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25 janeiro 2011

Por que você deve desconfiar das descobertas da ciência?

O café faz bem para saúde. O café faz mal. Beber uma taça de vinho pode ajudar no envelhecimento. A bebida pode provocar conseqüências ruins para a saúde das pessoas. Deparamos regularmente com conclusões diferentes obtidas pela ciência. Isto acontece em qualquer campo, incluindo a contabilidade. Existem algumas possíveis explicações para isto.

Em primeiro lugar, qualquer pesquisa está sujeita a erros decorrentes da coleta dos dados, que foi realizada incorretamente. Nestes casos, as conclusões fatalmente estarão erradas também. Uma situação típica é quando usamos dados das empresas, mas não consideramos as empresas que deixaram de existir no período de tempo que estamos analisando. Isto recebe o nome de viés de sobrevivência: consideramos somente as empresas que sobreviveram no tempo, mas não aquelas que fracassaram.

Segundo lugar, mesmo que o pesquisador não cometa erros na coleta de dados, mesmo assim existirá um erro normal da pesquisa. Assim, quando trabalhas com uma significância estatística, estamos considerando que existe a possibilidade de que as conclusões ocorreram pelo acaso. Geralmente os pesquisadores trabalham com 5% de probabilidade. Isto indicaria que existe possibilidade, mesmo que pequena, de que as conclusões ocorreram em razão do acaso. Assim, talvez de cem trabalhos publicados sobre os efeitos do parecer negativo de auditoria sobre as ações, cinco poderão indicar conclusões errôneas por conta deste acaso estatístico.

Uma forma de evitar este problema é através de uma análise chamada meta-análise. Esta técnica junta todas as pesquisas sobre o mesmo tema e permite inferir em qual conclusão confiar. Mas a meta-análise depende de um fato: todas as pesquisas que foram feitas devem ser publicadas. Mas isto não ocorre e este é o terceiro fato.

Chegamos então à seleção na publicação. Se um editor de um periódico recebe cem trabalhos sobre os efeitos do parecer e cinco deles indicam algo contrário ao previamente estabelecido, as pesquisas que contrariam o status quo provavelmente irão receber mais atenção do editor. Isto parece com o caso do editor de um jornal: o fato de que um cachorro mordeu uma pessoa não é interessante, mas que uma pessoa mordeu um cachorro é. O mesmo ocorre com as pesquisas. Assim, uma pesquisa confirmatória possui menos chance de ser publicada que uma pesquisa que contesta o status quo.

O último aspecto refere-se às delimitações da pesquisa. Quando um pesquisador escolhe trabalhar com os efeitos do parecer de auditoria sobre a cotação das ações, as conclusões serão válidas para as empresas abertas. Se outro pesquisador usar outra amostra, as conclusões terão maiores chances de serem diferentes.

Poligamia e Big Love

A série Big Love, que passa na televisão a cabo, mostra uma família e a discussão sobre poligamia. Eis alguns argumentos econômicos:

Alguns economistas, incluindo o vencedor do Prêmio Nobel Gary Becker, em seu Treatise on the Family, têm argumentado que a poligamia deveria aumentar a procura de mulheres e aumentar a eficiência do mercado de casamento.
A restrição do Governo nos contratos de casamento limita a escolha individual. Em princípio, a possibilidade de desfrutar de mais de uma esposa poderia incentivar os homens a um maior esforço competitivo com os outros. Algumas mulheres podem preferir a partilhar um marido rico a ter um marido desempregado e pobre todo seu. 

[Mas] a união poligâmica dá muitas vezes aos homens idosos o direito de coagir as mulheres jovens em relações de submissão e de controlá-las e seus descendentes. (The Economics of Big Love, New York Times, Nancy Folbre, 24 jan 2011)

O Canadá está pensando em aceitar a poligamia, já que algumas religiões (mulçumanos e algumas dissidências dos mórnons) aceitam. A aceitação decorreria da liberdade religiosa. Estudos passados mostram que a introdução da monogamia na Europa no início da Idade Média reduziu a desigualdade entre os gêneros, o conflito social e ajudou no desenvolvimento.

