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Mostrando postagens com marcador Panamericano. Mostrar todas as postagens
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29 janeiro 2011

Panamericano

Diversas notícias envolvendo o Panamericano, depois do sobe e desce das suas ações. A Folha de São Paulo (Sílvio Santos aceita vender o Panamericano, Mario Cesar Carvalho, 29 jan 2011) registra que o proprietário controlador, Sílvio Santos, aceitou vender o banco para o BTG Pactual. O valor seria o total do rombo existente no banco. Isto representa uma mudança na disposição do empresário, que em novembro considerava possível recuperar a dívida do banco (na época, em 2,5 bilhões de reais).

Ontem, o Panamericano tinha divulgado um fato relevante sobre uma possível negociação com outras instituições financeiras (Dois Banqueiros em Apuros, Isto é Dinheiro, 28 jan 2011). Naquele dia existiam três candidatos: BTG Pactual, Bradesco e Safra. O motivo da venda era simples: o patrimônio do controlador, estimado em R$2,7 bilhões, não é suficiente para cobrir o rombo. A cobiça pelo banco teria a seguinte explicação, segundo a revista: “O grande trunfo nas mãos do banco é sua capacidade de conceder empréstimos de maneira barata, por meio de uma rede de financeiras. Essas lojas não contratam bancários e não têm de pagar os custos elevados de segurança das agências bancárias.”

Começam a surgir mais detalhes dos problemas do banco: segundo Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, o rombo começou com a “adulteração do sistema de controle financeiro, chamado Autobahn, desenvolvido por uma empresa de informática do Espírito Santo, a Projeta.”

Quanto ao tamanho do rombo, sabe-se que é maior que os R$2,7 bilhões iniciais. Na sexta-feira, o banco afirmou que ainda não sabe o valor das “inconsistências contábeis” encontradas (Brasil Econômico, Panamericano não sabe valor do desfalque das contas, 28 jan 2011, Weruska Goeking). Na quarta-feira, o jornal Estado de São Paulo tinha anunciado que o rombo era maior que o divulgado anteriormente. Isto provocou uma queda no preço das ações do banco. Ontem surgiu um novo número: o problema seria acima de R$4 bilhões. Segundo o Valor Econômico, seriam mais R$1,5 bilhão. O texto do Valor Econômico foi baseado no relatório preliminar do Banco Central sobre o assunto, e inclui problemas na administradora de cartões de crédito. O jornal apontava os problemas contábeis existentes:

Os problemas não se restringiram às informações desencontradas sobre o valor das carteiras cedidas e compradas. O PanAmericano também apresentava informações conflitantes em seus balanços em relação a essas carteiras. Enquanto em um determinado mês algumas delas eram apresentadas como cedidas, em outras voltavam a fazer parte da carteira de créditos do banco – sem, no entanto, haver registro de qualquer recompra dos créditos. Segundo o relatório do BC, os ativos inexistentes no balanço do banco por causa dessas operações somavam R$ 1,4 bilhão.

Outra fonte dos problemas contábeis do PanAmericano foi a forma de contabilização de contratos de empréstimo. Em alguns casos em que os tomadores de créditos estavam inadimplentes, esses valores devidos deveriam ter sido baixados da carteira de crédito e colocados na conta “bens não de uso próprio”, que incorpora as garantias dadas nos empréstimos e assumidas pelo banco. Da mesma forma, há situações em que os contratos foram quitados antes de seu vencimento pelos clientes, mas que as parcelas futuras continuavam a fazer parte das carteiras de crédito, que eram cedidas. E, em uma terceira situação, saldos devedores refinanciados foram mantidos como cedidos. Somente esses três tipos de problemas nos contratos envolvem a quantia de R$ 673,7 milhões.


O problema do PanAmericano também pode estar vinculado a desvios de recursos por parte de seus ex-diretores, através de contratos entre as empresas do grupo Sílvio Santos e as companhias cujos sócios eram esses gestores. Existe a promessa que o balanço de 2010 deverá ser entregue à CVM na próxima segunda-feira, conforme apurou a Folha de São Paulo (Rombo do Panamericano deve ir a R$4 bilhões, Mario Cesar Carvalho).

A Veja apresenta hoje mais informações sobre a confusão contábil:

a instituição divulgou seu formulário de referência de maneira equivocada, contendo números trocados. O formulário é um documento enviado anualmente para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e informa aos investidores pontos importantes sobre a política de atuação das empresas, a remuneração de seus diretores e alguns de seus principais dados financeiros.

Nesta quarta-feira, o documento foi enviado pelo banco à CVM e informava os resultados financeiros de 2010 sem que o balanço tivesse sido divulgado. Segundo as normas de governança da autarquia, o balanço de uma companhia aberta deve ser divulgado a todo o mercado em uma data pré-estabelecida, sem que informações financeiras escapem antes de sua divulgação oficial. O balanço do Panamericano está previsto para a próxima semana e tem deixado investidores apreensivos – já que desde o segundo trimestre do ano passado a instituição não publica resultados.

Os números divulgados, tais como o patrimônio líquido de 1,3 bilhão de reais e 11 bilhões de reais em ativos totais da empresa, entraram no formulário de referência como se correspondessem aos resultados que o mercado tanto aguarda, mas não passavam de mais um erro.

Questionado por VEJA, a área de Relações com Investidores (RI) do banco inicialmente confirmou a divulgação dos números de 2010. Minutos depois, negou que os dados estivessem relacionados aos resultados do ano passado. Segundo o departamento, o sistema de dados da CVM 'entendeu' os números de forma errada e acabou contabilizando os resultados financeiros de 2009 como se fossem de 2010. "Neste momento estamos atualizando o sistema e voltando para outra versão do backup, com os números corretos de 2009", afirma o analista de RI do Panamericano, Anderson Machado Vianna. (...)
Assim, o formulário de referência traz a remuneração dos diretores e conselheiros do banco em 2010 (tanto da diretoria destituída quanto dos novos executivos), além da previsão de remuneração para 2011. De acordo com o formulário, os diretores continuarão sem receber bônus ou remuneração em ações. Já o pró-labore pode variar entre 960 mil reais e 480 mil reais anuais. O total previsto para pagar os diretores em 2011 é de 4,4 milhões de reais. Já para o conselho de administração, presidido pela presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos, a remuneração total anual deve chegar a 1,24 milhão de reais – ou salários anuais entre 81 mil reais e 174 mil reais.


O texto da Veja é importante por mostrar que alguns dos problemas do Panamericano persistem na atual gestão.

27 janeiro 2011

Panamericano 2

A nova administração do Panamericano descobriu que o rombo na instituição controlada pelo Grupo Silvio Santos é maior do que os R$ 2,5 bilhões estimados inicialmente pelo Banco Central (BC) no ano passado. Por isso, o banco precisará de uma nova injeção de dinheiro.

Uma das alternativas em estudo é um novo empréstimo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que já cobriu o buraco inicial. Ainda que não entre com todos os recursos necessários, o FGC deve oferecer ao menos um pedaço do novo aporte.

O FGC é uma entidade privada, mantida pelos bancos desde 1995, que tem como principal função proteger parte dos depósitos dos clientes dos bancos.

Procurado, o Panamericano preferiu não se pronunciar. O diretor executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno, disse que desconhecia as informações.

Em setembro, o BC descobriu uma fraude contábil no Panamericano, então estimada em R$ 2,5 bilhões. O escândalo veio a público no início de novembro, quando toda a antiga diretoria foi demitida. Para receber o dinheiro do FGC, o empresário Silvio Santos entregou como garantia seu patrimônio pessoal.

A maior parte dos executivos que compõem a nova direção foi indicada pela Caixa Econômica Federal, que comprou 49% do capital votante do Panamericano no fim de 2009. Até ontem à noite, estava definido que o banco estatal não vai colocar dinheiro novo na instituição.

A solução para cobrir o novo rombo está sendo negociada pela nova direção do Panamericano, pelo FGC, pelo empresário Silvio Santos, pela Caixa Econômica Federal, e é acompanhada de perto pelo BC.

O tamanho exato do rombo e a saída para cobri-lo devem ser oficialmente apresentados na próxima segunda-feira, dia previsto para a divulgação do balanço do terceiro trimestre e dos meses de outubro e novembro de 2010. A divulgação desses resultados foi adiada duas vezes.

