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11 outubro 2012

SASB

O SASB é Sustainability Accounting Standards Board, uma entidade criada para cuidar da comunicação da informação não-financeira das empresas. Seu campo de atuação é a padrões contábeis de sustentabilidade.

Já existem em Londres o International Integrated Reporting Council. Outro grupo é o Global Reporting Initiative. O SASB tem sede em São Francisco. Seu foco é complementar o trabalho realizado pelo Financial Accounting Standards Board. Ou seja, tem um foco local.

O primeiro trabalho do SASB é produzir o "mapa da materialidade", com as prioridades sobre as questões de sustentabilidade em dez setores.

Leia mais aqui

(Observe o leitor a  grande  quantidade de entidades contábeis com ASB no nome: Fasb, Iasb, Gasb e, agora, SASB. Falta o BASB, Brazilian ...)

28 março 2012

Reporte integrado


Ultimamente, temos ouvido bastante a respeito dos reportes integrados (Integrated Reporting), ou seja, a integração da divulgação das informações contábeis com as informações de sustentabilidade. Entretanto, o que isto significa na prática tem sido pouco explorado pelas organizações.

Ao contrário do que o nome indica, não se trata apenas de juntarmos (ou grampearmos) um relatório no outro. Esta prática requer uma série de adequações estratégicas que vão além dos simples indicadores de desempenho. Um reporte integrado irá apresentar uma gama extensa de informações, expostas de maneira concisa e capazes de demonstrar a sua interdependência, entre as quais destacam-se:

Informações relevantes sobre a estratégia da organização, modelo de negócio e o contexto em que ocorrem as suas operações;
Performance histórica, de maneira holística, e não simplesmente referenciando métricas financeiras padronizadas;
Informações que permitam aos leitores entender melhor as pressões (e riscos) relacionados ao alcance desta performance divulgada e os impactos no negócio no curto, médio e longo prazos (a performance é sustentável, ou seja, tem como se repetir ou melhorar ao longo do tempo?)

Pode-se argumentar que é exatamente isto que os relatórios de sustentabilidade já fazem no momento, mas a realidade não é bem assim. Fontes distintas de informação, o aumento do tamanho e complexidade dos relatórios, a omissão de informações relevantes e a profusão de informações desnecessárias contribuem para a falta de transparência e a consequente frustração dos “reportadores” e leitores. O reporte integrado tem como objetivo cortar esta “balbúrdia”, e apresentar uma visão clara e concisa do negócio.

Muitos que discutem o tema pela primeira vez pedem para ver um exemplo de reporte integrado. Entretanto, ainda não existe um formato padrão, ou requisitos específicos de reporte. O que temos hoje é um “paper” de discussão lançado pelo IIRC (International Integrated Reporting Committee – órgão internacional responsável pelo tema), que menciona os princípios (foco estratégico, orientação futura, conectividade da informação, resposta e inclusão dos stakeholders, informações concisas, confiáveis e materiais) e os elementos de conteúdo (visão geral da organização, modelo de negócio, contexto operacional com riscos e oportunidades, objetivos estratégicos, governança e remuneração, performance e visão futura).

Um aspecto chave desta integração é que os “reportadores” devem endereçar todos os recursos que os negócios consomem e criam, sejam financeiros, manufaturados, humanos, intelectuais, naturais ou sociais.

Resumidamente, quando falamos em reporte integrado, falamos também, em última instância, de uma melhor comunicação entre as organizações e o mercado de capitais. Uma comunicação que deve ser concisa, direta e que abrange os aspectos relevantes que permitam ao leitor comparar o seu desempenho não somente sob a ótica financeira, mas sob aspectos que podem impactar o seu negócio e a performance futura. Ao atingir-se esse patamar de adequação, é possível ter de fato condições de se falar em reportes integrados.


Fonte:*Ricardo Zibas é gerente sênior da área de Climate Change & Sustainability Services da KPMG no Brasil.

06 março 2012

Entrevista com Jeffrey Sachs



Jeffrey Sachs, um dos economistas mais importantes e influentes do mundo, concedeu entrevista ao Valor Econômico, onde trata de desenvolvimento sustentável e da Rio+20. Eis alguns pontos interessantes:

Valor: O senhor disse em discurso nas Nações Unidas que a Rio+20 deveria ser honesta e admitir as mais de duas décadas de fracasso global na área ambiental. O que quis dizer?

Jeffrey Sachs: A conferência do Rio em 1992 foi uma grande conquista da legislação ambiental internacional. Três grandes tratados ambientais saíram de lá: a Convenção do Clima, a da Biodiversidade e a do Combate à Desertificação. Quando olhamos para tudo isso 20 anos depois, temos três fundamentos da lei internacional, mas sem muito resultado. A mudança climática piorou dramaticamente e não temos um arcabouço no qual trabalhar. Registramos perdas gigantes em biodiversidade e enfrentamos secas cada vez mais fortes nas regiões áridas. Acho que é justo dizer que nos últimos 20 anos houve muito debate sobre legislação e acordos, mas não muito progresso em ações concretas. Penso que teríamos de sair da Rio+20 com caminhos práticos. Em outras palavras: esses problemas não devem ser deixados mais ao crivo de advogados. É preciso encontrar abordagens de desenvolvimento sustentável que façam sentido, que sejam mensuráveis e possíveis de replicar. É disso que se trata.

Valor: Mudando de assunto: o Brasil descobriu um volume imenso de petróleo no mar. Poderia trilhar o caminho errado, do passado?

Sachs: Há dois pontos bem diferentes quando se pensa sobre o que fazer com o petróleo no mar. O primeiro é como explorar esse petróleo de maneira segura. Os EUA viveram um enorme desastre nesse campo em 2010 e frequentemente essas empresas são desonestas, míopes, corrompem os legisladores. Os EUA têm um sistema regulatório todo corrompido por empresas que cortaram custos onde não deviam, comportaram-se mal e terminamos com um grande desastre. Mesmo em um país como o Japão, vimos como o sistema que controlava uma usina nuclear era horrivelmente mal gerenciado. Então, a primeira coisa que eu diria é que o Brasil deveria ter um sistema de gerenciamento ambiental muito sério, capacitado e técnico. O segundo ponto é sobre o que vamos fazer com o petróleo nesse mundo. Claro, continuaremos usando petróleo por algumas décadas ainda e evidentemente o Brasil vai explorar seu petróleo. Mas é preciso colocar a questão do combustível fóssil dentro de uma moldura climática séria.

Valor: Estamos vivendo o fim do capitalismo?

