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25 novembro 2006

Unibanco e Nacional

Na terça-feira os jornais econômicos noticiaram um acerto entre o Unibanco e o Banco Nacional. Quando o Unibanco comprou a parte boa do Banco Nacional, no final de 1995, as relações entre os controladores de ambas as instituições ficaram estremecidas. A reaproximação é interessante para ambas as partes, mas o acerto final depende do Banco Central.

A questão contábil diz respeito ao valor do passivo do Nacional com o Bacen e a forma com deve ser corrigido no tempo. A posição que favorece ao Unibanco seria o passivo ser corrigido pela TR; o Banco Central entende que o passivo deve ser corrigido pelo valor das garantias mais 2%.

Decisões judiciais anteriores favorecem ao acordo entre os bancos. Para o Unibanco, o acordo pode trazer uma vantagem adicional: fica com os créditos tributários.

Clique a seguir para ler as notícias

Unibanco acerta compra do Nacional – Valor Econômico de 21/11/2006

Magalhães Pinto e Unibanco fazem acordo sobre o Nacional – Jornal do Commercio de 21/11/2006
Moreira Salles espera solução para Nacional - Valor Econômico – 24/11/2006

Unibanco nega compra da parte podre do Banco Nacional - Gazeta Mercantil 24/11/2006

24 novembro 2006

Vínculo entre conhecimentos

Não é possível nos dias atuais uma pessoa acreditar que o seu conhecimento de uma determinada área deve ficar restrito ao que acontece naquela área. A transição entre os conhecimentos é continua e por esta razão este espaço fala também de economia, administração, direito etc.

A figura mostra o mapa da cidade de Tel Aviv, onde as cores escuras representam as áreas iluminadas. O sítio Urban Economics utiliza esta imagem para mostrar como é difícil definir o que é área urbana e os seus limites. Alguns espaços em branco mostram a inexistência de prédios; outros é um espaço tão pequeno que poderia ser classificado como zona urbana.



O sítio mostra que é possível utilizar o conceito de fractal para identificação de autosimilaridade. O conceito de fractal tem sido utilizado em diversas ciências.

Poderíamos utilizá-lo na contabilidade financeira? Marcia Athayde mostrou em sua brilhante dissertação de mestrado que o conceito de fractal tem sido usado para pesquisa sobre preços de ativos. Mais especificamente, Márcia trabalhou com preços de cobre e tentou, com as teorias de fractais, determinar se era possível estimar os valores deste ativo.

Como estamos partindo para uma contabilidade a valor justo, a utilização de ferramentas como a teoria dos fractais pode ser interessante para os novos desafios.

23 novembro 2006

Preço da ação e conflito 02


Outra reportagem, agora do Valor Econômico de 21/11/2006, sobre mesmo assunto:

Custo dos conflitos Por Catherine Vieira
Os analistas sempre observaram que as disputas societárias entre acionistas controladores e minoritários puniam as cotações em bolsa dos papéis das companhias em litígio. Agora, pela primeira vez, um trabalho acadêmico avalia o efeito que as notícias sobre esses conflitos têm sobre as ações. No trabalho "Impacto da Divulgação de Disputas entre Acionistas Controladores e Minoritários sobre o Preço das Ações no Brasil", o professor da FEA-USP, Alexandre Di Miceli contabiliza o tamanho do dano em 22 empresas envolvidas em disputa societária entre 2000 e 2006. A perda média ocasionada pelo impacto das notícias foi de 7%. Quando analisados os sete principais conflitos, essa perda média eleva-se para 21%.

O trabalho não analisa cada empresa de forma isolada. "Pretendemos fazer isso nas próximas pesquisas, mas a título de exemplo, pegamos um caso como o da Cosipa, que ocorreu em 2001, e notamos que a desvalorização média foi de 4% ao dia e no acumulado chegou a 60%", diz o autor.

O professor da FEA esclarece que essas perdas referem-se ao chamado retorno anormal negativo, ou seja, a variação das ações nos períodos menos a variação esperada. "Esse retorno esperado é obtido por meio de uma regressão da correlação do papel com o Índice Bovespa", explica Miceli. O mecanismo é utilizado para evitar distorções. "Não adianta dizer que a ação caiu no dia seguinte a uma notícia sobre conflito, é preciso ver o que ocorreu com o mercado".

O trabalho, elaborado com auxílio dos alunos Armando Dias Junior e Antoninno Matazzo e que acaba de ser premiado pelo Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef), seção São Paulo, analisa 26 eventos de conflitos societários por meio de notícias nos principais meios de comunicação via internet. "Analisamos apenas a primeira notícia relativa ao conflito e, com isso, chegamos a esse conjunto final de 26 notícias", diz. "Inicialmente coletamos 170, mas reduzimos também em função de outros eventos que poderiam estar influenciando as companhias naquele momento". Foram eliminadas companhias cujas ações têm baixíssima liquidez na bolsa.

O estudo analisa o comportamento das ações num intervalo de 16 dias, sendo cinco antes e dez depois da data de publicação da notícia. Também são comparados com a variação dos papéis nos 50 pregões anteriores à publicação. As disputas envolviam problemas como a troca de ações em condições desfavoráveis, cisão, incorporação, fechamentos "brancos" de capital, diluição e desrespeito a direitos de minoritários. "Nota-se que o poder da notícia é bastante grande, uma vez que muitos dos conflitos sequer estavam na esfera judicial", diz.

