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26 abril 2019

A prospecção da Aramco

A Saudi Aramco é uma conhecida dos leitores do blog. Já em 2017 fizemos postagens sobre o valor da empresa, sua governança, entre outros aspectos. O tempo passou e parecia que a empresa tinha esquecido a IPO, apesar da revelação de alguns números contábeis. Parecia que realmente a IPO tinha sido cancelada. As questões políticas podem ter prejudicado os planos do governo saudita.

Nos últimos meses a empresa volta a ser notícia com três fatos: (1) expansão, com aquisição de empresas; (2) divulgação dos resultados; e (3) emissão de títulos. Vamos analisar cada um dos aspectos.

Expansão - Em março, a empresa adquiriu a Saudi Basic Industires, na segunda maior operação dos últimos tempos, no valor de 69,1 bilhões de dólares, livre de dívida. Mais recente, a empresa estaria interessada em uma emrpesa indiana.

Divulgação dos resultados - Esta talvez seja a notícia mais comentada da empresa. Mais especificamente, a imprensa destacou o lucro de 111 bilhões de dólares de 2018, o que faria a empresa mais lucrativa do mundo.

Emissão de títulos - Em lugar da abertura de capital, a Aramco emitiu bonds recentemente, com maturidade de até 30 anos. Este talvez seja o fato mais importante e iremos detalhar a seguir.

Para emitir o título, a empresa preciso de uma nota de agência de rating. O Estado de S Paulo faz uma boa análise sobre a questão do rating da

Apesar do grande lucro, a gigante estatal do petróleo foi classificada por agências de crédito em linha com a Arábia Saudita, o que significa que a economia lenta do reino pesará sobre o custo de empréstimo da Aramco.
Os ratings são considerados nível de grau de investimento e indicam baixo risco de crédito, mas as agências não deram notas mais altas à Aramco devido a fortes ligações entre o reino saudita e a empresa. Especificamente, a Fitch observou "a influência que o Estado tem na empresa ao regular o nível de produção, tributação e dividendos". Sem as interferências estatais no comando da empresa, ela estaria em nível semelhante a petroleiras como Exxon Mobil, Chevron e Shell.
A Moody's disse que a Aramco pagou US $ 58,2 bilhões em dividendos em 2018 e US $ 50,4 bilhões em 2017. Ainda não está claro como esses dividendos são distribuídos dentro da monarquia saudita e de sua família governante. Já a Fitch disse que a Aramco respondeu por cerca de 70% da receita orçamentária do governo saudita entre 2015-2017, mas não ficou claro se esse número incluía os dividendos mencionados pela Moody's.

A questão importante disto é o prêmio pago pela empresa. Na emissão de três anos, o prêmio ficou 0,55% acima dos juros dos EUA (que corresponde a 2,288%). No título de cinco anos, o prêmio foi de 0,75%. Para os títulos de 10 anos, o prêmio foi de 1,05% e de 20 anos foi de 1,4%. (Fonte aqui) Nada mal, considerando a previsão da empresa, muito embora a emissão tenha sido feita após a divulgação do resultado (onde, veremos, existe um “detalhe” importante que ficou “esquecido”). E que a empresa cancelou/adiou a oferta de ações, o que poderia sinalizar problemas.

Neste sentido, a Reuters escutou alguns especialistas que concordaram que o lançamento do bônus foi positivo para a empresa. Um CIO disse que é um “crédito fantástico”, lembrando que a empresa é parte do governo da Arábia Saudita. Mas esta questão (e o problema da governança) é muito maior no lançamento de ações, o que não seria o caso.

Razão da Emissão - A questão mais interessante é qual a razão da empresa fazer uma emissão de títulos? Afinal é a empresa com o maior lucro do mundo, que gerou um caixa livre de 86 bilhões de dólares e possuía, em 31/12/2018, 48 bilhões de dólares em caixa.

"Esse título está sendo emitido por duas razões: para estabelecer o status da Aramco como uma identidade corporativa independente e para permitir a transferência de riqueza para fora da empresa", disse Marcus Chenevix, no texto da Reuters

Continua a agência de notícia:

Muitos vêem o acordo como um exercício de construção de relacionamento com investidores internacionais antes de sua oferta pública inicial programada, prevista para o ano passado e depois adiada para 2021.