Sachs: Penso que precisamos modernizar o capitalismo. Veja as economias que, na minha opinião, têm o melhor desempenho: Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha.

Valor: Por que o senhor escolhe essas?

Sachs: Porque equilibram mercado com políticas sociais e ambientais. Fazem isso de maneiras diferentes e não são perfeitas, mas são países altamente produtivos, orientados pelo mercado, com baixa desigualdade, taxas bem baixas de pobreza, igualdade entre homens e mulheres. São generosos nas licenças-maternidade e paternidade e nas férias porque acreditam em uma vida equilibrada. São economias baseadas em mercados dentro de regimes capitalistas, mas não são a face implacável do capitalismo. Os governos dos países escandinavos têm níveis de corrupção muito baixos porque não deixam os negócios ditarem a política, deixam os governos regulamentarem os negócios. Acho que são bons modelos. Não são perfeitos, mas mostram que podemos ter uma economia de mercado e ao mesmo tempo uma sociedade muito humana. Os EUA são um modelo muito pobre neste momento. É corrupto, altamente desigual, ambientalmente negligente e tem preços excessivos no sistema de saúde porque deixaram o setor privado dominar a nossa política. É um exemplo de mercado que foi longe demais. Os modelos escandinavos são de sociedades equilibradas, éticas e moderadas. Espero que esses países continuem muito prósperos. Neste momento eles estão muito bem, dão ótimas condições de vida às pessoas, mostram como evitar a corrupção e provam, no meu ponto de vista, que é possível ter um capitalismo não imprudente. Eles usam a bandeira da social-democracia. Isso, na minha cabeça, são boas descrições.

26 dezembro 2011

Top 10 – Parte I

Foi um bom ano para o nosso blog. Agora temos uma conta no twitter e no Facebook, passamos de 500 mil acessos, ganhamos mais leitores e colaboradores. Nesse ambiente construtivo, hoje a postagem é sem viés (ao contrário desta). Com base nas estatísticas do blogger iremos listar as 10 postagens mais acessadas em nossa história. (Na verdade, desde que começamos a monitorar os acessos).

10ª: Vazamento de informações no mercado (publicada em: 8/12/2009): a postagem fala sobre os esforços entre a CVM e a PF para combater o vazamento de informações – como o observado no evento da compra das Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açúcar.

9ª: Princípios de contabilidade (publicada em: 10/6/2010): Sobre a não revogação da Resolução 950 do CFC e a aprovação da Resolução 1.282 que demonstra o CFC não ter adotado completamente a estrutura do CPC.

8ª: Sustentabilidade (publicada em: (2/10/2008): Hoje essa postagem apresenta certo cunho histórico – demonstra as primeiras movimentações para a formalização do reconhecimento pela contabilidade de sua relação com a sustentabilidade. Fala-se sobre Balanço Social, DVA e GRI.

7ª: Teoria do fundo (publicada em: 15/6/2007): Explica-se o que é Teoria do Fundo, incluindo exemplos e comentários. Essa eu não vou resumir. Vai lá dar uma lidinha! Vale a pena.

6ª: Os maiores bancos do Brasil (publicada em: 14/5/2010): Aqui há a replicação de uma imagem da The Economist com os dez maiores bancos brasileiros (com base no percentual total de ativos em 2009), sendo o primeiro o Banco do Brasil, seguido pelo Itaú Unibanco (2º), Bradesco (3º), BNDES (4º), CEF (5º).

Acho interessante como as 10 mais são bem espaçadas no tempo. Nas cinco já apresentadas observamos apenas duas postagens no mesmo ano: 2010. Um fator determinante é a referência de outros sites a cada uma delas especificamente. Se você é leitor assíduo do blog, por exemplo, as suas postagens preferidas não se destacarão, pois o registro só ocorre quando há um click direto em uma postagem específica. Mesmo assim, não deixam de ser ótimas postagens. Caso contrário, nem haveria referência a elas.

Aproveitamos o momento para agradecer a cada leitor que divulga o nosso blog, as nossas postagens e participa enviando e-mails e comentários. Esperamos que 2012 seja um ano ainda mais movimentado!

29 novembro 2011

Petrobras registra mais vazamentos que a Chevron



Os vazamentos de petróleo no Brasil são mais comuns do que se pensa. Só a Petrobras, a maior empresa do setor, encerrou o ano passado poluindo mais e recebendo um grande volume de autos de infração dos órgãos de fiscalização.

Em 2010, a estatal registrou 57 vazamentos, contra 56 ocorrências em 2009. O volume de petróleo e derivados derramado cresceu cerca de 163%, pulando de 1.597 mil barris, em 2009, para 4.201 mil barris espalhados na natureza no ano passado, quase o dobro dos 2.400 barris que teriam vazado do poço da Chevron no campo de Frade (Bacia de Campos), onde a Petrobras tem 30%.

O óleo vazado pela Petrobras em 2010 foi o maior em pelo menos quatro anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível, índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris.

Especialistas dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em sistemas de segurança e ressaltam que os desafios são maiores com o pré-sal.

O óleo vazado pela Petrobras em 2010 foi o maior em pelo menos quatro anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível, índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris. Especialistas dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em sistemas de segurança e ressaltam que os desafios são maiores com o pré-sal.

Segundo o Relatório de Sustentabilidade de 2010, o Sistema Petrobras recebeu, em 2010, 21 autos de infração ambientais, que geraram multas de R$ 80,75 milhões. O número é 131,04% maior em relação a 2009, quando três autos totalizaram R$ 34,95 milhões. Esses números consideram multas com valores iguais ou superiores a R$ 1 milhão.

Fonte: O Globo

Leia também :Será o pré-sal um bilhete premiado, sem riscos ou custos?

13 julho 2011

Críticas ao ISE

Postado por Pedro Correia


O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa, criado há cinco anos, está longe de ser um consenso no mercado. Prestes a ganhar um fundo com cota negociada em bolsa – mais conhecido como ETF – baseado na sua carteira de empresas, o índice ainda não convenceu parte dos investidores de que é a melhor referência para aplicações em companhias com as práticas mais avançadas em sustentabilidade financeira, ambiental e social.[1]e [2]

O ISE foi o tema que gerou mais polêmica no primeiro dia do 13º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, evento realizado pelo Instituto de Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) e pela Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), ontem em São Paulo.
O tom mais vigoroso de discórdia foi dado por Marcelo Mesquita, sócio da Leblon Equities, gestora de recursos. “O investidor não entende a formação do ISE. Algumas empresas, inclusive, não deveriam estar lá, pois causam descrédito para o índice.” [3]

O ISE é formado por 40 empresas, selecionadas dentre as 180 com maior liquidez na bolsa. As companhias são convidadas a responder um questionário com 150 perguntas sobre gerenciamento de recursos e riscos.

