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07 julho 2020

Mudança na Auditoria no Reino Unido

Logo depois do escândalo da Carillion, uma empresa de serviços terceirizados, o Reino Unido parecia pronto para uma revolução no mercado de auditoria. Um país de tradição contábil estava ameaçando forçar a separação das Big Four em empresas menores e criar um novo órgão de regulação mais efetivo. Os políticos britânicos ameaçavam as empresas que eram contratadas para chancelar balanços e não viram os problemas na Patissiere Valerie, uma empresa de produtos alimentícios tradicional, na também tradicional agência de viagens Thomas Cook, na Ted Baker e na BHS.

Mas na política a velocidade das promessas nem sempre é igual a velocidade da ação. As medidas imediatas foram sendo deixadas de lado. Agora, segundo o Financial Times (via Valor) uma primeira medida parece estar a caminho: a separação entre a atividade de auditoria e outras atividades exercidas pelas empresas de auditoria. As empresas devem apresentar até outubro plano de separação, que inclui um conta de resultado separada, um dos princípios aprovados pelo FRC, a entidade responsável pela regulação. As mudanças devem acontecer até junho de 2024.

É interessante notar que em março de 2019 Greg Clark, o político que atuava como Business Secretary, tinha anunciado a implantação da implantação de um novo órgão de fiscalização. Mas este assunto não evoluiu substancialmente nos últimos meses. Talvez o exemplo da Wirecard, na Alemanha, tenha sido o alerta que faltava.

Rir é o melhor remédio


06 julho 2020

Adoção das IFRS no Brasil

Em um artigo de 2017, Sayed, Duarte e Kussaba investigam o processo de convergência das IFRS. O artigo é interessante no seu método, já que os autores escutam alguns dos atores que participaram do processo de transição no ano de 2007. Sempre intrigou o fato de que a Lei ficou muitos anos parada e de repente foi aprovada muita rápida no legislativo. Qual seria a razão? Eis uma possível resposta, dada pelos autores do artigo:

Na contramão do que ocorrera em 76, o papel do nosso ministro da Fazenda foi um pouco diferente, mas não podemos dizer que não foi determinante na introdução da nova Lei. Como comentamos acima, o Projeto-lei 3.741 ficou 7 anos parado e ia ficar mais se o Ministro Mantega não fosse cobrado publicamente pelo FMI e Banco Mundial acerca da adoção dos padrões internacionais no Brasil. E após essa cobrança, como vimos o processo foi velocíssimo, alguns consideram até inconsequente, principalmente por ter pego de supetão a comunidade contábil bem no final do ano de 2007, aos 28 de dezembro.

Ou seja, a adoção decorreu de uma cobrança pública de entidades estrangeiras e internacionais. Infelizmente os autores do artigo não nominam a fonte desta informação. Veja que a Europa tinha adotado as IFRS dois anos antes. Será que isto era relevante realmente para o FMI e o Banco Mundial, que nunca tiveram um papel relevante nas normas contábeis de empresas privadas dos países? Creio que este ponto poderia ter sido mais explorado pelos autores no artigo ou quem sabe pode ser explorado mais em pesquisas futuras.

Fonte: SAYED, S.; DUARTE, S. L.; KUSSABA, C. T. A Lei das Sociedades Anônimas e o Processo de Convergência para os Padrões Internacionais Contados pela História Oral e de Vida . Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade, v. 7, n. 1, p. 252-270, 2017.

Passivo da União: A discussão está correta?

Segundo notícia dos jornais, a União, através de decisão do Tesouro Nacional, passou a reconhecer um passivo de R$681,2 bilhões relacionados com as questões tributárias e outras obrigações potenciais. O valor já foi registrado no Balanço da União finalizado em 31 de dezembro de 2019. Parte deste valor não foi registrado no ano passado, que reconhecia um passivo de R$169,9 bilhões.

O forte aumento se deve à decisão do Tesouro Nacional de ser mais conservador e passar a contabilizar perdas prováveis a partir de uma primeira decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que seja desfavorável ao governo, mesmo que ainda caiba recurso (em que é possível, por exemplo, estabelecer que o efeito da decisão só vale dali para frente).

