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21 dezembro 2023

Importância da Aula de Comércio

Eis o resumo: 

A determinação do Marquês de Pombal foi imprescindível para a inauguração da Aula do Comércio, em 1759, constituindo esta um marco na História da Contabilidade Portuguesa devido ao seu pioneirismo no ensino do método digráfico em Portugal. Em virtude da sua importância, o estudo deste estabelecimento de ensino público é o objectivo deste trabalho, mais concretamente a dissecação das razões e objectivos da sua criação, interligando estes com o ambiente sócio-económico da época de forma a tornar mais compreensível o contexto histórico que levou à sua fundação, bem como o aprofundamento de questões como as suas regras de funcionamento, os primeiros lentes, as disciplinas ali leccionadas ou a sua importância no desenvolvimento da Contabilidade em território português. Quanto a este último aspecto, iremos concluir que a Aula contribuiu para um melhor emprego da partida dobrada e para a sua divulgação em Portugal, sendo igualmente determinante para o surgimento de uma classe de contabilistas portugueses devidamente habilitados, acabando, desta forma, com o atraso existente em matéria de conhecimentos e técnicas comerciais. 


Tudo leva a crer que Pombal conhecia as partidas dobradas. Mas já comentamos aqui do atraso de Portugal, onde o método apareceu somente 450 anos depois de seu aparecimento na Itália. Para as colônias, o atraso foi ainda maior, já que era proibida a imprensa e as escolas superiores. 


Também é interessante notar que a adoção das partidas dobradas só ocorreu após a morte de João V, em 1750. E deixou um governo com sérios problemas financeiros, mesmo com a riqueza brasileira. O texto fala em

uma máquina administrativa totalmente inoperante; fraudes, usos e especulações de toda a espécie nas organizações dependentes do Estado; a estagnação da indústria em Portugal; e a decadência do comércio que, na sua maioria, estava em poder de mercadores estrangeiros (GOMES, 1999a, p. 550)

Eis outro trecho interessante do texto: 


A afluência de matrículas foi progredindo até ao 5.º curso. Assim, enquanto no 2.º curso se matricularam 163 discípulos, no 5.º, iniciado em Abril de 1777, matricularam-se 307. A partir desta data o número de alunos matriculados começou a decair ligeiramente, até às Invasões Francesas, em 1807, durante as quais se verificou uma forte redução na frequência do curso, o que se justifica pelo receio por parte dos naturais das províncias de se deslocarem à capital e pela ausência de alunos brasileiros. Como exemplo podemos apontar o número de alunos que frequentavam a Aula em 1809: 74 aulistas.

Não fica claro se esta ausência ocorria já antes da invasão francesa. Mas é preciso destacar que ocorreu uma transferência da Aula para o Brasil. 

Temos uma carência de estudos históricos de contabilidade no Brasil. Uma das questões pendentes é o uso das partidas dobradas no país na época da colônia. Aqui uma pista: 

Para além destes exemplos, Oliveira (2009) acrescenta outro: a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Esta utilizava, desde o ano da sua criação – 1756 –, o método das partidas dobradas. Contudo, o mesmo autor também salienta o facto de o primeiro guarda-livros da Companhia, João Hecquenberg, pertencer a uma família alemã e de ter sido enviado para o Brasil para ter formação contabilística com o guarda-livros da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, que já conhecia e utilizava a método digráfico. De acrescentar, que este também não era português mas sim francês. 

Pode ser que a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão seja pioneira. Em resumo:

Antes de finalizar temos de referir que tudo foi feito pelo Marquês de Pombal e pelo Rei D. José para defender a Aula do Comércio e os seus alunos. Nesta perspectiva, foram concedidas diversas regalias aos aulistas como a obrigação da contratação de pessoas formadas na Aula do Comércio para determinados cargos públicos; o estabelecimento dos ordenados dos Guarda-Livros diplomados; etc. Contudo, e a partir do momento em que as ideias mercantilistas deram lugar ao liberalismo, assistiu-se à lenta decadência desta escola até à sua extinção em 1844, altura que é integrada no Liceu Nacional de Lisboa. 

O artigo foi publicado há mais de 10 anos e traz bons ensinamentos: 

Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337 FURB, v. 7, n. 2, p. 97-113, abr./jun., 2011

Método da Carga e Descarga

Da Revista de Contabilidade da UFBA

O  método  da  carga  e  descarga,  que  predominou  no  período  estudado,  consistia  no lançamento das operações da entidade, carregando-a quando esta contraía alguma obrigação e descarregando-a quando  esta obrigação cessava.  Para  a sua realização recorria  ao sistema de débitos e créditos, de forma similar ao método das partidas dobradas, com o diferencial de que não incorporava os conceitos de ativos e passivos, além de não levar em consideração as contas relativas ao imobilizado, ao capital e amortizações. A contabilização pelo método da carga e descarga estava mais voltado a prestação de contas por parte da  administração,  fazendo com que  seja  considerado,  por  alguns  autores,  como  um  sistema  mais  jurídico  do  que  contábil (Carvalho, Cochicho, Rodrigues & Paixão, 2016; Borreguero, 2011).

