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05 outubro 2014

Listas: Taxa de Fidelidade ao Governo

Índice de alinhamento da bancada em relação à orientação do líder do governo em 281 votações

1. PTC = 97%
2. PT = 95%
3. PC do B = 91%
4. PSL
5. PRB
6. PRTB
7. PP
8. PMDB
9. PHS
10. PSB = 79%

25. DEM = 38%
26. PSDB = 36%

Fonte: Esta do de S Paulo, 15 de setembro de 2014, p. H3.





25 setembro 2014

Curso de Contabilidade Básica: Empresa e Política

Seriamos inocentes se acreditássemos que uma empresa, através de seus gestores, não tenta exercer influencia política. A defesa dos interesses ocorre de diversas formas em parte pela grande dependência que a economia brasileira tem do Estado. Em suma, as conexões políticas são importantes para o próprio desempenho das empresas.

Por este motivo, não é surpreendente saber que algumas empresas fazem doações milionárias para certos candidatos. Entre estas empresas, a JBS foi aquela que mais fez doações nas eleições de 2014 (pelo menos por enquanto). Nós iremos mostrar quais as razões que levaram a JBS a fazer estas doações.

Inicialmente é importante destacar que a JBS é uma empresa que atua no abate e processamento de carnes e produtos derivados. Ou seja, não é uma empresa que possua no governo seu principal cliente. Mas, o mercado de carnes é regulado pela Anvisa, que fiscaliza as condições deste abate e processamento. Além disto, o Ministério do Trabalho também pode ter um poder sobre a empresa, quando interfere nas condições de trabalho nas fazendas e abatedouros.

Um segundo aspecto relevante é que a JBS é uma empresa com uma receita de R$30 bilhões por trimestre. O fato de ser uma das maiores empresas faz com que qualquer valor doado seja relevante em termos absolutos, mas talvez não seja expressivo em termos relativos. Conforme publicado pelo jornal Valor Econômico em 23 de setembro de 2014, a empresa tinha desembolsado R$113 milhões para as eleições. Isto representava 35% do total de doações realizadas por grandes grupos econômicos. O jornal afirma que isto corresponde a 51% dos dividendos distribuídos, mas esta comparação não é muito justa com a empresa, já que o valor dos dividendos pagos depende do lucro e a política de retenção (ou não) deste lucro. De qualquer forma, os valores pagos nas eleições representam 0,4% da receita. Mas, por outro lado, R$113 milhões é 28% do imposto de renda do segundo trimestre do ano.

O ponto crucial é tentar entender a razão pelo volume de doação realizado pela Friboi. Afirmamos que não é a receita, já que o governo não é o seu principal cliente. Entretanto, uma grande parcela da receita é originária da exportação. Neste caso, o governo pode ser “bonzinho” para a empresa com uma política de incentivo à exportação.

Mas observando o balanço patrimonial da empresa, do final do segundo trimestre de 2014, encontramos um ponto interessante:

De um ativo de 71 bilhões de reais, a parcela de empréstimos e financiamentos corresponde a quase 50%. Parte deste ativo é proveniente dos bancos estatais.

Mais uma informação. O Tribunal de Contas da União solicitou ao BNDES, um banco do governo que financia empresas, a informar sobre os investimentos realizados no frigorífico. Na página da empresa encontra-se a seguinte informação:

Assim, 35% do capital são provenientes do governo. Será necessária mais explicação para o excessivo volume de doações. (Por sinal, proporcionalmente, das doações R$113 milhões, R$40 milhões são provenientes do próprio governo. Não seria o caso de proibir doações de empresas com participação expressiva do governo no capital?)

18 setembro 2014

Aparência e política

Seria incorreto dizer que a beleza é capaz de definir uma eleição para presidente. Mas é inegável que uma aparência adequada - que inclui linguagem corporal, postura e figurino - é uma ferramenta bastante eficiente para impactar os eleitores. (Vanessa Barone, Aparência, um cabo eleitoral de peso, Valor Econômico , 9 de setembro de 2014)

Este é um assunto interessante. No passado conduzi uma pesquisa com um aluno de graduação. Tomamos os cinco políticos mais bem votados do Paraná e cinco com baixo nível de votação. Escolhemos o Paraná por ser um estado distante onde a pesquisa foi realizada e, por isto, não poderia exercer influencia sobre o resultado.

Com as fotografias dos políticos, projetamos para uma classe de alunos as fotografias, dispostas aleatoriamente. Fizemos uma projeção dos retratos em poucos segundos e os alunos deveriam marcar o grau de confiabilidade nos políticos. O resultado mostrou que a turma sabia distinguir os políticos “vencedores”, atribuindo notas mais elevadas, dos políticos “perdedores”.

Existe um viés nesta pesquisa que talvez ajude a explicar o resultado: o político com recursos financeiros provavelmente deve gastar mais contratando um fotografo profissional, sabendo que uma boa imagem é importante para conquistar votos. Já o político com poucos recursos não deve gastar seu dinheiro com um profissional e provavelmente a qualidade da fotografia não é muito adequada. Assim, não seria a aparência o fato relevante, mas os recursos financeiros do candidato.

06 setembro 2014

Fato da Semana

Fato: Política e Contabilidade. As eleições estão se aproximando e a questão política termina por embaralhar com questões contábeis. A denúncia que um candidato recebeu mais de um milhão com palestras, sendo que trinta mil vieram do sistema CFC-CRC, é o início. A revista Veja traz a denúncia que parte da despesa da Petrobras era para “comissão”.

Qual a relevância disto? A questão da palestra ocorreu num encontro sobre a mulher na contabilidade e a presença da candidata é razoável. Já a denúncia da Petrobras parece rememorar o caso do mensalão. Nos próximos dias a empresa estatal será objeto de discussão e debates.

Positivo ou Negativo? Negativo. Quando a imprensa começa a associar o nome da contabilidade com corrupção e política cria uma associação negativa para o profissional.

Desdobramentos: Será somente uma questão eleitoral? Não parece.

