Translate

Mostrando postagens com marcador futebol. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador futebol. Mostrar todas as postagens

29 abril 2021

As lições do fracasso da Superliga


A recente tentativa de criação de uma Superliga, com alguns dos maiores times europeus, trouxe algumas reflexões sobre a questão do dinheiro e o futebol. Os clubes tentaram impor um torneio sem rebaixamento, da forma como ocorre na liga de basquete profissional dos Estados Unidos, mas uma reação negativa fez com que voltassem na sua decisão. O jornal Estado de S Paulo traz uma entrevista com Simon Kuper, co-autor de Soccernomics. 

Como fazer o futebol ser mais lucrativo? 
Nós sabemos que no Brasil os clubes sempre tiveram dívidas e alguns até foram à falência. Mas são recriados. Um time de futebol nada mais é do que ter uma camisa e um nome. Um exemplo: se o Flamengo for à falência, você recria um Flamengo amanhã de manhã com as mesmas cores e terá a mesma torcida. Se você analisar os clubes mais antigos da Inglaterra, os quase os mesmos que existiam em 1921 continuam existindo hoje. Os clubes sobrevivem a todas as recessões, crises, suportaram tudo. Vale lembrar do exemplo da Fiorentina, na Itália. O clube faliu e voltou. Muitos dirigentes falam da importância de se dirigir um clube como se fosse uma empresa. 

Por que isso é tão difícil de se concretizar? 
Porque as pessoas dos clubes e a mídia não estão interessados em processos. Se você está em uma companhia, você tem de obter lucro e resultados para se manter. No futebol, a imprensa, a torcida, os jogadores e os dirigentes não se importam se vai ter lucro. Se você vende um jogador por 50 milhões de euros, o clube pode considerar que teve essa quantia como lucro, certo? Mas não. A torcida e a mídia vão querer que esses 50 milhões de euros sejam gastos em reforços. A cultura é de gastar todo centavo que tiver em jogadores, porque quanto mais você gastar, mais você terá atletas de qualidades e mais poderá vencer. É impossível afastar o dinheiro do futebol. A cultura é de gastar todo centavo que tiver em jogadores, porque quanto mais você gastar, mais você terá atletas de qualidades e mais poderá vencer. É impossível afastar o dinheiro do futebol 

Nos últimos anos, empresas como Red Bull e o City Football Group adquiriram e montaram vários clubes pelo mundo comandados pelos mesmos donos. Como você vê esse processo? 
A lógica do Red Bull não faz isso para ter lucro. Faz como propaganda. Você quase não vê a marca deles em ações publicitárias na TV, mas sim associada a eventos esportivos e a times. É um tipo de marketing. No caso do City Football Group, eles compraram um time no Uruguai, onde é barato. É importante relembrar o quanto o futebol traz fama. Você pode ser um bilionário, mas ninguém se importa com isso. A partir do momento que você compra um time de futebol, todo mundo sabe quem você é. 

É possível apostar que um dia o futebol terá gestão 100% profissional? 
Na Europa isso tem melhorado nos últimos dez anos. Porém, quando alguém assume o clube, recebe uma herança do passado financeiro. Muitas vezes você tem na diretoria ex-jogadores e outras pessoas que trazem para o comando seus amigos. O processo de seleção é muito ruim. E você pode manter o negócio dessa maneira porque o clube não vai falir. Você pode assumir o Flamengo e fazer uma má gestão que continuará sendo o Flamengo. O clube sempre existirá. Agora, se você tiver um mercado e não cuidar da gestão, ele vai fechar. 

A pandemia e a Superliga deixam algum legado de aprendizado? 
Eu acho que a Superliga será abandonada por algum tempo, o que é de certa um aprendizado. Futebol envolve negócios com direitos de transmissão e também com o segmento de eventos, como um teatro ou um concerto musical. O coronavírus matou esse segmento de eventos ao vivo. E com certeza isso vai acabar, é temporário. Isso não vai afetar a forma como é operado o negócio do futebol. Isso vai voltar ao normal.


14 abril 2021

Valor e Futebol

 

Eis que saiu a relação dos clubes de futebol com maior valor, segundo opinião da Forbes. Os dois espanhóis lideram o ranking, seguindo pelo Bayern e cinco clubes ingleses. 

(Interessante que a Champions, talvez o mais charmoso torneio de futebol do mundo em termos de clubes, classificou para as semifinais o Real (2o.), o City (6o.), o Chelsea (7o.) e o PSG (9o.). Se for pelo valor de mercado, o Real Madrid é o favorito para ser o campeão deste ano.)

Apesar da metodologia de cálculo do valor não estar ligada à receita, quando se calcula a correlação entre as duas variáveis temos um valor de 0,96. Isto mostra que o grande direcionador do valor, na estimativa da Forbes, é a receita. 

No passado, a relação entre as duas variáveis era um multiplicador de 3,9. Para este ano, neste grupo de clubes, este multiplicador é agora de 5,5. Ou seja, a capacidade de gerar valor para cada unidade monetária de um clube aumentou nos últimos anos. Achei isto estranho, especialmente quando consideramos a incerteza dos clubes com a pandemia. 



O gráfico mostra em "x" cada clube e a reta com a relação entre as duas variáveis. Veja que alguns pontos ficaram acima da curva e outros ficaram abaixo da curva. O que significa isto? Quando eu uso a receita do Barcelona, de 792 e multiplico por 5,5, o resultado é de 4,356. Mas a Forbes estimou em 400 milhões a mais o valor do clube espanhol. A Forbes fez isto com os grandes clubes, mas penalizou os "pequenos". 

Veja no gráfico que os pontos na parte à direita estão abaixo da reta. São os "grandes" clubes que receberam um "bônus" na avaliação da Forbes. E os clubes do final da lista estão na parte acima da reta. 

Há um ponto de chama a atenção e está marcado na figura com um círculo vermelho. É o PSG. Com uma receita de quase 600 milhões, aplicando o múltiplo de 5,5 temos um valor de 3,3 bilhões. Mas a Forbes entende que o clube francês tem um valor de 2,5 bilhões, 800 milhões a menos. A Inter é outro clube "subavaliado" pela Forbes, em 1 bilhão. 

15 fevereiro 2021

Balanço Patrimonial impõe dúvidas sobre o futuro do Barcelona


Clubes de futebol são geralmente mal administrados. Não somente aqui, mas também na Europa. O Barcelona é um caso onde a crise financeira pode significar o fracasso futuro. O texto a seguir faz uma vinculação entre a questão do futebol e a questão contábil. 

