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25 março 2017

Rir é o melhor remédio

Quem nunca?


Normas Brasileiras de Contabilidade Pública

Fonte: Aqui
O Grupo Assessor de Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (GA NBCASP), do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), se reuniu nos dias 21 e 22 de março, para dar continuidade ao processo de convergência às normas internacionais voltadas ao setor, as Ipsas na sigla em inglês. [...] O grupo analisou e aprovou as minutas de normas que tratam de propriedades para investimentos, de patrimônio imobilizado, de patrimônio intangível, de redução ao valor recuperável de ativos geradores de caixa e de redução ao valor recuperável de ativos não geradores de caixa.

As minutas aprovadas correspondem à etapa que antecede a audiência pública. Nela o grupo colhe a opinião e o subsídio das partes interessadas no teor das normas, em especial dos entes da federação e demais órgãos públicos usuários desses normativos. [...]

Os textos aprovados pelo GA seguem para apreciação da Câmara Técnica e, caso aprovados, vão ao Plenário do CFC para inicio do prazo de consulta pública. [...]

Durante a reunião foram abordados temas debatidos na última reunião do Board da IFAC para o Setor Público (IPSASB), ocorrida em Toronto, Canadá, entre os dias 07 e 10 deste mês. O representante do Brasil no Colegiado e Coordenador de Normas Contábeis Aplicáveis à Federação da Secretaria do Tesouro Nacional, Leonardo do Nascimento, fez um breve relato dos temas que foram objeto da reunião. Ele informou que a entidade está preparando duas novas normas, uma sobre leasing outra sobre benefícios sociais, que devem entrar em audiência pública ainda este ano. “A participação nesse organismo internacional da profissão permite termos a possibilidade de opinar sobre as normas que estão sendo elaboradas ou revisadas pelo IPSASB, levando também contribuições em relação à realidade brasileira, destacou Leonardo.”

[...]

Fonte: Aqui

24 março 2017

Curso de Contabilidade Básica: Dívida Líquida

Em muitas demonstrações contábeis divulgadas pelas empresas surge o conceito de Dívida Líquida. No capítulo 4 do volume 2, do nosso livro Curso de Contabilidade Básica, abordamos as principais contas do passivo e apresentamos o cálculo desse e de alguns outros indicadores que o analisam. No final de 2014 já fizemos uma postagem sobre o assunto também (veja no link), mas é sempre bom voltar a esse tema.

Tradicionalmente consideramos o passivo como o valor das dívidas de uma empresa. Entretanto, algumas obrigações apresentam algum tipo de ônus, mas isto não ocorre com outros passivos. Um empréstimo gera pagamento de despesas financeiras; já numa obrigação com o fornecedor isto não ocorre. No primeiro caso, temos um passivo com ônus ou passivo oneroso; no segundo exemplo, é uma situação onde temos um passivo não oneroso.

A dívida bruta corresponde ao total dos passivos onerosos de uma empresa. É a soma dos empréstimos, financiamentos, debêntures e qualquer outro tipo de passivo que gera despesa financeira. Muitas empresas podem ter um determinado valor de dívida bruta, mas também podem ter recursos financeiros de elevada liquidez capazes de quitar esta dívida. Surge, então, o conceito de dívida líquida, que corresponde à dívida bruta menos caixa e equivalentes.

Pela sua natureza, a dívida líquida pode ser positiva ou negativa. Em algumas situações, pode ser uma informação valiosa sobre a empresa. Em outras, pode levar a enganos, já que induz ao pensamento de que a empresa usará todo o caixa e equivalentes para quitar estas obrigações. E, muitas vezes, o caixa e equivalentes já estão comprometidos, no planejamento financeiro da empresa, com algum tipo de desembolso futuro.

Veja a seguir algumas informações da Neoenergia, uma empresa do setor elétrico, retiradas do balanço do exercício findo em 31/12/2016:

O Ativo Total da empresa era de quase 28 bilhões, para o PL de 9,3 bilhões. Isto significa um passivo de R$18,7 bilhões. Mas como nem todo passivo é oneroso, a empresa apresentou um valor de dívida bruta de 11,347 bilhões.

Aqui uma ressalva importante: como não existe uma definição normativa para desse termo, cada empresa pode calcular o valor da dívida bruta que achar mais adequado. Se considerarmos no balanço patrimonial da empresa somente “empréstimos, financiamentos e encargos” e “debêntures”, tanto a curto quanto a longo prazo, o valor total seria um pouco maior, de 11,96 bilhões.

