10 novembro 2013
Entrevista: Cláudio Moreira Santana - Trabalhos de Conclusão de Curso
Com base nessa experiência, entrevistamos, por e-mail, o professor Claudio para saber um pouco mais sobre o assunto.
Blog_CF: Quais são os erros mais comuns na monografia dos alunos de TCC?
1. Escolher o orientador e não o tema. É comum o aluno buscar o professor mais legal ou de maior simpatia, mas isso não é o que realmente leva a um bom trabalho. Acredito que o foco deve ser no tema e, a partir daí, buscar-se um bom orientador. E não o contrário.
2. Procrastinação. Como bons brasileiros (a maioria dos alunos) deixam tudo para a última hora e esperam pela prorrogação do prazo (que muitas vezes não vem). Com esse tipo de atitude os trabalhos saem com baixa qualidade quando poderiam ser bem melhores, bastando um pouco mais de organização e planejamento das atividades de pesquisa.
3. Ter vergonha de levar o trabalho para correção do professor. Já fiz isso, e já tive alunos que fizeram isso. Ser criticado é talvez uma das coisas mais difíceis na vida. Não conheço ninguém que goste de ser criticado - e para mim também não existe crítica construtiva e sim tom de crítica e estado de espírito, dependendo desses dois posso, ou não, aceitar a crítica. Reconheço, contudo, que é difícil fazer um grande esforço e o orientador dizer que o que foi escrito é uma grande bobagem, mas às vezes é exatamente isso o que acontece (fazemos grandes bobagens e outras vezes acertamos em cheio. A vida é assim...).
4. Achar que a tarefa é do professor e não dele. Nem é preciso comentar né?
5. Não se atentar para o fato de que é necessário que um trabalho seja:
a. Realizado com um tema de seu interesse e não do orientador - é necessário gostar do tema ou pelo menos não odiá-lo. O melhor é estar apaixonado por ele;
b. Importante tanto para o aluno quanto para as outras pessoas (não apenas para o orientador e avaliadores), efetivamente tentar contribuir para o conhecimento e não apenas fazer uma obrigação. Se o autor não está convencido que seu trabalho é importante, como vai convencer outras pessoas?;
c. Original. As formas de pensar e expressar são muito diversas, há uma fonte inesgotável de criatividade mundo afora e ser original é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque ninguém pensa exatamente da mesma forma que os outros e difícil porque os temas estão sendo pesquisados por muita gente, as ideias circulam e o que pensamos ser original às vezes já foi publicado. Por outro lado, é interessante ter novas formas de se fazer pesquisa, utilizar métodos e técnicas que ainda não foram utilizados no tema, buscar novos sujeitos para pesquisar (ou seja, fazer um recorte interessante na pesquisa). Tenho visto também que uma boa saída (mas não tão fácil) é buscar a interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar conceitos, modelos e teorias de uma área em outra;
d. Viável. Vejo muitas vezes o aluno chegar com uma ideia mirabolante, que vai resolver todos os problemas da humanidade ou que vai mudar o nome do Banco Central (essa ideia já me foi apresentada uma vez...). Bom, a questão é ter o pé no chão e observar a capacidade, tempo, recursos disponíveis e necessários para se fazer a pesquisa. Não adianta ter a melhor ideia do mundo se ela não for viável.
Sobre esses três últimos pontos recomendo uma leitura adicional do capítulo 3 do livro de Cláudio de Moura Castro. A prática da pesquisa. Editora Pearson.
Blog_CF: Existem muitos casos de compra de trabalho? E de plágio?
Sobre a quantidade eu realmente não sei responder, o que parece é que a detecção dessem casos tem sido mais frequente e há casos não só Brasil, mas também na Alemanha (quem diria...).
O plágio é mais fácil de ser observado: estilo de linguagem, formatação, diferenças entre discussão com o aluno e o que aparece escrito são indícios de que há problemas. Outro ponto é o plágio não intencional e nesse caso é importante a leitura atenta do trabalho pelo orientador e anotação das fontes que foram consultadas pelo aluno.
Compra de trabalhos já é outra história... já recebi algumas denúncias, mas não foi possível provar. Nesses casos o que recomendo é maior atenção da banca. O problema é que, geralmente, quem faz isso também estuda o tema com afinco para realizar a defesa. Dessa forma, como pegar?
Uma solução é ficar atento durante a orientação. Sei de um caso em que o aluno sempre ia com um “primo” para a orientação ou quando isso não acontecia pedia para gravar. Acontece que o tal “primo” era o ghost writer do trabalho. Mas também conheço um caso que o aluno foi denunciado e a banca constatou-se que o trabalho era tão ruim que o tal aluno poderia levar o caso ao PROCON para ter seu dinheiro de volta... Rs.
Blog_CF: Muitos alunos procuram você com um tema, mas sem orientador. Como saber o que fazer neste caso? O que ele deve fazer para escolher o orientador mais correto?
É uma situação mais comum do que se imagina. Na maioria das vezes o aluno que tem um tema não tem um orientador e o que tem o orientador não tem o tema. Os interesses de cada grupo são muito diferentes, seja por leitura ou por simplesmente pertencerem a gerações diferentes.
Sempre recomendo aos alunos observarem o Lattes dos professores da instituição e, a partir daí, ver o que melhor se encaixa na proposta que ele quer fazer, outra maneira é conversar com outros professores e com colegas para saber os projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos na instituição. O aluno também deve ficar atento para o fato de que o professor vai tentar transformar seu trabalho em algo mais palatável a ele, ou seja vai tentar alinhar o interesse do aluno ao seu interesse, vez que isto facilita o processo de pesquisa. Raramente vemos professores abraçarem “novas causas” temas novos ou fora do que conhecemos é sempre um risco que muitas vezes não queremos ou podemos correr.
