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27 novembro 2008

O especialista em Contabilidade de Obama



Segundo Tim Reason (Obama's Accounting Expert?, CFO) Paul Volcker, ex-presidente do FED e agora da equipe de Obama, poderá ser a principal figura em termos da contabilidade do novo governo dos EUA. Em 2000, Volcker presidiu a superintendência conselho que criou o International Accounting Standards Board, e, em seguida, atuou como chefe do IASB's trustees por dois anos.

Em 2002, ele foi também foi chamado para tentar reformar a Arthur Andersen no rescaldo do escândalo da Enron. E embora Andersen quebrasse muito depressa para Volcker para realizar algo mais, o episódio só reforçou a sua excelente reputação. Na verdade, pouco depois, presidente da SEC Harvey Pitt pediu para Volcker presidir a recém-criada Public Company Accounting Oversight Board - que Volcker declinou, citando exigências de tempo para o trabalho.

Aqui a pergunta se isto significa a adoção da IFRS nos EUA.

Socorro ao Citi

Socorro ao Citi anima bolsas. Agora governo quer mudanças no grupo
David Enrich e Deborah Solomon, The Wall Street Journal
25 November 2008
The Wall Street Journal Americas - 1

O socorro do governo ao Citigroup Inc. reverteu o perigoso declínio de suas ações, mas está aumentado a pressão para que a diretoria e o conselho façam mais para estabilizar o gigante financeiro.
A ação do Citigroup subiu 58% depois que autoridades americanas anunciaram, domingo à noite, um acordo para injetar US$ 20 bilhões no banco e absorver até US$ 249 bilhões em possíveis perdas com empréstimos imobiliários e títulos de dívida em poder do banco.
Os executivos do Citigroup reconheceram ontem que o governo deixou claro durante as negociações do fim de semana que espera que a empresa continue a reduzir seu apetite por risco, e considere seriamente a adoção de medidas mais drásticas, incluindo desmembrar a empresa.
Gary Crittenden, diretor financeiro do Citigroup, disse numa entrevista ao Wall Street Journal que o banco não tem "idéias pré-definidas" sobre a enorme variedade de negócios em todo o mundo e está aberta a mudanças drásticas. "As partes que nos constituem podem mudar", disse ele. "Estamos analisando o tempo todo para determinar se há diferentes combinações possíveis, seja comprar ou vender, que façam sentido para a empresa."
Crittenden não quis comentar os cenários que estão sendo examinados. Executivos e conselheiros discutiram possíveis fusões com outros bancos, ou a venda de divisões importantes, disseram pessoas a par da situação.
"É um adiamento da pena, não um perdão total", disse uma pessoa a par da situação, referindo-se ao plano de socorro do governo. "Ninguém tem dúvidas quanto a isso."
Na sexta-feira, o diretor-presidente do Citigroup, Vikram Pandit, descrevia o modelo de negócios do grupo como "fantástico", negando os boatos de que contemplava mudanças importantes como vender a empresa ou desmembrá-la.
A divulgação do socorro causou forte alta no mercado, com a Média Industrial Dow Jones subindo 396,97 pontos, ou 4,9%, para 8.443,39.
O socorro do governo ao Citigroup é o mais recente de uma série de intervenções públicas no setor bancário. As medidas causaram uma alta no mercado, com investidores respirando aliviados já que um dos maiores bancos do mundo, cujos tentáculos estão enroscados em praticamente todos os sistemas financeiros do planeta, foi tirado da beira do abismo.
Mas alguns banqueiros e investidores ficaram receosos quando à duração dessa calma, e se ela abrirá caminho para outras ações do governo envolvendo grandes bancos.
Embora a recusa em deixar o Citigroup quebrar demonstre que o governo americano está disposto a salvar grandes instituições, muitas dúvidas ainda pesam sobre o setor, inclusive o valor real de créditos podres e o tamanho de perdas futuras.
"Há muitos buracos negros por aí e isso não mudou", disse Nancy Bush, da firma de análise NAB Research LLC. A grande queda nas ações de muitos bancos regionais salienta a incerteza quanto a sua situação financeira e uma "falta de confiança quanto a esses bancos".