Mesquita questiona a “complexidade” do processo seletivo, em que a bolsa usa informações passadas pelas próprias empresas, e não apenas os dados públicos. Ele defende a utilização de critérios mais objetivos e quantitativos como os do Novo Mercado. “Hoje parece uma caixa-preta.” [4]

As respostas dos questionários não são divulgadas aos investidores atualmente. Mas isso será possível na formação da nova carteira do ISE, prevista para novembro. A BM&FBovespa vai perguntar a cada companhia se ela autoriza ou não a publicação dos dados.

Para Mesquista, o ISE poderia dar oportunidade e ser uma vitrine para as empresas menores. “Do outro lado, o poder do lobby das maiores empresas é muito forte, o que enviesa a formação do índice.”[5]

Sônia Favaretto, diretora de sustentabilidade da bolsa, aponta a importância do ISE como “ferramenta econômica” para os investidores. “O objetivo é sair da autorregulação e tentar levantar a discussão. A questão não é mais ser sustentável ou ser lucrativo, mas, sim, como a empresa faz para ter lucro sustentável”, declarou.[6] e [7]

Segundo Luiz Fernando Moran de Oliveira, gerente de relações com investidores da WEG, do ramo de motores e automação, o nível de preocupação dos investidores em relação às práticas de sustentabilidade das companhias ainda é bastante heterogêneo. “Participamos do ISE nos anos de 2005 e em 2007. Mas em 2008 e 2009 nem tentamos entrar. O esforço era muito grande para pouco retorno”, conta.[2]

Segundo Moran, a WEG voltou a responder o questionário do ISE no ano passado, apostando que “o mercado pode estar começando a olhar mais para esse tipo de iniciativa, ainda que de forma tímida”.[1] e [6]

Para Moran, a grande falha do ISE não é a sua extensão ou complexidade, mas o fato de não revelar as ações das companhias que geram valor a partir da sustentabilidade. “É como se o conceito de sustentabilidade só passasse pelo gerenciamento de riscos e servisse apenas como uma forma de evitar problemas futuros. Essa percepção é muito superficial”, afirma.[3]


A Abrasca aproveitou o encontro para lançar o selo de governança, o Código Abrasca de Autorregulação e Boas Práticas das Companhias Abertas, que começa a vigorar dia 15 de agosto e já teve a adesão voluntária de 30 empresas.

Fonte: Marina Falcão e Denise Carvalho, Valor Econômico

[1]Segundo Bissonnette , o mercado financeiro está atento a questão da responsabilidade social corporativa e foca-se cada vez mais com preocupações sociais e ambientais. A criação de índices de ações voltadas para estas questões é crescente. No mercado norte-americano os mais famosos são o: Dow Jones Sustainability e o FTSE4Good.

[2]É interessante observar que diversos estudos já foram feitos de modo a comparar o desempenho das empresas socialmente responsáveis (ESR) e outras que não são assim consideradas. Um estudo divulgado na The Economist conclui que existe uma fraca relação positiva entre as ESR e o seu desempenho financeiro. Outrossim, as empresas não são muito bem recompensadas por suas ações de responsabilidade social, mas nem por isso elas destroem valor para os acionistas. Apesar disso, Lobe e Walkshauls mostram que há pouca diferença no desempenho das ações de investimentos socialmente responsáveis e ações de companhias relacionadas aos setores: de entretenimento adulto, álcool, jogo, energia nuclear, tabaco e armas.


[3] Os critérios de seleção das empresas que compõe o ISE são muito claros.Além disso, é temerário dizer que algumas empresas que estão na carteira não dão crédito ao índice.


[4]É claro que ainda é necessário critérios mais objetivos e quantitativos, no entanto, isso não é algo fácil de se implementar,pois há grandes dificuldades quando se trata da mensuração de práticas socioambientais.É um tema bastante subjetivo e cheio de juízo de valor.


[5]Não vejo nenhum tipo de lobby na escolha das empresas.Os critérios elencados pela Bovespa são justos e claros.

[6]Até meados da década de 70, uma empresa era sustentável se tivesse economicamente saudável, ou seja, tivesse um bom patrimônio e um lucro sempre crescente, mesmo que houvesse dívidas. Essa percepção mudou e segundo autores da área, o conceito de desenvolvimento sustentável embute a ideia de que o mesmo tem de ocorrer nas esferas ambiental, social, e não só na econômica. As práticas de sustentabilidade são um conjunto de ações de responsabilidade, ética e transparência, que visem minimizar as externalidades negativas no ambiente a qual pertence a corporação.Isso vai de encontro ao conceito de Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade) criado por John Elkington nos anos 90.

[7]A questão da responsabilidade social corporativa(RSC)normalmente é associada ao altruísmo e filantropia. No entanto, a RSC é um dos meios utilizados para maximizar os resultados. Em outras palavras, as empresas estão inclinadas a criar um ambiente propicio para o lucro, pois as ações de responsabilidade social geram uma série de vantagens competitivas para as empresa. A RSC é parte do modelo de negócios de diversas empresas. Um das possíveis explicações para isso é que os consumidores estão cada vez mais preocupados com questões ambientais e sociais.

12 julho 2011

Resultado sustentável em ações de programas finalísticos

A qualidade do gasto público revela-se como um novo foco a ser perseguido na administração pública. Não basta gastar e prestar contas corretamente, é preciso gastar bem. Nesse sentido faz-se necessário o uso de ferramentas que sejam capazes de evidenciar o retorno agregado à sociedade. A demonstração do resultado econômico inserida no rol de demonstrativos contábeis em 2008 possibilita medir a qualidade do gasto público. Apesar de sua inegável utilidade, ela não captura os resultados sociais e ambientais decorrentes dos efeitos de uma Ação de Governo. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é reconhecer, mensurar e evidenciar o resultado sustentável da Ação Governamental 8532 – Manutenção de Centros Recondicionamento de Computadores que integra o Programa 1008 – Inclusão Digital que está sob a coordenação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Verificou-se que a Ação agregou um lucro econômico para a sociedade de R$ 1.739.188,00 em 2008 e de R$ 1.047.462,00 em 2009. Além disso, foram reconhecidos e mensurados benefícios ambientais e sociais que proporcionaram um resultado sustentável à sociedade de R$ R$ 4.783.084,74 em 2008 e de R$ 3.838.642,10 em 2009.