Isto inclui o reconhecimento de uma ação referente ao ICMS e PIS/Cofins e uma demanda com os estados. Mas veja um trecho interessante:

A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ainda tenta delimitar a decisão do STF para que o impacto sobre as contas seja menor, mas por precaução a perda é contabilizada de forma integral.

A palavra mais importante do trecho acima é precaução. Isto significa conservadorismo. Apesar de na Estrutura Conceitual existir um malabarismo para enquadrar a precaução dentro da representação fiel, mas é possível imaginar as duas coisas como idênticas. O caminho escolhido para o balanço é do reconhecimento máximo do passivo. O texto não é claro, mas o mais adequado seria reconhecer o valor presente da dívida, embora tudo leve a crer que foi reconhecido o valor de face.

A decisão fez com que o balanço apresentasse um passivo a descoberto de 2,982 trilhões e isto não seria substancial modificado se o passivo fosse de 170 bilhões e não 681 bilhões. Além disto, lembrando palavras de Kay, o reconhecimento de passivos enormes são fúteis.

Rir é o melhor remédio

Não é seguro a escola

05 julho 2020

Covid ajuda ou piora o aquecimento global?

Um argumento bem difundido é que a pandemia tem ajudado o ambiente. Basicamente o argumento é o seguinte:

Covid-19 => redução da atividade econômica => redução da emissão de CO2 => redução do aquecimento global.

Mas o clima é bem mais complexo. Alguns pesquisadores estão indagando se o Covid não estaria provocando um AUMENTO no aquecimento global. Recentemente notou-se que ocorreu um aumento na temperatura do mar Ártico. Uma possível justificativa estaria no aerossol de sulfato. Este produto cria uma nuvem e mascara o aquecimento global, reduzindo o impacto nas regiões mais geladas. Assim, a lógica acima talvez seja a seguinte:

Covid-19 => redução da atividade econômica => redução dos aerossóis de sulfato => aumento do aquecimento global.


Volta às aulas

Há um grande radicalismo na discussão sobre o retorno ou não das atividades no pós-pandemia. Tim Harford, na coluna para o Financial Times, apresenta alguns pontos relevantes sobre este retorno. Lembrando que Harford vive na Inglaterra, um país onde a pandemia foi muito forte - em termos totais e proporcionais.

O texto de Harford trata essencialmente das escolas para as crianças, mas creio que alguns argumentos poderiam ser usados para os adultos também. Segundo ele, o número de vítimas crianças entre final de março e final de maio foi muito pequeno. Ou seja, a sala de aula não representa um perigo para eles. E os professores? Segundo pesquisas, não estariam em risco grave. Os trabalhadores que mais sofrem com a pandemia são da construção civil, produtos de limpeza, profissionais de saúde, auxiliares de enfermagem, motoristas de táxi, chefs e assistentes de varejo. Também não está claro se manter as escolas fechadas representa um componente importante na luta contra a propagação do vírus.

No final de maio, pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Global analisaram 20 países que haviam reaberto escolas, geralmente porque as infecções por coronavírus estavam diminuindo. Em três deles, havia algumas evidências - ainda que fracas - de que a epidemia havia piorado após a reabertura. Na maioria, se eu lhe mostrasse um gráfico de novos casos, seria impossível adivinhar o ponto em que as escolas retornaram.

Isso não prova que as escolas não apresentam riscos. Em particular, as sociedades muitas vezes podem abri-las somente quando tiverem certeza de que outras medidas estão mantendo o vírus sob controle. Tais medidas, por exemplo, rastreamento de contatos, não devem ser negligenciadas. No entanto, o amplo fato de tantas reabertura terem sido bem-sucedidas sugere que o risco é gerenciável quando feito corretamente.