Barcelona e o preço impagável do sucesso: clube mais rico do mundo enfrenta grave crise financeira 

Executivos culpam a pandemia, mas muitos de seus maiores problemas, incluindo sua enorme dívida com Lionel Messi, são culpa sua 

 Tariq Panja e Rory Smith, The New York Times 15 de fevereiro de 2021 | 12h00  

O cuidadoso plano traçado pelo Barcelona, o clube de futebol mais rico do mundo, desmoronou assim que seus negociadores entraram na sala. Em uma tarde sufocante de final de verão, os executivos do Barcelona foram a um dos hotéis mais exclusivos de Monte Carlo para fechar um acordo com o clube alemão Borussia Dortmund para um dos jovens candidatos mais incríveis da Europa: o atacante francês Ousmane Dembélé.  

Messi contesta multa de R$ 4,3 bi e indica que vai insistir para deixar Barcelona Messi permaneceu no Barcelona para temporada 2020-21, mas ainda pode deixar o clube em breve Foto: Albert Gea/Reuters LEIA TAMBÉM Jornal revela contrato 'faraônico' de Messi com o Barcelona de R$ 3,6 bilhões Jornal revela contrato 'faraônico' de Messi com o Barcelona de R$ 3,6 bilhões  

O Barcelona havia decidido sua estratégia e seu preço: Dembélé, aos olhos do clube, valia US$ 96 milhões e nem um centavo a mais. Por mais que o Dortmund pressionasse por uma taxa mais alta, os homens do Barcelona iriam se manter firmes. Os dois executivos se prepararam enquanto se dirigiam para a suíte que os alemães tinham reservado. Eles se abraçaram antes de bater na porta. E então eles entraram, apenas para descobrir que os executivos do Dortmund também tinham um plano em mente.  

Os alemães disseram aos convidados que precisavam pegar um avião. Eles não tinham tempo para conversar sobre trivialidades e não estavam ali para negociar. Se o Barcelona quisesse Dembélé, teria que pagar quase o dobro da avaliação dos espanhóis: US$ 193 milhões. O preço faria do francês de 20 anos o segundo jogador de futebol mais caro da história.  

O presidente do Barcelona, Josep Maria Bartomeu, ficou chocado. Mas ele não foi embora. Ele rapidamente concordou em pagar quase todo o valor, estabelecendo uma taxa inicial de US$ 127 milhões, com mais US$ 50 milhões em bônus de desempenho facilmente alcançáveis. Apesar de todas as suas intenções de fazer jogo duro, ele sentia que não tinha escolha.  

Apenas algumas semanas antes, o Barcelona vira um de seus valiosos jogadores, Neymar, ser levado pelo Paris Saint-Germain. Bartomeu não podia arriscar decepcionar uma base de fãs que ainda se recuperava do golpe e voltar para casa de mãos vazias. Ele precisava contratar uma estrela, um troféu, uma joia de pequeno valor. Ele teve que pagar o preço.  

O CLUBE DE UM BILHÃO DE DÓLARES 
Durante grande parte da última década, o Barcelona teve a imagem de um colosso esportivo e comercial. Neste século, seu sucesso em campo e sua riqueza fora dele atiçaram a inveja até de seus rivais mais acirrados. É a primeira (e única) equipe a ultrapassar US$ 1 bilhão em receita anual. Ele emprega indiscutivelmente o melhor jogador da história, Lionel Messi. Nos dias de jogos, o cavernoso e icônico estádio que ele chama de lar fica lotado com quase 100 mil sócios do clube que pagam suas taxas como associados.  

Mas o Barcelona tem vivido no limite durante grande parte de sua história recente, uma consequência de anos de administração impulsiva, decisões precipitadas e contratos imprudentes. Durante anos, o aumento das receitas ajudou a esconder seus piores erros, mas agora o novo coronavírus mudou a matemática.  

Um ex-integrante da diretoria acredita que a pandemia acabará custando ao time mais de meio bilhão de dólares em receita. Sua folha de pagamento é a mais cara da Europa. Ele já quebrou as cláusulas de dívidas que fez com seus credores, o que quase certamente significará maiores custos com juros no futuro.  

O resultado é que o clube que arrecada mais dinheiro do que qualquer outro no futebol mundial agora enfrenta uma crise: não apenas um aperto financeiro esmagador, mas uma eleição presidencial controversa e potencialmente até a perda de sua joia da coroa, Messi. Sua busca precipitada por Dembélé, entre outros, é apenas uma parte de como chegou até aqui.  

Mesmo quando Bartomeu finalizou a negociação, em agosto de 2017, o Barcelona sabia que havia sido ferido. O clube arrecadou US$ 222 milhões com a venda de Neymar semanas antes e agora precisava de uma contratação chamativa para mudar a conversa. Todo negociante na Europa, entretanto, sabia que Barcelona era rico em dinheiro e pobre em tempo. “Você tem uma posição de negociação mais fraca”, disse Jordi Moix, ex-vice-presidente de Bartomeu para assuntos econômicos. "Eles estão esperando por você."  

Se algum clube podia pagar a mais, porém, era o Barcelona. Na década anterior, ele havia se transformado não apenas no melhor time do mundo - o vencedor de três títulos da Champions League em sete anos -, mas também na sua maior máquina de fazer dinheiro.  

Suas receitas então se aproximavam cada vez mais da meta de 1 bilhão de euros estabelecida por Bartomeu em 2015. Ele atingiu a marca - em dólares, pelo menos - em 2019, dois anos antes do previsto. Os planos para um distrito elegante de entretenimento e lazer ao redor do estádio do time e o lançamento do Barcelona Innovation Hub manteriam o fluxo de dinheiro.  

Ao mesmo tempo, porém, o clube caminhava em uma corda bamba financeira cada vez mais delicada. Há outro marco financeiro de um bilhão de dólares que ele ultrapassou: sua dívida total, incluindo o valor devido a bancos, autoridades fiscais, times rivais e seus próprios jogadores, aumentou para mais de 1,1 bilhão de euros.  

Mais de 60% disso é considerado dívida de curto prazo - mais do que qualquer time da Europa -, mas isso não impediu os gastos extravagantes no mercado de transferências: não apenas o preço pago por Dembélé, mas, alguns meses depois, os US$ 145 milhões comprometido pela contratação de Philippe Coutinho do Liverpool - outra negociação em que o Barcelona desistiu e concordou com um preço que não podia pagar.  

O fardo de pagar aos jogadores que já estão nas contas do clube também continuou a crescer. De acordo com Carles Tusquets, seu presidente interino desde que Bartomeu foi deposto no ano passado, o gasto anual com salários do Barcelona de US$ 771 milhões agora consome 74% da receita anual do clube, uma fatia muito maior do que outros clubes, muitos dos quais pretendem manter essa porcentagem não superior a 60. “É uma quantidade absurda”, disse Tusquets.  

