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19 maio 2025

Rebaixamento da nota de crédito dos EUA

A agência Moody’s rebaixou nesta sexta-feira a classificação de crédito dos Estados Unidos em um degrau, de “Aaa” para “Aa1”, citando dívida e juros crescentes, “que são significativamente mais altos do que os de soberanos com classificação semelhante”.

“Sucessivas administrações e o Congresso dos EUA falharam em chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e custos crescentes de juros”, disse a Moody’s em um comunicado, ao mudar sua perspectiva para os EUA de “negativa” para “estável”.

Fonte: aqui.

O mais interessante é que o mercado subiu na segunda. 

Uma fraude de 2 bilhões de libras


A Ernst & Young (EY) está sendo processada por negligência no Reino Unido, em um caso que envolve cerca de £2 bilhões (aproximadamente US$ 2,7 bilhões), devido à sua atuação como auditora da NMC Health entre 2012 e 2018. A NMC, uma operadora de hospitais com sede nos Emirados Árabes Unidos e listada na bolsa de Londres, entrou em colapso em 2020 após a descoberta de mais de US$ 4 bilhões em dívidas ocultas.

O processo foi iniciado pela administradora judicial Alvarez & Marsal, que alega que EY falhou em detectar sinais claros de fraude contábil durante os anos em que auditou a NMC. Entre as falhas apontadas estão a falta de acesso ao livro razão da empresa e a ausência de confirmações bancárias independentes, o que teria permitido que os executivos da NMC manipulassem os registros financeiros.

A EY nega as acusações, argumentando que foi vítima de uma fraude complexa e orquestrada pelos próprios executivos e acionistas da NMC, e que não tinha como detectar o esquema devido à sua natureza sofisticada.

Fonte: aqui

Próximo presidente da Romênia

 

Poucas pessoas sabem que a Romênia fala uma língua latina. E agora, o seu próximo presidente tem uma formação incomum: matemática. Mas não é algo tão corriqueiro, pois ele foi duas vezes escore máximo na prestigiosa Olimpíada de Matemática.


O Problema dos Três Corpos (2)

Ontem falamos sobre a série O Problema dos Três Corpos e hoje eu, infelizmente, descobri que ainda não há previsão de estreia para a segunda temporada. 

Segundo a revista Esquire, o alto custo da primeira temporada é um dos principais fatores que colocam a continuação em xeque. Cada episódio teria custado cerca de US$ 20 milhões, o mesmo nível de investimento de A Casa do Dragão. Para comparação, Game of Thrones (em sua 8ª temporada) ficou na faixa de US$ 15 milhões por episódio. 

 O ScreenRant aponta que esse valor coloca Três Corpos entre as séries mais caras da Netflix. E a Forbes foi além: segundo reportagem, o custo total foi de US$ 233,1 milhões, o que dá uma média de impressionantes US$ 29,1 milhões por episódio, valor semelhante ao da consagrada Stranger Things.

Ainda assim, há esperança. O site Omelete noticiou que a continuação está nos planos, mas só deve chegar em 2028 (!!). As gravações, inclusive, foram realocadas do Reino Unido para a Hungria, onde o governo oferece um incentivo fiscal de 30% sobre os custos de produção.

Multa do UBS por uma investigação criminal

O banco suíço UBS Group AG concordou ontem [5 de maio] em pagar US$ 511 milhões para resolver uma investigação criminal do Departamento de Justiça dos EUA que concluiu que o Credit Suisse (o banco que o UBS comprou em 2023 [1]) ajudou americanos ricos a escapar de impostos sobre mais de US$ 4 bilhões em pelo menos 475 contas offshore. O acordo surge mais de uma década depois de o Credit Suisse se ter comprometido a pôr termo a tais práticas [2]. 

No caso mais recente, o Credit Suisse admitiu ter conspirado para ajudar indivíduos ricos a preparar e apresentar declarações fiscais falsas dos EUA entre 2010 e 2021 e descobriu-se que falhou repetidamente na divulgação completa de contas offshore às autoridades. O acordo ocorre dois anos depois de o Comité de Finanças do Senado dos EUA ter concluído que o Credit Suisse tinha violado o seu acordo de confissão de 2014 com o governo dos EUA.

O UBS disse que não estava envolvido na má conduta, que ocorreu antes de o UBS comprar o Credit Suisse por US$ 3,2 bilhões sob um acordo mediado pelo governo suíço para evitar uma potencial crise bancária [3].

