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04 julho 2019

Desonestidade

Como as pessoas reagem quando acham uma carteira de alguém? A reação varia conforme o local e também o conteúdo da carteira explica o comportamento das pessoas. Um estudo, publicado na Science tratou deste assunto. Alain Cohn, Michael André Marechal, David Tannenbaum e Christian Lukas usaram assistentes que “acharam” uma carteira em 355 cidades de 40 países do mundo. E verificaram a honestidade das pessoas. No total foram 17 mil carteiras, a um custo de meio milhão de dólares.

Em cada carteira tinham listas de compras, em língua local, e cartões com o nome da pessoa que perdeu (incluindo o e-mail). Em algumas carteiras, nenhum dinheiro. Em outras, cerca de 13 dólares em moeda local. Os assistentes entregaram as carteiras para funcionários de bancos, hotéis, agências dos correios, museus e delegacias de polícia. Afirmavam que tinham encontrado a carteira e estavam com pressa para entrar em contato com o dono. E deram a responsabilidade para que recebeu a carteira. Nas carteiras sem dinheiro, o índice de devolução foi de 40%. Nas carteiras com dinheiro, a devolução foi de 51%.

Este índice variou conforme o país: na Dinamarca o percentual de devolução foi de 82%, mas nos Estados Unidos foi de 57%.



Além disto, os pesquisadores também aumentaram a quantidade de dinheiro em três países (EUA, RU e Polônia) e uma grande surpresa: o percentual de devolução aumentou, em lugar de diminuir. Pela teoria formulada por Gary Becker deveria ser o oposto, já que o comportamento desonesto é uma especie de análise do custo benefício.

Outro fato interessante: algumas carteiras não tinham dinheiro, mas tinha um chave. A presença da chave também aumentou o índice de devolução.

O gráfico mostra em amarelo o percentual de devolução com a carteira sem dinheiro; de vermelho, com dinheiro. Países escandinavos são honestos; China foi o mais desonesto. O Brasil ficou em 26o lugar; nada mal, para quem tem a fama de ser um país dos desonestos.

Um estudo realizado no Brasil mostrou também que os grupos sociais podem afetar esta honestidade das pessoas. Trata-se da tese de doutorado de Mariana Bonfim.

Fonte: Civic honesty around the globe. Science 20 JUN 2019. DOI: 10.1126/science.aau8712

Rir é o melhor remédio


03 julho 2019

Medida não GAAP

A tabela a seguir mostra um crescimento substancial na utilização de métricas não-GAAP nos Estados Unidos desde a crise financeira. Mais de dois terços das empresas estão usando para remunerar seus executivos.


O problema é que a medida não-GAAP é agressiva e pode significar governança ruim.  Um exemplo é uma empresa que, em lugar de usar o Fluxo de Caixa das Operações, utiliza Ebitda ou Ebitda Ajustado. Em situações práticas é muito mais difícil obter um fluxo positivo que um Ebitda.

Alguns defendem que o problema não é a medida, mas a transparência. Uma corrente mais forte defende a proibição desta medidas para fins de remuneração.

Novo contador da SEC

Em maio, Sagar Teotia assumiu provisoriamente o cargo de Contador da SEC, com a saída Wesley Bricker. Hoje a SEC divulgou um comunicado informando que Teotia foi nomeado Contador Chefe, comandando 45 pessoas.

Na SEC desde 2017, originário da Deloitte, sendo bacharel em contabilidade por Illionois (Urbana-Champaign).

The Commission’s Office of the Chief Accountant is responsible for establishing and enforcing accounting and auditing policy as well as improving the professional performance of public company auditors. The office works to enhance the transparency and relevancy of financial reporting and ensure that financial statements are presented fairly and have credibility for the benefit of all investors.

Mudança na frequência das demonstrações contábeis - Parte 2

Postagem de Pedro Correa mostra uma discussão sobre a frequência das demonstrações contábeis.  A discussão começou com um tweet do presidente Trump. Mas a crítica é bem mais antiga: Kaplan já comentava sobre este fato em Relevance Lost (década de 80).