Detalhe importante - Comentei, anteriormente, sobre um detalhe "esquecido" do resultado da empresa. Este detalhe é a alíquota do imposto de renda. Até 2017, o percentual da alíquota era de 85%. Recentemente o governo reduziu a alíquota para 50% (veja o prospecto, onde isto está dito).

Agora imagine um governo cuja a principal fonte de renda é uma empresa que paga 85% do seu lucro. De um exercício para outro a alíquota é reduzida. Usando a alíquota de 85%, a Aramco deveria ter um tributo de 181 bilhões de dólares, reduzindo seu lucro para 31 bilhões. Ou seja, o governo abriu mão de 80 bilhões de dólares de receita tributária. (Para fins de comparação, o PIB da Arábia Saudita é de 680 bilhões. Ou seja, "perdeu" 12% do PIB de receita)

A questão da governança aqui torna complicada esta questão. Se o dinheiro não foi para o governo, foi para o acionista, que é ...

Big Data e Ciência

Zhang mostra com a grande presença de dados criou uma crise na ciência. O seu argumento parte de uma história envolvendo o estatístico Ronald Fisher. Uma senhora fez uma afirmação de que seria capaz de separar corretamente uma bebiba. Usando oito xícaras, Fisher distribuiu xícaras aleatoriamente para que a senhora provasse, sendo quatro de um sabor e quatro de outro. Lidando com uma distribuição hipergeométrica, ao acertar todos as xícaras, Fisher calculou que a chance do acerto ser por advinhação seria de 1,4%.

O processo usado por Fisher corresponde a construir uma hipótese, coletar dados e analisar o resultado. O problema é que o grande número de dados torna difícil fazer isto nos dias atuais.

Por exemplo, os cientistas podem agora coletar dezenas de milhares de expressões genéticas de pessoas, mas é muito difícil decidir se alguém deve incluir ou excluir um gene em particular na hipótese. Nesse caso, é atraente formar a hipótese baseada nos dados. Embora tais hipóteses possam parecer convincentes, as inferências convencionais dessas hipóteses são geralmente inválidas. Isso ocorre porque, em contraste com o processo do “de degustação da senhora”, a ordem de construir a hipótese e ver os dados se inverteu.

Se um cientista hoje usar 100 senhoras que não sabem distinguir o sabor após provar todas as oito xícaras. Mas existe uma chance de 75,6% de pelo menor uma pessoa advinhar, por sorte, o sabor. Se a análise fosse feita somente para esta pessoa, poderia concluir que ela tem condição de fazer a distinção entre os sabores. O problema é que o resultado não é reproduzível.

Se a mesma senhora fizesse o experimento novamente, ela provavelmente classificaria os copos erroneamente - não tendo a mesma sorte que na primeira vez - já que ela não poderia realmente dizer a diferença entre eles.

O exemplo mostra como algumas pesquisas, nos dias atuais, dependem de “sorte” para produzir resultados desejados.

Conta no Instagram fiscaliza gasto caros de pastores


  • Uma conta do Instagram está postando fotos de pastores dos EUA com suas roupas de grifes
  • E o valor de cada produto

Uma conta do Instagram, denominada PreachersNSneakers, está provocando uma mudança de comportamento de um grupo de pessoas: pastores de igrejas. Nos Estados Unidos, não no Brasil. A conta basicamente posta fotografias de pastores de celebridades usando roupas de grife caras. Ao lado, o custo de cada material. Veja uma postagem do pastor John Gray com um tênis que custa 5,6 mil dólares ou quase 22 mil reais.

Os pastores e seguidores mais fieis dizem que são presentes que ganham ou que são compras realizadas com dinheiro que obtiveram. Mas não deixa de ser um gasto frívolo e esbanjador, usualmente condenado por muitas religiões. Vários dos pastores possuem amizade com celebridades, como Chad Veach, amigo de Justin Bieber. Alguns deles mudaram suas contas no Instagram.

