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29 agosto 2022

Blockchain e um história da ilha de Yap

Um artigo de Matheus Bombing, Sistema usado por habitantes de ilha até o século 19 pode ter inspirado tecnologia blockchain, publicado na Exame, mostra que a "ideia" do Blockchain remota ao século XIX:

Se você desembarcasse na ilha de Yap com os bolsos cheios de moedas de ouro ou prata, provavelmente não iria conseguir comprar nada.

Isso porque até o século XIX, os habitantes da ilha utilizavam um curioso sistema de pagamento: grandes e pesadas pedras circulares esculpidas em calcário que eram obtidas nas pedreiras da ilha de Palau.


Essas pedras, além de grandes, são muito pesadas, o que não permite que as pessoas da ilha fiquem carregando-as para efetuar suas transações.

E como as transações ocorriam então?

Os habitantes da ilha sabiam conjuntamente quem é dono de qual pedra e possuíam guardados mentalmente os registros das transações passadas.

Se um jovem trabalhador quisesse comprar o barco da pescadora, então ele anunciava para os habitantes da ilha que a pedra dele, localizada na beira da praia, seria transferida e pertenceria à pescadora. Logo em seguida, essa informação era espalhada pela comunidade.

Futuramente, se a pescadora quisesse transferir essa pedra para outra pessoa, os habitantes poderiam permitir, pois todos (ou pelo menos a maioria) sabia que a pedra pertencia a ela. Resumindo, qualquer habitante poderia utilizar uma pedra para comprar algo desde que a maioria da comunidade concordasse que ele é o atual dono da pedra.

Sendo assim, não havia como roubar as pedras, dado que a sua posse era de conhecimento de todos na ilha. O valor de cada pedra não era só devido ao tamanho e peso, e sim pela história. Se muitas pessoas tivessem morrido enquanto esta estava sendo transportada para a ilha, então ela era considerada mais rara e mais valiosa. Ou seja, quanto mais histórias cercavam a pedra, maior era seu valor.

A parte curiosa desse sistema é que a atividade econômica na ilha ocorria sem que qualquer pedra precisasse ser fisicamente movida. Uma pessoa poderia ser dona de uma pedra que está do outro lado da ilha e não precisava se preocupar de alguém roubá-la.


Esse sistema financeiro funcionava tão bem que, mesmo que uma Pedra Rai fosse perdida (caísse no fundo do mar durante seu transporte, por exemplo), todos concordavam que ela ainda deveria existir e ela continuava sendo usada em transações.

A lenda local diz que o povo de Yap descobriu as pedreiras de calcário, em Palau, há cerca de 500 anos, quando Anagumang, um marinheiro yapese, liderou uma expedição para lá. Ele notou que não existiam essas pedras em sua ilha e esse fato as tornava preciosas.

A princípio, Anagumang ordenou que os primeiros blocos fossem cortados em forma de peixe, mas logo depois passaram a recolher pedras em formato de roda, para ficar mais fácil de transportar. Os trabalhadores costumavam colocar um tronco dentro do buraco no meio para facilitar o transporte.

Os Yapeses não levavam as pedras de Rai de graça. Era necessário negociar com o povo de Palau, que exigia grandes quantidades de miçangas e polpa de coco.

Esse sistema de consenso distribuído tem algumas vantagens em relação a um sistema centralizado. Vamos imaginar que uma pessoa da ilha de Yap fosse responsável por manter o registro oficial da posse e das transferências das pedras (ou seja, fazendo o papel de um banco).

Nesse caso, ela poderia facilmente exigir que todos pagassem uma taxa de transação para ela, poderia “roubar” pedras simplesmente alterando o registro de quem possuía aquela pedra e até perder esse registro, o que causaria um caos na ilha.

O sistema de pedras de Rai é, ao mesmo tempo, intangível (sem necessidade de carregar pedras pela ilha) e descentralizado (sem necessidade de confiar em um intermediário).

O grande ponto é que sistemas monetários intangíveis necessitam de confiança. Só cedemos nossa custódia se pudermos confiar em uma instituição ou pessoa que consiga manter um registro fiel. No caso da ilha de Yap, a confiança era no sistema distribuído (registro mental que todos os habitantes da ilha possuíam) e não em um intermediário.

Mas esse sistema funcionou bem até 1871, quando o navegador David O'Keefe naufragou próximo à ilha e foi resgatado pelos habitantes locais.

Após o acidente, O’Keefe percebeu que seria lucrativo adquirir cocos da ilha e revendê-los para produtores de óleo de coco no continente. Porém, nada que ele oferecesse seduzia os locais, que já gozavam de uma boa vida e não viam utilidade nas formas de dinheiro que eram oferecidas.

Dado que apenas as pedras de Rai poderiam resolver, então O’Keefe foi para Hong Kong, adquiriu um barco grande e explosivos, extraiu várias pedras de Palau e as levou para Yap para serem trocadas pelos cocos. Para sua surpresa, os locais não quiseram aceitar as pedras pois, segundo eles, elas foram conseguidas sem esforço. Para eles, somente as pedras extraídas com esforço, sangue e suor teriam valor. Porém, alguns yapeses viram uma oportunidade e aceitaram as pedras em troca de coco.

A consequência é que isso gerou um conflito na ilha e, a partir de então, todo sistema de registro distribuído começou a ruir.

Hoje, a ilha usa o dólar como moeda oficial. Porém, as pedras de Rai continuam sendo usadas em cerimônias sociais, como casamentos, acordos e negócios como uma forma de selar alianças.