Os bancos americanos já viram as perdas com inadimplência dobrar em cada um dos últimos dois anos, segundo Robert Patten, da Morgan Keegan & Co. Para o setor, as perdas médias nos próximos cinco trimestres vão subir para mais de 5,8% da carteira de crédito, o dobro do nível visto durante a crise de crédito do início dos anos 70, segundo a FIG Partners.
No Citigroup, a intervenção do governo alivia algumas das pressões imediatas sobre a companhia, mas não chega a colocá-la no caminho da lucratividade. Na verdade, o escopo do plano, pelo qual o governo vai garantir US$ 306 bilhões em ativos, pareceu contradizer afirmações feitas semana passada por Pandit de que a companhia estava em boa forma apesar da queda nas ações.
De fato, pessoas envolvidas nas negociações para arranjar o resgate governamental disseram ao WSJ que executivos tinham percebido, já na metade da semana passada, que a espiral de baixa nas ações — que caíram 60% na semana — apresentava uma grande ameaça à viabilidade da companhia. Uma pessoa diretamente envolvida nas conversas descreveu os últimos dias como "uma experiência de quase morte".
Tendo segurado a onda, Pandit agora se vê sob intensa pressão — de empregados, conselheiros, investidores, clientes e autoridades do governo — para adotar grandes medidas para estabilizar a companhia. Ele enfrenta um conselho de administração, clientes e acionistas ainda nervosos quanto à estabilidade do grupo, e as autoridades do governo que parecem dispostas a manter a companhia na rédea curta.
Desde que se tornou diretor-presidente em dezembro, Pandit abraçou a estrutura existente do Citigroup, resistindo a solicitações de desmantelamento do grupo.
A companhia enfrenta prejuízos crescentes numa variedade de empréstimos que não são cobertos pelo seguro do governo para US$ 306 bilhões de ativos. Sob o plano, o Citigroup arcaria com os primeiros US$ 29 bilhões em perdas. Depois disso, três agências do governo vão absorver 90% do prejuízo.
O arranjo cobre as carteiras do Citigroup para créditos imobiliários residenciais e comerciais nos Estados Unidos e seus empréstimos alavancados para empresas, entre outros ativos. Não se trata apenas de ativos de alto risco. O governo insistiu em que o acordo cobrisse classes inteiras de ativos, de modo que o Citigroup não possa simplesmente despejar créditos podres no colo do contribuinte.
Entre as notáveis ausências no esquema estão o gigantesco negócio de cartões de crédito do Citigroup, onde a inadimplência tem crescido rápido, e as operações de crédito fora dos EUA, que também estão exibindo sinais de problemas.
Embora o resgate reforce o nível de capitalização do Citigroup, "estamos temerosos de que as perdas possam acabar excedendo o suporte do governo", disse o analista de ações Stuart Plesser, da Standard & Poor's.
Enquanto isso, em troca da cobertura de centenas de bilhões de dólares em possíveis perdas, o Citigroup está emitindo para o governo um total de US$ 27 bilhões em ações preferenciais, em que o governo vai receber dividendos regulares. Esses dividendos darão uma grande mordida nos lucros do Citigroup nos próximos anos.
(Colaboraram Dan Fitzpatrick, Damian Paletta e Matthias Rieker)

Sobre educação


Foto: Life

Sua pesquisa mostra que as faculdades de pedagogia estão na raiz do mau ensino nas escolas brasileiras. Como?

As faculdades de pedagogia formam professores incapazes de fazer o básico, entrar na sala de aula e ensinar a matéria. Mais grave ainda, muitos desses profissionais revelam limitações elementares: não conseguem escrever sem cometer erros de ortografia simples nem expor conceitos científicos de média complexidade. Chegam aos cursos de pedagogia com deficiências pedestres e saem de lá sem ter se livrado delas. Minha pesquisa aponta as causas. A primeira, sem dúvida, é a mentalidade da universidade, que supervaloriza a teoria e menospreza a prática. Segundo essa corrente acadêmica em vigor, o trabalho concreto em sala de aula é inferior a reflexões supostamente mais nobres.