De certa forma, o Barcelona foi vítima de seu próprio sucesso. Quanto mais seus jogadores ganhavam, maiores eram os números que eles poderiam exigir nas negociações salariais. O fato de grande parte de sua equipe - como Messi, mas também Gerard Piqué, Sergio Busquets e Jordi Alba - serem vistos como a alma do clube, uma prova visível do caminho desde a academia La Masia até o time principal, deu aos jogadores, não ao clube, vantagem.  

“É evidente que a falta de liderança, a liderança da diretoria com medo de dizer não, é uma das principais coisas que deve ser evitada no futuro”, disse Víctor Font, um dos candidatos a se tornar o próximo presidente do clube quando as eleições forem realizadas em março. “Os salários subiram demais.”  

Mas quando o clube podia contar com receitas de US$ 1 bilhão todos os anos, pagar quase US$ 700 milhões em salários era "um estresse, mas suportável", disse Moix, acrescentando: "Isso não nos deu muito espaço para economizar, mas eles eram a espinha dorsal da equipe. Se não tivéssemos feito os acordos, eles teriam ido embora.”  

Com a previsão de receita para o próximo ano revisada para baixo em US$ 250 milhões, os salários dos jogadores podem em breve representar até 80 centavos de cada dólar trazido para o clube. A mesma equipe que trouxe ao Barcelona tanta glória no passado recente parece, agora, dar sinal do trabalho árduo no futuro imediato.  

E não há exemplo mais claro disso do que o jogador que - acima de tudo - veio a simbolizar este Barcelona, o jogador em cujos ombros repousou a sua ascensão à superioridade global e cujo salário, agora, representa o seu maior compromisso financeiro: Lionel Messi.  

FARAÓ 
O contrato que Messi assinou com o Barcelona - no outono de 2017, logo após a saída de Neymar - tem 30 páginas, segundo um jornal espanhol que vazou uma cópia do documento. Ele contém uma série de custos de fazer chorar: um bônus de assinatura de US$ 139 milhões. Um bônus de “fidelidade” de US$ 93 milhões. Um valor total, se Messi cumprir todas as cláusulas e todas as condições, de quase US$ 675 milhões.  

No mês passado, o jornal que divulgou seu conteúdo, o El Mundo, o descreveu como “faraônico”, um negócio que estava “arruinando Barcelona”. O fato de Messi ser o jogador mais bem pago do mundo não foi uma surpresa: foi relatado na época em que o contrato foi fechado que ele ganharia um salário anual de cerca de US$ 132 milhões.  

Para quem está fora do Barcelona, ver a escala da negociação preto no branco foi mais impressionante. Para quem está dentro do clube, porém, o problema não são os números, mas o fato de eles terem sido revelados ao público. Ronald Koeman, o treinador do Barcelona, pediu a cabeça de quem quer que tenha sido responsável pelo vazamento do contrato. O clube ameaçou entrar com uma ação legal. Messi também ficou furioso com o que considerou uma tentativa de sabotar sua reputação no clube.  

A relação de Messi com o Barcelona está tensa há algum tempo. Mas no verão passado, após uma terceira temporada consecutiva de decepções e um histórico 8-2 de humilhação na Champions League, sua frustração transbordou e ele deu ao clube uma notificação formal de que pretendia encerrar seu contrato e ir embora.  

Bartomeu se recusou até a aceitar a ideia. Se algum pretendente quisesse contratar Messi, declarou ele, teria que pagar uma taxa. Embora Messi tenha visto isso como uma quebra não apenas de uma promessa, mas de uma obrigação contratual, ele acabou desistindo, não querendo levar o clube que representa desde os 13 anos ao tribunal para forçar sua saída.  

Seis meses depois, seu futuro não é mais certo. Seu acordo expira em junho. Desde 1º de janeiro, ele está livre para concordar com uma mudança neste verão para qualquer clube fora da Espanha. Em uma entrevista à televisão no mês passado, ele disse que “esperaria até o fim da temporada” antes de tomar qualquer decisão. “Se eu for embora”, disse ele, “quero partir da melhor maneira possível”.  

Embora seja um tabu para ser dito em público - e embora ninguém fique à vontade para isso -, há quem dentro do Barcelona acredite que a saída de Messi possa ser um mal necessário. No verão passado, alguns falaram pelos cantos que fazia sentido lucrar com Messi enquanto o clube ainda podia, e não apenas porque a taxa de transferência e a economia em seu salário de nove dígitos poderiam adicionar mais US$ 250 milhões ao balanço final do time.  

QUEIMA DE ESTOQUE 
À medida que a eleição presidencial do clube se aproxima, cada candidato tenta se posicionar como o único homem - e são todos homens - com uma solução para a crise financeira. Mas o charme do Barcelona, em certo sentido, também é sua maldição: cada movimento do clube deve ser feito não apenas com o apoio de quem quer que ganhe a eleição em 7 de março, mas também com o apoio de seus 140 mil ferrenhos associados.  

“Isso torna a situação um pouco mais difícil de gerenciar”, disse Moix. “Mas esse fato também é um dos diferenciais que usamos para tentar atrair patrocinadores e negócios. Os associados são os verdadeiros proprietários.”  

No passado, isso contribuiu para a generosidade do clube: Bartomeu poderia não ter ficado tão desesperado para conseguir Dembélé, qualquer que fosse seu preço, se ele não temesse uma revolta de fãs caso falhasse. Font, um de seus sucessores em potencial, está convencido de que a falta de experiência profissional entre as diretorias anteriores levou a algumas das tomadas de decisão equivocadas.  

Assim como o Borussia Dortmund percebeu que o Barcelona, em 2017, não estava em condições de pechinchar, o futebol europeu - devastado pela pandemia - sabe muito bem que agora ele é, na verdade, um negociante em apuros. É improvável que seus jogadores exijam preços premium, se os compradores em posição de pagar salários distorcidos por estrelas envelhecidas puderem ser encontrados em primeiro lugar.  

Isso obrigou os executivos a examinar outras medidas para tentar aliviar a pressão financeira. Alguns dos custos - como um pagamento anual de 5 milhões de euros ao Atlético Madrid, um suposto rival, pela primeira recusa de qualquer um de seus jogadores - fazem pouco sentido. Outros, como pagamentos de sete dígitos por contratações anteriores, já estão incluídos.  

Por enquanto, o clube tem se esforçado para renegociar parte do que deve a seus credores, mas é provável que qualquer tentativa signifique fazer isso em condições piores. Claro, existe uma outra opção. Permitir a saída de Messi pode resolver muitos dos problemas no balanço patrimonial de uma só vez e dar ao clube algum espaço para respirar. Mas, embora todos os candidatos falem da necessidade de restaurar a sanidade financeira, esse é um caminho que ninguém está disposto a seguir.  