15 julho 2014

Entrevista com Francis Fukuyama

Em 1989, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigoO fim da história? na revista The National Interest. Nele, argumentava que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizavam o fim da evolução sociocultural da humanidade. Três anos mais tarde, ele publicaria o livro O fim da história e o último homem, onde expandia essas ideias.
Decorrido um quarto de século, os pontos de vista de Fukuyama continuam sendo debatidos e criticados. Em entrevista à DW, o filósofo de 61 anos afirma que tais ataques a seu texto são decorrentes de uma interpretação equivocada, e defende suas teses à luz de eventos geopolíticos recentes.
DW: Em 1989, o senhor publicou seu artigo mais conhecido, O fim da história?. Vinte e cinco anos atrás, numerosos críticos diziam: "Esse cara está errado." O senhor sente que foi mal entendido ou admite agora que estava errado?
Francis Fukuyama: Acho que os maiores problemas têm a ver com um mal entendido. O conceito de "fim da história" era a questão: em que rumo a história aponta? Para o comunismo – que era o ponto-de-vista de muitos intelectuais, antes – ou na direção da democracia liberal? E acho que, neste ponto, ainda estou certo.
História, no sentido filosófico, é realmente o desenvolvimento, ou a evolução – ou modernização – de instituições, e a questão é: nas sociedades mais desenvolvidas do mundo, que tipo de instituições são essas?
Acho que está bem claro que qualquer sociedade que pretenda ser moderna ainda precisa ter uma combinação de instituições políticas democráticas com uma economia de mercado. E eu não acho que a China, a Rússia ou qualquer outro concorrente invalidem esse argumento.
No tocante a sistemas e governos que funcionem, qual é a sua visão de seu próprio país, os Estados Unidos?
Eu argumento, num próximo livro, que o sistema político americano se deteriorou em muitos aspectos por ter sido seriamente sequestrado por diversos grupos de interesses poderosos. Muitos dos instrumentos de freio e contrapeso (checks and balances), de que nos orgulhamos, resultaram, na prática, no que eu chamo de "vetocracia", ou seja: grupos demais detêm o poder de barrar decisões. Como resultado, o Congresso ficou paralisado, o que eu considero um grande problema para nós.
As instituições democráticas americanas estão em decadência? O que isso significaria para os EUA, como um todo: eles são uma superpotência em retirada?
Não, não vejo a coisa assim, absolutamente, porque na verdade a economia americana está bem de saúde e é, provavelmente, a mais saudável de todas as grandes economias democráticas. Gás de xisto, Silicon Valley: há muitas fontes de crescimento e inovação. Eu apenas acho que o sistema político não vai bem. Mas a sociedade americana é sempre um pouco mais o setor privado do que o setor público.
Voltando a O fim da história, qual é a sua previsão para os próximos 10 ou 20 anos?
Acho que nós estamos passando por um período difícil, em que tanto a Rússia quanto a China se expandem. Mas estou convencido de que é um fenômeno limitado, que, a longo prazo, só existe uma ideia organizadora importante: a ideia de democracia numa economia de mercado. Portanto, a longo prazo, eu continuo otimista.
Fonte: aqui

17 junho 2014

Fronteiras no Google Maps

O Google Maps apresenta as fronteiras entre os estados e países. Para 31 países, o Google Maps não apresenta suas fronteiras. O motivo é político. Nestas 31 exceções geralmente são situações onde existem controvérsias sobre a fronteira e assumir uma “fronteira” pode desagradar os países envolvidos nas disputas pelo território. E isto já ocorreu no passado, como nas fronteiras da Cachemira, que gerou protestos de Índia e Paquistão. Afigura a seguir mostram estes 31 países:


25 maio 2014

As veias abertas ...

O livro "As Veias Abertas da América Latinas", de Eduardo Galeano, é considerado um clássico para aqueles que não gostam do capitalismo e dos EUA. Chávez, o finado populista venezuelano, chegou a presentear Obama com um exemplar.

Agora, Galeano, com 73 anos de idade, reconhece que o livro é ruim (e mal escrito). Esta afirmação ocorreu numa feira de livro no Brasil.

"Eu não seria capaz de ler este livro de novo"

Apesar disto, o livro já foi traduzido para diversos idiomas e já vendeu mais de um milhão de cópias. Leia mais aqui

20 maio 2014

Bancos Governamentais e Eleições

Sabemos que o governo, quando próximo às eleições, tende a expandir seus gastos, sendo seletivos para aquelas obras que possuem influencia política. Além dos gastos públicos, o governo no Brasil tem-se utilizado dos bancos governamentais para expandir o crédito de tal forma que influencia as decisões das próprias empresas.

Uma interessante pesquisa de Daniel Carvalho, publicada no último número do The Journal of Finance, mostra que este controle do governo brasileiro sobre os bancos afeta as decisões das empresas, em particular de alguns setores considerados “prioritários” (produtos químicos, máquinas e equipamentos, papel e celulose, metalurgia, automobilística e alimentos). O governo usa os bancos para expandir empréstimos, principalmente nas regiões onde as eleições se mostram mais competitivas.

A análise sugere que os políticos no Brasil utilizam empréstimos bancários para mudar de emprego para as regiões politicamente atraentes e longe de regiões pouco atraentes.

É importante destacar que a pesquisa de Carvalho abrange um período relativamente longo, de 1995 a 2006, e abrange todas as empresas industriais com mais de 50 empregados.


Leia Mais: CARVALHO, Daniel. The Real Effects of Goernment-owned banks. The Journal of Finance, vol. LXIX, n. 2, abr 2014. (uma cópia pode ser lida aqui)

07 abril 2014

Entrevista com Samuel Pessoa



Samuel Pessoa, um físico que leciona economia, estreitou as relações com o PSDB na campanha presidencial deste ano. O senador Aécio Neves, candidato dado como certo para a legenda, anunciou que ele é um de seus assessores. Pessoa faz duras críticas à atual política econômica: "eu chamo de ensaio nacional desenvolvimentista - foi uma tragédia para o País e tem de ser revertido", diz. Na sua avaliação, a reversão deve ser seguida reformas que possam dar eficiência ao Estado sem que seu tamanho seja reduzido: "A sociedade quer educação, sistema de aposentadoria, programas sociais - é impossível reduzir o Estado", disse na entrevista que segue. 

Como o senhor esta vendo o atual momento da economia?