O orientador para esses casos tem que ser o que melhor avalie a situação e o que realmente se dedique com o aluno na construção do trabalho, mostre caminhos possíveis e indique, por vezes, outros professores que podem tirar as dúvidas a respeito do tema.
Blog_CF: O que é mais comum: o aluno que quer um orientador que orienta ou um que deseja um orientador que não atrapalhe?
Depende do aluno na verdade. Para a maioria é, sem dúvida, recomendável alguém que o oriente. Nesse sentido vale mais o professor que seja franco e honesto em relação ao que lhe apresentado. Alguns alunos, entretanto, querem orientadores mais perto de si, aqueles que lhe perguntam da vida, conversam, são amigos e efetivamente demostram interesse em ajudar o aluno não apenas no processo da pesquisa mas na orientação do que fazer na vida (normalmente tratamos com jovens e que ainda não decidiram a carreira profissional e estão cheios de dúvidas no que vão fazer quando terminarem o curso). Outros querem um relacionamento estritamente profissional, objetividade nas discussões e pouco gasto e dispersão de tempo.
Para os alunos que já são mais autossuficientes e tem certa experiência (geralmente mais velhos e com outra formação ou experiência profissional), um orientador mais distante (que não atrapalha) pode ser melhor. Para esses casos vale lembrar que o aluno deve ter cuidado para não deixar o orientador na berlinda. É necessário ter o orientador como alguém que possa dar feedback sobre o que é feito e escrito.
Na prática, avaliar isso é muito difícil, e só a convivência vai mostrar como agir, - tanto para aluno quanto para professor. Mas vale lembrar que “muito ajuda quem não atrapalha” e que um orientador que orienta também é um que não atrapalha.
Blog_CF: Qual o orientador que apresenta maior taxa de sucesso: aquele que risca tudo ou aquele que não lê o trabalho do orientando?
Realmente não sei dizer. Geralmente eu risco tudo, não gosto de correr riscos e passar vergonha frente a meus outros colegas professores. Mas reconheço que é praticamente impossível pegar todos os erros ou ver todas as situações e deficiências de um trabalho. Mas já aconteceu de participar de bancas em que não tive tempo de ver o trabalho como um todo do meu orientando e só receber elogios e trabalhos que foram riscados e re-riscados exaustivamente serem duramente criticados. (avaliação tem sempre um caráter subjetivo, há bancas que gostam do tema e outras não).
No caso de não ler o trabalho acho que é muito risco para todas as partes, para o orientador (que passa vergonha e atestado de incompetência), para o avaliador (pode perder um amigo ou arrumar um inimigo) e principalmente para o aluno (que é a parte mais fraca no processo e, por estar sendo avaliado, tem os nervos à flor da pele)
Aqui acho que tem um pouco da ideia da “tese do coelho” (http://www.contabilidade-financeira.com/2010/04/rir-e-o-melhor-remedio_20.html). Orientadores que não leem o que seus alunos escrevem, podem passar vergonha em uma banca, mas normalmente também são os que batem na mesa e no peito e bancam o trabalho (argumento de autoridade). Os que leem os trabalhos passam mais segurança aos alunos e os próprios alunos entendem que devem buscar um trabalho que tenha méritos (autoridade de argumento).
Blog_CF: Em que momento é possível perceber quando um aluno irá fazer um trabalho ruim ou irá desistir do tema?
Geralmente em três situações:
1. Quando não compreendeu o problema de pesquisa. Se o aluno não sabe qual o problema de pesquisa vai ficar “patinando” e, se sair daí, não vai conseguir fazer o trabalho a tempo. A compreensão do problema de pesquisa (o que ele é e como se operacionaliza) é talvez a maior dificuldade que o aluno enfrenta, tanto no aspecto do “caso concreto” quanto no aspecto teórico.
2. Quando apresenta dificuldades cognitivas para entender os aspectos teóricos e metodológicos do trabalho. Nesses casos é necessário que o professor tenha tato para saber até onde pode cobrar do aluno. Há gênios e há aqueles com dificuldade. Devemos reconhecer que nem todos fazem parte do primeiro grupo.
3. Quando ele some. Desapareceu durante muito tempo (duas ou três semanas bastam), não importa o motivo, já comprometeu o andamento da pesquisa e os resultados provavelmente não serão bons.
Blog_CF: Em sua opinião, o TCC deveria ser obrigatório, mesmo para o aluno que não irá para área acadêmica? Não seria melhor ele fazer outra disciplina?
Acredito que deva ser obrigatório. Não é apenas a questão da pesquisa em si que importa no TCC, acho que pode despertar vocações para a pesquisa e para a academia, mas também há o desenvolvimento de competências que muitas vezes não foram sequer pensadas durante o curso. Durante os cursos de graduação, na maior parte das vezes os alunos não são instados a escrever, a praticar a leitura, a criticar, a compilar e analisar dados e tirar conclusões. Normalmente, não é solicitado que o aluno pense por si, mas que ele repita fórmulas prontas ditadas nas aulas, ou seja, a repetição do conteúdo e não a criação e reflexão do saber.
Diversas pesquisas sobre o ensino da área de contabilidade mostraram que ele é muito técnico. Pela minha vivência, são raros os professores que avaliam os alunos por outro tipo de instrumento que não seja apenas prova (e os alunos ainda pedem que seja com os mesmos exercícios do livro ou de uma lista...). Acredito que o TCC possa servir como uma forma de desenvolvimento de um aluno mais crítico, e não apenas um “fazedor de lançamentos”.
Na verdade, a ideia de se fazer pesquisa deveria estar presente durante todo o curso de graduação e não apenas no momento do TCC.