Melhor trabalho na area de Contabilidade Gerencial do V Congresso ANPCONT.

O RESULTADO SUSTENTÁVEL EM AÇÕES DE PROGRAMAS FINALÍSTICOS COMO INSTRUMENTO DE EVIDENCIAR A QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO: UMA APLICAÇÃO NO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO - Giovanni Pacelli Carvalho Lustosa da Costa e Fátima de Souza Freire. ANPCONT, 2011.

30 junho 2011

Compra pública responsável

Ninguém tem dúvida sobre o impacto do consumo na sustentabilidade dos recursos naturais. Na prática a premissa está hoje restrita aos negócios do setor privado. Não é incorporada pelo governo por um motivo simples: a legislação impõe o menor preço como critério na compra pública de materiais ou contratação de obras, sem considerar os quesitos socioambientais. "A tendência é o cenário mudar com a Lei Federal 12.349, aprovada em dezembro do ano passado, definindo a licitação como ferramenta para o desenvolvimento sustentável", afirma Luciana Betiol, coordenadora do programa de consumo sustentável da Fundação Getúlio Vargas (FGV).


"Resta saber como isso será interpretado e aplicado na prática, mas há boas chances de emplacar, com reflexos positivos no mercado", ressalva Luciana. A nova legislação, que também permite o governo adquirir produtos nacionais por preço até 25% superior ao estrangeiro, protegendo o mercado interno, alterou o Artigo 3º da Lei 8666 sobre licitações, sancionada em 1993.


"Apesar de restritiva, a lei original dá brechas para preocupações socioambientais na licitação, mas o assunto tem esbarrado na resistência da área jurídica a mudanças", analisa Luciana. Ela lembra que o conceito econômico de "vantagem" é visto pelos conservadores sob o ângulo do preço e não do custo, que envolve longo prazo. A barreira impede o governo de exercer o poder de compra para a promoção da sustentabilidade. No Brasil as compras públicas representam 15% do PIB, totalizando R$ 60 bilhões no ano passado, segundo dados da FGV. Em São Paulo, o valor atingiu R$ 17 bilhões.


"Há um muro cultural: não adiantam novas leis, se os gestores públicos fecham os olhos para os produtos ambientalmente adequados, que são mais caros e acabam excluídos", explica Denize Coelho, coordenadora da comissão de compras públicas sustentáveis da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. "Os servidores temem o controle por parte da Secretaria de Fazenda ou Tribunal de Contas", completa.


O governo estadual elaborou um catálogo de materiais e serviços que podem ser comprados pelos órgãos públicos, com 170 mil itens. Dos automóveis ao papel, há 360 produtos marcados no catálogo com um selo ambiental. "Mas apenas 3% das aquisições envolvem essa categoria", lamenta Denize.


"A lei de licitação é antiga e tende a se modernizar, inclusive prevendo benefícios para quem cumprir aspectos ambientais", prevê Marcelo Eira, secretário-adjunto do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele cita o projeto de lei que regulamenta a Medida Provisória 521 com regras para as obras da Copa do Mundo e Olimpíadas, incluindo soluções ambientais. "Enquanto não houver mudanças, precisamos interpretar a lei das licitações ao pé da letra", justifica Eira.

Fonte: Valor Econômico - 20/06

01 junho 2009

Corinthians 2

Sobre o Corinthians, o relatório pode encontrado aqui. Analisando a contabilidade percebe-se um aumento substancial no ativo decorrente especialmente de Contas a Receber de Longo Prazo (R$67 milhões ou 22% do ativo). Não existe notas explicativas, para detalhar este fato, e o parecer da BDO não ajuda pois está com ressalvas. Da parte do passivo, ocorreu um aumento significativo nos empréstimos e financiamentos, de curto e longo prazo, de R$39 milhões, de tributos parcelados (R$31 milhões).

O resultado foi positivo (em R$12 milhões) graças a redução de provisão para contingências (foi de R$40 milhões em 2007) .

O mais revelador está na DFC. O clube teve um caixa das operações negativo em R$16 milhões em 2008 (versus R$16 milhões positivo em 2007). As razões: aumento de contas a receber, as provisões para contingências e os acordos e decisões judiciais. Como o clube realizou investimentos de R$25 milhões, o buraco foi coberto pelos financiamentos: R$39 milhões de recursos novos.

O clube é sustentável a longo prazo?

Corinthians

Corinthians aposta em sustentabilidade
26 Maio 2009
Gazeta Mercantil

O Sport Club Corinthians Paulista apresentou ontem o relatório de sustentabilidade referente aos resultados dos balanços de 31 de dezembro de 2007 e do ano de 2008. É a primeira vez, no mundo, que um clube mantenedor de um time profissional de futebol apresenta este documento. O objetivo, segundo o diretor de finanças do clube, Raul Corrêa da Silva, "é mostrar para os investidores, patrocinadores e parceiros que o clube é um bom negócio". O relatório segue as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), que é muito utilizado por empresas do Japão, Austrália, Estados Unidos e alguns países europeus.

Raul disse que o time está aberto a propostas de incentivos por parte de fundos de investimentos seed, venture capital e private equity. "O nosso objetivo principal é mostrar que o Corinthians é um clube com uma gestão profissional e transparente", pontua.

Mesmo sendo uma iniciativa nova no mercado esportivo, Silva disse que, até ontem, que os gestores do clube não falaram em criar um fundo de investimento para o time. Ele diz que não houve contato com empresas gestoras de fundos seed, venture capital e private equity, "mas isso pode acontecer a longo prazo".

O relatório sustentável tem como objetivo dar transparência aos projetos e estratégia financeiras, sociais e ambientais das empresas. Conforme a representante da GRI no Brasil, Gláucia Terreo, vários países já obrigam algumas empresas a emitir esse tipo de documento. "A Suécia obriga todas as estatais a produzirem o relatório. A Noruega, a Dinamarca e a China fazem o mesmo. Hoje, o Corinthians é exemplo no esporte", completa.

Foram produzidos 25 mil exemplares, em português, inglês e espanhol. "O documento foi produzido com material certificado [selo Forest Stewardship Council - FSC], mas o símbolo da árvore, que era verde, foi colocado em cinza. Não podemos colocar verde em um documento do Corinthians", brinca Silva.