“O melhor jogador da história desse esporte gera muito valor comercial”, disse Font. Ele está tão determinado a garantir a permanência de Messi que lhe ofereceria um contrato vitalício, que ligaria o jogador ao clube mesmo depois de ele se aposentar. Afinal, seria uma recompensa adequada para o jogador que - mais do que qualquer outro - trouxe o Barcelona até aqui. 
/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

03 novembro 2020

Quando alguém contrata IA para camera man

 

Em uma partida pelo campeonato escocês de futebol, o clube Caledonian resolveu substituir o operador de câmera humano pela Inteligência Artificial. O resultado está no vídeo acima. O software estava programado para seguir a bola nas transmissões. Mas no jogo contra o Ayr a IA manteve a transmissão longe da bola, focando na careca do bandeirinha. Era a única forma dos torcedores assistirem a partida. Fonte: Aqui

Contabilidade? Alguém acha que a IA irá substituir o profissional no futuro próximo?

30 outubro 2020

Separando os efeitos da pandemia nos resultados: caso do United

 


As demonstrações financeiras do Manchester United, time de futebol da Inglaterra, mostra o que devemos considerar e o que não devemos considerar ao analisar o efeito da Covid em uma empresa. É importante esclarecer que o United é um clube e, ao mesmo tempo, uma empresa. Assim, sua gestão é “profissional”, o que inclui demonstrações contábeis de melhor qualidade do que aquelas preparadas por um time de futebol tradicional. O exercício social do United, encerrado em 30 de junho, incluiu uma grande parte das atividades normais de um clube e um breve período onde os efeitos da pandemia. Uma reportagem da BBC traz alguns elementos interessantes, mas gostaria de destacar dois pontos. 

A primeira situação importante é a da receita. A receita do clube teve uma redução de 627 milhões de libras para 509 milhões e teve o efeito da pandemia. A redução de 118 milhões decorreu da sua não classificação para Liga dos Campeões também. Existia uma expectativa de receita de 580 milhões. 

Todas as áreas de receita da United foram afetadas, mas as receitas de transmissão foram especialmente afetadas, reduzindo 41,9% de £ 240,2 milhões para £ 141,2 milhões. Parte da redução da despesa ocorreu pela realização dos jogos com portões fechados, redução das vendas de camisas e produtos do clube e descontos concedidos para as emissoras. Estima-se que estes três itens corresponda a 40 milhões de libras. 

Mas algumas das receitas do clube, como aquelas decorrentes dos jogos, somente foram postergadas. Um jogo que seria transmitido no exercício ficou postergado para alguns meses depois. Mas os portões fechados representam realmente uma perda de receita que não será recuperada. A redução no fluxo de caixa originário dos patrocinadores, que também estão com dificuldade de caixa, poderá ocorrer em futuro próximo. Mas isto cria um descasamento entre caixa e competência. 

O segundo aspecto é a questão do endividamento. Sendo um clube-empresa, seus gestores optaram por trabalhar com um elevado endividamento. Um resultado desta opção é que a dívida líquida duplicou, para 474 milhões de libras. As despesas financeiras aumentaram para 26 milhões, com redução do caixa. Como dívida líquida corresponde a dívida bruta menos caixa, o que ocorreu no clube foi que a dívida bruta manteve constante. Veja que este fato decorre de uma decisão de financiamento, que ocorreu antes da pandemia. Assim, não se pode colocar este fato na conta da Covid. 

O caso do United mostra que é importante separar os efeitos da pandemia das outras decisões. Este clube de futebol teria resultados ruins, mesmo com a paralisação das atividades do futebol na Inglaterra. A pandemia somente agravou a situação. (Fonte da foto aqui)

15 agosto 2020

Não há como vencer

“Não há como vencer. Só uma maneira de perder mais devagar.”

Robert Mitchum no filme noir Out of the Past. Esta frase foi pinçada do texto Como o capitalismo mudou o futebol para pior, de Alex Hess, sem muito números contábeis (vício de um contador) e muita lamentação contra os novos tempos no futebol inglês. Provavelmente esta análise poderá ser feita, quem sabe em alguns anos, com o futebol brasileiro, que caminha para uma concentração em alguns poucos grandes clubes. 

10 agosto 2020

Futebol, visitante e desempenho

A questão do desempenho é importante para contabilidade, especialmente para contabilidade gerencial. A pesquisa interessa em tentar entender como o desempenho é influenciado por variáveis como dinheiro, recompensa não monetária, pressões externas etc. Em muitos casos, não temos condições de fazer uma verificação adequada em uma empresa. Mas o que acontece em outras atividades coletivas, praticadas em grupos, pode ajudar a entender algumas das questões relacionadas com o desempenho. 

Este é o caso do esporte. Com a pandemia, algumas partidas de futebol (e de outros esportes) estão sendo disputadas em estádios sem torcidas. O fator campo pode ser estudado através desta situação prática. Pesquisa anterior mostrou que o fator campo proporcionava uma vantagem para o dono da casa. A razão disto nunca foi claramente esclarecida. 

E, no entanto, a fonte dessa vantagem nunca foi realmente identificada. Os analistas atribuíram isso a uma variedade de fatores. Alguns dizem que a equipe visitante sofre por causa do cansaço das viagens. Outros acham que é porque o time da casa tem certa familiaridade com o campo - a superfície de jogo no futebol ou as dimensões do parque no beisebol. Alguns afirmam que é porque os árbitros e árbitros são influenciados pela multidão e, portanto, são tendenciosos a favor do time da casa, ou que os sons do estádio e a zombaria da multidão podem entrar na cabeça dos jogadores adversários. 

Os pesquisadores da psicologia também ficaram intrigados com a causa da vantagem do campo doméstico. 

O psicólogo Robert Zajonc propôs uma teoria chamada facilitação social, em que a "excitação" de um artista aumenta na presença de outras pessoas. Nesse contexto, excitação significa que você se preocupa mais com o que está fazendo quando está sendo observado. Para os atletas, significa que eles ficarão mais motivados quando houver multidão. E se a torcida apoiar, isso pode “facilitar” um melhor desempenho do atleta. Mas, desde então, outros relataram que os efeitos da facilitação social nos estudos dos esportes tendem a ser fracos. E há quem acredite que a multidão nada tem a ver com o desempenho.

Fonte: The Conversation. Imagem aqui

09 julho 2020

Quanto vale um técnico de futebol?


