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07 dezembro 2025

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

Quem irá lecionar contabilidade?

Há alguns anos, escrevemos aqui no blog sobre um dado que me deixava inquieta: “um país com quase três mil cursos de contabilidade… e pouco mais de 250 doutores formados. Quem está lecionando?” 

Na época, atualizei os números por conta própria e cheguei a algo próximo de 2.693 mestres e 251 doutores, que achei pouco. Porém, foi considerada também uma vitória, já que os programas no Brasil focados em Ciências Contábeis são relativamente recentes. 

Destaquei ainda, naquela postagem, a dissertação do Glauber Barbosa (2011) que concluiu “ocorrência de disfunções no ensino superior das universidades federais, especialmente na sobrecarga de funções para os professores mais titulados e na supervalorização da pesquisa em detrimento do ensino, quando o ideal seria que este e aquela fossem indissociáveis.” 

Conforme um texto publicado no The CPA Journal, esse problema não só continua, como em alguns lugares, piorou. 

Nos EUA, o alerta agora é de crise aguda de professores de contabilidade com doutorado. O número de estudantes em PhD caiu mais de 40% desde 2007/2008, muitos programas não conseguem formar sequer um doutor por ano e uma boa parte dos formados não tem interesse na vida acadêmica. Some a isso o envelhecimento do corpo docente, a pressão por publicações e o fato de que a carreira fora da universidade muitas vezes é mais atraente financeiramente. Ou seja, lá e aqui, a pergunta continua ecoando: quem está, e quem estará, na frente da sala de aula? 

Por lá uma das opções sugeridas foi criar doutorados profissionais em contabilidade, voltados para a prática, para casos reais, para a formação de professores que vêm do mercado e querem ensinar sem precisar passar por um programa tão rígido, teórico e de longa duração quando o acadêmico. Mas, na minha percepção pessoal, se programas profissionais realmente ganharem foco, teremos que discutir critérios claros de qualidade, mecanismos de avaliação, supervisão prática, padrões mínimos de formação e até como garantir que a experiência profissional não substitua, mas sim complemente, a reflexão crítica e a base conceitual que a docência exige.

06 dezembro 2025

Rir é o melhor remédio

 


Silvio Santos: a matemática das heranças bilionárias

Fonte da imagem: aqui

Em 2024, os herdeiros do apresentador Silvio Santos entraram na justiça para questionar uma cobrança de R$ 17 milhões em Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) sobre R$ 429 milhões, referentes a uma empresa com sede nas Bahamas. O argumento central é o espólio estar no exterior, então não sujeito à legislação tributária aplicada no Brasil. 

Com a reforma tributária, o imposto estadual ITCMD está em um ambiente cinzento, já que é necessária uma lei complementar federal que defina a competência tributária. Nenhum estado pode tributar herança no exterior sem a edição dessa lei, então enquanto o brasileiro comum briga com o ITCMD do apartamento da tia, os muito ricos discutem em um patamar acima, com outra ousadia, potência e privilégios.

No mesmo processo, os herdeiros questionam também supostos erros de cálculo da Secretaria de Fazenda de São Paulo, que teria superavaliado os valores em cerca R$ 47 milhões. Diante disso, a Justiça de São Paulo determinou uma perícia para a avaliação dos ativos, que deve ser concluída em até 60 dias. (O que eu não daria para ler o laudo do perito! Me parece imensamente interessante.)

O processo é sigiloso, mas vazamentos indicam que, dentre bens e direitos, o apresentador teria um patrimônio de cerca de R$ 6,4 bilhões, muito acima ds R$ 1,6 bi especulados até então. Outro dado interessante é que a Forbes posicionava Sílvio em 209º no ranking geral de bilionários no Brasil. Agora, com a nova estimativa 4x maior, os herdeiros saltariam para a 71ª posição. 

05 dezembro 2025

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui.

A Netflix ganhou...

A Netflix deu o maior lance em um processo para a compra dos negócios de filme e streaming da Warner Bros Discovery: US$ 72 bilhões. As rivais Comcast e a Paramount Skydance não conseguiram superar este surpreendente lance que, por si só, já redesenha o tabuleiro do entretenimento.

Caso seja autorizada, a operação criará um colosso global no setor, mas ainda precisa passar pelo escrutínio regulatório.

Os detalhes oficiais são poucos, mas não faltam conjecturas, inclusive da que vos fala. Como consumidora, torço para que o negócio não seja aprovado (mas imagino que será). Minha resistência passa pelo receio de que uma fusão termine por sufocar negócios menores, amplifique um poder cultural que já é absurdo e reduza a diversidade real de produção.

De forma mais mundana, me preocupo também com a forma como a Netflix lida com seus catálogos, com métricas agressivas que resultam em cancelamentos abruptos e ciclos curtos. É uma empresa que premia o que retém em massa e não necessariamente o que inova.

No livro “Dez argumentos para você deletar agora suas redessociais” o autor, Jaron Lanier, alerta repetidamente para o modo como conglomerados digitais moldam percepções, comportamentos e consumo. Embora a crítica não se trate de streamings, muitas de suas reflexões podem ser extrapolados para este contexto. Plataformas de grande escala não apenas distribuem conteúdo, como também definem o que aparece, o que será apagado, como a cultura circula.

A Netflix domina estratégia e possui um tipo peculiar de visão de futuro. A empresa já mostrou seu poder em antecipar tendências e moldar padrões em inúmeras oportunidades. No fim, parece que só a ela ganhou alguma coisa. O resto de nós… seguimos aqui, com uma dose extra de ansiedade algorítmica. Ou talvez eu esteja lendo assuntos distópicos em demasia...

01 dezembro 2025

IA e o problema da água

Continuando com Noah Smith, ele aborda a questão do consumo de água:


Um dos pontos de discussão mais comuns que se ouve sobre a IA é que os centros de dados usam muita água, potencialmente causando escassez de água. Por exemplo, a Rolling Stone publicou recentemente um artigo de Sean Patrick Cooper, intitulado “O Precedente é Flint: Como o Boom de Centros de Dados de Oregon Está a Sobrecarregar uma Crise Hídrica”.  (...)

A ideia de que os data centers de IA são devoradores de água se tornou um cânone padrão em muitas áreas da internet — especialmente entre progressistas. E, no entanto, não é um problema real. Andy Masley finalmente se cansou e investigou os dados, escrevendo uma postagem épica no blog que desmascarou cada versão da narrativa de que "a IA usa muita água" (...)

Masley observa que:

A) Quase toda a água que a IA utiliza é, na verdade, usada por usinas de energia que geram eletricidade para alimentar a IA. B) A maior parte da água que é "usada" pela IA é, na verdade, apenas passada pelo sistema e devolvida à fonte original, em vez de ser consumida. Ele escreve:

Portanto, das maneiras pelas quais a IA utiliza água... A grande maioria (talvez 90%) é água doce retirada (não potável) que é usada indiretamente (fora do local) de forma não consumidora em usinas de energia (é devolvida à fonte inalterada)... Menos (talvez 7%) é água doce retirada (não potável) que é consumida (evaporada) indiretamente (fora do local) nas usinas para gerar a eletricidade que a IA usa... E menos (talvez 3%) é água doce retirada que é então tratada para se tornar potável, usada diretamente (no local) nos próprios data centers físicos e consumida em seguida (não devolvida à fonte, evaporada).

Ele então passa a citar vários números que mostram que o consumo real de água da IA não é um problema (ainda):

Todos os data centers dos EUA (que apoiam principalmente a internet, não a IA) usaram 200–250 milhões de galões de água doce diariamente em 2023.

Os EUA consomem aproximadamente 132 bilhões de galões de água doce diariamente...

Portanto, os data centers nos EUA consumiram aproximadamente 0,2% da água doce do país em 2023...

No entanto, a água que foi realmente usada no local nos data centers foi de apenas 50 milhões de galões por dia...

Apenas 0,04% da água doce dos Estados Unidos em 2023 foi consumida dentro dos próprios data centers. Isso é 3% da água consumida pela indústria americana de golfe.

(...) Masley está particularmente irritado com um livro de Karen Hao chamado Empire of AI, que cometeu enormes erros matemáticos sobre o uso de água pela IA. Em 20 páginas, Hao consegue:

Afirmar que um data center está usando 1000 vezes mais água do que uma cidade de 88.000 pessoas, quando na verdade está usando cerca de 0,22 vezes a quantidade de água da cidade, e apenas 3% do sistema de água municipal do qual a cidade depende. Ela erra por um fator de 4500.

Implicar que os data centers de IA consumirão 1,7 trilhões de galões de água potável até 2027, enquanto o estudo que ela está citando afirma que apenas 3% disso será água potável, e 90% não será consumida, mas sim devolvida à fonte inalterada.

(...) Hao mais tarde admitiu alguns erros sérios de dados no seu livro. (...)