O relatório foi baseado nos resultados entre 2007 e 2008, época em que o clube contratou uma equipe de gerentes para profissionalizar a gestão. Segundo o presidente do Corinthians, Andrés Navarro Sanchez, o primeiro passo foi a mudança da direção. "Primeiro, todos os diretores deveriam ser corintianos. Segundo, foi determinado que não haveria remuneração para nenhum gestor e os presidentes, eleitos por votação direta, atuam na função por dois anos e sem direito a reeleição. A partir daí, contratamos profissionais com grande experiência no mercado para a nova administração", explica.

Conforme o relatório, os resultados foram significativos após a mudança na gestão. A dívida total acumulada do clube, em 31 de dezembro de 2007, era de R$ 101, 55 milhões. Conforme Silva, mesmo com o investimento de mais de R$ 20 milhões na compra de jogadores, o clube reduziu a dívida acumulada em 4,25%, cerca de R$ 4,32 milhões, chegando a R$ 97,23 mi.

Silva demonstrou durante a apresentação do relatório que a rentabilidade do clube teve um reflexo da nova gestão, cujos desempenhos dos profissionais são acompanhados e todos trabalham com metas. "Enquanto em 2007 existia um déficit de R$ 23,264 milhões, no final de 2008 nós tivemos um superávit de R$ 10,871 milhões", diz.
(Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 6)(Pedro souza)

02 outubro 2008

Sustentabilidade

Lei 11.638/07 e a sustentabilidade
Roberto Gonzalez
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro -2/10/2008

A contabilidade tem algo a ver com a sustentabilidade? Sim, tem. Afinal, não só todo e qualquer numerário transacionado pela companhia deve ser retratado na contabilidade, como também várias questões atreladas a gestão, incluindo nota explicativa sobre passivos contingentes, onde é corriqueiro tratar da política adotada pela empresa em relação às questões trabalhistas, fiscais e civis e, em alguns casos, ambientais. Lembrando que é unânime que as questões relacionadas com o tratamento dos profissionais no ambiente de trabalho e com o meio ambiente são vinculadas com a responsabilidade social e sustentabilidade, bem como as questões econômico-financeiras.

Os movimentos que anseiam que a temática da responsabilidade social e sustentabilidade empresarial não fiquem apenas na seara da questão social e ambiental, deveriam refletir, com muita seriedade, a vinculação desses temas nas demonstrações contábeis (DCs), já que o “econômico-financeiro” passa por elas. Então, por que não ter o mesmo tratamento do “socioambiental”? Afinal, as DCs são balizadores para tomadas de decisão, seja interno como na assembléia geral, no conselho de administração, no conselho fiscal e na diretória executiva. Ou seja, tudo que está presente nas DCs, de uma forma ou de outra, também está na agenda da estrutura de poder das companhias; e, do lado externo, pelos analistas de crédito e investimento, entre outros públicos.

Quando foi efetivado o Índice de Sustentabilidade Empresarial, ampliou-se o debate da relevância das DCs demonstrarem a presença da sustentabilidade nas companhias, inclusive com ampliação de questionamentos pela comunidade financeira sobre alguns indicadores.

E também que debatesse esta questão internacionalmente e verificasse a migração do Brasil para a harmonização com o padrão contábil IFRS (International Financial Reporting Standard), visto que as notas explicativas ampliarão seu escopo nas DCs e tem recomendações claras em relação a contabilização, por exemplo, dos benefícios aos profissionais da companhia e dos ativos intangíveis. Isso deixa um recado forte: o de refletir o mais fielmente possível a realidade da gestão da companhia, o que não ocorre há muito tempo, devido a novas realidades mercadológicas, implementação de novas técnicas de gestão e, principalmente, a demora do debate da definição de novos procedimentos contábeis para uma nova realidade. Podemos citar como exemplo da demora, os ativos intangíveis que já foram primordiais no nascimento e desenvolvimento de empresas como Microsoft, há mais de 30 anos, e somente recentemente foi tratado com a devida seriedade na seara contábil.

Se a sustentabilidade empresarial está presente na gestão da companhia, uma das formas pragmáticas de demonstrá-la é nas DCs. O momento é neste período de transição para o IFRS, onde controllers, auditores e outros profissionais da área contábil estão em forte estudo da nova realidade.

Dentro desse debate, é altamente salutar e bem-vinda a Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que contribuiu para o fortalecimento da expressão da sustentabilidade nas DCs com a exigibilidade para que todas as companhias S/A listadas publiquem a DVA (Demonstração do Valor Adicionado).

Há um certo tempo já é um consenso nos grupos que militam na responsabilidade social a relevância da DVA, tanto que ela está presente na DBSI (Demonstração do Balanço Social Ibase), nas diretrizes do GRI (Global Reporting Initiative), e mais recentemente no manual de elaboração do relatório de responsabilidade social do setor de energia elétrica, por exigência do órgão regulador, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Portanto, passos estão sendo dados. Agora, é batalhar para que o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) estude e faça uma audiência pública sobre a demonstração de informações de natureza socioambiental. Iniciar o debate pela NBC T 15 (Norma Brasileira de Contabilidade – Técnica), que trata justamente sobre esta questão, será mais um caminho para que a sustentabilidade esteja na contabilidade e para que as companhias possam comprovar, de forma pragmática, a gestão focada na sustentabilidade.

09 fevereiro 2008

O Verde é Moda

Segundo o sítio CJR, dedicado a cobrir o que a imprensa está fazendo, o "verde" está na moda. Nunca, como agora, a imprensa falou tanto em sustentabilidade e meio-ambiente. Mas será que este interesse é de longo prazo?, pergunta Russ Juskalian. As histórias sobre o assunto continuarão mantendo a atenção do público? Aparentemente sim.

Um outro aspecto interessante mostrado por Juskalian é o fato de que o próprio presidente Bush, pouco amigável ao meio-ambiente, aumentou o orçamento para área. Uma boa notícia. Leia aqui

20 dezembro 2007

A Ecologia no Balanço

Um grupo de investidores, ambientalistas e grupos de pressão solicitaram a Securities and Exchange Commission uma melhoria na evidenciação dos impactos no clima e o risco decorrente. Isto significa uma melhoria no relatório de sustentabilidade, que apesar da dificuldade de definição de sustentabilidade, tem-se tornado um sucesso de relações públicas.

Hoje são mais de 1.200 empresas que seguem a abordagem do GRI e muitas outras empresas produzem relatórios com outros critérios.

Aqui uma extensa reportagem sobre o assunto. No texto mostra-se uma figura onde ressalta o crescimento da importância deste tipo de relatório. Uma outra figura interessante é uma pesquisa onde o principal motivo que leva as empresas a buscar a sustentabilidade é a razão econômica.