Dois aspectos sobre este texto que gostaria de destacar:


1. A lenda da ilha rendeu um filme de 1954, His Majesty O'Keefe, com Burt Lancaster. Em 1991 o famoso economista Milton Friedman comparava o sistema ao padrão ouro do FED. Um artigo de 2022 argumenta que esta, e outras interpretações, não expressam o real significado da pedra. Eis a conclusão do artigo (via DeepL):

As comparações existentes entre o dinheiro de pedra e o Bitcoin parecem insustentáveis, enganadoras e contribui para uma história de deturpação colonial das culturas econômicas iaponesas. Os fundamentos por fazer tais comparações em primeiro lugar são fracas, e as condições discursivas atuais em torno das finanças em cadeia (Blockchain Finance) sugerem que uma comparação extremamente escrupulosa corre o risco de reforçar mitos imprecisos e injuriosos. De modo mais geral, muito mais cautela deve ser adotada no estudo e invocação pedagógica das culturas econômicas iaponesas, incluindo maior cuidado para centrar vozes passadas e presentes, para refletir posicionalidade e incerteza, assim como para suportar testemunha das histórias coloniais. Entretanto, sugiro que as culturas econômicas iaponesas devem continuam a figurar nos livros de economia como uma forma de começar a transformar as dívidas incorridas por deturpações anteriores. Esta poderia ser uma oportunidade para corrigir erros factuais notáveis, apresentar aos estudantes de economia de todo o mundo a história e a cultura Yapese, apresentam conceitos em antropologia econômica, e oferecer alimentos para reflexão sobre a interseção de o poder colonial e a história e o futuro do dinheiro. 

2. Mesmo admitindo a história, o texto mostra que o sistema pode ser mais frágil do que imaginado. Em lugar de enaltecer o Blockchain - que parecia ser a ideia original do artigo - o texto termina por enfatizar suas fragilidades. 

Fotografias do verbete da Wikipedia

Rir é o melhor remédio

 

Letra da apresentação

28 agosto 2022

Modelo de capital intangível

Um modelo para intangíveis propõe tratar de duas características:

Our main contribution is to propose a simple model that captures these two core economic properties of intangibles — non-rivalry within the firm, and limits to excludability. The model has a number of novel theoretical implications. Non-rivalry implies that intangibles are ”scalable”, in a specific sense: the stock of intangibles of the firm, and the firm’s span or scope, are complements. However, imperfect excludability can also limit the incentive for entrepreneurs, managers, or key personnel to create and develop intangibles, potentially leading to inefficiently low investment.

A ideia é a seguinte:

Even once the intangible is stored in a particular medium, it can be difficult to assign control and cash flow rights to the surplus that it creates. We refer to this property as limited excludability. Without some degree of excludability, intangible capital cannot become an intangible asset


ISSB completando seus assentos

 

As cadeiras do ISSB já possuem treze assentos ocupados, com a indicação de mais três membros recentemente. Parece que há uma preocupação com a presença de mulheres, já que seis já foram indicadas. O perfil parece ser do "executivo" que trabalhou nas empresas na área de sustentabilidade. A experiência pode contar aqui, mas talvez seja preciso escutar o que a ciência tem a dizer sobre o assunto. 

Alguns dos indicados só começarão a trabalhar no futuro. Como o Brasil tem sempre um boa presença nos órgãos consultivos - e o país tem um importância natural óbvia - parece faltar o membro brasileiro. 

Rir é o melhor remédio

 

Enviado por Claudio Santana, grato. Acrescento este:


Justin deixou o celular em uma cena do crime. Os policiais de Nottingham encontraram e mandaram uma mensagem para ele: 

Como você pode ver, temos seu telefone celular, que você deixou no local de um crime, em vez de nós virmos para encontrá-lo, sugerimos que você se entregue imediatamente. Se algum amigo de Justin no Facebook quiser notificá-lo, por favor, faça-o. Obrigado

27 agosto 2022

Controle de estoques


Um dos primeiros ensinamentos de um curso de contabilidade é sobre o controle de estoques. Quando uma entidade adota um sistema de controle, isto ajuda na sua lucratividade. Mas para isto é necessário mecanismos de controle interno implamentamos. Sobre isto, no capítulo 7 do livro Curso Prático de Contabilidade há alguns itens básicos sobre o tema.

Eis agora um caso prático sobre a relevância deste assunto. Com a invasão da Ucrânia, alguns países resolveram ajudar o país na luta contra a Rússia de Putin, enviando armas. No passado, este tipo de ajuda resultou em desvio das armas para um mercado secundário. Quando da tentativa de derrubar o presidente sírio al-Assad, as armas para resistência terminaram com o Estado Islâmico e outros grupos ligados a Al Qaeda.

No caso da Ucrânia, por enquanto não há uma comprovação do desvio, mas a preocupação existe. Falta um rastreamento das armas. Neste caso, o estoque pode ser identificado pelos números de série. O governo da Ucrânia tenta passar uma ideia de que estão controlando os estoques fornecidos pelos aliados, para evitar que terminem no mercado negro ou de grupos não autorizados.

Alguns países já falam da necessidade de uma auditoria para garantir que o fluxo está dentro da normalidade. O fato é agravado pela grande quantidade de contratos relacionados com a Ucrânia, mais de 7.800, com um valor de 2,2 bilhões de dólares.

Parece que falta contadores para ajudar na guerra da Ucrânia. 

