema seja cultural. Para uma professora da USP da área de letras, no exterior há mais orientação para que as pessoas não cometam erros de plágio. Mas tenho dúvidas sobre este ponto, já que seria necessário um estudo mais profundo, não baseado em "experiência" (aqui fraude em Harvard).

No mesmo artigo há uma rápida discussão para saber se nos dias atuais o problema é mais grave ou não. Alguns argumentam que no passado a comunidade acadêmica sabia mais facilmente os textos produzidos. Mas não se tinham verificadores de plágio, como alguns softwares usados pelas universidades. Além disto, temos dois problemas adicionais: (a) temos hoje plataformas que podem construir textos que fazem uso de palavras rebuscadas e desconexas (vide Lero-Lero, conforme dica da professora Ducineli, grato); (b) o principal ponto hoje talvez seja a "tradução de textos de outras línguas" que não são descobertos pelos softwares de plágio, como o Turnitin. Com respeito ao segundo ponto, é muito difícil nos dias de hoje achar isto, quando o trabalho é feito em língua portuguesa e boa parte das referências são em língua inglesa. Mas temos ferramentas e sites que trabalham com isto.

Voltemos aos casos relatados no início da postagem. Em todos casos, há problemas institucionais sérios aqui. Quem reprova cinco alunos por plágio é visto como um maluco ou alguém muito apegado a forma.  Minha experiência tem mostrado que ocorre muito mais frequentemente que imaginamos.

(P.S. Li o livro da imagem. É um libelo ao roubo...)

Qual é a diferença entre mestrado, doutorado e pós-doutorado?

Saiu na Superinteressante:

Graduação
Aqui é o começo de tudo. Ao sair do ensino médio, o jovem pode prestar vestibular e entrar em uma faculdade. Ele escolhe seu curso de interesse, estuda de quatro a cinco anos (geralmente), apresenta seu trabalho de conclusão de curso (TCC) e sai com uma formação profissional de nível superior. Aqui na Super, por exemplo, temos graduandos e graduados nos cursos de jornalismo e design.

Vale lembrar que, ainda nessa fase, o estudante pode optar por fazer uma iniciação científica (IC). Ela nada mais é do que uma pesquisa acadêmica que tem como objetivo abrir as portas do mundo científico para os novos universitários. Ela pode ser realizada por alunos de qualquer área do conhecimento e, muitas vezes, serve como um guia para aquilo que será desenvolvido no TCC do aluno.

Especialização e MBA
Esses dois tipos de curso entram na classificação de pós-graduação como lato sensu (expressão que significa “em sentido amplo”). Eles costumam ter menor duração e não precisam de autorização prévia do Ministério da Educação (MEC) para funcionar, ou seja, as faculdades não têm obrigação de comunicar o governo para criar novos cursos de especialização e MBA’s. Ambos os cursos exigem diploma de graduação.

[...] mestrado, doutorado e pós-doutorado – entram na classificação de stricto sensu (expressão que significa “em sentido específico”). Nessa categoria, o curso deve ser recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e reconhecido pelo Ministério da Educação. O mestrado configura o aprofundamento da pesquisa. A essa altura, o estudante tem a chance de se expandir na área acadêmica, não ficando apenas na pesquisa, mas também ocupando o lugar de docente, tornando-se professor nas universidades.

O mestrado costuma durar dois anos. O trabalho final é uma dissertação que, ao contrário da monografia, deve contar com uma pesquisa empírica (coleta de dados) e trazer contribuições para a área do conhecimento estudada. Quem termina o mestrado recebe a titulação de mestre.

Para o doutorado, é interessante ter também o domínio de línguas estrangeiras, principalmente o inglês, pois este pode ser um pré-requisito para seguir com a pesquisa. Para receber o título de doutor, o indivíduo deve defender uma tese. Isso significa que o pesquisador deve expor o que ele concluiu após seus estudos a uma banca examinadora, formada por nomes relevantes do universo acadêmico que também dominam aquele tema.
O doutorado no Brasil é equivalente ao PhD nos Estados Unidos e Europa. Salvo algumas diferenças, o processo é basicamente o mesmo: o pesquisador começa o PhD após o mestrado, estuda por quatro ou cinco anos e também deve apresentar uma tese ao final do período.

Pós-Doutorado
No pós-doutorado, o pesquisador não precisa mais defender teses ou escrever dissertações. Na verdade, ele se volta totalmente para a pesquisa e aprofundamento, não recebendo um novo título ao final do período. Nesse momento, o pesquisador se torna o orientador daqueles que estão agora buscando por um mestrado e doutorado.
Por outro lado, o cientista deve mostrar relatórios sobre seus estudos para a instituição que o financia como forma de provar seu trabalho e justificar o investimento. Esses relatórios também podem ser publicados como artigos acadêmicos. Geralmente, o pós-doutorado dura dois anos.