Dos 26 conflitos analisados, a maior parte está em empresas do setor de telecomunicações (8). Em seguida vêm os setores de química (5), siderurgia (5), energia elétrica (3), finanças e seguros (2), alimentos e bebidas (1), papel e celulose (1) e outros (1). "O fato de haver mais conflitos nas teles pode ser resultado de vários fatores", analisa Miceli. "É um setor com problemas decorrentes das estruturas de governança criadas nas privatizações e também é um segmento com muitas empresas grandes e de alta liquidez na bolsa".

Chamou também a atenção dos pesquisadores o fato de que o efeito negativo sobre as ações começa cerca de três dias antes da veiculação da notícia e se acentua até o dia seguinte da data de publicação. "Muitas vezes pode não ser exatamente um 'insider', mas investidores mais qualificados que percebem uma informação antes dos demais", avalia Miceli. Segundo ele, os papéis tendem a ensaiar uma recuperação no segundo e no terceiro dias, mas em seguida novo movimento de desvalorização ocorre. "Isso pode eventualmente ser causado por investidores institucionais, como fundos de pensão, que exigem um tempo um pouco maior para tomada de decisões".

Segundo o professor, os chamados "conflitos de agência" (nome técnico para esses embates) vêm sendo cada vez mais estudados no mundo à medida que a idéia do impacto positivo das práticas de governança ganha espaço. Nos países mais desenvolvidos, porém, onde boa parte das companhias têm controle difuso, essas disputas são entre os executivos que as comandam. "No entanto, habitualmente os estudos testam mais o impacto que podem ter a adoção de boas práticas de governança e, nesse trabalho, procurei fazer o caminho oposto e observar os problemas que podem decorrer da ausência destas práticas", explica.

Outra conclusão é a de que os conflitos não vêm se reduzindo com o tempo. Em 2001, foram observados três conflitos relevantes, mas em 2002 o número elevou-se para seis. Em 2003, foram quatro disputas societárias, número que voltou a subir para seis em 2004. O destaque positivo do ano de 2005, em que apenas duas brigas tiveram início, de acordo com o trabalho, logo se desfez este ano. Em 2006, até setembro, foram registradas cinco disputas. "Apesar de todo o movimento orientado para a adoção de boas práticas de governança, não se pode afirmar que os conflitos vêm diminuindo".

Entre as empresas analisadas estão: AmBev, Arcelor, Bamerindus, Biobrás, Bombril, Banco do Brasil, Brasil Telecom, Cataguazes Leopoldina, Cosipa, Eletrobrás, Enersul, Gerdau, Petroquisa, Rhodia Ster, Ripasa, Sanepar, CSN, Tele Centro Oeste Celular, Telefonica Data Holding, Telemar Norte Leste, Tele Norte Leste, Telesp Celular e TIM Participações.

Valor Economico - 21/11/2006

Preço da ação e Conflito 01


Reportagem da Gazeta de 21/11/2006:

Governança Corporativa - Notícia de conflito nas empresas faz ação cair São Paulo, 21 de Novembro de 2006 - O ano de 2006 vai passar para a história empresarial brasileira como o ano da governança corporativa. Nunca se discutiu tanto sobre o tema e nunca tantas companhias se mostraram abertas à busca de transparência, como mostra o aumento das discussões em público de conflitos de interesse envolvendo controladores e acionistas minoritários.

Este ano, o número de conflitos divulgados pela imprensa deve bater recorde. Já foram registradas oito ocorrências, entre elas Telemar e Arcelor, para citar as que mais fizeram barulho na mídia. Na avaliação do professor Alexandre Di Miceli, da Faculdade de Economia da USP, o aumento reflete um maior acompanhamento das empresas por parte de analistas de mercado e indica ainda que o público e a mídia estão mais atentos ao comportamento empresarial.

Miceli foi um dos vencedores do "Prêmio Revelação em Finanças Ibef-SP/KPMG", de 2006, com um estudo onde mostra, usando metodologia estatística, o rombo provocado pela falta de governança corporativa no bolso dos stakeholders (acionistas, fornecedores, consumidores). Segundo o estudo - realizado no período de 2000 e 2006, com base em 26 anúncios veiculados na imprensa, envolvendo 22 empresas -, as ações negociadas em Bolsa perdem em média 7% de seu valor nos dez dias após a divulgação do conflito.

Pesquisa com 22 companhias mostra que, na média, há perda de 7% no valor de mercado. O professor da FEA/USP, Alexandre Di Miceli foi premiado pelo estudo "Impacto das Divulgações de Disputas entre Acionistas e Controladores e Minoritários sobre o preço das Ações", onde demonstra, usando metodologia estatística, o rombo provocado pela falta de governança corporativa no bolso de todos os stakeholders.
O estudo, realizado no período de 2000 e 2006 , com base em 26 anúncios veiculados na imprensa, envolvendo 22 empresas, constatou que as ações negociadas em bolsa perdem, em média, 7% de seu valor nos dez dias após o nome da empresa aparecer na mídia. Entre os casos estudados, o da Cosipa foi o mais alarmante: a empresa chegou a perder 60% do seu valor de mercado.
"Esse resultado corroborou fortemente a hipótese do estudo de que o mercado reage de maneira brusca e negativa a notícias de disputas entre controladores e minoritários e outros conflitos", afirma Miceli.
Número de ocorrências
O setor econômico com maior número de ocorrências, conforme o estudo, foi o de telecomunicações, seguido pelos de química e siderurgia e metalurgia, com cinco ocorrências cada um. Os três foram responsáveis por 70% dos conflitos analisados.
A privatização esteve no centro dos conflitos apresentados por esses setores. Da maneira como foi realizada, criou estruturas de controle nebulosas. De acordo com Miceli, os principais conflitos apresentados pela amostra estudada foram: mudanças no bloco controlador; fechamento "branco" de capital; desrespeito aos direitos dos acionistas minoritários e transações duvidosas.
Como exemplo de transações duvidosas, o estudo cita o caso a multa que a Telefônica levou da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por deixar de convocar uma assembléia geral de acionistas para aprovar um contrato com a empresa do mesmo grupo, a Atento, para prestação de serviços de tele-atendimento.Concentração no Brasil
Um outro aspecto relevante do estudo diz respeito à estrutura de propriedade das empresas componentes da amostra. A existência de uma forte concentração de propriedade em países emergentes era esperado. No entanto, o Brasil tem uma concentração acima do esperado. "Aqui para uma pessoa ou grupo se tornar controlador de uma empresa é necessário possuir 50% das ações com direito a voto (ordinárias), mais uma, o que pode ser alcançado com um percentual bem inferior a 50% do capital total da companhia", conta.
Por outro lado, as empresas com menor concentração do direito de voto por um controlador, menor nível de endividamento, emissoras de ADR, maior tamanho e com ações mais líquidas apresentaram, em média, melhor desempenho, conforme o estudo do professor Miceli.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1 e B3)(Lucia Rebouças) - 21/11/2006