Como o valor de “caixa e equivalentes” foi de 1,383 bilhões, o valor da dívida líquida seria:

Dívida Líquida = 11,347 – 1,383 = 9,964 bilhões

Observe que o valor que calculamos aqui também é um pouco maior que aquele constante da figura. Novamente, a empresa pode realizar os cálculos da forma que achar mais conveniente. Se usarmos os valores do balanço somente, o valor da dívida líquida seria de 10,577 bilhões ou 693 milhões a mais.

Na figura, é possível observar que a empresa ainda usa tal conceito para calcular dois “indicadores financeiros da dívida”. A relação entre “dívida líquida/Ebitda” mostra que a empresa tem capacidade de quitar o passivo oneroso com o caixa gerado por suas atividades operacionais. Já o endividamento demonstra quanto do ativo está sendo financiado com capital de terceiros. Como o valor da dívida líquida calculado e apresentado na figura foi menor, isso gera uma situação mais favorável para a empresa.

Finalmente, este texto mostra que devemos olhar com cuidado as informações analíticas que a empresa fornece nos resultados. Nesse exemplo da Neoenergia, usar o valor fornecido pela empresa subestimaria a dívida da empresa.

Rir é o melhor remédio


23 março 2017

MF e PwC

No final de 2011 a empresa de investimento MF Global apresentava sérios problemas de liquidez. Os recursos novos de investidores eram usados para cobrir problemas que estavam ocorrendo em filiais em diversas partes do mundo. O presidente da empresa, um ex-senador chamado Corzine, tinha sido contratado meses antes.

O colapso da MF Global deu origem a uma batalha judicial. Aqueles que foram prejudicados e perderam dinheiro com a liquidação da empresa entraram com processo na justiça para tentar reduzir parte do prejuízo. Hoje foi anunciado um acordo com a PwC, a big four. Este acordo originou-se de um julgamento técnico iniciado no início do mês de março.

A acusação contra a PwC é que a MF Global construiu uma estrategia de investimento baseado nos conselhos errados da big four. A PwC comentou que o processo atingia a cifra de US$ 1 bilhão. Por duas vezes a empresa de auditoria tentou parar o processo, aparentemente demonstrando desespero. No depoimento de Corzine parecia claro que a MF Global não tinha controle de risco. Mais um ponto contrário a PwC.

Além disto, muitas operações da MF estavam fora de balanço, num procedimento que a acusação chamou de negligência profissional. PWC tentou culpar o executivo Corzine, mas este se defendeu dizendo que confiou na PwC por conta da sua reputação.

É interessante notar que o julgamento ocorreu logo após a confusão dos envelopes do Oscar. Num julgamento tão técnico, será que o juri foi influenciado por um erro prosaico?

Medo das auditorias

Recebi o seguinte e-mail de um colega:

As auditorias externas estão bem pressionadas e temerosas, vejam que parágrafo:

"Nossos objetivos são obter segurança razoável de que as demonstrações financeiras, tomadas em conjunto, estão livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro, e emitir relatório de auditoria contendo nossa opinião. Segurança razoável é um alto nível de segurança, mas não uma garantia de que a auditoria realizada de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria sempre detecta as eventuais distorções relevantes existentes. As distorções podem ser decorrentes de fraude ou erro e são consideradas relevantes quando, individualmente ou em conjunto, possam influenciar, dentro de uma perspectiva razoável, as decisões econômicas dos usuários tomadas com base nas referidas demonstrações financeiras."


Mansões em Big Little Lies

As casas das "mulheres ricas de Monterey" foram pensadas dentro do contexto socioeconômico da trama.



Big Little Lies estreou na HBO chamando a atenção do público por um fato: o elenco estelar que reuniu. A série é protagonizada por Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Alexander Skarsgard e Adam Scott; mas há ainda um oitavo elemento que não passa despercebido ao longo dos episódios: as belíssimas locações.