Enquanto isso, qual o risco de manter as salas de aula fechadas? Isso é mais alto do que muitos parecem perceber. É prejudicial para as carreiras de muitos pais - especialmente as mães, eu suspeito. É difícil ver uma economia se recuperar quando o emprego de tantas pessoas depende de seus filhos serem supervisionados com segurança na escola.

Quanto aos próprios alunos, temos evidências de inúmeras greves escolares em todo o mundo que a educação das crianças sofre quando a escolaridade é interrompida. Há um debate ativo na academia sobre se as longas férias de verão atrasam o aprendizado de todos os alunos ou apenas daqueles que já estavam em desvantagem. De qualquer maneira, é provável que uma interrupção escolar de seis meses ou mais prejudique seriamente as habilidades de muitos, prejudicando permanentemente suas chances de prosperar.

Veja que a discussão de Harford é focada nas crianças (não nos universitários) e na Inglaterra, onde a curva da doença está mostrando um controle da mesma. Mas precisamos, neste momento, de bons argumentos.

Ginástica Contábil x Realidade Econômica

04 julho 2020

Rir é o melhor remédio

Em tempos de covid

4 passos para aprimorar sua fala em público

Um artigo publicado recentemente pela Forbes lista algumas dicas para aprimorar a habilidade de fala em público, com base em pesquisas do professor de psicologia do estado da Flórida, Anders Ericsson, um gigante no campo do desempenho máximo, que morreu recentemente.

1. Defina metas específicas

Ericsson disse que estabelecer metas específicas é a chave para melhorar qualquer habilidade. Por exemplo, “melhorar no golfe” é uma ambição vaga. “Conseguir fazer cinco tacadas do meu handicap” é específico. Fazer 20 tacadas seguidas antes de terminar meu treino é ainda mais específico. Para conseguir falar em público, estabeleça uma meta específica para sua prática. Por exemplo, hoje você passará pelos cinco primeiros minutos de sua apresentação sem olhar para suas anotações. E você não vai parar de praticar até acertar.

2. Concentre-se no tempo de prática

A maneira como você organiza sua prática faz a diferença, de acordo com Ericsson. Programe seu ensaio de apresentação com o máximo de comprometimento que você colocaria em uma reunião importante. Se sua energia estiver mais alta de manhã, reserve um tempo ininterrupto antes do meio dia para executar sua apresentação. Faça disso uma prioridade.

3. Procure feedback

Quando escrevi o meu primeiro livro sobre como o cofundador da Apple, Steve Jobs, fez apresentações, dediquei um capítulo inteiro à sua estratégia de ensaio. Jobs praticou suas principais apresentações de produto dezenas de vezes, semanas antes do lançamento. Essa é a chave. Jobs sempre se apresentava diante de uma pequena audiência de executivos ou parceiros. Ele fazia uma seção da apresentação, pausava, baixava a voz e pedia feedback específico sobre cada slide e cada linha.

4. Saia da sua zona de conforto

“Se você nunca se esforçar além da sua zona de conforto, nunca melhorará”, Ericsson escreveu. A maioria das pessoas que afirma não ser “boa em falar em público” simplesmente não faz o suficiente para mudar. E eles podem não colocar as horas necessárias para se destacar no ofício, porque o medo as impede. Saia da sua zona de conforto. Não há problema em começar com pequenos passos. Pratique sua apresentação na frente do seu cachorro (não ria, o autor de best-sellers, Tim Ferriss, fez isso). Dê um passo à frente na próxima prática, pedindo a um amigo ou colega para assistir à sua apresentação. Próximo passo, leve-o ao grupo pequeno, seguido por um grupo maior.

03 julho 2020

Duas fraudes, duas culturas

Lendo sobre o escândalo da Kingold, é inevitável uma comparação com a Wirecard. Esta última, uma empresa de serviços alemã, apresentou um balanço onde 1,9 bilhão de euros deveria ter existir em conta bancária e "desapareceu". Sobre a Kingold é interessante um resumo:

Esta empresa chinesa - oriunda de Wuhan - tomou empréstimo e deu como garantia 83 toneladas de ouro. Esta quantidade de ouro corresponde a 22% da produção de ouro da China e 4% da reserva do país neste metal.