Fonte: Oh No They didn´t  (um site sobre celebridades)

Rir é o melhor remédio

Amém.

25 abril 2019

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 6


Se você chegou até aqui, lendo todas as postagens, deve ter notado um aspecto importante: um grande destaque dos relatórios foi a greve dos caminhoneiros. Qual a razão?

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 5

  • Usando os dados de algumas demonstrações com exercício findo em 31/12/2018, o blog fez uma seleção de trechos onde alguns dos fatos que ocorreram no ano foram considerados por parte das empresas. 
  • Começamos com as eleições e na parte 1 já demos os parabéns para as empresas que não ignoraram o fato político. 
  • Na segunda parte comentamos como algumas empresas aproveitaram da eleição. 
  • Na parte 3 comentamos que algumas empresas fizeram comentários otimistas e poucas foram pessimistas/realistas. 

Nesta análise merece destaque o relatório da Sabesp, que apresentou como as eleições são relevantes em uma empresa com propriedade do estado. O trecho é longo, mas vale a pena:

Refletindo as mudanças no ambiente governamental motivadas pelas eleições para governador do estado e para a presidência da república, em 2018 a alta direção da Companhia passou por duas alterações relevantes. A primeira em maio, quando a Sra. Karla Bertocco assumiu a posição de presidente da Sabesp, em substituição ao Sr. Jerson Kelman. A segunda ocorreu em dezembro, quando a Sra. Karla deixou o cargo que, no início de janeiro de 2019, passou a ser ocupado pelo Sr. Benedito Braga. (...) A empresa [sobre a Lei Estadual 16.525 que criou uma empresa para exercer o controle acionário da Sabesp] ainda não foi criada e, devido às eleições para o governo estadual no segundo semestre de 2018, a operação foi suspensa e a Companhia está atualmente aguardando orientações do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização. (...) Em meio a um ambiente político bastante incerto em função das eleições para os governos estadual e federal, a Companhia  registrou  o  início  de  mais  uma  parceria  histórica:  um  acordo  com  o  Município  de  Guarulhos  para  equacionamento da dívida com a Sabesp e a transferência da operação dos serviços de água e esgoto do município para a Companhia. (...) Na Renda Fixa, preponderaram as estratégias focadas em títulos públicos federais, que se valorizaram pelo  resultado  das  eleições  presidenciais,  considerando  favorável  pelos  agentes  de  mercado  a  uma agenda de reformas e de cunho liberal. 

Observe que o trecho fala na mudança da gestão - em razao da política do estado - e incerteza quanto as alterações societárias.

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 4


  • Usando os dados de algumas demonstrações com exercício findo em 31/12/2018, o blog fez uma seleção de trechos onde alguns dos fatos que ocorreram no ano foram considerados por parte das empresas. 
  • Começamos com as eleições e na parte 1 já demos os parabéns para as empresas que não ignoraram o fato político. 
  • Na segunda parte comentamos como algumas empresas aproveitaram da eleição. 
  • Na parte 3 comentamos que algumas empresas fizeram comentários otimistas e poucas foram pessimistas/realistas. 


Agora vamos destacar as empresas que enfatizaram os efeitos da eleição no desempenho da empresa ou da economia. A Moinho Paulista enfatiza o efeito na economia:

O ano de 2018 foi marcado por eventos extraordinários  como  a  greve  dos caminhoneiros,  importante  desvalorização cambial, grandes aumentos nos preços de trigo e eleições gerais, que afetaram o crescimento da economia brasileira. 

Achei bem interessante a redação da Mills Estruturas:

Outros fatores que contribuíram para os desafios de 2018 eram exógenos à nossa indústria com ano de eleição presidencial, bem como com uma greve de caminhoneiros no meio do percurso. 

A Votorantim o efeito sobre o setor:

O  gradual  processo  de  recuperação  da  economia  nacional,  em  ritmo  abaixo  do  esperado  após  a  greve  dos caminhoneiros  e  as  incertezas  decorrentes  das  eleições,  impactou  as  vendas  de  cimento  no  Brasil

A BB Investimento foi mais “econômica”:

Adicionalmente,  as  incertezas  atreladas  ao  processo  eleitoral  tiveram  impactos  adversos  sobre  o  nível  de  investimentos  e  as  expectativas  das  famílias.