  • O Jornal Econômico usou o valor das transferências passadas de atletas 
  • Isto não é adequado pois (a) é passado (b) venda de atletas não é uma boa medida de valor e (c) nem sempre o técnico é o responsável pela decisão

Pergunta difícil e resposta ainda mais. Eis que o Jornal Econômico tenta responder a esta questão, fazendo uma análise comparativa entre três técnicos de futebol que no passado comandaram o clube Benfica. Um deles é o aclamado técnico Jorge de Jesus. O critério usado pelo jornal foi bem interessante e original e chegou a um resultado favorável ao técnico:

Transações: Quanto vale Jorge Jesus?

Numa altura em que o treinador lisboeta parece estar de volta ao futebol português, importa perceber o que valeu Jorge Jesus em compras e vendas nas seis épocas em que representou (1) o SL Benfica. De acordo com o site ‘Transfermarkt’, nesta meia dúzia de temporadas, o clube ‘encarnado’ vendeu (2) jogadores num total de 358,38 milhões de euros e gastou 229,49 milhões de euros em contratações. Assim, o balanço entre vendas e aquisições é positivo nestas seis temporadas em 128,89 milhões de euros para o técnico que pode estar de regresso à Luz na época de 2020/21.

Se calcularmos a média de vendas e de compras neste período, é possível concluir que o SL Benfica de Jesus alienou jogadores para outros emblemas num valor médio de 59,73 milhões de euros por temporada e gastou 38,24 milhões de euros por época em contratações. Assim, e falando em valores médios, o SL Benfica de Jesus apresentou um saldo positivo de 21,49 milhões de euros por temporada.


Eis alguns comentários:
(1) como o valor refere-se ao futuro, o uso de transações ocorridas no passado não é a melhor alternativa para quem deseja determinar este valor. Este é um problema.
(2) a medida de "venda de jogadores" é usada como o grande critério de determinação do técnico. Se o contrata atletas por um montante e vende por outro, a diferença seria de responsabilidade do técnico, não de outros fatores. Isto certamente é questionável, já que um clube de futebol europeu não deve ter na venda de jogadores como o seu principal foco. Veja que títulos, vitórias, aumento de arrecadação e outras variáveis são desconsideradas aqui. Se um clube tem um bom plantel de jogadores no início da carreira do técnico e vende estes jogadores, o técnico teria mais valor.
(3) a outra simplificação que é considerar que o técnico de futebol é o único responsável pela contratação e venda de atletas. Em grandes clubes isto nem sempre é verdade. Klopp conta a história de como influenciou em negociações dos atletas, mas assessorado por uma equipe, nos clubes que passou. 

07 abril 2020

Futebol e Covid-19

Enquanto em Portugal o Belenenses entrou em "lay-off", no Brasil a situação também será (é) crítica para os clubes. Eis uma análise inicial:

O principal player está suspendendo os pagamentos de campeonatos regionais pela ausência de jogos. Muitos patrocinadores estão rompendo contratos visto que não há exposição da marca e o futebol não é o foco prioritário para o momento. A bilheteria afeta imediatamente o caixa e receitas dos clubes. Os royalties são afetados pois não há venda física dos produtos licenciados dos clubes. Mesmo na venda virtual, não há nesse momento grandes motivações para que os torcedores comprem produtos.

Pensando nos impactos de médio e longo prazo, temos inicialmente a possibilidade de revisão de contratos de transmissão. A principal competição do Brasil (Campeonato Brasileiro) e a mais rentável (Copa do Brasil) podem ter os prazos encurtados e consequente redução dos valores a serem pagos conforme os jogos não se iniciarem até o mês de junho/20.

Há ainda a possibilidade de duplo impacto na negociação de atletas. Primeiro pela falta de exibição e exposição dos jogadores para viabilizar as contratações, segundo pelo fato que o mercado europeu que atualmente renegocia a redução dos salários milionários dos atletas, certamente irá rever a política de contratações até que as contas se ajustem. No aspecto custo, alguns clubes tem e terão dificuldades para honrar salários atrasados, agora com a crise do COVID 19, pagar o corrente, com os encargos e com as receitas reduzindo, o risco de inadimplência é iminente. E pela falta de caixa, há o risco de não pagamento das parcelas do PROFUT e consequente eliminação do maior programa de parcelamento fiscal das dívidas dos clubes.


12 março 2020

Futebol, custos e Corona

O ministro do Esporte da Itália, Vincenzo Spadafora, ordenou que todos os jogos da Série A sejam disputados a portas fechadas por 30 dias, até 3 de abril.

A medida foi decidida em 4 de março com um decreto de emergência emitido pelo governo, na tentativa de atrasar a disseminação do COVID-19 em todo o país.

A grande maioria das equipes era contra jogar a portas fechadas, temendo as conseqüências econômicas que advêm da perda de ingressos.

Um estudo realizado pelo 'Calcio e Finanza', um site italiano especializado em finanças do futebol, estima que jogar a portas fechadas resultaria em uma perda na região de US $ 34 milhões.

A soma foi calculada "assumindo que os clubes reembolsarão totalmente os ingressos normais e de temporada e que os jogos adiados até agora serão remarcados até 3 de abril".


(Fonte: aqui)

A tabela mostra o efeito por clube.

29 fevereiro 2020

Salários e desempenho

No livro Soccernomics, Stefan Szymanski e Simon Kuper demonstraram uma relação entre os salários pagos pelas equipes e sua classificação ou desempenho. As equipes que podem pagar salários melhores, conseguem atrair os melhores jogadores; melhores jogadores significa mais vitórias, embora esta não seja a única explicação.

Uma coluna da Forbes analisou esta relação para a temporada 2019-2020 para duas ligas: a inglesa (Premier League) e a alemã (Bundesliga). Os dados de salários foram obtidos no relatório Global Sport Salaries.


Na liga inglesa, o City é o clube com maior folha salarial: US$220 milhões. O time com pior folha é o Sheffield, com US$23 milhões. O gráfico mostra esta discrepância.

Além de calcular a relação entre salário e desempenho, o resíduo da expressão pode expressar os clubes que estão acima do desempenho esperado (quando o valor previsto é superior ao que está pagando) ou abaixo (são ineficientes, já que pagam mais do que o desempenho).


O Liverpool, líder da competição, é o mais eficiente, com um desempenho de 82 milhões de dólares acima do esperado pelos salários pagos. O Sheffield United, em 7º lugar, mas com um folha reduzida, e o Leicester, em 3º também são destaques. Os clubes menos eficientes são Norwich, United e West Ham. Estes três times possuem 27 pontos abaixo do esperado pela folha salarial.

Na liga alemã temos os seguintes resultados:
Os timesFreiburg e RB Leipzig são os mais eficientes.O Bayer, que liderava o campeonato, está muito ruim na eficiência. Pela sua folha, ele deveria ter mais 7 pontos em relação ao que conquistou até agora. O maior desvio na folha da Premier League faz com que o campeonato alemão pareça mais equilibrado. Mas é importante lembrar que o salário não explica todo sucesso, mas cerca de 50%.