A revista People entrevistou o responsável pelos sets, Gregory Alpert, o gerente designado para encontrar e alugar as casas que serviriam de cenário para a temporada. Isso mesmo: todas aquelas mansões existem de verdade. Alpert explica que até mesmo a localização de cada uma delas tem um motivo específico dentro da trama, sobretudo as residências de Renata Klein (Dern), Celeste Wright (Kidman) e Madeline MacKenzie (Witherspoon). Todas elas se localizam de frente para o mar, mas é a altura que conta; a casa de Renata é localizada mais no alto, e a intenção é justamente sugerir que ela está olhando de cima para baixo para os seus vizinhos de Monterey, Califórnia. A mansão de Celeste é rodeada de árvores e fica literalmente em um penhasco. Já a de Madeline é a que fica no nível do mar. “[O diretor] Jean-Marc [Vallée] tinha uma ideia de como as casas iriam jogar baseadas no nível sócioeconômico dos personagens”, explicou.

A New York Magazine chegou até a apurar o valor real de cada uma das mansões. É interessante observar que apenas uma delas fica realmente em Monterey, e as outras ficam em Malibu. Quanto ao valor real, também não correspondem exatamente ao que representam na série. Veja abaixo.


Madeline e Ed Mackenzie
Localizada em: Malibu
Custa: US$ 14,8 milhões (R$ 46 milhões)







Celeste e Perry Wright
Localizada em: Península de Monterey
Custa: US$ 6 milhões (R$ 18 milhões)







Renata e Gordon Klein
Localizada em: Malibu
Custa: US$ 12,4 milhões (R$ 38,5 milhões)





Jane Chapman
Localizada em: Pasadena
Custa: US$ 520 mil (R$ 1,6 milhões)



Big Little Lies é produzida por Jean-Marc Vallée e David E. Kelley, com base no livro homônimo de Liane Moriarty (“Pequenas Grandes Mentiras”, em edição nacional). Os episódios inéditos vão ao ar na HBO, todos os domingos, às 23h. A temporada contará ao todo com oito episódios.

Fonte: Aqui

Curso de Contabilidade Básica: Estrutura de Custo e o Resultado de uma empresa

No capítulo 7 do volume 1 do nosso livro de Contabilidade Básica, deixamos de lado apenas a contabilidade financeira, que é voltada aos usuários externos, e mergulhamos um pouco na contabilidade gerencial, que busca gerar informações aos usuários internor. Lá, nós discutimos como a estrutura de custo é relevante para a análise de uma empresa. Mostramos que existem duas classificações de custos e despesas: o(a) fixo(a), que não muda conforme a atividade da empresa, e o(a) variável, que se altera se o nível de atividade for maior ou menor.

Para o usuário externo, a estrutura de custo de uma empresa é um mistério, já que ele não possui acesso a tais informações. Para o usuário interno, separar os custos nestes dois grupos pode ser muito complicado. Vamos mostrar hoje como fazer uma estimativa dos custos fixos e variáveis de uma empresa com as informações divulgadas para fins externos. Antes de prosseguir, é importante ressalvar que o método que vamos mostrar a seguir é uma supersimplificação e deve ser adotado com muita cautela. Mas na ausência de mais informações, pode ser uma possível saída para conhecermos a estrutura de custos da empresa. O aspecto mais relevante é que a forma de cálculo a seguir parte da suposição de que a estrutura não se altera com o tempo, o que nem sempre ocorre.

Feita essa ressalva, vamos ao trabalho. A seguir temos um extrato das demonstrações dos resultados da empresa Kepler Weber, publicado no dia 21 de março de 2017:

Nós iremos usar os dados do consolidado da empresa e o custo dos produtos vendidos e dos serviços prestados. O método a seguir também pode ser usado para as despesas e receitas operacionais.

Em primeiro lugar, é possível notar que a empresa teve um recuo na receita, de 706 milhões de reais para 475 milhões de reais. Possivelmente, a crise afetou fortemente os negócios da empresa, que consiste em montar silos de armazenagem de grãos.

Vamos imaginar inicialmente que todos os custos seriam fixos. Isto significa que, independente da quantidade de receita, a empresa teria o mesmo custo. Se fosse assim, a linha do custos deveria ter o mesmo valor; neste caso, o valor de 2016 seria 615 milhões e não 443 milhões como está demonstrado.

Se, por outro lado, todos os custos fossem variáveis, a relação entre os custos e as receitas deveria ter um percentual constante. Em 2015, a relação entre os custos e a receita foi de 87,11% ou 615/706. Em 2016, este percentual foi de 93,05% ou 443/475. Perceba que, embora esse percentual de 2016 seja superior ao de 2015, a empresa obteve uma margem bruta em 2015 quase o dobro da calculada em 2016. A dúvida que surge é: como isso pode ter ocorrido?