A Alupar foi mais genérica:

No cenário doméstico, o ano foi impactado pela greve dos caminhoneiros e pelas incertezas das eleições presidenciais.

e a Restoque bem específica, comentando sobre seu resultado:

Alinhado  com  esse  resultado,  a  Companhia  obteve  um  lucro  líquido  de  R$  103,5  milhões, apesar do impacto não recorrente de R$ 18,2 milhões de variação cambial ligado ao cenário de maior volatilidade neste ano de eleições. 

A Concessionária Auto Raposo Tavares (e a Invepar, pois os trechos são iguais) tratou do efeito sobre uma variável, o fluxo de veículo:

Ainda de acordo com a ABCR, o desempenho do fluxo de veículos foi prejudicado pelos choques negativos que afetaram a economia no ano de 2018, como a indefinição política causada pelas eleições, a greve dos caminhoneiros e pela conjuntura internacional menos favorável às economias emergentes. 

O Iguatemi já foi “heróico”. Diante dos problemas, que incluiu as eleições, mesmo assim eles foram capazes de entregar bons resultados:

O ano de 2018 foi desafiador. Apesar de uma economia ainda fragilizada que cresceu menos do que se esperava  no  início  do  ano  e  de  alguns  eventos  pontuais  que  trouxeram  bastante  volatilidade  (Copa  do mundo, greve dos caminhoneiros, eleições) fomos capazes de entregar um crescimento de 18% do nosso Lucro Líquido e seguir na trajetória de redução do endividamento da companhia. 

A equação “eleição = incerteza” também foi destacada pela Coelba:

Em 2018, a economia brasileira foi marcada pelo baixo crescimento e por grandes incertezas geradas tanto por eventos internos quanto externos. Externamente, a guerra comercial entre EUA e China e o aumento da taxa de juros americana pelo FED desaceleram a economia mundial. Internamente, a greve dos caminhoneiros e as incertezas sobre as eleições frustraram as expectativas de crescimento. 

E na Telefônica:

O ambiente doméstico em 2018 foi marcado por incertezas políticas em função da eleição presidencial, enquanto o ambiente externo tornou-se gradativamente menos favorável às economias emergentes, com a normalização da política monetária nos países avançados e em meio a tensões comerciais entre EUA e China. 

Algo na mesma linha da Notre Dame (e BCBF Participações, já que os trechos são iguais)

Apesar da instabilidade política gerada pelas eleições em 2018, o Brasil assistiu a uma continuidade no processo de melhoria dos principais indicadores macroeconômicos, todavia longe do potencial de crescimento do país. 

A Slaviero, apesar de fazer um vinculação com as eleições, foi menos simplista:

Ao longo do ano de 2018, o cenário político permaneceu agitado em decorrência do cenário das eleições Presidenciais, Governadores e Congresso Nacional, bem como a continuidade de denúncias envolvendo os poderes executivo, legislativo e algumas companhias e órgãos da administração pública. Esses acontecimentos trouxeram incertezas no cenário econômico prejudicando assim o desenvolvimento do País.

Na mesma linha, a SER faz uma análise onde as eleições é uma parte da equação:

Já no segundo semestre do ano, o setor de ensino superior também apresentou retração de demanda, novamente em função de um desempenho anêmico da economia a partir de junho, dessa vez por conta de eventos como a greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo e eleições para presidente da república e governadores dos estados, eventos extemporâneos que acabaram por reduzir a demanda durante o segundo semestre do ano. 

A Estácio foi concisa, mas também no mesmo sentido:

Adicionalmente, outros fatores como a eleição presidencial e a greve dos caminhoneiros contribuiu para restringir o avanço da recuperação econômica.

