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30 agosto 2007

Petrobrás e PDVSA

Duas reportagens distintas mostram como estas duas empresas são diferentes. Na Gazeta Mercantil destaca-se o uso da empresa de petróleo da Venezuela para fins políticos. Basicamente a empresa está deixando de alocar recursos na área produtiva e destinando dinheiro para uma parte da população venezuelana (políticas sociais do governo Chavez) e de outros países.

Já o Wall Street Journal (Beyond 'Petrosaurus': How a Sleepy Oil Giant Became a World Player --- Petrobras Taps Well Of Brazilian Talent; Inspired by Tadpoles, de Matt Moffett, 30/08/2007), numa extensa reportagem, faz uma análise da Petrobrás, no passado conhecida como Petrosaurus. O texto não deixa de fazer comparações, inclusive com a PDVSA.

O artigo é bastante positivo para a empresa e encontra-se, em português, a seguir:


Petrobras passa de gigante adormecida a potência mundial
August 30, 2007 4:05 a.m.

Por Matt Moffett
The Wall Street Journal

Há dez anos, a Petrobras era tão lenta em comparação com as concorrentes que ganhou um apelido: Petrossauro.

Seus funcionários eram 25% menos produtivos que a média do setor, e o Brasil dependia de importações para quase metade do petróleo que consumia. O conselho de administração da Petrobras só tinha veteranos da própria empresa.

Atualmente, a Petróleo Brasileiro SA tem mais reservas do que a Chevron Corp., custos menores para encontrar petróleo que a Exxon Mobil Corp. e está listada na Bolsa de Nova York — com um valor de mercado de cerca de US$ 130 bilhões.

É uma história de sucesso rara entre as petrolíferas estatais, que cumprem um papel cada vez mais importante num mundo faminto por energia. Três quartos das reservas mundiais estão nas mãos de petrolíferas estatais, segundo a Agência Internacional de Energia. James Mulva, o presidente do conselho da americana ConocoPhillips, disse recentemente que as grandes multinacionais petrolíferas de capital aberto têm acesso direto a apenas 5% das reservas mundiais, com outros 30% teoricamente disponíveis através de joint ventures.

A maioria das petrolíferas estatais é muito menos eficiente no desenvolvimento de suas reservas do que a Petrobras. A produção da gigante Petróleos de Venezuela SA, a PDVSA, caiu um quarto desde que Hugo Chávez assumiu a presidência do país, em 1999, e começou a sugar os cofres da empresa para financiar programas sociais. A Indonésia, cuja petrolífera estatal tem um histórico de corrupção e clientelismo, recentemente passou de exportadora para importadora líquida de petróleo.

"Se pelo menos nossos amigos na Opep fossem mais como a Petrobras, estaríamos muito mais felizes, porque haveria muito mais petróleo", diz Leo Drollas, economista-chefe do Centro para Estudos Globais de Energia, de Londres.

Uma das chaves para o sucesso da Petrobras é a tecnologia. A mais de 100 km para dentro do Oceano Atlântico, uma plataforma flutuante do tamanho de um prédio de dez andares, a P-37, é uma amostra do avanço tecnológico da empresa em águas profundas. Cerca de um em cada três poços novos perfurados pela Petrobras nessa área, a Bacia de Campos, resultou em descobertas viáveis, uma porcentagem extraordinária para os padrões da indústria.

Desde a sua fundação, nos anos 50, a Petrobras tem atraído brasileiros talentosos, muitos motivados pelo patriotismo de trabalhar numa empresa que simboliza o nacionalismo brasileiro. O que mudou desde os anos 90 é a estrutura corporativa. Para incentivar a Petrobras a ser mais aberta e transparente, o governo formou um conselho independente e passou a negociar as ações da empresa em Nova York. Ele também aboliu o monopólio da Petrobras na perfuração de petróleo em território brasileiro.

A entrada de empresas estrangeiras aumentou as pressões por competitividade e ajudou a acelerar uma revolução de produtividade dentro da Petrobras. Nos últimos dez anos, a empresa dobrou a produção de petróleo, aumentou suas reservas em cerca de 50% e expandiu-se internacionalmente, da Argentina à Índia. Os sucessos da Petrobras, além do programa nacional de uso do álcool combustível, ajudaram o Brasil a se tornar auto-suficiente em petróleo.

