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Mostrando postagens com marcador Aramco. Mostrar todas as postagens
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02 julho 2018

Tudo pela Aramco

Para atrair a maior oferta pública de ações da história, a bolsa de Londres criou uma categoria específica, para enquadra a Aramco. A empresa de petróleo da Arábia Saudita deverá fazer sua oferta pública, mas ainda não escolheu a bolsa. Criando uma categoria de "sovereign-owned firms" (empresa de propriedade soberana), a bolsa de Londres pretende aumentar suas chances de derrotar Nova Iorque e Hong Kong para sediar a oferta, informou a The Economist.

Os defensores dos acionistas e grandes investidores são críticos, dizendo que enfraquece os padrões de governança e as proteções dos acionistas minoritários

(Grato Sérgio Nazaré, pela dica)

13 abril 2018

Números da Aramco

Já postamos aqui sobre a oferta pública da Aramco, a empresa de petróleo da Arábia Saudita (aqui, aqui e aqui). A empresa decidiu por usar a IFRS e agora apareceram os primeiros números da empresa:

(...) um primeiro vislumbre das finanças da estatal petrolífera mostra que a Aramco produziu US $ 33,8 bilhões em lucro líquido nos primeiros seis meses de 2017, superando facilmente os titãs norte-americanos como Apple, JPMorgan Chase e Exxon Mobil Corp.

As contas, preparadas para um padrão IFRS, também mostram a sensibilidade da Aramco aos preços do petróleo. No primeiro semestre de 2016, quando o preço médio bruto era de US $ 41, a empresa teve US $ 7,2 bilhões com lucro líquido. Este ano, os lucros deverão ser significativamente maiores do que 2017 após a recente recuperação do preço do petróleo para mais de US $ 70 o barril.


Além disto, a empresa gerou um fluxo de caixa de 52 bilhões de dólares no início de 2017.

08 novembro 2017

Política, IPO e Arábia Saudita

A recente prisão de dirigentes na Arábia Saudita abriu algumas questões interessantes quanto ao IPO da Aramco. Por um lado, as questões podem ter reflexos no preço do petróleo. Mas as cotações de ontem mostraram uma redução nos preços, o que inibe uma oferta melhor pelas ações da empresa. O outro lado é mais relevante: a incerteza de fazer negócios aumentou. O reflexo disto foi o preço do CDS, o seguro para fazer negócios com o país, que aumentou. Maior CDS é sinal de aumento no risco país, que reduz o preço das ações da empresa.

Os últimos acontecimentos no país prejudicaram a possibilidade da oferta pública de ações da Aramco atingir o objetivo fixado pelo homem forte do país: 2 trilhões de dólares de valor. Se antes este já era um valor difícil de atingir, agora ficou pior. Além disto, o país parece querer brigar com alguns vizinhos, pretende construir empreendimentos questionáveis no futuro, garantir o futuro do reino num mundo sem petróleo, entre outras ambições.

Uma análise interessante foi feita pela Bloomberg:

Houve sugestões de que investidores estratégicos chineses pudessem comprar uma participação na Aramco sem a necessidade de uma listagem pública. Mas isso colocaria os chineses em uma posição forte; eles não pagariam excessivamente, a menos que fossem compensados ​​nos bastidores, digamos nas vendas de petróleo com desconto.

Ainda assim, uma venda privada não alcançaria nenhum dos principais objetivos do IPO de aumentar a transparência e a eficiência. Seria politicamente mais arriscado - em vez de um grupo disperso de acionistas minoritários, a Arábia Saudita teria que enfrentar uma superpotência com fome de energia possuindo uma participação significativa em seu principal bem nacional.

26 outubro 2017

Ainda IPO da Aramco

Comentamos aqui, no passado, sobre a oferta pública de ações da Aramco. Uma notícia informa que a Arábia Saudita pretende construir uma cidade futurística. Talvez com o dinheiro da IPO.

Mas a melhor análise é da revista The Economist (dica de Sérgio Nazaré, grato). O tema é a confusão recente sobre o local da oferta, além do valor estipulado.

Sobre o local, a Bolsa da Arábia Saudita anunciou que tem condições de absorver a oferta sozinha. Isto é muito questionável, já que o valor de mercado de todas as empresas desta bolsa é muito pequeno e a Aramco é muito grande para esta bolsa. Existem notícias sobre a possibilidade de uma emissão privada para alguns investidores chineses. E como comentamos, a IPO nos Estados e Unidos e na Inglaterra não é tão simples assim.