Samuel Pessoa: Vou falar o que repito em todo lugar porque acho importante. Quando se olha a formulação de política econômica no Brasil, eu acho que há duas agendas muito diferentes. A partir do final do segundo mantado do governo Lula, passamos a ter duas agendas. Uma é muito anterior ao governo Lula. É uma agenda que está com a gente desde a democratização - uma agenda estrutural. Há outra agenda, que veio de 2009 para cá. Ela está associada a saída do ministro Antonio Palocci e a ida do ministro Guido Mantega (no Ministério da Fazenda). Isso aconteceu em 2006. O ministro Mantega teve muito senso de oportunidade e habilidade política para implantar a agenda dele aos poucos, conforme os fatos fossem permitindo. Em 2009, depois da crise, foi o grande momento em que ele pode trazer para a formulação da política econômica uma nova agenda. A primeira agenda estrutural eu chamo de contrato social da redemocratização. A segunda agenda - da equipe econômica do Mantega e da presidente Dilma e do final do governo Lula - eu chamo de ensaio nacional desenvolvimentista. Eu separo muito bem essas duas agendas. Acho que essa segunda é petista puro sangue. Acho que o Palocci, dentro daquele grupo político, talvez seja a excepcionalidade e parece que esse grupo político do PT tem um visão muito favorável ao nacional desenvolvimentismo e a esse conjunto de políticas econômicas - se bem que, posso estar exagerando, porque houve um período do governo Lula em que havia muita continuidade e que esse tema da agenda nacional desenvolvimentista não tinha proeminência. A outra agenda, a estrutural, é uma opção que a sociedade brasileira fez na Constituição, lá em 88. Está materializada no texto constitucional e essa opção vem sendo referendada e repactuada a cada eleição desde então. Ela expressa o desejo da nossa sociedade de construir um Estado de bem estar social muito abrangente, nos moldes dos países da Europa continental. Esse desenho esta no nosso texto constitucional. Neste aspecto, não há nenhuma diferenciação entre nenhum grupo política em atuação no Brasil. Em particular, eu acho que isso não distingue tucanos de petistas. O que inclui? Política de valorização do salário mínimo. Abono salarial, que é um programa lá do governo Sarney (José Sarney, ex-presidente da república). A aposentadoria rural. A Lei orgânica da assistência social. Renda mensal vitalícia. O programa bolsa família. A universalização da saúde. Mais recentemente, algumas iniciativas muito interessantes, como ProUni, Fies (programas de financiamento para o ensino superior) e todo um esforço de educação técnica. É um desejo da nossa sociedade avançar na questão da equidade. Com mais ou menos eficácia - tem programas que fazem sentido e outros que não fazem - isso é uma discussão. Mas esse é o pacote que o eleitor quer. O que cada governo faz é muito em função do que está na agenda desse pacto. A segunda agenda, não. Ela tem uma diferença grande. É uma agenda para colocar o Estado - o setor público - interferindo no desenvolvimento econômico. É o Estado decidindo a alocação de capital. É o Estado fazendo microgerenciamento das políticas de impostos e das tarifas de importação para incentivar alguns setores escolhidos segundo certos critérios. É o Estado fazendo microgerenciamento da política de intermediação financeira. Além disso, tenta adotar teorias heterodoxas sobre o processo inflacionário que acabam interferindo na liberdade do Banco Central e tendo um impacto sobre a inflação. É uma agenda grande. Começou no governo Lula, antes de 2009. Mexe nos graus de independência das agências reguladoras. Coloca uma parte grande da regulação de volta para os ministérios e, além de colocar de volta para os ministérios, passa a ter muita discricionariedade na regulação de diversos setores da economia. Ou seja: ao invés de usar um sistema de regras e procedimentos, pesos e contra pesos, passamos a ter a mão pesada do Estado. A gente vê isso no setor de petróleo, no setor de energia elétrica. Até na reformulação do marco ferroviário, com a ideia de separação vertical - que eu acho que não vai funcionar. Foi uma má ideia. Tem uma lista longa. Esse pacote não é da sociedade. É um pacote de um grupo de pessoas que está no centro da formulação da política econômica e que avalia que essas medidas são necessárias para acelerar o crescimento econômico. A minha avaliação é que esse ensaio nacional desenvolvimentista deu errado. Deu tudo errado. Foi uma tragédia para o País. Foi adotado por motivos ideológicos e acho que ele tem de ser revertido. 

[...]

Mas como resolver?

Samuel Pessoa: A solução não está na economia. A solução é política - e os políticos terão que resolver. O que a economia diz é: ou repactuamos, para que o gasto cresça mais lentamente, ou aumentamos a carga tributária, o que é legítimo, ou não fazemos nada e se soluciona com inflação - o que eu acho que a sociedade não quer. Mas nós que atuamos na área econômica temos apenas um papel, uma função: informar direito. Vamos pegar as manifestações do ano passado. A sociedade mostrou ter uma leitura diferente da minha e acho que essa leitura é muito equivocada. As sociedade acredita que dá para resolver todos os problemas do Estado combatendo a corrupção e suas ineficiências. Isso não é verdade. Combater a corrupção e as ineficiências do Estado é muito importante e precisa ser feito. É mais importante ainda quando se lembra que houve o ensaio nacional desenvolvimentista e destruição na governança de diversos setores da nossa economia - no setor de petróleo, no de energia, nas agências reguladoras. Construíram-se muitas ineficiências ao longo de anos de governo petista. Sendo bem específico: a gente gasta com o INSS algo como 7,5% do PIB. Tem uma tabela do Mansueto que todo ano a gente atualiza. Essa conta aumentou 3 pontos porcentuais do PIB nos últimos 20 anos. Essa conta não é cara porque tem um monte de falecidos ganhando indevidamente o benefício. Ou porque um monte de gente fraudou e está ganhando indevidamente o benefício. Ou porque um monte de gente que tem direito ao benefício conseguiu fraudar e recebe um benefício maior do que a regra permite. Isso deve existi em toda parte. Deve existir no Estados Unidos. É bem possível que seja um pouco pior no Brasil. Mas isso não representa o grosso. Medidas de gestão para resolver esses problemas não resolvem a questão estrutural - o fato de o contrato social requerer que o gasto público cresça a uma velocidade maior que o crescimento do PIB. Esse problema é estrutural. Essa questão vai ser tratada na esfera política, envolvendo executivo e legislativo. Os técnicos têm pouco a dizer a esse respeito.

Mas qual é a sua opinião - como compatibilizar a agenda social com a necessidade de financiamento público?

Samuel Pessoa: O processo eleitoral é que vai dizer o que fazer. A forma como a sociedade se pronunciar, a forma como o debate entre candidato e sociedade ocorrer é que vai dizer. Se eu disser o que quero, não vou falar como economista, vou falar como cidadão. Aliás, gente, eu não sou economista. Eu sou professor de economia e sou físico -- e apenas formado em física. Ser físico é para poucos. Não é o meu caso, infelizmente. Então, posso falar pelo cidadão Samuel, que é rico - todos nós aqui fazemos parte do 1% da sociedade mais rica. Até hoje, eu me penitencio pela aquela ida ao Senado, travestido de técnico. No fundo eu representava o cidadão. Isso me entristece até hoje. Eu confundi as duas personas. Por isso, acredito que agora não é momento para eu falar. Algum candidato contrario ao Aécio pode pegar alguma coisa que eu falar e apresentar em um programa para dizer: está vendo? O Aécio quer fazer isso. Um dos assessores dele disse que ele deve fazer isso.

Publicaram hoje uma entrevista do Aécio em que ele toca sobre vários pontos da economia. Dois deles chamam a atenção: ele acha que é preciso manter a política do salário mínimo e que o gasto não deve cresce acima do crescimento do PIB. Ele disse isso. Qual a tua opinião?

Samuel Pessoa: A política do salário mínimo e os atuais critérios de elegibilidade do INSS gera um dinâmica da previdência em que o crescimento é maior que o PIB. Tem sido assim nos últimos anos. Deve ter alguma ineficiência. É possível melhorar os mecanismos de controle. Mas não é isso que vai resolver. Para manter isso intacto, será preciso mexer em outras rubricas para que o gasto como um todo não cresça. Isso pode ser feito. Mas é preciso ver com o senador o que ele tem na cabeça. Eu acho que a aproximação do debate eleitoral, essas questões vão ser tratadas.

