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04 novembro 2024

Mais desenvolvimentos da IA

Do 1440:


A startup Anthropic, apoiada pela Amazon, revelou que treinou uma versão de seu modelo de IA, Claude, para realizar uma série de tarefas em computadores, incluindo navegar na web, abrir aplicativos e imitar toques no teclado e cliques de botões. A nova habilidade, chamada "uso de computador", transforma Claude de um chatbot em um agente de IA — um bot projetado para realizar tarefas específicas em nome de uma pessoa.

A Anthropic também lançou uma série de vídeos pré-gravados ontem para demonstrar como a ferramenta de uso de computador pode ser aplicada em funções específicas, como criar uma página da web com tema dos anos 90 (assista aqui), planejar uma caminhada matinal com um amigo que inclua uma vista da Ponte Golden Gate (assista aqui), e preencher uma planilha usando informações espalhadas pelo computador de alguém (assista aqui).

O uso de computador ainda está na fase experimental e foi lançado para obter feedback de desenvolvedores. A startup de design Canva e a gigante de entrega de alimentos DoorDash estão entre os parceiros que já começaram a testar o Claude 3.5 Sonnet atualizado. Saiba mais sobre IA generativa aqui (com vídeo).

03 novembro 2024

Quem inventou as partidas dobradas?

Muitas pessoas acreditam, de forma errônea, que Pacioli inventou o método das partidas dobradas, enquanto outras pensam que ele o formalizou, tornando-se o primeiro a documentá-lo de maneira estruturada, ainda que não tenha sido o inventor. Abaixo, a resposta que recebi do ChatGPT à pergunta “quem inventou o método das partidas dobradas”:

> O método das partidas dobradas foi formalizado por Luca Pacioli, um frade e matemático italiano, em 1494, em sua obra *Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità*. Embora Pacioli não tenha sido o inventor do método (há indícios de que comerciantes italianos da época já o utilizavam), ele foi o primeiro a documentá-lo de forma estruturada, o que ajudou a disseminá-lo e estabelecer os fundamentos da contabilidade moderna.

Na realidade, não sabemos quem foi o primeiro a documentar o método de maneira estruturada. Mesmo considerando um livro, precisaríamos corrigir a inteligência artificial novamente. Qual seria, então, o mérito de Pacioli? Ele foi o primeiro a publicar um livro impresso sobre o método. Atenção: Pacioli não escreveu o primeiro livro sobre o tema — este mérito cabe a Benedetto Cotrugli. No entanto, o livro de Cotrugli não foi impresso, o que fez com que sua contribuição se tornasse secundária na história contábil.

Mas, afinal, quem foi o primeiro a documentar o método? Essa é uma questão difícil de responder por várias razões. Em primeiro lugar, é necessário definir, de forma clara e precisa, o que é o método das partidas dobradas. Não basta considerar o primeiro registro de débito e crédito, pois o método vai além disso. Precisamos pensar em uma estrutura que inclua o conceito de entidade, um procedimento para o fechamento periódico das contas, um livro razão e um diário, entre outros aspectos, o que é bastante controverso.

O pesquisador Geoffrey Lee, em um artigo de 1977 para o The Accounting Historians Journal, propôs os seguintes critérios: a existência de uma entidade contábil que transacione com outros agentes econômicos; o conceito de oposição algébrica nas transações, como o aumento do estoque e a redução de caixa; o uso de uma unidade monetária única, com conversão de valores quando necessário, permitindo a soma dos valores; o conceito de patrimônio dos proprietários; a presença da equação contábil básica; o conceito de lucro ou prejuízo e sua relação com o patrimônio; e a definição de um período contábil para mensurar os resultados. Atendendo a esses critérios, podemos afirmar que o método das partidas dobradas está em uso.

Outro motivo que dificulta identificar o inventor do método é que provavelmente ele surgiu de forma gradual e colaborativa. Os diferentes aspectos listados por Lee podem ter surgido em diferentes lugares e negócios ao longo do tempo. Por exemplo, um manuscrito de 1211, preservado em uma biblioteca de Florença, contém alguns elementos do método, mas não todos.