A Petrobras "aprendeu nos últimos dez anos a pensar por si mesma como uma empresa internacional de petróleo, mas ainda reteve a força e as vantagens de uma empresa nacional", diz Richard D. Taylor, presidente das operações brasileiras da petrolífera britânica BP PLC.

Outros países produtores de petróleo estão prestando atenção. Delegações de vários países, como México, Nigéria e Peru, foram ao Rio de Janeiro para estudar o modelo do setor petrolífero brasileiro, diz Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

Algumas petrolíferas vêm buscando criar joint ventures com a Petrobras, atraídas pelo acesso às reservas brasileiras e pela tecnologia da Petrobras. Entre elas está a estatal norueguesa Statoil ASA, que também é conhecida por sua eficiência. A Statoil está estudando as técnicas da Petrobras para instalar cabeças de poço no fundo do mar, ao mesmo tempo em que fornece à Petrobras conhecimentos técnicos sobre a extensão da vida útil de campos já maduros. O rei Harald V da Noruega visitou o Rio em 2003 para formalizar um acordo com o Brasil.

Enquanto isso, a Petrobras se expandiu no exterior e hoje atua em 27 países, mais do que o dobro do número onde atuava dez anos atrás. Recentemente, ela se tornou a primeira petrolífera a obter aprovação das autoridades americanas para instalar uma plataforma flutuante no Golfo do México. Se um furacão surgir na área, os operários podem desconectar a plataforma do poço, permitindo que ela saia do caminho da tormenta.

Mesmo com todo o sucesso da empresa, alguns analistas brasileiros reclamam que os políticos estão interferindo na fórmula vitoriosa da Petrobras. Boa parte da base para a transformação da empresa foi estabelecida durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que deixou a presidência no início de 2003. Seu sucessor e rival de longa data, Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentou críticas por injetar um pouco de política na administração da empresa. Sob o comando de Lula, a Petrobras às vezes perdeu receita quando não repassou imediatamente aos consumidores finais os aumentos internacionais em produtos essenciais e politicamente sensíveis como gasolina, gás de cozinha e óleo diesel.

Mais controversa ainda é a medida tomada por Lula de fazer com que a Petrobras compre mais equipamentos fabricados no Brasil, que segundo ele estimulará a indústria nacional. Depois que algumas plataformas feitas no Brasil estouraram o orçamento, alguns analistas criticaram essa política.

José Sérgio Gabrielli, que é presidente da Petrobras desde julho de 2005, diz que as críticas não procedem. Ele diz que os custos extras das plataformas resultaram do aumento do preço do aço e da valorização do real em relação ao dólar. Em relação à política de preços, a Petrobras diz que está somente tentando suavizar flutuações dramáticas. Gabrielli diz que os críticos deviam se concentrar nos lucros recordes da empresa, no forte desempenho de sua ação, e no melhor histórico ambiental da empresa.

Funcionários da Petrobras argumentam que a dupla identidade da empresa — parte a personalização do nacionalismo brasileiro, parte uma empresa de crescimento aos olhos de Wall Street — é um patrimônio. "Nos vemos como tendo o melhor dos dois mundos", diz o diretor financeiro, Almir Guilherme Barbassa.

A empresa consegue atrair algumas das melhores cabeças do país, tanto em seus vastos laboratórios de pesquisa quanto em suas parcerias com universidades brasileiras.

Nos últimos anos, a Petrobras vem fechando parcerias com universidades num ritmo de uma por dia útil. Um projeto de parceria custeado pelos royalties da Petrobras é uma gigantesca caixa d'água na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A caixa, ligeiramente maior que um campo de tênis, e com profundidade de 15 metros, faz a simulação de ventos e ondas encontradas em mar aberto, e ajuda a projetar plataformas mais seguras.

Ney Robinson Salvi dos Reis, um engenheiro do laboratório da própria Petrobras, tem várias patentes de robótica creditadas a ele. Um robô cilíndrico que ele projetou limpa o lodo de oleodutos marítimos. Ele se inspirou para fazê-lo estudando o movimento do nado dos girinos.

A última invenção de Reis se parece com algo saído de "Guerra nas Estrelas": um cockpit de vidro montado num bugue com grandes rodas de fibra de vidro. Esse "robô ambiental", com uma câmara montada no cockpit, consegue rodar sobre a terra e flutuar nos rios para monitorar o impacto de um gasoduto da Petrobras na Amazônia.

