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24 dezembro 2006

Dilema da Nike


A questão social pode apresentar certos dilemas para uma empresa. Considere o caso da Nike, uma empresa que já foi acusada de explorar mão-de-obra infantil por diversas vezes.

Esta empresa tem um procedimento de terceirizar a produção de diversos artigos vendidos com sua marca. Na fronteira da Cashimira, no Paquistão, estão localizadas diversas marcas esportivas que fabricam bolas de futebol. Cerca de 80% da produção mundial é realizada nesta região, o que faz com que as cidades próximas sejam prósperas em relação a outras cidades paquistanesas.

Em novembro a Nike acusou a Saga Sports de expor a Nike a ameaça de violar leis de trabalho infantil, entre outras. Entretanto, uma medida mais severa por parte da Nike pode ter conseqüências graves em termos de desemprego, pobreza e avanço do terrorismo islâmico. O contrato com a Saga deverá terminar em março. A ruptura irá significar impactos sobre 20 mil famílias, segundo informações da própria Saga.

Clique aqui para ler mais

17 novembro 2006

Ainda mais de Vale x Índios


A questão entre a Vale do Rio Doce e os Índios permanece. Hoje, no Estado de S. Paulo, nova reportagem sobre a empresa e a ajuda que a mesma fornece aos índios. A empresa disse que dá mais ajuda aos índios que o próprio governo, apesar de não ter obrigação legal para isto. Parece que a empresa percebeu que era refém do auxílio e estava sendo ameaçada.

Vale diz que dá mais ajuda a índios do que a Funai

Apesar disso, empresa sustenta que não tem obrigação de repassar verba

Irany Tereza

A Vale do Rio Doce informou ontem que destina mais dinheiro a cada índio das reservas próximas às áreas de mineração que explora do que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) juntas - embora sustente que não tem obrigação legal de repassar esses recursos.

A empresa foi acusada ontem pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de fugir a suas responsabilidades. Em entrevista ao Estado, Mércio disse que ela tenta escapar dos compromissos que assumiu com as comunidades indígenas na época de sua privatização.

Segundo o diretor de Assuntos Corporativos da Vale, Tito Martins, a empresa encerrará o ano com a destinação de quase R$ 30 milhões aos índios. 'São cerca de R$ 10 mil por índio ao ano, é mais do que fazem a Funai e a Funasa juntas.'

A Vale está recorrendo à Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o governo brasileiro. Segundo Martins, a petição tem por objetivo obrigar o governo a assumir responsabilidades no trato com os índios e tornar viáveis as relações entre suas comunidades e a Vale. 'O que está nos incomodando é que se está desviando do foco principal: cadê a política indígena?', disse o executivo.

Segundo ele, as três recentes invasões de tribos a instalações operacionais da Vale causaram perda estimada em US$ 32 milhões. 'Há seis etnias diferentes. Se cada uma delas invadir nossas instalações pelo menos uma vez por ano, teremos um prejuízo entre US$ 70 milhões e US$ 80 milhões. Não podemos continuar nessa situação', reclamou Martins. Ele foi mais longe: disse que havia representantes da Funai entre os invasores do Complexo de Carajás. 'Se isso não é apoio, é pelo menos omissão', acusou.

O diretor alegou que um decreto a que se referiu o presidente da Funai, que obrigaria a Vale a dar assistência aos índios, levava em conta um acordo de concessão de direito de uso da terra que não chegou a ser assinado com o governo. A empresa diz ter responsabilidades ambientais e sociais, mas não que envolvam explicitamente as comunidades indígenas.


Aqui, o outro lado...

Funasa nega desentendimentos

A presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) criticou ontem as declarações feitas ao Estado pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, sobre a falta de entendimento entre os dois órgãos federais na área de atendimento aos índios.

Em nota, a Funasa afirma que as duas instituições já atuam em conjunto e que o atendimento teve 'avanços significativos'.

16 novembro 2006

Vale x governo 3


A versão da Vale sobre o assunto. Será que para uma empresa lucrativa como a Vale é interessante este tipo de confusão?