Nas últimas semanas, as ações do Panamericano valorizaram-se fortemente na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em meio a especulações de que grandes instituições estariam travando uma disputa para comprá-lo. Do início do ano até ontem, o ganho acumulado das ações preferenciais (PN) beirava os 20%.

O Estado apurou que cinco bancos demonstraram interesse na participação que Silvio Santos possui no Panamericano desde que a fraude contábil veio a público. Nenhum deles, no entanto, fez proposta firme, justamente porque o balanço com o rombo definitivo ainda não foi divulgado.

Atraso

O objetivo inicial da nova administração era apresentar o balanço até meados de dezembro. Mas a complexidade do trabalho de reconstrução dos números, somada à demissão dos principais responsáveis pela contabilidade do banco, atrasou sucessivamente a divulgação.

Cerca de cem pessoas trabalham incessantemente nos números. Todas deram expediente até mesmo durante as festas de fim de ano. Folgaram apenas nos dias 31 de dezembro e 1.º de janeiro. Uma das principais dificuldades foi lidar com os sistemas de informática, que foram burlados para permitir a fraude.

Além da Deloitte, que audita as contas do Panamericano, o balanço está sendo checado pela PricewaterhouseCoopers (contratada pela Caixa) e por técnicos do Banco Central.

Panamericano tem rombo maior que R$ 2,5 bi e vai precisar de mais dinheiro - 26 de janeiro de 2011 | 23h 30 – Estado de São Paulo - David Friedlander e Leandro Modé

Panamericano


A figura mostra a cotação da ação BPNM4, do Banco Panamericano. Observe a redução do preço da ação depois das notícias. Mas olhe o interessante: nos últimos dias a ação tem aumentado seu preço. Qual a razão? Uma possibilidade diz respeito às notícias de futura negociação das ações para outros bancos interessados.

24 janeiro 2011

Quebra de sigilo

A Justiça Federal quebrou o sigilo bancário e fiscal de empresas do ex-diretor superintendente do banco Panamericano, Rafael Palladino, alvo de inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga suposto rombo de R$ 2,5 bilhões na instituição financeira do Grupo Silvio Santos.

A abertura de dados de pessoas jurídicas com participação de Palladino foi requerida pelo delegado Rodrigo Sanford, que dirige a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF. Recursos supostamente desviados do banco teriam migrado ou passado por contas de empresas nas quais Palladino tem ou teve participação.

Os arquivos da Junta Comercial de São Paulo indicam Palladino como sócio ou diretor de várias empresas. Em seu nome há firmas do setor imobiliário, postos de combustível e dos ramos de eventos e tecnologia. A Max America Negócios Imobiliários enviou US$ 2,3 milhões para Miami (EUA). A remessa ocorreu entre setembro de 2009 e maio do ano passado, segundo registro lançado na Junta Comercial. (Justiça quebra sigilo de ex-diretor do Panamericano – Estado de S Paulo 23 jan 2011)

O texto não informa quando foi quebrado o sigilo. Se isto ocorreu agora, o atraso pode dificultar a investigação. Indica também que o processo de investigação está muito lento.

26 dezembro 2010

Panamericano: Sobrou para o contador

Principal executivo do Grupo Silvio Santos até o mês passado, Luiz Sandoval aponta, pela primeira vez, os nomes de dois supostos responsáveis pela fraude bilionária no Panamericano: o ex-vice-presidente financeiro Wilson Roberto de Aro e o contador Marco Antônio Pereira da Silva.

Em entrevista exclusiva ao Estado, Sandoval conta que, quando o caso foi descoberto pelo Banco Central (BC), em setembro, o contador admitiu ter maquiado os balanços do banco para esconder um rombo de R$ 2,5 bilhões e disse ter agido a mando de Aro. Ao ser confrontado sobre a acusação, afirma Sandoval, o ex-vice admitiu ter dado a ordem "para salvar o banco".

O ex-vice e o contador podem não ser os únicos responsáveis pela fraude contábil. Mas foram os únicos, na versão de Sandoval, a admitir participação no episódio, durante reunião com a presença de outras pessoas. Procurado, Aro não quis se pronunciar. Pereira da Silva não foi localizado.

Na última quinta feira, antevéspera do Natal, Sandoval depôs na Polícia Federal. Foi espontaneamente, apresentou sua versão e abriu mão dos sigilos bancário e fiscal.

Sandoval deixou a presidência do Grupo Silvio Santos, depois de uma parceria de 40 anos com o apresentador, por causa da crise no Panamericano. Amargurado por causa do escândalo, diz que não teve como evitar a fraude. "Eu era presidente do conselho do banco. Isso foi um ato de gestão."

Nesta entrevista, concedida no escritório do criminalista Alberto Zacharias Toron, o executivo relata os dias de grande tensão que a cúpula da instituição viveu em setembro, culminando numa reunião extraordinária com o dono do SBT, em seu gabinete na sede da emissora, na rodovia Anhanguera. "Isso é brincadeira, não pode ser verdade", reagiu Silvio, perplexo.

Sandoval conta que, ao contrário do que foi divulgado, os executivos recebiam bônus pela performance do banco. Uma das suspeitas é que, além de esconder a falência do banco, a fraude teria o objetivo de turbinar os números do Panamericano para engordar os bônus dos executivos.

Como e quando o sr. ficou sabendo da fraude?

Foi numa quinta-feira de setembro, dia 16. Tínhamos concluído a venda de uma participação do Panamericano para a Caixa (Econômica Federal) e levei o Silvio para conhecer a presidente da Caixa (Maria Fernanda Ramos Coelho) e o Márcio Percival Alves Pinto, que é vice-presidente. O Rafael Palladino, que era presidente do banco, estava desesperado para falar comigo.

Palladino estava no encontro?

Estava convidado, mas não foi. Falamos por telefone. Perguntei qual era o problema, ele disse que era o Banco Central. O BC vivia dentro do banco, achei que podia ser algum problema de provisão para créditos duvidosos, porque houve uma ocorrência em abril, maio. ‘Não, é coisa mais séria’, ele falou. Então fui ao banco. Quando cheguei, ele estava desesperado. Disse assim: ‘O BC apurou uma diferença contábil entre as carteiras que cedemos e os valores que estão nos bancos cessionários.’ Era uma diferença de R$ 2,1 bilhões! Explica isso aí, falei.

Como ele explicou?

Dizia que não sabia. Falava coisas desconexas. Mandei chamar a diretoria. O diretor que conhecia mais banco ali era o Wilson de Aro, o financeiro. Eles vieram e começaram a me enrolar. ‘Isso aqui é decorrente de erros’, diziam. Como? Erro nesse valor? Aí usaram uma expressão que eu gravei: ‘Foi uma parametrização contábil.’ Eu sou administrador de empresas e advogado, mas parametrização contábil? Que é isso? Eles respondiam: ‘Você lança assim, lança assado’... Senti que estavam me enrolando. Pedi para chamar o contador, que eu não conhecia, o Marco Antônio (Pereira da Silva).

O que ele disse?

O contador sentou-se ali, com a diretoria, na sala do Rafael Palladino, e explicou tudo: ‘Nós vendíamos carteiras (de empréstimo, a outros bancos) e tínhamos de dar baixa no ativo. Só que não dávamos baixa completa. Exemplo: vendíamos R$ 100 mil em carteira, mas só dávamos baixa em R$ 80 mil. Ficavam R$ 20 mil no ativo, gerando receita.’ Ou seja, estavam produzindo um lucro irreal. Perguntei ao contador quando isso tinha começado, ele disse que na crise de setembro de 2008.

E os diretores?

Só olhando. Falei ao contador: Você sabe que isso é ilegal, é irregular? Ele respondeu: ‘Sei sim, senhor.’ Então, por que fez? ‘Porque recebi ordem.’ Quem te deu ordem? ‘Wilson de Aro’. E apontou para o Wilson. O Wilson confirmou: ‘Eu mandei fazer’. Disse que foi para salvar o banco.

Salvar o banco?