(...) Um estudo da OCDE (organização que reúne os países mais industrializados) mostra que o custo de um universitário no Brasil está entre os mais altos do mundo – e o país responde por apenas 2% das citações nas melhores revistas científicas. Como a senhora explica essa ineficiência?

Sem dúvida, poderíamos fazer o mesmo, ou mais, sem consumir tanto dinheiro do governo. O problema é que as universidades públicas brasileiras são pessimamente administradas. Sua versão de democracia, profundamente assembleísta, só ajuda a aumentar a burocracia e os gastos públicos. Essa é uma situação que piorou, sobretudo, no período de abertura política, na década de 80, quando, na universidade, democratização se tornou sinônimo de formação de conselhos e multiplicação de instâncias. Na prática, tantas são as alçadas e as exigências burocráticas que, parece inverossímil, um pesquisador com uma boa quantia de dinheiro na mão passa mais tempo envolvido com prestação de contas do que com sua investigação científica. Para agravar a situação, os maus profissionais não podem ser demitidos. Defino a universidade pública como a antítese de uma empresa bem montada. (...)


Entrevista: Eunice Durham - Fábrica de maus professores - Monica Weinberg – Veja

Custo da Mala num Avião

Um texto interessante do Wall Street Journal discute quanto custa um mala num avião. Existem formulas de cálculo que determinam este valor. Aqui, um trecho do texto:

Com base em nossa própria estimativa derivada de consultas com executivos da indústria e outras fontes, o custo para transportar a bagagem chega a cerca de US $ 15 a bolsa.
Hoje [nos Estados Unidos] as grandes empresas aéreas cobram $15 cada para a primeira bolsa, $25 para a segunda e algumas $125 para a terceira bolsa ou qualquer uma cujo peso ultrapasse a mais de 50 pounds. (…)
The Middle Seat: What It Costs An Airline to Fly Your Luggage - Scott McCartney
25 November 2008 - The Wall Street Journal - D1

Tamanho da baixa


Na Europa, o total de goodwill das empresas incluidas no Dow Jones Stoxx 600 é de cerca de 1 trilhão de euros, de acordo com o último dado divulgado pelas empresas. (...)
Com as baixas contábeis, o indices de endividamentos das empresas irão aumentar. Isto pode comprometer a habilidade das empresas em tomar emprestado para investimento e crescimento.
IFRS Spells 'Write-Downs' - Nathalie Boschat – 25/11/2008 - The Wall Street Journal - C10


Foto: Life

Fraudes são mais prováveis em empresas em bancarrota



Segundo Sarah Johnson (Deloitte Study Sees Fraud Ties to Bankruptcy, CFO, 24/11/2008) um estudo da Deloitte Forensic Center indicou que uma empresa com problemas financeiros tem mais probabilidades de ter problemas de fraude. Usando o período entre 2000 a 2007, a pesquisa encontrou que 9% das empresas com problemas financeiros incorreram em fraude, contra 3% das outras empresas.

Cartoon: Aqui

26 novembro 2008

Rir é o melhor remédio


Fonte: Aqui. Observe a ausência de intersecção no gráfico.

Links


1. Invenções chinesas bizarras (dica de Ludmila, grato)

2. Lista de QI por profissão (tem accounting)

3. O estado de New Jersey está falido

4. Brasil é o 54º (homens) e 48o. (mulheres) nas Olimpíadas do Xadrez

5. Gisele Bundchen (foto) e a previsão do movimento do mercado cambial

Citi no Brasil

Lucro recorde é argumento para manter o banco no país
Valor Econômico - 26/11/2008