Voltando à análise, juntando os dois parágrafos, podemos concluir que os custos não são totalmente fixos nem totalmente variáveis. Esta é a situação mais comum, onde uma parte dos custos assume uma parcela variável e outra uma parcela fixa. Como resolver isto? O método a seguir é uma forma simplificada de ter um valor aproximado.

Em 2015, os custos de 615 tinha uma parcela variável, que representava um percentual da receita, e uma parcela fixa. Podemos representar isto da seguinte forma:

615 = % do Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 706 + Custo Fixo

Para 2016, os custos de 442 podem ser segregados da seguinte forma:

442 = % Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 475 + Custo Fixo

Temos duas expressões. Iremos assumir que a estrutura de custos não se alterou no tempo. Assim, a percentagem do custo variável na receita é idêntica em 2016 e 2015, assim como o valor do custo fixo não se alterou. Lembrando a matemática que aprendemos no ensino médio, temos duas equações e duas incógnitas. A resolução será a seguinte:

615 = % Custo Variável x 706 + Custo Fixo (1)
442 = % Custo Variável x 475 + Custo Fixo (2)

Trabalhando a segunda equação (podemos resolver isto usando a primeira equação também):

Custo Fixo = 442 – % Custo Variável x 475

Substituindo na primeira equação:

615 = % Custo Variável x 706 + 442 – % Custo Variável x 475
615 – 442 = % Custo Variável x 706 – % Custo Variável x 475
173 = % Custo Variável x 231
% Custo Variável = 173 / 231 = 0,75

Custo Fixo = 442 – 0,75 x 475 = 86

Assim, o custo fixo é de 86 milhões e o custo variável representa 75% da receita. Podemos conferir o resultado com os dados de 2015 e 2016:

615 = 0,75 x 706 + 86
442 = 0,75 x 475 + 86

Agora que sabemos o valor do custo fixo e do custo variável, como percentagem da receita, podemos calcular a receita mínima para que o lucro bruto seja zero. É o conceito de ponto de equilíbrio, que vimos também no nosso livro.

Receita = 0,75 x Receita + 86
0,25 x Receita = 86
Receita = 86 / 0,25 = 344 milhões

(Faça a prova para mostrar que com uma receita de 344 milhões e a estrutura de custos a empresa não terá lucro bruto).

O modelo apresentado têm dois problemas: (1) assume que a estrutura dos custos permaneceu constante nos dois exercícios, o que pode não ocorrer de fato na prática; e (2) a variação de preços ao longo do ano. Uma forma de melhorar a qualidade dos dados é corrigir os valores de 2015 para valores médios de 2016 usando um índice de preço. Isto poderia gerar dados mais consistentes.

Moda e Balanço


A página inicial das demonstrações contábeis merece destaque aqui no blog: "Para estar na moda tem que ter balanço". No meio de tanta falta de criatividade, a empresa realmente se destacou.

Aumenta a provisão dos grupos de ensino

A tabela é do texto "Com inadimplência, grupos de ensino aumentam provisões", de Beth Koike (Valor Econômico, 23 de março de 2017). O texto diz,

"As companhias de ensino superior Anima, Estácio, Kroton e Ser Educacional - que juntas têm 1,6 milhão de alunos e representam um quarto do setor - foram obrigadas a aumentar suas provisões em 2016 para cobrir a alta inadimplência dos alunos e a redução do programa de financiamento estudantil do governo, o Fies."

O ponto mais relevante não é destacar o aumento da provisão, já que estamos vivendo a maior recessão da história econômica brasileira e isto tem reflexo sobre os pagamentos e o ingresso de novos alunos. O que interessa são os números da Ser Educacional. Neste ponto o texto destaca que a empresa foi beneficiada pela entrada de recursos atrasados de Fies, que melhorou a receita financeira.

Tegma

Dois aspectos interessantes nas demonstrações contábeis da Tegma, empresa na área de logística:

a) na nota 9 a empresa informou o seguinte:


Provisão para passivo a descoberto - Em 31 de dezembro de 2016, a Controlada em Conjunto Tegma Venezuela apurou patrimônio líquido negativo no valor de R$784 [mil]. A companhia registrou a provisão a descoberto de R$196 [mil] na totalidade do patrimônio líquido negativo conforme a participação (25%). 

b) No testes de ágio para verificação de impairment, a empresa divulgou os parâmetros usados, que inclui PIB de 2,2%, inflação anual de 4,6%, crescimento em perpetuidade de 2,5% e taxa de desconto de 12,19% (faltou dizer se esta taxa é nominal ou real). Valores razoáveis, que dão credibilidade ao teste.