Mas vale lembrar que o TCC não precisa ser apenas no formato de pesquisa científica, a própria resolução das diretrizes curriculares permite que se tenham formas diferentes para o TCC. Poder-se-ia haver relatos de consultoria, diagnósticos empresariais, relatórios profissionais. Em suma, as universidades poderiam ser mais criativas, mas reconheço que a operacionalização dessas ideias podem ser difíceis de serem implementadas e que a compreensão dos demais professores sobre o assunto possa ser muito diferente.
Blog_CF: Para finalizar: artigo ou monografia? Qual o mais útil?
Na essência o que importa para um TCC é o desenvolvimento das competências do aluno e a sua aprendizagem em relação ao tema. Assim, tanto faz se o formato for monografia ou artigo.
Mas sou partidário do artigo, sem dúvida. Embora a monografia seja o formato mais utilizado nas Instituições de Ensino Superior no país, tendo em vista o disposto nas resoluções do MEC, o artigo é muito mais útil.
O ciclo de pesquisa envolve a ideia inicial, a confecção da pesquisa em si, a escrita, os ritos de passagem (orientações e defesa pública) e se concretiza com a divulgação.
Acontece que o formato monografia requer um retrabalho. Ou seja, é necessário fazer o corte das sobras de texto que não sejam essenciais ao entendimento do trabalho para que seja haja a tentativa de publicação. Em uma época em que somos cobrados por produto, é um desserviço termos que fazer uma tarefa duas vezes (além de sermos pagos pelo dinheiro do contribuinte...). Também há um aspecto prático: o aluno quer seguir a vida dele, começar a trabalhar, ganhar dinheiro e muitas vezes esquecer o TCC, na maioria das vezes, não vê utilidade na publicação, dessa maneira ele some e muitas vezes nunca mais o encontramos. Há também um aspecto ético: o trabalho é do aluno, que direito temos, enquanto professores, de mexer no que ele escreveu? Enviar para publicação?
Mas também sou contra fazer o TCC como artigo e já na a orientação objetivar a publicação. Em primeiro lugar deve vir a aprendizagem, a publicação deve ser consequência e se houver interesse do aluno. Em minha opinião professor não tem direito de forçar o aluno a publicar ou condicionar a orientação ao envio do trabalho para um evento ou periódico.
04 março 2011
Filho de Kadafi investigado por plágio
Fonte: O Globo
Diante de um escândalo envolvendo acusações de plágio na tese de doutorado defendida em 2007 pelo filho preferido do ditador Muamar Kadafi, a London School of Economics (LSE), prestigiosa instituição britânica, está empregando esforços para desvincular sua imagem do regime líbio.
Além de afirmar que está investigando acusações de que Saif al-Islam tenha copiado ou contratado um ghostwriter para escrever o trabalho de 429 páginas - que disserta principalmente sobre o direito de todos os indivíduos a participar do poder político - a LSE anunciou o corte de todos os laços financeiros com a família Kadafi.
A instituição havia aceitado - sob protestos de um único professor - uma doação de 1,5 milhão de libras (cerca de R$ 4 milhões) de uma organização comandada por al-Islam, mas a LSE afirma que, até hoje, recebeu apenas 300 mil libras do filho do ditador.
Essa soma será agora empregada num programa de bolsas de estudos destinadas a estudantes líbios, e a direção afirmou que não cobrará da Fundação Kadafi para o Desenvolvimento de Caridade Internacional o resto do valor prometido.
Na semana passada, estudantes da LSE haviam ocupado a sala dos professores e o escritório do diretor em protesto à associação da imagem da universidade ao regime de Trípoli.
- Os alunos estão dizendo: 'É dinheiro sujo, devolva' - afirmou Charlotte Gerada, presidente do grêmio estudantil. - A LSE tem orgulho de ser comprometida com a justiça social e os princípios democráticos, e nós deveríamos pensar com mais cuidado sobre a origem do dinheiro que aceitamos.
Para o diretor da instituição, Howard Davies, a doação foi um risco que se voltou contra eles.
- Não estou envergonhado pelo que fizemos com o dinheiro, mas está claro que ele vem de uma fonte com a qual não queríamos estar associados atualmente - explicou Davies.
Um dos mentores de al-Islam na escola, David Held lamentou o caminho escolhido pelo jovem, que é descrito pelo professor como "uma pessoa dividida entre a lealdade à família e o desejo de seu país".
- Os eventos recentes mostram que ele, tragicamente, mas fatalmente, fez as escolhas erradas - julgou Held.
Ironicamente ou não, o conteúdo de sua tese, "O Papel da Sociedade Civil na Democratização de Instituições Globais", contrasta profundamente com a mais recente imagem de al-Islam mostrada ao mundo.
Apesar de ter levado anos para construir uma reputação de reformista e aberto a mudanças políticas - o que lhe rendeu um bom trânsito com lideranças ocidentais - na hora do aperto, al-Islam foi à televisão alertar que "rios de sangue correriam" caso os rebeldes continuassem a tentar derrubar o governo. A mesma pessoa que, quatro anos antes, defendia em sua tese que "a liberdade é um direito inalienável dos indivíduos, e um governo justo deve protegê-la em sua Constituição e em suas leis".
O escândalo estourou quando um grupo de blogueiros afirmou ter encontrado 17 plágios na tese, que tem como base os autores John Rawls, David Hume e Ned McClennen.
Postado por Isabel Sales. Indicado por Glauber Barbosa, a quem agradeço.