Com mais de 80% do petróleo brasileiro em áreas marítimas, a Petrobras começou a adaptar plataformas terrestres para condições marítimas e a utilizar equipes de mergulhadores para fazer o perigoso trabalho de mantê-las. Quando atingiu profundidades abaixo dos 300 metros, a Petrobras construiu robôs para fazer a manutenção submarina.

A Petrobras foi criada em 1953 em meio à campanha nacionalista "O petróleo é nosso!", um slogan um tanto retórico, já que à época o Brasil produzia somente 2.700 barris por dia. Ao contrário de muitas estatais, que nasceram sem reservas ou as nacionalizaram, "nosso objetivo era descobrir reservas", diz Gabrielli.

Apesar da competência técnica da empresa, sua administração era provinciana e algumas vezes enfraquecida por indicações políticas. Seu conselho tinha executivos do alto escalão da Petrobras, e o monopólio da empresa em território brasileiro a liberava da necessidade da aumentar a eficiência. Sua divisão de trading internacional se ocupava com a venda de sapatos e lagostas.

Nos anos 80 e em parte dos 90, o governo artificialmente conteve os preços da gasolina e de outros produtos da Petrobras para tentar conter a inflação galopante que assolava o Brasil. A política acabou com o capital de investimentos da empresa. Enquanto outras petrolíferas enchiam os cofres durante a alta do petróleo em meio à Guerra do Golfo em 1991, a Petrobras entrou no vermelho porque vendia petróleo importado e caro abaixo do preço de custo.

Quando assumiu a presidência em 1995, Fernando Henrique diz que a Petrobras estava num estado de "confusão total". Sabendo que ele queria mudar completamente a empresa, o poderoso sindicato dos petroleiros o desafiou com uma greve nacional em 1995. Mas o tiro saiu pela culatra. Com a escassez de gás de cozinha e longas filas nos postos de gasolina, a opinião pública ficou contra a movimento.

Fernando Henrique chamou sua política para a Petrobras de "flexibilização". Ele não queria privatizá-la totalmente, mas usou a força do mercado, como a venda de mais ações ao público e a concorrência estrangeira, para fazer com que a Petrobras se comportasse mais como uma empresa privada.

Em 1999, o governo começou a permitir que petrolíferas estrangeiras competissem com a Petrobras nos leilões de blocos marítimos. Para preparar a empresa para a concorrência, Fernando Henrique indicou o banqueiro de investimentos Henri Philippe Reichstul para ocupar a sua presidência. Ele acabou com os acordos que favoreciam os fornecedores, iniciou um sistema de bônus por desempenho para os diretores e limpou a contabilidade ao reconhecer bilhões de dólares em gastos com aposentadoria e plano de saúde dos funcionários.

No ano seguinte, o governo vendeu 16% da Petrobras por US$ 4 bilhões na Bovespa e na Bolsa de Nova York. Embora as ações da Petrobras já fossem negociadas em nível local, a listagem em Nova York "teve um grande impacto na governança", diz Gabrielli. "Ela força a transparência. Ela força a divulgação de dados".

A Petrobras adotou padrões americanos de contabilidade e passou a viver sob a vigilância de 50 analistas de Wall Street que acompanham as ações da empresa, que estão entre as ADRs mais negociadas na Bolsa de Nova York. O governo federal mantém a maioria do capital votante, mas cerca de 60% das ações agora estão nas mãos de acionistas privados.

O governo FHC também criou o primeiro conselho de administração independente na história da empresa. Até mesmo os críticos de Lula o elogiam por incrementar o conselho da petrolífera com quatro executivos peso pesado do mundo empresarial brasileiro. Entre eles está Roger Agnelli, diretor-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, e Jorge Gerdau, que comanda o Grupo Gerdau SA.

A chegada da concorrência estrangeira teve um impacto psicológico enorme na Petrobras. Mas as petrolíferas internacionais encontraram grandes dificuldades para operar com as rígidas leis trabalhistas e ambientais brasileiras. Em vez de concorrer com a Petrobras em exploração e produção, muitas empresas internacionais, como a Royal Dutch Shell PLC e a Repsol YPF da Espanha, criaram joint ventures com ela. A americana Devon Energy tornou-se recentemente a primeira estrangeira a produzir petróleo no Brasil sem a ajuda da Petrobras.