29 novembro 2007

Sustentabilidade

Bovespa divulga nova edição do ISE sob críticas a critérios
Valor Econômico - 28/11/2007

A Bovespa divulgou ontem a terceira edição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que engloba ações de 32 empresas, de 13 setores, com valor total de R$ 927 bilhões em ações e quase 40% da capitalização da bolsa. As companhias do grupo são aquelas aprovadas pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP. Nesta edição, ingressaram sete novas: AES Tietê, Cesp, Eletrobrás, Light, Sabesp, Sadia e Weg. Saíram oito: ALL, Celesc, Gol, Itaúsa, Localiza, TAM, Ultrapar e Unibanco. A edição do índice foi marcada pelo maior rigor nos critérios para seleção das empresas, sujeitas a apresentar comprovações das respostas e a auditoria para avaliação. Segundo Ricardo Pinto Nogueira, diretor de operações da Bovespa, o questionário foi enviado para 137 empresas, que representam 150 ações, mas respondido apenas por 62.

(...) Muitas empresas tiveram dificuldade em responder aos questionários mais complexos, principalmente porque todas as questões deveriam ser replicadas às subsidiárias. Uma empresa que enviou as respostas, contratou serviços extraordinários para dar conta das burocracias exigidas.Mendes, do Itaú, diz que seria mais interessante que o ISE crescesse com mais empresas e que sua representatividade aumentasse. Ele defende maior tolerância com relação a burocracias - mas não afrouxamento dos critérios, ratifica - para que mais empresas aptas possam fazer parte do ISE. (...)

25 outubro 2007

IFRS e sustentabilidade

(...)Algumas empresas já publicam como informação suplementar informações como a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e o Balanço Social de acordo com a Demonstração do Balanço Social Ibase (DBSI), ou pela norma Brasileira de Contabilidade Técnica (NBCT15). Mas o momento contribui para uma reflexão de como indicadores como o GRI poderão ser incorporados às demonstrações contábeis propriamente ditas, ou nas notas explicativas ou ainda em informes suplementares.

Hoje, os indicadores de sustentabilidade constantes das demonstrações contábeis trimestrais tradicionais são elementares. Depois da migração para o IFRS poderá ser mais comum o uso de indicadores mais completos de sustentabilidade.

Com o advento do IFRS amplia-se também a importância das notas explicativas. Uma dimensão disso pode ser vista no livro sobre IFRS publicado pela Atlas, em conjunto com a Deloitte, em que o capitulo dedicado as notas explicativas ocupa mais da metade do livro. A redação das notas explicativas terá que ser mais compreensível do que nunca e a parceria com os comunicólogos poderá contribuir para o melhor desenvolvimento desta parte das demonstrações contábeis, afinal os atos de gestão têm que estar fielmente retratados nas demonstrações contábeis.

Roberto Gonzalez - Por demonstrações financeiras mais completas - Gazeta Mercantil - 25/10/2007

09 outubro 2007

Governança Corporativa: uma entrevista

Adotar melhores práticas é crucial para o sucesso
Gazeta Mercantil - 09/10/2007

Governança é questão chave para quem investe nas empresas, diz o professor Di Miceli. A discussão sobre a forma como as empresas são governadas aumentou substancialmente nos últimos vinte anos em todo o mundo. Em entrevista concedida à Gazeta Mercantil, o especialista Alexandre Di Miceli, professor de finanças e contabilidade da Universidade de São Paulo e pesquisador senior do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) fala das mudanças que levaram as companhias a buscar melhores práticas.

Gazeta Mercantil - Quais as principais evidências de que a governança corporativa não é mais um modismo oportunista, de que veio para ficar?

Alexandre Di Miceli - A discussão sobre a forma como as empresas são governadas aumentou substancialmente nos últimos vinte anos em todo o mundo como resultado de mudanças estruturais e não pontuais, entre as quais: o substancial aumento do porte e do ativismo dos chamados investidores institucionais; o movimento de aquisições hostis e compras alavancadas que iniciou-se nos EUA nos anos oitenta e foi retomado nos últimos anos; a onda de privatizações ocorrida em países desenvolvidos e emergentes, incluindo os países da América Latina e antigos países comunistas. E ainda: a integração global dos mercados de capitais, incluindo a listagem de ações em outros países (cross-listings); os escândalos corporativos ocorridos nos EUA e em alguns países da Europa Continental no início deste século, com subseqüentes mudanças na regulamentação e regras de governança. Todos estes fatores vêm causando impacto nos relacionamentos entre acionistas, conselheiros e executivos na alta gestão das empresas, que é exatamente o foco da governança corporativa. Em resumo, a solução adequada das questões de governança será crucial para o sucesso de qualquer empresa.

Gazeta Mercantil - O sr. declarou recentemente que a governança é importante porque quem tem dinheiro acha que ela é importante. Por que o sr faz essa relação?

Di Miceli - Eu estava me referindo ao papel cada vez mais relevante dos chamados investidores institucionais que atualmente são os grandes compradores de ações e títulos de dívidas das empresas. Eles consideram cada vez mais a adoção de práticas de governança nas suas decisões de investimento. Assim, a governança corporativa é relevante não apenas porque reguladores de mercado e estudiosos consideram-no importante, mas simplesmente porque quem investe atualmente nas empresas considera-o um tema-chave. É importante destacar que os investidores institucionais (já detentores de mais de 50% das ações de todas as empresas listadas nos EUA) podem causar impacto nas práticas de governança das empresas antes, durante e depois do seu investimento.

Gazeta Mercantil - Quando se olha para os espaços que ocupam na mídia, a governança veio primeiro, a sustentabilidade depois. Como os dois conceitos se relacionam?

Di Miceli - Sem dúvida a linha de pesquisa em governança corporativa é prévia à de sustentabilidade e bem mais solidificada. Li centenas de artigos e trabalhos acadêmicos sobre governança corporativa nas áreas de economia, finanças, contabilidade e direito e, sinceramente, não me recordo de quaisquer referências nesses textos à expressão "sustentabilidade". Isto me leva a crer que são temas distintos, embora eventualmente possam ser relacionados. Quando falamos sobre sustentabilidade, em primeiro lugar é preciso definir mais precisamente sobre a que nos referimos. Recentemente participei de uma banca de mestrado sobre o tema onde o autor do trabalho encontrou mais de 50 definições substancialmente diferentes para esta expressão, o que mostra o quanto a expressão é ampla, ou até mesmo vaga. Dentro do mundo corporativo, entendo a expressão como a necessidade de se incorporar um horizonte de longo prazo nas decisões de alta gestão visando a assegurar um fluxo de caixa das operações por um período indefinido. Se esta definição for adequada, creio que ela simplesmente está embutida na visão dos livros textos de finanças de que a função dos administradores é maximizar o valor dos seus negócios. Isto é, quando se pensa no conceito de maximizar o valor das empresas, pensa-se em aumentar a perspectiva (em termos de montante e prazo) dos fluxos de caixa do negócio. Isto, portanto, já contempla a idéia de que as decisões devem levar em consideração os impactos de longo prazo sobre o negócio (e não apenas no resultado do exercício). Se a definição correta da expressão "sustentabilidade" não for esta, mas envolver temas como aquecimento global e linha de resultados tripla (triple bottom line), em minha opinião o tema se tornará mais polêmico, já que passará a envolver a discussão sobre a função do Estado (de regulamentação ambiental, por exemplo) e sobre a função-objetivo das empresas, que na minha visão continua a ter um propósito predominantemente econômico como negócio).