A empresa é presidida por um poderoso amigo do governo chinês. O escândalo também é deste ano, mas tem sido pouco divulgado, ao contrário da Wirecard. Os responsáveis provavelmente não serão punidos. Mas o escândalo é tão "primário"... No caso da Kingold, o ouro não era ouro. Era cobre coberto por uma camada de ouro. (Não é o primeiro caso em que barras de ouros são falsificadas na China; anteriormente, placas de tungstênio também foram usadas).

Garantias

A empresa Tesla é a grande queridinha de investidores e a grande aposta para o setor de automóveis. Recentemente a empresa tornou-se a mais valiosa do mundo, ultrapassando a Toyota. O seu principal acionista, Musk, aumentou seu patrimônio, embora continue envolvido em polêmicas.

A questão é que a valorização da Tesla parece muito exagerada. A empresa é muito pequena e apresenta muitos problemas operacionais. E os resultados contábeis apresentados não são animadores. Mas uma análise realizada na contabilidade da empresa mostra um problema mais grave de manipulação na conta de garantia.

Eis os cálculos (via aqui):

If you take TSLA’s adjusted warranty reserve in 1Q20 of $78.95mn and divide by its adjusted aggregate cars on the road of 763,755, you arrive at a number of $103.37/car; thus, given TSLA provides an 8-yr battery/motor warranty, and thus every car sold is still under warranty, $103.37/car x 32 = $3,308/car of lifetime expense x 79,200 cars sold and on the road in 1Q20 = the amount TSLA should have taken in 1Q20 pre-adjustment warranty provision (~$275mn) ; yet, taking the adjusted 1Q20 warranty provision of $119mn vs. 79,200 cars on the road, TSLA recognized just $1,427/car in reserves in 1Q20.
So ($3,308/car x 79,200 cars on the road) – ($1,427/car x 79,200 cars on the road) = gross profit overstatement of $148.932mn. This is a pretty big deal, and not only overstates gross margin, but also overstates net income – see below for TSLA classifying warranty cost as “goodwill”.

Produção acadêmica feminina durante a pandemia

Pesquisas recentes mostram que a produção científica feminina teve uma redução no período de pandemia. Muitas mulheres tiveram suas rotinas ainda mais afetadas com a sobrecarga de afazeres domésticos e familiares.

Dentro desse cenário, o que posso fazer para que essa realidade mude?

A colaboração do outro tornou-se ainda mais necessária para que consigamos viver nesse "novo normal", com o mínimo de prejuízos possíveis.

Fonte das informações da postagem: https://www.aguia.usp.br/noticias/49310/

Fonte: Aqui

Passos para o registro de uma transação

Sobre a discussão da Estrutura Conceitual (aqui também), a Fundação IFRS tem um documento que sustenta o caráter secundário deste documento. Eis uma figura (adaptada pelo blog) sobre a contabilização de um evento:

Rir é o melhor remédio

Hedge Accounting, ou teria coisa pior na contabilidade?

02 julho 2020

Questões sobre estrutura conceitual - parte 2

Fizemos uma postagem sobre a Estrutura Conceitual. No texto, discutimos que a EC não se confunde com a Teoria da Contabilidade e existem algumas questões relevantes sobre o assunto. O primeiro ponto é que existem duas abordagens: a receita-despesa e a ativo-passivo, sendo esta adotada pelos reguladores neste momento. Isto significa que a definição mais relevante para a EC é do ativo (e do passivo). Também comentamos a razão da necessidade de existir uma EC e a razão da sua importância. Na verdade, questionamos se a EC realmente é um documento relevante.

Existem uma série de assuntos que poderiam ser tratados na EC e não o são. Ou são tratados de maneira bastante superficial, sem a devida relevância. Em alguns casos, arriscaria alguma possível explicação. Vamos listar seis destes itens, que na quarta edição do livro de Teoria da Contabilidade, chamamos de premissas.