Olhando para a outra agenda, a nacional desenvolvimentista que o sr. criticou muito, o que é preciso mudar?

Samuel Pessoa: É preciso reduzir os créditos do Tesouro para bancos públicos. Foi um excesso. Foram os anos 70 voltando. O Geisel voltando. Parece um trem fantasma. É preciso consertar os preços. Novamente, isso também é um trem fantasma. Nos anos 70, na hiperinflação da redemocratização, por várias vezes, tentamos controlar preços segurando tarifa pública. Fizemos isso desde os anos 50. Nunca deu certo. O preço precisa ser real. Mas dizem: ahhhh, mas tem o problema da pobreza. Sim, mas o problema de pobreza a gente cuida com os mecanismos corretos - com um bolsa família, que é um instrumento poderoso, espetacular, que precisa ser valorizado e reforçado o tempo todo. Para mim, o presidente Lula marcou um enorme gol quando unificou os programas sociais, aumentou e potencializou os benefícios. Teve um impacto muito importante. As pessoas precisam ter uma garantia mínima de vida, sim, mas você faz isso com política de salário mínimo, com bolsa família, que dão uma renda para as pessoas. Mas os preços, da gasolina, da energia, precisam ser corretos. Isso precisa ser desfeito. Não gosto da política de desoneração. Acho que o senador tem uma opinião diferente da minha nesse aspecto. Eu sou um fiscalista. Acho muito ruim ter um superávit primário mais baixo quando as condições de endividamento do Estado não permitem. Acho muito ruim o risco-país, desde outubro, ter aberto 100 pontos em relação a México, Chile, Peru. Acho muito ruim a gente começar a fazer conta: será que essa dívida vai começar a crescer feito bola de neve? E eu acho que isso foi gerado por uma política desastrada de desoneração tributária. Tirando a desoneração sobre salário e sobre cesta básica, que têm benefícios óbvios e já deveriam ter sido adotadas há muito tempo, sou contrário as desonerações tópicas para esse ou aquele setor. A gente precisa reforçar a posição fiscal. O princípio de uma macroeconomia em ordem é um setor pública em ordem. A gente entrou numa crise muito profunda em 2008 e 2009 e houve muita competência por parte da equipe do ministro Mantega para enfrentar aquele episódio e tirar o País da crise. Um dos instrumentos adotados foi a política de desoneração. Eu acho que até exageram nos instrumentos contracíclicos em 2009. Não precisava de tudo que foi feito. Mas reproduzir a prática em 2011, 2012 foi um erro gigantesco. A economia brasileira já estava vivenciando uma realidade totalmente diferente. Por causa dessa política desastrada de desonerações ficamos com os ônus sem ter os bônus. O Tesouro Nacional ficou com os ônus, mas o País não teve os bônus da política. Também aumentaram imposto de importação, mas isso caiu. Foi uma boa medida cair. A gente agora via ter de enfrentar a inflação com uma posição fiscal sólida e um Banco Central independente. Uma boa medida é tentar passar no Congresso a independência formal do Banco Central.

[...]

Excluindo essa agenda que o sr. considera desastrosa, o que deve ser colocado no lugar para elevar o crescimento?

Samuel Pessoa: O tema crescimento também tem dois aspectos. Há um aspecto político. Crescer dói. Não é fácil. A China cresce 7% ao ano. Vai lá ver se está todo mundo feliz com aquele crescimento. A taxa de poupança de uma família chinesa é de 50% da renda. Poupando 50% da renda dá para crescer muito. Pergunta: a sociedade brasileira que poupar isso para crescer mais rápido? Ou tem outra escolha? Quer crescer mais lentamente? Esse são temas para os quais o profissional de economia não tem nada a dizer. Não é bom. Não é ruim. É uma escolha da sociedade. Isso bate no contrato social da redemocratização. Eu tenho dito, tenho escrito várias vezes - a sociedade brasileiro escolheu crescer pouco. Quer cresce de maneira mais sólida. A agenda da sociedade brasileira hoje não é crescimento. É equidade. O Brasil tem crescido e tem melhorado, mas no nosso ritmo, atendendo às nossas demandas. Por outro lado, o ensaio nacional desenvolvimentista piorou a situação, porque ele tira a eficiência da economia. Uma parte do nosso baixo crescimento é um padrão de escolha da sociedade. Mas outra parte do baixo crescimento, mais recente, no meu entender, vem da eficiência econômica e dos erros de política econômica que foram cometidos seguidamente a partir de 2009. Se for revertido, o Brasil cresce mais. Vou até dar a minha conta porque esse é um debate que temos feito. O Brasil está crescendo hoje 2 pontos porcentuais a menos do que crescia antes. O mundo cresce 0,6 a menos. A América Latina cresce 0,7 a menos. Nós estamos crescendo 2 a menos. Alguma coisa que aconteceu e fez com que a nossa desaceleração fosse muito maior do que a desaceleração do resto do mundo. É verdade que as economias estão interligadas e que o ciclo mundial é sincronizado, principalmente agora que o mundo é globalizado. O ciclo do Brasil é igual ao ciclo do mundo. Mas a gente abaixou mais. Por que? Bom, 0,6 ponto porcentual de queda foi provocada pelo mundo. E o resto? Você tem o esgotamento do fator trabalho, que deve explicar cerca de meio ponto porcentual de queda. Mas tem cerca de um ponto porcentual de perda - talvez um pouco menos - que no meu entender vem da ineficiência econômica e de uma certa desorganização que existe na economia. São as consequências na mudança do regime econômico que o ministro Mantega chamou de a nova matriz econômica. Isso está tirando um ponto porcentual do crescimento. Talvez a minha conta esteja exagerada e não seja tudo isso - seja 0,7 ou 0,8. Revertendo essa política, voltando ao regime anterior e avançando a partir de onde a gente estava antes, isso muda. O FHC não é o fim dos tempos. Ele fez o que era possível naquela janela de oportunidade nos oito anos que teve. Ele deixou muita coisa a ser feita. Nos primeiros anos do governo Lula, o País avançou muito, principalmente na área de crédito. Mas temos agora que desfazer as coisas erradas e continuar naquela toada.

O para frente nessa toada inclui o que?