As instituições católicas não eram obrigadas, tanto pelo Estado como pelas autoridades eclesiásticas,  a  adotar  nenhum  método  de  contabilização  específico,  de  modo  que  cada instituição era livre para adotar o método que considerasse mais apropriado a sua realidade. A contabilização pelo método da carga e descarga continuou a ser adotada por ser mais simples e,  por  conseguinte,  exigir  menos  conhecimento  por  parte  dos  escrituradores,  ao  passo  que atendia o interesse destas instituições que utilizavam a contabilidade para prestação de contas e controle interno de suas atividades (Gracia, 2013). 

(Vinícius da Costa Nagib de Carvalho, C., & Bonfim, M. P. (2023). A CONTABILIDADE NAS INSTITUIÇÕES CATÓLICAS NOS SÉCULOS XVII E XVIII. Revista De Contabilidade Da UFBA, 17(1), e2319.)

Não conhecia. Talvez o fato de ser mais jurídico do que contábil. Mas há um quadro revelador no texto: 

A quantidade de instituições religiosas não é grande, mas as partidas dobradas não estão presentes em Portugal e colônicas. Apesar das instituições religiosas serem "transnacionais", prevalecia a realidade local, como o artigo destaca. No período analisado, partidas dobradas não era um método "conhecido" em Portugal e colônias. Somente em meados dos anos 1700 é que passa a ser algo divulgado para a elite da Academia de Comércio. Isso já foi bem comentado aqui no blog. 

30 novembro 2023

História da Riqueza do Brasil e a Contabilidade

É possível encontrar em algumas obras alguma notícia sobre a história da contabilidade no Brasil a partir do início da colonização do país por parte dos portugueses. Se de um lado isto significa deixar de lado contagem de patrimônio rudimentar dos povos que viviam no Brasil, por outro lado valoriza demais um período de marasmo no país. É sempre bom lembrar que em Portugal não tinha adotado as partidas dobradas, algo que só ocorreu em meados dos anos de 1700. O país prefere excluir o progresso e ignora a principal inovação ocorrida na Europa e já de conhecimento de comerciantes desde 1300. 

Ao tentar buscar tirar a diferença entre a economia de Portugal e outros países da Europa, o Marquês de Pombal cria uma escola de negócios e com ela a necessidade de ensinar as partidas dobradas. Isso 450 anos depois do aparecimento das partidas dobradas. E é importante notar que o Brasil, apesar de ser a principal fonte de receita do reino, não tinha imprensa e nem universidade, ao contrário da América Espanhola. Ou seja, estamos no atraso total.

Sobre o fato do Brasil ser a fonte de riqueza de Portugal, veja o que diz Caldeira, Historia da Riqueza, p. 103:

No final do século XVII, o Brasil fornecia cerca de 60% da receita tributária de Portugal, enquanto as demais partes do império ultramarino (possessões africanas, com destaque para Angola, onde traficantes brasileiros pagavam impostos, além de uns poucos domínios asiáticos restantes) forneciam 20%. No total, 80% das receitas tributárias do império vinham das possessões e apenas 20% dos moradores metropolitanos. Naquilo que se refere às despesas, 75% delas eram realizadas no Reino e 25% no ultramar. 

Outro dado interessante, do mesmo livro (p. 159)

Entre 1796 e 1807, as exportações brasileiras corresponderam a nada menos que 83,7% do total de todas as exportações coloniais para a metrópole. 

Uma das condições necessárias para a adoção das partidas dobradas era a existência de pessoas alfabetizadas. O Brasil não tinha nenhuma tipografia autorizada - era na verdada proibido ter máquinas de impressão inventada por Gutemberg trezentos anos antes, e eram negados todos os pedidos de criação de faculdades no país. Livros, só impressos em Lisboa, com autorização dos censores. Apesar do crescimento econômico do país entre a descoberta e os anos de 1800,  o que incluía um grande mercado interno, o atraso da metrópole teve influencia sobre o nosso país. 

Parte da diferença é reduzida com a chegada de Dom João ao país. Ele trouxe a escola de negócios, chamada de Academia de Comércio, a imprensa, agora permitida, e profissionais contábeis. Com isso, podemos dizer que pela primeira vez o país tem uma contabilidade por partidas dobradas, mas talvez restrita a alguns poucos negócios, mas não ao governo. É preciso uma maior investigação aqui para saber o real grau de desenvolvimento da contabilidade da época. 

Entre o governo de Dom João e de Dom Pedro I, a bagunça das finanças públicas brasileiras, decorrente da má gestão dos dois reis citados, impede um maior progresso dos negócios. O acordo que Pedro fez para acertar a independência do país incluía um empréstimo secreto, usado pelo próprio Pedro, para investir nos seus interesses políticos em Portugal. Pagamos caro para ficar livre dos portugueses e muito mais ainda para livrar de Pedro I. O imperador brasileiro fez um empréstimo de 3 milhões de libras esterlinas da época, que correspondia a dois terços das exportações do país ou 10% da economia, sendo que 600 mil ficou no Banco do Brasil e o restante foi usado no exército e missões diplomáticas na Europa. 