Mas a melhor análise da The Economist é sobre o valor (aqui um link do blog). A revista é cética quanto a isto:

A confusão parece ter se originado no palácio real. Desde o início, o MBS, como o príncipe herdeiro é conhecido, insistiu que a empresa deveria ser avaliada em pelo menos US $ 2 trn e que o IPO deveria ocorrer no próximo ano. Ele ainda não levou em conta nem a ameaça de ações judiciais relacionadas aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 que poderiam resultar de uma cotação na Bolsa de Valores de Nova York, ou a complexidade da emissão de ações na Bolsa de Valores de Londres, onde os investidores institucionais estão irritados com os esforços para reduzir as regras de listagem por parte da Aramco. Ele erroneamente assumiu que, dadas as enormes taxas prometidas aos banqueiros e conselheiros, outros atores do mundo das finanças dobrariam o joelho.

Conclui o texto:

Para atingir esse objetivo, o MBS pode precisar refletir mais sobre o que significa uma IPO. Seu governo é o único acionista da Aramco e, claro, tem a última palavra. Mas, a menos que ele esteja preparado para afrouxar as rédeas, permitindo que o IPO avance em um ritmo prudente e deixe os investidores decidir qual é o valor correto, ele pode fazer melhor para destruir o processo completamente. Sua atitude até agora sugere pouca fé nas forças de mercado que ele deseja desencadear.

13 outubro 2017

IPO da Saudi Aramco

Duas notícias sobre a IPO da Saudi Aramco, a empresa estatal de petróleo da Arábia Saudita, que deverá ser a maior oferta de ações da história.

A primeira, é que existe uma discussão entre o regulador inglês e a empresa. Uma das dúvidas da oferta é justamente o mercado acionário onde será feita. O mercado inglês possui algumas amarras que precisam ser removidas e esta conversa pode ser um sinal favorável para Londres. Se isto ocorrer, a contabilidade da ARamco deverá estar expressa pelas normas internacionais de contabilidade.

A segunda notícia é que a empresa pode negociar, antes da IPO, uma quantidade específica de ações para um grande investidor chinês, informou o Financial Times (via aqui)

20 setembro 2017

Aramco: Quanto vale e onde será negociada


Anteriormente mostramos neste blog sobre a possibilidade da maior empresa de petróleo do mundo abrir parte de seu capital. A Aramco, empresa de propriedade do governo da Arábia Saudita, está planejando seriamente fazer uma oferta pública de ações. Tudo parece indicar que esta oferta ocorrerá no final de 2018 ou, se atrasar, em 2019. Um ponto crucial na oferta é a expectativa do valor da empresa. Recentemente outra questão foi colocada: qual será o mercado de capitais que irá receber a oferta de ações.

Começamos pelo primeiro ponto: o valor da empresa. Aqui o processo de oferta pública começa de maneira inusitada. O príncipe herdeiro indicou que o valor da empresa seria de US$2 trilhões. Isto faria a Aramco a empresa de maior valor do mundo: só para comparar, a segunda colocada, a Apple, tem um valor de 800 bilhões de dólares. Este número é razoável? Esta é uma discussão bastante polêmica. A Aramco é uma empresa com um grande volume de reservas de petróleo (vinte vezes as reservas da Petrobras), um produto de qualidade (sem o enxofre existente nas reservas da Venezuela) e de baixo custo. Além disto, possui uma grande rede de refinarias e uma boa infraestrutura.
Usando dados da Reuters, a uma avaliação de 7 a 8 dólares por barril e 260 bilhões de barris de reservas, o valor da empresa seria próximo àquele previsto pelo príncipe. Mas geralmente uma empresa de petróleo não é avaliada somente pela quantidade das suas reservas. Se fosse assim, o valor de mercado da Petrobras ficaria entre 91 a 104 bilhões de dólares.

Outro cálculo da Reuters considerou a relação entre EV / EBITDA e chegou a um valor necessário de US130 bilhões de Ebitda por ano para que a empresa tivesse o valor de US2 trilhões. Uma comparação feita com a Exxon mostra que a empresa ocidental obteve um Ebitda de 23 bilhões em 2016 para um valor de mercado de US$365 bilhões. Ou seja, uma relação perto de 16 de EV / EBITDA. Assim, a Aramco deveria ter uma relação próxima a esta para atingir o valor alvo: 2000 /16 = 125 bilhões. Mas a Exxon é o parâmetro de eficiência financeira do setor e os investidores gostam da empresa. Em empresas como Shell, BP e Total o múltiplo é de seis vezes. Usando este parâmetro, isto elevaria o patamar do Ebitda para mais de 330 bilhões de dólares por ano.