Samuel Pessoa: Para atender as ruas, uma parte do trabalho é melhorar a eficiência do Estado. Essa é uma agenda que está parada. Falei isso inúmeras vezes. Desde o primeiro mandato de FHC, quando se fez muita coisa. Bresser Pereira passou pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Depois a Claudia Costin deu continuidade. Mas até pela complexidade dos temas tratados no segundo mandato de FHC, essa agenda ficou um pouco parada. O governo petista não conseguiu tocar essa agenda. A questão da reforma administrativa inclui dar ao Estado instrumentos de gestão para fazer com que as pessoas que passaram no concurso público, mas que sejam funcionários ruins, possam ser demitidas Hoje o cara só é mau funcionário público se roubar. Se ele tiver um desempenho ruim que penalize a comunidade, ele fica. Essa é uma questão fundamental para atender as demandas das ruas. Foi uma pena o longo ciclo petista não trazer nenhum reflexão nessa direção. Gastaram muito tempo destruindo coisas que funcionavam bem. Um exemplo: o marcado regulatório do petróleo. Gastou-se energia do setor público que poderia ser endereçada para outros temas. No âmbito estadual, o Aécio, dentro do que é possível fazer com legislação estadual, fez muita coisa em Minas Gerais. Essa é uma agenda importantíssima para que se possa melhorar os serviços de saúde, educação e segurança. A gente não vai melhorar saúde, educação e segurança colocando mais dinheiro. Talvez até precise gastar um pouco mais com saúde, mas a questão, de forma geral, não é mais dinheiro. É preciso usar melhor o dinheiro - mas para usar melhor o dinheiro é preciso olhar o Estado por dentro. Tem também a eterna agenda da reforma tributária. A presidente Dilma reconheceu e os economistas que trabalham com ela estão cientes e se esforçaram para levar adiante. No entanto, acredito que perdemos uma chance preciosa. O ensaio nacional desenvolvimentista destruiu a situação fiscal. Só para vocês terem uma ideia. O primário recorrente neste ano, desconsiderando receitas extraordinárias, provavelmente vai ser 0,8 % do PIB. O primário em 2002 era 3%. Um pouco mais que isso. O ano de 2002 terminou com déficit de transações correntes acho que um pouquinho abaixo de 2 pontos porcentuais. Este ano vai fechar em 4 ou 3,9. O fiscal, além da perda da transparência e outros efeitos ruins, piorou muito. A gente perdeu a oportunidade de usar o espaço fiscal que tínhamos lá atrás para fazer um reforma tributária, negociando com os estados. Foi trágico. Quiseram reinventar o Geisel, ao invés de usar esse espaço fiscal para fazer a reforma tributária, que é muito importante. Agora, essa reforma tributária só vai sair se o executivo quiser muito e se ele tiver espaço fiscal, para poder liderar o processo. 


Quando o senhor fala que elevar a eficiência do Estado, considera a possibilidade de reduzir o seu tamanho retomando as privatizações? 


Samuel Pessoa: Quando a gente fala de tamanho do Estado também temos duas agendas - totalmente diferentes. Acho impossível diminuir o Estado Brasileiro. A sociedade não quer diminuir o Estado - e a sua escolha é legítima. A sociedade quer saúde pública, universal, integral. Quer educação pública. Quer um sistema abrangente de aposentadoria. Quer um sistema abrangente de seguros público - abono salarial, seguro desemprego - e programas sociais. Como a sociedade quer tudo isso, é impossível reduzir o Estado. Nesta dimensão, o Estado só vai mudar, se a sociedade mudar. Como eu acho que ela não vai mudar, o Estado não vai diminuir. Isso não está em discussão. Eu como cidadão posso gostar mais de um Estado grande ou pequeno. Posso preferir a Suécia aos Estados Unidos. A sociedade brasileira já tomou a sua decisão - prefere a Suécia. Essa escolha não está em xeque. Não é isso que se discute nessa eleição. O que se discute é modelo de intervenção na economia. Eu acho que é preciso mudar a intervenção direta na regulação da economia. Isso é um desastre.

Para o Brasil ser Suécia, precisa de qual modelo de crescimento?

Samuel Pessoa: Uma vez eu pensei nisso. Acho que o modelo nosso modelo é meio nosso. Há o modelo anglo saxão, que é pouco welfare e tem pouca intervenção direta do Estado na economia. Há o modelo europeu que é muito welfare e tem uma regulação mais dura do Estado. Há o modelo oriental, muito pouco welfare, mas com muita regulação. O nosso é único. Muito welfare e com uma regulação menor na economia. Acho que isso é possível e tem condições de gerar crescimento econômico. Talvez seja um modelo parecido com países como a Austrália.

Doações eleitorais dos fornecedores da Petrobrás

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, DANIEL BRAMATTI, DIEGO RABATONE, LUCAS DE ABREU MAIA - O Estado de S.Paulo


De cada R$ 10 doados por empresas a candidatos e comitês nas eleições de 2010 e 2012, R$ 3 vieram de fornecedores da Petrobrás. Maior companhia brasileira, a estatal está no centro da mais ampla rede de financiamento privado de campanhas eleitorais no Brasil. Detentores de contratos com a companhia petrolífera desembolsaram ao menos R$ 1,4 bilhão em contribuições às campanhas de postulantes a presidente, governador, prefeito, deputado e senador.

Isso não implica que a Petrobrás tenha direcionado as doações - a legislação proíbe que empresas que tenham participação societária do Estado financiem campanhas eleitorais. Tampouco denota ilegalidade. Mostra, porém, o potencial de alcance político e econômico da estatal e ajuda a entender os temores de parte da classe política com a instalação de uma CPI da Petrobrás.

Levantamento conjunto do Estadão Dados e da Transparência Brasil revela que 4.792 candidatos e comitês partidários receberam recursos de empresas contratadas pela Petrobrás nos últimos quatro anos. Nas eleições parlamentares e para governos de 2010, 1.778 candidatos/comitês receberam desses fornecedores. Na disputa municipal de 2012, foram 3.014 os beneficiários. Os valores doados pelos fornecedores da Petrobrás constituem uma estimativa conservadora: o levantamento levou em consideração só os contratos assinados a partir de 2010.

Pontaria. Além de volumosa e extensa, a rede de doações é certeira. Dos 513 deputados federais eleitos em 2010, nada menos do que 330 contabilizaram doações de empresas privadas que mantêm contratos com a Petrobrás. Juntos, receberam pelo menos R$ 78 milhões para ajudar a bancar suas candidaturas. O valor pode ser ainda maior, porque não inclui as doações dessas empresas a comitês partidários, que podem beneficiar mais de um candidato.

A regra dos doadores é ter um pé em cada canoa partidária. Tornam-se, assim, centopeias político-ideológicas. O dinheiro foi doado indiscriminadamente tanto a partidos que apoiam o governo federal quanto a legendas que lhe fazem oposição. Nada menos que 24 siglas receberam recursos em 2010, e 26 em 2012.

Rateio. Nas eleições realizadas há quatro anos, candidatos e comitês do PT, que disputava o terceiro mandato presidencial consecutivo, receberam 25% do valor total doado pelos fornecedores da Petrobrás. Já o PSDB, principal partido da oposição e havia oito anos distante do Planalto, ficou com uma fatia levemente inferior: 24%.