Apesar do inferno astral pelo qual passa a matriz, o Citibank registrou no primeiro semestre deste ano e em 2007 os melhores resultados da sua história de 94 anos no Brasil. Os bons números são um dos principais argumentos da administração brasileira do banco para sustentar a posição de que as operações não serão vendidas. Mas, boa parte do ganho foi consequência da venda de ações do banco na Redecard, uma vez que os ativos crescem em ritmo inferior à média do mercado. As operações de financiamento ao consumo estão crescendo assim como as atividades de banco de investimento, tornando de toda forma o Citi uma operação cobiçável pelos outros participantes do mercado. No primeiro semestre deste ano, o lucro líquido saltou 175%, passando de R$ 448,18 milhões em 2007 para R$ 1,21 bilhão neste ano. Em todo o ano passado, o lucro líquido somou R$ 1,72 bilhão. O recorde anterior havia sido de R$ 1,65 bilhão em 2002. Em 2006, teve prejuízo de cerca de R$ 50 milhões. (...)

Apostaram no pânico

O texto a seguir mostra como a crise do Morgan Stanley pode ter sua origem na especulação de investidores gananciosos.

Anatomia do pânico com o Morgan Stanley
Susan Pulliam, Liz Rappaport, Aaron Lucchetti, Jenny Strasburg e Tom McGinty, The Wall Street Journal - 25/11/2008 - The Wall Street Journal Americas - 2

Dois dias depois que a Lehman Brothers Holdings pediu concordata, espalhou-se um boato explosivo: outra grande firma de Wall Street, o Morgan Stanley, estava prestes a quebrar. O que se dizia no mercado naquele 17 de setembro é que o Deutsche Bank AG tinha cancelado uma linha de crédito de US$ 25 bilhões para o banco de investimento.

Não era verdade, mas o boato ajudou a desencadear uma cascata de apostas contra o Morgan Stanley. O diretor-presidente John Mack queixou-se amargamente de que operadores desejosos de lucros estavam semeando o pânico. Mas faltava uma informação essencial: quem, exatamente, estava por trás dessas transações?

Registros de transações examinados pelo Wall Street Journal oferecem agora uma resposta parcial. Esses documentos revelam que algumas das maiores firmas de Wall Street — Merrill Lynch & Co., Citigroup Inc., Deutsche Bank e UBS AG — estavam apostando pesado contra o Morgan. A estratégia dessas firmas era usar complicados instrumentos financeiros chamados swaps de crédito, uma forma de seguro contra perdas com crédito.

Um exame dessas transações feito pelo WSJ também revela que os swaps tiveram papel importante ao amplificar a avaliação pessimista do mercado sobre o Morgan Stanley, o que, por sua vez, levou os operadores a investir contra as ações da firma, vendendo-as a descoberto. A inter-relação entre as transações com swaps e a venda a descoberto acelerou a espiral descendente da firma.

Este relato foi elaborado a partir dos registros das transações e de mais de 70 entrevistas com executivos de Wall Street, operadores, corretores, administradores de fundos de hedge, investigadores e autoridade reguladoras.

Durante anos, a venda de swaps de crédito foi uma mina de ouro para Wall Street. Mas, por ironia, naqueles dias tumultuados de setembro, o mercado de swaps virou-se contra o Morgan Stanley como um Frankenstein financeiro. Esse mercado se tornou um termômetro bem visível do Pânico de 2008, insuflando a crise que acabou exigindo a intervenção do governo.

Outras firmas também estavam negociando com swaps do Morgan em 17 de setembro: Royal Bank of Canada, Swiss Re e vários fundos de hedge, como King Street Capital Management LLC e Owl Creek Asset Management LP.

A pressão também se intensificou em outra frente: houve um aumento nas vendas a descoberto — apostas contra as ações da Morgan — por parte de grandes fundos de hedge. No fim do dia, a ação do Morgan tinha caído 24%, e as autoridades temiam que investidores com práticas predatórias estavam mirando os bancos de investimento.

Esse tipo de transação, que já havia derrubado Bear Stearns Cos. e Lehman, fez com que as ações do Citigroup desabassem 60% na semana passada, o que forçou novo socorro do governo.