[1] A questão da contabilidade dessa aquisição é muito interessante e foi tratada no blog anteriormente

[2] Isso deve ter pesado no valor da multa

[3] Até então, eram os dois grandes bancos da Suíça. 

Fonte: 1440 newsletter

18 maio 2025

Resenha: O Problema dos Três Corpos

Escrever para o blog é uma tarefa interessante. As minhas resenhas presenciais são falhas ao não entrarem em detalhes, pois considero tudo spoiler. De vez em quando, não leio nem a sinopse e me deixo levar pela capa, título ou autor. É uma prática que me trouxe ótimos frutos e recomendo. Todavia, como a ideia aqui não pode ser essa, tentarei sintetizar sem estragar a experiência. 

Hoje quero conversar sobre “O Problema dos Três Corpos”, obra que faz parte de uma trilogia de ficção científica escrita pelo chinês Cixin Liu. O primeiro livro recebeu o prestigiado prêmio Hugo de melhor romance de ficção científica em 2008 e, atualmente, é considerado um clássico moderno. 

A saga merece o seu tempo e atenção, caso se interesse por física, suspense, mundos extraterrestres e, até história (por que não?). Na narrativa, alguns cientistas se envolvem em projetos ultrasecretos sobre ondas sonoras e a possibilidade de uma comunicação extraterrestre. Nessa brincadeira, uma civilização alienígena à beira do colapso decide aproveitar o embalo e planeja uma invasão. O pano de fundo da história é a China, meio à Revolução Cultural, no final dos anos 1960. 

Há uma adaptação louvável na Netflix. Quando a iniciei, achei o início lento e precisei me ajustar ao clima, mas, após esse momento inicial, me peguei fascinada. Pausa para a minha inabilidade em elogiar algo que quero que você assista, mas não quero influenciar a experiência. ...! 


Há apenas uma temporada disponível na Netflix, então, quando a terminei, fui sedenta ler o livro que já estava na minha pilha há algum tempo. Eu estava imensamente interessada na continuidade da história e, como estava envolvida com a magia da conclusão da primeira temporada na Netflix, achei a leitura arrastada, acabei deixando-a de lado. Mas voltei, persisti e terminei. E posso afirmar: é um bom livro. 

E aí fui para o segundo. Gente! Que livro!!! Que livro!!! O terceiro também é sensacional. A trama é muito bem estruturada; o universo que sustenta a saga é construído e alimentado de forma sólida. Os personagens são interessantes, as explicações envolvendo física e pesquisa são didáticas e fascinantes. O desenrolar da história não perde o fôlego, muito pelo contrário, é cada vez mais eletrizante. Parece que com a experiência, o Cixin Liu cresceu ainda mais e se superou de novo e de novo. 

O único problema que encontrei foi o tamanho da letra na versão impressa. Ela é um pouco menor do que o padrão; eu tenho a vista muito ruim, então acabei deixando de lado e comprando o ebook para o Kindle. 

Na época, minhas expectativas estavam tão medianas que troquei meu exemplar físico no sebo de livros usados. Um pouco mais à frente, acabei comprando novamente um exemplar, para presentear meu irmão, que se interessou ao acompanhar a minha experiência. Alerta de spoiler: ele ainda não leu. Acho que entregar quase duas mil páginas para alguém de uma só vez não é a melhor forma de incentivá-la a ler. Porém, prometo que vale a pena! 

Vale a pena? Com certeza! Se ficção científica não é a sua praia, sugiro que ainda assim dê uma chance à série. Embora haja diferenças consideráveis entre a adaptação e o livro, a primeira temporada se saiu excepcionalmente bem. Acredito que, em alguns aspectos, ela é até melhor do que o primeiro livro. Um alerta: devido a essas diferenças, não recomendo assistir à primeira temporada e, em seguida, partir para o segundo livro. O primeiro livro da saga é o menor, então, se você se interessar, vale o investimento.

Você pode comprar o livro na Amazon com o nosso link afiliado: aqui.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Sombart

Sombart, Werner (1863–1941)

Werner Sombart, influente economista político, nasceu e morreu na Alemanha. Estudou direito, economia, história e filosofia nas universidades de Berlim, Roma e Pisa, e acabou se tornando professor de economia em Berlim. Foi aluno dos chamados socialistas de cátedra (Kathedersozialisten), como Schmoller e Wagner, e, quando jovem, tornou-se marxista. No entanto, provavelmente era inteligente demais para permanecer marxista por muito tempo e acabou se tornando um crítico do marxismo. De fato, sua obra Der Moderne Kapitalismus (O Capitalismo Moderno), publicada em 1919, é na verdade um livro que elogia o capitalismo, no qual previu que esse sistema atingiria seu auge no século XX.