Fato Relevante

(...) O conceito de fato relevante é notadamente subjetivo quando se trata tanto da influência nas cotações dos valores mobiliários quanto das decisões de investimento. Tal subjetividade, naturalmente, gera algumas dúvidas bastante comuns, dentre elas: "Quando, exatamente, um fato se consuma como relevante?"; "Um fato precisa estar concretizado para ser considerado relevante, ou a mera expectativa de sua ocorrência já deve ser divulgada ao mercado?".

A resposta teórica é simples, mas sua aplicação prática nem sempre é fácil. A própria CVM, em um de seus julgados, afirmou que a ocorrência de um fato relevante, muitas vezes, não é representada por um evento objetivo localizado no tempo que, de forma clara e definitiva, estabeleça seu acontecimento. Pelo contrário, na maior parte das vezes a consumação de um fato relevante trata-se apenas da conclusão de uma sucessão de eventos relevantes.

Desse modo, a caracterização de um fato como relevante torna-se questão polêmica e de difícil identificação, provocando uma discussão ainda longe de ser pacífica na jurisprudência. Controvérsias à parte, o fato é que, para ser considerada relevante, a informação necessita de um caráter preciso, de materialidade ou objetividade. Não deve, portanto, se referir a meros rumores, estudos iniciais ou planos cuja probabilidade de serem concluídos é pequena ou incerta. Segundo a CVM, "a informação deve ser disponibilizada tão logo mereça esse nome, isto é, desde que não se trate de mero projeto inicial e desconexo, mas se tenha traduzido em objetivo concreto da administração ou do controlador".

A legislação deixa para a própria administração das companhias a tarefa de decidir, caso a caso, o momento da consumação de um fato como relevante. Para tanto, a administração deve analisar se a probabilidade de a operação ser concluída é alta e se a finalização dessa mesma operação trará impactos significativos sobre os negócios da empresa, afetando as cotações de seus valores mobiliários. (Como identificar um fato relevante - Alexandre Carvalho Pinto Rios - 27|12|2010- Dica de Pedro Correa, grato)

Talvez para a empresa responder a seguinte pergunta poderia ajudar nesta questão: o fato irá afetar de maneira significativa o preço da ação da empresa? Em caso afirmativo, trata-se de um fato relevante, que deve ser divulgado assim que possível. Caso contrário, a divulgação pode ocorrer em respeito ao mercado (e para evitar problemas futuros), mas não como fato relevante.

Palmeiras


No último domingo, três dias antes de deixar a presidência do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo assinou uma confissão de dívida do clube com a Traffic no valor de aproximadamente R$ 11 milhões. 
A maior parte desse dinheiro, segundo os cartolas, foi emprestada pela empresa ao clube, que usou a verba para pagar os salários de Vanderlei Luxemburgo quando ele era o treinador. Belluzzo tinha sido orientado por seus diretores a não assinar a confissão. 
Não há um contrato específico entre a parceira e o Palmeiras nesse valor. Havia uma contabilidade entre as duas partes (1). A Traffic emprestava quantias para o Palmeiras pagar quando pudesse, principalmente quando vendesse jogadores. 
Com a proximidade da troca de presidente, a empresa quis se resguardar e cobrou o clube, que não tinha dinheiro. A solução para evitar o risco de calote foi a confissão da dívida. Não há desconfiança sobre a legitimidade da pendência entre os palmeirenses. Mas Belluzzo foi orientado a deixar para seu sucessor a missão de fazer a conferência de valores, pois a contabilidade é complexa (2) e poderia haver alguma divergência. O débito aparece em alguns balancetes do clube (3). 
No final, a confissão da dívida serviu como argumento para a nova diretoria rejeitar os pedidos de alguns conselheiros que queriam um novo contrato reduzindo o salário de Felipão. Um dos argumentos para rejeição é o seguinte: se o clube ainda terá de gastar tanto dinheiro por causa de um ex-treinador, seria injustiça diminuir os ganhos de quem ainda sua a camisa pelo Palmeiras. (Palmeiras confessa dívida de R$ 11 mi com a Traffic referente a Luxemburgo - Por Perrone)


 

Meus comentários

(1) A contabilidade deveria ser registrada baseada numa documentação. Ou um recibo de depósito do dinheiro na conta do clube. Mas parece que isto não ocorreu. Será que a Traffic emprestava o valor em moeda corrente e o dinheiro não transitava pela conta corrente do clube?