É interessante notar como se dava o processo de “invenção” naquela época. Enquanto hoje um pesquisador busca fama e reconhecimento, as pessoas envolvidas no desenvolvimento das partidas dobradas focavam em fazer os negócios funcionarem, utilizando a técnica contábil. Se alguém aprimorava o método em Veneza, não publicava um texto sobre o assunto nem fazia uma apresentação em um evento; aplicava diretamente no negócio. Mesmo assim, havia comunicação entre comerciantes, e métodos melhores eram compartilhados. Intuímos que isso ocorria, mas os detalhes são desconhecidos. Possivelmente, algum conhecimento era transmitido na educação, como o uso dos números hindus.

Por fim, talvez a razão mais importante para a dificuldade em identificar o inventor seja a tecnologia da época. Os pergaminhos, caros e frequentemente reutilizados, eram raspados para novo uso, fazendo com que muitos documentos contábeis se perdessem ao longo do tempo. Além disso, a umidade, o fogo e outros fatores frequentemente destruíam esses documentos. Desde 1200 até o início do uso dessa documentação para fins de pesquisa passaram-se cerca de setecentos anos. Como destaca Fenny Smith em um artigo de 2008, muitos empreendimentos da época eram efêmeros. Em Veneza, por exemplo, sociedades eram formadas e dissolvidas após a conclusão dos negócios, enquanto em Florença as atividades comerciais tendiam a durar mais, o que ajuda a explicar por que sabemos mais sobre Florença.

Em resumo, não temos como afirmar com certeza quem inventou as partidas dobradas. Podemos, no entanto, especular que tenha sido uma construção coletiva de diversos comerciantes, unidos por um objetivo comum. Essa seria, portanto, a resposta para a pergunta: quem inventou as partidas dobradas?

31 outubro 2024

Rir é o melhor remédio


Despedidas em aeroportos são carregadas de emoções. Mas parece que isso tem deixado os funcionários de um aeroporto irritado. Na Nova Zelândia, na cidade de Momona, o aeroporto estipulou que você pode despedir de alguém que gosta, mas desde que a despedida não seja prolongada. Diversas placas colocadas no local estipulam que o tempo máximo para abraços deve ser de três minutos. E sugere que despedidas mais emotivas sejam realizadas no estacionamento. Veja também aqui, que apresenta a justificativa:

Segundo um comunicado realizado pelo aeroporto, essa restrição de tempo vai ajudar com o fluxo de tráfego e melhorar o desembarque de passageiros.

30 outubro 2024

Pacioli e as partidas dobradas

Nas minhas aulas de graduação, na disciplina de Teoria Contábil, eu costumo dizer que os alunos devem aprender duas coisas importantes. Uma delas é que Pacioli não foi o inventor do método das partidas dobradas. 

Considerado o pai da contabilidade, Pacioli é ressaltado na contabilidade como a sua figura mais importante. Talvez por uma falta de rigor, ou mesmo por desleixo, é possível encontrar na rede frases como essa:

O Método das Partidas Dobradas tem suas raízes na Itália renascentista, mais especificamente no século XV. Foi desenvolvido por Luca Pacioli, um frade franciscano e matemático italiano, que é considerado o “pai da contabilidade”. Pacioli publicou seu trabalho sobre o Método das Partidas Dobradas em 1494, em seu livro “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita”. Desde então, o método tem sido amplamente adotado e aprimorado ao longo dos séculos.

Doença mental, homicídio e reforma na saúde

Em um artigo no *American Economic Journal: Economic Policy*, os autores Mateus Dias e Luiz Felipe Fontes descobriram que, embora a reforma da saúde comunitária possa reduzir as internações psiquiátricas, ela também pode levar a um aumento nos crimes violentos. Os pesquisadores analisaram uma grande reforma de saúde mental no Brasil que reorientou o atendimento público de saúde mental para centros de saúde mental, substituindo a internação hospitalar.

Antes da reforma do sistema de saúde no Brasil em 2002, os cuidados de saúde mental eram prestados quase exclusivamente em hospitais, onde os pacientes recebiam atendimento de internação. Contudo, esse cenário institucionalizado às vezes levava ao tratamento desumano dos doentes mentais. (...)