Gazeta Mercantil - Agentes do mercado têm afirmado que há muito joio no meio do trigo, referindo-se à quantidade de empresas que afirmam adotar boas práticas de governança. O sr. concorda?

Di Miceli - Sem dúvida há empresas que passam uma imagem de boas práticas de governança ainda distante da sua realidade diária. Infelizmente, muitos analistas acreditam que o fato de uma empresa estar no Novo Mercado constitui por si só uma garantia de que tal companhia possui ótimas práticas de governança e de que os investidores não terão problema. Há dois problemas nesta visão. Em primeiro lugar, estar no Novo Mercado (ou mesmo no Nível 2) é uma condição necessária, mas não suficiente. Isso foi evidenciado recentemente no caso da Cosan. Em segundo lugar, as práticas de governança das cerca de 90 empresas que vieram a mercado desde o início de 2004 ainda não foram realmente testadas. Como o mercado acionário como um todo apresentou ganho substancial no período, é natural que os investidores - principalmente os estrangeiros - se comportem de forma menos ativa e observadora das práticas corporativas em períodos de bonança como o atual.

Gazeta Mercantil - O que é preciso olhar para ver se uma empresa tem boa governança?

Di Miceli - É difícil aferir a real qualidade das práticas de governança das empresas. Entretanto, há alguns indícios importantes: presença de um conselho de administração ativo, independente e bem informado (com conselheiros independentes não apenas de renome, mas com dedicação à empresa), comitês do conselho bem estruturados, adoção de regras societárias que igualem os direitos dos sócios, entre outros.

Gazeta Mercantil - Os fundos de pensão de ações e as seguradoras têm contribuído para o aumento da governança nas companhias?

Di Miceli - A atuação dos fundos de pensão no país tem que ser dividida em função do porte dos fundos. Os maiores, notadamente Previ, por exemplo, tem sido bem mais atuantes no movimento em busca das melhores práticas de governança (mesmo que algumas posturas pontuais possam ser criticadas, como foi o caso do apoio ao fundo à polêmica proposta de conversão de ações da Telemar no ano passado). Por outro lado, os fundos de pensão menores basicamente têm se preocupado em acompanhar o Ibovespa nas suas carteiras de renda variável, não levando em consideração, portanto, as práticas de governança como critério para alocação de recursos. De fato, tenho percebido pouco envolvimento dos gestores desses fundos menores nos eventos e instituições que visam a promover as melhores práticas de governança. Em relação aos fundos de ações, também é preciso segmentarmos em grupos. De um lado, temos um histórico de alguns fundos ativistas que contribuíram muito positivamente para o avanço das melhores práticas de governança no país, como IP Participações, Dynamo, Franklin Templeton, entre outros. De outro lado, temos grandes fundos de ações, a maioria ligada a grandes bancos, que tem apresentado um comportamento bem mais passivo em relação às empresas investidas. Vejo dois temas relevantes a serem aprimorados na questão dos fundos de ações no Brasil: a maior divulgação sobre sua atuação nas assembléias de acionistas das empresas investidas, e o aprimoramento da governança dos próprios fundos de ações, já que seus tomadores de decisão também estão sujeitos a conflitos de interesses. No caso das seguradoras, tenho percebido pouca atuação ativa.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Lucia Rebouças)

22 agosto 2007

Concentração pode mudar o ISE

O processo de seleção para o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa deve sofrer mudanças para incluir apenas as melhores empresas de cada setor da economia. É o que defende o professor Rubens Mazon, coordenador do projeto de criação do índice. A modificação, segundo ele, permitiria pulverizar a composição da carteira. "É preciso incentivar a concorrência entre empresas do mesmo setor", diz.

Criado em dezembro de 2005 para reunir companhias comprometidas com boas práticas socioambientais, o ISE é composto hoje por 43 ações de 34 empresas. No entanto, devido ao critério de ponderação, leva em conta o valor de mercado e a liquidez dos papéis, 40% da oscilação do índice depende do comportamento das ações de bancos. Além disso, só as ações da Petrobras respondem por 1/4 do peso do índice.

Mazon defende um modelo mais parecido com o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), índice da Bolsa de Nova York que lista apenas as empresas que se destacam mundialmente em suas áreas de atuação.

Criador do ISE defende benchmarks setoriais - 21/08/2007 - Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4 - Aluísio Alves

Mas será que a amostra é representativa? E o fato de selecionar "setores" não induziria o comportamento futuro do índice?

28 março 2007

Os outros bancos

País lidera sustentabilidade bancária

Os bancos brasileiros viraram referência no exterior. São hoje os mais avançados no mundo do ponto de vista de sustentabilidade. Quem diz é o IFC, o braço financeiro do Banco Mundial, que divulgou ontem um relatório global mostrando exemplos de instituições financeiras que se preocupam com meio ambiente, o social e governança corporativa. A conclusão é a de que quem têm esses critérios agregou valor aos seus negócios.

Intitulado "Sustentabilidade Bancária", o documento de 90 páginas relata a experiência de 14 instituições financeiras de 12 países, a maioria bancos comerciais.

(...) O Brasil também é o único país emergente a ter quatro bancos nacionais - Itaú, Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil - na lista de 46 instituições financeiras que adotam os Princípios do Equador.


Valor Econômico, 28/3/2007

16 março 2007

Empresa sustentável

O valor de ser sustentável
Valor Econômico - 16/03/2007

O investidor em ações precisa estar atento a uma discussão que ganha amplitude no mercado internacional, mas que pouca ressonância tem tido no Brasil: a importância do conceito de sustentabilidade para que as empresas agreguem valor a seus acionistas no longo prazo.