(Leia mais aqui)
10 maio 2019
Plagiando você mesmo
Segundo Israel, em muitos casos as entidade que financiam a pesquisa em alguns países querem maximizar os resultados, apoiando a publicação na língua do país e em língua inglesa. Isto ocorre, por exemplo, na Noruega. Isto pode também incluir a possibilidade de um artigo também ser publicado como capítulo de um livro.
Israel apresenta o seguinte conselho: avalie se as razões do auto-plágio são eticamente defensáveis, busque o consentimento dos envolvidos na primeira publicação e na nova publicação (isto inclui o reconhecimento que o texto foi publicado anteriormente) e conste isto no currículo claramente.
22 março 2013
Os Setes Pecados dos Trabalhos de Graduação
1 – Plágio
Este é um problema sério. Em muitos casos os alunos pensam que o professor não irá ler o trabalho. Ou que ele não irá desconfiar que “tomou emprestado” um texto de outro autor e não citou a fonte. Como meu aluno é muito alertado sobre a gravidade do problema, é lamentável ter que descobrir a ingenuidade em achar que pode passar despercebido. Uma vez que tenho uma grande experiência na leitura de trabalhos, é muito fácil de pegar o aluno desonesto. Infelizmente eu tenho percebido que sou uma exceção. Em alguns locais, como no segundo grau, o plágio é até incentivado. Em outras situações, como meus colegas não fazem uma leitura atenta – ou não fazem uma leitura – o plagiador é premiado.
2 – Falta de Foco
Muitos trabalhos são amplos demais. Tentam abarcar um grande número de questões, sem tratar de maneira adequada de nenhuma delas. Um dos temas que trato na minha disciplina é sobre a história da contabilidade no Brasil. Com base neste tema, o aluno não delimita o assunto, tratando de um período específico, por exemplo. O resultado é desastroso.
3 – Juízo de Valor
Aqui o aluno confunde defender um argumento com tomar partido sobre um assunto. Um tema como “Contabilidade Fiscal” geralmente é acompanhado por uma crítica a estrutura tributária brasileira. E o texto passa a ser uma defesa da pobre empresa, que paga muito imposto, ou uma crítica do excesso de burocracia.
4 – Referencial
O acesso à internet possibilitou que os alunos tenham acesso a muitas informações. Mas isto não significa qualidade. Em lugar de escolher um bom artigo publicado num periódico científico, o aluno usa textos escritos em sítios jurídicos ou de administração. Nada contra, mas não são científicos. É bem verdade que um aluno de graduação possui pouco discernimento para separar o trigo do joio, mas eu tento comentar sobre o assunto em sala de aula. Parece que a atração por textos fáceis é maior que a linguagem excessivamente técnica de um artigo.
5 – Atração pela pesquisa bibliográfica
Trabalhos bibliográficos são extremamente difíceis de serem feitos. E a chance da qualidade não ser adequada é muito grande. Talvez em decorrência do tipo de trabalho que os alunos fizeram no ensino médio, a pesquisa bibliográfica acaba sendo um atrativo. Na quase totalidade são textos ruins.
6 – Estrutura ruim
A estrutura de um trabalho acadêmico geralmente é composta por uma introdução, uma revisão bibliográfica, o proceder metodológico, a análise e as conclusões. Simples assim. Mas dois fatos acontecem aqui: (1) esta estrutura não é muito adequada para certos tipos de trabalhos (pesquisa bibliográfica, por exemplo); e (2) muitas vezes o aluno anota a sequência errada e recebo trabalho onde a metodologia está no final ou algo do gênero.
7 – Forma
Apesar da “essência sob a forma”, qualquer professor sincero irá reconhecer que a forma também influencia na percepção da qualidade do trabalho. Isto inclui formatos das tabelas, gráficos legíveis, texto justificado à direita, letra que não seja “Arial”, formatação idêntica ao longo de todo o trabalho, entre outros aspectos.
Mas apesar dos problemas, muitas vezes encontro trabalhos excelentes. Alguns deles, eu compartilho as conclusões com os leitores do blog. Estas exceções induzem a solicitar, a cada semestre, um trabalho acadêmico para meus alunos.
22 agosto 2016
Plágio de Peña Nieto
O porta-voz da presidência diz que ocorreram “errores de estilo”.
No Brasil já tivemos uma ex-presidenta que colocou no currículo Lattes um título que não tinha obtido formalmente. Apresenta como “Cursou Mestrado e Doutorado pela Universidade de Campinas”, quando tinha feito “créditos”. Após a divulgação
06 julho 2011
Plágio
Agora o desenvolvedor do Rybka, o vencedor dos últimos quatro Campeonatos Mundiais de Xadrez Computer, foi acusado de plagiar o código para criar o programa.
Rybka tem sido despojado de seus títulos, e o desenvolvedor, Vasik Rajlich, foi impedido de entrar em programas de competições.
11 março 2013
Originalidade, plágio e criptomnésia
11 agosto 2014
Plágio
Agora uma grande surpresa: parte do relatório do Santander foi um plágio. O banco espanhol usou uma análise que tinha sido realizada pelo Banco Fator (Banco reproduz trechos de nota de corretora, O Estado de S PAulo, 9 de agosto de 2014, p. A7).
E agora? Será que o governo irá pressionar o Banco Fator para demitir seus analistas?
21 dezembro 2019
Plágio do ex-ministro da Justiça Coreano
De acordo com o representante Kwak Sang-do, do principal partido da oposição na Coréia do Sul, na quinta-feira, o comitê de integridade da pesquisa do SNU abriu uma investigação oficial sobre os três documentos de Cho na quarta-feira da semana passada, após uma investigação preliminar.
Durante uma sessão de auditoria parlamentar em agosto, Kwak afirmou que muitas sentenças na tese de doutorado do professor de direito da SNU foram retiradas diretamente de trabalhos publicados por professores das universidades de Oxford e Indiana.