O usuário está cada vez mais exigente

O usuário da informação contábil está cada vez mais exigente. Podemos observar isto pelo artigo a seguir. Ou seria o excesso de normas?

A sustentabilidade da natura
Gazeta Mercantil - 30/08/2007

Com práticas consistentes e ações estrategicamente planejadas de relacionamento, a empresa construiu uma imagem que a levou a ser percebida como a mais sustentável por diversos segmentos da sociedade. Isso fez com que a Natura se tornasse referência no assunto, tanto em gestão como em comunicação. Seu relatório anual é considerado modelo por vários agentes da sociedade, muito provavelmente por seguir as diretrizes da GRI (Global Reporting Initiative).

(...) Apesar de um grande número de companhias abertas publicar a DBSI (Demonstração do Balanço Social - Ibase), o que possibilita fazer uma análise vertical e horizontal dos dados ali relatados e desenvolver avaliações e diagnósticos em conjunto com outras demonstrações, a Natura não a publica. Quase todas as empresas que publicam a DBSI e também a auditam.

O CFC (Conselho Federal de Contabilidade) editou em 2004 uma norma que trata sobre a publicação das informações de natureza socioambiental, uma espécie de DBSI ampliada. (...) Mas a Natura também não publica os dados de acordo com essa norma.

(...) Nas notas explicativas, a empresa aborda sua gestão de risco no item "instrumentos financeiros", que trata da exposição cambial, taxa de juros e risco de credito. Mas não há nenhuma menção sobre riscos ambiental, trabalhista, comunitário, todos itens esperados nas notas explicativas de uma empresa modelo em sustentabilidade. (...) A meu ver, para a sustentabilidade estar 100% presente na Natura, faz-se necessários que suas demonstrações contábeis expressem isso.

Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4 - 30/08/2007 - Roberto Sousa Gonzalez

Seleção natural nas IPOS

A análise dos dados é simples, pois ignora os efeitos posteriores (de médio e longo prazo) das IPOs. Mas a questão se a crise imobiliária afeta ou não o mercado de novas ofertas de ações no Brasil já foi comentado anteriormente.

Seleção natural
Valor Econômico – 30/08/2007
A crise financeira internacional começou a corrigir alguns dos excessos de "exuberância" no mercado brasileiro. Segundo levantamento da consultoria Capital Partners, as empresas obtiveram em suas aberturas de capital um múltiplo médio - calculado a partir da relação preço/lucro líquido (P/L) - de 73,4 vezes, enquanto as grandes companhias do Ibovespa têm um índice médio de 14,7. A amostra tem 95 empresas que abriram o capital desde 2000. O P/L dá uma idéia de quantos anos o investidor levaria para obter o retorno do investimento e, quanto menor, mais barata está a ação. "Essas empresas terão que entregar aos investidores um crescimento extraordinário para fazer face a esses múltiplos, muitas vezes maiores que os de empresas de mercados maduros", afirma Paulo Esteves, sócio da Capital Partners. O ágio sobre o valor patrimonial obtido nas ofertas de ações no Brasil chegou a níveis altos até mesmo para o mercado japonês, onde as taxas de juros são negativas.

(...) Chama a atenção na amostra o grande número de companhias com prejuízo depois de abrir o capital. E o pior: em vários casos, foi justamente o custo do IPO - taxas aos bancos, advogados etc - que levou a companhia ao vermelho. Jorge Simino, diretor da Fundação Cesp, diz que registrar prejuízo porque pagou a abertura de capital não é normal. "É como dizer que estourou o orçamento do mês porque foi comer no McDonald's", afirma. "Isso indica que ou a empresa não tinha porte e retorno suficiente para ir à bolsa, ou que há algum problema de gestão."(...)

Quanto maior a participação de estrangeiros no IPO, mais prejudicadas foram suas ações durante a crise. Fundos hedge desesperados pela falta de liquidez no auge da crise saíram vendendo ativos em todo mundo, o que pode ter contribuído para quedas exageradas de alguns papéis, apesar de resultados e gestão positivos. Esse fator foi o principal a afetar as "blue chips" brasileiras.A valorização de algumas companhias mostra, entretanto, que a questão não é de aversão total a risco, mas de seletividade.


Mas a reportagem faz um alerta interessante para o custo de abrir o capital.