(2) Realmente deve ser complexo determinar quanto de dinheiro a Traffic repassou para o clube.

(3) Observe a redação da notícia: "aparece em alguns balanços do clube", mas não em todos.

Bolsa de Valores em Angola

A abertura e funcionamento de uma Bolsa de Valores em Angola não será efectivada no presente ano, como é desejo de algumas instituições financeiras, anunciou o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Para Carlos FCeijó, está claro que a situação comercial, empresarial e jurídica não permite que possamos ter em 2011 uma Bolsa de Valores em Angola, porque a abertura de uma Bolsa de Valores implica que existam empresas que reúnam um conjunto de requisitos.

"Temos algumas dúvidas que boa parte das empresas angolanas [1] já têm os requisitos exigidos para entrar numa Bolsa de Valores".

De acordo com Carlos Feijó, só podem intervir na Bolsa de Valores Sociedades Anónimas e não as empresas públicas e há um conjunto de requisitos que em termos de contabilidade, em termos de registos das acções, de títulos que é necessário averiguar empresa por empresa qual delas tem condições de ser elegível à Bolsa de Valores. (...) (Bolsa de Valores adiada

1 – Otimismo. No Brasil, somente algumas poucas empresas possuem condições.

Os melhores cursos


O gráfico mostra a distribuição das notas dos cursos, segundo o tipo de instituição de ensino. No Brasil, a qualidade no ensino ainda significa uma instituição pública. Dos cursos avaliados pelo MEC nas instituições públicas, 36% receberam nota 4 ou 5. Nas instituições de ensino privada este percentual foi de 5%.

Na área de contabilidade, dos vinte melhores cursos, 14 são de instituições públicas (sendo duas estaduais e uma municipal).

O melhor jogador de tênis


Um trabalho acadêmico, usando análise de rede, procura determinar quem foi o melhor jogador de tênis do mundo. E a resposta foi surpreendente Jimmy Connors. Apesar de Connors possuir um recorde em número de torneios, foi Federer que mais venceu os torneios mais importantes.

Mas a surpresa continua no ranking. O segundo melhor jogador, pela pesquisa, foi Ivan Lendl, apontado no quadro como estadunidense, mas na realidade checo (ele naturalizou em 1992, já no final da sua carreira). McEnroe, o argentino Vilas e Agassi completam os cinco melhores do mundo. Na lista aparece o espanhol Miguel Orantes, em 16º, na frente do atual número um do mundo, Nadal. Aparece também Raul Ramirez, um mexicano, mas não Gustavo Kuerten.

O principal problema da listagem é a ausência do talvez melhor tenista de todos os tempos: o australiano Rod Laver, que venceu os torneios mais importantes do mundo (Austrália, Roland Garros, Wimblendon e US Open) no mesmo ano. Este feito, que Laver conseguiu duas vezes, nem Connors, nem Federe ou Nadal conseguiram.

24 janeiro 2011

Rir é o melhor remédio


Economista e Pessimismo

Por que a moeda brasileira chama-se Real?

Em 1994, o governo Itamar conseguiu implantar com sucesso um plano de estabilização monetária no Brasil. Até então, o país convivia com uma elevada taxa de inflação, que chegou a atingir a 80% ao mês no final do governo Sarney. Ao escolher o nome da moeda, optou-se pelo nome "real". Existem algumas possíveis explicações para esta escolha.

A Wikipédia lembra que a primeira moeda do Brasil foi o "real", cujo plural era "réis". Nos tempos idos a economia não apresentava tanta instabilidade e usar este nome poderia ser interessante. Mas a escolha baseada no nome de uma moeda que já existiu parece uma grande falta de criatividade. Mas se observarmos o nome das últimas moedas temos: réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real. Ou seja, isto mostra que criatividade nunca foi o forte na escolha do nome da moeda no Brasil.

Outra possível explicação é a associação positiva que o nome real traz (ao contrário do nome "cruzeiro", por exemplo). Assim, o dicionário traz realçado, realeza, realidade, realização, entre outras palavras, todas com um aspecto positivo.