Mércio desconhece lei, diz Vale

O diretor-executivo para assuntos corporativos da Companhia Vale do Rio Doce, Tito Martins, acusou o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de criticar a empresa por desconhecer a legislação. 'Ele claramente está enganado e desinformado. Não conhece a legislação', afirmou o executivo ontem. 'Até hoje, respeitamos todos os acordos. Se estamos tão errados, por que não nos acionam judicialmente?'

Martins disse que o decreto presidencial de 1997 que estabelecia obrigações da Vale com comunidades indígenas foi revisto por um novo acordo entre a empresa e o governo federal no ano seguinte. Na revisão, segundo ele, a referência explícita aos índios foi removida do documento.

A ação da Vale contra o governo federal na OEA foi, segundo Martins, a única via encontrada pela empresa para tentar fazer a União assumir suas responsabilidades. 'Não existe no Brasil instrumento formal para isso. Hoje nos é cobrada responsabilidade sobre comunidades cuja tutela é responsabilidade do governo brasileiro', disse. 'Queremos que haja uma política em relação aos índios, para que não sejamos reféns dessas comunidades.'

O executivo também sustentou que a Vale não tinha a obrigação de reajustar em setembro os pagamentos aos índios. 'O acordo previa que a partir de setembro poderíamos nos reunir para discutir potenciais ajustes. Isso não aconteceu porque os índios invadiram nossas instalações, com a conivência da Funai.'

Vale x governo 3

A continuição da entrevista do Presidente da Funai:

'Empresa quebrou contrato com o governo'

Sabe dizer se o dinheiro repassado a esses grupos indígenas está sendo usado para a estruturação de sua economia, para que algum dia possam ser auto-sustentáveis?

Em alguns casos, sim. Os índios gaviões tentaram uma roça mecanizada. Treinaram os jovens, compraram trator e colheitadeira, derrubaram uma capoeira e plantaram arroz. Não deu certo, porque é difícil. Mas dos 400 hectares iniciais eles mantêm 250 cultivados. Outros grupos usam o dinheiro apenas para a compra de coisas extras, como roupas.

Existem pelo País vários outros acordos entre indígenas e empresas mineradoras, de produção de energia hidrelétrica e de outras atividades. Eles funcionam bem?
O projeto com melhor estrutura é o que envolve os uaimiri atroari, na área da hidrelétrica de Balbina, que inundou 30 mil hectares de terra indígena. Ele é coordenado por um indigenista sério, ex-funcionário da Funai, e conta com bons projetos de sustentabilidade. Os índios plantam para seu consumo e também se organizam para vender. Desde 1987 a Eletronorte desembolsa anualmente R$ 3 milhões para esses projetos, que estão cada vez mais consolidados. Creio que daqui a dez anos os índios terão autonomia.

O senhor acredita que é possível bater a Vale na OEA. Mas se o risco é tão grande, porque uma empresa desse porte iria se expor a ele?

Na minha opinião, acham que vão bater no governo. A última invasão feita pelos índios deixou seus executivos chocados e eles resolveram partir para uma ação determinada, exigindo maior cuidado com os índios. Eu apóio, mas, como já disse, não podem esquecer as obrigações do decreto que permitiu a doação da área que garante a riqueza deles.

O Brasil já foi acusado no exterior, em outras ocasiões, de não tratar bem os índios. O senhor acha que essa nova acusação na OEA pode prejudicar mais a imagem do País?

Já fui à OEA em outras ocasiões defender o Brasil. Numa delas o Conselho Indigenista Missionário de Roraima acusou o governo por não ter retirado ainda todos os arrozeiros da área da Raposa Serra do Sol. Eu expliquei todas as providências tomadas para a liberar a área. No caso da Vale vai ser mais fácil, porque ela está inadimplente: quebrou o contrato com o governo brasileiro.

Qual seria, na sua opinião, a saída para esse caso?

O primeiro passo seria a Vale assumir que tem um dever. Depois disso deveria procurar com a Funai e os índios montar um projeto estruturante e racional para as comunidades indígenas. Porque também não queremos que fiquem recebendo dinheiro à toa.

Existem vários projetos empresariais em andamento na região amazônica, em áreas próximas às terras indígenas. Acha que os conflitos tendem a se agravar?

