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30 outubro 2020

Separando os efeitos da pandemia nos resultados: caso do United

 


As demonstrações financeiras do Manchester United, time de futebol da Inglaterra, mostra o que devemos considerar e o que não devemos considerar ao analisar o efeito da Covid em uma empresa. É importante esclarecer que o United é um clube e, ao mesmo tempo, uma empresa. Assim, sua gestão é “profissional”, o que inclui demonstrações contábeis de melhor qualidade do que aquelas preparadas por um time de futebol tradicional. O exercício social do United, encerrado em 30 de junho, incluiu uma grande parte das atividades normais de um clube e um breve período onde os efeitos da pandemia. Uma reportagem da BBC traz alguns elementos interessantes, mas gostaria de destacar dois pontos. 

A primeira situação importante é a da receita. A receita do clube teve uma redução de 627 milhões de libras para 509 milhões e teve o efeito da pandemia. A redução de 118 milhões decorreu da sua não classificação para Liga dos Campeões também. Existia uma expectativa de receita de 580 milhões. 

Todas as áreas de receita da United foram afetadas, mas as receitas de transmissão foram especialmente afetadas, reduzindo 41,9% de £ 240,2 milhões para £ 141,2 milhões. Parte da redução da despesa ocorreu pela realização dos jogos com portões fechados, redução das vendas de camisas e produtos do clube e descontos concedidos para as emissoras. Estima-se que estes três itens corresponda a 40 milhões de libras. 

Mas algumas das receitas do clube, como aquelas decorrentes dos jogos, somente foram postergadas. Um jogo que seria transmitido no exercício ficou postergado para alguns meses depois. Mas os portões fechados representam realmente uma perda de receita que não será recuperada. A redução no fluxo de caixa originário dos patrocinadores, que também estão com dificuldade de caixa, poderá ocorrer em futuro próximo. Mas isto cria um descasamento entre caixa e competência. 

O segundo aspecto é a questão do endividamento. Sendo um clube-empresa, seus gestores optaram por trabalhar com um elevado endividamento. Um resultado desta opção é que a dívida líquida duplicou, para 474 milhões de libras. As despesas financeiras aumentaram para 26 milhões, com redução do caixa. Como dívida líquida corresponde a dívida bruta menos caixa, o que ocorreu no clube foi que a dívida bruta manteve constante. Veja que este fato decorre de uma decisão de financiamento, que ocorreu antes da pandemia. Assim, não se pode colocar este fato na conta da Covid. 

O caso do United mostra que é importante separar os efeitos da pandemia das outras decisões. Este clube de futebol teria resultados ruins, mesmo com a paralisação das atividades do futebol na Inglaterra. A pandemia somente agravou a situação. (Fonte da foto aqui)

09 outubro 2020

Rentabilidade dos bancos é reduzida

La rentabilidad en la banca ha sufrido no sólo por la sucesión de crisis económicas sino también por el reforzamiento de la regulación y supervisión (mayores requerimientos de capital y liquidez, stress tests, unión bancaria europea parcial, etc.). En países como el UK, la regulación se hizo más estricta por la exigencia de mayor responsabilidad de los banqueros en las pérdidas, y en USA por nuevas restricciones a inversiones “especulativas” de los bancos (la Volcker Rule en la ley Dodd-Frank). En un sistema más regulado y supervisado, el riesgo es menor y, por tanto, los beneficios esperados y realizados también son menores. 

(Fonte: aqui)

Será isto um prenúncio de uma nova crise bancária? O Covid trouxe uma crise econômica forte, que deve refletir nos bancos. Ao mesmo tempo, a digitalização, com BigTech e fintech, muda o mercado bancário. E as taxas de juros reduzidas fazem com que os ganhos com intermediação financeira sejam menores. Alguns bancos sobrevivem pelo fato de serem grandes ("to big to fail" ou TBTF), mas e os demais? Eis como o mercado faz uma distinção nas ações dos bancos e nas ações de outras empresas:



04 outubro 2020

Estatística e Trump com Covid


O fato de Trump estar com Covid pode trazer algumas especulações sobre a doença e a estatística, conforme destacado por Falk (via aqui): 

1. A mortalidade para alguém como o presidente dos Estados Unidos é de 6%. Assim, as chances de mortalidade são realmente reduzidas. Se Trump se recuperar, fatalmente surgirão pessoas dizendo que isto é mais uma prova que o Covid não é uma doença grave. Ou, como afirma Falk, surgirão pessoas "estatisticamente analfabeta em vários níveis". 

2. A taxa de 6% é para um paciente padrão. Isto implica que os riscos de Trump são menores, já que ele receberá um tratamento melhor que outras pessoas. (Exceto se Trump for um idiota que realmente acredita que um determinado tipo de remédio irá fazer bem para ele, mesmo contra as indicações dos médicos)

3. Não se sabe muito sobre o quadro de saúde do presidente, o que faz com que as inferências de riscos sejam pobres. Se por um lado Trump tem um índice de massa corporal elevado, seu colesterol é baixo (vide figura acima)

Contabilidade? - situações como esta são interessantes para aprendermos mais sobre probabilidade e sua aplicação. E isto é importante nas mensurações contábeis. 

26 setembro 2020

Guia para contabilidade em tempos do Covid


 Aqui um guia para fazer a contabilidade em tempos do Covid-19, produzido pelo CPA da Austrália em conjunto com o Chartered Accountants Australia and New Zeland e o AICD. Como dito no início do documento:

Este guia fornece um resumo das principais considerações ao avaliar a melhor forma de divulgar os efeitos da pandemia COVID-19 ao preparar relatórios anuais para a temporada de 30 de junho de 2020 e em períodos futuros impactados pelo COVID-19.

O guia possui 7 seções e cinco apêndices. A seção seis trata da preparação e comenta sobre continuidade, materialidade, estimativas, políticas contábeis e eventos subsequentes. Há aspectos específicos para o terceiro setor no apêndice A e estudos de casos.

Para aqueles que estão na linha de frente da contabilidade, vale a pena uma leitura. (Apesar de alguns aspectos serem específicos para a Austrália). 

08 setembro 2020

Guerra de espionagem no desenvolvimento da vacina e o elo fraco das universidades

 As universidades em todo o mundo estão no esforço do desenvolvimento de uma vacina para o Covid. A espionagem dos países sabe que a proteção dos dados nestes entidades não é tão forte assim. Diversos serviços de inteligência estão tentando descobrir o que cada país tem em termos do avanço para a descoberta da vacina. Eis um trecho de um reportagem do Estado de S Paulo (Corrida pela vacina contra o coronavírus cria duelo entre agências de espionagem - Julian E. Barnes e Michael Venutolo-Mantovani, The New York Times , O Estado de S.Paulo, 7 set 2020):

Oficiais de inteligência chineses estão focados nas universidades em parte porque consideram as proteções de dados dessas instituições menos robustas do que as das empresas farmacêuticas. Mas o trabalho de espionagem também está se intensificando à medida que os pesquisadores compartilham mais candidatos a vacinas e tratamentos antivirais no processo de revisão por pares, dando aos adversários uma chance melhor de obter acesso às formulações e estratégias de desenvolvimento de vacinas, disse um funcionário do governo americano informado sobre a inteligência.

Eis o infográfico do jornal:


Contabilidade? - parte da proteção dos dados passa pelo processo de governança corporativa e controles internos. A possibilidade dos dados das pesquisas serem roubados pode significa uma grande perda para as entidades que estão fazendo pesquisa. 

Economia na pandemia e o mercado acionário


Spence apresenta uma explicação sobre o descolamento entre o que está ocorrendo na economia (uma recessão brutal) e a euforia do mercado de capitais em diversos lugares do mundo:

Muitos concluíram que o mercado está desvinculado da realidade econômica. Mas, visto de outra forma, os mercados de ações de hoje podem estar parcialmente refletindo poderosas tendências subjacentes amplificadas pela "economia pandêmica". Os preços das ações e os índices de mercado são medidas de criação de valor para os proprietários de capital, o que não é a mesma coisa que criação de valor na economia em geral, onde trabalho e capital tangível e intangível desempenham um papel.

Além disso, os mercados refletem os retornos reais esperados do capital no futuro. Quando se trata de medir o valor presente da renda do trabalho, simplesmente não existe um índice prospectivo comparável. Em princípio, então, se houver uma recuperação econômica antecipada significativa, as perspectivas para a renda do capital e do trabalho poderiam ser semelhantes, mas apenas o futuro esperado do capital seria refletido no presente.

Mas há mais para a história. As avaliações de mercado são cada vez mais baseadas em ativos intangíveis, principalmente na propriedade e controle de dados, o que confere seus próprios meios de criação de valor e monetização. De acordo com um estudo recente do S&P 500, as ações de empresas com altos níveis de capital intangível por funcionário registraram os maiores ganhos neste ano, e quanto menos capital intangível por funcionário as empresas tiveram, pior foi o desempenho de suas ações.

Para o nobel de economia, esta é uma tendência que só fez acelerar com a pandemia:

Em outras palavras, a criação de valor incremental nos mercados e no emprego é divergente. E embora isso fosse verdade mesmo antes da pandemia, a tendência agora se acelerou. Existem pelo menos duas razões para isso. Um é a rápida adoção de tecnologias digitais como parte da resposta às medidas de bloqueio.

A segunda é que muitos setores intensivos em mão de obra (que normalmente agregam valor principalmente com mão de obra e capital tangível) foram parcial ou totalmente desligados como resultado de bloqueios, distanciamento social e aversão ao risco do consumidor.

No caso do Brasil, há um fator adicional: a baixa taxa Selic. Veja o trecho explicativo da Exame:

A diferença deste ciclo de IPOs e ofertas de ações em relação à euforia de 13 anos atrás é a taxa básica de juros — sempre ela. Em 2006, a Selic iniciou o ano estimada em mais de 17% ao ano e, após um ciclo de cortes, terminou 2007 pouco acima de 11%. Em termos conceituais, uma companhia precisava oferecer uma perspectiva de retorno acima de dois dígitos para competir com o investimento no chamado ativo livre de risco, os títulos públicos.

Agora, com a Selic a 2% ao ano, um ativo não precisa de tanto esforço para ser competitivo e mais interessante, o que abre espaço para um número cada vez maior de companhias. 

03 setembro 2020

A relação custo-benefício em tempos de covid


Uma questão bem interessante nos tempos de pandemia é qual razão de muitas sociedades tenham decidido fechar os negócios após uma análise do custo e benefício favorável no sentido contrário. Explicando melhor: alguns analistas mensuraram que os efeitos de um fechamento da economia seria pior do que  manter a economia funcionando. Mesmo assim, muitos países optaram pelo fechamento, mesmo após esta análise. Qual o sentido disto? Talvez um problema de mensuração destas pesquisas? 

O blog Stumbling and Mumbling apresenta uma reflexão sobre isto bem interessante. A análise citada anteriormente é chamada de princípio Kaldor-Hicks: uma mudança de política é uma melhoria se os beneficiários dela pudessem compensar os perdedores e mesmo assim ficar em condições melhores. Ou seja, a abertura da economia supera os custos. 

Para o blog, além da questão da mensuração, quando superestimamos os benefícios e subestimamos os custos - viés da confirmação em outras palavras, há uma questão filosófica. O problema de Kaldor -Hicks é que não leva em conta a distinção entre as pessoas.

Rir é o melhor remédio

 

Nunca imaginei que teria saudade - como professor - da cadeira com aquele monte de "lembranças" dos alunos. 

29 agosto 2020

Logo do Governo da Austrália lembra algo indesejável

 O governo da Austrália gastou 7,2 milhões de dólares para fazer um novo logo baseado na "Golden Wattle"  ou acácia


A árvore é nativa da Austrália e chega a mais de 8 metros de altura. A partir daí, o governo apresentou o seguinte logo:


Que corresponde a flor estilizada, com as letras "AU" de Austrália. O desenho foi apresentado em julho, mas já está sendo "esquecido". Razão? Lembra algo indesejável... (Via aqui)

Contabilidade? - governo gastando dinheiro público de maneira insensível existe em todo lugar do mundo. 

25 agosto 2020

Terceirização do trabalho

Tenho pensado bastante em “Bob”. Ele foi um desenvolvedor de softwares americano que trabalhava de casa para uma grande companhia. Em 2013, veio à tona que ele estava terceirizando o próprio trabalho para a China. Ele mandava uma boa parte do seu salário para uma consultoria chinesa, que fazia o seu trabalho para que ele pudesse surfar no Reddit, negociar no eBay, atualizar seu Facebook e assistir vídeos de gatos, segundo postagem de Andrew Valentine no blog da Verizon, que investigou o caso.

A solução esperta de Bob para o equilíbrio entre trabalho e vida particular está em minha mente por causa da sugestão perturbadora de que se você trabalha à distância, seu patrão eventualmente poderá perceber que você pode ser substituído por outra pessoa do outro lado do mundo que fará seu trabalho por um preço menor.

Se o seu trabalho é de qualquer lugar, qualquer um pode fazer? - Andrew Hill - Financial Times

Na minha experiência profissional já vi casos de terceirização de aula por parte de professor. Ou seja, um professor contratava um conhecido para ministrar aula no seu lugar. Nos tempos do Covid isto não ficaria mais comum? 

Agora imagine este problema para um auditor. Como terá certeza que a pessoa que está trabalhando na empresa é Bob ou um chinês? 

Imagem: aqui

24 agosto 2020

Momentos bons e momentos maus

 

A pandemia parecia que iria trazer resultados ruins para as empresas brasileiras. Mas um texto publicado hoje, no jornal Valor Econômico, mostra que o resultado foi melhor do que esperado (Exportações atenuam efeitos da pandemia no balanço trimestral, Valor, 24 de agosto de 2020, Raquel Brandão):

Levantamento feito pelo Valor Data com as demonstrações financeiras divulgadas por 231 companhias de capital aberto mostra que a receita líquida ficou praticamente estável, com recuo de apenas 1,8% ante o segundo trimestre de 2019. O lucro operacional da amostra cai 29%. Os dados não incluem empresas financeiras.

O texto deixa claro que o resultado foi influenciado pelas exportadoras, que tiveram aumento na receita em razão da taxa de câmbio e do mercado chinês. 

Mas nem todas as empresas tiveram este comportamento. Os dados do texto citado dizem respeito as grandes empresas brasileiras, que podem ter se beneficiado da crise. Isto obviamente é válido para parte das empresas. Veja que entre as empresas de energia elétrica o resultado não foi adequado. Em outro texto (Distribuidoras têm piora dos balanços, Valor, 24 de agosto de 2020, Letícia Fucuchima), este fato é demonstrado.  A causa são dois fatores:

De um lado, a redução da atividade econômica provocou queda da demanda de energia, o que prejudicou a receita. De outro, a inadimplência no pagamento da conta de luz aumentou, o que diminuiu a arrecadação.

E parece que o efeito não foi o mesmo no Brasil. Conforme citação do artigo:

Carolina Carneiro, analista do Credit Suisse, aponta que as empresas tiveram impactos distintos no Ebitda principalmente por causa das diferentes regiões em que atuam. “Olhando para o indicador de volume, vemos que as companhias com subsidiárias no Nordeste e Sudeste sofreram muito mais do que às que estão no Norte e Centro-Oeste”. Ela observa ainda que os impactos foram relativamente menores para as empresas “integradas”, que operam em outros segmentos e estão menos expostas em distribuição, em comparação com as distribuidoras “puras”.

Uma das marcas mais evidentes da pandemia nos balanços é a escalada das perdas esperadas de créditos de liquidação duvidosa (“PECLD”). De acordo com as empresas, a constituição dessas provisões se intensificou entre abril e junho já que uma das principais ferramentas de combate à inadimplência - o corte de fornecimento de energia - não era uma opção.