Foi o que perguntei. Ele disse que o banco estava em dificuldades na crise de 2008, ia ficar com o patrimônio líquido negativo. Perguntei quem mais sabia. Ele disse: ‘Só eu sabia. Eu dei a ordem para o contador fazer’. Quando fiquei sabendo, liguei para o Marcio Percival (vice da Caixa) e pedi que fosse ao banco. É claro que ele ficou tão pasmo quanto eu.

O sr. contou ao Silvio Santos?

No dia seguinte, convoquei o conselho de administração e o pessoal do comitê de auditoria para discutir o assunto e ver o que fazer. Chamei o contador e ele assumiu de novo. Disse: ‘Fiz, mas recebi ordem do Wilson’. Ele foi questionado, o Rafael, que além de presidente era do conselho, também foi. Em todos os momentos, o Rafael se disse traído.

Mas ele era o presidente. O sr. acha possível que ele não soubesse?

Só posso dizer o que ouvi. E ouvi o Rafael dizer que foi traído e o Wilson de Aro assumir a responsabilidade. Me disseram que essa operação teria começado em agosto de 2008. Depois, mandei o comitê de auditoria verificar e ele constatou que a operação, na verdade, tinha começado em janeiro de 2006.

O sr. não tentou saber mais detalhes?

Tentei saber mais do Wilson. Ele começou a chorar e saiu da minha sala. Não dá para entender como entrou nisso.

Quando contaram ao Silvio?

Rafael Palladino contou a história na quinta, convoquei o conselho de administração na sexta e procurei Silvio no sábado. Ele estava gravando no SBT. Levei o Guilherme Stoliar, que era do conselho, o Rafael e o Wadico Bucchi, também do conselho. Silvio estava preocupado com a minha insistência de falar no sábado. Pelo telefone, perguntou ‘o que está acontecendo, alguma coisa com minhas filhas?’. Disse que era o banco. ‘Então deixa para segunda-feira’, o Silvio sugeriu. Disse que não dava, a coisa era séria.

Quem contou?

Eu abri a conversa. Silvio ficou perplexo. ‘Isso é brincadeira, não pode ser verdade. Vocês vão ter de me explicar isso aí e vão ter de arrumar uma solução’. Depois começamos a trabalhar na solução, que foi o empréstimo do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Olha, o que costumam fazer os banqueiros com problemas? Tiram o que podem, deixam o banco quebrar, o processo leva dez anos, 15 anos, ele pode até ficar preso, 40 dias, no máximo. O Silvio colocou todo patrimônio dele como garantia.

Existe a dúvida sobre se o sr. e Silvio já não sabiam do rombo antes da descoberta do BC...

Conversa. O Silvio não acompanhava as empresas e eu era presidente da holding do grupo e do conselho de administração do Panamericano. Nunca estive na gestão das empresas e, no caso do banco, a gente não desce na contabilidade. Para essas coisas tem a diretoria. O que aconteceu foi um ato de gestão. Nem Silvio nem eu estávamos na gestão das empresas.

Quando a história surgiu, imaginou-se que um dos motivos da fraude seria melhorar os resultados do banco para aumentar os bônus dos executivos. Mas depois saiu a informação de que o Panamericano não pagava bônus. Isso é verdade?

Os diretores do banco eram diretores também de outras empresas da divisão financeira. Recebiam um porcentual sobre o lucro consolidado da divisão financeira.

Então havia bônus ...

O bônus estava condicionado não só ao banco, mas à área financeira. O pagamento do bônus era feito pelas diversas empresas da divisão.

Se o banco fosse mal...

Os diretores ganhariam menos. Talvez nem fizessem jus ao bônus.

O sr. esteve na Polícia Federal. O que disse lá?

Foi depois da operação de busca e apreensão. Falei isso que estou falando para vocês. O delegado perguntou se não houve omissão. O conselho teria se omitido se não tivesse contratado auditoria externa, se não tivesse composto o comitê de auditoria e o conselho fiscal. Agora, faço tudo isso, todo mundo dá pareceres sem ressalvas esses anos todos e me acontece isso? Não dava para saber.


‘O vice-presidente de finanças do banco mandou o contador maquiar o balanço’
Entrevista com Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Sílvio Santos - Estado de S Paulo - 26 de dezembro de 2010 - David Friedlander e Fausto Macedo, de O Estado de S.Paulo

E a velha máxima da administração: não se delega responsabilidade. (Grifo do blog)

24 dezembro 2010

Panamericano

Auditores, economistas e advogados que remexem na contabilidade do PanAmericano em busca de explicações para o rombo de R$ 2,5 bilhões não detectaram até agora desfalques dentro do banco de Silvio Santos.

A hipótese mais provável, compartilhada por auditores e delegados da Polícia Federal, é que os diretores do banco tenham desviado dinheiro das empresas não financeiras de Silvio Santos.

Essa hipótese baseia-se na constatação de que pelo menos três ex-diretores do banco têm um patrimônio incompatível com os salários de R$ 50 mil, sem bônus, baixos para o setor.

A escolha das empresas não financeiras tem um sentido estratégico, na visão dos investigadores: elas não são monitoradas pelo Banco Central, o que dificulta a descoberta de eventuais desvios.

Três dos diretores do PanAmericano também eram diretores de outras empresas de Silvio Santos. A PF vai concentrar sua investigação nessas empresas.

O trio seria composto por Rafael Paladino, ex-superintendente, Wilson Roberto de Aro, ex-diretor financeiro, e Adalberto Savioli, ex-diretor de crédito, segundo os investigadores.

Com notas aparentemente frias, eles retiraram cerca de R$ 70 milhões das empresas não financeiras de Silvio Santos, segundo um levantamento ainda não concluído ao qual a Folha teve acesso. Especialistas envolvidos na apuração acreditam que esse valor não deve ultrapassar a casa dos R$ 100 milhões.

Para quem olha só os dados contábeis, é quase um crime perfeito, define um advogado envolvido na apuração, já que os recursos retirados pelos diretores saíram de outras empresas.

SOFTWARE

Os auditores ficaram impressionados com a sofisticação do software usado para maquiar a contabilidade. O funcionamento foi revelado pelo chefe da contabilidade do PanAmericano, Marco Antonio Pereira da Silva, que decidiu colaborar com a PF.

O esquema de fraude é o mesmo descoberto pelo Banco Central em setembro: o PanAmericano vendia carteiras de crédito para outros bancos, mas não dava baixa, o que fazia crer que a instituição tinha mais recursos a receber do que o fluxo real.

O PanAmericano fatiava os crediários e os vendia para bancos diferentes. Imagine um cliente que comprou um carro usado em 48 prestações mensais. O PanAmericano dividia essas 48 prestações em quatro e vendia um pedaço desse crédito para quatro bancos diferentes.

Quando surgia um rombo, o software fazia uma busca aleatória nos créditos vendidos, arranjava os valores necessários e apresentava-os como se não estivessem em mãos de outro banco.

OUTRO LADO

Os advogados de Rafael Palladino, Wilson Roberto de Aro e Adalberto Savioli não quiseram se pronunciar sobre a hipótese de que recursos teriam sido desviados das empresas não financeiras de Silvio Santos, e não do Banco PanAmericano. Eles afirmam que não conhecem detalhes dessa investigação para opinar sobre ela.

ENTENDA O CASO

O Grupo Silvio Santos, o acionista principal do PanAmericano, precisou colocar R$ 2,5 bilhões no banco para cobrir um prejuízo causado por uma fraude contábil. Em seu comunicado oficial, a diretoria do banco menciona "inconsistências contábeis". O dinheiro virá de empréstimo do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

O BC descobriu que o PanAmericano vendeu carteiras de crédito para outras instituições financeiras, mas continuou contabilizando esses recursos como parte do seu patrimônio. O problema foi detectado há poucos meses e houve uma negociação para evitar a quebra da instituição, já que o rombo era bilionário.

A quebra só foi evitada após o Grupo Silvio Santos assumir integralmente a responsabilidade pelo problema e oferecer os seus bens para conseguir um empréstimo nesse valor junto ao FGC. Como o fundo é uma entidade privada, não houve utilização de recursos públicos. Além disso, a Caixa Econômica Federal, que também faz parte do bloco de controle, não terá de arcar com a perda.

DE PERTO

Para ficar mais perto do comando de seu grupo após a fraude no Banco PanAmericano, Silvio Santos anunciou no final de novembro que irá mudar a administração de suas empresas para o Complexo Anhanguera, sede do SBT.