Eles podem ser evitados se as empresas se prepararem, se fizerem acordos corretos com os índios. Isso acontece no mundo inteiro. Os canadenses, que têm projetos de mineração e hidrelétricas em áreas indígenas, sempre negociam e para isso utilizam pessoas que entendem do assunto.

Levantamento do Instituto Socioambiental mostrou que o atendimento aos índios na área da saúde está piorando. É possível reverter isso se a responsabilidade pelo atendimento sair do Ministério da Saúde e voltar para a Funai?

Sei que uma das reclamações da Vale é contra a Fundação Nacional de Saúde, a Funasa, que não estaria atendendo bem aos índios. O que fez a Funasa sair da Funai e ir para o Ministério da Saúde foi um simples decreto presidencial, de 1999. Outro decreto poderia vir para dizer que a Funasa tem de estar junto com a Funai para montar estratégias de saúde.

Vale x governo 2


Anteriormente coloquei uma reportagem informando que a Vale entraria com uma petição contra o governo (clique aqui para ler).

O presidente da Funai, Mércio Gomes, em entrevista no Estado de hoje dá a entender que a Vale tem a obrigação de cuidar dos índios.

A seguir a reportagem:

'A Vale dá a entender que atende índios por benevolência, mas é obrigação'

Antropólogo reage à iniciativa da empresa de recorrer à OEA contra o governo e a acusa de fugir de suas responsabilidades

Roldão Arruda

A decisão da Companhia Vale do Rio Doce, que acaba de formalizar uma petição contra o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), irritou o presidente da Fundação Nacional do Índio, o antropólogo Mércio Pereira Gomes. Na opinião dele, a acusação de que o governo não cumpre suas obrigações com os índios, tornando-os cada vez mais dependentes de verbas que a mineradora repassa às suas comunidades, é um jogo de cena. A Vale estaria fazendo isso para tentar se eximir das obrigações que assumiu na época da privatização.

Em entrevista ao Estado, o antropólogo diz que, se for convocado para defender o País na OEA, pode provar que a mineradora está socialmente 'inadimplente' e quer se livrar do dever contratual de amparar os índios que vivem na região das jazidas que explora: 'A Vale dá a entender que atende a população indígena por benevolência, mas trata-se de uma obrigação.'

Como o senhor vê a acusação de que o País não cumpre suas obrigações com a população indígena?
Sou a favor de melhorias no trabalho com os indígenas. Mas a Vale também tem obrigações e não pode fugir da raia. Ao receber, por tempo indeterminado, o direito de exploração da maior mina de ferro do mundo, ela se comprometeu a defender o ecossistema, preservar as belezas cênicas, produzir alimentos para a população envolvida no trabalho de mineração e amparar os indígenas localizados nas proximidades. Isso ficou estabelecido por meio de uma resolução do Senado, de 1986, que foi confirmada por um decreto presidencial em 1997 - dois meses antes da privatização. Estamos falando de uma jazida de ferro de 411 mil hectares, que, mesmo com a retirada diária de 250 mil toneladas de minério de ferro, como acontece hoje, a empresa vai levar 470 anos para exaurir. Isso sem contar as jazidas de ouro, bauxita, magnésio e outros minérios que existem por ali, em menores quantidades.

A Vale diz que cumpre suas obrigações, paga regularmente os índios, e tem sido vítima de chantagens.

O problema não é o dinheiro, e sim a incompreensão da questão. A Vale não consegue estabelecer uma relação correta com os índios - e foi isso que deu origem aos conflitos, com as invasões de suas dependências. Eu já disse a diretores da empresa que eles são incompetentes e amadorísticos no tratamento dessa questão.

Como chegou a essa conclusão?

Na área ambiental, logo após o decreto de 1997 a Vale fez um acordo com o Ibama e criou um departamento especial com 60 técnicos, muitos deles com doutorado. Mas, para o trato da questão indígena, até hoje eles não têm nenhum antropólogo, sequer um indigenista para conversar com os índios. Por que essa terrível má vontade? Se fosse capitalista da Vale, eu recomendaria aos executivos que entrassem em entendimento com os índios. Por vários motivos. Um deles é a recente aquisição, de uma empresa canadense, da maior mina de níquel do Brasil. Como um terço dessa mina está em território xicrim, é obvio que em algum momento será preciso negociar com eles.