Mas mesmo usar a Exxon pode ser inadequado, já que as reservas da empresa ocidental são menores (10% da empresa saudita), bem como sua produção (50%). De qualquer forma, o anúncio do príncipe pode ter sido uma decisão ruim. Afinal, se o valor da IPO não alcançar este montante, a operação poderá ser considerada um “fracasso”.

É preciso considerar que a avaliação da Aramco agora é muito difícil em razão da falta de transparência dos números. Alguns analistas utilizam os dados das contas nacionais da Arábia Saudita, já que a empresa é um monopólio. E por estes dados, um Ebitda acima de 100 bilhões não é impossível, segundo informa a Reuters.

Onde – A segunda questão da oferta pública da Aramco é onde irá ocorrer. As autoridades pretendem lançar 5% das ações da empresa na oferta pública e parte deverá ficar na bolsa de valores da Arábia Saudita. Pelo gigantismo da empresa, o pequeno mercado de ações saudita ficará bastante concentrado nas ações da petrolífera. Mas deverá existir uma parcela de ações que a ser ofertada numa bolsa internacional. Os mercados que podem receber a oferta são New York e Londres, os principais candidatos. Mas os mercados de Hong Kong, Tóquio, Cingapura e Toronto não estão descartados.

Atualmente as relações entre a casa real saudita e o presidente Trump são as melhores possíveis, o que favorece o mercado acionário dos Estados Unidos. Mas, conforme já comentamos aqui, há o risco de demandas judiciais contra a empresa. A decisão por Londres pode ser problemática, já que existem regras de oferta mínima para o mercado britânico e a oferta de ações da Aramco não irá atingir.

Fasb versus Iasb – a decisão de “onde” tem uma implicação contábil importante. A escolha pelo mercado acionário dos Estados Unidos significa opção pelas regras do Fasb. Londres e os outros mercados citados adotam as normas do Iasb. Assim, o conjunto de padrões contábeis escolhido irá depender também da escolha do local onde parte da oferta de ações ocorrerá. Novamente é preciso destacar que até hoje os números contábeis da empresa nunca foram publicados. Parece existir  demonstrações contábeis de anos anteriores, que foram inclusive auditadas por algumas das maiores empresas mundiais de auditoria (PwC, EY e BCG). Entretanto, nada se sabe sobre os valores. Segundo a Reuters, a empresa está preparando as demonstrações pelas normas do IFRS, mas pode fazer uma mudança para US GAAP, se a decisão for usar a bolsa de Nova York.

Para complicar, o governo saudita está implantando um novo sistema de impostos que irá reduzir substancialmente a carga tributária. Isto poderá aumentar o volume de dividendos, o que melhora sua avaliação inicial. De qualquer forma, o prazo é curto para estruturar um sistema contábil: menos de um ano, se for seguido o cronograma original.

Questões que podem afetar a avaliação – além dos aspectos apresentados anteriormente, não é possível deixar de considerar outros aspectos que podem influenciar no valor da empresa. Um deles é o fato de que estão sendo lançadas ações minoritárias, sendo que o controle permanece em solo saudita. Se o ágio pelo controle for substancial, isto tende a diminuir o valor da IPO. Outro ponto relevante é a governança desconhecida da empresa. As garantias para o minoritário podem não ser atrativas o suficiente para atrair o investidor. O preço do petróleo é outra variável decisiva no valor. Um aumento nas cotações, num mercado tão volátil, pode fazer com que a oferta seja um sucesso. Mas a perspectiva de um excedente de combustível poderá reduzir o potencial de ganho futuro da empresa, influenciando no valor da ação. Finalmente, a qualidade da informação contábil e da evidenciação podem ajudar a trazer investidores ou a afastá-los.

Apesar das incógnitas apresentadas, tudo parece indicar que a Aramco será, a partir de 2019, a empresa de maior valor do mundo.

05 junho 2017

Aramco e o perigo de ter ações negociadas na Bolsa de NY

Recentemente comentamos sobre a possibilidade de oferta pública de ações da empresa de petróleo da Arábia Saudita. Comentamos que a Aramco poderia ser a maior empresa do mundo em valor de mercado, embora existam dúvidas sobre isto.