Livre-Docência
Para aqueles que pretendem continuar se especializando após o pós-doutorado ou que já possuem cinco anos de doutorado, é possível tentar o título de livre-docência.
Esse é o grau mais alto que um cientista pode alcançar, e é obtido através de concurso público. O candidato deve realizar uma prova escrita e defender uma tese sobre determinado tema frente a uma banca examinadora. Sendo aprovado, se torna livre-docente.

Mudança na Auditoria no Reino Unido

Logo depois do escândalo da Carillion, uma empresa de serviços terceirizados, o Reino Unido parecia pronto para uma revolução no mercado de auditoria. Um país de tradição contábil estava ameaçando forçar a separação das Big Four em empresas menores e criar um novo órgão de regulação mais efetivo. Os políticos britânicos ameaçavam as empresas que eram contratadas para chancelar balanços e não viram os problemas na Patissiere Valerie, uma empresa de produtos alimentícios tradicional, na também tradicional agência de viagens Thomas Cook, na Ted Baker e na BHS.

Mas na política a velocidade das promessas nem sempre é igual a velocidade da ação. As medidas imediatas foram sendo deixadas de lado. Agora, segundo o Financial Times (via Valor) uma primeira medida parece estar a caminho: a separação entre a atividade de auditoria e outras atividades exercidas pelas empresas de auditoria. As empresas devem apresentar até outubro plano de separação, que inclui um conta de resultado separada, um dos princípios aprovados pelo FRC, a entidade responsável pela regulação. As mudanças devem acontecer até junho de 2024.

É interessante notar que em março de 2019 Greg Clark, o político que atuava como Business Secretary, tinha anunciado a implantação da implantação de um novo órgão de fiscalização. Mas este assunto não evoluiu substancialmente nos últimos meses. Talvez o exemplo da Wirecard, na Alemanha, tenha sido o alerta que faltava.

Rir é o melhor remédio


06 julho 2020

Adoção das IFRS no Brasil

Em um artigo de 2017, Sayed, Duarte e Kussaba investigam o processo de convergência das IFRS. O artigo é interessante no seu método, já que os autores escutam alguns dos atores que participaram do processo de transição no ano de 2007. Sempre intrigou o fato de que a Lei ficou muitos anos parada e de repente foi aprovada muita rápida no legislativo. Qual seria a razão? Eis uma possível resposta, dada pelos autores do artigo:

Na contramão do que ocorrera em 76, o papel do nosso ministro da Fazenda foi um pouco diferente, mas não podemos dizer que não foi determinante na introdução da nova Lei. Como comentamos acima, o Projeto-lei 3.741 ficou 7 anos parado e ia ficar mais se o Ministro Mantega não fosse cobrado publicamente pelo FMI e Banco Mundial acerca da adoção dos padrões internacionais no Brasil. E após essa cobrança, como vimos o processo foi velocíssimo, alguns consideram até inconsequente, principalmente por ter pego de supetão a comunidade contábil bem no final do ano de 2007, aos 28 de dezembro.

Ou seja, a adoção decorreu de uma cobrança pública de entidades estrangeiras e internacionais. Infelizmente os autores do artigo não nominam a fonte desta informação. Veja que a Europa tinha adotado as IFRS dois anos antes. Será que isto era relevante realmente para o FMI e o Banco Mundial, que nunca tiveram um papel relevante nas normas contábeis de empresas privadas dos países? Creio que este ponto poderia ter sido mais explorado pelos autores no artigo ou quem sabe pode ser explorado mais em pesquisas futuras.

Fonte: SAYED, S.; DUARTE, S. L.; KUSSABA, C. T. A Lei das Sociedades Anônimas e o Processo de Convergência para os Padrões Internacionais Contados pela História Oral e de Vida . Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade, v. 7, n. 1, p. 252-270, 2017.

Passivo da União: A discussão está correta?

Segundo notícia dos jornais, a União, através de decisão do Tesouro Nacional, passou a reconhecer um passivo de R$681,2 bilhões relacionados com as questões tributárias e outras obrigações potenciais. O valor já foi registrado no Balanço da União finalizado em 31 de dezembro de 2019. Parte deste valor não foi registrado no ano passado, que reconhecia um passivo de R$169,9 bilhões.

O forte aumento se deve à decisão do Tesouro Nacional de ser mais conservador e passar a contabilizar perdas prováveis a partir de uma primeira decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que seja desfavorável ao governo, mesmo que ainda caiba recurso (em que é possível, por exemplo, estabelecer que o efeito da decisão só vale dali para frente).