Até agora a Vale conviveu com os índios aparentemente sem problemas. O que causou a mudança e levou a três invasões neste ano?

Durante certo tempo a Funai mediou as relações entre os índios e a Vale. O dinheiro era entregue à Funai, que executava os programas. Mas alguém sugeriu à empresa que tratasse diretamente com os índios. Ela aceitou a idéia e desembestou numa série de programas, com liberação de dinheiro, em termos de ajuda de custo. Foi a Vale que introduziu essa prática. A Funai nunca repassou dinheiro diretamente. No primeiro semestre deste ano, a Vale impôs um acordo, no qual dizia que haveria reajuste do pagamento após o dia 11 de setembro. Quando chegou a época, os índios pediram uma reunião para tratar do assunto, mas a empresa ignorou, dando origem à explosão.

05 novembro 2006

Balanço Social

Uma reportagem do mês passado afirma que a publicação de relatórios com ações sociais é pequeno no País. Isto pode significar espaço para crescimento nesta área:

Balanço social ainda pode crescer

Estudo mostra que apenas 29% das empresas publicam relatórios de ações sociais

Andrea Vialli

A publicação de balanços sociais - documentos nos quais as empresas prestam contas de sua atuação social e ambiental - ainda está longe de fazer parte da realidade das companhias brasileiras. 'Houve um 'boom' na publicação desses balanços entre 1999 e 2003. Hoje há poucos avanços', diz Claudia Mansur, coordenadora de Balanço Social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Segundo Cláudia, a exceção fica para as micro e pequenas empresas, que se mostram a cada dia mais atentas à responsabilidade social, até por exigência de seus clientes. 'É nas pequenas empresas que a publicação dos balanços tende a crescer, puxada pelas cobranças das grandes empresas que compram seus produtos', explica. O Ibase, ONG criada pelo sociólogo Herbert de Souza, foi a primeira instituição a apresentar, ainda na década de 1990, um modelo de balanço social para os grupos brasileiros.

A mais recente pesquisa do Instituto ADVB de Responsabilidade Social, ligado à Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, divulgada na semana passada, dá uma mostra da pouca penetração dos balanços sociais entre as empresas brasileiras. Entre os 3.110 grupos de todo o País ouvidos pela pesquisa - todos retirados do cadastro da ADVB -, apenas 29% publicam balanços sociais.

O estudo mostra, por outro lado, que o investimento empresarial em projetos sociais está crescendo: o gasto das empresas com esses projetos aumentou 28% no ano passado em relação ao ano anterior. Mas a publicação dos balanços só cresceu um ponto percentual: em 2004, 28% das empresas apresentaram o documento.

Segundo Livio Giosa, diretor do Instituto ADVB, as empresas mais dependentes do mercado internacional - basicamente, as exportadoras - têm uma preocupação maior de publicar o documento, já que pode se tornar um verdadeiro cartão de visitas em alguns mercados. Na Europa, por exemplo, pode se tornar um importante diferencial na hora de fechar negócios. 'As empresas de capital aberto também têm mostrado mais preocupação com a publicação do balanço social', diz Giosa. 'No mundo inteiro, os investidores estão mais atentos a esse tipo de informação.'

No Brasil, um dos termômetros para se avaliar a preocupação das empresas em publicar esses documentos é o prêmio anual Balanço Social, que avalia os melhores relatórios. Este ano, foram premiadas empresas como Samarco Mineração, Usiminas e Banco Itaú.

Mas o número de inscritos caiu sensivelmente este ano: foram 69, ante 166 no ano passado e 167 em 2004. De acordo com Cláudia, do Ibase, uma das entidades que promovem o prêmio, a redução ocorreu porque o regulamento da premiação se tornou mais rigoroso e também por causa da estagnação no número de empresas que publicam esses balanços.

MODELO INTERNACIONAL

Fora do Brasil, a Global Reporting Initiative (GRI), entidade que fornece um modelo internacional para publicação de balanços sociais, fez algumas mudanças nas regras. Agora, as empresas preenchem uma planilha que fica disponível para consulta no site da entidade - uma reivindicação feita pelo mercado financeiro, em busca de maior transparência. 'As empresas tendem a ficar mais expostas, o que facilita a análise dos bancos e investidores', explica Christopher Wells, superintendente de risco socioambiental do ABN Amro Real.