Eu e Thais Crabbi fizemos uma análise para o campeonato brasileiro de futebol e mostramos que esta relação é válida para o Brasil. O trabalho foi apresentado no Congresso de Contabilidade da UnB no final de 2019.

18 fevereiro 2020

City e o Fair Play

O Fair Play financeiro foi criado para tornar as competições esportivas mais equilibradas. Em alguns esportes, as regras limitam os salários dos atletas; em outras, a prioridade na contratação é dada para os clubes que tiveram pior desempenho no passado. Uma forma de conseguir o Fair Play financeiro é através da limitação dos gastos dos clubes, patrocinadores e atletas. Quando a Speedo desenvolveu um traje para seus nadadores, a proibição do uso da roupa em competições, que ocorreu logo depois, era uma forma de permitir que os atletas que não eram patrocinados pela marca tivessem chances em uma competição. Mais recentemente, um tênis desenvolvido pela Nike também foi proibido em competições de atletismo. O Fair Play financeiro evita que um time de futebol contrate os melhores atletas em razão do seu poder financeiro.

No caso do futebol, o Fair Play vai além do salário dos atletas e da contratação dos melhores por parte de um time. As regras procuram evitar que um grupo financeiro seja proprietário de mais de uma agremiação em uma competição; isto pode ajudar em não se ter uma combinação de resultados entre dois times de um mesmo proprietário.

Na sexta tivemos um fato bastante comentado relacionado com o Fair Play financeiro e a contabilidade. A entidade que regula o futebol na Europa, a Uefa, baniu um dos maiores times do continente, o Manchester City, de participar daquela que talvez seja a principal competição do futebol mundial, a Champions League. O Manchester City não poderá disputar a Champions League por dois anos em razão de dois motivos: (a) inflar as receitas de patrocínio; (b) não cooperar na investigação do caso.

No passado a Uefa impôs algumas regras para permitir um jogo justo no futebol europeu. A entidade estava preocupada com o endividamento excessivo de alguns clubes e da potencial redução da competitividade nos torneios. Neste último caso, mesmo em alguns países com longa tradição no futebol (caso da Alemanha e França), praticamente só existe um time (Bayer de Munique e Paris Saint-Germain). Para isto, a Uefa criou uma regra para impedir que um clube recebesse dinheiro de seu proprietário, mesmo com prejuízo. No passado, os donos injetaram recursos nos times, mesmo em situações de prejuízo. A regra da Uefa para o Fair Play é que os clubes não podem gastar mais do que recebem.

O Manchester City era um clube sem muita expressão continental até ser comprado pela família real dos Emiratos Árabes. Eles investiram muito dinheiro, contratando jogadores caros. Parte dos recursos veio do controlador. Mas em um determinado momento, as regras do Fair Play impediam o clube de receber mais recursos. O time fez um contrato de patrocínio com uma empresa aérea, a Emirates, que pagou pelo patrocínio de ter seu nome do estádio e na camisa do clube. O problema é que a empresa aérea também era do controlador e o valor pago foi muito acima do “valor justo”. Ou seja, foi colocado dinheiro no clube de maneira ilegal. Tudo leva a crer que o patrocínio de 67,5 milhões de libras

O que o Manchester City fez parece que foi grave já que a suspensão de participação de uma competição é considerada uma punição máxima. Além disto, o clube deve pagar uma multa de 30 milhões de euros, embora seja possível recurso.

Inicialmente a Uefa deu uma punição branda para o City: multa e algumas restrições. No passado, outros clubes receberam castigos pesados por parte da entidade. A punição inicial da Uefa foi leve. Mas um conjunto de e-mails apareceu e foi publicado pelo Dier Spiegel. Nas comunicações ficava claro a manipulação contábil por parte do City. O processo foi reaberto e daí surgiu a punição divulgada agora.

A segunda punição - A multa pela segunda punição é decorrente da atitude do clube inglês em relação a investigação. Conta-se que o presidente do clube afirmou ao então secretário-geral da Uefa “preferia gastar 30 milhões [em lugar de pagar uma multa] nos 50 melhores advogados do mundo para processar a Uefa nos próximos 10 anos”. Até o momento, o Manchester City não apresentou provas de que não ocorreu doping financeiro. Seu principal argumento é “perseguição”.

O que vai ocorrer - O City terá direito a recorrer, mas a decisão final deve sair em meados do ano, por conta da Champions 2020/21. As contas que foram analisadas não abrangeram até o último balanço publicado, o que significa que o clube pode ter mais punições e multas. Além do City, o PSG pode ser punido pelo mesmo motivo: a contratação de Neymar e Mbappé foi um claro desrespeito as regras da Uefa.

Efeitos colaterais - Além da multa, a punição pode gerar alguns efeitos colaterais. Jogadores podem tentar anular os contratos, alegando má conduta do clube e o técnico Guardiola pode deixar o clube. O clube também pode ser punido pela Premier League, o campeonato inglês, que possui outras regras, mas também pode ter sofrido a mesma “manipulação” da Uefa. Mais ainda, a atual punição cobre o período de 2012 a 2016; períodos posteriores podem ser analisados, com punições adicionais. Por exemplo, se o City for campeão da Champions, o título pode ser cassado.

Defesa do City - até o momento o City baseou sua defesa em uma perseguição da Uefa. Isto é pouco. Um argumento é que a Uefa usou material hackeado para processar o City. Mas basta uma análise na contabilidade do clube para confirmar ou não o material obtido pela imprensa. Como o processo deverá finalizar em meados do ano, mesmo assim, o City deverá continuar lutando - por exemplo, na justiça comum. É bom lembrar que o City aceitou as regras da Uefa antes de começar a competição; ele não foi forçado a fazer o que fez.

Efeito sobre o valor do City - A punição pode custar US$80 milhões em receitas para o clube em 2020, conforme estimativa conservadora da Forbes. A receita do clube é de 678 milhões de dólares, sendo 73 milhões por jogar a Champions. Segunda a revista, isto corresponde a uma perda de valor de quase 300 milhões de dólares. Dependendo do desempenho, a perda com a Champions seria entre 47 milhões a 102 milhões (se vencer o torneio).

