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29 março 2025

Quando a cor importa


O Everton Football Club, tradicional rival do Liverpool na Inglaterra, adotou uma medida curiosa para evitar a cor vermelha associada ao seu adversário: o clube utiliza ketchup de cor azul em seu estádio. É mais um exemplo de como a paixão é importante no futebol, já que a medida mostra a rivalidade entre os dois times. O Everton deseja eliminar a presença da cor vermelha em suas instalações.

Isso me faz lembrar do Corinthians, que no seu balanço não usa a cor verde. Em um passado recente, o clube chegou a solicitar que seu gramado pudesse ter a cor preta e não a cor do rival. A Fifa decidiu que tudo tem um limite e não concordou.  

Foto aqui

Quando a métrica importa

Um artigo de Fernando Reinach para o Estado de S Paulo discute como reduzir o preconceito racial em avaliações de desempenho, destacando um estudo realizado por uma empresa de serviços domésticos nos EUA e Canadá. Inicialmente, a empresa utilizava um sistema de avaliação de cinco estrelas, no qual prestadores de serviço brancos frequentemente recebiam notas mais altas do que colegas de outras etnias, apesar de possuírem qualificações equivalentes. Para enfrentar essa disparidade, a empresa adotou um sistema binário de avaliação — "satisfeito" ou "insatisfeito" — resultando na eliminação das diferenças de avaliação entre os grupos raciais. A pesquisa sugere que sistemas de avaliação simplificados podem minimizar a influência de preconceitos inconscientes, promovendo maior equidade nas avaliações de desempenho.


Veja que isso é próximo ao que aconteceu com a Netflix, que eliminou o sistema de cinco estrelas e passou a adotar a avaliação binária. Mais recentemente, mudou para "não gostei", "gostei" e "gostei muito". 

 

28 março 2025

Chat e a Literatura acadêmica

Contexto 
Os chatbots de inteligência artificial (IA) são programas computacionais inovadores capazes de gerar textos ou conteúdos em linguagem natural. Os editores acadêmicos estão se adaptando ao papel transformador dos chatbots de IA na produção e facilitação da pesquisa científica. Este estudo teve como objetivo examinar as políticas estabelecidas por editores acadêmicos das áreas científica, técnica e médica para definir e regulamentar o uso responsável de chatbots de IA pelos autores.  


Métodos
Este estudo realizou uma auditoria transversal sobre as políticas publicamente disponíveis de 162 editores acadêmicos, indexados como membros da Associação Internacional de Editores Científicos, Técnicos e Médicos (STM). A extração de dados das políticas disponíveis nas páginas da web dos editores foi realizada de forma independente e em duplicata, com análise de conteúdo revisada por um terceiro colaborador (setembro de 2023 – dezembro de 2023). Os dados foram categorizados em elementos de política, como "revisão de texto" e "geração de imagens". Foram contabilizados e expressos em porcentagens os casos em que a política permitia o uso ("sim"), proibia ("não") ou não fornecia informações disponíveis ("NAI") para cada elemento.  

Resultados
Um total de 56 dos 162 editores acadêmicos da STM (34,6%) possuíam uma política publicamente disponível orientando o uso de chatbots de IA pelos autores. Nenhuma política permitia a atribuição de autoria a chatbots de IA (ou outras ferramentas de IA). A maioria (49/56 ou 87,5%) exigia a divulgação específica do uso de chatbots de IA. Quatro editores impuseram uma proibição completa ao uso de chatbots de IA pelos autores.  

Conclusões 
Apenas um terço dos editores acadêmicos da STM possuíam políticas publicamente disponíveis até dezembro de 2023. Uma nova análise de todos os membros da STM dentro de 12 a 18 meses pode revelar abordagens em evolução para o uso de chatbots de IA, com um número maior de editores adotando políticas específicas.
 

Fonte: Policies on artificial intelligence chatbots among academic publishers: a cross-sectional audit. Foto: aqui

SEC diz adeus as regras de divulgação relacionada ao clima

Durante o governo Biden, a entidade que regula o maior mercado de capitais do mundo, a SEC, colocou em discussão a questão da divulgação ligada ao clima. Uma enxurrada de comentários apareceu, com uma clara divisão entre os favoráveis e os desfavoráveis a obrigatoriedade de regras de evidenciação. 


Novo presidente e a SEC aprovou agora o recuo nas regras. Isso ocorreu também em razão da judicialização promovida por grupos econômicos e a acolhida da reclamação por parte dos tribunais. O atual presidente da SEC, Mark Uyeda, que tinha sido contrário a proposta, decidiu encerrar o assunto. Uyeda citou um memorando presidencial do governo Trump e indicou claramente que os órgãos reguladores não irão se envolver na questão da sustentabilidade. 