Assim como os investidores puderam ver uma nova geração de empresas na última metade do século passado que tinham a maior parte de seu valor associada aos ativos intangíveis, neste início do século 21 aspectos como responsabilidade social e ambiental, transparência e alinhamento de interesses entre acionistas controladores e minoritários ganham um peso relevante. "Empresa sustentável é aquela que gera lucro para os acionistas, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a vida das pessoas com que mantém interações", diz Andrew W. Savitz, autor do livro "A empresa sustentável", editado no Brasil pela Campus.

O grande atrativo das empresas sustentáveis não é o ganho de curto prazo. São empresas com maiores chances de vida longa, pois tendem a ganhar cada vez mais a preferência dos consumidores e enfrentar menos problemas com a Justiça, uma vez que têm políticas de relacionamento com o meio ambiente, comunidade e funcionários. Como mostra Savitz, as empresas sustentáveis desfrutam de excelentes oportunidades para alcançar maior sucesso amanhã.

As primeiras empresas negociadas publicamente, surgidas na era industrial, extraíam dos ativos físicos a maior parte do seu valor. "Esses gigantes corporativos do passado, que incluíam General Motors, Standard Oil e AT&T, possuíam terrenos, propriedades e fábricas que se prestavam facilmente às mensurações contábeis e à avaliação", diz o professor Aswath Damodaran no livro "Damodaran on Valuation". Na última metade do século passado, aparecem empresas como Coca-Cola, Microsoft, Intel e Pfizer que obtêm o principal do seu valor a partir de ativos como a marca (Coca-Cola), as patentes (Pfizer) e a especialização tecnológica (Intel, Microsoft). "Uma parcela significativa dos valores de mercado dessas empresas provém desses ativos intangíveis; há comprovação, por exemplo, de que a marca pode, sozinha, explicar mais da metade do valor de muitas empresas de produtos de consumo", diz Damodaran.

Especialistas acreditam que movimento parecido está ocorrendo em relação a aspectos como governança corporativa e práticas socialmente responsáveis. Ian Davis, diretor gerente da McKinsey, empresa global de consultoria e gestão, acredita que novas pressões impostas pela sociedade, como regulamentações e sustentabilidade do meio ambiente, integram hoje a lista de preocupações dos CEOs de grandes empresas ao lado de pontos tradicionais como crescimento, globalização e tecnologia.

Segundo ele, é preciso que as empresas saibam se definir e explicar sua estratégia aos órgãos reguladores, funcionários e à comunidade em termos morais, e não só como entidades que visam lucro. Para agregar valor às suas ações e mantê-lo no longo prazo, as empresas também precisam beneficiar a sociedade, disseram os palestrantes de um simpósio realizado em 2003 que já discutia o tema Formação e Valorização das Estratégias de Sustentabilidade de uma Empresa, patrocinado pela Wharton Social Impact Management Initiative, da Wharton School.

Vários esforços já estão sendo feitos para começar a quantificar o valor das características sociais de uma empresa. Uma pesquisa realizada pela Wharton e pela Ernst & Young mostra que os executivos de empresas acreditam que os ativos intangíveis - como a qualidade da força de trabalho de uma empresa ou a reputação de sua administração - são mais importantes do que as características mais facilmente mensuráveis, como o desempenho financeiro no curto prazo.

Um índice desenvolvido pela Watson Wyatt Worldwide avaliou as empresas quanto a 30 práticas de recursos humanos, como a excelência no recrutamento, um sistema de recompensas transparente e um ambiente de trabalho colegiado e flexível. As empresas que apresentaram baixa pontuação no índice registraram retornos cumulativos de 53% sobre as ações, entre 1994 e 1999, enquanto aquelas que apresentaram alta pontuação obtiveram retornos de 103%.

Estudos da Innovest Strategic Value Investors, empresa americana de consultoria, aponta as indústrias responsáveis com o meio ambiente como melhores que suas congêneres e que têm probabilidade de lidar melhor com todos os aspectos de seus negócios. Segundo a Innovest, entre março de 1998 e fevereiro de 1999, a diferença de valorização no preço das ações de empresas que administram bem suas estratégias ambientais e as que não o fazem aumentou de zero para mais de 15%.

No Brasil toda essa discussão ainda não alcançou a profundidade vista em economias mais desenvolvidas. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bovespa em dezembro de 2005, acumula alta de 6,63% nos últimos 12 meses. No mesmo período, o ganho do Ibovespa foi de 13,16%.

No entanto, o Índice de Governança Corporativa (IGC) acumula no mesmo período 21,32% e o Índice de Ações com Tag Along diferenciado (ITAG) exibe um ganho de 16,46%, ambos bem acima do Ibovespa. O mercado já consegue enxergar o valor de práticas justas em relação aos acionistas.

Falta agora entender que empresas com práticas mais justas também tendem a se sair melhor em seus negócios neste mundo em que consumidores começam a se preocupar com questões de aquecimento global e justiça social.


2007/16/03

23 fevereiro 2007

Petrobrás em 2o. em sustentabilidade

Segundo notícia de hoje da Gazeta Mercantil, a empresa brasileira Petrobrás ficou em segundo lugar no levantamento feito pela Management & Excellence (M&E), empresa de consultoria espanhola, atrás da Shell.

O estudo da consultoria utilizou 386 indicadores para medir o desempenho das empresas nos quesitos ética, responsabilidade socioambiental, transparência, governança corporativa e sustentabilidade. Padrões e critérios internacionais foram utilizados para desenvolver indicadores em escala de zero a 100 e, pela quarta vez consecutiva, a Shell foi a mais bem colocada, com 90,16 pontos, com a estatal brasileira somando 89,64 pontos. Cox resumiu a visão da consultoria sobre a estatal brasileira: é evolução "impressionante", porque, como lembrou o consultor, até alguns anos atrás a Petrobras era conhecida como "empresa suja".

Uma das explicações para esse desempenho, explica Cox, foi a entrada da companhia, em 2006, no DJSI da Bolsa de Nova York, que reúne empresas comprometidas com boas práticas sócio-ambientais.

A despeito do progresso acelerado, a Petrobras também foi alvo de críticas. Em ética, por exemplo, a companhia foi censurada pela ausência de um monitoramento externo do código de conduta de seus funcionários. Em governança corporativa, categoria em que teve a pior performance, o levantamento apontou a ausência de um comitê de ética no Conselho de Administração. Confrontada com suas concorrentes no exterior, a Petrobras também perdeu pontos por ter parte do capital distribuído em ações preferenciais, o que tira de seus detentores o tag along e o direito a voto.