Levando-se em conta as disputas pelos cargos de presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, candidatos do PT receberam em 2010, em conjunto, R$ 224 milhões de empresas ligadas por contratos à Petrobrás. As doações para tucanos somaram R$ 210 milhões.

O PMDB, que tem influência em diretorias da Petrobrás e é segundo maior partido da base governista, recebeu menos recursos do que o oposicionista PSDB em 2010: R$ 165 milhões, o equivalente a 19% do total.

Nas eleições de 2012, PT e PMDB ficaram com uma parcela maior dos recursos: 31% e 16%, respectivamente. Já o PSDB levou apenas 13%.

A lista dos fornecedores que fazem doações para campanhas tem 2.265 empresas. A maioria, porém, faz contribuições relativamente pequenas - apenas 117 empresas desembolsaram mais de R$ 100 mil. A concentração de poder no topo é alta: 81% dos recursos doados (mais de R$ 1,1 bilhão) saíram dos 50 maiores fornecedores.

Na lista dos maiores doadores estão as grandes empreiteiras do País, que têm outras fontes de recursos públicos e interesses em diversas áreas do governo, não apenas no setor do petróleo. Isso explica o fato de, em alguns casos, as doações eleitorais serem superiores aos valores dos contratos firmados com a Petrobrás.

01 abril 2014

Política e Negócios

A discussão recente sobre as péssimas decisões de investimento da Petrobras mostram a estreita ligação entre a política e os negócios. Mas isto não ocorre somente nas empresas do Estado. Este vínculo ficou claro na ascensão e queda do empresário Eike Batista, que se aproveitou dos financiamentos do governo para expandir seus empreendimentos. Talvez não seja exagero em afirmar: “olhe com atenção uma empresa de sucesso no Brasil e você irá enxergar a política (e os políticos) ajudando seu desempenho”.

No Brasil estamos acostumados a ver nitidamente a relação da política (e dos políticos) com o crescimento de empresas. Mas isto não é privilegio nosso. Em 2001, Ray Fisman estudou a conexão existente entre as empresas da Indonésia e o governo local. De 1967 a 1998 mandou no país o presidente Suharto. Durante três décadas, Suharto comandou o país de maneira centralizadora e ditatorial, reprimindo os dissidentes e separatistas. Sob seu comando, a Indonésia apresentou um elevado nível de crescimento. Suharto também enriqueceu pessoalmente, “tendo criado um pequeno círculo de privilegiados” através de monopólios estatais e subsídios.

Fisman observou que quando a vida de Suharto estava em perigo, o valor das empresas próximas dele e de sua família apresentava queda no valor das ações. A razão é simples: provavelmente estas empresas perderiam o acesso ao poder e suas vantagens. Isto recebe a denominação de “crony capitalism” ou capitalismo de compadrio. Este tipo de capitalismo apresenta uma estreita relação entre os negócios e os políticos de um país.

Tudo leva a crer que o capitalismo de compadrio é mais forte nos países mais corruptos e onde a participação do estado na economia é mais efetiva. Mas o capitalismo de compadrio também existe em países desenvolvidos. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores estadunidenses mostrou que isto também ocorre nos países desenvolvidos. Para isto, eles usaram a nomeação de Timothy Geithner como secretário do tesouro do governo de Obama. Geithner possuía uma série de conexões com grandes empresas, como o Citigroup. O resultado foi que a ações destas empresas responderam de maneira positiva à nomeação de Geithner. Ou seja, o estudo indicou que as conexões com o poder foram consideradas pelos investidores como um ponto positivo para estas empresas. Exatamente como se espera no capitalismo de compadrio. Exatamente como num “país subdesenvolvido”.

Para ler mais:
Acemoglu, D, S Johnson, A Kermani, J Kwak, and T Mitton, (2013), “The value of political connections in turbulent times: evidence from the US”, National Bureau of Economic Research working paper 19701, December.

27 fevereiro 2014

Quem era contra o Plano Real?

[...]
Os vinte anos do Plano Real estão a merecer, certamente, um trabalho de fôlego. É impressionante que os tucanos tenham perdido a guerra de propaganda para o PT nos últimos, vá lá, 14 anos — já que o governo FHC ficou sob intenso bombardeio nos dois anos finais.
Lembre-se de que, um ano antes do Real, o então ministro da Fazenda FHC adotou um conjunto de 58 medidas para criar as precondições da estabilização da economia — de pronto combatidas por Lula (vejam abaixo frase de janeiro de 1994).
Como todo mundo sabe, o partido não ficou só na retórica: votou contra a MP do Real no dia 29 de junho de 1995. Foi além. Recorreu ao Supremo com uma ADI (Ação Direita de Inconstitucionalidade) contra o plano. E voltou ao tribunal para tentar derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Abaixo, um pouco do que disseram alguns patriotas.
*
Lula
“Esse plano de estabilização não tem nenhuma novidade em relação aos anteriores. Suas medidas refletem as orientações do FMI (…) O fato é que os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%. Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo com o plano, aí sim haverá condições” (O Estado de S. Paulo, 15.1.1994).
“O Plano Real tem cheiro de estelionato eleitoral” (O Estado de S. Paulo, 6.7.1994).
Guido Mantega
“Existem alternativas mais eficientes de combate à inflação (…) É fácil perceber por que essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa” (Folha de S. Paulo, 16. 8.1994).
Marco Aurélio Garcia
“O Plano Real é como um “relógio Rolex, destes que se compra no Paraguai e têm corda para um dia só (…) a corda poderá durar até o dia 3 de outubro, data do primeiro turno das eleições, ou talvez, se houver segundo turno, até novembro” (O Estado de S. Paulo, 7.7.1994).
Gilberto Carvalho
“Não é possível que os brasileiros se deixem enganar por esse golpe viciado que as elites aplicam, na forma de um novo plano econômico” (“O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de Conto).
Aloizio Mercadante
“O Plano Real não vai superar a crise do país (…) O PT não aderiu ao plano por profundas discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira” (“O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de Conto)
Vicentinho, atual líder do PT na Câmara dos Deputados
“O Plano Real só traz mais arrocho salarial e desemprego” (“O Milagre do Real”).
Maria da Conceição Tavares
“O plano real foi feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro” (Jornal da Tarde, 2.3.1994).
Paul Singer
“Haverá inflação em reais, mesmo que o equilíbrio fiscal esteja assegurado, simplesmente porque as disputas distributivas entre setores empresariais, basicamente sobre juros embutidos em preços pagos a prazo, transmitirão pressões inflacionárias da moeda velha à nova” (Jornal do Brasil,  11.3.1994).
“O Plano Real é um arrocho salarial imenso, uma perda sensível do poder aquisitivo de quem vive do próprio trabalho” (Folha de S.Paulo, 24.7.1994).
Gilberto Dimenstein
“O Plano Real não passa de um remendo” (Folha de S.Paulo, 31. 7.1994 ).
Por Reinaldo Azevedo

02 janeiro 2014

Gastou uma fortuna para ser prefeito

O New York Times (via aqui) descreve os gastos do prefeito da cidade, o bilionário Michael Bloomberg, que gastou muito dinheiro para ser prefeito. Além dos gastos, ele se recusou a receber o salário normal da função, aceitando 1 dólar por ano:

Michael Bloomberg adora peixes tropicais. Assim, quando foi eleito prefeito, instalou dois aquários gigantes na sede da prefeitura. O custo da limpeza semanal dos tanques nos últimos 12 anos: US$ 62 mil.