Finalmente uma possível explicação tem sua origem na matemática financeira. O termo "real" se contrapõe ao termo "nominal". Segundo a definição clássica de Irving Fisher, a diferença entre os termos corresponde à inflação. Um exemplo: quando calculamos um fluxo de caixa para valor futuro podemos usar uma taxa nominal, que incorpora a inflação, ou uma taxa real, que corresponde a taxa de juros sem a inflação. Observe que o nome Real para nossa moeda cria um pesadelo para o professor e o aluno de matemática financeira, pois temos uma palavra com dois significados distintos: "valores em reais" corresponde o montante em moeda brasileira; "valores reais" diz respeito ao valor quando se usa um fluxo de caixa real, sem inflação.

Teste 415

Uma listagem recente das pessoas mais poderosas na área de contabilidade mostra, claramente, que o lema "rei morto, rei posto" é válido. O atual presidente do Iasb, Sir David Tweedie, deverá ser substituído por um holandês, Hans Hoogervorst, este ano. Em razão disto, a posição de Tweedie entre as pessoas mais poderosas do mundo contábil não foi muito boa. Isto significa que na lista das cinqüenta pessoas mais poderosas, Sir David aparece
entre 10o. e o 20o.
entre 21o. e 30o.
entre 31o. e 40o.
entre 41o. e 50o.

Resposta do Anterior: 3 milhões de dólares. Isto significa que cada ação tem um valor de 120 mil dólares. Fonte: Businessinsider

Links

Contabilidade de opções: controvérsia entre Floyd Norris e David Albrecht 
A Lei de Benford aplicada a fraudes 

Regras contábeis, política, tempo no Fasb e padrões rigorosos 

"Como eu fiz Arafat perder 2 milhões de dólares" 

Manual da redação da Câmara 

Microcrédito

Toda semana, Gary Becker e Richard Posner publicam um texto sobre um assunto na área econômica-financeira. Gary Becker é um dos mais brilhantes economistas, com teorias inovadoras aplicando a teoria econômica a situações como o crime. Já foi premiado com o Nobel na área. Posner é um inovador ao juntar direito e economia.

O assunto da semana é o microcrédito. Para quem não conhece, o microcrédito diz respeito a concessão de pequenos empréstimos a pequenos empreendedores localizados nos países subdesenvolvidos. O assunto virou moda quando da atribuição do Prêmio Nobel da Paz para Muhammad Yunus em 2006.

Na época Posner afirmou que o sucesso da idéia teria que ser demonstrada, já que não existia (não existe) uma evidência empírica sobre a eficácia do microcrédito em estimular a produção e reduzir a pobreza. "Eu não tenho nenhum conhecimento de um exemplo histórico de nação que saiu da pobreza através do crédito de financiamento a pequenos empreendedores", afirma Posner. Uma das razões é o fato da inadimplência ser muito reduzida. Se isto ocorre, é que existe uma grande seleção nos empréstimos, que se imitado por outras microfinanceiras, reduz substancialmente o alcance e a influência do microcrédito. Em 2010, o microcrédito na Índia foi acusado de cobrar taxa de juros elevadas e coagir pessoas. Medidas tomadas pelo governo indiano impuseram limites e controles. O mesmo ocorreu em Bangladesh e Nicarágua.

Recentemente Yunus reconheceu que existem instituições que visam lucro no segmento de microcrédito, que ele chamou de "sua própria raça de agiotas". Isto provavelmente incluiria bancos especializados no segmento, que abriram seu capital. Mas Posner lembra que o Banco Grameen é uma sociedade por ações, não uma entidade do terceiro setor. Isto é uma contradição.

Becker lembra o seu comentário em 2006 quando afirmou que "o crescimento econômico requer direitos de propriedade, incentivo a iniciativa privada, abertura ao comércio internacional, estímulo à educação, uma regulamentação e um governo razoavelmente honesto". Ou seja, microcrédito tem pouco a contribuir para isto. Afirma Becker que "nenhum economista sério na área de desenvolvimento sugere que as micro finanças tenha uma papel importante no desenvolvimento econômico das economias mais pobres". Becker não deixa de reconhecer o papel inovador do Banco Grameen, que descobriu maneiras diferentes que emprestar aos pobres, em especial para mulheres pobres muçulmanas. A solução, para Becker, é incentivar a concorrência entre os credores nas áreas remotas rurais, pois monopólios geralmente cobram taxas de juros elevadas.