Dillow faz um apanhado de pesquisas que mostram que talvez isto não seja um problema. A simples eliminação das ITRs (demonstrações trimestrais) talvez não seja a solução. O surgimento das mídias sociais e sua utilização por parte das empresas foi estudado, no Brasil, na tese de Souza. Provavelmente as informações contábeis estão sendo cada vez mais relevantes para fins confirmatórios do que preditivos. O grande problema é que os reguladores acreditam o oposto e devem insistir nas demonstrações trimestrais.

Uma solução intermediária seria ITRs simplificadas, sem informações com baixa utilidade.

Crescimento Econômico no tempo

Nos dias de hoje, uma pessoa média no mundo é 4,4 vezes mais rica que um indivíduo que vivia em 1950. Um gráfico deste site mostra esta comparação entre a vida em 1950 e a vida nos dias de hoje. É nítido que esta melhoria na renda das pessoas não ocorreu igualmente no mundo. Um argentino médio hoje é 2,2 mais rico do que em 1950, estando abaixo da evolução mundial. Já um brasileiro seria 8,7 vezes. Alguns poucos países pioraram: Zimbabwe, Afeganistão, Haiti, República Democrática do Congo, Djibouti, Burundi e Niger. Não é coincidência serem países com graves conflitos internos.

Entre aqueles que tiveram melhorias substanciais Taiwan (30x), Cingapura (27,5x), Coréia do Sul (32,2x). A China evoluiu bastante (16,3x), diminuindo a distância de alguns países desenvolvidos (Estados Unidos = 3,5x). Esta evolução já está ajustada pela inflação; ou seja, isto é um ganho real. Mas existe uma conclusão importante que não pode ser esquecida:

Os dados visualizados nesses dois gráficos mostram que o mundo não é a economia de soma zero que foi em nosso passado . Não é mais o caso que o ganho de uma pessoa ou de um país seja automaticamente a perda de outra pessoa. O crescimento econômico transformou o mundo em uma economia de soma positiva, onde mais pessoas podem ter acesso a mais bens e serviços ao mesmo tempo.

Títulos de filmes

Nos últimos anos, os filmes de sucesso são cada vez mais "sequências" de outros filmes. Nos Estados Unidos, dos 100 filmes com melhor bilheteria em 2017, 30% eram sequências. Em 2005 este percentual era de 10%.

Uma consequência disto: os títulos usam cada vez mais pontuação: virgula, dois pontos, exclamação e outros sinais. Exemplos:

John Wick 3: Parabellum
Mamma Mia! Here We Go Again
Shazam!
Spider-Man: Far from Home
Avengers: Endgame
Once Upon a Time ... in Hollywood

Rir é o melhor remédio

02 julho 2019

Necessidade da Estrutura Conceitual

O discurso de Russell Golden, presidente do Fasb, na conferência de 2019 do IMA apresenta algumas questões interessantes sobre a contabilidade. Um dos grande temas tratados na Conferência foi o papel da tecnologia. Golden acredita que a tecnologia não irá substituir o ser humano em razão do “bom senso profissional”. Mas a tecnologia pode trazer ferramentas que ajudam nas informações.

Mas este não foi o foco do discurso de Golden. Ele faz um retrospecto do seu mandato e dos padrões contábeis do Fasb. Para o presidente do Fasb, um padrão contábil para funcionar deve trazer insights aos investidores. E o padrão não pode ser complexo ou ter problemas (bugs). “Um padrão que não funciona cria ansiedade, frustração e atrito na contabilidade”, afirma Golden. Como consequência, a busca de padrões mais simples. Este era o objetivo de Golden, quando assumiu o Fasb. O presidente da entidade afirma que “simplificação não é tão simples”. E o discurso é um histórico desta busca.

Destaco aqui que ele afirma que parte do problema está na estrutura conceitual incompleta, tanto dos EUA quanto o Iasb. Golden afirma que desde 2013 ocorreu algum progresso. Mesmo assim, alguns itens já aprovados, como mensuração e apresentação dos elementos patrimoniais, foram considerados, por Golden, inadequadamente tratados. Ou seja, a aproximação do Fasb com o Iasb que resultou na estrutura conceitual pode ser algo perdido, com o passar do tempo.