Os investigadores estão tentando identificar o que causou o caos do mercado em meados de setembro e saber se os swaps de crédito ou as ações do Morgan Stanley foram negociados de forma imprópria. O procurador-geral de Nova York, Andrew Cuomo, o escritório em Manhattan da Procuradoria-Geral dos Estados Unidos e a comissão de valores mobiliários americana (SEC) estão investigando se houve manipulação do mercado por parte de corretores que teriam divulgado intencionalmente falsos boatos para lucrar com suas apostas. As investigações também querem verificar se os operadores compraram swaps por altos preços para provocar o medo quanto à estabilidade do Morgan e assim lucrar em outras aplicações, e se as transações envolveram cotações falsas e fechamento de negócios inexistentes, segundo pessoas a par do assunto.

Ainda não surgiu publicamente nenhuma prova de que qualquer firma tenha feito algo de errado em relação às ações ou swaps do Morgan Stanley. A maior parte das firmas afirma que comprou os swaps simplesmente para se proteger contra eventuais prejuízos com vários tipos de negócios que estavam fazendo com o Morgan. Algumas garantem que suas aplicações em swaps foram pequenas em relação a todas as transações desse tipo ocorridas naquele dia.

Provar que o preço de qualquer papel foi manipulado é extraordinariamente difícil. O mercado de swaps não é nada transparente: as transações são feitas por telefone e email entre os corretores, sem cotações públicas.

Erik Sirri, um diretor de mercados da SEC, afirma que o mercado de swaps é vulnerável à manipulação. "Transações de baixo volume em um mercado relativamente pequeno podem ser usadas para (...) sugerir que um crédito é considerado fraco pelo mercado", disse ele em depoimento ao Congresso americano no mês passado. Sirri disse que a SEC temia que as transações com swaps estivessem causando investimentos prejudiciais às ações.

O Morgan tinha começado setembro em boa forma. Teve lucro nos dois primeiros trimestres fiscais, até 31 de maio. Ao contrário da Lehman, não tinha muita exposição aos créditos imobiliários residenciais de alto risco, embora estivesse exposto ao mercado de imóveis comerciais e de empréstimos alavancados. Mack sabia que os lucros do terceiro trimestre seriam maiores do que o esperado.

Em 14 de setembro, enquanto a Lehman se preparava para pedir concordata, Mack disse aos funcionários, em memorando interno, que o Morgan estava "em uma posição única para ter sucesso neste ambiente tão cheio de desafios". No dia seguinte, a firma conseguiu alguns novos clientes de fundos de hedge que estavam fugindo da Lehman.

Mas os rumores corriam soltos, com operadores preocupados com qual firma de Wall Street seria a próxima a cair. A conversa nos fundos de hedge, segundo alguns operadores, é que o Morgan Stanley tinha US$ 200 bilhões em risco devido às suas transações com a seguradora American International Group Inc., então prestes a pedir concordata. Isso não era verdade. O Morgan informou à SEC que sua exposição à AIG era "irrelevante".

Alguns corretores do J.P. Morgan Chase & Co. estavam sugerindo a clientes do Morgan Stanley que era arriscado manter contas nessa firma, segundo pessoas a par do assunto. Mack queixou-se a James Dimon, diretor-presidente do J.P. Morgan, que pôs fim às conversas, segundo essas pessoas. Deutsche Bank, UBS e Credit Suisse também ofereceram seus serviços a fundos de hedge atendidos pelo Morgan, segundo pessoas a par do assunto.

No dia 16, a ação do Morgan desabou durante o dia, mas com uma recuperação no final do pregão. Alguns fundos de hedge retiraram seus recursos da firma, temendo que o Morgan seguisse os passos da Lehman no tribunal de falências, com risco de imobilizar os ativos dos clientes. Em um esforço para amainar as preocupações, o Morgan divulgou seus resultados naquela tarde, às 16h10, um dia antes do previsto.

"É muito importante devolver um pouco de sanidade ao mercado", disse Colm Kelleher, diretor financeiro do Morgan, em teleconferência com investidores. "As coisas estão realmente saindo de controle, e boatos ridículos estão sendo repetidos."