Fonte: Aqui
A acusação contra ele não é de agora. Segundo a Wikipedia, em 2013 já tinha a denúncia que tinha plagiado várias teses. Em 2015, a Universidade Nacional de Seul afirmou ter encontrado problemas que não eram graves.
Aqui no Brasil recentemente tivemos o caso do ministro do STF, Alexandre Morais
29 novembro 2021
Pesquisa na internet: Google versus Yandex
Como dois sites de busca respondem a pesquisa sobre "Vacina Pfizer". O Google, que possui 94% do mercado nos EUA (e provavelmente algo próximo no Brasil) traz como sugestão os locais de vacinação ou outras informações. O Yandex, de procedência russa, tem como sugestão o tema "morte". Tanto o Google - que é dono da Blogger, onde hospedamos este blog - quanto o Yandex fazer uma "seleção" sobre o tema. Tenho usado do Duckduckgo, mas percebo que ele é ruim para apurar plágio, por exemplo, um uso que faço deste instrumento. Parece que o Duckduckgo está baseado no Bing e talvez por isto o Google ofereça melhores respostas, no caso do plágio
14 outubro 2021
Plágio na dança
Em 1909, um dançarino indiano chamado Mohammed Ismail tentou processar a dançarina branca Ruth St. Denis, alegando que ele era o criador de uma das danças "orientais" de Denis. Em 1926, a cantora de blues afro-americano Alberta Hunter alegou que ela possuía os direitos autorais da dança popular black bottom, uma dança social afro-americana.
Hunter executou o fundo preto diante de uma audiência branca em 1925. Um ano depois, a dança apareceu na revista de George White "Escândalos, ", que acendeu a mania de dança Black Bottom. (...)
Não foi até 1976 que a proteção de direitos autorais foi atualizado para incluir especificamente trabalhos coreográficos. (...)
Em 2011, De Keersmaeker alegou que Beyoncé, em seu videoclipe “Countdown", plagiou as danças de De Keersmaeker de duas obras diferentes -" Rosas danst Rosas "e" Achterland "- sem lhe dar crédito.
Ambos os artistas fizeram declarações públicas reconhecendo o que aconteceu. Parece que, embora uma quantidade substancial do movimento de De Keermaeker tenha sido transposta para "Countdown", ela também foi transformada - de um cenário de vanguarda de elite branca para um cenário de cultura pop negra. (...)
A proteção de direitos autorais foi criada principalmente para promover o progresso (1). O pensamento dizia que, se autores e artistas tivessem controle de seu trabalho, criariam um trabalho mais original, ganhariam a vida com ele e continuariam criando.
Mas o incentivo ao progresso também pode existir fora da proteção de direitos autorais. Foi isso que a dançarina que se tornou advogada Jessica Goudreault argumentou em um artigo de 2018 para a Cardozo Law Review.
Ela escreve que, para alguns estilos de dança, "o campo nunca pode evoluir sem a oportunidade de copiar", o que "sustenta e incentiva a inovação."
Eu argumentaria que isso se aplica às danças no TikTok. Sem a capacidade dos usuários de imitar livremente as danças, esses movimentos não se tornariam virais. Os criadores das danças não teriam seu momento ao sol - por mais breve que seja nas mídias sociais - e outros criadores poderiam ser menos inspirados a inovar se não tivessem os exemplos daqueles que vieram antes deles. (...)
O código aberto, um movimento social dos programadores de computador, é sustentado por critérios de licenciamento que garantem a integridade da autoria, entre outros princípios. O licenciamento de código aberto pode resolver o problema das pessoas corretas que recebem crédito por seus trabalhos.
Fonte: aqui . Foto: Andre Hunter
(1) isto é bem controverso. Há setores onde o plágio é amplamente aceito. Em outros, não. O setor de moda, por exemplo, é extremamente criativo e funciona sem o direito autoral. Pacioli copiou parte do trabalho de Fibonacci no livro Summa.
12 julho 2020
O caso do roubo de um periódico
(Confesso que já ouvi de um editor que pretendia "vender" seu periódico. O mesmo tinha Qualis e uma história. Mas roubo de periódico é inédito.)
Um discussão secundária do texto do Retraction Watch é sobre o plágio de outro idioma. Segundo um artigo citado este é um problema realmente grave. No passado analisei um artigo submetido para um periódico de boa reputação brasileiro. No final da avaliação, eu descobri que boa parte do texto era uma tradução; perdi meu tempo na análise e creio que o responsável pelo golpe não recebeu punição. Pelo menos o editor não deu um feedback neste sentido. Há duas semanas participei de uma apresentação de um detector de plágio; a grande preocupação de alguns era se o mesmo consegue detectar "traduções". A resposta é não.
23 fevereiro 2020
Quando o Poder quer o Acadêmico (por plágio)
Barão Karl-Theodor, Maria Nikolaus, Johann Jacob Philipp Franz, Joseph Sylvester Buhl-Freiherr von und zu Guttenberg (foto) - ex-ministro da defesa da Alemanha. Completou o doutorado em direito na Universidade Alemã de Beyrouth. Seria um provável sucessor de Angela Merkel, quando descobriram, em 2011, que Guttenberg era mais “Googleberg”, já que plagiou muitas seções do seu trabalho.
Victor Ponta - primeiro-ministro da Romênia, também acusado de plágio em 2012. Seu trabalho foi feito em 2004. Ele negou, dizendo que somente não colocou as referências. Deixou o cargo em 2015 por sonegação fiscal e outros problemas
Vladimir Putin - presidente russo, escreveu seu trabalho em 1997, com o título de "Recursos minerais e de matérias-primas e a estratégia de desenvolvimento para a economia russa". Das 200 páginas, 16 eram cópia. E existe uma acusação de que o trabalho foi escrito por Vladimir Litvinenko, orientador acadêmico de Putin e reitor da Universidade de Mineração de São Petersburgo.