Unidade de medida - todos nós sabemos que a unidade de medida da contabilidade é a unidade monetária. No passado, o CFC expressava isto de forma bem clara nos seus princípios. Isto parece muito óbvio, mas talvez não seja. Há muitos anos que se discute a importância das medidas não financeiras. E que existem muitos fatos que a moeda não consegue traduzir de maneira adequada. Por exemplo, as medidas que compõe o balanço social são tipicamente não financeiras. Aqui talvez o raciocínio do regulador seja de que não seria adequado fechar uma porta para melhorias nas informações empresariais. Afinal, nos seus primórdios, a contabilidade era feita tendo por base unidades físicas.

Periodicidade - qual seria a periodicidade adequada para as demonstrações contábeis? O mercado de capitais parece ter uma preferência pela periodicidade trimestral; já as autoridades bancárias pensam em uma periodicidade mensal (já mostramos no Blog que historicamente a periodicidade mensal das informações contábeis é uma exigência legal no Brasil oriunda do século XIX). Mas talvez uma pequena empresa consiga sobreviver muito bem somente com a informação anual. Além disto, a periodicidade esconde algumas armadilhas e contradições. Em alguns países admite-se uma periodicidade diferente da anual, vinculada ao ciclo das operações da empresa, o que não deixa de ser um conceito bem subjetivo. Em alguns lugares, o encerramento coincide com o ano civil. Mas o próprio ano civil é diferente no mundo. Talvez esta seja uma questão que a EC evita para não trazer mais discussões.

Regime de Competência - o assunto é tratado de forma bem rápida na EC. Parece óbvio, mas nem tanto. Ainda nos dias atuais muitas entidades usam o regime de caixa ou o regime de caixa disfarçado. Este é um ponto complicado para o setor público, por exemplo. Talvez o regulador não quisesse fechar a possibilidade de que certas transações pudessem ser registradas pelo regime de caixa. Ou considerasse isto uma questão já resolvida.

Entidade - A entidade já foi considerada no Brasil um "postulado". O que significa isto? Seria como se fosse uma verdade universal. Entre os anos 70 até 2008 acreditava que isto seria muito importante. Entretanto, a discussão de entidade possui algumas considerações interessantes, que merecem uma grande reflexão por parte da contabilidade.

Continuidade - este termo é lembrado no relatório do auditor, para as empresas em dificuldades. Há considerações na EC sobre a continuidade e sabemos que isto afeta questões sobre reconhecimento e mensuração.

Evidenciação - tarefa crucial da contabilidade, não era uma preocupação constante no desenvolvimento e discussão dos princípios contábeis. Observe que esta discussão também está vinculada a questão da periodicidade, ao regime de competência, a continuidade, a entidade ... Em muitos casos, a questão da evidenciação está subentendida. Veja o exemplo da ordenação dos itens do ativo. No Brasil, a ordem é do mais líquido para o menos líquido; na Inglaterra, a ordem é inversa. Mas a evidenciação diz respeito a muito mais do que isto.

Parece pouco, mas temos mais. Enquanto redigia este texto, lembrei do método. Como assim? O método pode ser partida simples, partidas dobradas ou até mesmo partidas triplas. Até o início do século XX, na nossa contabilidade pública, utilizávamos as partidas simples. A partida tripla, proposta por Ijiri no final da década de 60, ainda não foi usado (até onde sei) na prática. É óbvio o uso das partidas dobradas?

Uma possível explicação para estes itens listados sejam menosprezados na EC é evitar uma discussão "desnecessária". 

Auditores caem nas mesmas armadilhas


https://www.ft.com/content/b4c3db1c-b2a6-4679-a413-6de8eda5feb1

Last week, payments firm Wirecard admitted that €1.9bn of its cash probably never existed — and then it collapsed. It turns out that the German group’s auditors had failed for at least three years to request crucial account information from a Singapore bank where Wirecard said it had up to €1bn. Instead, EY relied on documents and screenshots provided by a third-party trustee and Wirecard itself. 


