Translate

13 abril 2022

Quem contribui com o colapso ecológico?

Eis o ponto final da interpretação dos resultados de uma pesquisa publicada no Lancet (via aqui):

Esses resultados mostram que os países de alta renda são os principais impulsionadores do colapso ecológico global e precisam reduzir urgentemente o uso de recursos para níveis justos e sustentáveis. Conseguir reduções suficientes provavelmente exigirá que os países de alta renda adotem abordagens transformadoras pós-crescimento e degradação.

A análise foi realizada entre 1970 e 2017. Eis um resultado interessante:

A Austrália aparece com um valor elevado de overshoot per capita, que foi calculado da seguinte forma:


Links


Os mais ricos do mundo - inclui categorias diferentes, como os mais ricos do show-business (acima). Infográfico

Exxon está redirecionando o gás "desperdiçado" para minerar Bitcoin

Montreal será sede de um centro regional do ISSB

Que coisas não fazem mais sentido para você

11 abril 2022

Além do débito e do crédito - 2

 


Mesmo quando estamos preocupados somente com o débito e o crédito é necessário ir além. Quando fazemos um lançamento contábil precisamos saber a data, os valores envolvidos e a conta a ser debitada e a conta a ser creditada. Mas isto é bem mais complexo do que parece. Na graduação simplificamos o mundo, dando uma ilusão que com um pouco de conhecimento seria possível um bom profissional. Determinar quando devo reconhecer um evento pode não ser tão simples assim; trabalhamos basicamente com valores monetários, mas sabemos que muitas coisas que acontecem no mundo são difíceis de serem expressos em unidades monetárias.

Estes problemas podem ser solucionados com ajuda de outras ciências. Veja o caso da nova moda na contabilidade, a sustentabilidade. Parece existir uma pressão para que os efeitos de uma entidade sobre o ambiente seja considerados e relatados para a sociedade. A Fundação IFRS está procurando buscar um consenso através do ISSB; o regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos já está trabalhando neste assunto. Mesmo a Europa, que poderia contentar em esperar que a Fundação IFRS começasse a produzir seus pronunciamentos, está comprometida com o assunto, já tendo produzido algumas minutas através do EFRAG. As próprias entidades reconhecem a importância do assunto.

Parece que tudo está sendo resolvido. Mas a realidade não é bem assim. Há um vasto campo para pesquisa nesta área e precisamos da ajuda de outras ciências. Mas a contabilidade das empresas necessita levar em consideração algumas questões básicas.

Considere um exemplo: como isto irá aparecer nas informações contábeis? Para responder a esta pergunta precisamos de pesquisar e entender os desafios de cada questão. A entidade pode parar sua preocupação no seu efeito para o ambiente ou pode deve incluir os efeitos da cadeia de valor da qual ela participa. A escolha disto já está sendo debatida. Há uma questão também importante que os reguladores estão respondendo, mas que talvez não seja a melhor resposta: onde divulgar?

Os reguladores estão propondo que as informações sejam divulgadas à parte, fora das demonstrações contábeis. Mas há pessoas insatisfeitas com esta opção e sugerem que isto seja considerado no passivo das empresas. Esta escolha traz resistências por parte das empresas, mas talvez fosse melhor para a sociedade, já que temos um impulsionador para uma ação efetiva das entidades.

Veja agora o caso da área comportamental. Alguns dos conceitos que usamos na área que alguns conhecem como finanças comportamentais, psicologia econômica, economia comportamental ou contabilidade comportamental surgiram há um século, como é o caso do famoso efeito manada. As pesquisas tomaram impulso nos anos 70 e 80. Com este campo aprendemos que a forma é importante e não somente a essência. Que as pessoas cometem falhas nas suas decisões existindo variação de preços na economia.

Considere a situação dos custos perdidos. Na contabilidade de custos aprendemos este conceito. Mas cometemos sistematicamente erros nas decisões, ao considerar tais custos no processo. Existe a falácia do custo perdido e todas pessoas já passaram por situações onde levaram em consideração fatos passados. A relação da área comportamental e a contabilidade é enorme e permite muitas pesquisas.

Vamos olhar agora para um outro campo de pesquisa com elevados desafios: a presença, no mundo atual, de um grande número de dados. Estamos vivendo a era dos grandes dados, mas ainda não a era das informações. Isto abre um campo enorme de pesquisa, mas antes de chegar lá é necessário vencer alguns desafios. Um deles, a necessidade de conhecer instrumentos para trabalhar com os dados. Isto significa, em termos práticos, saber Python ou outra linguagem para tratar os dados.

É interessante notar que esta mudança também afeta os conhecimentos que precisamos ter. Nos últimos anos nós enfatizamos talvez em excesso os econometristas. Agora é hora de estudar a fundo a ciência de dados, que inclui preocupações sutilmente divergentes daquela que tivemos no passado. Veja que isto traz também uma preocupação com o produto da contabilidade. No passado, Kaplan e Johnson questionavam o fato da ênfase na informação contábil estava sendo cada vez maior nas informações trimestrais e esta preocupação era ruim para nossa área. Mas hoje as informações possuem uma periodicidade cada vez menor.

Nós sabemos a reação das pessoas através das mensagens e curtidas das redes sociais, via comportamento de preço de um mercado de capitais mundial e com muitos dados. É bem verdade que dados não significa informação e que muitas empresas conseguem captar dados, mas não produzir informação. Para entender este novo mundo, precisamos ter acesso aos APIs das redes sociais e isto pode ser a cada momento mais urgente.

Além do débito e do crédito

Este talvez seja o retrato mais famoso da nossa área. Pintado em 1495, por Jacob de Barbari, mostra a figura de um religioso e no fundo um estudante. Esta pintura está atualmente em Nápoles, Itália, e na mesa é possível notar instrumentos matemáticos e o religioso está demonstrando o Teorema de Euclides.

O nosso personagem, um frade franciscano, ficou conhecido na sua época por ser um bom matemático. Tendo nascido em uma pequena cidade da Toscana, atual Itália, depois de ter completado sua educação, ensinou como professor particular e tornou-se professor de matemática. Foi na matemática que ele escreve algumas das suas obras mais conhecidas. Foi também graças a matemática que o nosso frade ensinou, colaborou e tornou-se amigo de Leonardo da Vinci.

Além de ter escrito sobre matemática, recentemente descobriu que o Frei também escreveu um livro de xadrez. A obra foi publicada e ainda se discute de os desenhos não seriam de autoria de da Vinci. O seu livro mais famoso foi publicado em Veneza, em 1494. Era uma obra didática, para ser adotada nas escolas, sobre matemática. Era o primeiro trabalho impresso sobre álgebra da sua época. O livro fez um grande sucesso no seu tempo.

Com dez capítulos sobre tópicos de matemática, onde os sete primeiros cobriam um sumário de aritmética da sua época. O oitavo era sobre álgebra contemporânea. O nono capítulo tópicos relevantes para o comércio, em 150 páginas. O último era sobre geometria. Mas foi o nono capítulo que tornou o livro, e seu autor, conhecido.

Usando o sistema numérico hindu-arabico, com língua usada nos negócios – não o latim, a obra não tem nenhum conteúdo original. Na verdade parte do conteúdo foi copiada. E isto tem gerado um grande debate sobre a contribuição do seu autor para a matemática e os negócios.

Mas o livro, cujo título resumido é atualmente conhecido como Summa, era o trabalho matemático mais abrangente da sua época. Profundo e claro, foi um sucesso de vendas, sendo traduzido para diversas línguas. No capítulo sobre negócios, o seu autor, Frei Luca Pacioli, faz a primeira descrição publicada de técnicas usadas por mercadores. Mesmo não tendo sido o primeiro trabalho escrito sobre estas técnicas, foi o mais influente na sua descrição. Foi talvez a primeira padronização de regras contábeis da história. De tão relevante, a obra deu a Pacioli o título de “pai da contabilidade” e muitos acreditam que ele “inventou” a contabilidade.

As partidas dobradas, de onde se origina os temos débito e crédito, teve na Summa, em Pacioli, seu grande autor. A descrição do ciclo contábil, o uso de diários e livros, a necessidade de que a soma dos débitos seja igual a soma dos créditos e o uso da particula “a” para indicar o lançamento a crédito são oriundos da Summa. O livro foi referência no ensino das partidas dobradas até o século XVI. E sua essência continua até os momentos atuais.

Só mais uma informação, antes de prosseguir. No mundo, o dia 10 de novembro é conhecido como sendo o Dia Internacional da Contabilidade. A razão da escolha da data é a seguinte: trata-se do dia da publicação do Summa, o livro que comentamos anteriormente.

Gostaria de lembrar então que o livro mais importante da nossa contabilidade é um livro de matemática. E que seu autor, foi um religioso, matemático, jogador de xadrez, conhecedor de pintura, professor e astrólogo.

A figura a seguir possuem uma relação com a nossa contabilidade, mas expandiram os nossos horizontes. A porcelana Wedgwood, fundador foi avó de Darwin, é conhecida por uma série de inovações. Oleiro, empreendedor, pioneiro no marketing, nas vendas “garantidas”, dos catálogos, da entrega grátis e muitas outras inovações, Wedgwood também foi relevante para a contabilidade por perceber que o cálculo dos custos de produção poderiam ser úteis para sua empresa. Inicialmente ele teve sucesso sem a necessidade de uma informação contábil.

Mas uma recessão fez com que surgisse a necessidade de compreender melhor seus custos para tomar decisões. Conta-se que ele sofreu um desfalque de um funcionário e por isto interessou pela contabilidade. Com ele tivemos o cálculo do custo de cada etapa de fabricação do produto, com processos de alocação. Compreendendo bem os conceitos de economia de escala e custo perdido, o oleiro mostrou para o mundo como podemos usar a informação contábil para tomada de decisão.

Acho que as duas história, de um matemático e de um oleiro, são suficientes para deixar uma clara mensagem: o conhecimento contábil esteve sempre associado a pessoas que possuíam um conhecimento de outra área de deram uma grande contribuição para nosso campo.

Mas há um ponto importante aqui: se por um lado a contabilidade desenvolveu graças as pessoas de outras áreas – caso de Pacioli e Wedgwood –, por outro lado podemos dizer que a própria contabilidade buscou, em outros campos, o conhecimento necessário para expandir seus horizontes. Esta ideia de que a contabilidade não é algo fechado, que começa e termina no sistema de partidas dobradas, é que precisamos ter. Na verdade, não sabemos onde começa a contabilidade – o método das partidas dobradas é somente uma etapa dentro de um ciclo maior, que é a busca pela mensuração que começou na história antiga, assim como não sabemos onde termina. O mundo é muito mais amplo que a origem dos recursos e seu destino.

(Da Palestra da nova turma do mestrado da UFG)

Gerenciamento de impressão

 

Do relatório da Fundação IFRS. É impressão minha ou o gráfico parece indicar que a receita caiu - no gráfico - mais do que na vida real e a despesa subiu bem mais?

Rir é o melhor remédio

 

Explicando minha pesquisa

10 abril 2022

Onde divulgar a questão ambiental?


As propostas que estão surgindo sobre o processo de divulgação das informações contábeis usualmente possuem como sugestão um relatório junto das demonstrações. Esta tem sido a posição do ISSB, assim como o EFRAG. Talvez seja uma solução intermediária, onde no futuro os valores mensurados sejam de fato incorporados entre os elementos - ativo, passivo, receitas e despesas - das informações contábeis. 

Mas esta posição não é consensual na contabilidade. Há defensores de que exista o reconhecimento das mudanças ambientais no balanço patrimonial da entidade. Esta é a posição da Corporate Accountability Network (via aqui) (irei chamar de Rede esta entidade a partir de agora), que considera necessário uma efetiva integração entre os relatórios. Isto não atenderia, segundo esta posição, a maioria da sociedade. 

O modelo proposto de Rede é que as mudanças ambientais vejam incorporadas através das emissões realizadas pela entidade, através da estimativa do custo para eliminar esta emissões, de forma a atingir o objetivo de alteração climática. Somente com este custo seria possível, segundo a Rede, ter uma preocupação permanente, expresso por um número no balanço de cada entidade. Isto corresponderia a um passivo, que impediria a entidade de pagar dividendos, até que o objetivo da sustentabilidade seja alcançado.

Para que isto seja possível, provavelmente deverá existir uma mudança nos conceitos de passivo que atualmente consideramos. Também seria necessário uma ênfase maior de que o usuário da informação não é o financiador, mas a sociedade. Seria uma revolução na contabilidade financeira. 

Eis o final:

We argue that accounting for these provisions for the cost of adapting to environmental change on an ongoing basis will provide users of financial statements with the data they need to monitor the reporting entity’s success in becoming net-zero compliant. In the process we turn issues relating to environmental change into hard accounting data capable of being recorded within the audited books and records of any PIE. As a result the Board of any such PIE will have to focus its attention on this issue since it has direct impact on its financial reporting.