Translate

21 janeiro 2022

Maiores Startups

 


KPMG e os problemas na ilha


Uma criança não estudou para prova e tirou nota abaixo da média. Um quatro. Ao levar o boletim para seu pai, o menino mudou o quatro por um nove. Qual foi o delito mais grave: não ter estudado ou ter enganado seu pai? O leitor pode pensar neste caso quando falamos do grande problema com a KPMG no Reino Unido. A empresa de auditoria, uma das maiores do mundo, é o menino da situação acima: além de não ter estudado, tentou passar uma visão enganosa do seu desempenho.

No caso da KPMG o problema começou com suas falhas com a auditoria que a empresa fez na Carillion. O problema é que a Carillion fracassou e a KPMG não percebeu que foi enganada na sua tarefa de auditor. Mas ao ser questionada pelo Financial Reporting Council (FRC), a entidade que seria responsável por fiscalizar as auditorias no Reino Unido, a KPMG fez igual ao menino do boletim: trocou o quatro pelo nove. No caso da KPMG, a empresa de auditoria, e alguns dos partners – os mais importantes funcionários de uma empresa como a KPMG – falsificou documentos para tentar amenizar suas falhas. Este é o termo usado na acusação contra a KPMG: falsificação de documentos para enganar o regulador. Isto foi reconhecido pela própria KPMG, que nas palavras do atual responsável pela empresa, Jon Holt, ocorreu má conduta. Dentro de um papel típico desta situação, Holt disse que arrependido.

Os auditores da KPMG (Peter Meehan, Alistair Wright, Richard William Kitchen, Adam Bennett, Patrik Paw e Stuart Smith) são acusados na trama. A FRC abriu uma investigação em novembro de 2018 e sem entrar no mérito da falência da Carillion, a entidade informou que os auditores elaboraram documentos forjados e assinados como se tivessem sido criados antes da conclusão da auditoria. Isto incluiu planilhas e atas, documentos criados para indicar a existência de reuniões que não ocorreram.

O problema da KPMG não está restrito a Carillion. Acredita-se que haverá grandes punições para o trabalho da auditoria e isto pode ser anunciado até o final do mês. Além da Carillion, a KPMG também está sofrendo com seu trabalho na Regenersis, em 2014. De qualquer forma, um dos auditores citados anteriormente, Stuart Smith, já fez um acordo com a FRC e admitiu que agiu de maneira inadequada. Por este motivo, foi excluído do ICAEW – uma entidade de profissionais – por três anos e irá pagar 150 mil libras de multa. Não é um valor substancial para uma pessoa na posição de Smith, mas não deixa de ser uma punição.

Além da Regenersis e da Carillion, a FRC também está analisando o caso da Conviviality, no exercício de 2017. E já multou a KPMG (3 milhões de libras) e a partner (Nicola Quayle, 110 mil libras) por conta das falhas.

Um azar da FRC é que esta entidade foi duramente questionada nos últimos meses no Reino Unido, tendo sido ameaça de extinção. A KPMG falhou, mas o sistema de regulação também precisa de melhorias.

Organização Trump e avaliação de ativos


A procuradora de Nova Iorque, Letitia James, acusa a Organização Trump de fazer uma avaliação inadequada de seus ativos para fins de empréstimos, seguros e incentivos fiscais. É mais um capítulo da discussão sobre as finanças do ex-presidente de Donald Trump, que impediu a evidenciação do seu imposto de renda - uma tradição dos presidentes dos Estados Unidos. E certamente um capítulo de um livro longo, que ainda irá render novas emoções.

Trump nega a irregularidade e afirma que a investigação é política, já que James é democrata. James quer interrogar Trump. A novidade agora é que há detalhes da questão. A BBC detalhou algumas situações:

Por exemplo, sua grande propriedade no condado de Westchester, ao norte de Manhattan, foi avaliada pela Organização Trump em US $ 291 milhões em 2012 (189 milhões de libras na época), no entanto, uma avaliação em 2016 a avaliou muito mais baixo, com apenas US $ 56 milhões, segundo o processo judicial.