A regência trouxe a primeira eleição do país, mas eram necessários acertos na estrutura que não foi obtido nem com os regentes, nem com o sucessor Pedro II. Merece destaque aqui o governo de Feijó, o primeiro governante eleito do nosso país. Feijó tinha boas qualidades e uma delas era o respeito ao legislativo, algo que não aconteceu com Pedro I e nem com Pedro II. Outra qualidade de Feijó foi sua gestão fiscal. Ele reduziu substancialmente o exército, dispensando 30 mil soldades, o que representava uma redução de gasto de 36% neste item. Cortou a emissão de moeda e vários gastos. Ele conseguiu a aprovação do código criminal e do código de processo, um avanço na justiça brasileira. Sua herança foi o equilíbrio das finanças públicas.  


Apesar do Código Comercial, de leis decorrentes e alguns avanços nos negócios, o período do Império representou um tempo que deveríamos esquecer. Veja o caso da Lei 2711. Segundo Caldeira: 

introduzia restrições para a formação de empresas - restrições tão severas que acabou sendo conhecida como "Lei dos Entraves"

De certa forma, este blog já dedicou bastante espaço para esse período, que teve a primeira obra publicada de contabilidade, a primeira associação de profissionais e normas bancárias. Mas a economia realmente não avançou, teve a invasão do Paraguai e a falência do Banco Souto. 

Minha leitura atual, História da Riqueza, de Jorge Caldeira, e anterior, Adeus Senhor Portugal, revelam esse pano de fundo. Minha lembrança da história da contabilidade é tradicional, ensinada na escola. Minhas descobertas recentes mostram que o país merecia um destino melhor do que o julgo português. E que a vida o Império foi, antes de tudo, um atraso na vida econômica do Brasil. A derrubada de Pedro I, pelo legislativo, e de Pedro II, pelos militares, demorou demais. 

No período do segundo império ocorreu um aumento na alfabetização da população, de 2% para 17%. Isso era pouco no comparativo com o mundo moderno, onde vários países já estavam próximos de alcançar a alfabetização da população adulta. A população saiu de 4,4 milhões de habitantes em 1819 para 14,3 milhões em 1890. A renda per capita saiu de 670 dólares, em 1820, para ridículos 704 dólares, em 1890. Compare isso com os Estados Unidos, que saiu de 1300, em 1820, para 4 mil, em 1900. Foi o século perdido:

o século XIX como um todo e o período imperial em particular, foi um período de estagnação da economia brasileira e, por outro lado, de aceleração da economia mundial. Foi, portanto, um período de acentuado atraso para o país na comparação com o mundo (Caldeira, p. 297)

20 novembro 2023

Invasão holandesa no Brasil e o resultado sustentável

A ideia de resultado sustentável é bastante coerente e relevante. Usualmente é importante saber se o desempenho de uma empresa irá persistir no tempo. Ou seja, se é possível assumir que para o futuro a empresa continuará mantendo a sua atual trajetória. Uma forma de obter este tipo de análise é eliminando do resultado da empresa tudo aquilo que não repetirá no futuro. Se a empresa obteve um lucro enorme com a venda de um prédio, o resultado da venda não deveria constar da análise que fazemos, sendo necessário retirar esse valor. Se a empresa teve um grave prejuízo por conta de um desastre ambiental, podemos assumir que esse resultado não irá repetir no futuro. 


O conceito do resultado sustentável surgiu claramente quando eu li o capítulo 10, Governos da Holanda, do livro História da Riqueza no Brasil, de Jorge Caldeira. Vou fazer um breve resumo do capítulo do texto que trata da invasão holandesa no Brasil, entre 1630 a 1654. Antes disso, em 1624, uma esquadra dos Países Baixos invadiu e saqueou Salvador. Depois, invadiram Pernambuco e arredores, o que incluía Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. 

Maurício de Nassau

A aventura dos holandeses foi realizada por uma empresa, a Companhia das Índias Ocidentais ou VOC. A VOC foi a primeira empresa de capital aberto do mundo. Isso significa dizer que seu resultado era divulgado para os acionistas. Ela foi fundada um pouco antes da invasão e seu modo de atuação era a pirataria e saque. Bom, oficialmente era o comércio, que incluía o açúcar, tabaco, especiarias, escravos e outros produtos. Mas o grande impulsionador das atividades da empresa foi a captura de um navio chamado Santa Catarina. 

Caldeira mostra que quando os holandeses chegaram no Nordeste, o saque foi a primeira atividade. Isso gerou receita para a empresa. Mas é uma receita não sustentável. É principio do saque a tomada da riqueza à força, deixando o antigo proprietário sem seu ativo. O problema é que os holandeses venceram a primeira batalha, ao dominar o Nordeste, mas sem permitir que isso gerasse um resultado sustentável. Nas palavras de Caldeira:

A vitória significava não apenas o fim das oportunidades fortuitas como a necessidade de reiniciar a produção que havia sido desarticulada. 