Hoje, a estrutura conceitual do Fasb hoje está mais avançada que a do Iasb. Mesmo assim, parece que isto não é suficiente para o presidente do Fasb.

Aqui o discurso completo.

Ainda Aramco

A Arábia Saudita estará a preparar uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Aramco, a petrolífera que é a empresa mais lucrativa do mundo. A informação está a ser avançada pela Bloomberg, que cita fontes próximas do processo.

A Aramco terá encetado recentemente negociações com um grupo restrito de bancos de investimento para discutir os papéis que cada um terá naquele que será o maior IPO de sempre, segundo as mesmas fontes.

O IPO deverá ser realizado em 2020 ou 2021. Este é pelo menos o desejo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Esta não é a primeira vez que a Aramco é notícia por causa do seu IPO. A operação de venda de ações foi anunciada, adiada, suspensa e finalmente cancelada no verão do ano passado.

O IPO da Aramco foi apelidado de "operação do século", prevendo-se que a venda de 5% do capital da petrolífera rendesse 100 mil milhões de dólares. Este montante avaliaria a empresa em dois biliões de dólares. E este continua a ser o objetivo da Arábia Saudita.


Fonte: Aqui

Rir é o melhor remédio

Estudando um CPC

01 julho 2019

Mudança na frequência das Demonstrações Contábeis

Há discussões nos EUA pelo fim da divulgação trimestral de demonstrações contábeis:


The United States is in the middle of that rarest of events: a public conversation on accounting standards. Since 1970, public companies in the US have been required to report quarterly. The Securities and Exchange Commission is now considering changing that frequency to biannual reporting, and in December 2018 issued a request for public comment on the matter.

Admittedly, the issue isn’t exactly igniting the passions of the masses, but the implications of these discussions could significantly affect the US economy. For the first time in many years, policy makers are seriously reconsidering the rules on corporate financial reporting. The SEC is examining how to change the system to lighten the burdens on corporations, and to reduce what it calls the “overly short-term focus by managers” of listed companies.

My research suggests there would be great benefits to the US ending mandatory quarterly reporting. It would help to kick-start innovation among US companies, for one. That should be of particular interest to the SEC, which stated in its request that it is interested in how the current system “may affect corporate decision making and strategic thinking.”

The SEC’s study follows comments from President Donald Trump last year that US companies should be required to report only every six months rather than quarterly. Some would like to go further: moving from quarterly to annual reports would lead executives to focus more on the long run, according to about one-third of prominent economists polled by Chicago Booth’s Initiative on Global Markets. (See “Should companies report annually instead of quarterly?” Published online, February 2019.)

Lessening the frequency of reporting would certainly be popular with corporations. As Jamie Dimon, chairman and CEO of JPMorgan Chase, and Warren Buffett, chairman and CEO of Berkshire Hathaway, observed in an opinion piece for the Wall Street Journal last year, “quarterly earnings guidance often leads to an unhealthy focus on short-term profits at the expense of long-term strategy, growth and sustainability.”

[...]

But because the markets have such a quarter-to-quarter focus, more market discipline is only one side of the coin. In economic terms, market discipline ensures price efficiency (prices consistent with risk). However, there is a catch: such price efficiency may come at the cost of economic efficiency (increasing the size of the pie).

The really important cost of quarterly reporting is that companies underinvest in innovation, reducing economic efficiency. If we force companies to disclose frequently, they worry about their next earnings numbers. And if they miss expectations, they’re punished by the market.

[...]

Less-frequent reporting would also give companies less of an incentive to go private and more of an incentive to go public. This would enable them to share risk with a broader pool of investors, and not just with big institutions and hedge funds.

Changing the frequency of reporting also provides the opportunity to ask whether one size should fit all. The SEC wisely suggests that companies could be given flexibility over the frequency of their reporting. We have an opportunity to run a grand experiment in accounting. Some companies could continue to report quarterly, some could move to biannual reporting, and others to alternative time periods, such as every four months. This would enable us to truly measure the costs and benefits.

Semiannual reporting might not help big established companies, but it could help the most innovative companies in our economy by encouraging them to allocate more capital to risky, innovative projects. This could provide a big boost for the long-term health of the US economy.




Fonte: aqui