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06 outubro 2022

Mídias sociais, clima e narrativa positiva

 Um extenso relatório sobre como empresas de automóveis, combustíveis e avião trabalham nas mídias sociais sobre a questão ambiental. O resumo está a seguir:

We report the results of a pilot study as a first step towards establishing a major new research initiative that will monitor, analyze, and expose digital climate discourse and deception. This initiative will be directed by Dr. Geoffrey Supran at the University of Miami in collaboration with computer scientists at the Algorithmic Transparency Institute (ATI), a project of the National Conference on Citizenship.

We perform a textual and visual content analysis of 2,325 organic social media posts generated by 22 major European Union-based fossil fuel producers, car manufacturers, and airlines on Facebook, Instagram, TikTok, Twitter, and YouTube during the summer of 2022. This yields the following insights:

• Climate silence: During a summer of unprecedented European heat waves, droughts, and wildfires, only a negligible handful of posts made any explicit reference to climate change or global heating.

• Greenwashing: Two-thirds of oil and gas (72%), auto (60%), and airline (60%) companies’ social media posts paint a ‘Green Innovation’ narrative sheen on their ‘Business-as-usual’ operations, which are given less air time. This ratio of ‘green-to-dirty’ in each industry’s public communications (3-to-1, 4-to-1, and 1.2-to-1, respectively) misrepresents their contemporary commitments to decarbonization, implying that at least some of their social media content constitutes greenwashing. We interpret greenwashing by the fossil fuel industry to be most blatant, whereas that by airlines is notably subtle.

Misdirection: One-in-five oil and gas (23%), auto (22%), and airline (15%) company posts feature sports, social causes, and/or fashion. The overarching theme of this narrative of ‘Misdirection’ is to focus the audience’s attention on engaging topics unrelated to companies’ core business operations. This can variously (1) legitimize fossil fuel interests’ social license to operate; (2) distract attention away from firms’ core business roles, responsibilities, and contributions to the climate crisis; and (3) market brands as exclusive, desirable, and relevant.

• Nature-rinsing (formally termed ‘executional greenwashing’): Statistical analysis reveals fossil fuel interests’ systematic use of nature-evoking imagery to enhance the ‘greenness’ of their brand image on social media. To our knowledge, this subtle intentionality to fossil fuel interests’ ‘green’ messaging has never previously been quantified. 

• Demographic greening and misdirection: Statistical tests show that companies (particularly car manufacturers) variously leverage not just the imagery of nature, but also of female-presenting people, non-binary-presenting people, non-Caucasian-presenting people, young people, experts, sportspeople, and celebrities to reinforce their messages of ‘Green Innovation’ and/or ‘Misdirection’

Um exemplo do relato, com as empresas de automóveis:

A dica está em Skeptical Science. Lá também tem um artigo sobre projetos espetaculares de alguns países que tenta promover uma narrativa positiva de um país. Obviamente que os veículos tradicionais de comunicação não irão divulgar este tipo de relato. 

Musk recua e entrega documento afirmando a intenção de comprar o Twitter

Em abril deste ano, o bilionário Elon Musk divulgou que compraria o Twitter por 44 bilhões de dólares. Depois disto, Musk fingiu que estava encontrando problemas com a aquisição por culpa da empresa de mídia social. Em julho, em um longo artigo, Matt Levine mostra que os argumentos eram fracos. 

Na segunda desta semana, o Twitter recebeu uma correspondência dos advogados de Musk e rapidamente entregou o documento no Tribunal de Delaware, onde a questão está sendo analisada. A juíza responsável pelo caso chamou os dois lados para tentar entender o que estava ocorrendo. 

O Twitter está desconfiado em parar o litígio somente com a correspondência. Não confia em Musk, segundo o Deal Book, do New York Times. Está considerando a possibilidade de ter uma supervisão para o fechamento do negócio e cobrar juros de Musk. Segundo a mesma fonte, não se sabe a razão da mudança de ideia de Musk. Pode ser uma análise sobre suas chances no julgamento e as consequências de continuar a via judicial. 

O Verge escutou especialista e pelo menos um deles disse que a mera correspondência de Musk não é suficiente para parar o processo. 

A principal alegação de Musk é que o Twitter entregou informações inconsistentes da empresa, especialmente o número de usuários bots. Pelas contas do Twitter isto corresponde a 5% do total, mas Musk chegou a alegar que o percentual seria de 20%, um valor muito questionável. 

Para que o negócio se concretizado, Musk precisa fechar o financiamento. Há dúvidas, neste momento, se as instituições financeiras teriam interesse em fechar o negócio. Pelo pouco que conhece, os bancos podem ter perdas caso sejam demandados em termos de dinheiro. Musk não consegue vender rapidamente as ações que possui em empresas como a Tesla sem criar outros problemas.  