Vale x Funai


Notícia do Estado de hoje sobre o conflito entre Vale e Funai:

Funai e MP vão à Justiça contra Vale

A disputa entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Fundação Nacional do Índio (Funai) ganhou novo capítulo com um pedido de liminar à Justiça Federal de Marabá. Junto com o Ministério Público, a Funai pede que a Vale restabeleça o pagamento de R$ 596.915,89 mensais aos índios xicrins, no sudeste do Pará, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia. A Vale cortou a indenização após o bloqueio às suas instalações em Carajás, há um mês.

22 novembro 2006

Remédio para quem precisa

Notícia da Reuters informa que prefeito da cidade Novo Santo Antonio, estado de Mato Grosso, começou uma campanha para distribuição de remédios para população idosa. Mais especificamente, para os idosos daquela cidade. Na realidade o prefeito decidiu distribuir um remédio: Viagra. A campanha está provocando uma alteração nos velhinhos de Novo Santo Antônio e recebeu o sugestivo nome de "Pinto Alegre".

21 novembro 2006

Olimpíadas de Londres - Parte 2


O custo de se fazer as Olimpíadas é elevado. A de Londres parece que não foge a regra. Foi revelado que a estimativa inicial, de 2,3 bilhões de libras, deve ultrapassar a 5 bilhões.

Uma das razões decorre de um erro de mensuração. Segundo o Financial Times, de 5 de novembro, os organizadores esqueceram de levar em consideração cerca de 1 bilhão de libras (quase dois bilhões de dólares) referente aos custos dos impostos dos projetos de construção de infraestrutura para os jogos. Estes custos não foram incluídos na proposta dos organizadores em 2004.

E os jogos Pan-Americanos? Quanto custa?

Clique aqui para mais informações

20 novembro 2006

Congresso de Contabilidade

Teremos em 2007 o Primeiro Congresso de Contabilidade organizado pela ANPCONT, que é a associação dos programas de pós-graduação em Contabilidade.

O Congresso

O Congresso ANPCONT pretende ser um evento de importante significado acadêmico-científico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduaçào em Ciências Contábeis, em nível nacional. Este evento proporciona a interação da comunidade acadêmica, pesquisadores, professores e estudantes, representando um meio de divulgação da produção técnico-científica na área das Ciências Contábeis.



Este congresso concentra discussões relativas à Controladoria e Contabilidade Gerencial; Contabilidade para Usuários Externos; Mercados Financeiro, de Crédito e de Capitais; Educação e Pesquisa em Contabilidade. Sendo assim, o Congresso ANPCONT é um evento que busca estabelecer uma ligação entre estudos acadêmicos e aplicações em organizações, possibilitando aos participantes conhecer mais profundamente os diversos enfoques dos estudos nas Ciências Contábeis.


A primeira edição do Congresso está programada para o período de 17 a 19/6/2007, e com previsão de que ocorra a cada ano, sempre organizado pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis - ANPCONT.


Local de realização: Centro de Eventos Hotel Serra Azul - Gramado/RS
Número estimado de participantes: 200 pessoas
Abrangência do evento: Nacional

Comissão Organizadora

Profª. Dra. Ilse Maria Beuren

Prof. Dr. Fábio Frezatti

Prof. Dr. Jorge Katsumi Niyama

Prof. Dr. Ernani Ott

A realização do I Congresso ANPCONT tem como principais objetivos:
- Debater os temas relevantes das Ciências Contábeis, abordando aspectos referentes aos temas do evento;

- Divulgar a produção técnico-científica da área;

- Fortalecer a produção científica e o intercâmbio dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis do País.

Público-Alvo
O público-alvo do I Congresso ANPCONT são estudantes, professores, pesquisadores e profissionais. Espera-se Tendo em vista o número de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis existentes no Brasil, espera-se que o evento conte com cerca de 200 participantes.