Mais tarde, já idoso, Sombart tornou-se um apologista do Nacional-Socialismo, mas os nazistas não o aceitaram plenamente nesse papel, principalmente porque suas observações sobre o papel dos judeus na Idade Média entravam em conflito com as teorias do regime.

Em termos de volume de publicações e traduções, Sombart pode ser considerado um dos economistas de maior sucesso de sua época. No entanto, ele não fundou uma escola de pensamento nem deixou discípulos de suas ideias, sendo hoje visto mais como uma curiosidade histórica. Isso provavelmente se deve ao fato de que combinou as origens sociais e históricas de seu pensamento econômico em uma mistura empolgante, porém instável, de forma que as gerações seguintes passaram a considerar pouco científica.

Essas chamadas “proposições de Sombart” receberam atenção significativa na literatura contábil. Yamey (1950, 1964) as revisou criticamente em dois artigos, Winjum (1972) identificou “apoio acadêmico substancial à tese de Sombart”, e Kenneth S. Most (1972) reconheceu algum mérito nelas. As proposições se referem ao papel da contabilidade no desenvolvimento do capitalismo. Sombart chegou a afirmar que a introdução da contabilidade foi de importância máxima para o desenvolvimento do capitalismo — e, claramente, tal percepção merece estudo especial.

Sombart partiu de uma Europa feudal pré-capitalista, na qual o objetivo de cada homem era garantir o suficiente para sua subsistência. Observou, então, que em determinado momento o motivo do lucro substituiu a satisfação de necessidades pessoais como força motriz da sociedade. Ele levantou a questão: por meio de que mecanismos isso ocorreu? O que transformou o artesão pré-capitalista no fabricante capitalista? Sua resposta foi que o ser humano desenvolveu duas capacidades: calcular e poupar. E a importância da contabilidade estaria justamente em unir essas duas habilidades em uma poderosa ferramenta de gestão: a firma capitalista, vista como uma entidade contábil.

De forma resumida, Sombart viu a invenção da escrituração por partidas dobradas como um instrumento para objetivar o conceito de capital. Ele escreveu que “a representação da firma por meio das contas, especialmente a representação dos interesses de propriedade na forma das contas de capital, torna objetiva a ideia de riqueza, dissociando-a das pessoas humanas envolvidas na empresa”. A ideia de capital desvinculava-se de qualquer objetivo de satisfação de necessidades ou motivações pessoais dos participantes da firma, e isso levou diretamente à formulação do racionalismo econômico. Por esse caminho, a produção e a distribuição tornaram-se objetos de cálculo, o que significava que as ferramentas da matemática podiam ser usadas para planejar poupança e investimento e fomentar o crescimento do capitalismo.

Em uma passagem marcante, Sombart citou as palavras que Goethe colocou na boca do cunhado de Wilhelm Meister: “A escrituração por partidas dobradas é uma das mais belas descobertas do espírito humano.” E prosseguiu explicando: “Para se compreender corretamente seu significado, ela deve ser comparada ao conhecimento que os cientistas desenvolveram desde o século XVI sobre as relações no mundo físico. A escrituração por partidas dobradas surgiu do mesmo espírito que produziu os sistemas de Galileu e Newton e o conteúdo da física e da química modernas. Por meios semelhantes, organiza percepções em um sistema, e pode ser caracterizada como o primeiro Cosmos construído puramente com base no pensamento mecanicista. A escrituração por partidas dobradas captura para nós a essência de um mundo econômico ou capitalista do mesmo modo que, mais tarde, os grandes cientistas usaram para construir o sistema solar e os glóbulos do sangue. Sem muita dificuldade, podemos reconhecer na escrituração por partidas dobradas as ideias de gravitação, da circulação do sangue e da conservação da matéria. E até mesmo num plano puramente estético não podemos olhar para a escrituração por partidas dobradas sem espanto e admiração diante de uma das mais artísticas representações da fantástica riqueza espiritual do homem europeu.”

Kenneth S. Most The History of Accounting