A reforma foi implementada gradualmente nos municípios brasileiros, introduzindo centros de saúde mental para oferecer procedimentos psicossociais e ambulatoriais, como terapias de conversa, terapias ocupacionais e consultas médicas.

(...) as reformas aumentaram o acesso e a utilização dos cuidados comunitários de saúde mental. Em particular, os centros observaram aumentos imediatos e significativos na densidade de profissionais de saúde mental e no número de visitas ambulatoriais para saúde mental, além de um aumento nos medicamentos distribuídos no atendimento ambulatorial para tratar transtornos psiquiátricos.

Ao mesmo tempo, as reformas reduziram as internações hospitalares devido a doenças mentais. Essa redução foi concentrada em hospitalizações de longa permanência, principalmente entre indivíduos com esquizofrenia.

No entanto, os autores também encontraram evidências de que as taxas de homicídio aumentaram nos municípios reformados, em paralelo com a redução das internações hospitalares. (...)

Fonte: aqui

29 outubro 2024

Rir é o melhor remédio? Trapaça no campeonato mundial de Conkers

Primeiro, uma explicação: Conkers é um jogo levado a sério por adultos, com até um campeonato mundial dedicado a ele. O jogo utiliza sementes de castanheiras e é uma disputa entre dois jogadores, em que cada um tenta quebrar o conker do adversário com golpes. Esse é o objetivo.

Agora, a “notícia relevante”: o último campeonato mundial teve como campeão David Jenkins, de 82 anos, que compete desde 1977. Este é seu primeiro título.

O curioso é que um conker de aço foi encontrado na posse de um competidor. Isso levantou suspeitas de trapaça por parte do campeão. A arbitragem recorreu ao VAR – vídeos da competição, nesse caso – para concluir que Jenkins não tinha como ter trapaceado.

O valor do abutre

Em um artigo na American Economic Review, os autores Eyal Frank e Anant Sudarshan estudaram o colapso repentino das populações de abutres no subcontinente indiano, resultado do uso não intencional do analgésico diclofenaco, aplicado por fazendeiros no gado e que acabou envenenando os pássaros. Eles descobriram que, quando os abutres na Índia desapareceram, a mortalidade humana aumentou significativamente.

Os pesquisadores argumentam que, com o desaparecimento dos abutres, que deixaram de limpar o gado morto, as carcaças passaram a ser descartadas em rios, causando poluição hídrica fatal, ou consumidas por outros necrófagos, como cães e ratos selvagens, mais propensos a transmitir doenças aos humanos.

Usando uma abordagem de diferenças-em-diferenças, eles compararam as mudanças na mortalidade humana em áreas com habitats altamente adequados para abutres com áreas menos adequadas, na época em que as populações de abutres desapareceram.

A Figura 4 do artigo dos autores mostra as estimativas do estudo de eventos entre 1988 e 2005. As estimativas no gráfico comparam as taxas de mortalidade por todas as causas por 1.000 pessoas em distritos com alta adequação para abutres com distritos de baixa adequação. A linha vertical tracejada indica a introdução do diclofenaco genérico usado pelos fazendeiros no gado em 1993. As barras verticais representam intervalos de confiança de 95%.


Antes de 1993 e do declínio acentuado das populações de abutres, não havia diferença significativa na evolução da mortalidade entre os distritos de alta e baixa adequação. Mas em 1996, o primeiro ano em que o declínio das populações de abutres foi amplamente reconhecido, a taxa de mortalidade por todas as causas era 0,65 mortes a mais por 1.000 pessoas nos distritos de alta adequação. Em 2005, as taxas de mortalidade eram cerca de 1,4 mortes a mais por 1.000 pessoas.

No geral, os distritos com alta adequação para abutres apresentaram um aumento médio de 4,7% nas taxas de mortalidade humana por todas as causas, em comparação com áreas pouco adequadas para os abutres. Os resultados indicam uma média de mais de cem mil mortes adicionais por ano e um equivalente de quase US$ 70 bilhões por ano em danos devido à mortalidade.

Fonte: aqui