Essa foi a primeira decisão importante depois que Luiz Sandoval pediu demissão, no mês passado, da presidência do Grupo Silvio Santos, que reúne 44 empresas. Sandoval foi substituído por Guilherme Stoliar, sobrinho e homem de confiança do apresentador.

A mudança de endereço da sede do grupo e a nomeação de Stoliar são vistos como sinal de que Silvio deverá priorizar o SBT na administração da crise.


Stoliar era diretor-executivo do SBT e um dos grandes defensores da concentração da holding no complexo.



PF investiga outras empresas de Sílvio Santos - Folha de S Paulo - Mário César Carvalho - 23 dez 2010

14 dezembro 2010

O ano da Deloitte

Carrefour e Panamericano revelaram problemas contábeis de cerca de 4 bilhões de reais. Na Brasil Telecom, o provisionamento adicional de 1,45 bilhão de reais em dívidas judiciais teve de ser realizado neste ano. Todas as inconsistências escaparam à investigação da Delloite

Auditar vem do latim audire, que significa ouvir. Já o dicionário Houaiss explica que auditar é o “exame comprobatório relativo às atividades contábeis e financeiras de uma empresa”, que deve ser feito tanto com base em números como em uma verdadeira investigação sobre a realidade da companhia em questão. No caso da Deloitte, cuja sede fica em Londres, tanto a escuta quanto a investigação estão sendo contestadas. Neste ano, a consultoria teve seu nome envolvido em três escandalosos problemas contábeis: Carrefour, Panamericano e Brasil Telecom.

Os dois primeiros casos estão frescos na memória, pois vieram à tona nos últimos dois meses e representam perdas totais próximas de 4 bilhões de reais para as companhias. Já o terceiro caso, menos difundido, cavou um buraco de cerca de 1,45 bilhão de reais no balanço de 2009 da Brasil Telecom – e os acionistas tiveram de arcar com o passivo. Sobre esse fato, a Deloitte jamais se pronunciou – e justamente ele deu início ao inferno astral que paira sobre a empresa em 2010.

Provisão mal feita – No caso da Brasil Telecom, os problemas transcorreram de forma discreta. Por meio de fato relevante, a operadora informou aos acionistas que teria de fazer uma provisão adicional de 1,45 bilhão de reais para o pagamento de dívidas judiciais. Tais débitos corriam em função do aumento de capital relacionado ao plano de expansão da companhia no início dos anos 1990.

Provisionar perdas com dívidas judiciais é fato comum nas empresas. De acordo com as normas contábeis, devem ser provisionadas no balanço as perdas prováveis – que se referem às ações que, provavelmente, a empresa perderá. Já as possíveis podem não acontecer e devem ser apenas mencionadas em notas explicativas. Por fim, as perdas remotas não precisam ser discriminadas. Quando, em 2009, a fusão entre Oi e Brasil Telecom foi aprovada e a integração contábil começou, instantaneamente muitos dos passivos avaliados como possíveis transformaram-se em prováveis, gerando a provisão bilionária.

A Deloitte, que auditava a empresa desde 2007, não verificou os problemas. Desta forma, a auditoria BDO foi chamada a levantar quais eram, exatamente, as perdas. “Houve o erro no reconhecimento das ações judiciais já transitadas em julgado, e que deveriam constar como despesas, mas que não estavam sequer provisionadas”, afirma uma fonte ligada à Brasil Telecom.

Explicação à francesa – O varejista francês Carrefour, que anunciou perdas de 1,23 bilhão de reais no Brasil no último dia 30, também terá de explicar a seus acionistas o que, de fato, aconteceu. O peculiar mercado varejista brasileiro permite que as redes recebam descontos de seus fornecedores na compra de produtos – o que no jargão do varejo leva o nome de ‘verba promocional’ ou ‘bonificação’. Tais quantias não estavam sendo discriminadas de forma correta nos demonstrativos financeiros há cerca de cinco anos, gerando parte do rombo.

O site de VEJA apurou que outra parte do passivo pode estar relacionada a problemas com a provisão de despesas judiciais, tal como no caso da Brasil Telecom. A KPMG, que assumiu a auditoria da rede no último trimestre, teria colocado as despesas possíveis e remotas contidas nos demonstrativos elaborados pela Deloitte como provisão de despesas prováveis. Desta forma, se o Carrefour vencer as ações judiciais em questão, talvez, no próximo ano, o que era rombo poderá se transformar em caixa.

Em comunicado, a auditoria se exime de qualquer culpa. “Esses ajustes foram definidos pela administração da matriz do Grupo Carrefour e não foram submetidos à auditoria da Deloitte no Brasil. Portanto, não temos como nos posicionar a respeito e entendemos que estes em nada modificam as demonstrações financeiras de anos anteriores, auditadas pela Deloitte”, afirma o documento. Os ajustes, de fato, foram levantados neste trimestre por outra auditoria. No entanto, a Deloitte não quis explicar como não reparou nos problemas contidos nos demonstrativos. O grupo Carrefour trabalha em auditoria conjunta com as duas empresas – tanto na matriz como em todas as filiais. Em 2009, pagou 5,7 milhões de euros à Deloitte e 6,1 milhões de euros à KPMG para realizarem seus trabalhos.

Baú de surpresas – Vale ressaltar que, no caso do banco Panamericano, os problemas contábeis eram mais graves e geraram rombo maior – de 2,5 bilhões de reais (até o momento), além de colocarem em xeque a eficácia da elogiada regulação do sistema financeiro nacional. Apesar de não ter percebido as inconsistências nas carteiras de crédito, na provisão em relação a inadimplentes, e nem as irregularidades das operações com cartões, a Deloitte afirmou em entrevistas à imprensa que não é culpada pelo que ocorreu e que vai 'restaurar sua reputação'.

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) não acredita que a imagem das empresas do setor (incluindo a própria Deloitte) será punida pelo mercado. Além disso, garantiu que, tanto em relação ao Panamericano, quanto ao Carrefour, medidas serão tomadas. “Estamos investigando ambos os casos e solicitamos informações para a auditoria para que possamos formar um juízo”, afirma o vice-presidente do conselho, Enory Spinelli.

Enquanto os verdadeiros culpados pelos problemas não forem desmascarados, as atenções se voltarão para os que não perceberam as fraudes, e eram pagos para fazê-lo. A Deloitte é a bola da vez. Suas concorrentes, Ernst&Young, Pricewaterhouse Coopers e KPMG, também já vivenciaram problemas parecidos no Brasil e no mundo. As auditorias costumam entoar em coro que acreditam na idoneidade das empresas no momento em que elas fornecem informações classificadas como verdadeiras. Talvez seja a hora de mudar esse conceito e transformar-se em xerife. Ou então, que se crie um xerife para monitorar as auditorias.


O ano que a Deloitte queria esquecer - Veja - Ana Clara Costa

06 dezembro 2010

Suspeitos do Panamericano

O relatório do Banco Central (BC) sobre o caso do banco Panamericano aponta 14 executivos como "supostos responsáveis" pelo rombo de R$ 2,5 bilhões descoberto recentemente no banco do apresentador de TV Silvio Santos. Além dos oito ex-diretores, cuja citação já era esperada, o Banco Central incluiu na relação os então membros do conselho de administração.

Entre eles, Luiz Sebastião Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, e Guilherme Stoliar, sobrinho do apresentador e atual presidente do grupo. Na época em que as fraudes foram cometidas, o primeiro era presidente do conselho do Panamericano. Stoliar era um dos membros.

O relatório sucinto de ocorrência, do processo 1001496607, deve chegar esta semana à Polícia Federal. O Banco Central não atribui crime aos executivos, mas sugere eventual enquadramento na lei do colarinho branco, que trata de crimes contra o sistema financeiro, nos artigos 4, 6 e 10.

Nesses casos, a legislação prevê multa e pena de reclusão de até 12 anos para administradores de instituições financeiras condenados por gestão fraudulenta, por induzir a erro sócios, investidores ou autoridades públicas e por falsificar demonstrações financeiras.