Atividades Previstas
Para atingir os objetivos especificados, há uma série de atividades previstas para o I Congresso ANPCONT: a) sessões temáticas (apresentação de trabalhos); b) palestras; c) painéis; e d) workshops.

a) Sessões Temáticas

Deverão ser aceitos 48 trabalhos, sendo que 24 serão apresentados em sessões temáticas interativas e 24 serão apresentados em sessões temáticas convencionais. No total, estão previstas 16 sessões temáticas. Cada uma dessas sessões irá se desenvolver por um período de aproximadamente uma hora e meia e será constituída pela apresentação e discussão de trabalhos afins.

b) Palestras

Estão previstas três palestras contemplando o tema central do Congresso, que deverão contar com pesquisadores, representantes de órgãos de regulamentação e fiscalização da pós-graduação (CAPES) e de órgãos de fomento à pesquisa (CNPq).

c) Painéis

Estão previstos dois painéis, que contemplarão assuntos relacionados com o tema central do Congresso. Um painel que versará sobre estudos de caso para ensino e outro sobre a qualidade dos Cursos de Doutorado em Ciências Contábeis das universidades americanas.

d)Workshops

Está previsto um workshop que contemplará assuntos relacionados com o tema central do Congresso. O workshop consistirá de tema que abordará a avaliação de trabalhos científicos.

Serviços Incluídos

Conforme as necessidades comuns a qualquer evento, a organização e realização do I Congresso ANPCONT deverão incluir os seguintes serviços:

- ambiente com privacidade e conforto reservado para autoridades e convidados;

- serviço de hospedagem, alimentação e translado aos palestrantes e convidados;

- serviços opcionais de City Tour;

- pacotes promocionais de hotéis e lazer para participantes;

- equipamentos audiovisuais;

- internet;

- avaliação de satisfação dos participantes.


Mais informações, clique aqui

Olimpíadas


A estimativa inicial era de 2.3 bilhões de libras para os Jogos de Londres. O comentário é que deve ultrapassar a 5 bilhões (clique aqui para link em inglês). Isto equivale a 300 novos hospitais (clique aqui). Vale a pena?

Lei e mercado


Trabalho de Rafael La Porta, Florencio Lopes-de-Silanes e Andrei Shleifer, do número de fevereiro de 2006 do Journal of Finance, procurou estabelecer o impacto da lei no desenvolvimento do mercado acionário de 49 países, inclusive o Brasil (Planilha com dados, em Excel, pode ser obtida aqui). Até que ponto o nível de evidenciação possui relação com as características legais de cada país. Achei interessante a metodologia de pesquisa utilizada pelos autores, pouco comum em artigos publicados no Journal of Finance: questionários para advogados (um questionário para cada país) descrevendo a lei do mercado de capitais. O Brasil saiu mal em exigências de evidenciação.

19 novembro 2006

Rir é o melhor remédio 23

Razão do aumento da terceirização


É inegável que tivemos um aumento na terceirização nos últimos anos. Uma das razões para este aumento pode ser explicado pela teoria da agência. Como?

"A terceirização dos negócios [ocorreu] (...) também por que se tornou mais fácil para as empresas monitorarem e previnir os custos de agência da terceirização."

Fonte: Economic

Poder da economia


Uma reportagem do mês passado mostra como é importante cultivar bons hábitos econômicos desde cedo. Utilizando como mote uma propaganda que incentiva o pai a presentear seu filho com um celular, a jornalista Mara Luquet, especialista em finanças pessoais, mostra que este mero presente, se trocado por aplicações financeiras, pode render um apartamento. É o poder dos juros compostos.

A seguir a reportagem, do Valor Econômico de 16 de outubro de 2006.

Em vez de celular, dê um apartamento para seu filho de 4 anos

Mara Luquet
Na última semana, foi possível ver o avanço tecnológico no portfólio de presentes para crianças. O que chamou mais a atenção foi um celular feito especialmente para crianças a partir dos 4 anos de idade.

Fala sério!!! Celular para crianças a partir de 4 anos?! Mas os produtos foram lançados porque há um enorme mercado. Crianças adoram celulares e os pais compram. Na verdade, os pais também adoram e há muitos argumentos em defesa, como a facilidade para encontrar seus filhos. Mas o fato é que crianças de 4 anos não andam desacompanhadas. E mesmo as mais velhas deveriam contar com mais atenção de seus pais do que simplesmente carregarem um celular. Mas essa é outra discussão.

A proposta é: dê um apartamento para seu filho, não o celular.

Simulação feita pelo economista Robinson Moraes, da equipe do Valor Data, mostrou que o valor desse celular, anunciado pela bagatela de R$ 800, pode render ao seu filho um bom dinheiro. Uma aplicação inicial de R$ 800, mais mensais de R$ 50 (o equivalente à conta de telefone, numa projeção muito conservadora) a uma taxa média anual de 8% chega ao final de 18 anos a R$ 26,6 mil. Se a carteira de investimento tiver um perfil mais agressivo e conseguir uma taxa média anual de 10% de retorno, o valor chega a R$ 33,3 mil.

Você pode então resgatar o dinheiro porque seu filho de 4 anos, que não ganhou o celular, terá 22. Mas se não o fizer e deixar aplicado por mais 20 anos, sem fazer nenhum aporte adicional, ele chegará à meia idade com um presente de R$ 155 mil (a uma taxa de 8% ao ano) ou de R$ 223 mil (a uma taxa de 10%). Um presentão que não exigiu nenhum esforço financeiro.

Adultos que aprendem na infância que os recursos são escassos costumam se tornar consumidores conscientes, o que faz bem não apenas para ele, mas para toda a comunidade. Sobre este tema vale a pena conhecer o trabalho do Instituto Akatu (www.akatu.org) e apresentá-lo também ao seu filho.