O prefeito também adora lanchinhos. Por isso, pagou para oferecer a sua equipe um leve café da manhã (rosquinhas, iogurte, café) e um modesto almoço (salada de atum, sanduíche de geleia e manteiga de amendoim, frutas cortadas). O custo ao longo dos anos em que foi prefeito: e US$ 890 mil.

Bloomberg gosta de viajar. Sempre que levava seus assessores a algum lugar, ele o fazia com seu avião particular. O custo de todas essas viagens: US$ 6 milhões.

(...) Ele investiu US$ 268 milhões de sua fortuna pessoal nas três campanhas pela prefeitura.

Seja pessoalmente ou por meio de sua empresa, a Bloomberg LP, ele doou outros US$ 263 milhões a grupos de arte, saúde, direitos cívicos e cultura de Nova York. Doações de campanha? Ele distribuiu cerca de US$ 23 milhões.

25 dezembro 2013

Sanduíche

Num teste do NYT sobre a língua inglesa, um tipo de sanduíche que não parece ser muito saudável, exceto para seus parentes.

15 agosto 2013

Capitalismo de Laços

No Brasil, as relações sociais entre empresários e governos têm suas origens no período colonial e, portanto, expressam uma matriz cultural enraizada no ambiente institucional brasileiro. A associação entre instituições privadas e públicas eram (ou são) imprescindíveis para manutenção dos negócios. Na ausência de instituições jurídicas independentes da Coroa Portuguesa, os empreendedores eram “obrigados” a estabelecer relações, mormente com contatos próximos ao governo português para solucionar problemas jurídicos e comerciais. Tanto no passado como no presente, as conexões formadas independem de vínculos sociais estreitos, pois o objetivo precípuo dos atores envolvidos é facilitar transações econômicas.

A despeito das raízes coloniais, a Primeira República, de 1890 a 1915, caracterizada por mudanças institucionais, foi um período econômico mais liberal. Com a ditadura de Vargas, no entanto, o caráter central dos governos, característico da época colonial, retomou e reforçou os laços entre Estado e setor privado. Raymundo Faoro, autor do livro Donos do Poder, caracteriza essa íntima relação como uma “combinação de estatismo com privatismo, obedecendo este às diretrizes daquele, com as compensações de seu estímulo e proteção”.

Sérgio Lazarinni, no livro Capitalismo de Laços, investiga as conexões entre atores públicos e privados por meio dos laços que são expressos na estrutura de propriedade e mecanismos de controles estratégicos das empresas. A abordagem do livro ocorre em três eixos: sistema político, governo e grupos privados.

Devido ao caráter privado e informal (às vezes, formal) entre grupos domésticos privados, sistema político e entidades públicas, o estudo dessas valiosas relações sociais deu-se por meio da análise dos proprietários e controladores de 804 empresas, nos anos de 1996, 2003 e 2009. A observação das estruturas de propriedade das empresas – por meio de laços entre firmas e proprietários, participações societárias conjuntas de vários donos em empresas comuns – revela uma rede, em que há presença de aglomerações empresariais: proprietários com posições acionárias conjuntas nas mesmas empresas, e de atores de interligação de aglomerações distintas que garantem conectividade à rede. Serviços de redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter têm características análogas às redes de propriedade. Quando estas exibem atores de ligação que conectam várias organizações, há formação de mundos pequenos. É por isso que as pessoas costumam dizer que “o mundo é pequeno”.

Alguns sociólogos entendem que os sistemas sociais estão enraizados num contexto econômico, isto é, as transações econômicas influenciam a forma de organização da sociedade, assim como as relações sociais têm impacto nas trocas econômicas. O capitalismo de laços é caracterizado por valiosas relações sociais estabelecidas, tanto entre conhecidos ou desconhecidos, para obter recursos limitados ou proveito futuro ou facilitar trocas econômicas. Laço é, na definição de Lazzarini: “relação entre atores sociais para fins econômicos”.

Numa economia de mercado, o capitalismo de laços gera disfunções. Ao influenciar decisões econômicas, contratos sociais e relações políticas, aloca os recursos econômicos sem considerar critérios meritórios e transparentes, em outras palavras, há uma má alocação de recursos, que pode ocorrer de duas formas. Primeira: as decisões empresariais são influenciadas por razões políticas e ideológicas dos governantes, que nem sempre estão de acordo com a estratégia de mercado das firmas. Segunda: empresários que possuem valiosas conexões políticas são favorecidos com concessões de financiamento e subsídios públicos, entre outros recursos escassos.

Por outro lado, em países com ambiente institucional desfavorável – voláteis e hostis – à atividade empresarial, a associação entre entes privados e públicos é forma legítima de proteção: corrobora para a compreensão dos problemas enfrentados pelas instituições privadas. Ademais, formações de alianças serve como instrumento de troca de conhecimento, geração de eficiência produtiva, etc.


Por Pedro Correia, Brasília 15 de agosto de 2013.

Capitalismo de Laços: os donos do Brasil e suas conexões
Sérgio G. Lazzarini
Rio de Janeiro; Elsevier, 2011 – 4ª reimpressão – 184 páginas.