De acordo com o relatório do Banco Central, o banco Panamericano adotou, "de forma sistemática e contínua, procedimentos de contabilização irregular", que provocaram a necessidade de uma injeção de mais de R$ 2 bilhões no patrimônio da instituição financeira. O documento não menciona o rombo calculado em R$ 400 milhões nas operações com cartões de crédito, porque essa área não está sob sua responsabilidade


Banco Central aponta suspeitos no Panamericano - Dom, 05 Dez 2010 - Estado de São Paulo

30 novembro 2010

Os homens do Sílvio

Não é de hoje que histórias de ascensão e queda — de impérios, políticos, esportistas ou de homens de negócios — fascinam. O sucesso causa admiração e inveja; o fracasso que se segue após o período no topo, perplexidade. O ambiente corporativo brasileiro tem uma razoável cota de empresários que fizeram essa trajetória. O patrono da turma é Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, que passou de capitalista mais poderoso do Segundo Reinado a falido em poucos anos. Em novembro, o país assistiu, pasmo, à repentina queda de um de seus empresários mais célebres, Senor Abravanel, de 79 anos — mais conhecido como Silvio Santos. Como o Barão de Mauá, Silvio tem origem modesta. Foi camelô nas ruas do Rio de Janeiro e locutor de rádio até assumir sua primeira empresa, a loja de brinquedos e utensílios domésticos Baú da Felicidade, em 11 de setembro de 1958. Acumulou fortuna e se tornou controlador de um conglomerado com 34 empresas e faturamento de 4,6 bilhões de reais. A notável trajetória ascendente de Silvio Santos foi interrompida no último dia 11 de setembro, exatos 52 anos após o início de sua vida empresarial. Foi quando ele recebeu um telefonema descrevendo a situação do banco PanAmericano, fundado pelo Grupo Silvio Santos (GSS) em 1990. O Banco Central havia descoberto uma fraude bilionária nos balanços do PanAmericano. Para evitar a liquidação do banco, Silvio teve de tomar um empréstimo de 2,5 bilhões de reais e entregar todas as suas empresas em garantia.

Apesar de repentino, o espetacular tropeço de Silvio Santos teve suas sementes plantadas ao longo dos anos. Ele sempre se orgulhou em público de não dar a menor bola aos outros negócios — sua paixão sempre foi o SBT, sua rede de televisão. Polvilhou de "homens de confiança" as empresas de seu conglomerado — calcula-se que mais de 30 parentes constavam da folha de pagamentos do grupo, muitos em posições de liderança. Fora da área de influência direta do dono, o PanAmericano cresceu como um estranho no mercado brasileiro de bancos médios. Cada um de seus principais concorrentes tem controladores diretamente envolvidos na gestão do dia a dia. No banco de Silvio, a ausência do dono contribuiu para uma operação menos eficiente que a dos rivais (seus custos administrativos, por exemplo, eram quatro vezes maiores que a média do mercado). Diante disso, o PanAmericano passou apertado pela crise de 2008, quando chegou a pagar resgates de investidores em parcelas. Finalmente, em setembro, o Banco Central descobriu que a ineficiência era a mais benigna das consequências do ambiente que havia sido criado no PanAmericano longe dos olhares do dono.

Passado o anúncio do resgate, começa a nova fase — a identificação dos culpados pelo buraco. A busca, claro, é concentrada nos tais "homens de confiança" de Silvio. No centro da tormenta está Rafael Palladino, presidente do banco e um dos oito funcionários demitidos após a descoberta da fraude. "Estou tão abismado quanto todos", disse Palladino numa rápida conversa com EXAME. Na cúpula do GSS, essa frase é recebida com enorme ceticismo. A mulher de Silvio, Íris Abravanel, vem chamando o executivo, que também é seu primo, de "Judas". Uma das principais suspeitas recai sobre o fato de que a premissa da declaração de Palladino não combina com seu estilo, ex-homens de confiança: os principais executivos que perderam o emprego após a descoberta da fraude nos balanços do banco PanAmericano considerado altamente centralizador. Segundo executivos do banco, ele controlava cada aspecto da operação — até mesmo o contrato de patrocínio do Corinthians foi negociado pelo presidente do banco. Formado em educação física, largou a carreira de personal trainer para ser sócio de postos de gasolina e, em 1989, foi convidado por Silvio para trabalhar no GSS. No ano seguinte, assumiu o recém-criado PanAmericano. Como muitos de seus colegas de mercado financeiro, mas em contraste absoluto com o estilo de vida espartano de Silvio Santos, Palladino gostava de gastar o dinheiro que ganhava no banco. Nos últimos anos, comprou uma Ferrari vermelha, uma lancha Intermarine avaliada em 5 milhões de reais e construiu uma mansão em Iporanga, no litoral paulista. Volta e meia, costumava ir ao trabalho de moto. Como o banco se tornou o maior negócio do GSS, dizia que cabia a ele ganhar o dinheiro que Silvio terminava por torrar no SBT.

A inusitada biografia e seu estilo de vida faziam de Palladino uma espécie de lenda entre os executivos de bancos médios, mas havia dentro do Grupo Silvio Santos quem visse ali uma combinação de ingredientes que poderia levar à ruína da instituição. Em entrevista a EXAME, o ex-conselheiro do GSS José Francisco de Souza afirma que alertou o apresentador para o que julgava o perigoso estilo de gestão adotado por Palladino. "Ele era um inconsequente", diz Souza. "O problema do Rafael sempre foi seu ímpeto de inflar o banco de forma acelerada sem ter lastro para isso." Souza afirma que, nas três ocasiões em que denunciou Palladino a Silvio Santos, o empresário respondeu que as acusações não passavam de "implicância" (a rivalidade entre os dois executivos era conhecida). Procurado por EXAME, Silvio Santos informou que não falaria sobre o caso PanAmericano. Palladino disse que não se pronunciaria agora.

O misterioso CDB

Segundo um executivo que acompanha as investigações, Palladino atribuiu a Wilson Roberto de Aro, ex-diretor financeiro do PanAmericano, a culpa pelo rombo de 2,5 bilhões de reais. Mais discreto que Palladino, Aro trabalhava para Silvio Santos desde 1974, quando começou sua carreira como auxiliar administrativo. Ele se orgulhava de citar de memória os números operacionais do banco de qualquer trimestre nos últimos três anos. Aro tomou uma série de medidas para proteger seu patrimônio em caso de bloqueio pela Justiça. Seu apartamento, num dos prédios mais caros de São Paulo, estava em nome de uma de suas empresas até setembro. De acordo com reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, Aro passou o imóvel para seu nome e o da esposa. Se um dia seus bens forem penhorados, o apartamento poderá ser considerado a moradia do réu, que evitaria, assim, perdê-lo. O ex-diretor também não quis dar entrevista. Uma semana após a divulgação do rombo, Luiz Sebastião Sandoval, presidente do GSS por 28 anos, pediu demissão. "Não me sinto responsável pelo que aconteceu", disse ele a EXAME. Como presidente do grupo, ele diz que não teria entre suas atribuições checar a contabilidade de cada empresa. "Estou com a consciência tranquila."

O que levaria os executivos do Pan-Americano a maquiar de maneira tão descarada os balanços? Há uma combinação de dois motivos mais prováveis. O primeiro era a situação financeira do banco, que poderia ameaçar o emprego dos diretores. Já durante a crise causada pela quebra do Banco Santos, em 2004, o PanAmericano teve dificuldades para honrar seus compromissos — alguns resgates foram pagos em parcelas. Os altos custos, maiores que a média do mercado, teriam contribuído para que os resultados — os reais, vale dizer — ficassem abaixo do esperado. A maquiagem dos balanços foi uma forma de "manter o patrão feliz", nas palavras de um interlocutor de Silvio Santos e, assim, salvar os empregos da cúpula do banco. Entra, aí, o segundo fator. Os investigadores se dedicam, agora, a entender se houve também desvio de dinheiro do banco para a conta dos executivos. Chamou a atenção um contrato de Certificado de Depósito Bancário (CDB) feito com um investidor mineiro, no valor de 386 milhões de reais, que rendia o equivalente a 127% da taxa de juro, índice absolutamente fora do normal dos bancos médios. Suspeita-se, no grupo, que parte desse rendimento tenha voltado para os executivos. Outro alvo da investigação é a área de cartões de crédito, que não é fiscalizada pelo Banco Central. Cerca de 400 milhões de reais sumiram do caixa do banco PanAmericano pelo departamento de cartões — como ninguém sabe onde a dinheirama foi parar, esse é considerado um possível foco de desvios.

