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13 agosto 2014

Brasileiro ganha Nobel da Matemática


RIO - Um carioca de 35 anos se tornou o primeiro brasileiro a receber a prestigiada Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática. Artur Avila foi anunciado como merecedor da láurea máxima da União Internacional de Matemática (IMU, na sigla em inglês), durante o Congresso Internacional de Matemáticos, nesta terça-feira, quarta de manhã em Seul, na Coreia do Sul, onde o evento acontece. A medalha é entregue a cada quatro anos, a no mínimo dois e no máximo quatro profissionais com menos de 40 anos cujos trabalhos um comitê secreto julga terem sido fundamentais para o avanço da matemática. Junto com Avila, este ano a Fields foi entregue também ao canadense Manjul Bhargava, ao austríaco Martin Hairer e à iraniana Maryam Mirzakhani.

Artur Avila fez notáveis contribuições no campo dos sistemas dinâmicos, análise e outras áreas, em muitos casos provando resultados decisivos que resolveram problemas há muito tempo em aberto. Quase todo seu trabalho foi feito por meio de colaborações com cerca de 30 matemáticos de todo mundo. Para estas colaborações, Avila traz um formidável poder técnico, a engenhosidade e tenacidade de um mestre em resolver problemas e um profundo senso para questões profundas e significativas. Os feitos de Avila são muitos e abrangem uma ampla gama de tópicos. Com sua combinação de tremendo poder analítico e profunda intuição sobre sistemas dinâmicos, Artur Avila certamente continuará um líder na matemática ainda por muitos anos”, escreveu o comitê da IMU na sua justificativa para o prêmio.

Ex-aluno de duas escolas tradicionais do Rio, os colégios Santo Agostinho e São Bento, o calculista coleciona medalhas desde os 13 anos, quando ganhou um bronze na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) de 1992. De lá até receber a sonhada Fields, Avila conquistou alguns ouros em outras edições da olimpíada e concluiu seu doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), em 2011, aos 21 anos. Hoje, divide seu tempo entre o Impa, onde atua como pesquisador extraordinário, e o trabalho de diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, em Paris. À diferença do Nobel, cujos vencedores só sabem da premiação após o anúncio oficial na Suécia, os ganhadores da Medalha Fields são informados previamente. O carioca, que já havia sido cogitado para o prêmio em 2010, recebeu a notícia há dois meses, com um certo alívio.

— Há vários anos existia uma expectativa nessa direção, e realmente eu sentia isso como uma pressão sobre mim, também pela sua importância para o Brasil, que de maneira um pouco estranha nunca teve prêmios internacionais desse porte, como um Nobel. Assim, ficava um pouco pesado. A notícia da medalha teve, para mim, um primeiro efeito de alívio — conta Avila.

No Impa, a notícia sobre o prêmio foi recebida com muita festa:

— Essa medalha para o Artur vem primeiro coroar o trabalho individual dele, mas, ao mesmo tempo, é coerente com a situação da matemática brasileira — pondera César Camacho, diretor-geral do Impa. — Não é como um salto quântico. Um feito excepcional, sim, mas não fora da curva. É resultado de um longo trabalho de construção do Impa como centro de excelência da matemática mundial nos últimos 62 anos. Somos uma instituição aberta, com muitos contatos e interação com outras no exterior, e na qual tudo é feito com base no mérito.

Avila e os outros três ganhadores deste ano se juntam às outras 52 pessoas laureadas desde a primeira Medalha Fields, em 1936. O prêmio foi criado pelo canadense John Charles Fields, para “reparar” o erro do sueco Alfred Nobels, que, ao elaborar o Prêmio Nobel, em 1895, desconsiderou a matemática como ciência importante. Hoje, os ganhadores da Medalha Fields recebem 15 mil dólares canadenses (R$ 31 mil). Valor bem menor do que as 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 2,7 milhões) pagos aos premiados com o Nobel. Nas 17 edições anteriores da Fields, os americanos foram os mais premiados (12 vezes). A medalha de Ávila é a primeira de um matemático da América Latina.



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23 julho 2014

Como os testes auxiliam a aprendizagem


TESTS have a bad reputation in education circles these days: They take time, the critics say, put students under pressure and, in the case of standardized testing, crowd out other educational priorities. But the truth is that, used properly, testing as part of an educational routine provides an important tool not just to measure learning, but to promote it.

In one study I published with Jeffrey D. Karpicke, a psychologist at Purdue, we assessed how well students remembered material they had read. After an initial reading, students were tested on some passages by being given a blank sheet of paper and asked to recall as much as possible. They recalled about 70 percent of the ideas.

Other passages were not tested but were reread, and thus 100 percent of the ideas were re-exposed. In final tests given either two days or a week later, the passages that had been tested just after reading were remembered much better than those that had been reread.

What’s at work here? When students are tested, they are required to retrieve knowledge from memory. Much educational activity, such as lectures and textbook readings, is aimed at helping students acquire and store knowledge. Various kinds of testing, though, when used appropriately, encourage students to practice the valuable skill of retrieving and using knowledge. The fact of improved retention after a quiz — called the testing effect or the retrieval practice effect — makes the learning stronger and embeds it more securely in memory.

This is vital, because many studies reveal that much of what we learn is quickly forgotten. Thus a central challenge to learning is finding a way to stem forgetting.

The question is how to structure and use tests effectively. One insight that we and other researchers have uncovered is that tests serve students best when they’re integrated into the regular business of learning and the stakes are not make-or-break, as in standardized testing. That means, among other things, testing new learning within the context of regular classes and study routines.

Students in classes with a regimen of regular low- or no-stakes quizzing carry their learning forward through the term, like compounded interest, and they come to embrace the regimen, even if they are skeptical at first. A little studying suffices at exam time — no cramming required.

Moreover, retrieving knowledge from memory is more beneficial when practice sessions are spaced out so that some forgetting occurs before you try to retrieve again. The added effort required to recall the information makes learning stronger. It also helps when retrieval practice is mixed up — whether you’re practicing hitting different kinds of baseball pitches or solving different solid geometry problems in a random sequence, you are better able later to discriminate what kind of pitch or geometry problem you’re facing and find the correct solution.

Surprisingly, researchers have also found that the most common study strategies — like underlining, highlighting and rereading — create illusions of mastery but are largely wasted effort, because they do not involve practice in accessing or applying what the students know.

When my colleagues and I took our research out of the lab and into a Columbia, Ill., middle school class, we found that students earned an average grade of A- on material that had been presented in class once and subsequently quizzed three times, compared with a C+ on material that had been presented in the same way and reviewed three times but not quizzed. The benefit of quizzing remained in a follow-up test eight months later.

Notably, Mary Pat Wenderoth, a biology professor at the University of Washington, has found that this benefit holds for women and underrepresented minorities, two groups that sometimes experience a high washout rate in fields like the sciences.

This isn’t just a matter of teaching students to be better test takers. As learners encounter increasingly complex ideas, a regimen of retrieval practice helps them to form more sophisticated mental structures that can be applied later in different circumstances. Think of the jet pilot in the flight simulator, training to handle midair emergencies. Just as it is with the multiplication tables, so it is with complex concepts and skills: effortful, varied practice builds mastery.

We need to change the way we think about testing. It shouldn’t be a white-knuckle finale to a semester’s work, but the means by which students progress from the start of a semester to its finish, locking in learning along the way and redirecting their effort to areas of weakness where more work is needed to achieve proficiency.

Standardized testing is in some respects a quest for more rigor in public education. We can achieve rigor in a different way. We can instruct teachers on the use of low-stakes quizzing in class. We can teach students the benefits of retrieval practice and how to use it in their studying outside class. These steps cost little and cultivate habits of successful learning that will serve students throughout their lives.


Henry L. Roediger III is a professor of psychology at Washington University in St. Louis and a co-author of “Make It Stick: The Science of Successful Learning.”

A version of this op-ed appears in print on July 20, 2014, on page SR12 of the New York edition with the headline: How Tests Make Us Smarter. 

11 maio 2014

Pesquisas do Banco Mundial

Os técnicos do Banco Mundial tinham a sensação de que ninguém ouvia o que eles diziam. Foram investigar e descobriram que a situação era pior do que imaginavam.
Um levantamento do banco mostra agora que um terço dos arquivos PDF contendo os estudos realizados por seus qualificados economistas nunca recebeu nenhum --nenhum, zero-- download.
Outros 40% foram baixados menos de 100 vezes. Apenas 13% dos trabalhos tiveram mais de 250 corajosos interessados em lê-los.
Os temas dos trabalhos variam de análises gerais sobre a macroeconomia internacional até coisas superespecíficas como "Detectando a expansão urbana e a segurança na posse da terra: o caso de Bahir Dar e Debre Markos, no interior da Etiópia". De 2008 a 2012, o Banco Mundial publicou cerca de 1.500 estudos em PDF no seu site.
É possível que os artigos tenham sido distribuídos de outras maneiras, como por e-mail ou versões impressas.
"Ainda assim, é justo assumir que muitos relatórios com boas ideias nunca foram lidos por ninguém além do autor e de um editor. Talvez a mãe do autor", escreve o jornalista Christopher Ingraham no seu blog no "Washington Post".

03 abril 2014

Pesquisa: O Outlier é relevante?

Quando fazemos pesquisas com dados é comum encontrarmos alguma informação bastante diferente das demais. Chamamos de valores extremos ou outliers. Existem várias técnicas para identificar cientificamente um outlier, que o leitor pode encontrar num livro de estatística, como por exemplo, o teste de Mahalanobis.

A grande dúvida para o pesquisador é se deve-se retirar ou não este dado. Ao retirar, os resultados estatísticos geralmente ficam melhores. Isto é um ponto positivo interessante a ser considerado. Mas o conforto pode ser punido por desprezar uma informação que pode ser útil. Os pesquisadores financeiros devem lembrar os valores extremos do comportamento do mercado acionário. Estes valores serviram de alerta para Nassim Taleb, que em lugar de ver “outliers” enxergou um comportamento que poderia levar a decisões ruins.

Além disto, o outlier pode ser a base de uma pesquisa. No passado fiz uma pesquisa com uma orientanda sobre o impacto do trânsito no mercado acionário de São Paulo. Depois de investigar a lentidão do trânsito na cidade de São Paulo, selecionamos os dias onde a informação era outlier. Ou seja, os dias de “muito caos” no trânsito. Com esta informação de outlier, comparamos com os dias de “caos”, ou seja, os dias normais no trânsito de São Paulo. Neste caso, a escolha do outlier era a essência da pesquisa. Sua determinação servia de propósito para verificar os efeitos na situação extrema.

Concluindo, o outlier pode ser uma importante informação para uma pesquisa. Antes de eliminar, verifique se você realmente não consegue aprender um pouco mais com este valor extremo.

28 março 2014

Validação da Pesquisa em Contabilidade

Quando um pesquisador faz uma pesquisa é razoável imaginar que esta pessoa está tomando todos os cuidados possíveis. Geralmente empregados a palavra rigor. Assim, a pesquisa deve ter rigor científico, para que as conclusões obtidas possam ser aceitas como adequadas. O rigor não se resume a verificar se todos os cálculos realizados estão corretos. Na verdade, existem alguns requisitos que necessitam ser observados durante a investigação científica. Isto passa pela realização de um pré-teste e um teste piloto, onde as incorreções de um questionário possam ser corrigidas. Quando se faz isto, alguns problemas podem ser imediatamente apontados e evitamos encaminhar para que as pessoas possam responder pesquisas incoerentes.

É muito bom que o pesquisador encontre alguém muito criterioso que aponte os problemas que possam existir na sua pesquisa. Este “chato” pode ser o orientador, um colega de turma, um amigo ou um potencial membro da amostra. Os problemas apontados no pré-teste e teste piloto podem ajudar a melhor a qualidade da pesquisa. Três pesquisadoras de Campina Grande fizeram uma avaliação do rigor das pesquisas publicadas nos principais periódicos da área contábil. Elas verificaram seis características: validade do conteúdo, pré-teste, teste piloto, manipulação da validade, confiabilidade e validade do construto. Para cada uma destas formas de validade existem técnicas que podem ser usadas pelos pesquisadores. Roseane Silva, Izabela da Silva e Larissa de Macêdo verificaram se 27 artigos publicados recentemente tinham, por exemplo, o teste alpha de Cronbach, que mede a confiabilidade do instrumento.

Como o trabalho das pesquisadoras foi realizado em periódicos de maior nota segundo a Capes, esperava-se que o resultado mostrasse pesquisas com muito rigor. Entretanto, a conclusão foi decepcionante: somente 22% dos artigos informaram que fizeram pré-teste ou teste piloto; 41% mediram a confiabilidade e 30% tinha a validade do construto. É bem verdade que a ausência de informação de que a pesquisa usou o teste Alpha de Cronbach não significa que não foi calculado. (Algumas pesquisas podem não ter informado esta variável)

Mas a ausência da informação, mesmo que tenha sido realizada, é também uma informação assustadora: neste caso os avaliadores não estariam sendo rigorosos em cobrar a demonstração de rigor no relato da pesquisa.

O texto das pesquisadoras é, portanto, um alerta para que possamos melhorar a qualidade das pesquisas que são realizadas.

LEIA MAIS: SILVA, Roseane; SILVA, Izabela; MACÊDO, Larissa. Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados da área Contábil. Pensar Contábil, v. 15, n. 57, p. 34-42, maio/ago 2013

18 março 2014

Intervalo de Confiança

Muitas pesquisas acadêmicas têm usado testes estatísticos para verificar se a hipótese apresentada se confirma ou não. E juntamente com estes testes temos a figura do intervalo de confiança. Assim, após levantar os dados e colocar estes valores num software estatístico, faz-se a interpretação dos resultados usando o intervalo de confiança.

Parece fácil e infalível. Basta olhar o resultado do software. Entretanto, três pesquisadores da Universidade de Groningen, além de um do Missouri, fizeram um levantamento com 120 pesquisadores e 442 estudantes, todos do campo da psicologia. Eles apresentaram seis frases envolvendo a interpretação de um determinado intervalo de confiança e solicitaram que os respondentes informassem se a frase era verdadeira ou não. E mas seis frases todas afirmações tinham como gabarito “falso”.

Em média os respondentes apresentaram desempenho ruim, errando, em média, mais de três afirmações. Isto é um sinal de que os pesquisadores, e seus pupilos, não conhecem a interpretação correta do que seria o intervalo de confiança. Obviamente que isto é um sinal alarmante para as pesquisas que estão sendo publicados no mundo. Assim, quando você ler sobre o resultado de uma pesquisa realizada por uma instituição de ensino renomada, desconfie da qualidade da análise. O pesquisador pode ter confundido os resultados.

Leia mais: HOEKSTRA, Rink et AL. Robust misinterpretation of confidence intervals. Psychon Bull Rev, 2014

19 fevereiro 2014

Com quem você discute pesquisa?

Por Posgraduando.com
 

As contribuições mais valiosas para as minhas pesquisas científicas foram realizadas por pesquisadores de áreas completamente diferentes do objeto de estudo.

Por isso, ao longo da minha vida acadêmica criei o hábito de discutir minhas pesquisas com outros pesquisadores e professores, sobretudo de disciplinas básicas, em todas as etapas de execução: planejamento, coleta de dados, análise dos resultados e redação do artigo.

Como resultado, os projetos se tornaram mais ricos, com respostas mais consistentes e, definitivamente, mais interessantes e úteis. Uma pessoa “de fora”, com outra “visão”, com outra experiência profissional, pode fornecer uma nova perspectiva para um mesmo trabalho.

Nem os mais consagrados gênios da história, como Einstein, Galileu ou Newton, dispensavam a ajuda de outras mentes. Cada um a seu jeito, aproveitavam as ideias dos outros para elaborar as teses que construiriam nosso conhecimento.

Entre os principais pensadores da humanidade, a maioria fez parte de alguma escola, movimento ou “panelinha” de amigos, com quem compartilhava o interesse em entender a vida e o Universo.

Albert Einstein, o cientista mais popular do século XX e que mudou nossas noções sobre tempo e energia, reunia-se semanalmente com Conrad Habith e Maurice Solovine para discutir filosofia e física. As teses de Einstein foram abastecidas por longas discussões destes encontros e por um desafio intelectual com um rival à altura, Niels Bohr, um especialista em átomos e elétrons que ganharia, em 1922, o Nobel de Física. Einstein e Bohr costumavam discutir suas teses por cartas e chegaram a ter debates públicos, que acabariam contribuindo para a obra dos dois.

Isaac Newton foi membro fundador da Sociedade Real de Londres para o Progresso do Conhecimento da Natureza, uma espécie de incubadora de cientistas, onde trocava ideias com outros estudiosos, como o químico Robert Boyle e o astrônomo Edmund Halley. Destas conversas, Newton descreveu a lei universal da gravitação, além de outras leis da física que por três séculos valeriam como descrição do Universo.

Galileu revolucionou o conhecimento do homem sobre o céu e a Terra. Ele descobriu que Júpiter tinha satélites, que a Lua tinha crateras, que Vênus tinha fases (como as lunares) e que a Terra não era o centro do Universo, como já havia dito Copérnico. Para chegar a estas conclusões, entretanto, Galileu teve grande ajuda de um dos maiores astrônomos da história, Kepler, que dedicou sua vida ao estudo da mecânica dos planetas.

Sigmund Freud, considerado o “pai da psicanálise”, se encontrava todas as quartas-feiras com três colegas estudiosos da mente humana para discutir psicanálise. Com o tempo, o número de membros aumentou e este pessoal que alimentava as discussões à base de strudel se tornaria a Sociedade Psicanalítica de Viena, hoje Associação Psicanalítica Internacional, órgão regulador da psicanálise no mundo.

Nos dias atuais, esta oportunidade de realizar encontros pessoais, discutir ideias, criar teorias e debater resultados, deveria ser praticada, sobretudo, nos grupos de pesquisas. Entretanto, em meio a tantas aulas, relatórios, cargos administrativos e pressão por publicações, as contribuições nestes grupos, quando acontecem, muitas vezes se limitam a colaborações com a análise estatística ou com a redação dos artigos.

Raros são os grupos que se reúnem para apenas discutir conceitos, hipóteses e resultados de pesquisas. Muitos são os grupos que, ao invés de grupo de pesquisa, tornaram-se grupos de publicação, onde a interação entre os membros se resume à troca de nomes nas publicações e à troca de citações em artigos.

Uma pena. Pois a máxima “Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe” cai como uma luva na pesquisa científica. Einstein que o diga.

Pesquisa em Contabilidade Pública

A contabilidade pública é o patinho feio da pesquisa contábil. Em geral são poucos os trabalhos de qualidade apresentados em congressos e revistas, com uma abordagem repetitiva, muito centrada na legislação. Uma aluna da Universidade Estadual da Paraíba, Sheila Oliveira, fez um levantamento da produção científica dos textos dos três principais congressos acadêmicos do Brasil, Anpcont, CBC e Usp, no período de 2007 a 2011. Isto representou 247 artigos ou 12,16% do total. Deste total, a maioria foi apresentada no Congresso Brasileiro de Custos (170) e poucos na Anpcont, a associação dos programas de pós da área.

As conclusões do estudo de Oliveira foram interessantes. Os artigos usaram a pesquisa bibliográfica (34%), documental (32%) e estudo de caso (26%). Mas a distribuição não é uniforme: 72% dos artigos da área apresentados no CBC eram teóricos, enquanto a abordagem empírica predominava no Anpcont e Usp (50% e 53%, na ordem).

Como as pesquisas contábeis dos dias de hoje é predominantemente quantitativa, baseado em um grande número de observações, a pesquisa mostrou que a realidade da área pública é outra. Prevalece a típica pesquisa realizada na área contábil há 30 anos: baseado em estudo de caso, bibliográfica e qualitativa. E não é por falta de dados. Esta é uma área onde a quantidade de informação disponível é enorme. O que falta, então?


OLIVEIRA, Sheila. Análise Bibliométrica dos artigos de Contabilidade Pública Públicados nos Congressos da USP, Anpcont e CBC. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012. 

12 fevereiro 2014

Pesquisa Concentrada

A pesquisa científica em periódicos de economia está excessivamente concentrada. Uma análise de 76 mil artigos publicados entre 1984 a 2004 em 202 periódicos científicos da área mostram uma grande discriminação geográfica.

Neste período, 4 artigos foram publicados sobre o Burundi, mas mais de 36 mil sobre os Estados Unidos. Segundo os dados desta pesquisa, o PIB per capita justifica 75% das publicações entre os diferentes países. Ou seja, quanto mais rico o país, maior o grau de artigos aceitos nos periódicos de economia.

Uma questão triste desta história é que a discriminação geográfica continua no tempo. Os dados de 1985 são muito parecidos com os dados de 2004. É bem verdade que as publicações de instituições multilaterais, como Banco Mundial ou FMI, são mais abertas aos estudos de outros países. Mas o problema também atinge os principais periódicos da área. Por exemplo, em vinte anos, o American Economic Review, talvez a principal publicação da área, teve um artigo da Tailândia. Ou 39 da Índia ou 65 da China. E 2.383 artigos sobre os Estados Unidos.

A pesquisa realizada por Jishnu Das e outros pesquisadores conclui que o problema não é qualidade. Isto é preocupante, pois não permite um fluxo mais livre de ideias.

01 dezembro 2013

Denunciantes científicos

O que acontece quando os cientistas mentem sobre os resultados de seu trabalho? Muitas vezes, nada.

Felizmente, nos últimos tempos, uma nova leva de “denunciantes científicos” está tentando manter os seus colegas honestos, tentando provar que seus dados foram falsificados.

Retrações de trabalhos científicos têm aumentado cerca de dez vezes na última década, geralmente por simples má conduta do pesquisador, que varia de plágio a manipulação de imagem para fabricação de dados.

Agora, no que parece ser uma tendência crescente, colegas e anônimos estão compartilhando mais e mais suas preocupações através de e-mail e fóruns públicos. A revista científica Nature, por exemplo, publicou recentemente três histórias marcadamente diferentes de indivíduos que agiram sobre suas suspeitas. Bem sucedidos ou não, cada caso oferece um grande debate para futuras denúncias.

O analítico
Uri Simonsohn vê a si mesmo como um cuidadoso analisador de dados mais do que como um delator. Seu trabalho como cientista social na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia (EUA), envolve vasculhar dados de arquivo – de preços de casas a leilão a registros de admissões da faculdade – como parte de sua pesquisa sobre julgamento e tomada de decisão.

Ele suspeita que este olhar o levou a estranhar padrões incomuns em outros resultados de pesquisas psicológicas, como a de Dirk Smeesters, da Universidade Erasmus em Rotterdam, na Holanda, e Lawrence Sanna, na Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), no verão de 2011.

Em ambos os casos, os dados pareciam bons demais para ser verdade, contendo um excesso de grandes efeitos e resultados estatisticamente significativos. Em um dos artigos de Sanna, Simonsohn notou que uma experiência – em que os voluntários foram supostamente divididos em diferentes grupos – produziu resultados com desvios estranhamente similares. Nos resultados de Smeesters, ele viu uma desconfiada baixa frequência de números redondos e uma semelhança incomum entre muitas das médias. “Se há muito pouco ruído, e os dados são muito confiáveis, podem não ser reais”, diz ele. “Dados reais devem ter erros”.

Simonsohn verificou suas suspeitas através da simulação de experimentos para mostrar o quão improvável os resultados relatados eram. Ele replicou suas análises em outros trabalhos dos mesmos autores e encontrou os mesmos padrões. Além disso, realizou controles, observando que não havia padrões suspeitos na obra de outros psicólogos que usaram os mesmos métodos.

Simonsohn contatou ambos os autores buscando sistematicamente explicações alternativas para as discrepâncias que encontrou. Eventualmente, só uma restou: a de que eles tinham manipulado os dados. Ele ainda se absteve de acusar alguém, pedindo aos pesquisadores dados brutos, delineando suas preocupações e perguntando se outras partes, como um estudante ou assistente de pesquisa, poderiam ter adulterado os dados.

No fim de 2011, Simonsohn soube que a Universidade de Erasmus tinha começado uma investigação. Ele também descobriu que, por causa dos seus inquéritos, a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, onde Sanna tinha realizado o seu trabalho, também tinha começado a investigá-la. No verão de 2012, tanto Smeesters quanto Sanna se demitiram de seus cargos, e vários de seus trabalhos foram retratados.

Quando perguntado sobre as duas carreiras que foram arruinadas por suas investigações, Simonsohn pausa. “Eu não me sinto mal com isso”, conclui. “Se estou indo para as mesmas conferências que estas pessoas e publicando nas mesmas revistas, eu não posso simplesmente olhar para o outro lado”.

Simonsohn espera que suas ações estimulem psicólogos a instigar reformas para conter fraudes – uma opção seria exigir que pesquisadores postassem dados brutos, tornando-os mais abertos a verificações por colegas. Ele também quer que os pesquisadores divulguem mais detalhes sobre o seu trabalho, como as variáveis ou tamanhos de amostra planejadas. Isso desestimularia formas mais sutis de adulteração de dados, como experiências contínuas até que os resultados encontrados sejam significativos – o que, em sua opinião, inundam a literatura psicológica com falsos positivos.

A quixotesca
Em 1999, perto de sua aposentadoria, Helene Hill decidiu dar uma olhada nas placas de cultura de um companheiro de laboratório. Bióloga de radiação na Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey, em Newark (EUA), Hill colaborava com um colega júnior em um projeto para estudar o ” efeito espectador”, um fenômeno pelo qual células expostas a um agente – neste caso, a radiação – influenciam o comportamento dos vizinhos não expostos.

Hill havia treinado o pós-doutorando, Anupam Bishayee, na técnica, e queria ver como ele se saía. As placas, segundo ela, estavam vazias, ainda que Bishayee tivesse relatado mais tarde contagem de células a partir delas.

Hill passou os próximos 14 anos tentando expor o que ela acredita ser um caso de má conduta científica. Painéis da Universidade, do Escritório de Integridade de Pesquisa dos EUA (ORI, na sigla em inglês) e dois tribunais de justiça têm avaliado e rejeitado suas preocupações. Sua convicção lhe custou milhares de dólares em taxas legais e incontáveis horas de leitura através de mais de 30.000 documentos. Também pode acabar lhe custando seu emprego. No entanto, Hill, agora com 84 anos, não tem intenção de recuar. “Uma pessoa tem a obrigação de fazer a coisa certa, se puder”, diz.

Após a primeira observação, Hill e outro pós-doutorando decidiram acompanhar secretamente os experimentos de Bishayee, tirando fotos de suas culturas na incubadora. Quando Bishayee relatou dados de um experimento que eles achavam que estava contaminado com mofo, Hill e seu colega o acusaram de fabricar os resultados, levando suas preocupações à comissão da universidade sobre integridade da pesquisa.

Sob interrogatório, seu colega reconheceu que havia mudado tubos de cultura de Bishayee antes de tirar fotos, o que a comissão viu como potencialmente adulteração de provas. E Hill explicou que tinha usado um microscópio com o qual ela não estava familiarizada ao verificar as culturas de Bishayee, de maneira que o comitê determinou que Hill não tinha evidências suficientes para provar o seu caso.

Hill não descansou. Bishayee havia publicado seus resultados em um artigo que a listava como coautora, e seu assessor, Roger Howell, havia usado os dados de Bishayee para apoiar um pedido de ajuda financeira junto aos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) em 1999. Hill levou o caso para os investigadores federais na ORI, que conduziram uma pequena análise estatística dos dados de Bishayee. ORI, apesar de achar que o caso tinha mérito, determinou que não havia provas suficientes para confirmar má conduta.

Hill chegou até a entrar com duas ações contra Bishayee. Além de ambas não terem sucesso, lhe deixaram US$ 200.000 (cerca de R$ 400 mil) mais pobre em taxas legais. O juiz Dennis Cavanaugh referiu-se a batalha de Hill como “uma missão de proporções quixotescas, que em última análise deveria ser colocada para descansar”. Hill perdeu seu apelo final em outubro de 2011. Ainda assim, ela diz que seu investimento valeu a pena: a fase de descoberta da ação permitiu-lhe acesso a dez anos de notas do laboratório de Howell.

Com esses dados em mãos, ela se juntou com o estatístico Joel Pitt da Universidade Georgian Court em Lakewood Township, Nova Jersey (EUA), e se debruçou sobre os dados que Bishayee tinha registrado à mão a partir de uma máquina que conta células. A dupla também reuniu conjuntos de dados de outras pessoas que usaram a mesma máquina. Pitt olhou para a frequência dos números que apareceram como o dígito menos significativo de cada contagem gravada. Estes deveriam ter uma distribuição aleatória, mas os dados de Bishayee pareciam favorecer determinados números. Pitt calculou as chances de essas frequências resultantes serem ao acaso: menos de 1 em 100 bilhões. Na visão de Hill, a implicação é clara: Bishayee manipulou os números.

Junto com Pitt, Hill tem tentado, até agora sem sucesso, publicar estas análises estatísticas e divulgar suas alegações, ações que Robert Johnson, o reitor de sua instituição – agora parte da Universidade de Rutgers (EUA) – advertiu que poderia lhe levar a “ação disciplinar adicional, até e incluindo rescisão”. Howell, em uma declaração à Nature, expressou frustração com o tempo que Hill gastou revisitando essa questão, apesar da não constatação de irregularidade.

Muitos cientistas admiram Hill pela coragem de suas convicções, mas também não consideram prudente que ela leve o caso adiante por tanto tempo e com tal despesa. Hill, por sua vez, permanece irredutível. “Eu quero ir até o fim”, diz ela. “Tornou-se quase uma obsessão”.

O anônimo
Dicas anônimas não são novidade. O pseudônimo “Clare Francis” que o diga. Ela ou ele (ou eles, muitos suspeitam que seja um grupo de pessoas) enviou centenas de e-mails a editores de revistas científicas sinalizando casos de suspeita de plágio ou manipulação de dados. Suas queixas concisas, às vezes enigmáticas, resultaram em um punhado de retrações e correções. Por outro lado, muitos dos seus avisos também não levaram a nada.

Francis estima que já enviou “cerca de 100″ e-mails para editores diferentes. Diane Sullenberger, editora-executiva da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, afirma que até 80% das denúncias que ela recebe vêm de Francis. E o editor científico Wiley diz que em 2011 o nome de Francis estava em mais da metade de seus pedidos de investigação.

No entanto, apesar de úteis, as dicas de Francis foram sendo cada vez menos usadas porque – independentemente de seu anonimato – muitas de suas reivindicações não podem ser conferidas. Diversas queixas de Francis são oblíquas e difícil de seguir. “É útil saber detalhes específicos sobre as preocupações do ponto de vista científico, não apenas ‘as bandas nos 10 e 60 minutos são geométricas e sobreponíveis’”, diz Sullenberger, referindo-se a alguns dos e-mails de Francis.

Alguns editores de revistas têm alertado Francis que são menos propensos a acompanhar seus pedidos do que outras queixas. Francis tornou esse fato público, o que provocou debate sobre como tais alegações anônimas devem ser tratadas. Por fim, o Comitê de Ética em Publicações americano emitiu suas diretrizes em relação ao caso, dizendo que não importa de onde vêm, “todas as alegações (…) que têm provas específicas e detalhadas para apoiá-las devem ser investigadas”.

Muitos editores não tem tanto um problema com a falta de identidade, mas sim com o suposto “tom” de Francis. Eles creem que, para compensar a inevitável perda de confiança que vem do anonimato, denúncias ganham credibilidade se forem precisas, detalhadas e educadas – o que não seria o perfil de Francis.

Uma coisa que tanto editores quanto Francis podem concordar é que a denúncia anônima deve aumentar nos próximos anos, dado o maior acesso a documentos científicos por pessoas de todo o mundo e a disponibilidade de ferramentas on-line para detectar plágio e manipulação de imagens. Um site, chamado PubPeer, já está se tornando um espaço para comentários anônimos – incluindo postagens em uma veia similar ao estilo de Francis.

Esse crescimento do anonimato é um sinal de que os denunciantes não se sentem protegidos o suficiente dentro do ambiente acadêmico. E, para o bem de toda a categoria, cientistas deveriam se sentir confortáveis em levantar questões sem temer represálias ou danos à sua própria carreira. O que você pensa sobre o assunto?

Fonte: texto e imagem

26 outubro 2013

Entrevista com Marcelo Moreira

Teoria assintótica, identificação em modelos de equações simultâneas, inferência em modelos de séries temporais não estacionários, estimação em modelos de painéis e testes em modelos de fatores. Parece complexo, mas esses são seus principais temas de pesquisa. Marcelo Moreira é Doutor em Economia e Mestre em Estatística pela University de California at Berkeley. Hoje utiliza as aulas da Fundação Getúlio Vargas para transmitir seus conhecimentos, mas no seu passado foi professor em Harvard e Columbia. Consciente da importância de fomentar a produção científica no país, o professor ressalta que os desafios que um pesquisador encara no Brasil ou em países como os Estados Unidos são muito similares: lutar contra as pressões para abordar projetos menores.
Globo Universidade - Você realizou o seu curso de doutorado em Economia e mestrado em Estatística pela University of California at Berkeley, uma das universidades mais respeitadas do mundo, cujos departamentos de Economia e Estatística figuram entre os melhores nestas duas ciências. Como foi a sua trajetória até chegar lá?
Marcelo Moreira – Certamente a minha trajetória não foi planejada. Como acontece com a maioria das pessoas no Brasil, eu tive que escolher a minha carreira muito cedo. E optei por fazer graduação e mestrado em Economia. Só mais tarde, durante o mestrado, é que eu decidi seguir a carreira acadêmica. A lição que eu aprendi ao longo da minha vida é que devemos prestar atenção nas oportunidades que surgem no nosso caminho.
GU - Antes de lecionar na Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, você lecionou nas universidades de Harvard e Columbia. Como foram estas experiências e o que elas acrescentaram na sua carreira como pesquisador e professor?
MM – Talvez a melhor frase que resuma a importância destas experiências seja: “Se eu consegui ver mais longe, foi porque estive apoiado em ombro de gigantes”. Falo isso porque, certamente, não teria seguido o mesmo caminho sem o apoio do meu orientador do doutorado, em Berkeley. Passei dois anos trabalhando na minha tese de doutorado e nós conversávamos semanalmente sobre a pesquisa. Assim, o meu trabalho em Harvard e na Columbia foi apenas uma continuação deste processo, no qual tive a sorte de trabalhar com alguns dos melhores pesquisadores em estatística e economia da atualidade.
GU - Embora você seja doutor e professor de economia, a sua pesquisa sempre esteve relacionada às áreas de Métodos e Modelos Matemáticos, Econométricos e Estatísticos. Como se deu a descoberta de suas aptidões para métodos quantitativos?
MM – Quando eu iniciei o meu doutorado, a minha intenção era fazer pesquisa em economia do trabalho e avaliação de políticas públicas. Este foi um passo natural, principalmente depois que eu trabalhei durante todo o meu mestrado nesta área com José Marcio Camargo, Edward Amadeo, Gustavo Gonzaga e Ricardo Paes e Barros. Mas eu tinha consciência de que ainda precisava fortalecer a minha base quantitativa. Então, ao mesmo tempo em que eu fazia o doutorado em economia, também cursava matérias nos departamentos de estatística e matemática. E alguns desses cursos acabaram mudando a minha forma de pensar. Foi quando eu comecei a me interessar por métodos econométricos e estatísticos referentes a áreas mais aplicadas.
GU - Como é a sua rotina de pesquisa? Estar afastado dos grandes centros de produção de conhecimento interfere de alguma forma?
MM – Como as pesquisas envolvem criatividade, eu prefiro não estabelecer uma rotina. Eu tento trabalhar em alguns projetos simultaneamente, mas, geralmente, tem um em especial que toma boa parte da minha energia. Também tenho alguns projetos que ficam na gaveta até achar uma forma de conseguir resolver o problema de forma satisfatória. A Fundação Getúlio Vargas tem uma política muito interessante de permitir que os pesquisadores passem até três meses do ano visitando universidades no exterior. E eu uso esse período para ir a conferências, fazer seminários e trabalhar com co-autores. Da mesma forma, existe um programa de seminários que nos permite trazer pesquisadores para passar uma semana visitando o nosso departamento.
GU - Os seus temas de pesquisa são extremante técnicos. Há como tentar explicá-lo para o público leigo? Quais as aplicações deste instrumental teórico em pesquisas práticas?
MM – Boa parte da minha pesquisa é focada em métodos quantitativos que ajudem a avaliar dados da forma mais eficiente possível. Apesar de eu ter interesse em métodos quantitativos, a pergunta inicial sempre se refere a um problema bem prático e específico. Por exemplo, um projeto que desenvolve formas de se calcular retornos para a educação quando as características do trabalhador não são observáveis pelo pesquisador. Outro projeto é o que permite extrair informações quando há ruídos excessivos em redes de telecomunicações.
 
Marcelo Moreira (Foto: Arquivo pessoal)Marcelo Moreira alerta sobre a necessidade de investimento em pesquisas (Foto: Arquivo pessoal)
GU - Você é um professor jovem e já tem publicações importantes em duas das mais respeitadas revistas acadêmicas de economia e estatística, como a Econometrica e Annals of Statistics. Quais são os desafios de se publicar em revistas deste nível?
MM – Este talvez seja o maior desafio para se fazer pesquisas no Brasil. Isso porque existe uma grande preocupação em relação ao número de publicações ao invés de focar na sua qualidade e impacto. E isso leva a uma mediocrização da pesquisa. Por exemplo, eu demorei pouco mais de cinco anos para terminar uma pesquisa que solucionava um problema que ainda estava em aberto no campo da estatística e econometria. Esse projeto apresentava um risco enorme, porque muitas pessoas já haviam tentado solucioná-lo, porém sem apresentar respostas satisfatórias. Enquanto eu estava focado nesta pesquisa, também fui pressionado para trabalhar em outros projetos menores. Os desafios de se fazer pesquisa no Brasil são os mesmos que nos EUA só que com um fator a mais: o pesquisador precisa lutar contra as pressões para se trabalhar em projetos menores.

Isso me lembra um colega de Harvard que certa vez me disse que os departamentos americanos top 10-20 só se interessam por pesquisas de ponta e que o número de publicações não importa. Ele ressaltou, porém, que essa preocupação muda em departamentos menores. Eu entendo que o mesmo acontece aqui no Brasil. O problema surge quando as avaliações do governo e das agências de fomento são influenciadas pelos departamentos medianos.
GU - Em relação à inserção do Brasil na comunidade científica internacional, qual é a importância de termos pesquisadores brasileiros publicando nestas revistas?
MM – O Brasil não pode mais ser um importador de tecnologias. Precisamos criar um corpo maior de pessoas fazendo pesquisas de ponta e publicando nas melhores revistas científicas do mundo, que ainda são as internacionais.

06 outubro 2013

Como ler um texto científico

Uma postagem interessante (How to read and understand a scientific paper: a guide for non-scientists) sobre como um não cientista deve ler um artigo científico. O texto concentra-se nos artigos denominados de “primary research”, em contraposição aos artigos de revisão da literatura. Eis alguns dos conselhos do texto (com adaptações):


  • Muitos textos científicos são divididos nas seguintes partes: resumo, introdução, métodos, resultados e conclusões/interpretações/discussão.
  • verifique o nome dos autores e o vinculo institucional. Algumas instituições são respeitáveis e outras nem tanto
  • verifique o nome do periódico que é publicado. Alguns periódicos são mais respeitados que outros. No Brasil temos uma classificação dada pela Capes para cada área como um sinal para qualidade do periódico.
  • leia inicialmente a introdução, não o resumo. Em geral na introdução o autor apresenta a importância da pesquisa, conduzindo a questão da pesquisa e, em muitos textos, os resultados que foram obtidos no trabalho.
  • identifique a grande questão do texto. Ou seja, qual o problema que o texto tenta resolver. Se for o caso, identifique questões específicas.
  • identifique a abordagem. Em outras palavras, como os autores responderam as questões.
  • leia a parte do método. Como os autores fizeram para responder a questão.
  • leia a seção de resultados. Em geral os artigos resumem os resultados nas figuras ou tabelas. Preste atenção no que os dados estão dizendo. Atenção para o termo “significante” e “não significante”.
  • verifique se os resultados respondem a questão proposta.
  • leia a parte final. Os autores mostraram as fraquezas do estudo? Isto influenciou na pesquisa?
  • agora volte e leia o resumo.
  • tente verificar o que outros pesquisadores dizeram sobre o texto. Use o google acadêmico para encontrar citações a pesquisa que você leu.

Leia mais aqui

17 setembro 2013

Finalmente: IgNobel 2013

O resultado tão esperado do IgNobel saiu!!!

A "estatueta" também merece um IgNobel

Quem segue o blog sabe que adoramos o IgNobel, a premiação cujos laureados são pesquisadores com trabalhos óbvios - mas que não deixam de ter sua contribuição à ciência. O Brasil já esteve presente, como publicado em 2008:
Um estudo sobre os danos provocados por tatus a sítios arqueológicos rendeu aos brasileiros Astolfo Mello Araujo e José Carlos Marcelino um prêmio IgNobel.
 O professor César já explicou o evento:
 O Prêmio IgNobel é uma brincadeira com a ciência. Organizado pelo Annals of Improbable Research (AIR), os vencedores são apresentados inclusive por ganhadores do Nobel na Harvard University. O prêmio começou em 1991 para premiar pesquisas que não podiam ser reproduzidas, mas hoje inclui também pesquisas engraçadas ou com aspectos inesperados. O nome é uma junção da palavra "ignoble" e "nobel", do prêmio Nobel. Não existe, a rigor, categorias no prêmio e as áreas destacas podem ser medicina, química, psicologia, literatura, paz, economia, engenharia etc. A lista dos vencedores pode ser obtida na Wikipedia.
Abaixo os vencedores de 2013:

Em psicologia foi comprovado os bêbados acreditam ser mais atraentes. É. Pesquisaram isso.

Um estudo que uniu astronomia e biologia revelou que o besouro rola-bosta, quando perdido, pode utilizar a via láctea para se localizar. Um dos autores, o Marcus Byne, tem, inclusive, uma palestra TED intitulada "a dança do besouro rola-bosta".

Medicina apresentou um trabalho sobre os efeitos positivos advindos de ouvir ópera durante  transplante de órgãos. Os pacientes eram ratos.

Agora... o pessoal da engenharia de segurança se empolgou! O ganhador criou um sistema eletromecânico para encurralar sequestradores de aviões. O meliante cai em uma portinhola, é selado em um pacote - com paraquedas - e jogado para fora da aeronave. Em terra, veja só, policiais o estarão aguardando.

Os físicos receberam a premiação por terem descoberto que algumas pessoas seriam fisicamente capazes de correr através da superfície de uma lagoa. Para isso seria necessário que tanto a pessoa capaz quanto o laguinho estivessem na lua.

Química surpreendeu. A pesquisa revelou que o processo que faz com que quem corte cebolas chore é muito is complexo que os cientistas imaginavam.

Os arqueólogos se envolveram apaixonadamente com a pesquisa, parboilizaram um musaranho morto e o engoliram inteiro para posteriormente verificar quais ossos seriam digeridos pelo sistema humano. Argh!

Conforme o Hypersciente, o prêmio da paz foi para o presidente da Bielorrússia por tornar ilegal aplaudir em público em 2011, e para a Polícia Estatal da Bielorrússia, por prender um homem, que tinha só um braço, por aplaudir. Eles acrescentam : "Aliás, a Bielorrússia tem tido sua cota de surrealidades, como um surdo-mudo sendo acusado de gritar slogans contra o governo e um professor acusado de agitar os braços e gritar slogans contra o governo enquanto andava de bicicleta."

Ainda, probabilidade se destacou pela descoberta de que quanto mais tempo uma vaca fica deitada, mais provável será que ela irá se levantar em seguida, mas uma vez em pé, não é possível prever com facilidade quando ela irá se deitar novamente. Ahá!

Em saúde pública os pesquisadores tailandeses ganharam a recompensa pelas técnicas médicas recomendadas em seu relatório “Surgical Management of an Epidemic of Penile Amputations in Siam” (“Tratamento Cirúrgico de uma Epidemia de Amputações de Pênis no Sião”, em tradução livre). As técnicas eram recomendadas exceto nos casos em que o pênis amputado tivesse sido parcialmente devorado por um pato (animal doméstico comum na Tailândia).

Foto: BBC News

12 setembro 2013

II Seminário de Contabilidade da Face/UFG


O período de submissão de pesquisas para o II Seminário de Contabilidade da Face/UFG está oficialmente aberto.

O organizador é o queridíssimo ex-UnB, Cláudio Moreira Santana, que foi meu professor e é um mestre em movimento, sempre disposto a ajudar pesquisadores que vagam por aí, sem saber sobre o que escrever, sem conhecer a tal da norma ABNT. Já fiz várias postagens com textos e livros que foram por ele indicados. Já vi vários alunos serem resgatados e revividos pelas práticas animadas desse primoroso educador.

Então, queridos leitores, vamos lá! Mexam e remexam por aí, procurem artigos engavetados ou terminem o TCC. O prazo de submissão vai até 30 de setembro e o evento ocorrerá no dia 1º de novembro, em uma sexta-feira, na Universidade Federal de Goiás.

Clique aqui para mais informações, realização do cadastro e submissão dos trabalhos.

21 agosto 2013

A Segunda razão mais comum para assassinatos? Problemas financeiros!

No que deve ser um dos mais obscuros projetos de pesquisa já feitos, uma equipe britânica estudou casos de “Destruidores de Famílias”, em que um membro da família assina outros. Alguns padrões emergiram dos 71 casos encontrados.

Por um lado, a maioria dos assassinos era do sexo masculino: 59 dos 71. Destes, mais da metade estava na casa dos trinta. Cerca de 20% das mortes aconteceu em agosto e quase metade aconteceu nos fins de semana, principalmente aos domingos.


Por quê? 


Agosto, mês do desgosto.
Os pesquisadores afirmam que muitos dos casos são baseados em percepções de masculinidade e sensações de ser desafiado. A razão de tantos casos acontecerem nos fins de semana e, em agosto , os cientistas argumentam, é que um pai afastado (novamente, geralmente o pai) terá acesso às crianças durante os meses de verão (no Hemisfério Norte) e fins de semana – mas, no final desse tempo, ele pode ter que devolvê-los à mãe, o que explicaria os assassinatos que acontecem em agosto e aos domingos.

Os dados confirmam isso: o motivo mais comum por trás dos assassinatos, os pesquisadores descobriram, era uma família com pais separados, que incluiu questões como o acesso a crianças. Essa categoria foi responsável por dois terços dos motivos declarados.


A equipe também quebra algumas suposições que as pessoas podem fazer sobre os assassinos, como a de que são sempre homens frustrados com histórico de doença mental. Na verdade, 71% dos assassinos estavam empregados, e muitos tinham carreiras de sucesso (embora muitos também não fossem – os pesquisadores afirmam que a segunda razão mais comum para os assassinatos era a dificuldade financeira).

Os dados defendem a colocação de assassinatos como estes em uma nova categoria de crime, diferente dos “assassinatos por diversão”, com os quais às vezes são confundidos. Os pesquisadores vão ainda mais longe para categorizar os assassinatos familiares em quatro diferentes subcategorias:

Hipócrita: O assassino tenta colocar a culpa por seus crimes sobre a mãe, que ele responsabiliza pela quebra da família. Isso pode envolver o assassino telefonar para o seu parceiro antes do assassinato para explicar o que ele está prestes a fazer. Para estes homens, o seu ganha-pão é fundamental para a sua ideia de família ideal;


Desapontado: Este assassino acredita que sua família foi responsável por deixá-lo para baixo ou agiu de forma a prejudicar ou destruir a sua visão de vida familiar ideal. Um exemplo pode ser a decepção de que as crianças não estão seguindo os costumes religiosos ou culturais tradicionais do pai;


Anárquico: Nestes casos, a família tornou-se, na mente do assassino, firmemente ligada a economia. O pai vê a família como o resultado de seu sucesso econômico, permitindo-lhe mostrar suas realizações. No entanto, se o pai se torna um fracasso econômico, ele vê a família como não servindo esta função;


Paranoico: Aqueles que percebem uma ameaça externa à família. Muitas vezes são os serviços sociais ou o sistema legal, que o pai tem medo que o coloque contra os filhos ou até o tire dele. Aqui o crime é motivado por um desejo de proteger a família.


Por Ana Claudia Cichon

01 agosto 2013

Gatinhos de Schrödinger

Erwin Schrödinger inventou o famoso experimento de pensamento sobre um gato que está vivo e morto ao mesmo tempo para demonstrar o absurdo da aplicação da física quântica em objetos comuns. Agora, duas equipes fizeram a coisa mais próxima de um gato de Schrödinger em laboratório, ligando centenas de milhões de fótons através da estranha propriedade quântica do entrelaçamento.

“Não é o entrelaçamento de algo tão grande como um gato, mas é pelo menos um gatinho”, diz Seth Lloyd, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, um físico quântico que não estava envolvido no trabalho.

Os resultados, que foram apresentados em 23 de julho, na Segunda Conferência Internacional sobre Tecnologia Quântica, em Moscou, Rússia, sugerem que as regras da física quântica podem se estender para objetos muito maiores do que pensávamos – e isso pode render usos práticos no dia a dia.

Sabemos que as propriedades quânticas, como o entrelaçamento (a ligação dos estados de dois objetos) e a superposição (a capacidade de algo para estar em dois estados ao mesmo tempo) descrevem o comportamento de objetos muito pequenos, porém nossa experiência nos diz que essas propriedades não se aplicam a objetos grandes. O experimento mental de Schrödinger enfatiza essa discrepância.

Resultado: (  ) Vivo  (  ) Morto  (X) Ambos
Se um gato está em uma caixa com um átomo radioativo que pode decair e desencadear a libertação de um veneno de um frasco, isso significa que o estado do gato e o estado do átomo estão entrelaçados: se o átomo radioativo decai, o gato morre. Entretanto, de acordo com a física quântica, o átomo, um objeto quântico, pode estar em uma superposição de estados, tendo decaído ou não, ao mesmo tempo. E isso significa que o gato também está tanto vivo quanto morto – embora no mundo real isso pareça absurdo.

Essa aparente falta de gatos – e outros objetos grandes – em tal estado de superposição no mundo real levou os físicos a se perguntarem onde exatamente o mundo quântico acaba e por quê. “Existe uma fronteira entre micro e macro, ou será que a física quântica se aplica em todas as escalas?”, questiona Alexander Lvovsky, que trabalha na Universidade de Calgary, em Alberta, no Canadá, e no Centro Quântico Russo, em Moscou, onde a conferência foi organizada.

Experimentos anteriores tiveram como objetivo responder a esta pergunta, explorando objetos cada vez maiores para que eles exibissem propriedades quânticas. Por exemplo, dois diamantes de 3 milímetros foram entrelaçados e um cilindro do tamanho de um grão de areia foi observado obedecendo o princípio da incerteza, que diz que não é possível determinar simultaneamente a posição exata de uma partícula quântica e seu momentum.

Lvovsky e seus colegas queriam imitar o cenário gato de Schrödinger mais fielmente. Eles usaram um espelho semitransparente para colocar um único fóton em uma mistura de dois estados quânticos – que representa a passagem do fóton através do espelho, e a outra correspondente à reflexão. Eles, então, entrelaçaram os dois estados.

Em seguida, a equipe usou lasers para amplificar um dos estados, de modo que o único fóton se espalhou e se transformou em centenas de milhões de fótons. Este raio era grande o suficiente para ser visto por seres humanos, em tese, embora a frequência da luz não estivesse na faixa visível para nós.

Eles, então, restauraram a luz ao seu estado de apenas um fóton de origem. As medições feitas pelos cientistas confirmaram que o entrelaçamento tinha permanecido durante todo o experimento – mesmo que um dos estados tenha feito parte de um sistema macroscópico no meio da experiência.

Segundo os pesquisadores, isso representa o primeiro entrelaçamento entre um objeto microscópico e outro macroscópico. Assim como o átomo, no experimento mental de Schrödinger, está relacionado com o gato, no experimento de Lvovsky, o estado de um único fóton está ligado ao estado de centenas de milhões de outros fótons.

“Nossa grande descoberta foi que, até agora, os cientistas só tinham sido capazes de construir esses estados de superposição contendo apenas alguns fótons, e nós fomos capazes de fazê-lo com 160 milhões de fótons”, explica Lvovsky.


Enquanto isso, Nicolas Gisin e seus colegas da Universidade de Genebra, na Suíça, possuem resultados semelhantes, mas com um experimento ligeiramente diferente.

Seth Lloyd sugere que o entrelaçamento entre micro e macro pode ser utilizado para aumentar consideravelmente a precisão dos interferômetros – dispositivos que usam o entrelaçamento para medir pequenas diferenças de comprimento.

Ambas as equipes afirmam que ainda estão longe de reproduzir o experimento com um gato real. De qualquer forma, Lvovsky aponta, mesmo que a ciência avance muito nessa questão, nós provavelmente nunca veremos o experimento original envolvendo um gato: “Seria desumano com o gatinho”, finaliza Lvovsky.


o.O

Hypescience por Bruno Calzavara

31 julho 2013

Prêmio ANEFAC PwC de Estudos Tributários e Contábeis


Prêmio ANEFAC PwC de Estudos Tributários e Contábeis tem inscrições até hoje [31 de agosto].

Os trabalhos de maior destaque receberão premiação em dinheiro:

Alunos de Graduação
Prêmio correspondente a R$ 15.000,00 para o primeiro colocado + publicação em formato de livro
Prêmio correspondente a R$ 8.000,00 para o segundo colocado

Alunos de Pós-Graduação
Prêmio correspondente a R$ 18.000,00 para o primeiro colocado + publicação em formato de livro
Prêmio correspondente a R$ 10.000,00 para o segundo colocado

Para mais, clique aqui.