A Reuters chama atenção para o fato da empresa estar sendo alertada para os potenciais problemas em fazer a oferta na bolsa dos Estados Unidos, em razão da cultura judicialista daquele mercado. Isto poderia incluir, por exemplo, uma potencial demanda de familiares das vítimas do ataque de 11 de setembro, já que há desconfianças que aquele país apoiou, de alguma forma, os terroristas.

Outro aspecto diz respeito a informação contábil: a empresa não cumpri as regras de divulgação das reservas de petróleo. Mas o mercado dos Estados Unidos possui prestígio e isto pode ser determinante na escolha da empresa.

17 abril 2017

Aramco, governança e valor de mercado

A Saudi Aramco (ou Aramco) é uma empresa da Arábia Saudita, que explora o petróleo e derivados daquele país. A empresa possui a maior reserva de petróleo do mundo, sendo também a maior produtora. Isto faz da empresa a maior do setor de petróleo e derivados.

A empresa nasceu nos primórdios da exploração do petróleo na Arábia Saudita. Com a crise de 1973 e por conta do apoio do governo dos Estados Unidos a Israel, o governo daquele país começou a adquirir ações da empresa até que tomou o controle total em 1980, com 100% das ações.

Estima-se que a receita da empresa, em 2010, tenha sido de 311 bilhões de dólares ou 977 bilhões de reais na conversão atual (a receita da Petrobras é de 320 bilhões). Com 65 mil funcionários (a Petrobras possui 78 mil) e reservas de 260 bilhões de barris (ve1rsus 13 bilhões da empresa brasileira), produção de 12 milhões de barris por dia (versus 2,8 milhões), a empresa é um gigante no setor.

Quanto é o seu valor? A estimativa varia entre 1,25 trilhão a 10 trilhões de dólares, o que faz da empresa aquela de maior do mundo. Recentemente, o governo da Arábia Saudita anunciou a possibilidade de abrir o capital da empresa em 2018, vendendo 5% das ações. Aparentemente o governo daquele país pretende aumentar a participação do setor privado na economia, incluindo o mercado de capitais. Mas a bolsa da Arábia Saudita é pequena para comportar uma empresa avaliada em 2 trilhões de dólares por seus proprietários. Além disto, a participação dos investidores estrangeiros é reduzida naquele mercado (4%). Outro problema é a grande chance de existir preço diferenciado na privatização, onde os investidores locais receberiam um desconto.

Mas um ponto central é a questão da governança. Há dúvidas se os padrões sauditas de governança são adequados. Ao mesmo tempo, alguns mercados financeiros mundiais oferecem a possibilidade, para empresas internacionais, de abrir o capital sem cumprir padrões de governança local, o que seria um atrativo para a empresa saudita. Atualmente a empresa é supervisionada por um conselho de nove diretores, sendo três sem influência do governo.

Oferecendo 5% de uma empresa com valor de 2 trilhões de dólares, a oferta da Saudi Aramco seria a maior oferta pública de ações da história: 200 bilhões de dólareas. Mas um artigo de Gregory Brew questiona esta estimativa oficial. Este valor foi fruto da multiplicação do valor das reservas por US$ 8 por barril:

261 bilhões de barris x 8 = 2,1 trilhão.

(Por esta expressão, o valor da Petrobras seria 13 bilhões x 8 = 104 bilhões de dólares ou 327 bilhões de reais). Esta regra usada pelo governo para estimar o valor da empresa é falha. A Bloomberg (via aqui) usou o múltiplo para Rosneft (Rússia) e chegou a uma valor de 272 bilhões, versus 64 bilhões no valor de mercado. Até a ExxonMobil, uma empresa privada, seria supervalorizada com este múltiplo. E a Petrobras não vale 327 bilhões de reais.

Um estudo independente sugere um valor de 400 bilhões de dólares, que inclui no preço o fato da Saudi Aramco ser uma empresa estatal (e nós, brasileiros, sabemos como isto interfere no valor de uma empresa de petróleo). Além disto, como as demonstrações contábeis não são divulgadas, não se sabe a estrutura de custos da empresa. Não é possível saber sequer quanto são os impostos; as informações disponíveis informam que a empresa paga royalties sobre as receitas e imposto de 85% sobre o lucro. Este peso dos tributos possui impacto sobre o valor.