Rir é o melhor remédio


Expectativa e realidade:

Amor por você ou amor pelos outros
Complexidade e simplicidade
Fim de jogo
paixão e motivação
pesquisar para dentro e expressar para fora
Liderar ou seguir o líder
Complexidade ou não



26 agosto 2022

Kaplan e um relatório medindo a questão ambiental

Robert Kaplan é um dos autores contábeis mais renomados. Em 2021, a Harvard Bussiness Review publicou uma proposta sua de contabilizar a mudança climática. Eis o texto:

Although about 90% of companies in the SP 500 issue some form of environmental, social, and governance (ESG) report, the current system of reporting is inadequate and subject to greenwash, i.e., selective metrics to show the company in a favorable light. The purpose of this article is to provide a more rigorous approach to ESG reporting referred to as an E-liability accounting system. It focuses on the environmental element of ESG which is the easiest component to measure, and the most urgent threat to humanity.

What's Wrong with the GHG Protocol

Most of the companies that provide estimates of greenhouse gas (GHG) emissions rely on an approach called the GHG protocol that identifies three types of GHG emissions.

Scope 1: Direct emissions from sources owned or controlled by the company.

Scope 2: Emissions at facilities that generate electricity bought and consumed by the company.

Scope 3: Emissions from upstream operations in a company's supply chain, and emissions produced downstream by the company's customers and end-use consumers.

Many companies report their scope 1 and 2 emissions. However, scope 3 emissions is the fatal flaw in the GHG reporting system. Estimating all the upstream and downstream emissions introduces large measurement errors as well as potential bias and manipulation. As a result many companies ignore scope 3 measurements entirely. The authors' solution to this problem is based on how accountants estimate a company's value added. Value added is the difference between what an organization pays for goods and services from its immediate suppliers, and what it receives when it sells products to immediate customers. This approach can be applied to GHG emissions.

Tracking Emissions Across an Entire Value Chain

The idea is illustrated by a car-door company and its suppliers. The tracking begins with a supplier that extracts coal and iron ore that eventually becomes part of the car doors. The supplier records its scope 1 emissions using chemistry and engineering combined with cost accounting. These emissions (GHG units emitted per ton of extracted material) are treated as an E-liability reflecting their environmental cost to society. When the mining company transfers the coal and iron to the shipping company, the shipping company assumes the E-liability on its E-account. The shipping company adds the GHG produced by the barges it uses and transfers the coal, iron and accumulated GHG to the steel company that will produce the steel for the car doors. The steel company allocates its purchased and incurred scope 1 emissions to each of the tons of steel it produces. When the steel is transferred to the railroad company, each ton of steel carries its accumulated E-liability from the mining, shipping, and steel companies. The tracking moves on to the car-door company that adds its own GHG to the E-liability, and continues to the consumer who buys the finished car.

Measuring and Allocating Emissions

The E-liability accounting system requires two basic steps:

1. Calculate the net E-liabilities the company creates and eliminates each period, adding them to the E-liabilities it acquires and has accumulated, and

2. Allocate some or all of the total E-liabilities to the units of output produced by the company during the reporting period.

The first step involves estimates by environmental engineers to measure the quantity of GHG emissions from the company's primary activities. The second step is to allocate the GHG E-liability units to the company's products in the same way costs are allocated in an activity-based costing system.

What Companies Report

An E-liability statement includes net E-liabilities at the beginning of the period, E-liabilities acquired, net E-liabilities produced during the period, E-liabilities disposed of (sold), and net E-liabilities at the end of the period.

The Benefits of E-Liability Accounting

The advantages of the E-liability accounting system include:

1. It eliminates the duplicate counting of emissions that are embedded in the current scope 3 measurements.

2. It reduces the incentives for gaming and manipulation. For example, outsourcing production will not reduce a company's E-liability.

3. The E-liability system can apply its own materiality standard for GHG regardless of the current standards based on material financial risk.

4. A company's end of period E-liability balance can be audited by environmental engineers and cost accountants.

5. The E-liability system can run on a company's existing financial-reporting and cost accounting system by simply using different units of measurement, i.e., the quantity of GHG emissions.

Deploying E-Liability Across the Economy

All companies should be encouraged to report on their E-liabilities along with State-owned enterprises and government agencies including defense, transportation, energy, and healthcare. The E-liability approach recognizes the integrated nature of pollution activities across the economy and encourages all businesses to take GHG emissions into account in their decisions regarding product design, purchasing, and sales.

Going Beyond E

ESG includes social and governance issues as well as environmental issues, but it is difficult to calculate the value of components such as a company's labor practices, workforce diversity and governance. A company's social impact could be measured using the same approach outlined in this article, but more difficult because opinions related to acceptable corporate behavior are controversial. A beginning could include measuring adverse social performance such as unsafe working conditions, child and slave labor, bribery and corruptions. An S-liability system could be developed to motivate companies to eliminate these practices. However, an E-liability environmental cost system is a good place to start improving ESG reporting because it is the easiest component to measure and the most serious threat to humanity.

Rir é o melhor remédio

 


25 agosto 2022

A Academia se opõe ao caminho escolhido pelo ISSB


Um texto da Accounting Today sobre a consulta pública realizada sobre o relatório de sustentabilidade da Fundação IFRS.

Quando os curadores da Fundação IFRS divulgaram seus Consultation Paper on Sustainability Reporting, a comunidade científica contábil respondeu com números incomumente altos. Isso reflete a falta de alinhamento das propostas [da Fundação] com a pesquisa acadêmica no campo.

Trinta e nove respostas à consulta vieram de 104 signatários acadêmicos em 74 organizações ou redes científicas e 20 países. A maioria (72%) desses 39 envios se opôs às propostas, e essa maioria contrária possui registros substanciais de pesquisa nos relatórios de sustentabilidade, em contraste com o grupo a favor. Mas mesmo entre os apoiadores, foram levantadas preocupações.