As empresas de auditoria voltam a fazer consultoria

O problema do conflito de interesses entre a auditoria e o braço de consultoria está de volta, conforme constata uma reportagem do Valor Econômico. Aliado a isto, temos a questão do oligopólio do mercado de auditoria, onde as grandes empresas contratam somente uma das quatro grandes empresas (Big Four):

Consultoria volta a mostrar suas garras
Valor Econômico – 30/08/2007

(...) Na Enron, a Arthur Andersen havia ganho US$ 25 milhões em honorários de auditoria e US$ 27 milhões por serviços de consultoria no ano anterior ao colapso espetacular da empresa. Isso aumentou as suspeitas de que os auditores estavam sendo tolerantes com os grandes clientes de consultoria. (...)
Os custos dos empréstimos dispararam na esteira do fechamento da Arthur Andersen, enquanto as receitas encolheram na medida em que clientes de auditoria cautelosos começaram a cancelar contratos que não envolviam auditoria. (...) A forte demanda por consultoria à adequação à lei Sarbanes-Oxley, risco, investigações forenses e terceirização vêm ajudando a alimentar a demanda. Assim como o boom das fusões e aquisições.Hoje, a consultoria é o segundo maior negócio da Deloitte nos EUA, um segmento de US$ 3 bilhões que respondeu por mais de um terço das receitas da companhia nos EUA em 2006, perdendo apenas para as auditorias. No mundo, a consultoria é um negócio ainda maior para a Deloitte, totalizando US$ 8,9 bilhões, ou 45% dos US$ 20 bilhões que ela consegue em receitas globais, segundo a Kennedy Information, de Peterborough, New Hampshire. (...) Não demorou muito para que outras firmas de auditoria fizessem as contas e decidissem que deveriam reconstruir rapidamente seus braços de consultoria. No ano passado a KPMG vendeu no mundo serviços de consultoria avaliados em US$ 5,3 bilhões, um aumento de 12% sobre o ano anterior. Na PricewaterhouseCoopers(PwC) esse número foi de US$ 3,7 bilhões, com crescimento de 20%, e na Ernst & Youngde US$ 2,4 bilhões, com aumento de 2%. "É uma indústria com um crescimento enorme e um negócio com grandes margens de lucro", afirma Clark R. Beecher, um consultor de busca de serviços executivos profissionais da Magellan International, de Houston. Beecher estima que a demanda por consultores que fazem os serviços nas quais as "Big Four" são especialistas é hoje 15 vezes maior que a oferta. "É a volta da velha mentalidade: vender tudo o que você conseguir".Mas é exatamente isso que criou problemas para as empresas da última vez, afirmam os críticos. Alguns temem que o ressurgimento da consultoria possa distrair as firmas de auditoria da atenção adequada a essa parte central de seus negócios. "O verdadeiro problema será: vocês aprenderam a lição, ou isso vai acabar mal outra vez?", diz Tom Rodenhauser, vice-presidente da divisão de consultoria da Kennedy Information.Certificar-se que os auditores não vão extrapolar as fronteiras permitidas é responsabilidade do comitê de auditoria de cada empresa. Mas Lynn E. Turner, ex-contador-chefe da SEC, diz que esses comitês nem sempre estão sintonizados com as questões de independência quanto deveriam. Ele cita exemplos recentes, que não são informações públicas, em que uma firma de auditoria de uma determinada companhia foi em parte paga por um trabalho que não era de auditoria com um honorário que dependia do grau de sucesso. Comissões desse tipo são inaceitáveis para as firmas de auditoria sob as regras americanas, mas os comitês de auditoria não perceberam.Em função do que aconteceu na Enron, WorldCom, Adelphia, Tyco e outras empresas, é uma ironia que os mesmos perigos destacados pelos colapsos dessas empresas estejam agora conduzindo grande parte da demanda pelos serviços não ligados a auditorias das Big Four. (...)

Novas regras para brinquedos e seu impacto

Controle mais rigoroso pode fazer subir preço de brinquedo no varejo
Valor Econômico - 30/08/2007

As novas regras do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) para aumentar a segurança dos brinquedos importados, divulgadas na segunda-feira, podem ter reflexos no preço final dos produtos e no prazo para chegada das mercadorias às lojas. Segundo as determinações do órgão, os brinquedos trazidos do exterior precisarão ser testados lote a lote. Por outro lado, a demanda por certificação irá aumentar, fazendo com que novos laboratórios passem a oferecer o serviço.Celso Pilnik, diretor da rede de varejo PBKIDS, calcula que o prazo para liberação dos lotes de importados pode dobrar para mais de 20 dias. Além disso, se diz preocupado com o impacto nos custos. "Estimamos que os produtos no ponto-de-venda possam ter um preço entre 1% a 2% maior", afirma.