Agora, se você quer ajudar seu filho a alcançar a independência financeira e ainda contribuir para a boa saúde física e mental dele, então vá além. Aproveite a semana para fazer uma verdadeira limpeza nas quinquilharias eletrônicas que ele acumula no quarto. Comece pela televisão. É normal crianças e adolescentes terem suas próprias televisões no quarto. Um erro grave, segundo especialistas. Um estudo recente da Kaiser Family Foundation (www.kff.org) diz que 43% das crianças entre 4 e 6 anos têm televisão no quarto.

Esse mesmo grupo vê mais do que duas horas de TV por dia. A recomendação da Academia Americana de Pediatras (www.aap.org) é de que crianças acima de dois anos vejam no máximo duas horas de TV por dia. Para crianças abaixo de dois anos, a recomendação da academia é de que elas não assistam TV. No entanto, segundo a pesquisa da fundação Kaiser, mais de 40% dos bebês de até dois anos assistem TV todos os dias.

Quando questionados por que compraram a televisão para o quarto do filho, 55% dos pais responderam que essa era a forma de evitar brigas na hora da escolha da programação. O segundo motivo foi a capacidade da TV de manter o filho ocupado numa atividade segura, enquanto os pais podem cuidar de outros assuntos. Ou seja, nos dois casos, a TV resolve problemas dos pais, não dos filhos.

Já um trabalho da Academia Americana de Pediatria enumera os benefícios que as atividades físicas trazem não apenas para a saúde física, mas principalmente mental do seu filho. Jogar bola, correr, caminhadas, enfim, um lazer ativo é muito importante, segundo esse trabalho, para reduzir o estresse da criança e do adolescente e contribui fortemente para seu bem-estar.

Há muitos outros dados nas pesquisas apresentadas pela fundação Kaiser e que investigam crianças também em outras faixas etárias. Todas elas constatam que crianças e adolescentes estão perdendo muito do seu tempo com jogos eletrônicos, TV, computador, e atividades que podem comprometer seu bem-estar, com sérias implicações para o seu sucesso profissional e pessoal futuro.

O resumo dessa ópera é que ralos enormes no orçamento doméstico, como contas de telefone e de luz e ainda a pressão por gastos com as últimas novidades tecnológicas são criados pelos próprios pais. Eles vão buscar paliativos que custam caro. Mas, veja que ironia, o melhor investimento para seu filho não exige dinheiro, mas justamente o que lhe é mais caro: seu tempo.

Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do Guia Valor Econômico para o Planejamento da Aposentadoria

E-mail mara.luquet@valor.com.br

18 novembro 2006

Fatos da Semana


1. Morte de Friedman - o defensor do livre mercado acreditava que a responsabilidade social da empresa resume em gerar lucro. Polêmico, mas produtivo com mais 90 anos. Clique aqui para ver um ranking dos economistas mais produtivos dos Estados Unidos em outubro (aparecem na posição 270o.)

2. Ainda a questão da Petrobrás e Bolívia. Agora a contabilização das reservas - Clique aqui para ler

3. A assembléia da Telemar, que não deu em nada - Clique aqui

4. A briga da Vale com o governo e os índios. Clique aqui, aqui, aqui, aqui e aqui

5. Lucro do BB e BNDES. Os estatais também são rentáveis.

6. Os sócios misteriosos da Ecodiesel - Clique aqui e aqui

7. GM e Ford precisam dar garantias para obter empréstimos - Clique aqui

17 novembro 2006

Petrobrás deve contabilizar as reservas na Bolívia


Eis aí uma boa questão para pensarmos. As reservas que a Petrobrás tem contrato na Bolívia para operar devem constar de seu balanço? Segundo o ex-ministro boliviano, não. Segundo a empresa, sim. E a teoria, o que diz?

Eis uma nota do Valor de hoje sobre isto:

O Ministério da Presidência da Bolívia afirmou, em nota divulgada anteontem, que as petroleiras que operam no país não poderão contabilizar em bolsa as reservas bolivianas. A medida contradiz declarações recentes do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, para quem a contabilização seria possível mesmo após a assinatura dos contratos de concessão. As companhias querem anotar como suas as reservas que operam na Bolívia porque estas podem ser usadas como garantia de financiamentos.

A Petrobrás informou ontem, porém, que não contabiliza reservas que opera, nem mesmo as brasileiras. A estatal explica que o que anota em seu balanço é o direito de operar as reservas, que, mesmo no Brasil, pertencem à União. Na época em que explicou o contrato com a Bolívia, Gabrielli disse que a área jurídica da empresa avaliara que, como se trata de um contrato de operação, as reservas podem ser contabilizadas.

Telemar


A decisão sobre a questão dos minoritários da Telemar ainda não saiu. A falta de quórum da assembléia do dia 13 impediu a votação sobre a reestruturação societária. Veja, a seguir, a reportagem do jornal Valor Econômico:

Decisão de Telemar deve ir para os pênaltis

Daniele Camba
Aconteceu o que o mercado previa: a decisão sobre a reestruturação societária da Telemar vai ficar para o fim do mês. Até lá, as ações da companhia devem oscilar ao sabor das expectativas da operação ser ou não concrentizada. Por falta de quórum na assembléia de ontem, o assunto não pôde ser votado. Era necessária a presença de pelo menos 50% mais um das ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e só estavam presentes 29,17% das PNs. Na melhor das hipóteses, a próxima tentativa ocorrerá daqui dez dias, ou seja, no dia 23, e mais uma vez o quórum mínimo para instalar a assembléia é de 50% mais um das preferenciais. Se novamente não se atingir esse percentual, daí haverá uma terceira tentativa. Ela poderá ocorrer no mesmo dia dessa segunda assembléia, mas com aprovação exigida de apenas 25% das PNs.