Jogo de empurra

Se ainda falta descobrir quem maquiou os balanços e com que intenção, tem-se um visível jogo de empurra na busca pelos culpados por deixar a fraude passar batida por quatro anos. O Banco Central culpa o GSS, que culpa a auditoria Deloitte (responsável por atestar a veracidade dos balanços do PanAmericano), que culpa o Banco Central e os ex-administradores do banco. A verdade, claro, é que os três devem explicações explicações. Num primeiro momento, o empresário Silvio Santos anunciou que processaria sua firma de auditoria, mas voltou atrás. Em casos anteriores, como a quebra dos bancos Santos e Nacional, os controladores acabaram responsabilizados criminalmente. "Ainda é cedo para saber se o acionista majoritário deverá ser punido", disse a EXAME o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Somente quando as investigações estiverem concluídas saberemos se o dono do banco PanAmericano será condenado e multado." O GSS está negociando a contratação do criminalista Arnaldo Malheiros Filho para se defender. Rafael Palladino contratou o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o advogado Celso Villardi. Wilson Roberto de Aro escolheu o escritório Ráo, Pacheco, Pires & Penón Advogados.

Um dos mitos que surgiram em meio à débâcle do PanAmericano é o de que Silvio vive, agora, uma espécie de ruína financeira — as notícias que davam conta de sua suposta bancarrota fizeram com que fãs enviassem cartas ao SBT prometendo que comprariam mais cartelas da Telesena para ajudálo. Trata-se, no mínimo, de uma conclusão apressada. Em primeiro lugar, porque as condições do empréstimo são extremamente favoráveis. O empresário só começa a pagar em três anos, a dívida é corrigida pela inflação e não serão cobrados juros. Além disso, Silvio negociou de forma astuta com o Fundo Garantidor de Crédito, entidade criada pelos bancos para proteger os correntistas em caso de crise, para que seus bens pessoais ficassem de fora das garantias oferecidas. Assim, fezse o que se convencionou chamar de "conta de chegada" para que o valor de suas empresas superasse ligeiramente o total da dívida. A soma das garantias é de 2,7 bilhões de reais, e se chegou a essa conclusão sem laudos técnicos sofisticados. Com boa parte de seu patrimônio intocada, afirmam amigos do empresário, Silvio não fará a liquidação de suas empresas, como a empresa de cosméticos Jequiti (considerada uma espécie de joia da coroa), o hotel Jequitimar ou mesmo sua participação no PanAmericano. Enquanto não chega a hora de começar a pagar a dívida, Silvio vai mexendo na estrutura do grupo. Uma das primeiras medidas foi substituir Luiz Sandoval, o ex-presidente do GSS, por seu sobrinho Guilherme Stoliar, ex-diretor do SBT e considerado por pessoas próximas "o filho que Silvio não teve" (ele tem seis filhas) — torce-se para que a aposta em homens de confiança dê certo desta vez.


Todos os homens de Silvio Santos - Denise Carvalho e Thiago Bronzatto, da EXAME - 25/11/2010

28 novembro 2010

Venderam as suas ações

A diretoria do Banco Panamericano vendeu quase R$ 1 milhão em ações do banco entre setembro e outubro, período em que o Banco Central (BC) já investigava um rombo bilionário na instituição. As informações constam de documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O caso só veio à tona em 9 de novembro.

Todas as oscilações estão sendo investigadas pela autarquia, que apura irregularidades no caso, incluindo o uso de informação privilegiada por parte de investidores, o que é crime contra o mercado de capitais. Em setembro, os diretores venderam o equivalente a R$ 241 mil e, em outubro, R$ 725,9 mil.

O Banco Central pediu explicações ao Panamericano em 8 de setembro. Em 14 do mesmo mês, recebeu correspondência da instituição do Grupo Silvio Santos solicitando prazo adicional para prestar esclarecimentos. No dia 22 de setembro, houve reconhecimento formal sobre as divergências contábeis.

As ações preferenciais do Panamericano também registraram um pico de vendas no dia 17 de setembro - depois de o BC ter pedido os esclarecimentos ao banco. No dia 17 de setembro, foram negociados R$ 20,6 milhões do papel, valor muito acima da média do mês e do ano.

Em todo o mês de setembro, com exceção do dia 17, o máximo transacionado foi de R$ 3,32 milhões (27/9). A ação só ultrapassou neste ano os R$ 10 milhões de volume negociado em casos isolados. O histórico mostra que, em grande parte das vezes, o volume ficou abaixo de R$ 1 milhão/dia.

A BES Securities foi responsável pela maior parte do volume de negócios do dia 17, uma sexta-feira, com R$ 17,6 milhões vendidos. Logo depois vem a corretora Gradual, com R$ 1,5 milhão em vendas. O papel fechou em queda de 1,09% no dia, cotado a R$ 8,10. Ontem, o papel fechou a R$ 4,75.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta semana que já tinha informações sobre um problema no sistema financeiro desde julho. Mas, segundo ele, o BC demorou para, num cruzamento de dados, descobrir que o rombo de R$ 2,5 bilhões estava concentrado num só banco, o Panamericano, do empresário Silvio Santos.

De julho até 17 de setembro, o volume transacionado com o papel preferencial da instituição não ultrapassou a casa dos R$ 6 milhões por dia. Houve novo pico de negociação a partir de 4 de novembro, cinco dias antes de o caso vir à tona. Naquele dia, foram transacionados R$ 19,2 milhões. No dia 9, houve outro repique, desta vês de R$ 48,7 milhões, embora o fato relevante sobre o caso tenha sido divulgado depois do fechamento do mercado.


Ex-diretores venderam ações do Panamericano - Por Sabrina Valle - Estado de S Paulo 27 nov 2010

Dados falsos

O banco Fator diz que só há uma explicação para o fato de não ter encontrado o rombo de R$ 2,5 bilhões no PanAmericano ao analisar a situação da instituição para a Caixa Econômica Federal: os dados fornecidos pelos executivos estavam fraudados. ”Se as notícias estão certas, nós recebemos documentos falsos do PanAmericano”, afirma Venilton Tadini, diretor do banco.

Por conta do impacto que esse caso teve na imagem do Fator, o banco cogita processar os executivos do PanAmericano que forneceram as informações para a análise, segundo Tadini.

O Fator fez a análise do PanAmericano antes de a Caixa investir R$ 740 milhões no banco, em dezembro do ano passado. A fraude nos números do PanAmericano foi descoberta entre julho e agosto deste ano, de acordo com a fiscalização do Banco Central.

Para o banco de Silvio Santos não quebrar, o Fundo Garantidor de Crédito, entidade que recebe recursos dos depósitos bancários, emprestou R$ 2,5 bilhões ao apresentador.

A principal fraude, segundo o BC, era que o PanAmericano vendia carteiras de créditos para outros bancos e não dava baixa nesse ativo, ou seja, não o retirava do balanço. Com essa manipulação contábil, o banco parecia ter mais recursos do que tinha de fato.

Carteira de Fumaça

O Fator trabalhou na avaliação com consultores da KPMG e advogados do escritório Bocater, Camargo, Costa e Silva. Foram 90 dias de trabalho, por uma equipe que tinha entre 30 e 40 pessoas, dependendo da fase.

O grupo recebeu uma base de dados que não tinha os nomes dos clientes, para não violar o sigilo bancário. Cada cliente era representado por um código. Sem o nome dos clientes do PanAmericano, não daria para notar a fraude, diz Tadini.

“Não é meu dever avaliar se uma carteira de 1 bilhão é fumaça. Não estou lá para questionar a fidelidade dos documentos”, afirma. Na avaliação do Fator, os dados das carteiras de crédito coincidiam com os números do balanço financeiro.

A norma número 18 do Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), que regula os serviços para venda de participação societária, diz: “A responsabilidade primária pela fidedignidade das demonstrações contábeis e de quaisquer outras informações produzidas pela empresa recai sobre seus administradores”.

As primeiras avaliações indicam que as fraudes começaram em 2006. As análises do Fator foram feitas no ano passado -a data-base era 30 de março de 2009. Na avaliação feita para a Caixa, o Fator diz ter encontrado pequenos problemas nas áreas tributárias e trabalhista, que denotavam uma certa desorganização na administração, mas não na carteira de crédito.