Rir é o melhor remédio


22 março 2017

O prefeito e o cidadão: quem devemos aplaudir?

Postagem escrita para o blog por Victor Godeiro, Mestre em Ciências Contábeis

Vamos imaginar duas situações distintas: (a) um cidadão doa R$ 216.000 durante o ano de 2017 para instituições de caridade; e (b) um prefeito consegue melhor aplicar 0,0005% da receita arrecadada em um ano com uma ação específica.

Ambos os casos são vivenciados simultaneamente pelo cidadão paulista. O prefeito recém-empossado do município mais rico do Brasil, João Doria Júnior (PSDB), prometeu doar o salário (R$ 18.000) para uma instituição de caridade por todo seu mandato. E a maioria dos cidadãos achou a atitude louvável.

Agora vamos detalhar as duas situações, separadamente, do ponto de vista de repercussão social.

O fato de qualquer cidadão doar qualquer quantia para uma instituição de caridade é um ato digno, ainda mais em se tratando de R$ 216.000/ano, um dinheiro que com certeza ajudará diversas pessoas necessitadas. Esse ato provavelmente receberá atenção e será divulgado e a sociedade o aplaudirá – e nada mais correto. Enfim, o que podemos argumentar? O dinheiro é dele.

Um gestor que aplica de forma mais eficiente 0,0005% da sua receita arrecadada – sim, São Paulo arrecadou em 2016 quase R$ 44 bilhões, e é isso que o salário anual do prefeito representa - será ovacionado ou receberá grande cobertura midiática? Com certeza não. Primeiro, a melhor aplicação de qualquer quantia na administração pública é obrigação do gestor, é primar pelos princípios constitucionais, inclusive. Segundo, uma quantia tão pequena não é relevante aos cofres públicos de São Paulo. Pois bem, essa é uma prática elogiável? Uma prática que mudará a cidade para melhor?

O Prefeito responsável pela 10ª cidade mais rica do mundo tem assuntos mais urgentes e relevantes para tratar e algo tão insignificante não deveria sequer ser noticiado, muito menos aplaudido como uma grande ação pelos paulistanos e brasileiros.

João Doria ainda deve provar seu valor como prefeito e tem muito tempo para o fazer, porém, esse ato não pesará na balança que mede sua boa ou má gestão dos recursos públicos e, lembrem-se, “a caridade deve ser anônima, do contrário é vaidade”.

Resenha: Big Little Lies

Em 2014, eu comentei que li Big Little Lies. Nele a personagem Jane é uma contadora. Esse foi o primeiro livro da Liane Moriarty que li e a achei uma ótima autora. E com um sobrenome muito legal heim *.* #SherlockHolmes

O livro agora está sendo apresentado em forma de minissérie pela HBO e, milagre, a protagonista ainda é apresentada como uma contadora e não seguiu a linha tradicional de Hollywood que substitui contadores por advogados ou atuários. (Confesso que esse foi o principal motivo para eu correr para assistir a série.)

Na verdade eu tenho um emprego de meio período

O que você faz?

A melhor profissão de todas... Sou uma super-heroína e cuido sozinha do meu filho, além de ser contadora...
A história tem uma visão ampla de diversos personagens, mas fixa basicamente três mulheres. As três têm filhos iniciando a primeira série naquele ano e uma delas acabou de chegar na cidade. E há um assassinato. Alguém morre na noite de jogos realizada pela escola. Você não sabe quem morre. Você não sabe quem é o assassino.

A narração se inicia mais ou menos duas semanas antes do crime e apresenta alguns trechos de depoimentos feitos após aquela noite. Há intercalação entre o passado, desde quando Jane chegou à cidade, e o presente, quando a polícia está apurando os fatos.

Quando li o livro fiquei mais voltada para o mistério que ocorre na história: alguém morreu. Mas como? Quem? Foi a Jane que ocultava o seu passado e acreditava que bullying no parquinho não se tratava apenas das crianças? Foi a Madeline, que se esforçava tanto para se conectar à sua filha do primeiro casamento? Foi a bela Celeste, cuja vida perfeita esconde um segredo horrível?