Arseniy Yatsenyuk, presidente da Ucrânia, acusado de ter contratado alguém para escrever seu trabalho.
15 fevereiro 2016
Plágio na eleição no Peru
Tras las revelaciones de cuatro casos de plagio por parte del candidato presidencial y empresario César Acuña, el segundo lugar en la intención de voto para las elecciones generales de Perú, el 10 de abril, lo ocupa ahora el economista Julio Guzmán, de la organización política Todos por el Perú. En las dos encuestas más recientes, mantiene el primer lugar de preferencias Keiko Fujimori, hija de Alberto Fujimori, el exjefe de Estado peruano (1990-2000) que cumple una sentencia de 25 años de prisión por crímenes de lesa humanidad y corrupción.
17 abril 2018
Software de plágio é usado para verificar a inspiração de Shakeaspeare
"Isso mostra que ainda existem fontes manuscritas que não foram publicadas e que Shakespeare pode ter usado, e mostra que não sabemos tudo sobre as origens do cânone de Shakespeare", diz McCarthy, um estudioso independente que vem pesquisando a conexão com o Norte desde 2006. “Sabemos muito, mas não sabemos tudo. Ainda há algumas surpresas. ”
Isto não quer dizer que Shakespeare seja um plagiador, mas que usou fontes para inspirar suas criações.
22 agosto 2018
Plágio
Uma notícia parecida, no governo da República Checa:
Dois ministros do gabinete (...) deixaram seus postos por plagiar trabalhos acadêmicos nos tempos de universidade. Ministra da Justiça por poucas semanas, Tatana Mala, de 36 anos, pediu demissão no início de julho ante as evidências de que suas duas monografias de bacharelado – ela é graduada em direito e em engenharia agrícola – continham trechos copiados de outros trabalhos sem dar o crédito. Um software de detecção de plágio constatou que pelo menos 5% da monografia defendida por Mala em 2011 na Universidade Pan-europeia, em Bratislava, Eslováquia, fora reproduzido de um trabalho apresentado cinco anos antes na Universidade Masaryk, na cidade de Brno, na República Checa – o texto repetia até erros ortográficos do original. Trechos de um livro de referência em direito também foram plagiados. O mesmo problema foi observado na monografia que a ministra apresentou em 2005 na Universidade Mendell, em Brno, sobre influência de condições microclimáticas na reprodução de coelhos. Ela copiou pelo menos 11 páginas de um trabalho sobre o tema apresentado por outro estudante dois anos antes.
Em meados de julho, foi a vez de Petr Krcal, de 53 anos, titular da pasta do Trabalho e dos Assuntos Sociais. Ele renunciou logo quando se divulgou que três quartos de seu trabalho de conclusão de bacharelado em pedagogia social, defendido em 2007 na Universidade Tomas Bata, na cidade checa de Zlin, foram copiados de outros textos. Com formação secundária em eletrotécnica, Krcal resolveu fazer graduação aos 40 anos de idade, quando já tinha uma carreira política. “Trabalhei duro na minha monografia, mas admito que há irregularidades nela”, disse Krcal, ao anunciar sua demissão. (...)
Imagem, daqui
03 abril 2007
Plágio
Fonte: Arstechnica
16 agosto 2014
Teste da Semana
1 – Esta semana um dirigente do Iasb fez um comentário sobre a convergência. Este comentário aconteceu em que país?
África do Sul
Cingapura
Inglaterra
2 – O cargo ocupado pelo dirigente do Iasb
Curador
Presidente
Vice-presidente
3- A Medalha Fields foi dada pela primeira vez para uma mulher, Mirzakhani, pela primeira vez para um cientista que foi formado fora dos EUA e Europa, o brasileiro Ávila, e para Martin Hairer, da Universidade de Warwick. Qual destes ganhadores é filho de contador?
Ávila
Hairer
Mirzakhani
4 – O padrão de Instrumentos Financeiros do Iasb deverá entrar em vigor em
2016
2017
2018
5 – Nos últimos anos, as contas da União Européia não foram aprovadas por erros materiais. Há quantos anos isto ocorre?
15 anos
19 anos
9 anos
6 – Os problemas das contas da União Europeia é
Mais de 1 bilhão de euros e menos de 100 bilhões
Mais de 100 bilhões de euros
Menos de 1 bilhão de euros
7 – Este “cartola” fez um acordo com a justiça para pagar 100 milhões de dólares. Com isto, um processo de corrupção está encerrado.
Bernie Ecclestone
Joseph Blatt
Thomas Bach
8 – Esta semana o principal resultado divulgado foi o da
Banco do Brasil
Petrobras
Vale do Rio Doce
9 – O relatório que o Santander fez da economia ainda provoca polêmica. Agora pelo fato do texto
Ter erros de matemática básica
Ter plágio de outro artigo
Ter sido adotado pelo Banco Central
10 – Meire Poza, que fez denúncias publicadas na imprensa, é uma contadora com registro profissional em qual CRC?
De SP
Do Paraná
Ela não tem registro
Respostas: (1) África do Sul; (2) Vice-presidente; (3) Ávila; (4) 2018; (5) 19 anos; (6) Mais de 100 (7) Ecclestone; (8) Petrobras; (9) plágio (10) não tem registro
Se acertou 9 ou 10 = bom leitor e boa memória; 7 ou 8 = sem muita preocupação com o que acontece de importante no mundo contábil; 6 ou 5 = sorte ou azar?