O procurador-geral também alega que a luxuosa cobertura de três andares de Trump na Trump Tower de Nova York foi avaliada com base em um tamanho de 2.800 pés quadrados (30.000 pés quadrados), mas na verdade é de 10.996 pés quadrados.

O processo judicial alega que pelo menos duas declarações falsas foram feitas ao Internal Revenue Service (IRS) - o principal órgão tributário dos EUA - que "substancialmente superestimaram" o valor de duas propriedades para obter uma redução de impostos.

Além de Donald Trump, o processo também atinge o filho mais velho, Trump Jr, a filha Ivanka e Eric Trump. No meio do ano passado, a Organização Trump e Allen Weisselberg, responsável pelas finanças, foram acusados de redução ilegal de impostos.

Links


Sachs, o economista, que recebe milhões para pesquisar felicidade - texto da intercept mostrando a relação de Sachs com regimes totalitários e sua resistência a danos à reputação. (Inclui uma crítica ao Butão e o índice de felicidade do país asiático)

A questão da expulsão de Djokovic da Austrália - uma investigação do Der Spiegel que lembra uma investigação de fraude



Saint-Gobain e a redução da pegada de carbono: o papel do Brasil - o texto não é crítico, mas não deixa de ser interessante como uma grande empresa pode tomar decisões usando a questão ambiental 

Rir é o melhor remédio

 

Novas idéias x projetos não finalizados. Fonte: aqui

20 janeiro 2022

Liberdade Econômica

 


Pesquisa na pós no Brasil

Uma pesquisa publicada na RBC (252) sobre a conversão de teses de doutorado em artigos:  

Esta pesquisa teve por objetivo analisar o nível de conversibilidade em publicações de artigos, das teses de doutorado em Ciências Contábeis defendidas no período de 2013 a 2017. Tal análise foi realizada, tendo em vista que os investimentos públicos com a pós-graduação no período estudado configuram uma curva ascendente, totalizando R$105.230,2 milhões e que a produção científica representa um dos indicadores importantes no processo de avaliação. Além disso, é por meio da publicação que o conhecimento produzido na academia é disseminado e pode contribuir com a ciência. Destarte, foi realizado um estudo acerca da produção científica e da publicação de artigos relacionados com as teses de doutorado em quatro programas de pós-graduação no período de 2013 a 2017. A coleta dos dados foi por meio da plataforma on-line Sucupira, onde se obteve a relação de teses defendidas no período. De posse da relação de teses com seus respectivos autores, fez-se consulta à Plataforma Lattes visando à análise do currículo de todos os titulados, extraindo os artigos que tinham relação com a tese de doutorado defendida. Quanto aos resultados, verificou-se que cerca de 50% das teses se converteram em publicações em periódicos, sendo que, em média, 42,55% dos artigos foram publicados em periódicos classificados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com conceito A2, e a instituição com o maior percentual de publicações foi a Universidade de Brasília (UnB). Os resultados também evidenciam redução, ao longo do período analisado, das publicações em periódicos mais bem avaliados pela Capes.

Eis uma tabela do artigo:

Onde tem "UNB (sic)" leia-se Programa Multi. (Dica de Sérgio Nazaré, grato). Sobre o mesmo tema, um artigo da Revista Catarinense de Ciência Contábil:

O objetivo da presente pesquisa foi analisar a divulgação do conhecimento científico gerado nas teses em Ciências Contábeis no Brasil defendidas nos programas de pós-graduação stricto sensu, entre 2009 e 2018. É um estudo com abordagem qualitativa de caráter descritivo, a partir de pesquisa bibliográfica e documental. Para a coleta de dados, utilizou-se dos repositórios de teses e dissertações e regimento dos programas de pós-graduação em contabilidade no Brasil, além do acervo disponível na plataforma lattes do CNPq. Foram analisados os dados registrados no currículo lattes dos doutores titulados em cada programa de pós-graduação. Os dados demonstram que as instituições de maior relevância em projetos de pesquisas, a FEA USP e FURB estão entre as que mais publicam. Constatou-se que as teses estudadas apresentam divulgação, em grande parte, por anais em congresso e eventos acadêmicos. Dentre os artigos publicados em periódicos científicos, 38,0% foram em revista de Qualis A2, B1 e B2, em que a FEA USP foi a universidade responsável pelo maior número de publicações. Verificou-se, ainda, que dos 302 artigos publicados com relação direta às teses dos doutorados, houve 2.382 citações em outras pesquisas científicas. Do total geral das teses defendidas e suas respectivas publicações em artigos periódicos, verifica-se que a região Sudeste foi a que obteve os maiores índices de publicações. Observou-se uma limitação em repassar esses dados da área contábil para a sociedade em geral, e uma das sugestões é modificar a forma de divulgação e da escrita, como por exemplo, em formato de palestras e workshops.

Religião, imóveis e mercado

A The Economist apresentou no artigo "Deus, cobiça e mercado imobiliário" (o termo cobiça não combina com o conteúdo) um bom panorama da atualidade das igrejas. Não somente a pandemia, mas também as mudanças de hábito nos últimos anos, fez com que reduzisse o número de pessoas que vão à uma igreja. Isto traz consequências para receita (arrecadação de dízimo menor) e despesa. O lado da despesa merece mais destaque pelas consequências. 

Sobre a pandemia:

Muitas instituições religiosas fecharam as portas da noite para o dia, transferindo seus serviços para o Zoom. Agora, à medida que suas instalações reabrem, elas não estão certas se os fiéis retornarão. Se menos congregados aparecerem, duas tendências poderão se intensificar. Muitas organizações religiosas se livrarão de imóveis mal aproveitados. E mais igrejas se fundirão.


Há números no texto sobre o fechamento dos templos. A questão é contábil e financeira: como qualquer instituição, os custos devem ser cobertos pelas receitas. Existindo limitação na arrecadação, o problema deve ser resolvido do lado das despesas:

Uma manobra essencial para qualquer igreja, esteja ela em dificuldades ou prosperando, é equilibrar suas contas, e isso significa lidar com seu portfólio de imóveis. A religião organizada está lutando contra os mesmos problemas que proprietários de lojas de shopping centers abandonados e de escritórios vazios, à medida que os negócios migram para o ambiente online. Eles devem ficar parados assistindo enquanto o público diminui? Se não, de que maneira deveriam repensar seus imóveis?

Por séculos, as religiões acumularam riquezas terrenas na forma de imóveis. O Vaticano possui milhares de edifícios, alguns nas mais requintadas regiões de Londres e Paris. A Igreja da Cientologia é dona de endereços em Hollywood que, estima-se, valem US$ 400 milhões, de um castelo na África do Sul e de uma mansão do século 18 em Sussex. O Wat Phra Dhammakaya, templo da seita budista mais abastada da Tailândia, ostenta centros de meditação em todo o mundo. O tamanho da fortuna da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como a igreja Mórmon, é um mistério; afirma-se que a instituição possui investimentos de US$ 100 bilhões, incluindo fazendas de gado, um parque temático no Havaí e um shopping center em Utah. Templos, sinagogas e mesquitas assistem atentamente os preços dos imóveis aumentar.

A internet permite que uma missa do Padre Marcelo seja assistida por milhares de pessoas. Mas retira pessoas dos templos e isto tem seu preço:

A internet tem sido tanto uma bênção quanto uma maldição. Um sermão virtual do arcebispo de Canterbury, em 2020, foi ouvido por 5 milhões de pessoas – mais de cinco vezes o número de fiéis que frequentavam a igreja semanalmente no Reino Unido antes da pandemia. Mas a participação online cobra um preço. Os fiéis param de frequentar os centros religiosos, e construções tornam-se obsoletas.

Por isso, grupos religiosos têm vendido imóveis mais rapidamente do que antes – ou estão explorando novos usos. Líderes em busca de um lugar no Céu estão aprendendo a vender ou alugar lugares na Terra. Testemunhas de Jeová, que têm 9 milhões de fiéis no mundo, venderam sua sede no Reino Unido. A Hillsong, uma gigantesca igreja australiana de 150 mil fiéis em 30 países, aluga teatros, cinemas e outros espaços para serviços dominicais.

Rir é o melhor remédio

 

Coisas que trazem dinheiro x coisas que sou bom em fazer x coisas que gosto de fazer. Fonte: aqui

19 janeiro 2022

Tributação na China


Las autoridades chinas están trabajando para implementar un nuevo sistema de supervisión fiscal que usará tecnologías de los servicios de la nube y macrodatos, informa este viernes South China Morning Post. Debido al esperado poder del sistema, algunos ya lo comparan con un masivo aparato de rayos X que permitirá fortalecer el control sobre el pago de impuestos, y que provoca preocupación en la sociedad.

El periódico señala que el sistema Golden Tax IV reunirá datos de empresas, reguladores de mercado y bancos. En ese contexto, citó declaraciones de Wang Jun, jefe de la Administración Tributaria Estatal, quien afirmó en diciembre que la modernización del sistema permitirá avanzar en el camino desde "gestionar impuestos a través de facturas" hasta "gestionar impuestos a través de macrodatos y la nube".

O texto não traz muitas pistas sobre como será a mudança no sistema de tributação da China. (Dica: prof. Alex Laquis, grato)

ArXiv: sucesso e os problemas da pré-impressão


O ArXiv (onde o “X” corresponde a letra grega “chi” e por isto o termo traz uma relação com “arquivo) é um deposito de pesquisas muito usado em áreas como física, matemática e computação. O ArXiv começou informalmente na década de 90 e hoje está hospedado na Universidade de Cornell. São mais de dois milhões de artigos, com volume crescendo, fundamental para algumas comunidades acadêmicas.

Quando um pesquisador desenvolve um artigo, o mesmo pode ser encaminhado para o ArXiv e rapidamente ser disponibilizado para outros pesquisadores. Há um número mínimo de rejeições (2% e 6% de retenção) e o processo deveria ser rápido.

Como a publicação em um periódico pode demorar mais de um ano, o depósito no ArXiv cumpre duas finalidades. A primeira é marcar uma descoberta científica para seu autor. Ao depositar o artigo no ArXiv fica registrado a data; em caso de discussão sobre a originalidade entre dois ou mais pesquisadores, a data do depósito no ArXiv pode valer com critério de comprovação para fins acadêmicos. A segunda finalidade é disponibilizar para os demais pesquisadores os avanços que já foram feitos pelos pares. Isto pode ser muito relevante em situações como passamos recentemente, onde as pesquisas sobre a pandemia precisavam de rápida divulgação, na tentativa de resolver as grandes questões oriundas da doença.

Há também uma grande vantagem do ArXiv: ao depositar uma pesquisa no repositório, a mesma não é contada, nos locais mais sérios, como “produção científica”. Somente a publicação em um periódico. Assim, não há concorrência entre ambos. O sistema possui problemas e um artigo de Daniel Garisto, para o Scientific American mostra alguns deles. 

Mas poderia ser muito útil na pesquisa contábil em pelo menos dois aspectos. O primeiro é permitir uma comunicação mais rápida entre pesquisadores que estão trabalhando no mesmo tema. O segundo é ensinar aos pesquisadores e aos editores de periódico (acreditem, existem periódicos nesta lista) que a divulgação prévia de uma pesquisa não significa que esta será copiada por alguém. Sobre este ponto, recentemente fui questionado por alunos de doutorado que estavam receosos de participar de um consórcio doutoral em razão de uma possível cópia da sua pesquisa e a perda do ineditismo. Esta visão é tão tacanha que não percebe que a participação é o oposto: você carimba sua pesquisa na data do consórcio. O ArXiv na nossa área poderia fazer isto de forma muito mais rápida.

Retorno das Commodities

 




Links: cinco gráficos do Statistica

A seguir cinco gráficos do site Statistica com dados curiosos. O primeiro, os países com maior poder militar, originário de um estudo mundial sobre o assunto. É curioso que não aparece a Coréia do Norte (30o. lugar), mas sim a do Sul. O Brasil está em décimo, atrás do Paquistão, com 0,1695

A seguir, os telefones que emitem mais radiação. Os dados originais, da Alemanha, podem ser acessados aqui. O padrão considerado como razoável é de 0,60 e os listados aqui apresentam mais do que o dobro. 


Confesso que não lembro quando a mídia social foi suspensa no Brasil, mas isto aparece no gráfico a seguir. O texto comenta que em 2015 o Whatup foi banido do Brasil. Procurando encontrei que o aplicativo foi banido por 13 horas por conta de uma decisão de uma juíza, que foi revogada a seguir. Faz sentido o gráfico? 
O número de apps com mais de 100 milhões de gastos mundiais. Cada vez maior este número. 

Finalmente, a listagem das melhores cidades para estudantes. 


Rir é o melhor remédio

 

Artigo da nature sobre a falta de acessibilidade da ciência. Irônico

18 janeiro 2022

Desempenho dos Ativos em 2021

 


Desastres naturais: redução nos últimos anos

Recentemente postamos que os custos dos desastres naturais atingiu valores elevados. E temos uma grande preocupação ambiental, o que incluiu a criação de uma entidade específica para emitir normas sobre o assunto. Agora uma grande surpresa: os dados temporais mostram que o número de desastres relacionados ao clima reduziu nos últimos vintes anos em 10% (divulgado por Shellenberger na Forbes). 

Os dados são do EM-DAT, coletados na Bélgica. Um ponto interessante é que o "conceito" de desastre, que envolve um dos seguintes critérios: 10 ou mais pessoas mortas, 100 ou mais pessoas afetadas, a declaração de estado de emergência e um pedido de assistência internacional. 

Os dados são mais confiáveis a partir de 2000, quando a coleta de dados melhorou. Mesmo assim, o número de pessoas mortas reduziu substancialmente. Durante a década de 1920 os desastres naturais provocaram 5,4 milhões de mortes. Nos anos de 2010 este número foi de 400 mil, mesmo com o aumento da população mundial, de 2 bilhões para 7 bilhões. 

Há algumas possíveis razões para explicar este declínio. Uma delas é a adoção de medidas simples, como sistemas de alertas contra ciclones e abrigos contra tempestades. Um exemplo citado pelo artigo foi o ciclone Ampham, na Índia e Bangladesh, que matou 120 pessoas; segundo o texto, há cinquenta anos teria matado milhares de pessoas. 

Baseado na minha experiência recente também colocaria o desenvolvimento do sistema de comunicação. Recentemente fiz uma viagem para minha cidade natal e o caminho que geralmente uso estava interrompido por conta das chuvas. Tomei um caminho alternativo, evitando o problema de barreira. Nos dias atuais, uma notícia de um desastre natural é rapidamente divulgada, permitindo que as pessoas ajustem suas decisões. 

Importância da China para o valor da Apple


Lendo sobre a relevância da China para a Apple em The China story behind Apple's 3 trillion valuation anotei alguns pontos interessantes, apesar da entrevista parecer um tanto quanto imparcial. Foi um podcast com Doug Guthrie, ex-funcionário da Apple University, que viveu e trabalhou na China. 

Um primeiro ponto é que a discussão destaca o papel da China no valor de 3 trilhões de dólares da empresa Apple. Duas informações relevantes: nos últimos cinco anos, 20% das vendas da empresa foram na China. Outro mais ainda: a Apple controla 35% do mercado de smarphones no mundo e 95% do lucro deste mercado. Segundo o texto, a explicação para isto é o fato da empresa conseguir "pressionar os fornecedores para fazer o que eles querem". 

Segundo e mais importante é a sintomia entre a Apple e o governo chinês. Isto está expresso no dispach labor system, um sistema de movimentação de empregados pelo país. Neste sistema, a população de trabalhadores é "flutuante" e seu número é de 350 milhões de pessoas. Ou seja, o governo muda estas pessoas conforme a necessidade de mão de obra. Veja um trecho:

That’s the dispatch labor system. The dispatch labor system moves people, and it moves people around the country, and it’s a very interesting system because it’s a state-run system. And so people are actually moved around the country and they are actually employed by the dispatch labor system.

Não é necessário dizer que os trabalhadores, neste sistema, recebem abaixo de um funcionário comum. 

Análise custo-benefício


Most cost-benefit analyses assume that the estimates of costs and benefits are more or less accurate and unbiased. But what if, in reality, estimates are highly inaccurate and biased? Then the assumption that cost-benefit analysis is a rational way to improve resource allocation would be a fallacy. Based on the largest dataset of its kind, we test the assumption that cost and benefit estimates of public investments are accurate and unbiased. We find this is not the case with overwhelming statistical significance. We document the extent of cost overruns, benefit shortfalls, and forecasting bias in public investments. We further assess whether such inaccuracies seriously distort effective resource allocation, which is found to be the case. We explain our findings in behavioral terms and explore their policy implications. Finally, we conclude that cost-benefit analysis of public investments stands in need of reform and we outline four steps to such reform.

The Cost-Benefit Fallacy: Why Cost-Benefit Analysis Is Broken and How to Fix It - Journal of Benefit-Cost Analysis, October, pp. 1-25, doi 10.1017/bca.2021.9. (via aqui)

Tim Harford faz uma análise sobre o artigo acima aqui. A análise custo-benefício seria, segundo Harford, a melhor técnica de decisão. A proposta dos autores é "consertar" a técnica, melhorando a estimativa de custo. 

Figura: aqui

Rir é o melhor remédio


Concorrência

Castigat ridendo mores (correção dos costumes pelo riso) (Jean de Santeuil)

Como explicar o sucesso estrondoso de uma sátira escrita há mais de meio século contra uma determinada pessoa pública que não se mantinha nos trilhos?

Um dos diversos teóricos do riso, Vladimir Propp afirma que a essência da sátira é a derrisão dos defeitos dos homens. Afirma também, em seu livro Comicidade e riso (1992), que é possível rir do ser humano em quase todas as suas manifestações, tanto na vida física quanto na vida moral e intelectual.

A sátira seria uma espécie de arma utilizada, às vezes, para coibir excessos e desvios sociais e/ou individuais. A crítica, seja irônica, sutil, ferina ou mordaz, provoca o riso de zombaria, que é um dos tipos de riso mais frequentes na sociedade. Baltazar Guimarães (1926), meu conterrâneo e parente (temos ascendentes comuns), residente em Patos de Minas (MG), fez uma espécie de cordel satírico, com 16 vesos (4 estrofes) em redondilha maior (heptassílabos), com rimas alternadas, tipo de verso muito apreciado na poesia popular.

Para melhor entendimento de sua sátira, é mister fazer uma prévia contextualização.

Em meados do século passado, em Patos de Minas, havia um prefeito que andava enamorado por uma bela cidadã. Como era casado, contratou-a como chefe de gabinete. Destarte estaria sempre a seu lado, sem levantar suspeitas. Acontece que sua preferida era casa e afeita à poligamia. Namorava também um serralheiro, que gostaria de tê-la por perto.

Certa feita, a prefeitura abriu concorrência pública para a construção de mata-burros nas estradas rurais, com aproveitamento de velhos trilhos de ferrovia. Como se tratava de um serviço próprio de serralheiro, o namorado número 2 vislumbrou a possibilidade de ganhar a concorrência para frequentar mais assiduamente o gabinete onde ela trabalhava. Com esse intuito, montou uma firma de engenharia, contratou engenheiro e fez uma proposta com custo bem abaixo do mercado, na certeza de ser contemplado. Ciente do estratagema de seu rival, o prefeito agiu nos mesmos moldes. Arranjou outra firma para cobrir a proposta em iguais condições e com os mesmos valores. Em caso de empate, cabia a ele decidir por uma das duas. Evidentemente, escolheu a que lhe convinha.

O serralheiro, despeitado pela proximidade cotidiana do rival com o objetivo de seus desejos e indignado com sua atitude desonesta, por ter violado a proposta e feito outra igual, começou a maldizê-lo em rodas de bar. Incomodado com essas maledicências, o prefeito resolveu partir para a agressão. Casualmente, entrou em uma lanchonete onde se encontrava seu desafeto. O malfadado encontro acabou em tapas, socos e safanões.

No dia seguinte, o carro do prefeito apareceu com marca de tiro em uma porta lateral. Seu rival foi acusado de tentativa de homicídio. No entanto, o exame de balística comprovou que a bala era proveniente da arma do próprio prefeito. Baltazar Guimaraes expôs a situação de maneira jocosa, com cadência cordelística:

CONCORRÊNCIA

Em questão de Concorrência

Cada um tem seu pensar

Perdeu a pública, paciência

Disputa a “particular”

Foi feita a licitação

pra se fazer mata-burros

Dai surgiu discussão

com xingos, tiros e murros

Comenta língua indiscreta

A causa real da luta

“foi concorrência secreta

por alguém que se dis...PUTA”

TAÍ. DÂO tiro na rua

Um crime quase PERFEITO

O homem já vai à lua

e Patos não toma jeito

Baltazar datilografou os versos em quatro vias, com papel carbono. Na época não existia fotocópia. Duas dessas cópias caíram no chão, durante um campeonato de futebol da UEP (União dos Estudantes Patenses). Quem as encontrou, possivelmente algum desafeto do prefeito, resolveu fazer a divulgação. Levou-as ao escritório de Valdemar Mendes. Durante uma semana, os versos foram datilografados centenas de vezes, de 4 em 4 vias, para atender à demanda, que se avolumava como bola de neve. Formava-se fila de espera de cópias, à porta do escritório.

Os versos anônimos acabaram caindo nas mãos da imprensa da capital, acrescidos de uma nota explicativa. Posteriormente foram publicados por uma jornal carioca. A rápida divulgação causou espanto ao autor, que fazia questão de se manter no anonimato, por temer represálias do alvo da sátira, pessoa nem sempre pacífica.

Na época, Patos de Minas ainda era uma pequena cidade, local propício para fofocas e maledicências. Alguém acabou dando com a língua nos dentes, e Baltazar viu-se perseguido pela administração pública. No entanto um providencial imprevisto o livrou do castigo: o capotamento de um carro da prefeitura, na estrada de Unaí, provocou a morte dos encarregados de castigá-lo pela indevida “molecagem”.

Quem foi castigado, de fato, foi o prefeito, que se viu à mercê da maledicência pública. Na época da colonização, Padre Antônio Vieira já dizia que Gregório de Matos, com seus epigramas maliciosos, corrigia e educava mais rapidamente a sociedade brasileira do que ele com seus sermões.

Nota:

Em recente bate-papo com o autor, ele frisou a ambiguidade do título (“Concorrência” pública e amorosa) e ressaltou alguns detalhes que não devem passar despercebidos:

TAI.DÃO tiro na rua: o responsável pelo tiro, chamado Ataídes, tinha a alcunha de TAIDÃO

por alguém de se dis...PUTA: do verbo disputar (a concorrência) e ao mesmo tempo menção à vida poligâmica do pivô do conflito.

Um crime quase PERFEITO: perfeito/prefeito “quase” porque o exame de balística pôs fim à farsa de tentativa de homícidio.

O homem já vai à lua: isso aconteceu na época da primeira viagem do homem à lua. (

Do livro O Diálogo das Formas, de Jô Drumond, p. 109 a 112.)

[A primeira vez que escutei esta história foi durante minha graduação na UnB, no apartamento do meu irmão, Caio, contada pelo meu pai, o Baltazar da crônica. Ouvi de uma pessoa presente, já falecida, que lembrava que chegou a ser perseguido, pois era "poeta". Aos 96 anos, meu pai ainda lembra dos detalhes da história, que Jô Drumond (foto) transformou em crônica no livro O Diálogo das Formas)