Na série percebi melhor a parte sobre o relacionamento entre mulheres, entre casais, entre pais e filhos. Trata também da inocência, ou não, de lindas e abastadas criancinhas e de escândalos domésticos de uma forma curiosa, que não segue os clichês habituais.

De forma geral, e acho que era de se esperar, a série é um pouco devagar. Frequentemente eu me pegava fazendo alguma outra coisa enquanto a assistia, por ficar um pouco entediada. Acho que a Reese Whiterspoon, uma atriz eu adoro, me ajudou a continuar assistindo aos episódios. A série não é fantástica, mas não é ruim. O livro é ótimo e faz com que você não consiga parar de ler para descobrir os mistérios... e como ao invés da tradicional adaptação para filme, escolheram a minissérie, muita coisa é enrolada para preencher os sete ou oito episódios.


Há algumas mudanças em relação ao livro. Nada muito aberração até agora. Fiquei desanimada ao ler que talvez mudem a pessoa que foi assassinada. Na época em que li achei a trama muito bem elaborada, com um ótimo fim. Gosto de pensar que a autora fez relevantes ponderações e colocou pistas bem pensadas ao longo do caminho para que a solução do mistério fizesse sentido. Se simplesmente mudarem isso, perde um bocado da emoção. Dá a impressão que as pistas devem ser desconsideradas... Eles podem randomicamente escolher qualquer um. E fãs de mistérios “quem fez?” (whodunnit) não apreciam muito isso. Há razão para ódio entre os personagens, mas ter a natureza assassina e motivo o suficiente para isso não é tão comum. Vamos ver no que dá...

Até no mudo fictício está difícil arrumar emprego
Vale a pena: Sim, se você conseguir assistir o primeiro episódio até o final, vale continuar para ver a solução da história, mesmo sendo a um passo lento. Se você gostar muito de suspense, recomendo o livro.

Petrobras divulga resultado de 2016

Ontem a Petrobras divulgou os resultados do quarto trimestre de 2016 e do exercício social de 2016. Há boas e más notícias. São centenas de páginas: 705 se considerar o arquivo PDF do formulário de referência ou 243 páginas do relatório de administração mais as demonstrações contábeis.

Os principais pontos destacados pela imprensa e pela área de relações com investidores foram: fluxo de caixa livre positivo pelo sétimo semestre consecutivo, redução da receita em 12%, redução do endividamento que ainda está em níveis elevados, lucro líquido trimestral de 2,5 bilhões de reais e prejuízo líquido no ano de 14,8 bilhões, não pagamento de dividendos pelo terceiro ano consecutivo.

Vamos fazer alguns comentários genéricos sobre pontos mais interessantes deste resultado.

Lucro Operacional – O lucro operacional é aquele proveniente das operações da empresa. No Brasil muitas pessoas possuem o costume de excluir deste lucro as receitas financeiras, que conceitualmente deveria fazer parte do resultado gerado pelos ativos. Quando se considera sob esta ótica temos que o lucro operacional em 2016 foi 28 bilhões maior que no ano anterior. É um bom resultado, principalmente que ocorreu uma redução da receita de 39 bilhões e de 8,6 bilhões no lucro bruto. O grande destaque foi, sem dúvida nenhuma, a redução nas amortizações do impairment, que reduziram de 48 bilhões em 2015 para 20 bilhões em 2016. Dito de outra forma, a melhoria no lucro operacional ocorreu pela redução nesta despesa.

Por sinal, a soma nos três últimos anos, da perda no valor de recuperação de ativos foi de 113 bilhões. Como o total de ativos no final de 2013 era de 658 bilhões, o valor levado a resultado corresponde a 17% do ativo.

A figura a seguir faz um paralelo interessante da empresa:

Nesta figura consideramos o lucro operacional da forma como foi divulgado, somamos a receita financeira – para manter uma coerência teórica – e somamos a perda por impairment. Veja como fica interessante a informação: a exceção do ano de 2014, nos demais o resultado operacional da empresa tem sido bastante regular.

Um pouco desta regularidade também aparece na DFC, especificamente no caixa operacional. Em 2013 a empresa gerou 56,21 bilhões, aumentando para 62,241 e 86,407 nos dois anos seguintes. Em 2016 o caixa gerado nas atividades operacionais foi de 89,709 bilhões, bem acima do total apresentado acima (quase 150 bilhões).