Eis o comunicado da SEC: 

A Comissão de Valores Mobiliários (SEC) votou hoje para encerrar sua defesa das regras que exigem a divulgação de riscos relacionados ao clima e emissões de gases de efeito estufa.  

O presidente interino da SEC, Mark T. Uyeda, declarou: “O objetivo da ação da Comissão hoje e da notificação ao tribunal é cessar o envolvimento da Comissão na defesa das regras de divulgação sobre mudanças climáticas, que são onerosas e desnecessariamente intrusivas.”  

As regras, adotadas pela Comissão em 6 de março de 2024, estabelecem um regime especial detalhado e extenso para a divulgação de riscos climáticos por empresas emissoras e de relatórios financeiros.  

Os estados e entidades privadas contestaram essas regras. O litígio foi consolidado na Oitava Vara de Apelação (*Iowa v. SEC, No. 24-1522 (8th Cir.)*), e a Comissão já havia suspendido a aplicação das regras até a conclusão desse processo. As argumentações foram apresentadas antes da mudança de governo.  

Após a votação de hoje, a equipe da SEC enviou uma carta ao tribunal informando que a Comissão está retirando sua defesa das regras e que seus advogados não estão mais autorizados a sustentar os argumentos anteriormente apresentados. A carta também declara que a Comissão renuncia ao tempo destinado a argumentos orais, devolvendo-o ao tribunal.

Vida longa ao Contabilidade Financeira

Ao ler um artigo do Napkin Math, refleti sobre o futuro da Contabilidade Financeira. Desde sua criação, o blog tem divulgado ideias e fatos sobre contabilidade e áreas afins. Em muitos casos, notícias de interesse da contabilidade, que não recebiam o devido reconhecimento na mídia tradicional, puderam ser divulgadas aqui. Nos últimos anos, no entanto, temos falhado em manter uma regularidade, talvez como reflexo do novo ambiente de produção, transmissão e acesso ao conteúdo.

A chegada da IA realmente transformou a forma como trabalhamos, e isso inclui a produção de conteúdo em um blog. Como destaca o Napkin Math, a IA reduziu significativamente o custo de produção de conteúdo. Uma postagem como esta, feita por um ser humano, demanda pelo menos uma hora de reflexão, redação e revisão. Já a IA gera um texto em questão de segundos — ainda que, muitas vezes, vazio de substância. Temos utilizado essa tecnologia para a tradução de textos, mas não para a produção do conteúdo original do blog. Apesar da IA, não estamos publicando um número maior de postagens. Já os publishers, sim, inundando o mercado com textos e mais textos, ajustados ao gosto do freguês: basta solicitar à IA que produza um texto emotivo, engraçado ou convincente.

Outro fenômeno já perceptível é que as pessoas estão recorrendo à IA para responder às suas dúvidas, em vez de lerem o texto original ou mesmo consumirem conteúdos sem uma demanda específica. Nas palavras do Napkin Math, a IA se tornou um "agregador de atenção". Recentemente, mostramos que muitas pessoas deixaram de consultar o Stack Exchange e passaram a recorrer diretamente ao GPT. No entanto, a fonte do GPT é o próprio Stack Exchange, e essa migração pode desestimular especialistas a participarem de comunidades colaborativas.

Confesso que não acompanho as estatísticas de tráfego do blog, mas é perceptível que perdemos espaço para o TikTok e o Instagram. E agora devemos estar perdendo espaço para o GPT. Também reconheço que um grande motivador — egoísta, é verdade — para continuar escrevendo no blog é o fato de que essa atividade me ajuda a redigir melhor, a estruturar melhor meus argumentos e me dá prazer ao saber que algo que publiquei foi lido e absorvido, ainda que por um único leitor. Gosto de imaginar que, talvez, uma resposta dada pelo GPT neste exato momento tenha se baseado em algo que escrevi aqui. Vida longa ao blog.


27 março 2025

Doutorado da UFG foi aprovado


A CAPES aprovou o curso de doutorado da UFG! Uma grande conquista para a universidade, que já tinha o mestrado e agora amplia as oportunidades para seus alunos.

Tenho uma ligação especial com esse programa: fui da primeira banca do mestrado e orientei diversos docentes da UFG. Nos últimos anos, muitos mestres formados lá ingressaram no doutorado da UnB, sempre com profissionalismo e excelência. Uma grande conquista, sem dúvida nenhuma.

Rir é o melhor remédio

Via aqui.