01 dezembro 2013
Denunciantes científicos
Felizmente, nos últimos tempos, uma nova leva de “denunciantes científicos” está tentando manter os seus colegas honestos, tentando provar que seus dados foram falsificados.
Retrações de trabalhos científicos têm aumentado cerca de dez vezes na última década, geralmente por simples má conduta do pesquisador, que varia de plágio a manipulação de imagem para fabricação de dados.
Agora, no que parece ser uma tendência crescente, colegas e anônimos estão compartilhando mais e mais suas preocupações através de e-mail e fóruns públicos. A revista científica Nature, por exemplo, publicou recentemente três histórias marcadamente diferentes de indivíduos que agiram sobre suas suspeitas. Bem sucedidos ou não, cada caso oferece um grande debate para futuras denúncias.
O analítico
Uri Simonsohn vê a si mesmo como um cuidadoso analisador de dados mais do que como um delator. Seu trabalho como cientista social na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia (EUA), envolve vasculhar dados de arquivo – de preços de casas a leilão a registros de admissões da faculdade – como parte de sua pesquisa sobre julgamento e tomada de decisão.
Ele suspeita que este olhar o levou a estranhar padrões incomuns em outros resultados de pesquisas psicológicas, como a de Dirk Smeesters, da Universidade Erasmus em Rotterdam, na Holanda, e Lawrence Sanna, na Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), no verão de 2011.
Em ambos os casos, os dados pareciam bons demais para ser verdade, contendo um excesso de grandes efeitos e resultados estatisticamente significativos. Em um dos artigos de Sanna, Simonsohn notou que uma experiência – em que os voluntários foram supostamente divididos em diferentes grupos – produziu resultados com desvios estranhamente similares. Nos resultados de Smeesters, ele viu uma desconfiada baixa frequência de números redondos e uma semelhança incomum entre muitas das médias. “Se há muito pouco ruído, e os dados são muito confiáveis, podem não ser reais”, diz ele. “Dados reais devem ter erros”.
Simonsohn verificou suas suspeitas através da simulação de experimentos para mostrar o quão improvável os resultados relatados eram. Ele replicou suas análises em outros trabalhos dos mesmos autores e encontrou os mesmos padrões. Além disso, realizou controles, observando que não havia padrões suspeitos na obra de outros psicólogos que usaram os mesmos métodos.
Simonsohn contatou ambos os autores buscando sistematicamente explicações alternativas para as discrepâncias que encontrou. Eventualmente, só uma restou: a de que eles tinham manipulado os dados. Ele ainda se absteve de acusar alguém, pedindo aos pesquisadores dados brutos, delineando suas preocupações e perguntando se outras partes, como um estudante ou assistente de pesquisa, poderiam ter adulterado os dados.
No fim de 2011, Simonsohn soube que a Universidade de Erasmus tinha começado uma investigação. Ele também descobriu que, por causa dos seus inquéritos, a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, onde Sanna tinha realizado o seu trabalho, também tinha começado a investigá-la. No verão de 2012, tanto Smeesters quanto Sanna se demitiram de seus cargos, e vários de seus trabalhos foram retratados.
Quando perguntado sobre as duas carreiras que foram arruinadas por suas investigações, Simonsohn pausa. “Eu não me sinto mal com isso”, conclui. “Se estou indo para as mesmas conferências que estas pessoas e publicando nas mesmas revistas, eu não posso simplesmente olhar para o outro lado”.
Simonsohn espera que suas ações estimulem psicólogos a instigar reformas para conter fraudes – uma opção seria exigir que pesquisadores postassem dados brutos, tornando-os mais abertos a verificações por colegas. Ele também quer que os pesquisadores divulguem mais detalhes sobre o seu trabalho, como as variáveis ou tamanhos de amostra planejadas. Isso desestimularia formas mais sutis de adulteração de dados, como experiências contínuas até que os resultados encontrados sejam significativos – o que, em sua opinião, inundam a literatura psicológica com falsos positivos.
A quixotesca
Em 1999, perto de sua aposentadoria, Helene Hill decidiu dar uma olhada nas placas de cultura de um companheiro de laboratório. Bióloga de radiação na Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey, em Newark (EUA), Hill colaborava com um colega júnior em um projeto para estudar o ” efeito espectador”, um fenômeno pelo qual células expostas a um agente – neste caso, a radiação – influenciam o comportamento dos vizinhos não expostos.
Hill havia treinado o pós-doutorando, Anupam Bishayee, na técnica, e queria ver como ele se saía. As placas, segundo ela, estavam vazias, ainda que Bishayee tivesse relatado mais tarde contagem de células a partir delas.
Hill passou os próximos 14 anos tentando expor o que ela acredita ser um caso de má conduta científica. Painéis da Universidade, do Escritório de Integridade de Pesquisa dos EUA (ORI, na sigla em inglês) e dois tribunais de justiça têm avaliado e rejeitado suas preocupações. Sua convicção lhe custou milhares de dólares em taxas legais e incontáveis horas de leitura através de mais de 30.000 documentos. Também pode acabar lhe custando seu emprego. No entanto, Hill, agora com 84 anos, não tem intenção de recuar. “Uma pessoa tem a obrigação de fazer a coisa certa, se puder”, diz.
Após a primeira observação, Hill e outro pós-doutorando decidiram acompanhar secretamente os experimentos de Bishayee, tirando fotos de suas culturas na incubadora. Quando Bishayee relatou dados de um experimento que eles achavam que estava contaminado com mofo, Hill e seu colega o acusaram de fabricar os resultados, levando suas preocupações à comissão da universidade sobre integridade da pesquisa.