... Musk tenta se livrar do acordo de compra e da multa rescisório de US$ 1 bilhão, estipulada em contrato em caso de desistência do negócio

Mesmo os planos futuros de Musk para o Twitter já estão recebendo críticas. De qualquer forma, e como mostra o gráfico, a correspondência de Musk já fez disparar o preço das ações da empresa. 

Endividamento de um país

O endividamento de uma empresa ou de uma pessoa é sempre um índice importante sobre a saúde financeira. Isto também é válido para um país. Países endividados são também nações que podem ter problemas no futuro. Além da análise comparativa, a evolução ao longo do tempo pode ser uma informação importante para analisar a saúde financeira de um país. 

O gráfico mostra que muitos países aumentaram a dívida ao longo do tempo. No gráfico é usada a relação entre dívida e riqueza gerada, medida pelo PIB. Um pais com uma relação igual a cem significa que a dívida do governo corresponde a um ano de produção da economia. Neste sentido, a dívida japonesa corresponde a mais de duas vezes e meia a sua produção. Os países com maior dívida relativa, na ordem, são: Venezuela, Japão, Grécia, Itália, Portugal e Estados Unidos. 

A análise histórica também é importante. Veja que a China, em 1995, tinha uma relação correspondente a um quarto. Vinte e cinco anos depois a relação subiu para 68 ou dois terços. Um crescimento rápido demais na dívida pode ligar um alerta. 

A relação brasileira é de 98,9%, abaixo de várias economias mundiais. Mas em 2001, o último ano completo do governo FHC, era de 67%. Em 2015 era de 72% e aumentou bastante nos anos seguintes. 

Assim como em uma empresa ou para uma pessoa, o nível de endividamento sozinho não explica tudo. É preciso olhar a capacidade de gerenciamento da dívida. Em 2018 a dívida da Venezuela era de 180% do PIB. Dois anos depois o índice chegou a 304%. Isto não é uma evolução boa. 

Rir é o melhor remédio

 

Mensagem para o filho. Quem nunca mandou uma mensagem para uma pessoa que está alguns metros de você? 

05 outubro 2022

Padronização de carregador de celular na Europa

 


Do Boing Boing

A União Europeia votou hoje para tornar o USB-C o padrão obrigatório para carregar portas em dispositivos de consumo, na esperança de reduzir o desperdício eletrônico e agradar os consumidores cansados de ter que ter carregadores especiais para cada um [dos eletrônicos]. Os modelos mais populares já mudaram nas versões recentes, com uma exceção proeminente: o iPhone da Apple, ainda usando o conector Lightning, de propriedade da empresa. A lei (...) isenta pequenos dispositivos, como relógios e rastreadores de fitness.

Parece razoável, mas é sempre questionar se faz sentido. E se o carregador da Apple for mais eficiente? O burocrata em Bruxelas decidiu que todos devem aceitar sua escolha? 

NFT e a destruição de uma obra de Frida Kahlo

Eis uma história surreal:

(...) um milionário resolveu colocar fogo em uma obra da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) depois de digitalizar a imagem, transformada em 10 mil tokens não fungíveis (NFTs).

O episódio, que aconteceu em Miami (EUA) e foi publicado no final de julho no YouTube, além de gerar uma enxurrada de críticas dos internautas, é objeto de uma investigação aberta pelo Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura (INBAL) do México, que tenta descobrir se a pintura queimada por Martin Mobarak é mesmo o original da obra "Fantasmones Siniestros" (fantasmas sinistros), de 1944, avaliada em 10 milhões de euros, R$ 51,5 milhões pela cotação da moeda europeia na última terça-feira, 27. [foto]

Segundo o magnata mexicano, que detém, ou detinha, a obra desde 2015, e que se autoproclama “alquimista de arte”, “visionário”, “líder filantropo” e “transformador NFT” em sua página no LinkedIn, o objetivo da transformação da obra em NFTs é criar “pedaços” que possam crescer “na eternidade.” Mobarak disse ainda que os fundos arrecadados pela venda dos NFTs serão destinados a entidades ligadas à saúde infantil, à Casa Museu Frida Kahlo e à Escola de Belas Artes Mexicana, e a Escola Nacional de Artes Plásticas, entre outros beneficiários.

A queima de uma obra de arte, na contabilidade, teria um tratamento semelhante a uma perda, um furto ou desaparecimento de um objeto. Ao criar NFT da obra, o empresa poderia estar calculando o valor digital que obteria. Mas quem compraria um arquivo digital sabendo que Mobarak fez o que fez? 