Ainda na linha “incerteza = eleição”, um trecho da Weg parece indicar que a recuperação lenta foi em decorrência das eleições:

No Brasil, apesar dos juros e da inflação estarem nos níveis mais baixos dos últimos anos, o desempenho econômico foi marcado por uma recuperação lenta, influenciados principalmente pelas incertezas na política com as eleições presidenciais e a paralisação dos caminhoneiros, que afetaram a produção, o consumo e o PIB. 

O Banco Rendimento foi dramático na sua análise:

O ano de 2018 foi marcado por extrema volatilidade. Apesar de ter começado com uma certa estabilidade e prometendo a retomada do crescimento depois de um longo período de recessão, as denúncias de corrupção, a greve dos caminhoneiros e as eleições gerais no segundo semestre praticamente paralisaram a economia nacional.

A Ultrapar faz uma análise um pouco diferente. Parecia que o país estava bem até meados do ano e depois da greve dos caminhoneiros ocorreu redução no crescimento até as eleições.

Esse problema, aliado às incertezas das eleições majoritárias, levou o Brasil a ter um crescimento apenas moderado em 2018. O ano de 2018 foi marcado pela greve dos caminhoneiros, que paralisou o país e impactou diversos setores da economia, reduzindo a intensidade da recuperação da atividade econômica brasileira observada até meados de maio, com reflexos negativos nos índices de confiança dos consumidores e dos empresários, que voltaram a apresentar crescimento após a definição das eleições nacionais.

Para terminar esta postagem, a única empresa que enxergou a polarização dos sentimentos por conta das eleições foi a T4f:

No Brasil, fomos afetados pelos acontecimentos da Greve dos Caminhoneiros, seguido pela Copa do Mundo, e, no último semestre, pela forte polarização das eleições, que concentraram as atenções da mídia e, consequentemente, do nosso público. (...) É importante lembrar que, conforme explicamos anteriormente, em 2018 fomos impactados por uma redução na demanda por ingressos de música ao vivo a partir de junho, que acreditamos ser consequência dos eventos da Greve dos Caminhoneiros (Brasil), seguida pela Copa do Mundo, a crise na Argentina e pela forte polarização das eleições no Brasil.

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 3


  • Analisamos as demonstrações contábeis de 2018 e como as empresas trataram as eleições
  • Na postagem anterior, comentamos três casos de empresas que "aproveitaram" das eleições
  • Na primeira postagem informamos que a maioria das empresas ficaram silenciosas sobre o assunto

É interessante notar que encerradas as eleições qual foi a percepção das empresas sobre o novo cenário. Algumas empresas indicaram que as incertezas iriam continuar. Outras, que encerrado o processo teríamos um novo ciclo de otimismo.

Entre os otimistas, algumas entidades onde o governo atua fortemente, como as filiais do BB:

BB Investimento - Passadas  as  eleições,  ocorreu  uma  nítida  recuperação  dos  níveis  de  confiança  de  consumidores  e  empresários,  tendo  em  vista  o  comprometimento do governo eleito com as reformas estruturais necessárias para reequilibrar as contas públicas e, consequentemente, colocar o País de volta numa trajetória de crescimento sustentado. 

BB Seguridade - Tal desempenho é em grande parte justificado pela retração de 7,7% nas contribuições de previdência aberta, segmento que foi impactado pelo ambiente de indefinição que perdurou até as eleições de outubro de 2018 e limitou a captação para produtos de longo prazo, além de um nível de desemprego ainda elevado. 

Brasilprev - Após as eleições, os pronunciamentos do governo eleito aumentaram a percepção de que as reformas, em especial da previdência, poderão ter uma tramitação mais acelerada, buscando a melhoria das condições fiscais do Brasil e boas perspectivas de crescimento econômico sustentado.

Algumas entidades apresentaram uma análise positiva para os próximos dias (após 31/12). Eis o caso da Metalfrio:

Tendo navegado com sucesso através da turbulência de múltiplas eleições presidenciais em muitos dos nossos principais mercados durante 2018, esperamos padrões de demanda mais normalizados nos próximos trimestres. Continuamos atentos aos desafios externos, como a volatilidade cambial e as pressões inflacionárias, que provavelmente continuarão no curto prazo, bem como as tensões comerciais atuais e os desdobramentos macroeconômicos que causam incerteza no mercado.