O Fator é um dos maiores avaliadores de bancos do país. Já atuou na privatização do Banespa, do Banestado (do Paraná), na Nossa Caixa e do Bandep (Banco do Estado de Pernambuco). Dos cerca de R$ 108 bilhões que o governo obteve no processo de privatização do governo FHC, o banco avaliou empresas que valiam R$ 16 bilhões.

Nesse processo, o Fator descobriu um rombo de R$ 4 bilhões no Banespa e outro de R$ 250 milhões no Banestado. “Temos tradição em pegar esse tipo de coisa”, afirma o diretor.


Fator acusa PanAmericano de fornecer dados falsos 27 nov, 2010 - Mario Cesar Carvalho, Folha de S. Paulo

26 novembro 2010

Panamericano e o Contador

Se um médico provocar a morte de um paciente a pedido dele, de quem será a responsabilidade? Do médico? De quem pediu? Ou de ambos? Agora, se os gestores do Banco Panamericano pedirem para o contador fraudar resultados, para registrar ativos e passivos fictícios, de quem será a responsabilidade? De quem pediu? Do Contador? Ou de ambos? O Código Civil estabeleceu em capítulos próprios a responsabilidade dos prepostos e a escrituração contábil. Isso porque a contabilidade exerce uma função social ao “vestir” as pessoas jurídicas para que elas tenham forma e conteúdo, representados nas demonstrações contábeis. Essas informações têm por função fornecer elementos para proteger os agentes econômicos contra o risco do insucesso, favorecendo a geração de emprego e a estabilidade social. É por isso que o profissional contábil, em sua função de transformar os atos da gestão em informações contábeis, assume responsabilidade civil e criminal pelas informações prestadas à sociedade.

As técnicas usadas nos registros contábeis inviabilizam, se usadas corretamente, a manipulação de informações. Deixar de registrar a venda de uma carteira de clientes, pela aplicação da teoria do débito e do crédito, é impossível. Isso porque tudo que se tem (débito) veio de algum lugar (crédito). Não dar baixa de ativos, creditando um passivo fictício ou uma receita inventada é crime, e o profissional que o cometer deve ser punido. O que estranhamos é o fato de o profissional responsável pelas informações contábeis do Banco Panamericano ainda não ter se manifestado, e que as autoridades e o conselho de fiscalização da profissão não tenham ainda interpelado esse profissional.

Da mesma forma, para uma companhia vender as suas próprias ações ela precisa possuí-las primeiro. Caso contrário, quem irá vender são os seus acionistas. Então, quem vendeu as ações do Banco Panamericano para a Caixa Econômica Federal? Que vantagens os vendedores obtiveram com essa venda? Se os lucros não eram verdadeiros, quem foram os beneficiados? Eles irão devolver os lucros fictícios? Esperamos que isso tudo não acabe em “pizza”. A sociedade e os contadores, que usam essas informações contábeis para orientar os investidores, esperam uma ação exemplar. Não é possível que um rombo de R$ 2,5 bilhões, superior ao valor do patrimônio líquido do Banco Panamericano, fique como se nada tivesse acontecido somente porque o sócio controlador injetou o valor para cobrir o rombo. E como fica a Caixa Econômica Federal? Quem irá pagar pela desvalorização do valor das ações?


O Banco Panamericano e a contabilidade - Salézio Dagostim -Jornal do Commercio - 25 11 2010 - grifo do blog

25 novembro 2010

Caixa, Panamericano e Senado III

BRASÍLIA - Acossada por senadores da oposição sobre "o mau negócio" na compra de parte do banco Panamericano, feita pela Caixa Econômica Federal com recursos do contribuinte por ser um banco público, a presidente da instituição financeira, Maria Fernanda Coelho, negou várias vezes qualquer influência política. E também rejeitou ter falhado com o negócio.

"A Caixa não comprou a instituição como um especulador, mas com base num planejamento interno. E temos segurança de que o plano de negócios irá possibilitar o retorno esperado", disse ela.

Maria Fernanda repetiu que desconhecia os problemas contábeis do Panamericano, até ser informada em setembro pelo Banco Central.

Voltou a afirmar que a compra de participação no banco do dono do SBT faz parte de um projeto de longo prazo, estabelecido para até 2015, de expansão do crédito e ampliação de market share em vários segmentos, "com vista ao atendimento da clientela de baixa renda", disse ela.

O plano foi elaborado a partir da criação da CaixaPar, medida adotada a partir da crise global de 2008, que permite ao banco estatal fazer aquisições e fusões de instituições financeiras e não financeiras.

Em audiência conjunta nas comissões de Assuntos Econômicos e de Constituição e Justiça do Senado, ao lado do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a presidente da Caixa insistiu que a operação foi feita com "cuidado e preparação", seguindo avalição de duas empresas externas e também de análise interna da Caixa.

Ela procurou isentar as consultorias Deloitte e KPMG, que deram pareceres favoráveis sobre balanços do Panamericano, de responsabilidades por não alertarem sobre as "inconsistências contábeis" , descobertas quando o BC decidiu, em setembro, avaliar as compras de carteiras de crédito por vários bancos. O Panamericano vendia, mas continuava a manter as carteiras vendidas no balanço.

Para Maria Fernanda, "a capacidade de resposta" do Panamericano "não foi abalada" após o anúncio do rombo de R$ 2,5 bilhões, coberto com empréstimo de longo prazo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Ela negou que o ex-ministro Luiz Gushiken tenha interferido e ajudado na escolha do Panamericano. Mas não respondeu se os problemas do banco de Silvio Santos foram "ocultados" pelo governo, para não prejudicar o processo eleitoral e a campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff.


Presidente da Caixa nega influência política na compra do Panamericano
Qua, 24 Nov, 11h57 - (Azelma Rodrigues | Valor)

A reportagem deveria ter um contraponto. Quem conhece sabe que a decisão de aquisição do Panamericano foi política.

Banco Central, Panamericano e Senado

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, voltou a defender hoje que não cabe à autoridade monetária criar estrutura de auditoria paralela à feita pelas empresas de auditoria estabelecidas e já contratadas normalmente pelas instituições financeiras. Ele explica que, se o BC fizesse esse trabalho, poderia ser gerado um risco adicional ao mercado, o chamado risco moral, que é gerado quando empresas, analistas e investidores não avaliam as empresas de forma adequada por acreditar que o governo - nesse caso, o BC - está fazendo o trabalho.

"Um banco como a Caixa Econômica Federal tem 500 auditores. Imagina quantos seriam necessários para que o BC criasse um sistema de auditoria paralelo para o sistema financeiro inteiro?", disse Meirelles aos senadores, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. A afirmação foi feita em resposta aos parlamentares que questionaram o BC sobre se deveria haver ação para que a instituição observasse no início problemas semelhantes aos que levaram o Panamericano ao rombo de R$ 2,5 bilhões.

"Isso custaria muito aos cofres públicos para evitar que o acionista e o controlador tivessem prejuízo. Seria uma super galáctica empresa de auditoria do BC auditando todas as empresas financeiras do Brasil. Não há viabilidade para isso", disse aos parlamentares, ao lembrar que o Comitê de Basileia tem indicado exatamente o contrário: a redução do risco moral.

Intervenção

Ao justificar os motivos pelos quais o BC não fez uma intervenção no Banco Panamericano, o presidente da autoridade monetária afirmou que o BC tem de adotar o regime que gera o menor custo para a sociedade. Ele destacou que, quando for verificada a possibilidade de recuperação da instituição financeira, esse é o caminho adotado pelo BC. Segundo Meirelles, o BC já administrou mais de 200 casos do tipo do Panamericano.

Para justificar as críticas de que o governo não divulgou o problema do Panamericano para não prejudicar a campanha da então candidata Dilma Rousseff, Meirelles apresentou uma série de pontos da legislação brasileira que trata de prazos e da necessidade de sigilo nesses casos para afastar o risco de uma corrida bancária e de uma crise sistêmica no País.

"O BC tem de seguir a lei. Não tem de obedecer calendários de outras ordens", ponderou o presidente do BC, que participa de audiência pública conjunta no Senado, juntamente com a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, para falar sobre o Panamericano. Ele disse que seria um desastre absoluto uma divulgação de um problema no banco antes da solução.