Glenn Schorr, analista do UBS, perguntou a Kelleher sobre o alto custo de proteção da dívida do Morgan Stanley no mercado de swaps. A proteção para US$ 10 milhões em dívidas do Morgan tinha subido para US$ 727.900 por ano, ante US$ 221.000 em 10 de setembro, segundo a CMA DataVision.

"Certas pessoas estão se concentrando nos swaps de crédito como desculpa para olhar para as ações", respondeu Kelleher, sugerindo que os operadores que investiam nos swaps também estavam vendendo a descoberto ações do Morgan Stanley, apostando que elas cairiam.

É impossível saber com certeza qual era a motivação dos que compravam swaps do Morgan. Eles receberiam pagamentos caso o Morgan não pagasse títulos e empréstimos. Alguns desses compradores, sem dúvida, possuíam créditos do banco e estavam simplesmente tentando proteger-se contra uma eventual insolvência.

Mas os swaps também eram uma boa maneira de especular, para operadores que não detiam esses créditos. O valor do swap aumenta com o medo da inadimplência. Os operadores que apostavam no aumento dos temores sobre o Morgan Stanley podiam usar os swaps para obter um lucro rápido.

Em meio às incertezas daquele 16 de setembro, a Millennium Partners LP, fundo de hedge com US$ 13,5 bilhões, pediu para retirar US$ 800 milhões dos mais de US$ 1 bilhão que mantinha no Morgan, segundo pessoas a par dessas retiradas. Em separado, a Millennium também tinha vendido a descoberto ações do Morgan Stanley — parte de uma série de apostas na queda das ações de firmas financeiras, disse uma dessas pessoas. Além disso, a fundo de hedge comprou opções de venda, que lhe davam o direito de vender ações do Morgan no futuro a um preço determinado.

"Escute, nós precisamos proteger nossos ativos", disse Israel Englander, presidente da Millennium, a um executivo do Morgan Stanley, segundo uma pessoa a par da conversa. "Não é nada pessoal." Essas apostas na queda das ações, pequenas em comparação com o volume total de transações da Millennium, subiam de valor à medida que caíam as ações do Morgan.

Na manhã do dia 17, David "Tiger" Williams, presidente da Williams Trading LLC, que presta serviços de transações para fundos de hedge, ouviu um de seus operadores dizer que certo fundo havia transferido uma conta de US$ 800 milhões do Morgan Stanley para uma firma rival. O operador, que estava ao telefone com o gestor do fundo que retirou o dinheiro, perguntou por quê. O Morgan estava quebrando, respondeu o cliente.

Pressionado a dar detalhes, o administrador do fundo repetiu o rumor sobre o cancelamento da linha de crédito de US$ 25 bilhões por parte do Deutsche Bank. Williams passou a dar vários telefonemas, mas suas fontes no mercado opinaram que se tratava de um boato falso.

Mas o estrago já estava feito. Às 7h10, um operador do Deutsche Bank cotou em US$ 750.000 a compra de proteção para US$ 10 milhões em dívida do Morgan. Às 10h, o Citigroup e outros operadores já cotavam preços de US$ 890.000. E à medida que se alastrava o boato sobre o Deutsche, as ações do Morgan despencaram, de cerca de US$ 26 às 10h para perto de US$ 16 às 11h30.

Antes do meio-dia, operadores de swap começaram a cotar o custo de seguro para o Morgan em "pontos adiantados" — jargão de Wall Street para transações em que os compradores têm de pagar pelo menos US$ 1 milhão adiantado, mais um prêmio anual, para segurar US$ 10 milhões em dívida. No caso do Morgan Stanley, alguns operadores estavam exigindo mais de US$ 2 milhões adiantados.

Durante o dia, a Merrill comprou swaps para cobrir US$ 106,2 milhões em dívida do Morgan Stanley, segundo os documentos das transações. A King Street comprou swaps que cobriam US$ 79,3 milhões; o Deutsche Bank, US$ 50,6 milhões; a Swiss Re, US$ 40 milhões; a Owl Creek, US$ 35,5 milhões; UBS e Citigroup; US$ 35 milhões cada; Royal Bank of Canada, US$ 33 milhões; e ACM Global Credit, um fundo de investimento operado pela AllianceBernstein Holding, US$ 28 milhões, segundo os documentos.