Isto inclui o reconhecimento de uma ação referente ao ICMS e PIS/Cofins e uma demanda com os estados. Mas veja um trecho interessante:

A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ainda tenta delimitar a decisão do STF para que o impacto sobre as contas seja menor, mas por precaução a perda é contabilizada de forma integral.

A palavra mais importante do trecho acima é precaução. Isto significa conservadorismo. Apesar de na Estrutura Conceitual existir um malabarismo para enquadrar a precaução dentro da representação fiel, mas é possível imaginar as duas coisas como idênticas. O caminho escolhido para o balanço é do reconhecimento máximo do passivo. O texto não é claro, mas o mais adequado seria reconhecer o valor presente da dívida, embora tudo leve a crer que foi reconhecido o valor de face.

A decisão fez com que o balanço apresentasse um passivo a descoberto de 2,982 trilhões e isto não seria substancial modificado se o passivo fosse de 170 bilhões e não 681 bilhões. Além disto, lembrando palavras de Kay, o reconhecimento de passivos enormes são fúteis.

Rir é o melhor remédio

Não é seguro a escola

05 julho 2020

Covid ajuda ou piora o aquecimento global?

Um argumento bem difundido é que a pandemia tem ajudado o ambiente. Basicamente o argumento é o seguinte:

Covid-19 => redução da atividade econômica => redução da emissão de CO2 => redução do aquecimento global.

Mas o clima é bem mais complexo. Alguns pesquisadores estão indagando se o Covid não estaria provocando um AUMENTO no aquecimento global. Recentemente notou-se que ocorreu um aumento na temperatura do mar Ártico. Uma possível justificativa estaria no aerossol de sulfato. Este produto cria uma nuvem e mascara o aquecimento global, reduzindo o impacto nas regiões mais geladas. Assim, a lógica acima talvez seja a seguinte:

Covid-19 => redução da atividade econômica => redução dos aerossóis de sulfato => aumento do aquecimento global.


Volta às aulas

Há um grande radicalismo na discussão sobre o retorno ou não das atividades no pós-pandemia. Tim Harford, na coluna para o Financial Times, apresenta alguns pontos relevantes sobre este retorno. Lembrando que Harford vive na Inglaterra, um país onde a pandemia foi muito forte - em termos totais e proporcionais.

O texto de Harford trata essencialmente das escolas para as crianças, mas creio que alguns argumentos poderiam ser usados para os adultos também. Segundo ele, o número de vítimas crianças entre final de março e final de maio foi muito pequeno. Ou seja, a sala de aula não representa um perigo para eles. E os professores? Segundo pesquisas, não estariam em risco grave. Os trabalhadores que mais sofrem com a pandemia são da construção civil, produtos de limpeza, profissionais de saúde, auxiliares de enfermagem, motoristas de táxi, chefs e assistentes de varejo. Também não está claro se manter as escolas fechadas representa um componente importante na luta contra a propagação do vírus.

No final de maio, pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Global analisaram 20 países que haviam reaberto escolas, geralmente porque as infecções por coronavírus estavam diminuindo. Em três deles, havia algumas evidências - ainda que fracas - de que a epidemia havia piorado após a reabertura. Na maioria, se eu lhe mostrasse um gráfico de novos casos, seria impossível adivinhar o ponto em que as escolas retornaram.

Isso não prova que as escolas não apresentam riscos. Em particular, as sociedades muitas vezes podem abri-las somente quando tiverem certeza de que outras medidas estão mantendo o vírus sob controle. Tais medidas, por exemplo, rastreamento de contatos, não devem ser negligenciadas. No entanto, o amplo fato de tantas reabertura terem sido bem-sucedidas sugere que o risco é gerenciável quando feito corretamente.

Enquanto isso, qual o risco de manter as salas de aula fechadas? Isso é mais alto do que muitos parecem perceber. É prejudicial para as carreiras de muitos pais - especialmente as mães, eu suspeito. É difícil ver uma economia se recuperar quando o emprego de tantas pessoas depende de seus filhos serem supervisionados com segurança na escola.

Quanto aos próprios alunos, temos evidências de inúmeras greves escolares em todo o mundo que a educação das crianças sofre quando a escolaridade é interrompida. Há um debate ativo na academia sobre se as longas férias de verão atrasam o aprendizado de todos os alunos ou apenas daqueles que já estavam em desvantagem. De qualquer maneira, é provável que uma interrupção escolar de seis meses ou mais prejudique seriamente as habilidades de muitos, prejudicando permanentemente suas chances de prosperar.

Veja que a discussão de Harford é focada nas crianças (não nos universitários) e na Inglaterra, onde a curva da doença está mostrando um controle da mesma. Mas precisamos, neste momento, de bons argumentos.

Ginástica Contábil x Realidade Econômica