Inconsistências

Meirelles relatou ainda que, em julho, a autoridade monetária já tinha conhecimento de inconsistências em bancos na cessão de carteiras. Ele disse que, no entanto, não havia informações sobre quantos e quais eram os bancos e nem sobre valores consolidados. A partir daí, de acordo com o presidente do BC, houve "fiscalização exaustiva dos cedentes".

"Foi feito trabalho de mapeamento paulatino e, em setembro, se chegou a essa instituição", disse, referindo-se ao Panamericano. Meirelles destacou que não é usual autoridades fiscalizadoras do mundo inteiro conseguirem detectar problemas individuais internos antes de problema atingir dimensão que permita ainda solução pelo controlador. "Tivemos problemas de inconsistência fora do Brasil, mas é raro ver que a fiscalizadora detectou o problema, porque esta não é a função da fiscalizadora."


Meirelles alerta para risco caso BC fizesse auditoria - Por Fernando Nakagawa, Celia Froufe e Adriana Fernandes - Agência Estado - 24/11/2010

Caixa, Panamericano e Senado II

A presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, abriu sua exposição de hoje, na audiência conjunta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado, defendendo a necessidade do banco público fazer aquisições e fusões, para ter condições de crescimento no mercado. Segundo ela, a criação da CaixaPAR, que adquiriu parte do Banco Panamericano, tem justamente a função de fazer essas operações no longo prazo.

Ela ponderou que a Caixa era a instituição do sistema financeiro brasileiro que não podia fazer aquisições e fusões e que a autorização do Congresso permitiu que isso ocorresse. Maria Fernanda disse que identificar oportunidades do mercado é importante para que o banco tenha capacidade de expansão. Segundo ela, a Caixa precisa estar "em todas as frentes, em todos os produtos" para não perder posições no mercado.

Ela citou alguns casos em que o banco perdeu a liderança no mercado no passado, como na área do crédito consignado, e apresentou uma tabela em que os dados mostram que o banco perdeu posição no ranking das maiores instituições financeiras. Por isso, destacou a necessidade do fim das restrições para que o banco cresça. Ela informou que a Caixa vai fechar o ano com uma carteira de crédito de R$ 180 bilhões. Até agora, a carteira está em R$ 165 bilhões.


Caixa defende aquisições e fusões para crescer - Por Adriana Fernandes, Fernando Nakagawa e Célia Froufe - Agência Estado - 24/11/2010

Caixa, Panamericano e Senado I

A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, disse hoje que escolheu o Banco Panamericano para se integrar com a Caixa porque o banco apresentou o maior volume de sinergia com a instituição estatal. Ela enfatizou a atuação do banco do Grupo Silvio Santos no Estado de São Paulo. "É um Estado importantíssimo para as instituições financeiras, para a expansão do crédito", disse, durante audiência pública conjunta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a Comissão de Assuntos Econômicos (Cae) do Senado.

Maria Fernanda salientou que o crédito do banco privado respondia por 50% de sua atuação. "Além, claro, da atuação do setor de crédito consignado junto ao setor privado", citou. "Isso possibilitava potencial de crescimento para a Caixa em segmentos considerados prioritários", acrescentou.

Ela disse ainda que, de março a junho, equipes técnicas discutiram projeto básico e pensaram na contratação de uma empresa que atuaria nos seguintes serviços: assessoria de negociações, due diligence, avaliação econômica e modelo de governança.

Participação

A presidente da Caixa defendeu ainda a atuação da instituição na compra de 49% das ações ordinárias do Banco Panamericano, instituição envolvida em um rombo contábil de R$ 2,5 bilhões descoberto há algumas semanas. Segundo ela, empresas que assessoraram o banco federal, como o Banco Fator, foram contratadas pela experiência comprovada e pelas propostas financeiras mais competitivas.

Na audiência pública no Senado, Maria Fernanda lembrou que o Banco Fator tem larga experiência na assessoria para compra de bancos e atuou, por exemplo, em grandes instituições e operações de volumes expressivos, tais como Banespa e Santander. Além da experiência comprovada, Maria Fernanda afirmou que essas empresas apresentaram à Caixa a melhor proposta financeira para o trabalho de assessoria para a compra.

Além do Fator, a Delloitte participou diretamente da assessoria ao negócio entre Caixa e Panamericano. Maria Fernanda também afirmou que a direção da Caixa foi informada oficialmente dos problemas contábeis do Panamericano em setembro. O aviso foi feito pelo próprio Banco Central.

Plano de negócios

Maria Fernanda informou hoje que, no próximo dia 26, dará início a um novo plano de negócios para o Banco Panamericano. Nessa data, será realizada a assembleia de acionistas do Panamericano, quando Maria Fernanda assumirá a presidência do Conselho Administrativo da instituição. Ela informou que o plano de negócios já foi preparado e terá foco no crédito à pessoa física.

A executiva também fez um balanço das ações que a Caixa adotou desde que tomou conhecimento, em setembro, de que o Panamericano estava passando por um processo de fiscalização do BC. Em outubro, relatou Maria Fernanda, a Caixa tomou conhecimento da existência de inconsistências contábeis no Panamericano.

Entre as ações relatadas por Maria Fernanda, está a interpelação extrajudicial da CaixaPar ao Banco Fator. Ela destacou na audiência que, restabelecida as condições patrimoniais do Panamericano, agora a Caixa tem plenas condições de executar o plano de negócios do banco. Maria Fernanda ressaltou que a condução do processo pelo BC e pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) deu tranquilidade à Caixa.


Caixa defende no Senado operação com o Panamericano - Por Célia Froufe, Adriana Fernandes e Fernando Nakagawa - Agência Estado - 24/11/2010

23 novembro 2010

Bônus no Panamericano


Fonte ligada à instituição revelou ao site de VEJA que cada diretor recebia anualmente cerca de 4 milhões de reais em bônus

Os salários da diretoria do banco Panamericano continuam causando polêmica. De acordo com o formulário de referência do banco, divulgado em seu próprio site na internet, nenhum membro da diretoria era premiado com remuneração de curto ou longo prazo – pelo menos não nos últimos dois anos. No entanto, uma fonte ligada à instituição revelou ao site de VEJA que cada diretor recebia anualmente cerca de 4 milhões de reais em bônus. Tal quantia não era discriminada no balanço da empresa, cujas despesas de pessoal totalizaram cerca de 22 milhões de reais no ano passado e 13 milhões de reais no primeiro semestre de 2010.

Isso significa que o banco fazia aportes anuais de cerca de 32 milhões de reais ao bolsos de seus executivos, sem que isso fosse discriminado no balanço. Inicialmente, acreditava-se que os executivos forjavam números inflados em seu balanço para aumentar seus bônus. No entanto, de acordo com o formulário de referência do Panamericano, a maior remuneração conferida a um executivo em 2009 foi de 960 mil reais, não passando 80 mil reais por mês. Os bônus eram pagos, então, por fora. "Todos no banco sabiam que a diretoria ganhava bônus", afirma a fonte ouvida pelo site de VEJA.

Defesa milionária – Tal valor (os 80 mil reais) seria, no mínimo, insuficiente para custear a defesa de Rafael Palladino, ex-presidente do banco. O executivo contratou um grupo de renomados escritórios de advocacia para conduzir sua defesa nos processos que sofrerá. O site de VEJA apurou que Palladino pagará 4 milhões de reais, inicialmente, por estes serviços. O ex-ministro da Justiça e criminalista Márcio Thomaz Bastos confirmou que fará parte do time que defenderá Palladino.

Segundo o formulário de referência protocolado na CVM, o total pago como salários aos oito diretores do banco em 2009 foi de 4,5 milhões de reais. Neste ano, o montante que sairia do caixa da empresa para pagar a diretoria não passaria de 4,4 milhões de reais para todos os membros. Sobre a participação acionária dos diretores, também há informações inverossímeis. De acordo com o formulário de referência, a diretoria possuía 189 mil ações do banco em 31 de agosto de 2010. Já outro documento também disponível no site da autarquia, na mesma data a posição acionária dos diretores era de 491 mil papeis.


Panamericano: bônus milionários eram pagos fora do balanço - Veja