No dia seguinte, 18 de setembro, algumas dessas mesmas firmas estavam de volta ao mercado. A Merrill comprou proteção para outros US$ 43 milhões em dívida do Morgan; o Royal Bank of Canada, US$ 36 milhões; a King Street, US$ 30,7 milhões; e o Citigroup, US$ 20,7 milhões, indicam os registros.

Nenhuma das firmas comenta quanto pagou pelos swaps, ou se lucraram com as operações.

"A proteção que compramos foi um simples hedge, não baseado em nenhuma visão negativa do Morgan Stanley", diz John Meyers, um porta-voz da AllianceBernstein. Um porta-voz do Royal Bank of Canada diz que o banco comprou os swaps para administrar seu "risco de crédito" com o Morgan Stanley e que não estava "apostando contra o Morgan Stanley nem realizou apostas na baixa de sua ação".

A King Street, um fundo de hedge com US$ 16,5 bilhões, comprou os swaps para cobrir sua exposição ao Morgan Stanley, que incluía títulos de renda fixa, segundo uma pessoa ligada ao fundo. O fundo não tinha uma posição vendida na ação, diz essa pessoa.

Porta-vozes de Deutsche Bank e Citigroup dizem que as transações deles foram relativamente pequenas e com o propósito de proteger contra perdas em outros investimentos relacionados ao Morgan, e para atender a ordens dos clientes. Um porta-voz da Owl Creek diz que ela comprou os swaps "para segurar o colateral que tínhamos no Morgan Stanley na época", e que continua a fazer negócios com a firma.

Merrill, UBS e Swiss Re negaram-se a prestar comentários.

Durante o frenesi de transações em 17 de setembro, Mack havia começado a discutir uma fusão com o Wachovia Corp. Quatro dias depois, o Morgan Stanley alterou o curso, tornando-se uma holding bancária e ganhando maior acesso a recursos do governo. No mês passado, depois de captar US$ 9 bilhões do japonês Mitsubishi UFJ Financial Group, o Morgan recebeu US$ 10 bilhões do governo americano.

O Morgan Stanley precisa agora revisar sua estratégia para lidar com um ambiente avesso a risco e com a supervisão mais rígida do governo que acompanha a condição de holding bancária. Este mês, o banco anunciou que demitiria 2.300 empregados, ou 5% do total.

O custo de segurar sua dívida caiu. Ontem sua ação subiu 33,13% e fechou a US$ 13,38.

Sonegação

A Polícia Federal e a Receita fizeram uma operação numa grande rede varejista para combater a sonegação de imposto. Segundo O Globo (Polícia Federal e Receita fazem operação em grande rede varejista, Erica Ribeiro, 25/11/2008) a estimativa é de uma sonegação de R$100 milhões pela empresa Casa & Vídeo, além de débito com a previdência de 40 milhões. A sonegação era feita da seguinte forma, segundo a Polícia e a Receita:

(...) os produtos importados entravam no Brasil por meio de uma rede de importadores que seriam intermediários da Casa & Vídeo e ligados à rede varejista. A PF estima que mais de 50 empresas estariam envolvidas no esquema, atuando como "laranjas" para importação de produtos da China. Segundo Jacinto, muitas destas empresas tinham sede em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas.

De acordo com o superintendente, os recursos para compra dos produtos importados da China vinham dos paraísos fiscais, o que configura lavagem de dinheiro.

- A estimativa é de que a empresa sonegou aproximadamente R$ 100 milhões. A rede de lojas fazia um planejamento de compras de produtos na China. Uma outra empresa que tinha ligação com a rede comprava a mercadoria, pagando o preço acertado com os exportadores, e emitia nota fiscal subfaturada. Ou seja, a mercadoria chegava com um preço muito abaixo do que era pago lá fora. A mesma rede de empresas fornecia notas frias por trabalhos não prestados que entravam na contabilidade da Casa & Vídeo para abater imposto de renda - explicou o superintendente. (...)