Ou seja, para manter a extração de riqueza no Brasil, os holandeses deveriam fazer investimentos na produção de açúcar. Isso exige dinheiro e pessoas para produzir. A invasão derrubou a produção de açúcar, pois já existia, no Brasil, uma cadeia produtiva articulada e com um agravante em relação aos portugueses: eles precisaram montar um exército regular para defensa do novo território. Caldeira mostra que ao longo da história brasileira, os portugueses extraíram muito, em todos os sentidos, e investiram pouco na terra. Já os holandeses, diante da ameaça de perderem novamente sua conquista, tinham que manter uma segurança aqui. 


Em outras palavras, a história dos holandeses do Brasil é uma história explicada pela contabilidade. De um lado, os holandeses, que inicialmente saquearam o Nordeste e para gerar receita futura precisavam investir, o que significa que precisavam de capital. Ao mesmo tempo, também tinha despesas enormes com a manutenção da nova terra. De outro lado, os portugueses, que durante sua gestão não fizeram grandes investimentos - os engenhos eram investimentos privados e a defesa da terra era fruto das pessoas do local e um pouco do exército lusitano. Ou seja, enquanto a DRE dos holandeses apresentou um resultado inicial extremamente positivo, oriundo dos saques, esse desempenho não era sustentável. Já a DRE dos portugueses sempre foi lucrativa, com baixo investimento do governo lusitano. 

Sabemos como a história terminou.  

26 outubro 2023

Partidas Dobradas em Portugal

 Eis o resumo:

Objetivo: Identificar, apresentar e  demonstrar, de  forma inédita, o método contabilístico utilizado na Real  Fábrica  das  Sedas,  quando  da  sua instituição,  em  1757. Metodologia: Qualitativa,  com  recurso a  fontes primárias manuscritas e a fontes secundárias. Foram as fontes primárias que possibilitaram a demonstração de que a empresa adotou as partidas dobradas na sua contabilidade financeira. Resultados: O artigo expande as raízes do conhecimento contabilístico português, designadamente por contribuir para um melhor conhecimento sobre a Real Fábrica  das  Sedas  e  por  apresentar  como  principal resultado  a  demonstração  cabal  de  que  foram  as  partidas dobradas o método de contabilidade implementado na sua contadoria em 1757, sob os auspícios do guarda–livros alemão  Conrado  Bartolomeu  Riegge  e,  claro,  do  principal  secretário  de  Estado  de  D.  José I,  Pombal. Originalidade: Este estudo é o primeiro trabalho a demonstrar na literatura, seja nacional, seja internacional, que a Real Fábrica das Sedas, aquando da sua refundação, em 1757, adotou como método de registo contabilístico na contabilidade financeira as partidas dobradas. 

Portugal adotou de maneira tardia as partidas dobradas. O artigo informa que o método apareceu um pouco antes da academia do comércio, na Real Fábrica das Sedas, em 1757. Mas o pioneirismo se deve a um alemão. 


Duarte  C.,  Gonçalves  M.,  Góis  C.  (2023). ‘Algo de novo no Reino de Portugal’:Identificação  e  apresentação, inéditas, do Método Contabilístico Adotado pela Real Fábrica das Sedas (1757). De Computis -Revista Española de  Historia  de  la  Contabilidad,  20  (2),  1 -28.  ISSN:  1886-1881 -doi: http://dx.doi.org/10.26784/issn.1886-1881.20.1.8838. 

Eis um destaque em nota de rodapé: 

A  expressão justo  valor,  muito  em  voga  dado  o  atual  contexto  normativo  regulatório  internacional liderado  pelo International  Accounting  Standards  Board (IASB),  constava  na  referida  fonte  primária ipsis verbis, à data de 13 de agosto de 1757. É interessante concluir que a dita expressão é utilizada há mais de 250 anos em Portugal.



25 setembro 2023

Barrême

Lendo o capítulo 7 de Free Market, de Jacob Soll, fiquei interessado na figura de François Barrême. Segundo Soll, o francês Barrême (foto) foi contratado por Colbert, outro personagem importante da história da contabilidade, para produzir manuais de contabilidade de partidas dobradas e obras relacionadas com o câmbio. O livro escrito por Barrême em 1672, denominado de "A Aritmética de Sir Barrême" ou "Barrême Universel", foi usado pelas escolas francesas. O livro foi usado como manual de contabilidade até o século XIX na França. 


Segundo a Wikipedia (versão francesa), François ou François-Bertrand Barrême nasceu em Tarascon em 7 de julho de 1638 e faleceu em Paris em 1703. (Há uma pequena cidade na França com o nome de Barrême, mas não encontrei relação entre a cidade e François). Barrême é considerado um dos fundadores da contabilidade, além de ter sido um matemático. Ele era filho de um juiz, foi professor de matemática em Pézenas e trabalhou com comércio na Itália. Depois disto, foi morar em Paris, onde abriu uma escola de comércio, que também funcionava como escritório de contabilidade. 

Em Paris conheceu Savary e Colbert. Este último era o poderoso ministro francês. Escreveu tabelas matemáticas na área financeira. A obra fez tanto sucesso que a língua francesa incorporou "barrême" no vocabulário como sinônimo de "tabela". 