O modelo da GRI é considerado complexo, e são poucas as companhias no Brasil que adotam o padrão: 19, incluindo empresas de capital nacional, como Petrobrás e Natura, e multinacionais com operação no País, como a Philips. No mundo todo, são 895 empresas.


Fonte: Estado de S. Paulo, 09/10/2006

Enquanto isto, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE), que contempla as empresas com responsabilidade social, tem apresentado desempenho superior a própria Bovespa, conforme reportagem a seguir do Jornal do Commercio, de 26/10/2006. Temas para pesquisa!

Responsabilidade social, às vezes, rima com lucro

Fundo do Itaú, um dos seis com foco em ética empresarial, supera o Ibovespa


JULIANA ENNES
DO JORNAL DO COMMERCIO

O mercado financeiro, dito frio e impessoal, foca-se cada vez mais em preocupações sócio-ambientais. Apesar de o mercado no Brasil ainda ser muito pequeno, a perspectiva é de crescimento contínuo na área de investimentos socialmente responsáveis. A rentabilidade do Fundo Itaú Excelência Social, no acumulado do ano, foi superior tanto ao IBrX-50 - índice utilizado como parâmetro - quanto ao Ibovespa, principal benchmark do mercado de Bolsa no Brasil. No período, de acordo com dados do Itaú, a valorização do FIES foi de 19,22%, enquanto o IBrX-50 obteve ganhos de 15,72%, até o último dia 19, e o Ibovespa subiu 16,31%.

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa ainda não é utilizado como parâmetro para a maioria dos fundos que visam empresas com responsabilidade social. O índice, criado há menos de um ano, começou a valer somente no dia 1º de dezembro de 2005, com parâmetros semelhantes ao Dow Jones - mais importante indicador da performance financeira das empresas líderes mundiais em sustentabilidade, lançado em 1999 . Para o mercado, o índice brasileiro ainda precisa ser ajustado. A rentabilidade foi bastante superior aos demais índices, com ganhos de 24,24% no ano, o que foi considerado pontual.

- O ISE precisa de avanços. Já foi um bom começo a sua criação, mas é preciso ajustar não somente a composição da carteira, como o peso das empresas. Cerca de 60% do índice são compostos por ações de bancos, por exemplo. O Brasil ainda está engatinhando em termos de investimentos socialmente responsáveis - disse o superintendente de operações de Renda Variável do Itaú, Walter Mendes. Com a dificuldade de utilização do ISE como referência, os bancos criaram critérios próprios de seleção das empresas em que aplicar recursos. Leva-se em conta a governança corporativa, práticas sociais e gestão ambiental. Há também critérios de eliminação. Não se aplica em empresas ligadas a vício, como álcool, fumo e jogos; além de excluir também indústrias bélica e de energia nuclear.


Preocupação reflete onda vinda do mercado externo

O crescimento da preocupação com a responsabilidade social no Brasil vem de experiência vivida no exterior. Nos últimos 10 anos, o volume em investimentos socialmente responsáveis teve forte elevação. Dos US$ 24,4 trilhões de administrados nos EUA, até o final de 2005, 9,4% são investimentos socialmente responsáveis, de acordo com a Nelson Information"s Directory of Investiment Managers, citada pelo Itaú. Nos mercados emergentes, este montante ainda é muito inferior. Também em 2005, este tipo de investimento somava US$ 2,7 bilhões. Os dados no Brasil são mais atualizados, sendo difícil a comparação, já que a tendência é de constante crescimento do segmento. De qualquer forma, para ilustrar como o País ainda está começando a enxergar essa importância, apenas 1,4% da indústria brasileira de fundos foca empresas socialmente responsáveis, somando R$ 390 milhões, dos atuais R$ 28,5 bilhões. No Brasil, aplicações socialmente responsáveis ainda são sinônimo de investimentos em ações. Isso faz com que, apesar da rentabilidade positiva obtida até então, seja considerado produto de risco. Já entre fundos de ações, o investimento, no longo prazo, é considerado de médio risco. Portanto, por mais que o acesso esteja cada vez mais fácil, não é qualquer investidor que está disposto a colocar dinheiro em aplicações socialmente responsáveis.