[Adorei o "tendo navegado"]

O Bancoob faz uma longa análise, mas com um enfoque otimista após a eleição. A entidade chega a usar o termo otimismo:

A inflação seguiu baixa, a taxa de juros nos mínimos históricos, houve recuperação moderada do crédito, as contas externas permaneceram sólidas, a taxa de desemprego apresentou redução modesta e os índices de confiança melhoraram, principalmente após o desfecho do processo eleitoral. (...) Com o término do processo eleitoral houve uma melhora dos indicadores, embora de forma desigual. (...) Em suma, o ano de 2018 foi marcado por maior instabilidade nos mercados e aumento da apreensão entre os agentes econômicos, seja por fatores externos ou internos. A piora do ambiente externo e a tensão pré-eleitoral acentuaram a volatilidade e pressionaram os ativos do país, movimento parcialmente revertido apenas com o desfecho das eleições. Embora persistam dúvidas quanto à governabilidade durante este novo mandato, a visão de continuidade da agenda liberal e do apoio às reformas necessárias – principalmente de cunho fiscal – proporcionou a melhora da confiança da sociedade na parte final do ano. O maior otimismo, seja de consumidores, empresários e investidores, representa um importante ponto de partida para 2019.

A empresa BRMalls acredita que após as eleições haverá expectativas de melhorias estruturais:

O ano de 2018 também se mostrou mais um ano desafiador para o varejo, com eventos atípicos como a greve dos caminhoneiros e a incerteza das eleições, mas terminou com expectativas de melhorias estruturais importantes para os próximos anos. 

O mesmo ocorreu com a Santos Brasil. Sua análise associa o otimismo com a nova equipe econômica anunciada:

Em 2018, o período que antecedeu a eleição presidencial foi marcado por incertezas políticas que impactaram o rumo da economia e, especialmente no nosso negócio, em conjunto com uma maior volatilidade cambial, arrefeceram a movimentação e armazenagem de contêineres então estimadas para os meses de novembro e dezembro. Com o fim das eleições e a divulgação das equipes que formariam os pilares do novo Governo Federal, principalmente a econômica, começou a aflorar um maior otimismo em relação ao futuro da economia doméstica. 

Já a Telefônica deixa implicito que o motivo do otimismo foi o candidato que saiu vitorioso nas urnas:

No ambiente doméstico, o ano foi marcado por dois grandes desafios: a greve dos caminhoneiros, que paralisou diversos segmentos no segundo trimestre e afetou a atividade econômica, e, em seguida, a eleição presidencial, que gerou elevadas incertezas diante de uma disputa polarizada da qual o candidato de viés liberal, Jair Bolsonaro, saiu vitorioso. Isso foi positivo para as perspectivas de continuidade das reformas econômicas ao longo deste novo ciclo presidencial.

Da mesma forma, a EDP faz uma associação entre um otimismo e a vitória de Bolsonaro nas urnas:

No cenário político nacional, as eleições presidenciais, que culminaram com a vitória de Jair Bolsonaro, trouxeram fôlego e expectativas para retomada do crescimento do país. 

A Cielo também indica redução de incerteza após as eleições:

No campo econômico e político, tivemos o início de um processo gradual de retomada do crescimento, com redução dos níveis de incerteza, passadas as eleições presidenciais. 

A Fábrica Carioca de Catalisadores também é otimista, mas associa uma recuperação com o fim do processo político eleitoral:

Em 2018, diante do cenário macroeconômico, no Brasil, a atividade econômica retomou a trajetória de recuperação, embora ainda lenta, mais com a redução dos níveis de incerteza, passadas as eleições presidenciais.

Mas existem exceções. Destaco em particular duas empresas. A TOTVS reconhece a popularidade dos novos governantes, mas vê desafios de um congresso com muitos partidos e coloca o termo nova política entre aspas, como se duvidasse da sua existência. Nós também.