06 agosto 2023

Escrita e a Contabilidade

 Do livro O Infinito em um Junco (p. 121):


Segundo as teorias mais recentes, a arte de escrever tem uma origem prática: as listas de propriedades. Essas teorias afirmam que nossos antepassados aprenderam o cálculo antes das letras. A escrita veio para resolver o problema de proprietários ricos e administradores palacianos, que precisavam lançar mão de anotações porque era difícil fazer a contabilidade de forma oral. A etapa de transcrever lendas e relatos viria depois. Nós somos seres econômicos e simbólicos: começamos escrevendo inventários e, mais tarde, invenções (primeiro as contas, depois os contos)

Foto: Sayla Brown

10 agosto 2022

História usando jornais

Este blog já postou vários textos usando os jornais, especialmente brasileiros e digitalizados da hemeroteca da Biblioteca Nacional. Muitos dos textos são reveladores sobre a história da contabilidade. Agora um texto do NBER discute sobre o uso desta base de dados. Apesar da ferramente ser valiosa, o texto reconhece algumas limitações. 

Eis o abstract:

Digitized historical newspaper databases offer a valuable research tool. A rapidly expanding set of studies use these databases to address a wide range of topics. We review this literature and provide a toolkit for researchers interested in working with historical newspaper data. We provide a brief description of the evolution of historical newspapers, focusing on aspects that are likely to have implications for the design of empirical studies. We then review the main databases in use. We also discuss some key challenges in using these data, most importantly the fact that even the most extensive datasets contain only a selected sample of the universe of historical newspaper articles. We offer tools for evaluating the comprehensiveness of available newspaper datasets, show how to assess potential identification concerns, and suggest some solutions.

Há uma grande variedade de fontes citadas no texto como o British Newspaper Archive, entre outros e a quantidade de cada biblioteca encontra-se a seguir:
O fluxo a seguir mostra como o resultado da pesquisa histórica em jornais pode ser enviesado



27 fevereiro 2022

História da Contabilidade: Balanço da Estrada de Ferro Central do Brasil

 

O balanço, publicado no jornal A Cruz, edição 23, do Ano de 1943, refere-se ao exercício de 1942. Ou seja, foi publicado seis meses depois do fechamento do exercício. Fiz algumas anotações

(1) O balanço traz o que seria hoje o relatório da administração. E um conteúdo era a Análise do Balanço, com destaque para análise da liquidez e variação patrimonial positiva

(2) A ordem do ativo é inversa ao que temos hoje. Começa com os investimentos em maquinários e termina valores disponíveis e realizáveis. No final, valores de compensação.

(3) O termo do lado direito é denominado de passivo e começa com o "patrimônio", que corresponde ao atual PL. Somente depois temos "responsabilidades correntes", que corresponde ao passivo. 

(4) Por último, e o mais interessante, o texto de abertura afirma que "pela primeira vez no Brasil, uma grande estrada de ferro apresenta o seu balanço geral do Ativo e Passivo rigorosamente de acordo com a Padronização das Contas das Estradas de Ferro, aprovadas pelo Ministro da Viação e Obras Públicas desde 1937". Parece um feito, mas foram cinco anos para implementação. Mas tal fato foi glorificado no texto. Logo a seguir:

Evidentemente, não se deve ver nisso nenhum vislumbre de vaidade de nossa parte; apenas nos moveu o desejo de sempre superarmos a nós mesmos, de modo a jamais desmerecermos da confiança que nos teem depositado o sr. presidente Getulio Vargas e o sr. ministro da Viação, general Mendonça Lima.

Por sinal, a foto - aparentemente jovem - do ministro está no balanço. 

História da Contabilidade: Economia e o reconhecimento da profissão


Tudo começou com a necessidade de um empréstimo externo:

Em 1913, o governo federal necessitava obter um segundo funding loan, mas esbarrou nas exigências dos banqueiros europeus, de exame da escrita do Tesouro para apurar as garantias que poderiam obter. Segundo Lobo e Moraes Junior (1941), no entanto, a pobreza dos registros contábeis dificultou o andamento da negociação.

Para tentar resolver o problema foi criada uma Comissão de Partidas Dobradas. 

A Comissão de Partidas Dobradas funcionou até 1918. Ela contou, entre seus membros, com funcionários do Tesouro Nacional, como João Ferreira de Moraes Junior e Ernesto Le Cesne, e com dois servidores emprestados do Tesouro de São Paulo, Francisco D’Áuria [foto] e Carlos Levy Magano. Carlos Cláudio da Silva havia sido incumbido pelo ministro da Fazenda Rivadávia Corrêa de ir a São Paulo estudar os procedimentos contábeis que, desde 1906, eram executados sob a direção de Carlos de Carvalho. 

Segundo Azevedo e Pigatto (2020), a experiência paulista recebia influência teórica italiana e consistia na adoção da contabilidade dual, isto é, orçamentária e patrimonial. 