Ontem, as ações da companhia refletiram a dificuldade da aprovação do negócio logo de bate e pronto. Em um dia em que o Índice Bovespa caiu 0,28%, as preferenciais subiram 2,31%, figurando entre as maiores altas do índice. Em tese, os detentores de PN têm todo o interesse que a reestruturação não ocorra, já que pela relação de troca das ações a participação deles no capital da empresa será bastante diluída. Já as ordinárias (ONs, com direito a voto), que ganham com a operação, caíram ontem 0,76%.

A relação entre ordinária e preferencial ontem era de 2,05 - o preço de uma ON representava cerca de 2,05 ordinárias -, mais baixo que os 2,1 da sexta-feira e ainda mais distante da relação de 2,6 estabelecida na operação. A leitura do mercado foi de que a falta de quórum significa que o negócio tem poucas chances de vingar, diz um analista.

O que se espera é que os controladores da Telemar tentem levar a decisão para os pênaltis (na terceira assembléia), exatamente para precisar de uma quantidade muito menor de acionistas endossando a reestruturação. Se isso ocorrer, os palpites estão divididos sobre qual será o desfecho.

Um acionista que participou da assembléia de ontem, estima que, dos 29% que estavam presentes, cerca de 24% estariam contra o negócio, restando apenas 5% a favor. Isso significa que o grupo favorável precisaria de, no mínimo, adesão de mais 20% das PNs para passar o negócio na terceira assembléia, o que dificultaria a vida do controlador. Já na visão de outro acionista que também participou da assembléia, alguns minoritários importantes não teriam comparecido, o que reforçaria a tese de que são a favor e devem comparecer apenas na terceira chamada, facilitando a aprovação com quórum reduzido.

Qualquer cenário com base na assembléia de ontem, no entanto, é pura especulação, já que a empresa não divulgou a lista de presentes. Para um analista do setor de telefonia, essa atitude prova a falta de transparência da empresa. "As ações preferenciais vão cair mesmo que a operação não passe, pois o evento deixou claro que o controlador não está comprometido com os minoritários", completa o analista, que recomenda a venda das preferenciais da Telemar para quem já possui lucros com o papel.

Queda das vedetes

A queda nos preços das commodities no mercado internacional deflagrou mais um pregão de baixa na bolsa de valores brasileira. O movimento externo contaminou as ações de companhias como Petrobras e Vale do Rio Doce, que juntas representam cerca de 30% do Índice Bovespa. As ações ONs e PNAs da Vale caíram 2,07% e 2,45%, respectivamente. Já as ordinárias da Petrobras caíram 3,04% (a segunda maior queda do Ibovespa) e as preferenciais 2,76%. Além das commodities, o resultado da Petrobras no terceiro trimestre um pouco abaixo do esperado acentuou o movimento de vendas dos papéis da companhia.

Ainda mais de Vale x Índios


A questão entre a Vale do Rio Doce e os Índios permanece. Hoje, no Estado de S. Paulo, nova reportagem sobre a empresa e a ajuda que a mesma fornece aos índios. A empresa disse que dá mais ajuda aos índios que o próprio governo, apesar de não ter obrigação legal para isto. Parece que a empresa percebeu que era refém do auxílio e estava sendo ameaçada.

Vale diz que dá mais ajuda a índios do que a Funai

Apesar disso, empresa sustenta que não tem obrigação de repassar verba

Irany Tereza

A Vale do Rio Doce informou ontem que destina mais dinheiro a cada índio das reservas próximas às áreas de mineração que explora do que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) juntas - embora sustente que não tem obrigação legal de repassar esses recursos.

A empresa foi acusada ontem pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de fugir a suas responsabilidades. Em entrevista ao Estado, Mércio disse que ela tenta escapar dos compromissos que assumiu com as comunidades indígenas na época de sua privatização.

Segundo o diretor de Assuntos Corporativos da Vale, Tito Martins, a empresa encerrará o ano com a destinação de quase R$ 30 milhões aos índios. 'São cerca de R$ 10 mil por índio ao ano, é mais do que fazem a Funai e a Funasa juntas.'

A Vale está recorrendo à Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o governo brasileiro. Segundo Martins, a petição tem por objetivo obrigar o governo a assumir responsabilidades no trato com os índios e tornar viáveis as relações entre suas comunidades e a Vale. 'O que está nos incomodando é que se está desviando do foco principal: cadê a política indígena?', disse o executivo.

Segundo ele, as três recentes invasões de tribos a instalações operacionais da Vale causaram perda estimada em US$ 32 milhões. 'Há seis etnias diferentes. Se cada uma delas invadir nossas instalações pelo menos uma vez por ano, teremos um prejuízo entre US$ 70 milhões e US$ 80 milhões. Não podemos continuar nessa situação', reclamou Martins. Ele foi mais longe: disse que havia representantes da Funai entre os invasores do Complexo de Carajás. 'Se isso não é apoio, é pelo menos omissão', acusou.

O diretor alegou que um decreto a que se referiu o presidente da Funai, que obrigaria a Vale a dar assistência aos índios, levava em conta um acordo de concessão de direito de uso da terra que não chegou a ser assinado com o governo. A empresa diz ter responsabilidades ambientais e sociais, mas não que envolvam explicitamente as comunidades indígenas.


Aqui, o outro lado...

Funasa nega desentendimentos

A presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) criticou ontem as declarações feitas ao Estado pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, sobre a falta de entendimento entre os dois órgãos federais na área de atendimento aos índios.

Em nota, a Funasa afirma que as duas instituições já atuam em conjunto e que o atendimento teve 'avanços significativos'.