Passadas as eleições, o Brasil entra em uma nova fase política, caracterizada pela renovação no ambiente legislativo, intensa fragmentação partidária e a tentativa de implementação de uma ‘nova política’ pelo Executivo. Embora com alta popularidade, a governabilidade de Jair Bolsonaro pode enfrentar desafios com os mais de 30 partidos no Congresso. 

Outra empresa que está receosa é a Embraport:

As expectativas foram piorando com a economia mostrando um ritmo mais fraco do que o esperado, sobretudo, pela incerteza com o futuro político do país e qual seria a agenda econômica adotada pelo novo Governo. A greve dos caminhoneiros também contribuiu para a piora da previsão de crescimento da economia no ano, que recuou para 1,3%.  (...) Após a vitória de Bolsonaro, chegou a recuar abaixo de R$ 3,70, mas termina o ano ao redor de R$ 3,90 em meio às incertezas com o xadrez político e o cenário externo. 

A Claro apresentou um texto isento. Mas associou economia com baixo crescimento e eleição. Pelo menos até setembro:

O país começou 2018 com a economia em lenta recuperação e expectativas positivas, apesar dos temores por se tratar de ano de eleição presidencial. As expectativas, no entanto, foram piorando devido à incerteza com o futuro político do país e à insegurança de qual seria a agenda econômica de um novo governo. Essa lentidão na recuperação da economia manteve-se ao longo do ano, agravada pela greve de caminhoneiros, que praticamente paralisou o país no primeiro semestre. Só a partir de setembro é que a corrida presidencial começou a demonstrar qual seria a tendência mais provável do desfecho eleitoral. 

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 2


  • Pesquisamos as demonstrações contábeis de 2018 para ver como as empresas trataram as eleições
  • Nesta postagem, mostramos três casos de empresas de "aproveitaram" as eleições

Usando os dados de algumas demonstrações com exercício findo em 31/12/2018, o blog fez uma seleção de trechos onde alguns dos fatos que ocorreram no ano foram considerados por parte das empresas. Começamos com as eleições e na parte 1 já demos os parabéns para as empresas que não ignoraram o fato político.

Nesta segunda parte gostaríamos de destacar as empresas que “aproveitaram” as eleições de alguma forma. Este é o caso da Votorantim, da TOTVS e da Burguer.

A Votorantim aproveitou o seu nome, que começa com Voto, e o fato de estar fazendo 100 anos, para criar uma campanha de voto consciente:

Várias ações foram promovidas em 2018 para celebrar os 100 anos da Votorantim. Como o centenário coincidiu  com  um  ano  de  eleições  gerais  para  o  Brasil,  a  Votorantim  decidiu  reforçar  seu  papel  de  empresa  cidadã  e  apoiou  o  voto  consciente,  por  meio  da  plataforma  “Guia  do  Voto”,  que  inclui  um livro sobre o processo eleitoral e as funções de cada cargo eletivo, e ainda um site e aplicativo para fomentar,  de  forma  ideologicamente  neutra  e  apartidária,  a  reflexão  e  a  consciência  dos  eleitores  no processo de escolha dos candidatos. (...) O  ano  de  eleições  gerais  do  Brasil,  marcadas  por  uma  renovação  importante  de  eleitos  e  partidos,  coincidiu com o de nosso centenário. A Votorantim sempre foi muito convicta de seu papel cidadão e  por  isso  promoveu  uma  campanha  publicitária  em  favor  do  voto  consciente.  Aproveitando  o  fato  de  que  “Votorantim”  tem  no  início  do  seu  nome    a  palavra  “voto”,  criamos  o  mote  “Eu  voto”  e  o utilizamos  em  temas  que  são  essenciais  para  o  País,  como  a  educação,  a  natureza  e  as  pessoas.  Além da campanha publicitária, desenvolvemos o “Guia do Voto”, um aplicativo com conteúdo voltado para o exercício da cidadania.

A TOTVS também fez uma campanha sobre o voto:

2018 foi um ano importante para a democracia brasileira, com intensa participação e reflexão social sobre a política e o futuro da nação, com as eleições presidenciais. Neste período, sendo a TOTVS um relevante ator do setor brasileiro de tecnologia, não se manteve alheia às discussões e buscou estimular o engajamento cidadão de seus profissionais, instigando a todos, através da campanha #VOTOCONSCIENTE, quanto ao seu papel neste processo de construção de uma sociedade melhor.