Uma consequência deste fato foi o fortalecimento profissional:

A modernização da contabilidade do Tesouro Nacional aproximou as trajetórias de contadores do Rio de Janeiro e de São Paulo. Eles constituíram associações de classe, ampliaram os intercâmbios entre si, editaram revistas e apresentaram demandas por profissionalização basicamente em dois sentidos: regulamentação da formação dos profissionais de contabilidade e garantias de exercício profissional. As duas mais influentes associações contábeis da época [Instituto Brasileiro de Contabilidade e Instituto Brasileiro de Contadores Fiscais] e foram constituídas no bojo desse movimento. 

Eis o resumo do texto:

RESUMO: Este texto discute como a inserção de um grupo de contadores oriundos do Rio de Janeiro e de São Paulo nos serviços contábeis federais entre 1914 e 1926 representou a abertura de um canal por meio do qual se aceleraram as demandas por reconhecimento da profissão contábil. A necessidade de reformar os serviços contábeis da União descortinou-se com a negociação do segundo funding loan em 1914. Os banqueiros ingleses solicitaram informações orçamentárias e patrimoniais, a fim de avaliar as garantias que poderiam obter para respaldar um empréstimo. A pobreza dos balanços existentes conduziu à formação da Comissão das Partidas Dobradas, que congregou contadores dos Tesouros Nacional e Paulista para atualizar os serviços de contabilidade da União. Esses contadores, nos anos 1920, colaboraram para a consolidação das instituições de contabilidade pública federais e para a política fiscal do presidente Arthur Bernardes. O presente texto explora como o envolvimento dos contadores paulistas e cariocas nos serviços contábeis federais, em tarefas instrumentais à busca por equilíbrio orçamentário, permitiu-lhes uma base a partir da qual apresentaram seus pleitos pelo reconhecimento da profissão de contador. Esse é um estudo qualitativo e baseado em fontes primárias.

PROFISSÃO CONTÁBIL E PODERES PÚBLICOS:CONTABILIDADE DO SETOR PÚBLICO EPROFISSIONALIZAÇÃO (1914-1926) - Adelino Martins em Pluralidade de Temas e Aportes Teórico-Metodológicos na Pesquisa em História 2

19 fevereiro 2022

História da contabilidade: formatura e gênero em meados do século XX

 Uma fotografia, de 1950, mostra uma turma de formados em contabilidade:


A legenda, do periódico Careta (ano 1950 ed 2169, p. 25), fala em duas moças - embora seja possível notar três mulheres. Mas a maioria é de homens. É interessante que esta fotografia estava em um trecho do Careta chamado "Formatura", com diversas fotografias. Na formatura de engenheiros, 100% de homens. Medicina tinha algumas mulheres. E eis um comentário do texto sobre este fato:

Acho que o tempo deu uma bela resposta para o redator, não? 

Eis outra fotografia, do Instituto Fluminense de Contabilidade, em comemoração do "Dia do Contabilista" (Revista da semana, 1940, ed 18, 46)

(O "Fluminense" aqui corresponde ao antigo estado do Rio de Janeiro, cuja cidade do mesmo nome não fazia parte). As fotografias a seguir são no mesmo instituto, agora em uma homenagem a Valentim Bouças, em um banquete no Jockey Clube:



(Interessante que já tínhamos o "Dia do Contabilista")


14 fevereiro 2022

História da Contabilidade: "Novo" sistema

 

Em 24 de outubro de 1940, na sua edição de número 224, o Diário de Notícias do Rio Grande do Sul anunciava, o novo sistema de contabilidade. Eis um trecho da notícia (com grafia da época):

Foi, ontem, inaugurado no Tezouro do Estado o novo sistema de contabilidade, denominado "regime de competência", na Diretoria da Contabilidade, da qual é diretor o sr. Alipio Kempf. (...) Depois falou o dr. Oscar Fontoura que esplicou detalhadamente o novo sistema de contabilidade adotado no Tezouro, que trará grandes vantagens para o serviço público. (...) Na foto: o secretario da Fazenda expõe ao interventor o novo metodo

Esta notícia foi publicado um pouco depois de um conferência de contabilidade pública no Rio de Janeiro, onde estiveram, provavelmente, alguns secretários de fazenda dos estados. Cerca de 30 anos antes, os governos adotaram, no Brasil, as partidas dobradas. 

História da Contabilidade: uso do termo Azienda


Do Vida Doméstica, ano 1952, edição 416, a coluna de Sebastião Valença, "Nos Domínios do Idioma":

Em trabalhos de Contabilidade, quase sempre, entre nós, pessimamente escritos, além de frequentemente não passarem de cópia de mestres italianos, vemos o emprego abusivo do termo "azienda", ao lado do derivativo "aziendal". Ora, "azienda" é palavra italiana e deve traduzir-se com inteira propriedade pela palavra portuguesa "administração". "Organismo aziendal" não é mais bonito do que o nosso "organismo administrativo", assim como "a vida aziendal" é bem mais inexpressiva do que "a vida administrativa". Sejamos razoáveis: o expressionismo vernáculo está muito acima desses europeis, que só se ouvem na boca de certas culturas embebidas de palavriado exótico quando se dão a revelar "altos" conhecimentos técnicos, nem sempre bem assimilados, em linguagem que os arrasaria em modesta prova de escriturário, sob as vistas do D.A.S.P.

