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30 agosto 2007

As empresas de auditoria voltam a fazer consultoria

O problema do conflito de interesses entre a auditoria e o braço de consultoria está de volta, conforme constata uma reportagem do Valor Econômico. Aliado a isto, temos a questão do oligopólio do mercado de auditoria, onde as grandes empresas contratam somente uma das quatro grandes empresas (Big Four):

Consultoria volta a mostrar suas garras
Valor Econômico – 30/08/2007

(...) Na Enron, a Arthur Andersen havia ganho US$ 25 milhões em honorários de auditoria e US$ 27 milhões por serviços de consultoria no ano anterior ao colapso espetacular da empresa. Isso aumentou as suspeitas de que os auditores estavam sendo tolerantes com os grandes clientes de consultoria. (...)
Os custos dos empréstimos dispararam na esteira do fechamento da Arthur Andersen, enquanto as receitas encolheram na medida em que clientes de auditoria cautelosos começaram a cancelar contratos que não envolviam auditoria. (...) A forte demanda por consultoria à adequação à lei Sarbanes-Oxley, risco, investigações forenses e terceirização vêm ajudando a alimentar a demanda. Assim como o boom das fusões e aquisições.Hoje, a consultoria é o segundo maior negócio da Deloitte nos EUA, um segmento de US$ 3 bilhões que respondeu por mais de um terço das receitas da companhia nos EUA em 2006, perdendo apenas para as auditorias. No mundo, a consultoria é um negócio ainda maior para a Deloitte, totalizando US$ 8,9 bilhões, ou 45% dos US$ 20 bilhões que ela consegue em receitas globais, segundo a Kennedy Information, de Peterborough, New Hampshire. (...) Não demorou muito para que outras firmas de auditoria fizessem as contas e decidissem que deveriam reconstruir rapidamente seus braços de consultoria. No ano passado a KPMG vendeu no mundo serviços de consultoria avaliados em US$ 5,3 bilhões, um aumento de 12% sobre o ano anterior. Na PricewaterhouseCoopers(PwC) esse número foi de US$ 3,7 bilhões, com crescimento de 20%, e na Ernst & Youngde US$ 2,4 bilhões, com aumento de 2%. "É uma indústria com um crescimento enorme e um negócio com grandes margens de lucro", afirma Clark R. Beecher, um consultor de busca de serviços executivos profissionais da Magellan International, de Houston. Beecher estima que a demanda por consultores que fazem os serviços nas quais as "Big Four" são especialistas é hoje 15 vezes maior que a oferta. "É a volta da velha mentalidade: vender tudo o que você conseguir".Mas é exatamente isso que criou problemas para as empresas da última vez, afirmam os críticos. Alguns temem que o ressurgimento da consultoria possa distrair as firmas de auditoria da atenção adequada a essa parte central de seus negócios. "O verdadeiro problema será: vocês aprenderam a lição, ou isso vai acabar mal outra vez?", diz Tom Rodenhauser, vice-presidente da divisão de consultoria da Kennedy Information.Certificar-se que os auditores não vão extrapolar as fronteiras permitidas é responsabilidade do comitê de auditoria de cada empresa. Mas Lynn E. Turner, ex-contador-chefe da SEC, diz que esses comitês nem sempre estão sintonizados com as questões de independência quanto deveriam. Ele cita exemplos recentes, que não são informações públicas, em que uma firma de auditoria de uma determinada companhia foi em parte paga por um trabalho que não era de auditoria com um honorário que dependia do grau de sucesso. Comissões desse tipo são inaceitáveis para as firmas de auditoria sob as regras americanas, mas os comitês de auditoria não perceberam.Em função do que aconteceu na Enron, WorldCom, Adelphia, Tyco e outras empresas, é uma ironia que os mesmos perigos destacados pelos colapsos dessas empresas estejam agora conduzindo grande parte da demanda pelos serviços não ligados a auditorias das Big Four. (...)

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