05 agosto 2013

Detroit: meio século de socialismo



A análise abaixo é muito simplista. Existem outros fatores que levaram a derrocada de Detroit.
Pedro Correia

O que todos os prefeitos de Detroit desde 1962 têm em comum? Jerome Cavanagh, Roman Gribbs, Coleman Young, Dennis Archer, Kwame Kilpatrick, Kenneth Cockrel, Jr. e o atual Dave Bing são todos do mesmo partido que, depois de 51 anos seguidos, conseguiu falir um dos ícones da história americana.
Em 1960, Detroit tinha a mais alta renda per capita do país e hoje tem a mais baixa. Repetindo: até a última administração republicana, Detroit tinha a mais alta renda per capita dos EUA e, depois de meio século de feitiçarias de esquerda, tem a mais baixa. Tente discutir com esse dado ou culpar o capitalismo por isso.
A falência de Detroit está longe de ser surpresa para qualquer analista atento e honesto, mas é emblemática. A bancarrota da “motor city” coloca mais fogo no debate que quer a comparação direta entre os resultados obtidos pelos modelos oferecidos pelos dois grandes partidos do país. Estes modelos são aplicados também nos dois maiores estados dos EUA, o socialista na Califórnia e o de livre mercado no Texas, como num enorme teste de laboratório. E esta comparação não é apenas um debate econômico, é a versão revista e atualizada da Guerra Fria, só que agora em pleno território americano.
Não se deixe enganar: antes de avaliar a situação da economia americana atual, separe primeiro os estados “azuis” (democratas) e “vermelhos” (republicanos) e veja o que está dando certo e o que não está. Ver Barack Obama se vangloriar de dados da economia inflados pelos resultados dos estados “vermelhos” como o Texas, administrado por republicanos desde 1995 e que gerou 1/3 dos novos empregos do país na última década, é simplesmente ultrajante.
A maior cidade do Michigan foi enviada sem escalas para níveis de pobreza raros no mundo ocidental, o que pode ser comprovado em números divulgados recentemente pelo The Wall Street Journal:
- 47% dos adultos da cidade são considerados analfabetos funcionais (contra 20% da média do país)
- Apenas um terço das ambulâncias está em condições de sair da garagem
- 40% dos postes de luz das ruas estão apagados
- O tempo médio de resposta de um policial a um chamada ao 911 é de 58 minutos (média nacional: 11 minutos)
- Um terço das edificações da cidade está abandonado (78 mil prédios fantasmas)
- 210 dos 317 parques públicos estão fechados.
- 2/3 da população deixou a cidade desde os anos 60
- Menos de 5% dos carros do país são montados hoje na cidade
A cidade, onde as armas legais foram praticamente banidas como manda o manual esquerdista, é tão violenta que é impossível andar com segurança pelas ruas, você é logo aconselhado a pegar táxi. As escolas estão entre as piores do país, os serviços públicos mais básicos são negligenciados e tudo que envolve a prefeitura, como a licença para abrir um novo negócio, é um inferno burocrático terceiro-mundista, típico de qualquer lugar administrado por socialistas. Como definiu o jornal britânico “The Telegraph”, uma cidade assassinada por mau-caratismo e estupidez”.
Em Detroit, os prefeitos gastavam dinheiro público como “drunk sailors” e mergulhavam a administração municipal em escândalos de corrupção, subornos e clientelismo diretamente associados à expansão do governo. Kwame Kilpatrick, prefeito de 2002 a 2008, chegou a ser preso depois de condenado na justiça por mais de 25 crimes ligados à sua gestão.
Os sindicatos tiraram completamente a competitividade da cidade, mergulhando a economia local no caos. Enquanto torpedeavam qualquer tentativa da indústria automobilística de se modernizar, outras cidades atraíam as novas plantas e os empregos fugiram, assim como os investimentos. E o declínio da indústria da cidade era respondido pelos sindicatos com mais greves que exigiam ainda mais aumentos, proteções, regulações e subsídios, tudo com apoio explícito dos prefeitos democratas.
Hoje 15.000 metalúrgicos da ativa contribuem para fundos que pagam a aposentadoria de 22.000 pensionistas, com um déficit anual estimado de US$ 5,5 bilhões. Os EUA continuam fazendo bons carros, como o melhor SUV do mundo (eleito pela revista Motor Trend), o Mercedes-Benz Classe GL, só que agora ele é montado no Alabama. Parabéns, sindicatos!
No vizinho Wisconsin, o governador republicano Scott Walker resolveu enfrentar os poderosos sindicatos e chegou a ter seu mandato colocado em risco num “recall” ano passado, em que foi reeleito e agora promove uma verdadeira revolução no estado. Mas o futuro de Detroit ainda é incerto porque, evidentemente, você nunca vai ouvir a esquerda dizendo que errou.
Se existe algo certo na vida é o resultado de meio século de socialismo em qualquer lugar, mesmo no país mais rico do mundo. O Partido Democrata e os sindicatos faliram Detroit. Que sirva ao menos de lição.

29 julho 2013

George Papandreou: Imagine uma democracia europeia sem fronteiras

A Grécia foi a representante da crise econômica europeia, mas o ex-primeiro-ministro George Papandreou questiona se isso é apenas uma prévia do que está por vir. "Nossas democracias", diz ele, "estão presas por sistemas que são grandes demais para falir, ou mais precisamente, grandes demais para controlar" -- enquanto que "políticos como eu perderam a confiança de seus povos." Como resolver isso? Fazendo com que cidadãos se comprometam mais diretamente em um novo contrato democrático.

23 julho 2013

Protestos brasileiros no tempo

O gráfico apresenta os protestos ao longo da história do Brasil. Enquanto os tumultos - de vermelho, aumentaram substancialmente durante as décadas de 50 e 60, são cada vez menores. Mas as demonstrações contra o governo - de azul - aumentaram ao longo dos anos 80 e 90. Campos arrisca três razões para este movimento: (a) ineficiências e corrupção dos serviços públicos; (b) inépcia dos políticos; (c) fatores políticos.

11 julho 2013

Caixa dois na Espanha

O Partido Popular (PP), que governa a Espanha, foi obrigado a divulgar ontem reiterados desmentidos de que operava recursos de "caixa dois" para fazer pagamentos não declarados a seus membros mais antigos, entre os quais o atual primeiro-ministro, Mariano Rajoy.

O partido de Rajoy foi atacado por políticos da oposição, depois que o jornal "El Mundo" publicou ontem o que alega serem cópias de originais com registros de movimentações de dinheiro clandestinas, que eram mantidos por Luis Bárcenas [montagem], ex-tesoureiro do PP que está na prisão aguardando julgamento.

(...) O jornal "El Mundo" afirma que os documentos que publicou mostram que Mariano Rajoy recebeu pagamentos ilegais quando era ministro no governo de José María Aznar, o então primeiro-ministro, juntamente com outras altas figuras do PP, como Rodrigo Rato, então ministro da Economia e, posteriormente, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Todos os supostos beneficiários negaram que esses pagamentos tenham sido feitos.

Os desmentidos vieram na esteira da anterior publicação, pelo jornal "El País", de fotocópias da contabilidade clandestina supostamente mantida pelo ex-tesoureiro Bárcenas, documentos que, segundo o PP, não têm credibilidade por não serem originais. Agora o "El Mundo" alega ter publicado cópias dos originais.

Bárcenas, que está detido e aguarda um julgamento sobre como acumulou uma fortuna em torno de € 48 milhões em contas bancárias no exterior, dissera inicialmente que os documentos eram falsos, mas depois mudou sua versão, alegando que o partido o pressionara para que mentisse a respeito. (...)


Cresce escândalo do mensalão do PP na Espanha - Miles Johnson | Financial Times publicado no Valor Econômico - 10/07/2013