DASP corresponde a entidade que cuidava dos recursos humanos no governo federal até os anos 80 do século passado. 

Olhando o blog, entre mais de 26 mil postagens, nós nunca usamos este termo. Esta é a primeira vez. 

05 fevereiro 2022

História da Contabilidade: Academia de Comércio do Piaui, em 1944


Em 1944, no jornal Gazeta, edição 1474 (e outras edições), a Academia do Comércio do Piauí publicava um Aviso para Matrícula, com os seguintes dizeres:

Os diretores da Academia de Comercio do Piauí (1), avisam aos interessados que, de hoje a 14 de março próximo estarão abertas neste estabelecimento as matriculas (2) para o CURSO COMERCIAL BASICO (Antigo Propedêutico), para o CURSO DE CONTADOR (3) (2a. e 3a. séries) e para os CURSOS TÉCNICOS DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE.

Para a matrícula nos dois últimos cursos deverá o candidato apresentar os seguintes documentos:

a) certificado de conclusão do antigo curso propedêutico; certificado de conclusão do curso ginasial, diploma do curso normal, ou, ainda, certificado de conclusão do 1o. ciclo do curso normal (inciso II do artigo 21 da nova lei organica do ensino comercial);

b) atestado de sanidade (4), de que conste não sofrer o candidato de moléstica infeto-contagiosa, inclusive do aparelho visual;

c) atestado de vacinação ou revacinação (5) recente. (...)

Algumas poucas observações:

(1) Academia de comércio - este termo tornou-se popular a partir da chegada da família Real. Correspondia a mesma academia aberta por Pombal em Portugal, que no Brasil foram abertas em várias cidades a partir de 1808. Sem dúvida, tornou-se parâmetro para o ensino comercial no país

(2) Vejam a divisão dos cursos. Recentemente publicamos um esclarecimento sobre a estrutura de curso existente no Brasil.

(3) A terminologia Contador não significa curso superior aqui, obviamente. 

(4) o termo "sanidade" não possui relação com doença mental

(5) o atestado de vacina era uma exigência. 

História da Contabilidade: venham verificar o que eu fiz


 Anúncio de 1941, na cidade de Vitória, Pernambuco. O Escritório de Contabilidade pede aos clientes para "virem verificar os seus trabalhos no fim de cada mês". O jornal é O Vitoriense.

30 janeiro 2022

História da Contabilidade: Registro Profissional nos anos 40 mostra o domínio da profissão

O curso de contabilidade é um dos mais procurados nos dias de hoje no Brasil. Mas há oitenta anos o profissional com diploma de contador também era bastante demandado. Eis uma estatística de registro de diploma no Ministério da Educação e Saúde:

Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal, ano 1941, edição 9

Quando a estatística é apresentada de forma mais detalhada temos 1.343 como contador e 140 como guarda-livro, sendo que estes números estão relacionados somente com o ensino comercial. Era uma profissão tipicamente masculina, já que 87% dos diplomas registrados do ensino comercial eram homens. Existia também uma concentração regional, com 44% dos números originários de São Paulo, 24% do Distrito Federal (a cidade do Rio de Janeiro), 8,3% do Rio Grande do Sul e 5,7% em Minas Gerais. 

O predomínio do registro de contador no Ministério é tamanho que alguns anos depois, entre 1949 e 1953, a profissão ainda detinha o título de maior número de registro. O Anuário - que a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional registra como sendo de 1949 (1) - traz a seguinte estatística:

Os dados dizem respeito ao ano de 1949, 1950, 1951, 1952 e 1953, nesta ordem. 

Para fins comparativos, o total destes anos: 11.259, 11.825, 16.409, 16.886 e 18.915. Veja que o percentual de registro de guarda-livros e técnico evoluiu da seguinte forma: 33% em 1949 e 40% em 1953. Isto mesmo: quarenta por cento dos registros eram de guarda-livros e técnico. Éramos um país do técnico em contabilidade.     


25 janeiro 2022

Aula de Comércio de Lisboa

Miguel Gonçalves publica um artigo muito relevante sobre a história da contabilidade na Enfoque Contábil. Eis o resumo:

O artigo apresenta, de forma inédita, o discurso pronunciado em Lisboa em 21 de Agosto de 1776 por Alberto Jaquéri de Sales (1731-1791), professor da Aula do Comércio (AC), por ocasião da inauguração do quinto curso da AC. Nesse ano, a AC registou o maior número de alunos matriculados da história da instituição, 307 no total. A literatura contém diversas referências a este documento impresso em 1776, mas, por circunstâncias desconhecidas, o opúsculo parece não constar do acervo documental das principais bibliotecas portuguesas; e tampouco a localização do folheto é fornecida pela literatura de forma precisa, pelo menos tanto quanto é do nosso conhecimento. Desta forma, este estudo visamostrar à comunidade o documento que persiste mais ou menos desencontrado com a história da contabilidade portuguesa e que se localizou no Catálogo de Miscelâneas da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Aproveita-se também a oportunidade para dar conhecimento de uma fotografia da AC, datada de 1894 (que se crê inédita no âmbito do tema AC), a qual mostra o edifício em Lisboa onde a escola se instalou e funcionou de 1759 a 1768

Lembrando que Portugal partiu, de forma tardia, na adoção das partidas dobradas. Mas foi a primeira nação a abrir uma escola de ensino formal da contabilidade, a Aula de Comércio. 