(...) Alfredo Lobo, diretor de qualidade do Inmetro, é categórico quanto à necessidade das novas regras. Ele sabe, no entanto, que não há unanimidade no setor sobre a decisão do órgão. Mas não se preocupa. "A complexidade (do processo de importação), o tempo e o custo vão aumentar. Mas essas são variáveis que eu não posso considerar. Tenho que pensar na segurança. Cabe a eles (importadores) se programarem para minimizar esses efeitos", diz.Antes de ser determinada a certificação lote a lote, era possível enviar uma amostra do produto a um laboratório brasileiro ou do país de origem (que estivesse de acordo com regras internacionais) para obter o selo.


É óbvio que novas regras, mais rigorosas, para os brinquedos terão impacto sobre os custos e os preços. A questão é o mercado informal, que a reportagem não comenta, onde uma grande parcela dos produtos é importada sem passar pelos controles do Inmetro.

A questão da captação de recursos

A empresas brasileiras já estão sentido o efeito da crise do crédito. Algumas adiaram a captação (Usiminas, por exemplo), outras buscaram novas fontes (Gerdau). Isto terá impacto futuro nas despesas financeiras, na competitividade futura, na rentabilidade etc.

Empresas brasileiras de primeira linha já são hoje obrigadas a pagar quase 50% a mais em prêmios de risco pelo crédito externo, como parte do impacto do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Muitas companhias, como a Usiminas, adiam transações que seriam realizadas para investimentos. Outras empresas e fundos, como a Gerdau e o GP Investments, no entanto, foram pegos pela crise bem no meio de processos de aquisição e são forçados a aceitar condições menos favoráveis nos empréstimos, de US$ 4,2 bilhões e US$ 880 milhões, respectivamente.


Empréstimo externo mais caro - Valor Econômico - 30/08/2007

Fortuna de Slim e a ajuda do governo

Uma reportagem do NY Times, publicada no Estado, mostra uma visão da fortuna do bilionário mexicano Slim. Apesar de fazer uma comparação entre o valor de sua fortuna (que corresponderia, a grosso modo, ao ativo) com o PIB do México (que seria o equivalente a receita), uma comparação que os mais puristas não concordam, o texto é ilustrativo dos efeitos do oligopólio.

Fortuna de Slim cresce com ajuda do governo
Empresário ainda é dono de 90% da telefonia fixa no México
Eduardo Porter THE NEW YORK TIMES
O Estado de São Paulo - 29/08/2007

Mexicanos pagam acima da média pela telefonia e pelo acesso à internet

E no início deste mês a revista Fortune informou que Carlos Slim Helú, um mexicano, tinha ultrapassado Bill Gates, tornando-se o homem mais rico do mundo - corroborando uma informação que havia sido divulgada em julho pelo portal mexicano Sentido Común -, com uma fortuna avaliada em US$ 59 bilhões.

Para se ter uma perspectiva desse valor, o tesouro de Slim é equivalente a pouco menos de 7% da produção total de bens e serviços do México - US$ 1 para cada US$ 14 de bens produzidos por toda a população no país. (...)

Como um barão ladrão, um oligarca russo ou um executivo da Enron, Slim faz-nos lembrar as palavras de Honoré de Balzac: "Por trás de cada grande fortuna há um crime." O pecado de Slim, mesmo que tecnicamente ele não seja um criminoso, é como o de Rockefeller, o pecado do monopolista. Em 1990, o governo do presidente Carlos Salinas de Gortari vendeu ao amigo Slim a empresa telefônica estatal mexicana Telmex, tendo sido firmado um compromisso de que ele ficaria com o seu monopólio por anos. E depois concedeu à Telmex a única licença nacional para explorar a telefonia celular.

Quando os concorrentes conseguiram finalmente entrar no mercado, a Telmex os manteve à distância usando alguns subterfúgios bastante criativos, como conseguir que um juiz emitisse um mandado de prisão contra o principal advogado de uma das empresas concorrentes. Hoje, a Telmex ainda controla 90% dos serviços de telefonia por linha terrestre e quase três quartos do mercado de telefonia celular no México.

EXPANSÃO

Os monopólios tendem a gerar muito dinheiro. Slim, um investidor astuto, utilizou esse dinheiro muito bem, comprando centenas de empresas mexicanas e entrando nos mercados de telefonia sem fio em toda a América Latina. Difícil passar um dia sem que um mexicano lhe propicie algum dinheiro.

Mas o México tem pago por isso, e muito. Em 2005, existiam menos de 20 linhas de telefone fixo para cada 100 mexicanos e menos da metade possuía telefones celulares. Apenas 9% das casas tinham acesso à internet. Os mexicanos pagam muito acima da média por todos esses serviços.

29 agosto 2007

Conflito de interesses

Uma notícia interessante do Bluebus mostra a existência de um conflito de interesses entre jornalista da Globo e Bernandinho:

E a ONG de jornalista da Globo recebeu doaçoes da ONG de Bernardinho

Chefe de redaçao dos programas esportivos da Globo, Joao Pedro Paes Leme mantem projeto social que recebeu em 2005 e 2006 cerca de R$ 30 mil por ano da ONG Instituto Compartilhar, de Bernardinho. É o que diz hoje na Folha o colunista Daniel Castro, referindo a prestaçao de contas que o projeto do tecnico publica na internet. A coluna aponta conflito de interesses - "Bernardinho é seu objeto de trabalho", diz sobre Paes Leme. Segundo Daniel, o vinculo entre os projetos do jornalista e do tecnico chama atençao por conta de reportagem exibida no Globo Esporte no ultimo dia 15. Teria sido contraria ao jogador Ricardinho, cortado da seleçao por Bernardinho as vesperas do Pan, e positiva para o tecnico. A Globo declarou a coluna que Paes Leme tem a "confiança irrestrita" da emissora e que as ONGs envolvidas sao independentes. E segundo a TV, o jornalista nao se manifestaria antes da publicaçao da nota na Folha. 27/08 Blue Bus

O que faz um perfeito rebolado?

Depois de um link para um periódico de correlação espúria, nada melhor do que uma pesquisa "diferente":

Pesquisadores descobrem o que faz uma mulher caminhar de modo sexy

Pesquisadores na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, concluiram qual é a receita para um perfeito caminhar rebolando. Os matematicos chegaram a uma relaçao de 0.7 entre a cintura e os quadris - ou seja, a medida da cintura deve ser 70% da medida dos quadris. Quando mais perto disso, mais sexy é o modo de andar. As atrizes Jessica Alba (Quarteto Fantastico) e Sophia Loren, a modelo brasileira Alessandra Ambrosio e a Venus de Milo sao exemplos de medida 0.7. Marilyn Monroe chegava quase lá, 0.69. Dica do Gizmodo. 28/08 Blue Bus

E os contadores estão preocupados com a mensuração do ativo? Cambridge mostra que existem outras mensurações interessantes.

Links

1. Viés do Otimismo e Decisão de investimento

2. Otimismo e investimento

3. The Journal of Spurious Correlations

4. Ranking de Periódicos em Economia

5. Estudo diz: não faça muitas coisas ao mesmo tempo. Você não é um computador

Os endereços mais populares de Finanças

1 Forbes.com
2 CNN Money.com
3 Yahoo! Finance.com
4 MarketWatch.com
5 MSN Money
6 Business.com
7 Fool.com
8 BankRate.com
9 Wall Street Journal.com
10 TheStreet.com
11 BusinessWeek.com
12 BizJournals.com
13 Bloomberg.com
14 Hoovers.com
15 Entrepreneur.com
16 FT.com
17 BusinessWire.com
18 Google Finance.com
19 CNBC.com
20 FastCompany.com
21 Kiplinger.com
22 Investors.com
23 Economist.com
24 SeekingAlpha.com
25 Barrons.com

Consulto, regularmente, somente 4 destes endereços. Quem lê tanta notícia?

Fonte: Aqui

Regra básica da economia: incentivos e pessoas

Uma regra geral do comportamento econômico das pessoas: elas reagem aos incentivos.

Mankiw conta que uma universidade norte-americana tem todas as classes de introdução a economia, sem exceção, com 49 alunos. Qual a razão deste número? O ranking do US News penaliza universidades com turmas com 50 ou mais estudantes.