 To some, the story sounded remarkably familiar. In 2003, questions were swirling about Parmalat, a big Italian food group. Back then, Bank of America said that a document purporting to show that one of Parmalat’s offshore affiliates held €3.9bn in its account had been forged. Days later, Parmalat went into administration. Deloitte, the group’s main auditor from 1999 until its collapse, later agreed to pay $149m to the company and $8.5m to investors. But that was not the only time a big auditor had displayed a remarkable lack of curiosity about how and where big companies keep their money. In 2010, JPMorgan Chase admitted to mixing up to $23bn in client money with its own funds in an unsegregated account for seven years. 

Auditor PwC, which had repeatedly certified that the bank was properly handling client money, was later fined £1.4m, a record for a UK accountancy firm at the time. Meanwhile, the UK branch of the fourth member of the Big Four, KPMG, has been mired in scandal over its work for failed construction group Carillion. It was sanctioned in 2018 by the UK’s accounting watchdog for an “unacceptable deterioration” in audit quality. It is easy to blame the auditors after the fact. In Wirecard’s case, EY says “third parties, with a deliberate aim to deceive, provided EY with false documentation in connection with its 2019 Wirecard audit . . . Professional standards recognise that even the most robust and extended audit procedures may not uncover a collusive fraud”. But short sellers had been raising questions about the company for years and James Freis, Wirecard’s new chief executive, is said to have told board members that basic checks should have been enough to undercover the scandal.  The profession does have a built-in problem. The vast majority of transactions are legitimate, and most managers are basically honest. Usually, executives and investors want audits done quickly and cheaply, with minimum fuss, so that the company can release its results and move on. 

 “The Big Four consider it a successful audit if they can run some checks and sign off. They want to find no problems,” argues Richard Brooks, author of Bean Counters. “They refer to their audit practices as ‘assurance’ — that’s what they want to provide.” The structure of the audit business exacerbates this problem. Firms are hired and paid by the companies they audit — rather than by investors or regulators who might prefer a more sceptical approach. For the Big Four, audit is also just one arm of a larger business that provides lucrative consulting and tax services to the same companies that are potential audit clients. There have been several efforts since the early 2000s to reduce these conflicts of interest. The UK and US have tried limiting the other work that can be done for audit clients. 

The Financial Reporting Council, the UK watchdog, has also asked the Big Four to voluntarily ringfence the costs and profits of their audit work from the rest of the business. But that plan, and the legislation that would give a new audit regulator the power to force a break up, have been put on hold during the coronavirus pandemic. The Wirecard scandal suggests that the problems go well beyond the Anglo-American sphere. And splitting audit from consulting will not fundamentally change the incentives that prompt auditors to cut costs and corners, and accept management’s word. “If you are going to audit a brewery, you don’t just count the barrels of beer. 

You should wiggle them to see if they are full,” says Sharon Bowles, former chair of the European Parliament’s economic and monetary affairs committee. “But no one thinks they will be the unlucky one and get caught out.” I am tired of reading these stories. It is time to rethink the whole model. We already know that when bank regulators become captured, the public pays the price. Auditors are never going to willingly bite the hands that feed them.

Fonte: aqui

Custos médicos reduziram?

Eis uma pesquisa interessante sobre os custos médicos nos Estados Unidos: quando a pandemia começou existia uma previsão de que os custos aumentariam substancialmente. A razão é que os pacientes do Covid teriam hospitalizações mais longas e caras. Entretanto, parece que isto não está ocorrendo; pelo contrário, os custos estão caindo. A razão, segundo uma pesquisa, seria a redução dos custos com outras doenças, que caíram substancialmente. Muitos pacientes foram atendidos somente em casos de doenças após longa triagem. Isto é um fator mais surpreendente quando se sabe que os gastos com saúde possuem uma tendência exponencial crescente (Lei de Baumol)

Parte da assistência médica não prestada nos dias atuais pode ser postergada; mas talvez uma grande parte não. Outra explicação, triste é verdade, é que muitos pacientes morrem antes de consumirem cuidados médicos. Nos Estados Unidos isto significou a eliminação de 42 mil empregos no setor de saúde. Finalmente, o setor de saúde pode ter uma mudança drástica na forma de prestação dos serviços, nos modelos de pagamento e no atendimento médico para diversas populações. Alguém já foi atendido de forma não presencial por um médico?

Na nossa realidade, isto seria válido? Boa parte do atendimento médico no Brasil é feito através da rede pública. Isto significa que não apresenta custo direto para o usuário, mas indica um custo para sociedade. Uma boa discussão e pesquisa futura.

EY e Wirecard

A associação, conhecida como Schutzgemeinschaft der Kapitalanleger (SdK), disse que é inaceitável que demore 11 anos e uma investigação especial da KPMG para a EY aceite que falta 1,9 bilhão de euros no balanço da empresa de pagamento alemã [Wirecard].

Alega-se nas últimas semanas que os auditores não obtiveram confirmações de saldo de dois bancos com sede nas Filipinas nos anos de 2016 a 2018.

"Esse comportamento é incompreensível e levanta inúmeras questões", afirmou SdK em comunicado. "Verificar a existência de saldos bancários é uma das tarefas mais fáceis de um auditor e o procedimento é claramente regulamentado." (...) 

Ações judiciais privadas foram iniciadas na Alemanha e outro grande investidor no Wirecard, o conglomerado japonês SoftBank, também planeja processar a EY, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. A SoftBank Investment Advisers, a subsidiária que administra o Vision Fund de US $ 100 bilhões da SoftBank, se recusou a comentar. (...) 

"Esse tipo de fraude não é novidade", disse Brian Fox, fundador da Confirmation, que permite que auditores e bancos certifiquem eletronicamente os saldos das contas. "Alguns auditores ainda estão usando procedimentos e técnicas de auditoria de 100 anos, desatualizados e facilmente manipuláveis ​​que permitem que a fraude escape pelas falhas".

Os principais bancos e instituições financeiras contam com trilhas de papel e tecnologias facilmente manipuladas para confirmar bilhões de dólares em ativos e recebíveis, disse Fox, tornando-os mais suscetíveis a fraudes e manipulação.

"Quando uma empresa deseja aumentar a receita registrando receitas falsas em suas demonstrações financeiras, a contrapartida deve ser" Dinheiro "ou" Contas a receber "", disse Fox.

"Nesse caso, com a Wirecard, eles registraram a entrada falsa de compensação em 'Cash' e contornaram os procedimentos de confirmação bancária dos auditores. Isso foi feito orientando os auditores a enviarem a confirmação do banco a uma pessoa que eles sabiam que responderia com as informações do saldo falso para corresponder ao que a empresa havia fornecido aos auditores. ”


Se encobrir a fraude, o autor usará contas bancárias falsas que realmente não existem, disse Fox à AccountingWEB. "O auditor acaba confirmando um saldo em dinheiro que eles consideravam legítimo e confirmado por um banco, mas na verdade era o fraudador interno que usava uma conta falsa".

Fonte: Aqui. Outro texto interessante está aqui. O autor toma grandes empresas dos EUA que tiveram boa parte da sua auditoria realizada pela EY da Alemanha. E lança dúvidas sobre os números reportados, já que a filial alemã foi enganada de forma, digamos, primária. 

Competição na política faz bem

Uma pesquisa analisou o que aconteceu com os municípios brasileiros durante a ditadura militar. O governo militar, tentando reduzir o poder das elites locais, aumentou a concorrência e estes municípios eram mais ricos em 2000. Eis o resumo:

This paper analyzes how changes in the concentration of political power affect long-run development. We study Brazil’s military dictatorship whose rise to power dramatically altered the distribution of power of local political elites. We document that municipalities that were more politically concentrated prior to the dictatorship in the 1960s are relatively richer in 2000, despite being poorer initially. Our evidence suggests that this reversal of fortune was the result of the military’s policies aimed at undermining the power of traditional elites. These policies increased political competition locally, which ultimately led to better governance, more public goods, and higher income levels.