Fundos éticos somam seis no Brasil

Atualmente, há seis fundos no Brasil voltados exclusivamente para empresas socialmente responsáveis. O pioneiro foi o ABN Amro, que lançou o fundo Ethical em 2001. Sua participação atual no segmento é de 28%, e a rentabilidade de 17,53% este ano. Em 2004, o Itaú lançou o FIES e já tem 57% do patrimônio líquido. As outras instituições, com lançamentos mais recentes, ainda em 2006, e por isso, com participação menor no mercado, são Bradesco (5%), Banco do Brasil, HSBC (6%) e Safra (4%). Não por acaso, os bancos que lideram o ranking de ativos no país.

17 outubro 2006

Ibase adota maior rigor

Reportagem da Gazeta de hoje comenta que o Ibase terá mais rigor na concessão do selo ao balanço social.


Governança Corporativa - Mais rigor para ter selo do Ibase

São Paulo, 17 de Outubro de 2006 - Companhias terão que apresentar relatórios anuais no máximo até maio do ano seguinte. O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) vai aumentar o rigor para conceder selo ao balanço social. A partir de agora, companhias interessadas em conseguir a etiqueta devem apresentar o relatório anual até maio do ano seguinte. Para o coordenador de responsabilidade social e ética do Ibase, Ciro Torres, o objetivo da medida é criar um padrão mínimo que permita à sociedade identificar as empresas realmente interessadas no assunto e as que o fazem apenas por modismo. "Dependendo de quando o documento é apresentado, as informações podem ficar perdidas no tempo", diz Torres.
A ausência de rigor na apresentação do documento, segundo ele, é uma das explicações para poucas empresas obterem o selo. "Recentemente, algumas empresas nos consultaram querendo informações sobre como obter o selo para o balanço de 2005, mas ainda nem começaram a preparar o documento", diz.
Atualmente, cerca de 400 companhias adotam o modelo do Ibase para apresentar o relatório de suas atividades sócio-ambientais. No entanto, pouco mais de 10% delas conseguem o selo. Além disso, o número de aprovadas caiu de 64 para 52 entre 2004 e 2005.
Nos últimos dois anos, o Ibase vem reduzindo gradualmente os prazos para apresentação dos relatórios. Em 2005, as candidatas ao selo também foram submetidas a uma audiência pública, tendo que responder a críticas e dúvidas de ONGs, clientes e órgãos de defesa do consumidor, entre outros. "Nem todas as empresas querem se submeter ao crivo da sociedade", avalia.
Raio X
O Ibase prepara para 2007, no aniversário de dez anos de criação do selo, o resultado de um estudo sobre os avanços obtidos sócio-ambientais das companhias brasileiras. Sem citar números, Torres adianta que diversas empresas ampliaram os esforços em prol de maior diversidade de gênero e de raça entre seus funcionários. Em contrapartida, a maior parte dos relatórios ainda revela incoerência e confusão entre ações sociais e responsabilidade empresarial. Na última edição do prêmio balanço social promovido em parceria entre a Fides e o Instituto Ethos, 85% dos relatórios inscritos apresentavam incoerências. "Ainda percebemos diferenças entre o discurso e a prática", diz.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Aluísio Alves)

10 outubro 2006

Uma empresa e os índios



É preocupante quando uma empresa brasileira, com ações negociadas na bolsa, uma das maiores produtoras do mundo do seu setor, utiliza outdoors para jogar a população de um local contra os índios.

O caso envolve a Aracruz e os índios do Espírito Santo. Conforme pode ser visto nas imagens, os outdoors são agressivos.

Abaixo, uma reportagem do jornal Independente, que defende o lado dos índios:

Aracruz usa mídia e outdoors para voltar a população contra comunidades indígenas
Por ARACRUZ CELULOSE X COMUNIDADES INDÍGENAS 07/10/2006 às 22:46

"A Aracruz trouxe o progresso. A Funai, os índios". Espalhando frases como esta em outdoors pelo Espírito Santo, a multinacional Aracruz Celulose espera ter apoio da população para impedir a demarcação de 11 mil hectares como terras indígenas. O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos tem aproximadamente 4 dias para assinar uma portaria que declara a área propriedade das comunidades Tupinikim e Guarani, acusadas pela Aracruz de não serem índios e índias de verdade.

