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06 janeiro 2019

Entra ou não na conciliação?


Em uma postagem nesta semana comentamos sobre o erro do Deutsche Bank. No Brasil, alguns correntistas de um banco também tiveram uma surpresa no ano novo:

Entre as festas de Natal e ano-novo, alguns clientes do Banco Safra ficaram milionários de repente. Devido a um erro no sistema da instituição, foram depositados milhões de reais para alguns correntistas. Pouco tempo depois, o dinheiro foi estornado e, até agora, não houve esclarecimentos sobre o ocorrido por parte da situação.

O Banco Safra havia depositado quase R$ 200 milhões nas contas corporativas movimentadas por Renan e três primos, donos da rede Atacadão dos Móveis, com sede em Porto Alegre. Foram feitos depósitos de R$ 52,5 milhões, R$ 35 milhões, R$ 42 milhões e R$ 70 milhões em quatro contas bancárias corporativas.

O dinheiro entrou como se fosse resultado de compras feitas por clientes da rede no cartão de crédito. “Eu recebo esse tipo de crédito na conta todos os dias, mas são valores normais, nunca nesse porte”, disse Renan. Ele logo imaginou que fosse um erro do banco e nem chegou a procurar a instituição. “Fiquei monitorando por quase quatro horas e não fiz nenhuma movimentação. É triste estar milionário e não poder mexer no dinheiro”, brinca. “Me senti como um Eike Batista, com os bens bloqueados.”

No dia seguinte, toda a movimentação feita pelo Safra nas contas da empresa foi excluída e não aparece sequer no extrato de dezembro.


Se você fosse o contador da empresa, registraria ou não o valor?

Ensino e Juventude

Em 1851 um texto do O Comércio afirmava o seguinte:

Convêm, pois, ensinar á mocidade de todas as classes a conhecer o Creador e a creação em geral, a lingoa materna e a contabilidade.

(É bom lembrar que na época, o ensino inicial era constituído do português - a alfabetização - e a matemática. No segundo caso, a contabilidade era uma aplicação dos conhecimentos matemáticos, mas também uma possibilidade de emprego futuro)

Neste sentido, tenho continuamente escutado de meus colegas, professores, que os alunos de hoje estão piores. Quando quero me envolver nesta discussão, tenho discordado. E tenho o apoio do Joe Hoyle, um professor de contabilidade, com 47 anos de profissão que escreveu:

Estudantes raramente mudam com os anos. Em 1958 eu escutei meu professor falar para outro professor: "estudantes hoje não leem ou compreendem. Eles têm que ter tudo explicado para eles". Eu literalmente ouvi quase as mesmas palavras na semana passada fora do meu escritório.

Ontem li em um trecho do livro Dataclisma (Christian Rudder) que "o Twitter, na verdade, pode estar melhorando a escrita dos usuários". Pelos dados de Rudder, a palavra média do Twitter é maior que a do Corpus da Língua Inglesa. Dito de outra forma: talvez nunca se tenha escrito tanto quanto na época atual. 

Ainda a polêmica do Bitcoin

Afinal, o Bitcoin tem futuro ou não. Para Rogoff a questão é outra:

(...) É tentador dizer: "É claro que o preço está caindo aos pedaços". Os reguladores estão gradualmente percebendo que não podem consentir com a crescente presença de grandes transações tecnológicas que facilitam a evasão fiscal e a atividade criminosa. Ao mesmo tempo, os bancos centrais da Suécia à China estão percebendo que também podem emitir moedas digitais . Como destaquei em meu livro publicado em 2016 referente ao passado, presente e futuro das moedas, quando se trata de novas formas de dinheiro, o setor privado pode inovar, mas no devido tempo é o governo que se regula e se apropria. (...)