Projeção dos Analistas – Na terça, o Valor Econômico publicou uma projeção de cinco empresas para a receita, o Ebitda e o Lucro do trimestre da empresa. A figura a seguir é uma reprodução destas estimativas, com o acréscimo do valor divulgado no dia de ontem e a previsão que mais se aproximou do valor efetivo.

De uma maneira geral, os analistas foram otismistas com a receita da empresa em quase 3 bilhões de reais, a exceção do Morgan Stanley que previu 69,1 bilhões versus 70,5 bilhões divulgados na DRE da empresa. O lucro médio previsto esteve um pouco acima do valor divulgado, mas como o lucro acumulado era substancialmente negativo isto não afetou o resultado.

Receitas Financeiras – Anteriormente consideramos as receitas financeiras para análise da rentabilidade da empresa. Vamos considerar agora como a empresa tem atuado nas suas aplicações financeiras. Em 2016 as receitas financeiras chegaram a 3,638 bilhões. Será que este número é positivo ou não.

Na tabela acima tomamos os títulos e valores mobiliários e as aplicações financeiras de curto prazo. Estes valores foram obtidos a partir da nota explicativa e corresponde ao balanço encerrado em 31 de dezembro de cada ano. Os valores são expressivos; a título de exemplo, somente em 31 de dezembro de 2016 a empresa tinha aplicado do seu ativo 70 bilhões de reais ou 9,6% do total. É o segundo maior grupo de ativo, atrás apenas do imobilizado. A tabela mostra que este valor aumentou de 44 bilhões para 98 bilhões no final de 2015 e sofreu um redução de 28 bilhões.

As receitas financeiras foram obtidas na Demonstração do Resultado da empresa. Este é um valor um pouco impreciso já que as notas explicativas mais confundem do que esclarecem.

Calculamos a rentabilidade de duas formas. A primeira, dividimos as receitas financeiras sobre o valor existente inicialmente no ativo. Esta forma deixa de considerar as novas aplicações realizadas durante o ano. O segundo cálculo da rentabilidade foi realizado dividindo as receitas pelo valor médio das aplicações. Os resultados foram diferentes, obviamente, favorecendo a empresa na primeira forma nos anos anteriores e na segunda expressão em 2016. Mas é perceptível que a rentabilidade destas aplicações está em queda.

Mas o pior é quando comparamos com inflação. Nos dois últimos anos, o resultado das aplicações financeiras da empresa sempre esteve abaixo da inflação oficial. Observe que a comparação é com a inflação e não com a rentabilidade da Selic (13,65% em 2016, 14,15% em 2015 e 11,15% em 2014 ). Ou seja, um resultado horroroso.

Reescrevendo a história – Obviamente que a empresa atrai a atenção pelos problemas de corrupção dos últimos anos. É interessante que a área responsável pelas demonstrações contábeis usa o espaço para reescrever a história. Por seis vezes a palavra “vítima” aparece nas informações contábeis:

apesar de a Petrobras ser vítima nesse processo e de, em nenhum momento, haver se beneficiado direta ou indiretamente dos ilícitos.

A Petrobras reforça, por fim, que está sendo oficialmente reconhecida pelas autoridades públicas como vítima nesse processo de apuração.

De qualquer forma, entendemos que fomos vítimas do sistema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato e buscamos demonstrar e comprovar essa posição, conforme já foi reconhecido pelo Judiciário brasileiro.

Somos oficialmente reconhecidos como vítima dos crimes apurados na “Operação Lava Jato” pelo Ministério Público Federal e pelo juiz competente para julgar os processos criminais relacionados ao caso.

A nossa posição de vítima foi reconhecida também em decisões do Supremo Tribunal Federal.

A Petrobras não é um dos alvos das investigações da “Operação Lava Jato” e é reconhecida formalmente pelas Autoridades Brasileiras como vítima do esquema de pagamentos indevidos

Isto é conhecido como vitimização. O problema mais grave é tentar reescrever a história. Veja o que diz o relatório da empresa:

O referido esquema envolvia um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, organizaram-se em cartel para obter contratos com a Petrobras

o referido esquema consistia em um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter contratos com a Petrobras

foi concluído, com base nos depoimentos, que o período de atuação do esquema de pagamentos indevidos foi de 2004 a abril de 2012.

incluindo também os aditivos aos contratos originalmente assinados entre 2004 e abril de 2012.