Lucro do BNDES

O lucro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no período de janeiro a setembro foi de R$ 5,716 bilhões. Aumento de 132% relação ao mesmo período de 2005. Metade deste lucro ocorreu no terceiro trimestre: R$ 2,399 bilhões. É recorde na história do banco. Os tempos são propícios também para os bancos estatais.

Variação dos preços e Valor Justo

A reportagem a seguir, da The Economist da semana, comenta a variação nos preços específicos dos produtos. Uma das críticas ao uso do valor justo na contabilidade financeira é exatamente a variabilidade no processo de mensuração contábil. Será que a relação do custo x benefício seria favorável ao valor justo?

Como e por que os preços variam se a inflação é estável?

The Economist
Dos Estados Unidos à Nova Zelândia, a estabilidade de preços é o "objeto de desejo" dos bancos centrais. Muitos deles vivem nessa Terra Prometida, ou perto dela: a inflação nos preços ao consumidor é 2,1% nos EUA, 1,6% na zona do euro, 2,4% no Reino Unido e 0,6% no Japão. Seria de imaginar que, como o nível geral dos preços não está mudando muito, o mesmo estaria acontecendo com preços de cada produto individualmente. Isso não é, necessariamente, verdade, como estão descobrindo os economistas tanto nos EUA como na Europa.

Com que freqüência os preços individuais são alterados é uma questão importante. Modificações nos preços são como semáforos para a economia, sinalizando às pessoas comprar mais disso e menos daquilo, gastar ou poupar ou procurar novo emprego. Se os semáforos mudam prontamente, os recursos podem ser redirecionados harmoniosamente; se enguiçam, travam a economia.

Em especial, se nem os preços nem os salários caírem com facilidade, o custo - em produção e empregos - da redução da inflação pode ser alto. Estabilidade de preços também implica que um choque inflacionário - por exemplo, um aumento no preço do petróleo - pode levar muito tempo para repercutir pelo sistema.

Embora de grande relevância macroeconômica, as evidências sobre estabilidade de preços estão no detalhe microeconômico de milhares de preços. Até há pouco tempo, os economistas sabiam surpreendentemente pouco sobre com que freqüência e em que medida os preços mudam, porque o volume de informações necessário é enorme e freqüentemente sigiloso (idealmente, os analistas preferem trabalhar, por exemplo, com os números com que são calculados os índices de preços ao consumidor ou com leituras dos scanners dos supermercados). Recentemente, porém, diversos pesquisadores tiveram acesso a dados úteis e os vêm analisando.

A maior parte dessas primeiras análises foi feita nos EUA - e muitas delas examinaram os preços de apenas alguns produtos, como revistas em bancas de jornais ou produtos adquiridos por reembolso postal. As pesquisas concluíram que esses preços mudaram apenas cerca de uma vez por ano.

Mas um estudo publicado em 2004 por Mark Bils, da Universidade de Rochester, e Peter Klenow, da Universidade Stanford, descobriu que a maioria dos preços muda mais freqüentemente. Bils e Klenow usaram dados de 350 produtos e serviços acompanhados pelo Birô de Estatísticas do Trabalho para calcular o índice de preços ao consumidor. Eles estimaram que, de 1995 a 97, metade desses preços mudaram pelo menos a cada cinco meses.

Novas pesquisas feitas por Emi Nakamura e Jon Steinsson, ambos alunos de pós-graduação em Harvard, salientam a importância de liqüidações e promoções na freqüência das mudanças de preços nos EUA. Liqüidações são muito mais comuns em alguns mercados que em outros, respondendo por 87% das mudanças nos preços de roupas (por exemplo, liqüidação de queima de estoques), 67% no caso de móveis (todos aqueles sofás pela metade do preço) e 58% dos alimentos processados (as latas de feijoada estão novamente com descontos), mas não há liqüidações de combustíveis para automóveis ou de água e eletricidade, e são praticamente inexistentes no setor de serviços (você se lembra de algum advogado que tenha lhe oferecido um desconto?).

Depois de excluídos os efeitos de liqüidações e ofertas especiais, a duração mediana dos preços no varejo ficou entre 8 e 11 meses em 1998-2005. Levando em conta as liqüidações, a duração da estabilidade dos preços cai para a metade, portanto um resultado aproximadamente coerente com os obtidos por Bils e Klenow. É também relevante, mas apenas um pouco, que Nakamura e Steinsson tenham estudado um período posterior, quando a inflação era ligeiramente inferior: eles assinalam que uma inflação elevada induz o comércio a subir os preços mais freqüentemente.

As evidências na zona do euro, fruto de um projeto de três anos do Banco Central Europeu (BCE) e concluído neste ano, sugere que os preços lá mudam menos freqüentemente do que nos EUA. Os economistas europeus descobriram que os preços no varejo mudam a cada quatro ou cinco trimestres.

A eliminação dos efeitos das liqüidações, onde havia dados disponíveis, fez pouca diferença: aparentemente, as liqüidações têm repercussão muito menor do que nos EUA. Esse resultado é coerente com a percepção generalizada de que a zona do euro tem uma economia menos flexível e ágil do que os EUA. Apesar disso, a Europa está longe de ser rígida: mais de 40% das mudanças registradas nos preços foram reduções, um percentual bastante parecido com as estimativas para os EUA. As variações nos preços na Europa, quando aconteceram, tenderam a ser grandes, seja para cima ou para baixo: o aumento médio foi de 8% e a redução média foi 10%, numa inflação de aproximadamente 2%. As variações dos preços nos EUA, para cima ou para baixo, são também bem maiores do que a inflação.

Nos dois lados do Atlântico, a freqüência das mudanças no preços varia enormemente. De modo geral, quanto maior a participação de matérias-primas num produto, mais freqüentes são suas mudanças de preços - os preços da gasolina mudam, em média, em cinco de cada seis meses tanto nos EUA como na Europa; os preços de alimentos frescos são alterados muito mais freqüentemente do que os de alimentos processados. Os preços de serviços são mais estáveis do que os de produtos. Isso pode ser conseqüência de serviços tenderem a ser mais intensivos em mão-de-obra do que produtos e de os salários serem mais estáveis do que outros preços. Isso parece ser especialmente válido na Europa, onde os mercados de trabalho são menos flexíveis que nos EUA e os serviços são mais regulamentados.

Menos de 6% dos preços dos serviços compilados na pesquisa da zona do euro mudam todo mês. Nos EUA, Bils e Klenow estimam a freqüência em torno de 20%; Nakamura e Steinsson dizem que a freqüência é de 44% no caso de preços de viagens e 9% para outros serviços. Mas as comparações transatlânticas são dificultadas pela diferenças nos serviços estudados.

O que as autoridades monetárias podem aprender com essas pesquisas? De modo geral, a investigação deve ser, provavelmente, motivo de otimismo, e não apenas porque diz aos BCs muita coisa sobre como suas economias funcionam. Os economistas europeus dizem que a inflação tornou-se menos persistente com o passar do tempo, à medida que a política monetária passou a concentrar-se em estabilidade de preços e na manutenção de baixas expectativas inflacionárias. E as evidências sobre estabilidade de preços pode deixar os BCs nos dois lados do Atlântico mais confiantes na manutenção de inflação baixa - teoricamente uma tarefa difícil se os preços raramente caem. As pesquisas sugerem que os preços caem com bastante freqüência - os BCs, assim como os consumidores, podem agradecer por todos aqueles cortes de preços nas latas de feijoada. (Tradução de Sergio Blum)


fonte: Valor Econômico, 13/11

Efeito diploma


Estudo revela queda do 'efeito-diploma' sobre salário

Raquel Salgado
Ter um diploma já não é mais uma vantagem tão grande na conquista de um salário melhor. Como mais pessoas estão se qualificando no país, os ganhos de rendimento relativos ao maior tempo dispensado à escola estão diminuindo. Em 2004, por exemplo, um trabalhador com o ensino superior completo ganhava 19,2% a mais do que aquele que tinha ido até o penúltimo ano desse nível. Em 1982, esse diferencial era muito maior, de 31%.

Um movimento semelhante, mas de menor intensidade ocorreu no ensino médio, chamado antes de colegial. Em 1982, ter completado os três anos desse grau fazia com que o salário subisse 31,8%. Dez anos depois, essa diferença atingiu os 40,5%. Pelos últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que são de 2004, o retorno à conclusão do ensino médio caiu para 27,2%. Os dados estão em um estudo dos economistas Anna Crespo e Maurício Cortez Reis.

"A tendência é que o prêmio refletido em salário maior por ter mais escolaridade diminua ao longo do tempo", comenta Reis, que é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso tem acontecido porque a população brasileira está cada vez mais educada.

Não adianta nem mesmo completar os quatro anos do primário. Há 14 anos, estudar esses quatro anos levava a um incremento de 3,5% no rendimento. Hoje, esse grau não agrega absolutamente nada ao salário.

Em 1992, 9,6% dos trabalhadores brasileiros tinham completado o ginásio. Em 2004, esse número subiu para 11,6%. No ensino médio, a elevação foi ainda mais significativa no período: de 14,2% para 23,6%. A quantidade de pessoas com um diploma de graduação também cresceu e foi de 5,4% para 6,4%. Em compensação, a quantidade de pessoas com pouca escolaridade tem declinado. No começo da década de 80, 26% dos ocupados tinham cursado os quatro primeiros anos da escola. Dez anos depois, em 1992, esse número cedeu para 21,2% e agora, em 2004, despencou para 13,55%.

A redução do diferencial entre os salários embora pareça algo negativo à primeira vista, é um movimento natural de mercados de trabalho mais desenvolvidos. E, no Brasil, tem tido alguns reflexos positivos. Um deles é ajudar na diminuição da desigualdade social, explica Naércio Aquino Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo e do Ibmec. Quanto maior for a escolaridade, menor será o prêmio por ela. E isso não é ruim, ressalta o economista. "A queda se dá em termos relativos e não significa que uma pessoa graduada está ganhando menos em valores absolutos, mas sim que ela não ganha tão mais que as outras", diz.

Apesar da maior escolarização dos brasileiros e do aumento nos graus de escolaridade, os números ainda são muito precários. Na Argentina, a média da população tem 12 anos de estudo, enquanto no Brasil essa média está em torno de 7 anos, comenta Menezes Filho. A qualidade da educação brasileira também deixa a desejar. Porém, para ele, é melhor colocar todas as crianças na escola ainda que o ensino não seja o ideal. Foi isso o que fizeram países como a Coréia do Sul.

"Não adianta melhorar a qualidade sem antes incorporar todo mundo à escola. Se não for assim, cria-se um estudo de elite, como a que tivemos aqui no passado", diz. Menezes Filho também defende o aumento do tempo que a criança passa na escola e o uso de instrumentos que motivem e avaliam de perto os professores. "O salário deles deveria depender do desempenho dos alunos em testes de proficiência", sugere o professor da USP.


Fonte: Valor econômico, 13/11