Finalment, a BK Brasil também usou as eleições para suas campanhas:

Entre os destaques estão a campanha “Whopper em Branco”, realizada durante as eleições presidenciais, e a campanha do “Saiba a Diferença”, que mostrou a diferença entre preconceito e opinião.

Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 1


  • Apresentamos várias postagens sobre como as empresas comentaram sobre as eleições de 2018 nas suas demonstrações contábeis
  • Nesta postagem, destacamos que a maioria sequer mencionou este fato

As demonstrações contábeis devem procurar relatar o que ocorreu com uma determinada empresa. Entre as informações prestadas existem possibilidades da gestão informar como o ambiente externo afetou o desempenho e algumas das decisões tomadas.

Usando os dados de algumas demonstrações com exercício findo em 31/12/2018, o blog fez uma seleção de trechos onde alguns dos fatos que ocorreram no ano foram considerados por parte das empresas.

Vamos começar com as eleições presidenciais. Este é um assunto delicado, já que as empresas tendem a evitar tomar partido de uma determinada corrente. Mesmo assim, algumas empresas dedicaram algumas linhas ao assunto. Em alguns casos a palavra foi citada, mas associada a eleição do Conselho de Administração ou outro assunto interno. Deixamos de lado isto, assim quando aparece um termo associado a “escolha”.

É importante salientar que as empresas citadas estão de parabéns. Ignorar um fato político tão relevante é uma atitude ruim. Ser genérico, falando em “incertezas” também não ajuda, já que sempre teremos incertezas no cenário econômico e político. Esta foi a atitude da maioria das grandes empresas brasileiras que divulgaram balanço: esconder o fato “eleição” como se não tivesse existido. E corresponde também a uma das principais conclusões que chegamos ao olhar as demonstrações contábeis.

Um caso curioso. O Santander Capitalização (assim como a Evidence Previdência) não falou das eleições no Brasil. Mas falou das eleições na Argentina. Aparentemente este fato é mais relevante que as nossas eleições. Veja o trecho:

Contudo, o Banco pondera que o ambiente internacional ainda deverá ser fonte de preocupação, com novos eventos importantes já programados e com potencial de adicionar nervosismo aos mercados, tais como a conclusão do processo de saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e a eleição presidencial na Argentina. Nesse contexto, o Santander acredita na possibilidade de que o ambiente internacional acabe se sobrepondo levemente ao quadro doméstico e provoque elevação branda do risco-país. 

Rir é o melhor remédio


24 abril 2019

Ilusão Monetária na precificação de ativos

Resumo:

Nominal stock prices are arbitrary. Therefore, when evaluating how a piece of news should affect the price of a stock, rational investors should think in percentage rather than dollar terms. However, dollar price changes are ubiquitously reported and discussed. This may both cause and reflect a tendency of investors to think about the impact of news in dollar terms, leading to more extreme return responses to news for lower-priced stocks. We find a number of results consistent with such non-proportional thinking. First, lower-priced stocks have higher total volatility, idiosyncratic volatility, and market betas, after controlling flexibly for size. To identify a causal effect of price, we show that volatility increases sharply following pre-announced stock splits and drops following reverse stock splits. The returns of lower-priced stocks also respond more strongly to firm-specific news events, all else equal. The economic magnitudes are large: a doubling in a stock's nominal price is associated with a 20-30% decline in its volatility, beta, and return response to firm-specific news. These patterns are not exclusive to small, illiquid stocks; they hold even among the largest stocks. Non-proportional thinking can explain a variety of asset pricing anomalies such as long-run and short-run reversals, as well as the negative relation between past returns and volatility (i.e., the leverage effect). Our analysis also shows that the well-documented negative relation between risk (volatility or beta) and size is actually driven by nominal prices rather than fundamentals.

Fonte: Can the Market Multiply and Divide? Non-Proportional Thinking in Financial Markets with Richard Townsend .