Há muitas controvérsias. É interessante notar que Graça Foster assumiu a empresa em fevereiro de 2012. Mas Nelson Cerveró permaneceu como diretor financeiro da BR até 2014. Precisa dizer mais alguma coisa?

Rir é o melhor remédio


21 março 2017

PwC do Brasil

A entidade de fiscalização dos auditores dos Estados Unidos, o PCAOB, anunciou uma punição a um ex-sócio da PwC do Brasil por problemas no trabalho realizado em 2010 e 2011 nas filiais da Sara Lee Co (leia-se Café Pilão e Café do Ponto). Wander Rodrigues Teles, que já não trabalha mais na PwC, foi o responsável pela auditoria na Sara Lee. A filial brasileira estava manipulando seu contas a receber. Já em 2012 a matriz reconhecia isto nos seus relatórios.

Teles não respondeu adequadamente aos problemas, segundo o PCAOB. Por isto foi multado em 10 mil dólares e proibido de ser sócio nos próximos dois anos.

Filme sobre a história do Real



Um filme sobre a história do Real. Parece uma boa história. (Dica de Fernanda, grato)

Curso de Contabilidade Básica: Demonstração do Fluxo ou dos Fluxos?

Quando os pais escolhem o nome do seu filho passarão os próximos meses (ou anos) insistindo que as pessoas usem o nome escolhido. Não é “Paulo”, mas “Paulo Henrique” ou não é “Guto”, mas “Augusto”.

O mesmo ocorre com a denominação contábil estabelecida pelos reguladores. Um dos enganos mais comuns é chamar a DFC de “demonstração do fluxo de caixa”. A norma que regula esta demonstração no Brasil, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, recebe a numeração de CPC 03 – é isto mesmo, tem um zero à esquerda na numeração – e o nome de “Demonstração dos Fluxos de Caixa”. Observe que o nome estabelecido na norma está no plural. A razão é simples: a demonstração irá mostrar três fluxos, conforme detalhamos no livro Curso de Contabilidade Básica, no segundo capítulo do primeiro volume: das atividades operacionais, das atividades de financiamento e das atividades de investimento.

Por alguma razão, existem pessoas que mudam o nome para “demonstração do fluxo de caixa” (também é possível encontrar “demonstrativo de fluxo de caixa” ou simplesmente “fluxo de caixa”). É um bom hábito acostumar falar corretamente o nome da DFC. E quando uma grande empresa, com receita e ativos na casa dos bilhões, comete este engano? Não é tão raro assim. No dia 14 de março de 2017 a Metalúrgica Gerdau publicou um extrato das suas demonstrações no jornal. Observe na figura:
Obviamente está incorreto. Nas demonstrações completas disponibilizadas no endereço da empresa este erro não aparece, assim como nas demonstrações do grupo Gerdau.

20 março 2017

Gestão de Riscos e a Operação Carne Fraca

A operação da Polícia Federal Carne Fraca teve um profundo impacto nas duas principais empresas do setor de alimentos do Brasil. Na sexta as ações da JBS e BRF caíram 10,59% e 7,25%, nesta ordem. Em que pese as controvérsias da operação (vide aqui, por exemplo), o fato é que as empresas atingidas com a denúncia estão sofrendo uma perda de confiabilidade pela opinião pública.

Olhando as demonstrações contábeis de ambas empresas, na área relacionada com o risco, percebemos como a gestão parece estar restrita as questões de câmbio ou mudanças nos preços dos commodities. Nas duas empresas, os comentários sobre a gestão de risco são longos, mas voltados para estes dois aspectos somente.

Na JBS a nota explicativa 30 comenta sobre instrumentos financeiros e gestão de riscos. Afinal, se a empresa foi econômica em discutir os efeitos dos problemas legais que seus executivos estão enfrentando – recentemente os irmãos Batista, que comandam a empresa, tiveram que fazer um acordo bilionário para saírem da cadeia -, imagina uma discussão sobre um possível risco de mercado. São muitos números para discutir o risco de liquidez, de crédito e de câmbio. Na verdade, na nota 30 a empresa trata do risco de mercado, comentando o seguinte:

Em particular, as exposições a risco de mercado são constantemente monitoradas, especialmente os fatores de risco relacionados a variações cambiais, de taxa de juros e preços de commodities (…)

Na BRF é pior. O termo “risco de mercado” sequer é mencionado de forma isolada. Mas quem poderia prever os fatos relatados sobre a forma como estas empresas estavam operando?