Leia mais aqui, aqui e aqui

28 janeiro 2020

Rir é o melhor remédio

A nova propaganda da Adidas para sua chuteira Predator. Com Paul Pogba, Marc-André Ter Stegen, Becky Sauerbrunn e Dele. Nos 20 segundos do comercial, Ter Stegen, goleiro, abandona a profissão e se torna ... (assista)

16 dezembro 2019

Valor de um jogador

Especialistas apontam que a composição do valor de um jogador é formada por aspectos objetivos, como os títulos conquistados, o desempenho dentro de campo e a importância que o atleta tem para o time, mas também por fatores subjetivos, como a maneira como ele é visto pela torcida e a imprensa. (...)

Entre elas estão a posição do atleta em campo, idade, contrato, desempenho esportivo individual e sua importância para o time, ações disciplinares (faltas e número de cartões), desempenho na seleção, avaliação dos meios de comunicação osbre seu trabalho e seu potencial comercial, além do desempenho da equipe em que joga e competitividade da liga que disputa. (...)

Na lista de fatores importantes, a idade tem grande peso ainda, pois representa o potencial do atleta de gerar receita em futuras transferências. 

Nem só de gols vivem os craques, Gonçalo Junior, Estado de S Paulo, 8 de dez 2019, A21

Em outro texto, uma informação sobre Neymar Jr:

Por causa disso, ele [Neymar] perdeu R$277 milhões de valor de mercado, de acordo com estudo feito pelo Centro Internacional de Estudo do Esporte (CIES), organização independente de pesquisa com sede na Suíça.

Contusão e confusões jogam o valor de Neymar para baixo, idem

25 setembro 2019

Valor de um jogador de futebol

É difícil apurar o valor contabilístico dos jogadores da formação e até é possível que não tenham valor nenhum ou então apenas um valor residual. A probabilidade de João Félix ter valido contabilisticamente para o Benfica menos de dois milhões de euros é, por isso, muito forte.

O ativo da Sport Lisboa e Benfica – SAD com maior valor de mercado será, por ventura, o plantel da equipa principal de futebol. Bastará pensar, por exemplo, na venda de João Félix [foto] que, em julho, trocou Lisboa pela capital espanhola para jogar no Atlético de Madrid, a troco de 126 milhões de euros.

Apesar desta transferência milionária, a SAD benfiquista avaliou, no balanço, o plantel do ano passado em 80,246 milhões de euros, segundo o relatório e contas relativo ao exercício da época desportiva de 2018-2019, divulgado esta quarta-feira em comunicado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, tal como se pode ver logo na terceira página do documento, na rubrica “Ativos intangíveis – jogadores de futebol”.

Naturalmente, qualquer adepto de futebol poderá questionar-se sobre este valor. Mas a contabilidade explica.

Como são avaliados contabilisticamente os jogadores de futebol?

De acordo com a Norma Contabilística e de Relato Financeiro 6 (NCRF 6) é considerado como um ativo intangível aquele que é “não monetário identificável sem substância física”. Isto é, não é o jogador físico que é o ativo, mas antes o seu passe.

Além disso, a NCRF 6 exige que os ativos intangíveis reunam três características. Têm de ser identificáveis, isto é, passíveis de identificação de forma a serem diferenciáveis de qualquer outro ativo, sob pena de não se poderem exercer sobre eles direitos de propriedade (os passes dos jogadores são da propriedade da Benfica SAD).

Devem ainda existir e ter proteção legal, e gerar benefícios económicos futuros, como por exemplo, créditos obtidos através de uma futura venda.

Uma vez reunidos estas características, os ativos intangíveis devem ser reconhecidos e mensurados no balanço da empresa. No caso da SAD do Benfica – e de qualquer outra sociedade desportiva que compre e venda passes de jogadores – o departamento de contabilidade deve registar o valor do passe do jogador.

No caso de aquisição de um ativo intangível, leia-se, no caso de compra de um jogador de futebol, é este o valor a reconhecer no balanço. Assim, por exemplo, quando o SL Benfica oficializou a compra do avançado Raúl de Tomás por 20 milhões de euros, deve reconhecê-lo com esse montante. A isto se chama de reconhecimento inicial.

Mas, regra geral, o ativo intangível terá de ser amortizado de forma a registar as perdas dos benefícios económicos que lhe estão associados. Salvo exceções previstas na NCRF 6, a amortização do passe dos jogadores de futebol segue o método da linha reta. Este método consiste em dividir o custo de aquisição deduzido do valor residual pelo número de períodos correspondente à sua vida útil.

Por exemplo, em julho a SAD do Benfica comprou o passe de Raúl de Tomás por 20 milhões de euros, que se comprometeu por cinco épocas, até 2024. Ao longo da duração do contrato, contabilisticamente, o passe do jogador vai sendo reduzido em quatro milhões de euros (20 milhões / 5 anos) todos os anos. Na segunda época, valerá 16 milhões, na terceira valerá 12 milhões, e assim por diante.

Os jogadores oriundos da formação têm, no entanto, um tratamento contabilístico dos jogadores comprados, porque são ativos gerados internamente pelo clube.

Regra geral, o valor dos jogadores da formação que são reconhecidos como ativos intangíveis deverá ser igual ao respectivo custo de produção, ou seja, o montante de todas as despesas incorridas desde a data em que é reconhecido no balanço, algo que é subjetivo.

É difícil apurar o valor contabilístico dos jogadores da formação e até é possível que não tenham valor nenhum ou então apenas um valor residual. A probabilidade de João Félix ter valido contabilisticamente para o Benfica menos de dois milhões de euros é, por isso, muito forte.


Fonte: Antônio Vasconcelos Moreira, Jornal Econômico

30 maio 2019

Flamengo auditado por uma Big Four

Um processo de Due Dilligence – análise financeira, contábil, legal e de riscos e seguros – realizado no ano passado, mostrou que o Flamengo estava apto a receber auditoria de uma Big Four, algo pioneiro e inédito no futebol brasileiro. Vale lembrar que já há uma parceria firmada com a Ernst&Young desde 2013, com a entrada do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, no entanto a EY fazia apenas a consultoria financeira do clube.

“Foi um trabalho de consultoria em diversas partes. Foi uma consultoria de gestão. Analisamos as pastas, finanças, fluxo de caixa e procuramos resgatar a credibilidade do clube junto ao mercado. Foi uma coragem muito grande do Flamengo em abrir mão de alguns anos de competitividade pensando em longo prazo. E o resultado já está sendo possível notar”, explicou Pedro Daniel, sócio da EY, que esteve envolvido em todo o processo, em entrevista ao Torcedores.com no início deste ano.

Mas o que isso de fato significa e quais as vantagens que o Flamengo pode ter?

Ser auditado por uma das Big Four reflete na credibilidade junto aos patrocinadores, que confiam na destinação e retorno dos investimentos realizados no clube, podendo atrair grandes aportes, inclusive, do exterior. Além da confiança junto aos bancos para a obtenção de crédito com juros menores.