Além dos outdoors, a Aracruz vem usando a mídia local para criminalizar o movimento indígena. Um exemplo é a nota do "empresário e escritor" Carlos Lindenberg Filho, um dos diretores da Rede Gazeta, uma subsidiária da Rede Globo no Espírito Santo. A multinacional também conseguiu apoio de seus funcionários por meio de ameaças de desemprego indiretas e apoio da população do município de Aracruz, que agora reage com medo de supostos saques e violência por partes de indígenas.

Durante a Copa do Mundo deste ano, a empresa lançou um comercial de TV sob o slogan "O Brasil fazendo um bonito papel no mundo inteiro", com a música "Balé de Berlim", do ministro da Cultura, Gilberto Gil. De fato, a maior parte do papel produzido pela Aracruz é produto de exportação. Segundo a geógrafa Simone Batista Ferreira, da Rede Alerta Contra o Deserto Verde, "99% são exportados para a produção européia de fraldas descartáveis, absorventes femininos e lenços de papel, e não para a produção brasileira do papel utilizado nas escolas, tão necessários". Destroem as reservas naturais brasileiras, expulsam comunidades quilombolas e indígenas de suas terras e "fazem um bonito papel" lá fora.

Em defesa das comunidades indígenas, a artista Ana Amorim escreveu uma carta para Gilberto Gil. A carta traz dados de um relatório feito pela Swed Watch, apontando todos os danos causados pela Aracruz no Brasil. E ela conta que "antes da expansão da Aracruz, em 1967, havia 40 vilarejos indígenas na área onde a Aracruz atuava. Após a Aracruz ter estabelecido todas as suas plantações de eucalipto na área, restaram somente três vilarejos". A artista sugere que Gil seja mais responsável antes de participar de uma próxima campanha a favor desta empresa.


A seguir, uma nota da Aracruz, divulgada no sítio Bluebus:


"A comunidade de Aracruz, cidade no centro-norte do Espírito Santo, realizou manifestaçao no dia 15 de setembro, em solidariedade aos funcionários e fornecedores da Aracruz Celulose, que vem sendo intimidados constantemente por manifestaçoes de índios e de organizaçoes como o MST. Os outdoors foram veiculados como parte dessa manifestaçao, que reuniu 6 mil moradores da cidade com total apoio do comércio local".

"O conteúdo dos outdoors é uma reaçao da sociedade, talvez um pouco carregada nas tintas, aos atos extremistas que vem sendo praticados na regiao como forma de pressionar o Ministério da Justiça a tomar uma decisao favorável à ampliação da reserva indígena no Espírito Santo (,,,,,) Nesta 5a feira, 12, expira o prazo para o Ministro da Justiça se pronunciar sobre a questao da ampliação em 11 mil hectares da reserva indígena em Aracruz, no Espírito Santo. A Aracruz Celulose confia em uma decisao favorável, já que sua contestaçao, com 15 mil páginas de documentos, apresentou argumentos fundamentados em ampla pesquisa histórica, realizada por grupo multidisciplinar, que trabalhou durante 8 meses com o intuito de fazer um resgate histórico e investigar a questao da terra no Espírito Santo (.....)".

Segue - "A Aracruz Celulose gostaria de esclarecer que respeita as comunidades indígenas do Espírito Santo, a quem reconhece como uma de suas partes interessadas importantes, e com as quais gostaria de desenvolver um relacionamento construtivo e duradouro. Trabalham hoje na empresa, entre funcionários e colaboradores, quase uma centena de descendentes de índios (.....)".

Esclarece - "A Aracruz nao patrocinou a colocaçao dos outdoors, nem apóia mensagens que possam vir a ser interpretadas como discriminatórias. Por outro lado, nao tem como impedir que os diversos movimentos sociais de apoio à empresa que vem surgindo no Estado expressem as suas posiçoes".


Sendo irônico, será que isto consta do Balanço Social da Aracruz?