No momento, a verdadeira questão é se a regulamentação global será bem-sucedida no desenvolvimento de sistemas que agora são caros para rastrear e monitorar as criptomoedas. E também quando isso acontecer. Qualquer grande economia avançada que seja tola o suficiente para tentar aceitar moedas criptografadas, como o Japão fez no ano passado, corre o risco de se tornar um destino global para a lavagem de dinheiro. (Movimentos subsequentes do Japão para distanciar-se das criptocorrências foram talvez uma das causas das oscilações que a economia mundial deu este ano). No final, as economias avançadas certamente coordenarão a regulação da criptomoeda, como fizeram em outras medidas para evitar a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal.

Mas isso deixa muitos jogadores insatisfeitos. Afinal, muitos países - incluindo Cuba, Irã, Líbia, Coréia do Norte, Somália, Síria e Rússia - estão atualmente trabalhando sob sanções financeiras dos EUA. Seus governos não necessariamente se preocuparão com as externalidades globais se as criptomoedas que podem ter valor sejam encorajadas, desde que sejam usadas em algum lugar.


Completo aqui

História da Contabilidade: Falência de uma empresa em 1856

A empresa Araujo, Braga e Oliveira foi constituída em 1851 na cidade do Rio de Janeiro. O nome correspondia aos proprietários Bento José de Araujo, José Ferreira da Silva Braga e Manoel Joaquim de Oliveira, sendo que o último seria também o gerente.

A empresa era bastante atuante no comércio, conforme os registros da época, com transações com vestiário (1), rolos de fumo (2), arroz, açúcar (3), entre outros. Na relação dos estabelecimentos, a Araujo, Braga e Oliveira ora aparecia como comércio de vestiário, ora como comissões e consignações.

A empresa estava localizada na distinta Rua Direita, com número 104 (4). Em outubro de 1856 a empresa tornou-se insolvente (5). O motivo seria a gestão de Oliveira, que fizera transações de enorme valor e arriscada, fora da área do comércio. Além disto, Oliveira não apresentava as demonstrações contábeis desde 1853, além de outros problemas, conforme o seguinte trecho da sentença da sua condenação

Que o gerente devendo pelo contrato social dar balanço todos os semestres e pelo codigo art. 10  §4o todos os annos, não o fizera, sendo o ultimo de 1853, e este mesmo sem as formalidades do citado artigo 10 do codigo, exame a fl. 137. Que a escripturação é mal feita e mesmo escandalosa, pois não ha individuações das partidas lançada no - Diario - até 21 de Setembro de 1854, e desta data, em - Borrador - que lhe serve de continuação, estando neste as transacçães de letras sem ordem alguma, e o - Caixa - appresentado de Abril de 1856 á Outubro avultados saldos em seu favor, quando não ha antradas que estejam em relação com os figurados pagamentos, citado exame. Que, finalmente os livros estão em folhas em branco inutilisadas, escripturação e contabilidade informes com emendas de letras e até de quantias.  

A falência da casa parece que foi relevante, uma vez que foi expressamente citada na assembleia do Banco Rural e Hypothecario de 14 de agosto de 1857 (6)

O resultado foi a condenação de Oliveira, conforme artigos do então novo código comercial. Além disto, a sentença condena o cônego Joaquim de Oliveira Durão. O cônego aparentemente conhecia o que Oliveira estava fazendo e aparentemente o ajudou. Os demais sócios foram absolvidos, pois aparentemente não “conheciam” o que Oliveira estava fazendo na empresa.

Nos meses seguintes, os administradores da massa falida promoveram uma tentativa de recuperação do dinheiro, através da venda dos ativos que sobraram da empresa, incluindo os prédios (7).

Notas
(1) Ou armazéns de pano de algodão e mantas de Minas. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) 1853, ed 10, p 446
(2) rolos de fumo. Diario do Rio de Janeiro, 1853, ed 253, p 3
(3) Também no Diario do Rio de Janeiro, em diversos números.
(4) Rua Direita, 104. Vide Indicador Alphabetico da Morada dos seus principais habitantes 1857
(5) Gazeta Forense, 1857, ed 6, p. 2 e 3. O trecho a seguir é baseado nesta referência
(6) Diário de Pernambuco 1857 ed 190, 21 de agosto, p. 1-2
(7) Conforme, por exemplo, O Correio da Tarde, 1858, ed 66, p. 2, Ano Iv, 20 (?) de março.

Rir é o melhor remédio

Cinco cirurgiões estão discutindo quem é o melhor paciente para operar.

O primeiro cirurgião diz: "Eu gosto de ter contadores em minha mesa de operações, porque quando você os abre, tudo dentro é numerado."

O segundo responde: "Sim, mas vejam os eletricistas! Tudo dentro deles é codificado por cores".

O terceiro cirurgião diz: "Eu realmente acho que os bibliotecários são os melhores; dentro deles está tudo em ordem alfabética".

O quarto cirurgião diz: "Você sabe, eu gosto de construtores ... esses caras sempre entendem quando você tem algumas peças sobrando no final e quando o trabalho demora mais do que você disse que seria".

Mas o quinto cirurgião venceu a discussão quando disse: "Vocês estão errados. Os políticos são os mais fáceis de operar. Não há coração e a cabeça e a parte de trás são intercambiáveis."

Adaptado daqui

05 janeiro 2019

Drone para contagem de Inventário

A PwC do Reino Unido utilizou um drone para fazer o inventário de uma mina de carvão no País de Gales de propriedade da empresa alemã RWE. As fotografias tiradas pelo drone foram usadas na contagem do inventário. A auditoria levou 30 minutos, sendo que uma contagem normal levaria quatro horas para ser concluída manualmente.

Segundo a empresa de auditoria:

“Technology is an enabler for positive change and this drone-assisted stock count is an illustration of how we are using technology to enhance audit quality and efficiency. It’s just one example of the benefits that come from bringing our technologists from across PwC together with our auditors.

“Drones are just one of a number of technologies that could improve audit quality in different ways across different sectors. But maximizing the benefits of emerging technologies is reliant on having the right people with the skills to interpret the resulting data. We are constantly investing in attracting the best people into our business and training them in new technologies to ensure our audit quality continues to improve.”

Jogo de pontos dos cartões

O jogo de pontos dos cartões de crédito parece que chegou em um momento decisivo. Parece que os bancos e as administradoras de cartões de crédito descobriram que os contratos com os clientes não é vantajoso. Os clientes aprenderam a usar muito bem o sistema e geralmente gastam visando maximizar os pontos (e os benefícios) do sistema. Alguns bancos e administradoras estão repensando o sistema de recompensa dos cartões, de modo a incentivar o uso dos cartões e reduzir os bônus iniciais.

A questão é interessante e envolve o desenho contratual e os efeitos adversos. Os clientes estão usando os cartões até o momento que conseguem seus objetivos e depois de atingir a quantidade de pontos para resgatar em voos ou estadias de hotéis.

(via mais aqui).

Resenha: série O Homem do Castelo Alto


O Homem No Castelo Alto é uma série do Prime Vídeo, da Amazon. A obra envolve realidade adaptada e mostra o mundo caso os nazistas tivessem ganhado a 2ª guerra mundial. A inspiração veio do livro de Philip K. Dick, também responsável por Minority Report e O Vingador do Futuro. O encarregado pela adaptação é ninguém menos que Ridley Scott, o diretor e produtor britânico por trás de Alien, Blade Runner, Gladiador, Perdido em Marte, e também da série The Good Wife.

Eu demorei para começar a assistir porque achei uma premissa um pouco pesada. E realmente é! É por um lado um pouco pesada, mas também é criativa, inteligente e tão bem-feita que vale o sacrifício. Há uma mistura de ficção histórica, com ficção científica, distopia e romance.

A história se passa 15 anos após as Potências do Eixo derrotarem os Aliados na Segunda Guerra Mundial. A Costa Leste dos Estados Unidos está sob o controle da Alemanha, enquanto a Oeste foi cedida aos japoneses. Entre as duas há uma zona neutra.

A saga traz uma espécie de Guerra Fria entre os dois vencedores, com direito a espiões, uma resistência e rolos de filmes que mostram versões diferentes para o fim da guerra, produzidos por um tal de homem do castelo alto.

Vale a pena? Sim, caso você goste do gênero. Atualmente já é uma série premiada e está com 8,1 na classificação IMDb.

Informação importante

Quando uma empresa deve fazer um comunicado importante ao mercado? Esta é uma dúvida importante. Apesar das empresas divulgarem informações trimestrais, muitos fatos ocorrem entre a data de divulgação de um trimestre em relação ao outro. Nestas situações, a empresa deveria usar um comunicado oficial ao mercado para divulgar informação importante.

Entretanto, muitas informações terminam sendo divulgadas de foram inadequada. Este parece ter sido o cado da Tesla. Ninguém tinha uma real imagem da empresa até que o seu executivo, Elon Musk, concedeu uma entrevista para um site e afirmou que a empresa estava “a pouca semana do caos”.

Esta realmente é uma informação importante.

Será que esse tipo de dúvida séria quanto à manutenção da Tesla como empresa em atividade não deveria ter sido divulgada por Musk e pela empresa antes do momento de crise, em vez de ser revelada depois? Musk não tem o dever de divulgar essas informações?

(...) “Você não tem a obrigação de divulgar acontecimentos relevantes diariamente”, diz John Coffee, diretor do Centro de Governança Corporativa da Faculdade de Direito de Columbia. “O silêncio não é passível de medidas judiciais, a menos que exista um dever de divulgar.”

Mas quando esse dever surge? De acordo com Tom Elder, sócio da gigante contábil BDO, caso o auditor e a administração de uma empresa tenham “sérias dúvidas” de que ela conseguirá se manter nos próximos 12 meses como “empresa em atividade”, eles têm o dever de divulgar isso aos acionistas. Mas esse dever está sujeito a um cronograma muito particular. Só importa a opinião deles no dia em que os dados financeiros são publicados. Uma crise que ameace a existência da empresa pode surgir e ser resolvida entre períodos de apresentação de demonstrações financeiras e permanecer em segredo. Elder explica: “Se a coisa estoura no segundo mês, mas no final do trimestre você fez um acordo que salvou os números, então a divulgação não é necessária”.

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Rir é o melhor remédio

O inusitado da manchete. O que você entendeu?

(a) somente "um quarto" dos clientes (mas não a sala, o banheiro etc)
(b) 25% dos "contadores" são inteligentes. Logo, 75% são burros
(c) É possível ter "contadores" inteligentes. Basta escolher. 25% dos clientes já possuem escolheram, mas 75% optaram por contadores burros.

Nada disso. Leia o texto para entender.

04 janeiro 2019

Sonny Bono Act II

Há um ano nós postamos sobre a questão dos direitos autorais nos Estados Unidos.

Em 1998, o governo Clinton dos Estados Unidos promoveu uma alteração na lei de direitos autorais. Basicamente, a nova norma ampliou o prazo de duração dos direitos para 70 anos, para o autor, e 120 anos, para obras de autoria corporativa. Além disto, os trabalhos publicados até início de 1978 tiveram o prazo aumentado em 20 anos, para 95 anos a partir da data de publicação.

A norma é denominada de Sonny Bono Act ou Mickey Mouse Protection Act. O segundo nome é uma ironia em razão do papel que a empresa Disney teve na aprovação da lei, inclusive com lobby financeiro. Na postagem de 2018 comentava sobre a possibilidade de uma nova extensão da lei, que terminou não ocorrendo.

Assim, em 2019, diversas obras que foram produzidas em 1923 estão disponíveis para o público. Ou seja, podem ser remixadas, cortadas e adaptadas. Entre as obras que serão de domínio público estão filmes de Buster Keaton, Chaplin, Felix, os livros de Virgínia Woolf, Bernard Shaw e Edgar Rice “Tarzan” Burroughs.

E também, como lembra o Scholarly Kitchen, “Yes, We no have bananas” (é isto mesmo)