Eis a fotografia:

No mesmo periódico, um artigo sobre a obra de Bernardo Cotrugli, o primeiro autor de contabilidade conhecido. Cotrugli, ao contrário de Pacioli, não imprimiu sua obra e por isto o seu pioneirismo perdeu relevância. Além disto, enquanto a obra de Pacioli teve muita influência nas gerações seguintes, o livro de Cotrugli não foi tão relevante. 

23 janeiro 2022

História da Contabilidade: Ensino técnico em 1942

Um texto de Josué Montello, que é descrito como técnico de educação e substituto eventual do Diretor do Ensino Comercial, publicado no Illustração Brasileira, de 1942, edição 81, p. 41 e 42, traz informações sobre o Ensino Comercial no Brasil. É bom lembrar que em 1942 não existia o curso superior de contabilidade, a profissão não tinha uma entidade vinculada ao governo – o CFC foi criado alguns anos depois – e o país vivia uma ditadura.

Vou transcrever a seguir o trecho mais importante:

Foi a Republica (1) que deu ao ensino comercial um caminho mais seguro, libertando-o de caprichos empiricos e imprimido-lhe ritmo de eficiência consideral. É em 1905 que a Republica tem sobre esse ensino a sua primeira lembrança, consubstanciada em lei memoravel. Havia, então, no país, duas importantes casas de ensino (2) onde se formavam os homens que amavam as finanças e o comercio; a Academia de Comercio do Rio de Janeiro, no Distrito Federal, e a Escola Pratica de Comercio, em São Paulo, ambas fundadas em 1902. Em Janeiro de 1905, Rodrigues Alves, então presidente da Republica, declara de utilidade publica as duas escolas e reconhece como de carater oficial os diplomas por elas conferidos. Depois dessa deliberação – que é, por assim dizer, o marco de uma nova etapa do ensino tecnico de comercio em nossa terra – somente mais de vinte anos depois seria modificada, com o decreto 17.329, de 1926, a primitiva estrutura do plano de estudos nas Escolas de Comercio sob reconhecimento oficial. Quatro anos depois, em 1031, o Ministro Francisco Campos, numa visão muito feliz da realidade brasileira (3), reorganizou, pelo Decreto 20.158, o ensino comercial, e deu-lhe a orientação ainda hoje seguida.


A seguir o texto caracteriza o ensino comercial no Brasil, distribuído no curso propedêutico (de três anos, como um curso fundamental, com disciplinas gerais como Português, Francês, Inglês, Matemática, História e Caligrafia), o Curso Técnico, o Curso Superior de Administração e Finanças e o Curso de Auxiliar de Comercio. O curso técnico eram cinco: curso de secretariado, de guarda-livros, de administrador-vendedor, de atuário e de perito-contador. Sobre o curso de guarda-livros, em dois anos:

está constituido das seguintes disciplinas: Contabilidade, Matematica Comercial, Noções de Direito Comercial, Estenografia, Mecanografia, Legislação Fiscal e Tecnica Comercial e Processos de Propaganda.

Os cursos de atuário e perito-contador possuíam uma duração de três anos.

(1) optamos por manter a ortografia da época

(2) existiam outras casas de ensino no país. Uma pequena discussão pode ser encontrada aqui

(3) já comentamos aqui que a “visão muito feliz” do ministro Campos teve resistência na categoria

Rir é o melhor remédio

 Nem sempre é fácil encontrar piadas sobre contabilidade. É um assunto muito sério? Bom, eis uma piada do jornal Atualidades, de Santa Catarina, edição 6, de 1948:

16 janeiro 2022

História da Contabilidade: dois anúncios

No jornal O Puritano, órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 10 de março de 1949, encontrei dois anúncios. Eis o primeiro:

O guarda-livros Jonathas Aguiar Pereira dos Santos anuncia seus serviços. Veja o número de instrição do CRC: 615. O Conselho Federal, e também o Conselho Regional, tinham sido criados recentemente. Entre os serviços, contabilidade mecanizada, estatística (que deve ser o simples levantamento de dados) e contratos. 

O segundo anúncio, do mesmo número e mesma página (5): 
No curso de Obreiros Leigos, com sede em Barueri, estava destinado a "crentes e que desejarem estudar com finalidades evangélicas" (edição 1912, p. 2, 1948)

(Para fins de comparação sobre a questão do primeiro anúncio - do registro no Conselho, encontrei outro anúncio, de 1945, no jornal O Momento, de Caxias do Sul, edição 628, p. 2: