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03 setembro 2011

Imprensa estrangeira especula sobre ingerência no BC

A decisão do Banco Central do Brasil de reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros (Selic) – quando especialistas esperavam manutenção ou mesmo elevação – virou assunto em três das mais influentes publicações de economia do mundo, a saber, a revista britânica “The Economist”, o jornal também do Reino Unido “Financial Times” e o diário americano “The Wall Street Journal”. Uma coisa que os três textos apresentam em comum é a referência a uma suposta ingerência de outras áreas do governo.

A “Economist” desta semana publica uma análise segundo a qual a decisão do BC marca uma “mudança de direção” na política econômica do governo. Durante anos, o Brasil ficou com um pé no freio (juros altos definidos pelo BC) e outro no acelerador (gastos públicos em alta), segundo a revista, que toma essa opinião emprestada de um analista do BNP Paribas.

A atual decisão do BC, de baixar os juros logo depois de o governo definir um aperto da política fiscal, inverte essa ordem, na opinião da “Economist”. De uma situação de política fiscal frouxa e política monetária ortodoxa, o Brasil ensaia uma fase de aperto fiscal e relaxamento monetário.

Sobre a possibilidade de ter havido pressão para baixar a Selic, a “Economist” afirma: “Ainda que nos últimos anos o Banco Central tenha sido amplamente livre para definir as taxas de juros sem interferência do governo, ele não é formalmente independente. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, é mais próximo do ministro da Fazenda do que o seu antecessor, Henrique Meirelles.

Ainda no Reino Unido, o “Financial Times”, mesmo já tendo publicado um editorial sobre o Brasil ontem (quarta-feira, 1), colocou em seu site hoje [2/09] uma análise que deve ser publicada na coluna Lex da versão impressa amanhã [3/09]. O diário afirma que a decisão do BC brasileiro inspira “admiração , medo e ciúme”.

Admiração porque mostra a “coragem” do BC em “responder bravamente à súbita deterioração da economia global”. Mas há motivos para medo, na opinião do jornal. Primeiro, porque o corte nos juros pode ser decorrência de ingerência política no BC. Segundo, porque a redução da Selic pode ter ocorrido por “impotência” da autoridade monetária em ao mesmo tempo controlar a inflação e não acabar com o crescimento econômico.

Mesmo assim, a situação do Brasil ainda desperta inveja de outros bancos centrais, diz a revista, porque mostra que no País ainda há “espaço para manobra”, ou seja, os juros podem baixar mais se necessário – diferentemente das nações ricas, em que o juro básico está hoje zerado.

A reportagem do “Wall Street Journal” afirma que o corte de 0,5 ponto na Selic pode ser o início de uma “ampla campanha para conter os efeitos da crise internacional”.

Para o “Journal”, a decisão representa uma tentativa de uma ação coordenada entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda. O diário americano afirma que as negativas de que o governo teria feito pressão para o BC cortar juros “pode não ser suficientes para os investidores”, que buscarão respostas na ata da reunião de ontem, a ser divulgada no dia 8.


Fonte: Sílvio Guedes Crespo, aqui.

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