A pesquisa contábil convencional destacou a natureza política das práticas contábeis. A contabilidade não é simplesmente uma ferramenta técnica que fornece a resposta "correta", mas uma ferramenta à mercê dos poderosos, que pode ter conseqüências não intencionais. Quando se trata de relatórios de sustentabilidade, uma gama enorme de interpretações do que significa uma “perspectiva do investidor”, o que é financeiramente material e o período de tempo.

A própria Fundação IFRS não tem, a nosso conhecimento, informações deste ramo da academia de contabilidade. De fato, afirma [a Fundação] a importância da tomada de decisões com base em evidências, embora não tenha consultado acadêmicos ou se baseado em pesquisas ao desenvolver seu Documento. No entanto, alguns de seus apoiadores rotularam os acadêmicos nesse campo como extrema esquerda, rabugentos e mal-humorados.

Um grande ponto de discórdia entre os acadêmicos que se opunham foi o enquadramento conceitual - a conversa sobre materialidade financeira, fluxos de caixa e valor da empresa. (...) Um enquadramento conceitual que não atenda ao desenvolvimento sustentável e às fronteiras planetárias será interpretado como "negócios, como de costume".E isso terá um impacto negativo nos retornos de longo prazo. Isso incentivará a falta de responsabilidade pelos impactos de uma organização na consecução do desenvolvimento sustentável - isto é, em vez de ser reduzida, a lavagem verde florescerá. Os acadêmicos não questionaram a necessidade de requisitos obrigatórios de relatórios; longe disso, eles os pedem há décadas - mas para responsabilizar as empresas por seus impactos. A maioria das empresas sabe que seus stakeholders querem e entregam de qualquer maneira, mas sob um regime voluntário, a qualidade sofre.

Os acadêmicos questionaram a relevância global dos padrões de relatórios de sustentabilidade que adotam uma perspectiva de materialidade financeira.

Esse enquadramento conceitual da Fundação pode ser tolerado pela comunidade científica, não fosse a abordagem desdenhosa dos padrões da Global Reporting Initiative (GRI). Vinte e três das 39 submissões acadêmicas elogiaram o trabalho da GRI para a Fundação IFRS. Um memorando de entendimento (MOU) foi assinado pela IFRS Foundation e pela GRI, mas ainda não se sabe até que ponto ele irá abordar as preocupações da comunidade científica. É provável que a abordagem de várias partes interessadas da GRI não seja algo que a Fundação IFRS esteja confiante para replicar, dando o devido peso a, digamos, organizações da sociedade civil.

Apenas cinco das 39 respostas concordaram com a primeira abordagem climática, com 26 argumentando por uma cobertura mais ampla, principalmente porque enfraqueceria ainda mais a responsabilidade por uma ampla gama de impactos corporativos.

Outras críticas às propostas da IFRSfeitas por acadêmicos e informadas por evidências incluíram:

= > A suposição de que a IFRS possui a melhor estrutura de governança sem analisar o que mais existe ou o que é apropriado para os relatórios de sustentabilidade;

= > A IFRS Foundation carece de legitimidade para estabelecer padrões de relatórios de sustentabilidade e o que está sendo proposto não é um relatório de sustentabilidade;

= > A IFRS Foundation não possui os conhecimentos técnicos necessários;

= > As propostas não são compatíveis com os compromissos assumidos pelos governos nacionais em relação às mudanças climáticas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas ;

= > As propostas não são de interesse público mais amplo; e,

= > A falta de evidências que apóiam as propostas e o corpo de evidências indicando que elas não terão as conseqüências desejadas. (...)

Concluímos que a voz acadêmica oposta em relação às propostas dos curadores da IFRS Foundation sobre relatórios de sustentabilidade era credível e apoiada por evidências de pesquisa. No entanto, isso não foi levado em consideração. Assim como o documento de consulta dos curadores da IFRS Foundation não forneceu análises ou evidências para apoiar suas propostas, em grande parte, nem as submissões acadêmicas que os apoiavam.

Carol Adams - Professora de Contabilidade, Durham University Business School; Frank Mueller - Professor De Prestação De Contas, Organizações E Estratégia, Durham University

Foto imagem aqui

O que o gasto de um professor aposentado ensina sobre finanças pessoais

Um professor aposentado decidiu pagar para fazer uma viagem ao espaço:


O preço de US$ 50 mil para a missão World View, no entanto, ainda é inacessível para muitos. Para Cokinos, o voo da empresa consumirá décadas de economias feitas para a sua aposentadoria.

A startup também mira clientes jovens, que não estão nem perto da idade da aposentadoria, e está oferecendo pacotes de financiamento para atraí-los. "Estou pensando na Geração Z e na geração Millenium, que valorizam mais as experiências do que as coisas", disse Hartman. "Eles descobrirão sua própria maneira de juntar US$ 50 mil", acrescentou.

Parece não fazer muito sentido gastar tanto dinheiro em uma viagem. Mas o ótimo Dinheiro Feliz, uma exceção em livros de finanças pessoais - não é um livro de autoajuda e um livro raso de conselhos, os autores são claros: gaste com experiências. Este é um dos cinco conselhos para usar dinheiro para ser feliz. 

O professor está sendo sábio na sua decisão. 

Fair Play Financeiro volta a ser notícia na Europa

Depois de ameaçar punir o City e o PSG - e não aconteceu nada - a entidade que gerencia o futebol europeu voltou a tratar do fair play financeiro.

 

A UEFA continua a apertar o cerco a clubes que não cumpram as regras do fair play financeiro. Para isso, conta com uma lista de vinte clubes que terão incumprido as normativas, de acordo com a informação avançada pelo diário britânico “The Times”.

Entre os clubes que fazem parte da lista estão vários que jogam nos maiores campeonatos, como são os casos do Arsenal, Barcelona, Juventus ou da AS Roma, agora treinada por José Mourinho.

Em causa estão eventuais castigos relativos a irregularidades financeiras ocorridas na temporada 2020/21, a primeira jogada inteiramente com restrições relacionadas com a pandemia.

De referir que a UEFA sancionou recentemente o PSG e o Marselha, clubes franceses que terão infringido as regras relativas ao fair play financeiro. O clube parisiense vai ser obrigado a pagar um valor próximo dos 20 milhões de euros.

Até à época passada, as regras ditavam que cada clube não podia gastar um valor superior ao dinheiro que encaixava em receitas.

Eis que a China volta a ser notícia

Que acreditava que 2020 recebemos um produto chinês indesejado, eis que uma notícia não muito boa: 


As baixas chuvas e o calor recorde em grande parte da China estão tendo impactos generalizados nas pessoas, na indústria e na agricultura. Os níveis de rios e reservatórios caíram, as fábricas fecharam por causa da escassez de eletricidade e grandes áreas de cultivo foram danificadas. A situação pode ter repercussões em todo o mundo, causando mais interrupções nas cadeias de suprimentos e exacerbando a crise global de alimentos.

Pessoas em grande parte da China estão passando por dois meses de calor extremo. Centenas de lugares relataram temperaturas superiores a 40 ° C (104 ° F) e muitos recordes foram quebrados. As estações de metrô criaram áreas de descanso onde as pessoas podem se recuperar do calor.

É impressionante a frase de um historiador de tempo, Maximiliamo Herrera, 

Não existe nada na história do clima que seja minimamente comparável com o que está ocorrendo na China

Enquanto isto, a Europa está tendo a pior seca em 500 anos. 

Gênero, Confiança e Habilidade na publicação científica

Em um experimento, dois pesquisadores do Wellesley College estudaram a reação de homens e mulheres às decisões editoriais. Eles leram uma suposta carta de um editor sobre a decisão de publicar ou não um artigo. 

Eis o abstract:

We design an experiment to study gender differences in reactions to editorial decisions on submissions to top economics journals. Respondents read a hypothetical editor’s letter where the decision (e.g., revise and resubmit) is randomized across participants. Relative to an R&R, female assistant professors who receive a rejection perceive a significantly lower likelihood of subsequently publishing the paper in any leading journal than comparable male assistant professors. We do not find this gender difference among tenured professors. We consider several mechanisms, pointing to gender differences in attribution of negative feedback to ability and confidence under time constraints as likely explanations. 

Via aqui.

Isto faz lembrar uma pesquisa com motorista do Uber realizada há poucos anos. Foi constatada diferença nos ganhos salariais entre os gêneros em razão da forma como comportavam no trânsito. 

Rir é o melhor remédio

Na internet você nunca estará sozinho
 

24 agosto 2022

Ainda questão ambiental

O título do texto da seguir, no original, é "Chegou a hora de desmistificar o ESG". Acho que não é bem isto, mas

 


Responsabilidade social corporativa. Esse conceito, aplicado desde 2005, acabou virando o “grande hype” dos últimos três anos em todo o mundo. A sigla ESG, advindo do inglês environmental, social and corporate, trata de um conceito que visa avaliar as atuações de empresas e corporações em prol de ativações sociais, ambientais e corporativas, sempre dentro de regras rígidas de compliance.

Com a chegada da pandemia e, logo em seguida, com a deflagração de uma guerra na Ucrânia, as discussões sobre crises energéticas e impactos ambientais aumentaram. Porém, ainda assim, existem empresas e gestores que ficam reticentes sobre investir em iniciativas de ESG.

De acordo com um estudo divulgado pela consultoria McKinsey Co., (Does ESG really matter — and why? ou "O ESG realmente importa — e por quê?"), os investimentos destinados a ações sustentáveis somam, atualmente, US$ 2,5 trilhões, representando queda de 13% em relação ao dado do fim do primeiro trimestre do ano passado.

Tais dados apontam que há desconfiança, mas que estudar melhor o ESG e aplicar ativações efetivas é um caminho sem volta. De acordo com a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que regula os mercados de capitais americano, mais de 90% das companhias que compõem a bolsa de Nova York e 70% das que estão presentes na bolsa de Londres já divulgam quais são suas ativações e investimentos em ESG. Esse movimento corrobora o quanto os stakeholders, e até mesmo a sociedade, cobra por respaldo das empresas nesse sentido.

No Brasil, um bom exemplo de estudos constantes e aplicações viáveis de ESG, demonstrando que há um caminho interessante para as empresas nacionais, é a Natura. O gigante dos cosméticos aposta em ativações para promover a proteção da Amazônia, defesa dos direitos humanos e economia circular.

Como disse no início deste texto, ainda há uma parcela das empresas que é resistente a tais mudanças. Para ter uma ideia, hoje no Brasil, mais de 40% dos resíduos são destinados de forma incorreta e apenas 3% são reciclados ou reaproveitados. Um dos principais fatores para esse cenário é a dificuldade da indústria de fazer o controle e gestão desses resíduos.

Além disso, muitas dessas empresas apresentam dificuldades com o compliance referente a essa legislação. A boa notícia é que por meio de IA e blockchain, boa parte desse processo consegue ser facilmente solucionado, ajudando no reporte dos principais índices de ESG. Processos manuais e informações descentralizadas também estão entre as principais dores da indústria no Brasil nesse sentido.

Para finalizar, afirmo que nem tudo são más notícias.

Outro recorte interessante que podemos traçar é sobre quais são os setores da indústria que mais têm apostado em plataformas para uma gestão de resíduos eficiente. Segmentos de alto impacto econômico, como os de automóveis, mineração e alimentícia, já são usuários assíduos das práticas de ESG. E, para comemorarmos, temos visto as áreas de alimentação, varejo e moda também amplamente preocupados em entender como podem aplicar tais iniciativas.

Vamos ficar de olho nas novidades e promover, cada vez mais, discussões relevantes sobre ESG e desenvolvimento sustentádos negócios em nosso país

A questão ambiental: outra visão


Se você leu sobre os bancos brasileiros e a questão ambiental, além da leitura postada ontem, eis outra visão sobre o ponto:

O processo de avaliação ESG é arbitrário, opaco e centralizado, deixando espaço significativo para corrupção. Também é suspeito que um dos principais defensores da ESG seja o CEO da BlackRock, Larry Fink. A BlackRock é o maior gerente de ativos do mundo, gerenciando mais de US $ 10 trilhões, e o Sr. "O estilo de vida" Fink reflete isso. Ele gosta de voar em jato particular para Davos, relaxando em sua mansão Aspen e dizendo para você reduzir sua pegada de carbono.

Aprofundar o ESG revela um plano mais sinistro. Embora desejemos ser bons administradores do planeta, aprendemos rapidamente que a proposta dos globalistas para fazê-lo é bastante ameaçadora e também ilegítima. O ESG é um componente vital da agenda para consolidar capital e planejar centralmente a alocação de recursos, destruindo os restos do livre mercado no processo. Vamos cavar um pouco mais fundo.

ESG é mais do que uma abordagem para avaliar investimentos; é um sistema de crédito social semelhante ao existente no Partido Comunista Chinês. Semelhante a uma pontuação de crédito que determina a elegibilidade de empréstimos com base em sua capacidade passada de pagar dívidas, um sistema de crédito social é uma análise mais invasiva e determina o acesso não apenas a serviços financeiros, mas também a serviços públicos, como transporte público ou supermercados. Por exemplo, o sistema de crédito social da China procura compilar registros digitais do comportamento social e financeiro dos cidadãos para calcular uma classificação pessoal que determina quais serviços eles têm direito. (...)

a ESG determina a capacidade de uma corporação acessar capital. Por fim, em vez de uma empresa fornecer um produto ou serviço exigido pelo mercado, as empresas obtêm sucesso com base em sua capacidade de comprometer valores e incorporar uma agenda ESG. Em um padrão ESG, o sucesso não se baseia mais na entrega de produtos e serviços ao mercado, mas na lealdade à classe dominante. O ESG é um retorno ao modelo monárquico, permitindo que poucos da elite alocem capital a causas que os enriquecem ainda mais em nome do “bem social."

O sistema ESG não apenas consolida capital para a classe dominante, mas também é eficaz na destruição da riqueza em escala nacional. Por exemplo, a pontuação ESG do Sri Lanka foi 98,1 antes do colapso. Pesquisa da World Economic explica a pontuação. Um alto índice (próximo a 100) indica um baixo impacto ambiental para o país. O Índice de Emissões é baseado na ponderação igual das emissões de carbono e metano.

O colapso do Sri Lanka deve-se, em parte, à decisão do governo de forçar os agricultores a mudar de fertilizantes químicos, que usam gás natural como insumo essencial, para fertilizantes orgânicos em abril de 2021. Esse mandato reduziu o rendimento das culturas e levou a menos alimentos, resultando no Sri Lanka esgotando suas reservas em moeda estrangeira para importar alimentos. Em dois anos, as reservas em moeda estrangeira do Sri Lanka foram esgotados de US $ 7,6 bilhões em 2019 para US $ 50 milhões até o final de 2020, uma queda de aproximadamente 99%. O tempo todo, o país tinha US $ 81 bilhões em dívidas e os preços dos alimentos quase dobrou.

De qualquer forma, a pontuação do ESG nos ensina que pode ser um contra-indicador para a saúde econômica de um país, indicando falta de comida e energia confiável. Outro desenvolvimento recente do ESG foi o recente governo holandês anúncio de seus planos de reduzir as emissões de nitrogênio em 50% até 2030 e no Canadá proposta para cortar fertilizantes emissões em 30%. Na Holanda, o bode expiatório é o gado e uma redução no tamanho do rebanho tornará muitos agricultores falidos, aumentando a insegurança alimentar globalmente e tornando a carne artificialmente escassa. Ao sucumbir às pressões do ESG, empresas e países não prosperam, eles desmoronam. Em vez de levantar todas as marés, afundam todos os navios.

(...)

Bancos brasileiros e a questão ambiental


Do Estadão (Via aqui

Os bancos brasileiros vão entrar em dezembro numa nova era sobre como medir os impactos das mudanças climáticas para seus negócios. O Banco Central (BC) começará a cobrar a inclusão de riscos climáticos no gerenciamento de risco e capital, além de uma política de responsabilidade social, ambiental e climática e de um relatório anual com informações padronizadas sobre o tema.

Na América Latina, o Brasil está na vanguarda desse processo, que começou a ser tateado pelas principais economias do globo. Em outubro, o BC deve apresentar no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) algumas referências para as instituições seguirem na elaboração de suas estimativas.No documento, devem vir, por exemplo, detalhes sobre como as instituições terão de calcular reflexos de uma seca extrema sobre seus serviços e ativos, além de um estudo sobre riscos de transição.

Como se trata de um aprendizado para todos, o BC promete não ser tão exigente no início desses trabalhos. Já avisou que não necessariamente os bancos devem seguir esse modelo, embora vá monitorar os preparativos para cumprir as novas normas em sua agenda de supervisão para o semestre.

"Em geral, visões agregadas apresentam simplificações, pois é necessário adequar o estudo à disponibilidade de dados e informações de diferentes tipos de instituição. Se o risco for relevante para uma dada instituição, essa deve desenvolver uma técnica mais aprimorada para avaliar o risco", ressaltou o órgão.

Antecipando-se às regras

Sem um padrão definido pelo BC sobre como contabilizar em seus balanços os riscos climáticos, as instituições financeiras no Brasil buscam apoio de especialistas para seguir as novas regras do regulador, que devem ser conhecidas em dois meses. Consultorias têm sido procuradas para tirar dúvidas sobre o tema, e a tendência é de que todos "entreguem a prova", mas algumas casas devem se aprofundar mais no tema e ser mais agressivas do que outras.

"As maiores acabam ficando na vanguarda, pois índices e investidores externos geram pressão. Não está todo mundo na mesma página. Mas a regulação trouxe a urgência do tema, não é mais uma questão voluntária", disse a coordenadora para América Latina e Caribe da iniciativa para o setor financeiro do programa das Nações Unidas (ONU), Maria Eugenia Sosa Taborda.

O BC destaca que não há metodologia ou técnica de elaboração prescrita para os testes de estresse, a partir das estabelecidas pela regulação: análise de sensibilidade; análise de cenários; e teste de estresse reverso. "A escolha de qual metodologia e da complexidade da técnica aplicada deve ser adequada ao risco incorrido em cada instituição", argumenta o BC, reforçando que vem se posicionado sobre o tema no Relatório de Estabilidade Financeira (REF).

No mercado, o diretor de Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Amaury Oliva, afirmou que, apesar de o BC não ter definido metodologia ou cenários específicos para os testes de estresse, criou requisitos importantes, como a análise temporal, geográfica, setorial e o alinhamento a aspectos já considerados no gerenciamento de risco.

"Temos um diálogo respeitoso e construtivo com o BC, que tem expectativa de agenda evolutiva. Não é para ter punição, é para avançar como setor bancário."

Segundo Oliva, a Febraban já desenvolveu, com a Coppe/UFRJ e a empresa WayCarbon, cenários climáticos "tropicalizados" para setores-chave da economia brasileira, que podem ser subsídios para análises e testes de estresse dos bancos. Segundo relatório de 2021, com base em dados do BC e em um estudo desenvolvido pela Febraban, a exposição da carteira de crédito para empresas ao risco ambiental era de 43,60% no fim de 2020.

Já a exposição moderada ou alta às mudanças climáticas era de 53,29%.Além disso, a federação criou um grupo específico para implementar as novas regras do BC, com encontros mensais para tirar dúvidas e orientar sobre bases de dados e procedimentos. Conforme Oliva, os associados, que já seguem uma autorregulação sobre o tema desde 2014, estão trabalhando "sem parar" para estar de acordo com as novas regras em dezembro. "Colocamos a régua lá em cima, queremos que os bancos alinhem seus portfólios ao Acordo de Paris, ajudando os clientes nessa transição", diz Sosa Taborda.

Estabelecer padrão para o setor bancário é um dos desafios

Como não há um padrão internacional até o momento e muitos acreditam que dificilmente será feito um, algumas instituições financeiras passaram a criar seus próprios requisitos básicos para avançar em serviços e transparência em relação às mudanças climáticas.O que o mundo todo se pergunta é: como ajustar um só padrão para todos os tipos de itens e negociações que faça sentido para um mercado específico e, ao mesmo tempo, sirva de referência para operações com outros agentes e países?

Da mesma forma que não se pretende engessar demasiadamente um mercado que está apenas engatinhando, temem-se os riscos que possam vir dele, principalmente o chamado greenwashing, que é a prática de classificar ativos como verdes quando, na realidade, não são.Para se ter uma ideia, as três maiores agências de classificação de risco do mundo também criaram suas próprias referências. Apesar de ser do mesmo setor e buscar o mesmo objetivo de medir a saúde financeira de um papel, empresa ou governo, têm réguas distintas para as variáveis relacionadas às questões climáticas.

Veja que já apareceram os consultores para "ajudar". 

Rir é o melhor remédio

 


23 agosto 2022

Como ESG está tentando alterar a percepção sobre uma entidade


Em uma extensa reportagem, o site The Intercept apresenta como a questão ambiental, social e de governança está procurando mudar a percepção sobre as empresas. 

O texto começa tratando da Corecivic, uma empresa de prisões. A empresa resolveu adotar uma auditoria racial:

"A auditoria não nos diz nada", disse Tylek [do Worth Rises, um grupo focado na privatização do sistema judicial]. “O modelo de negócios da prisão privada é o problema. Tudo o que eles fazem é o problema e, para ser sincero, às vezes estamos em desacordo com outros advogados, porque essas auditorias de equidade racial são absolutamente ridículas e não são uma ferramenta eficaz de advocacia."

Solicitado para comentar sobre as preocupações dos ativistas, o CoreCivic reiterou seu apoio aos “princípios de diversidade, equidade e inclusão."A empresa, disse o porta-voz Ryan Gustin," não hesitou em participar da recente auditoria de patrimônio racial."

Neste sentido, a política ESG tem sido criticada:

Mas um crescente coro de críticos questionou as promessas elevadas do investimento em ESG. A retórica do movimento, eles argumentam, serve para enriquecer um pequeno conjunto de consultores e gestores de fundos focados em ESG, enganando a comunidade pública e de investidores e fornecendo pouco ou nenhum benefício à sociedade. Eles alegam que a tendência de investimento não passa de lavagem de reputação e, potencialmente, fraude em escala industrial.

Sobrou para um dos fundos famosos na área: 

A BlackRock fará uma fortuna em taxas que promovam um modelo ESG inteiramente baseado em requisitos voluntários de autorrelato e pontuações opacas, disse Fancy [ex-diretor de investimento em responsabilidade social], enquanto usa seu poder como acionista para bloquear propostas que pedem às empresas que divulguem gastos políticos — os gastos muito políticos que as empresas usam para impedir leis e regulamentos governamentais significativos sobre gastos ou poluição em assistência social.

Há incoerências no próprio critério:

Os critérios para o que constitui um investimento socialmente responsável podem mudar de dia para dia. Em março, analistas do Citigroup Inc. sugeriu que as empresas que fabricam armas usadas para a guerra na Ucrânia para impedir a invasão russa poderiam contar para uma melhor pontuação ESG. "Defender os valores das democracias liberais e criar um impedimento, que preserva a paz e a estabilidade global", escreveram eles. 

 Antes deste ano, muitos fundos do ESG promoveram a exclusão de certos fabricantes de armas, argumentando que a venda global de bombas e mísseis não constituía um bem social - agora há um esforço para recompensar os fabricantes de armas. Se uma mudança na opinião pública pode remodelar todo o modelo, isso deixa muitos a se perguntar como qualquer fundo pode reivindicar princípios fixos quando idéias sobre responsabilidade social são inerentemente subjetivas.

Palavras mais duras chegam de Damodaran:

"É uma farsa, é tudo, uma farsa", disse Aswath Damodaran, professor de finanças da Stern School of Business da Universidade de Nova York, da ESG. “Como você pode ter uma medida de bondade? Ou deixe-me colocar de outra maneira: cite-me um fator social em que temos consenso na sociedade. Como diabos vamos chegar a uma pontuação?"

Voltando ao caso da prisão privada:

"O encarceramento com fins lucrativos é a antítese da responsabilidade social", disse Libal. "Eles obtiveram lucros devido ao encarceramento em números recordes, contribuindo com milhões de dólares em contribuições para a campanha para garantir que seus interesses sejam atendidos."

"Se o seu quadro é diverso, não importa o que você está vendendo, certo?" ele adicionou. "Se você tem mulheres suficientes no conselho da Blackwater, isso não faz das empresas mercenárias uma influência positiva no mundo."

Um exemplo é a farmacêutica Eli Lilly, que está sendo processada por aumentar de forma abusiva o preço da insulina. Mas ...

Em vez disso, o relatório Eli Lilly observa que a empresa promove a diversidade por meio de uma variedade de medidas, como treinamento em DEI e grupos de recursos de funcionários que patrocinam eventos como a Gala do Ano Novo Lunar.

Por este motivo, a empresa está em diversos fundos ESG, incluindo um fundo BlackRock. Sobra dinheiro para quem faz a premiação ESG:

A Just Capital, um grupo sem fins lucrativos que fornece classificações ESG, classifica a Amazon como líder do setor e três vezes vencedora do prêmio de Mais Justo Empresas da América. Apesar de uma agressiva campanha anti-sindical contra seus trabalhadores do armazém no Alabama e Nova York, que recebeu condenação internacional e reclamações abrangentes sobre as condições de trabalho, a empresa com sede em Seattle tem um histórico misto na categoria de práticas trabalhistas. Mas a pontuação é aumentada pelas políticas de "diversidade, patrimônio e inclusão" da Amazon e pelo número total de empregos que a empresa criou - duas áreas nas quais a Just Capital classifica a Amazon como a melhor empresa da América.

Entre as empresas bem ranqueadas, a Pepsi e a Coca-Cola, que emitem pouco. Mas produzem algo que aumenta a crise de diabetes, obesidade e doenças cardíacas. 

Alphabet, Amazon e Facebook também estão entre as maiores participações em fundos ESG, mas se envolvem em uma variedade de práticas de publicidade de vigilância e monopólio e fornecem um produto essencial que alimentou problemas de saúde mental entre os usuários. Todos eles divulgam medidas relacionadas ao DEI e à diversidade nos relatórios brilhantes do ESG que são enviados aos gestores de fundos.

"Se o modelo de negócios principal de uma empresa causa tanto dano", escreveu Taparia, "o encobrimento por meio de um "bom comportamento" em outros parâmetros não deve ser tão fácil."

E estes ranqueados são questionáveis, conforme o final do texto:

Um executivo-chefe de uma empresa de capital aberto, que pediu anonimato enquanto conversava com o The Intercept, disse que recentemente pagou cerca de US $ 20.000 a consultores de responsabilidade social para produzir um relatório especial a ser enviado às agências de classificação. Os profissionais do ESG criaram um documento que deslumbrou com o progresso por vários motivos ambientais e raciais. Os dados autorreferidos não são verificados por ninguém, observou ele com um encolher de ombros.

O executivo-chefe disse que ele parece branco para a maioria das pessoas, mas ele é tecnicamente um quarto não-branco, tornando-o, para os propósitos da ESG, um CEO "diverso" - uma dinâmica que ele achou absurda.

"É como a regra de uma gota. Sou diverso para o propósito dessas regras, elas realmente não fazem sentido ”, disse o executivo, que se perguntava como os gerentes e investidores de ativos podem exigir conformidade com as regras em torno da identidade racial quando a raça é socialmente construída, não uma realidade biológica.

"Não mudamos nenhuma prática comercial. É uma farsa, mas ninguém questiona essas coisas ", acrescentou. "Parece bom, mas não faz nada."