Trump e os impostos

Um novo livro sobre o ex-presidente Trump revela alguns fatos curiosos. Sobre a questão dos tributos:


Em um avião durante a campanha em 2016, Trump foi convidado por seu gerente de campanha Corey Lewandowski e sua secretária de imprensa Hope Hicks para tratar de sua recusa em divulgar suas declarações fiscais — uma questão que eles viram como um problema para a candidatura de Trump à Casa Branca.

Haberman escreve que Trump respondeu inclinando-se para trás antes de ter um pensamento repentino: "Bem, você sabe que meus impostos estão sob auditoria, eu sempre sou auditado", disse ele.

"Então, o que quero dizer é, bem, eu poderia apenas dizer: 'Vou liberá-los quando não estiver mais sob auditoria. Porque nunca deixarei de estar sob auditoria."

Desde Richard Nixon, todos os presidentes dos EUA liberaram voluntariamente suas declarações de impostos. Desde então, uma investigação do New York Times de 2020 revelou que Trump pagou US$ 750 (cerca de R$ 4 mil) em impostos federais no ano em que se tornou presidente.

Rir é o melhor remédio

 

Vi este cartoon no site da New Yorker e pareceu um pouco a figura de certos contadores e seu trabalho. Assim, o termo "contabilidade" foi acrescido pelo blog. 

04 outubro 2022

Fisco inglês fiscalizando os clubes de futebol

O HMRC (algo como Receita e Alfândega de Sua Majestade) é o fisco do Reino Unido. Com mais de 60 mil empregados, o HMRC é responsável pela fiscalização no pagamento de impostos. Em 2021, o HMRC fez diversas investigações em clubes de futebol que renderam um imposto adicional de 59 milhões de libras. Segundo informações o foco da investigação foram as taxas pagas aos agentes e os pagamentos de hotéis e voos para amigos e familiares de jogadores.

Entre os clubes que já foram investigados pelo HMRC estão os Rangers, Newcastle, Manchester United e, mais recentemente, o West Ham. O ex-técnico do City, Manuel Pellegrini, já foi multado em 343 mil libras. Um dos focos do HMRC são os benefícios em espécie, quando o clube paga passagens e estadia para a família de um jogador. Usualmente o clube não declara como pagamento ao jogador, o que evita pagamentos previdênciários.

Multa para influenciadora digital Kardashian


A mega influenciadora Kim Kardashian terá de pagar US$ 1,26 milhão (equivalente a R$ 6,6 milhões) à Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) depois de uma ação de publicidade com criptomoedas. Segundo a SEC, Kardashian infringiu as regras do país ao divulgar um token criptográfico sem revelar que foi paga para isso.

De acordo com a agência federal norte-americana, a influenciadora e estrela de reality shows recebeu US$ 250.000 (R$ 1,3 milhão) para postar em sua conta do Instagram um conteúdo sobre os tokens EMAX, um ativo criptográfico oferecido pela EthereumMax. Segundo a Bloomberg, ela não admitiu ou negou as alegações, mas concordou em não divulgar nenhum ativo digital por três anos.

“Este caso é um lembrete de que, quando celebridades ou influenciadores endossam oportunidades de investimento, incluindo títulos de criptoativos, isso não significa que esses produtos de investimento sejam adequados para todos os investidores”, afirmou Gary Gensler, presidente da SEC, em comunicado. [vide acima] “Encorajamos os investidores a considerar os potenciais riscos e oportunidades de um investimento à luz de seus próprios objetivos financeiros.”

Anteriormente, o órgão regulador já havia alertado que famosos divulgando criptomoedas consideradas títulos precisam deixar claro se são pagos pelo apoio. Em 2018, multas foram aplicadas ao boxeador Floyd Mayweather e ao produtor musical DJ Khaled por esta razão.

Fonte: Época. Veja também aqui

EY e a separação da consultoria

Francine McKenna argumenta que o plano da EY em separar a área de auditoria do braço de consultoria é fruto de uma posição de fraqueza da entidade. No processo de separação, há um acordo de não concorrência, onde a empresa focada na auditoria ficará fora da área de consultoria por um período inicial. 


Eis um trecho interessante:

Finalmente, como as empresas de auditoria dos EUA não publicam demonstrações financeiras auditadas, o público não tem idéia se as empresas são financeiramente viáveis, principalmente quando a empresa se depara com ela perdas de litígios potencialmente catastróficas.

Vimos isso repetidamente até os queixosos têm dificuldade em extrair informações financeiras das empresas ao processá-los, mesmo que o objetivo seja avaliar quanto uma empresa poderá pagar, se vencer.

Neste sentido

A EY está enfrentando ações judiciais de uma série de auditorias recentes fracassadas, incluindo reivindicações legais de bilhões de dólares na Alemanha e no Reino Unido por causa de suas auditorias supostamente fracassadas na Wirecard AG e no operador hospitalar NMC Health PLC.

Foto: Sven Piper

Política e Excesso de mortes na pandemia



Political affiliation has emerged as a potential risk factor for COVID-19, amid evidence that Republican-leaning counties have had higher COVID-19 death rates than Democrat- leaning counties and evidence of a link between political party affiliation and vaccination views. This study constructs an individual-level dataset with political affiliation and excess death rates during the COVID-19 pandemic via a linkage of 2017 voter registration in Ohio and Florida to mortality data from 2018 to 2021. We estimate substantially higher excess death rates for registered Republicans when compared to registered Democrats, with almost all of the difference concentrated in the period after vaccines were widely available in our study states. Overall, the excess death rate for Republicans was 5.4 percentage points (pp), or 76%, higher than the excess death rate for Democrats. Post- vaccines, the excess death rate gap between Republicans and Democrats widened from 1.6 pp (22% of the Democrat excess death rate) to 10.4 pp (153% of the Democrat excess death rate). The gap in excess death rates between Republicans and Democrats is concentrated in counties with low vaccination rates and only materializes after vaccines became widely available.

Fonte: aqui

Rir é o melhor remédio

 

Escritor referência do século XX. Mudei os nomes do cartoon original (muito enviesado) para minhas referências. 

03 outubro 2022

FRC, Carillion e KPMG

Aqui é possível obter um documento com mais de 100 páginas sobre a atuação da KPMG durante a auditoria na Carillion. A acusação pesada aparece logo no início do documento:

Each of the Second to Sixth Respondents, on one or more occasions during those inspections, was involved in the creation of false and/or misleading documents, either with the intention that the FRC would be misled into accepting those documents as genuine, or alternatively, being reckless as to whether the FRC would be so misled. 

Achei curioso que no final o documento afirma:

we have considerable sympathy for Mr Paw. We gave reasons for that sympathy. He was a young man, able but not yet qualified, recruited and instructed by more senior accountants who should not have committed Misconduct, and should not have involved him in it. He was led to commit his Misconduct by his desire to assist his seniors. 

Accountancy Daily chama a atenção para o fato da KPMG ter criado "atas" de reuniões fictícias. 

A empresa Carillion apresentou dificuldades, sem que sua auditoria manifestasse nenhuma preocupação com a continuidade. 

Encontro de reguladores sobre sustentabilidade

Um encontro entre reguladores aconteceu em Londres, no final do mês passado. Segundo o Iasplus ocorreu a apresentação: (a) do EFRAG, entidade européia que está desenvolvendo diversos documentos na área, entre eles o ESRS E1 Climate Change, que foi objeto de discussão; (b) do International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), que apresentou um relatório de sustentabilidade para o setor público; e (c) a SEC, dos EUA, que trouxe o The Enhancement and Standardization of Climate-Related Disclosures for Investors. 

A Austrália anunciou que irá usar os padrões ISSB, mas poderá existir itens específicos. A presença de vários padrões é uma preocupação, já que isto poderia ser um obstáculo para a internacionalização. E isto pode conduzir os padrões do ISSB para uma maior flexibilidade, o que, obviamente, dificulta a comparabilidade. 

Solução da questão climática passa pelos investidores

Gernot Wagner traz algumas considerações interessantes sobre a questão do risco climático. Seria como estarmos jogando com um baralho onde não sabemos o número exato de coringas que existe. A questão do clima, seus riscos e as probabilidades envolvidas, ainda é uma incógnita para a ciência. Mas é inegável que existe aqui um problema. Ao final do texto, sobre a contabilidade, um resumo da atual caminho escolhido pelos reguladores contábeis: 


As regras propostas pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos paras as divulgações relacionadas ao clima obrigariam as empresas a padronizar e relatar o impacto de suas operações no clima e os riscos que as mudanças climáticas representam para essas operações. O esforço da SEC deixa de pedir a todos os poluidores que paguem por sua própria poluição; em vez disso, cabe aos investidores decidir o que fazer com as novas informações. 

Estamos jogando a responsabilidade nos investidores. Será suficiente para resolver o problema? 

02 outubro 2022

The 32nd First Annual Ig Nobel Prize Ceremony

Cerimônia do IgNobel. A pesquisa da USP está no minuto 24:50 até 30. Gostei muito da reação humorada dos pesquisadores brasileiros. Afinal, uma boa divulgação da pesquisa. Amanhã começa a divulgação do Nobel

Rir é o melhor remédio