O especialista e sócio da Ernst&Young, Pedro Daniel, explicou também a importância desse processo e qual a visão que isso passa ao mercado. Segundo ele, é uma mudança significativa de patamar para uma equipe que há pouco tempo era vista como grande devedora.

“Ser auditado por uma Big Four traz algumas vantagens. Não só de credibilidade, mas no mercado. Ela verifica vários setores e dá uma segurança de investimento maior. Logo, você fica mais atrativo pro mercado. As Big Four só auditam se elas sentirem confiança na empresa ou, no caso, clube. Um dos benefícios é na questão do crédito. Vamos supor que o Flamengo queira a iniciar construção do seu estádio e precise de um empréstimo bancário. Os juros, por ser uma empresa responsável, serão muito menores”, analisou.
[...]

Fonte: Aqui

07 março 2019

Futebol e ações negociadas na bolsa

  • O preço das ações reflete a riqueza futura que será gerada
  • Em um clube de futebol, a eliminação de uma competição pode reduzir os prêmios que serão recebidos e o valor do patrocínio
  • Ontem, a Roma perdeu para o Porto e deixará de receber 10 milhões de euros. O preço das ações do clube cairam no dia de hoje

É sempre interessante acompanhar o que ocorre com o preço da ação de um clube de futebol. Quando este clube possui ação negociada na bolsa.

Veja o caso da Roma, um grande clube italiano. Ontem, jogando pela Champions League, provavelmente o principal campeonato de futebol do mundo, a Roma precisava de um empate ou uma vitória, por qualquer placar. Tinha vencido o primeiro jogo em casa e jogava o segundo em Portugal, contra o Porto. Ao final de 90 minutos, o placar mostrava 2x1 para o Porto. A prorrogação aconteceu e o Porto fez mais um gol. Com isto, classificava para mais uma etapa da Champions. A Roma estava eliminada. Eis o que ocorreu com o preço da ação da Roma:

O preço da ação refletiu o resultado em campo. Com o placar, a Roma deixou de classificar e perdeu 10 milhões de euros de prêmios, além da menor visibilidade para seus patrocinadores.

08 fevereiro 2019

Resultados do Liverpool


O time do Liverpool obteve um lucro anual, antes dos impostos, de 125 milhões de libras. Um resultado excelente. Segundo a BBC, este resultado decorre: desempenho em campo na Liga dos Campeões na temporada passada, o que significou uma receita extra de 72 milhões de libras; e a transferência de Philippe Coutinho para o Barcelona, no início do ano passado, no valor de 142 milhões de libras.

Antes, o recorde de lucro era do Leicester, na temporada de 2016 - 2017, com resultado de 92 milhões para o lucro.

Atualmente, o Liverpool tem boas chances de ser campeão inglês, o campeonato mais importante do mundo (após a Champions e a Copa do Mundo). Além disto, a receita de propaganda aumentou, de 66 milhões para 220, assim como a receita comercial }(de 17 para 154 milhões de libras). Isto pode fazer com que o clube fique em terceiro lugar no ranking de receita da liga inglesa, atrás do United e do City. Atualmente, o clube é sétimo no ranking da Deloitte Football Money League (era nono no ranking anterior).

02 fevereiro 2019

Risco Moral no Futebol

Sobre as finanças dos clubes de futebol (vide anteriormente aqui sobre o desempenho dos clubes europeus), Stefan Szymanski faz uma breve análise sobre a falência dos clubes europeus. Para ele, a questão da falência dos clubes está vinculada ao desempenho da equipe em termos de resultados e receita. Se este desempenho persistir por vários anos, isto poderia levar à insolvência. Mas para ele, a insolvência não é previsível, embora o rebaixamento pode ser importante como explicação. Ao ser rebaixado, o time perde receita, que pode levar ao aumento da chance de insolvência. (aqui uma lista de ex-clubes do futebol inglês, como exemplo)

Para evitar esta insolvência, uma possibilidade é fazer um seguro. Seria constituído um fundo para evitar os problemas financeiros. Mas mecanismos de seguro geralmente estão associados ao problema do risco moral, lembra Szymanski. Nesta situação, o clube termina assumindo riscos mais elevados. É similar ao caso do motorista que tem seguro no seu carro e, por este motivo, dirige de forma mais imprudente.

Talvez a questão no Brasil também envolva o problema de risco moral, mas de forma diferente. Muitos clubes de futebol assumem riscos desnecessários, contratando jogadores caros ou fazendo obras desnecessárias, sabendo que em caso de dificuldade, dívidas não pagas, em especial as dívidas com o governo, serão perdoadas. O ambiente torna-se propício para que riscos desnecessários sejam assumidos, contando com o perdão futuro ou o aparecimento de um patrono para resolver os problemas de gestão.

A questão é que este estilo se esgota com o tempo. Provavelmente o governo irá exercer mais pressão para receber suas dívidas e poucas pessoas estarão dispostas a colocar dinheiro em um clube sabendo do elevado risco e baixo retorno. O rebaixamento de alguns clubes tradicionais poderia levar, no futuro, sua falência.

Contabilidade de um atleta

A UEFA divulgou um rico relatório sobre o futebol europeu. Os dados incluem salários, propriedade dos clubes, estádios, patrocinadores, receitas, custos operacionais, transferências de atletas e balanços.

Nos dados fica muito claro que o campeonato inglês é o mais rico em receitas, número de pessoas que comparecem nos estádios, patrocínios e outros índices. A UEFA enfatizou que pela primeira vez positivo, desde 2008. Para a UEFA, as regras de fair play financeira ajudam a explicar isto.

O site Soccernomics parece discordar; e enxerga que a explicação pode ser contábil. O ano de 2017 foi aquele recorde no valor das transferências. Na página 86 do relatório, a UEFA afirma:

Accounting for transfer activity is somewhat counterintuitive. When transfer spending goes up, the net cost of transfer activity, and therefore the level of aggregate club losses, is likely to go down. This is because of a difference in timing: profits, which increase if transfer activity goes up, are triggered immediately on sale, while costs, which also increase if transfer activity goes up, are spread out over the duration of players’ contracts (typically three to five years).

Assim, quando ocorre uma transferência de um atleta, para o clube que vendeu, o valor aparecerá na receita imediatamente. Para quem contra, o valor ficará diluído pelos anos do contrato do clube, geralmente de 3 a 5 anos. Por exemplo, se um atleta assina uma transferência de 100 milhões, isto será receita para o clube que “vendeu” os direitos, mas será ativo, amortizado pelo período do contrato. Como 2017 ocorreu um grande salto no volume de transferências, isto aumentou a receita, mas não os custos. Assim, parte da lucratividade não é do fair-play, mas do volume de transferências.