Sob interrogatório, seu colega reconheceu que havia mudado tubos de cultura de Bishayee antes de tirar fotos, o que a comissão viu como potencialmente adulteração de provas. E Hill explicou que tinha usado um microscópio com o qual ela não estava familiarizada ao verificar as culturas de Bishayee, de maneira que o comitê determinou que Hill não tinha evidências suficientes para provar o seu caso.
Hill não descansou. Bishayee havia publicado seus resultados em um artigo que a listava como coautora, e seu assessor, Roger Howell, havia usado os dados de Bishayee para apoiar um pedido de ajuda financeira junto aos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) em 1999. Hill levou o caso para os investigadores federais na ORI, que conduziram uma pequena análise estatística dos dados de Bishayee. ORI, apesar de achar que o caso tinha mérito, determinou que não havia provas suficientes para confirmar má conduta.
Hill chegou até a entrar com duas ações contra Bishayee. Além de ambas não terem sucesso, lhe deixaram US$ 200.000 (cerca de R$ 400 mil) mais pobre em taxas legais. O juiz Dennis Cavanaugh referiu-se a batalha de Hill como “uma missão de proporções quixotescas, que em última análise deveria ser colocada para descansar”. Hill perdeu seu apelo final em outubro de 2011. Ainda assim, ela diz que seu investimento valeu a pena: a fase de descoberta da ação permitiu-lhe acesso a dez anos de notas do laboratório de Howell.
Com esses dados em mãos, ela se juntou com o estatístico Joel Pitt da Universidade Georgian Court em Lakewood Township, Nova Jersey (EUA), e se debruçou sobre os dados que Bishayee tinha registrado à mão a partir de uma máquina que conta células. A dupla também reuniu conjuntos de dados de outras pessoas que usaram a mesma máquina. Pitt olhou para a frequência dos números que apareceram como o dígito menos significativo de cada contagem gravada. Estes deveriam ter uma distribuição aleatória, mas os dados de Bishayee pareciam favorecer determinados números. Pitt calculou as chances de essas frequências resultantes serem ao acaso: menos de 1 em 100 bilhões. Na visão de Hill, a implicação é clara: Bishayee manipulou os números.
Junto com Pitt, Hill tem tentado, até agora sem sucesso, publicar estas análises estatísticas e divulgar suas alegações, ações que Robert Johnson, o reitor de sua instituição – agora parte da Universidade de Rutgers (EUA) – advertiu que poderia lhe levar a “ação disciplinar adicional, até e incluindo rescisão”. Howell, em uma declaração à Nature, expressou frustração com o tempo que Hill gastou revisitando essa questão, apesar da não constatação de irregularidade.
Muitos cientistas admiram Hill pela coragem de suas convicções, mas também não consideram prudente que ela leve o caso adiante por tanto tempo e com tal despesa. Hill, por sua vez, permanece irredutível. “Eu quero ir até o fim”, diz ela. “Tornou-se quase uma obsessão”.
O anônimo
Dicas anônimas não são novidade. O pseudônimo “Clare Francis” que o diga. Ela ou ele (ou eles, muitos suspeitam que seja um grupo de pessoas) enviou centenas de e-mails a editores de revistas científicas sinalizando casos de suspeita de plágio ou manipulação de dados. Suas queixas concisas, às vezes enigmáticas, resultaram em um punhado de retrações e correções. Por outro lado, muitos dos seus avisos também não levaram a nada.
Francis estima que já enviou “cerca de 100″ e-mails para editores diferentes. Diane Sullenberger, editora-executiva da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, afirma que até 80% das denúncias que ela recebe vêm de Francis. E o editor científico Wiley diz que em 2011 o nome de Francis estava em mais da metade de seus pedidos de investigação.
No entanto, apesar de úteis, as dicas de Francis foram sendo cada vez menos usadas porque – independentemente de seu anonimato – muitas de suas reivindicações não podem ser conferidas. Diversas queixas de Francis são oblíquas e difícil de seguir. “É útil saber detalhes específicos sobre as preocupações do ponto de vista científico, não apenas ‘as bandas nos 10 e 60 minutos são geométricas e sobreponíveis’”, diz Sullenberger, referindo-se a alguns dos e-mails de Francis.
Alguns editores de revistas têm alertado Francis que são menos propensos a acompanhar seus pedidos do que outras queixas. Francis tornou esse fato público, o que provocou debate sobre como tais alegações anônimas devem ser tratadas. Por fim, o Comitê de Ética em Publicações americano emitiu suas diretrizes em relação ao caso, dizendo que não importa de onde vêm, “todas as alegações (…) que têm provas específicas e detalhadas para apoiá-las devem ser investigadas”.
Muitos editores não tem tanto um problema com a falta de identidade, mas sim com o suposto “tom” de Francis. Eles creem que, para compensar a inevitável perda de confiança que vem do anonimato, denúncias ganham credibilidade se forem precisas, detalhadas e educadas – o que não seria o perfil de Francis.
Uma coisa que tanto editores quanto Francis podem concordar é que a denúncia anônima deve aumentar nos próximos anos, dado o maior acesso a documentos científicos por pessoas de todo o mundo e a disponibilidade de ferramentas on-line para detectar plágio e manipulação de imagens. Um site, chamado PubPeer, já está se tornando um espaço para comentários anônimos – incluindo postagens em uma veia similar ao estilo de Francis.
Esse crescimento do anonimato é um sinal de que os denunciantes não se sentem protegidos o suficiente dentro do ambiente acadêmico. E, para o bem de toda a categoria, cientistas deveriam se sentir confortáveis em levantar questões sem temer represálias ou danos à sua própria carreira. O que você pensa sobre o assunto?
Fonte: texto e imagem
15 fevereiro 2022
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