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04 março 2015

Produtividade do trabalhador brasileiro

RIO - Com a economia estagnada em 2014 e previsões de um 2015 recessivo, a preocupação com a produtividade do trabalho ganha espaço. No quesito, não temos muito o que comemorar. O Brasil está atrás não apenas dos países desenvolvidos, como da grande maioria de seus pares na América Latina. Só está melhor que a Bolívia. Em 2013, a produtividade do trabalho no Brasil correspondia a 17,2% daquela dos Estados Unidos, país considerado referência para o indicador. Na comparação com o México, a relação era de 52,6%, com a Argentina ficava em 58,91% e com a Venezuela, 68%.

O indicador — da organização americana The Conference Board e reunido pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia — reparte o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços) por pessoa ocupada. Ou seja, o tamanho da economia dividido por seus trabalhadores. Aumenta-se a produtividade quando se produz mais com a mesma quantidade de recursos — seja de máquinas e equipamentos ou pessoas.

Isso é especialmente importante no momento em que a população brasileira está envelhecendo, com menos gente entrando para a força de trabalho nos próximos anos. Assim, é preciso que os trabalhadores se tornem mais produtivos para manter o mesmo nível de produção.
— Vamos muito mal em produtividade. Quando se compara com EUA e outros desenvolvidos, é um choque. O cenário também é muito ruim quando se compara com nossos vizinhos — diz Saboia

[...]

03 março 2015

Genética e a taxa de poupança

Economists have long theorized about why people save. The most-famous theory, the so-called “life-cycle” theory of savings put forward by Nobel Prize-winning economist Franco Modigliani in the 1950s, said—to put it crudely—that people save when they’re young to finance their lives when they’re old. It sounded reasonable. And it was hugely influential for decades.

And it was wrong. “Exhaustive attempts to explain actual saving patterns with Modigliani’s basic life-cycle hypothesis proved entirely unsuccessful,” said a paper surveying the history of economic thinking about saving, published by the Federal Reserve Bank of Minneapolis in 2003.

[...]

Researchers Henrik Cronqvist and Stephan Siegel constructed a measure of savings by essentially tracking the changes in the net worth of the twins between 2003 and the end of 2007. They found that identical twins—who share the exact same genes—are significantly more similar in their savings behavior than fraternal twins. In fact, they conclude that genetic differences explained roughly 33% of the variations in individual savings rates.”We and many other financial mainstream economists had just not thought about it,” Siegel says of the paper’s findings. “Because it’s slightly outside the mainstream way we think of human behavior in terms of finance and economics.”

It might not be outside the mainstream for long. Increasingly, economists are beginning to dip their toes into the field of genetics. For instance, a paper published in the Journal of Finance in 2010 found that genetics accounted for roughly 25% of the individual variation in risk-taking seen in financial portfolios. And the the emerging field even has its own portmanteau: Genoeconomics.
Fonte: aqui

28 fevereiro 2015

O que vem pela frente para as economias da América Latina?

O que vem pela frente para as economias da América Latina?Ilan GoldfajnItau Macroeconomia


Seis anos se passaram desde a última crise financeira global. O pior ficou para trás, mas a normalidade ainda não foi restaurada. Os EUA tem conseguido sustentar taxas robustas de crescimento e criar empregos, mas a expansão de salários e a inflação ainda estão baixas e dúvidas em relação a uma estagnação secular persistem. A Zona do Euro evitou um colapso, mas está apresentando dificuldades para sustentar níveis moderados de crescimento. O Japão renovou esforços para combater a deflação, com resultados mistos até agora. O juro básico segue próximo de zero nos EUA. A expansão monetária ainda está sendo implementada na Europa e no Japão.

A China se recuperou rapidamente da crise financeira global, com forte estímulo do governo, em sua maioria medidas parafiscais. Mas as políticas de estímulo criaram distorções: as taxas de investimento, já acima do desejado, aumentaram ainda mais. A capacidade ociosa se acumulou em diversos setores. Hoje a China cresce bem menos e a desaceleração é estrutural, na medida em que as autoridades buscam reequilibrar o crescimento: menos investimento, mais consumo e, talvez, menos danos ao meio ambiente. Em suma, crescimento econômico menor, porém mais equilibrado.

O banco central americano está removendo gradualmente o estímulo monetário implementado durante a crise. À medida em que os juros sobem nos EUA, os títulos de mercados emergentes ficam menos atraentes. A liquidez vai ficar mais cara e os países latino-americanos enfrentarão condições financeiras externas mais apertadas.

Um novo quadro global desponta no horizonte: os EUA estão prestes a iniciar um ciclo de aperto monetário e o crescimento chinês continuará se desacelerando. O que isso significa para a América Latina? Em alguns aspectos, isso significa um ambiente mais desafiador e arriscado para o crescimento adiante.

Os fundamentos vão distinguir os países

O investimento na região é parcialmente financiado pela poupança externa, como mostram os déficits em conta corrente moderados, porém generalizados. Até agora, investidores em busca de rendimentos mais elevados têm estado dispostos a financiar economias emergentes, mas na medida em que os retornos dos títulos americanos subam, isso pode mudar. A disponibilidade de poupança externa vai diminuir. Para manter os níveis atuais de investimento, a poupança interna precisará aumentar.


Os preços das commodities deixarão de jogar a favor dos investimentos nos países latino-americanos. Na última década, os termos de troca na América Latina melhoraram à medida que a urbanização na China impulsionou a demanda por commodities. Termos de troca mais robustos ajudaram a impulsionar o investimento nesta região de baixa poupança. Com o arrefecimento dos investimentos na China, os preços das commodities serão mais baixos do que no passado. A região enfrentará termos de troca menos benignos adiante.


Assim, as condições globais para o investimento serão mais difíceis. Para continuar crescendo, as economias latino-americanas precisarão ganhar produtividade. Chile, Colômbia e Peru se destacam devido ao bom ambiente institucional, à abertura ao comércio internacional e reformas. O processo de reformas e a recuperação dos EUA podem elevar as taxas de crescimento no México. Já a Argentina precisará corrigir políticas micro e macroeconômicas para alcançar taxas de crescimento maiores e controlar a inflação.


No Brasil, há desafios pela frente. A inflação está próxima do teto da meta e os déficits fiscais em termos nominais estão elevados. Além dos desequilíbrios macroeconômicos, persistem os problemas estruturais, como falta de infraestrutura adequada e excesso de burocracia. Restaurar a confiança e implantar reformas é necessário para o País voltar a crescer a taxas altas.


Ambiente mais arriscado para a América Latina

A princípio, a normalização da política monetária nas economias desenvolvidas será suave. Porém, na prática, problemas podem ocorrer — e geralmente são imprevisíveis. A história ensina que longos períodos de política monetária frouxa são frequentemente seguidos por volatilidade financeira e econômica.

Algumas commodities essenciais sofreram recentemente acentuadas quedas de preços, como petróleo, minério de ferro e soja. Os preços mais baixos e voláteis das commodities são uma tendência? Ainda é cedo para tirar conclusões, mas esta certamente é uma possibilidade. A oferta reagiu, com grande defasagem, aos preços elevados praticados nos últimos anos. E agora a China cresce mais lentamente do que no passado.

Independentemente dos fundamentos ou das políticas macroeconômicas domésticas, existe uma tendência comum entre os exportadores de commodities da região: a regra é a desaceleração do crescimento. Isso se aplica à Argentina, Brasil, Chile, Peru e Venezuela. Evidentemente, os fundamentos fazem a diferença: Chile, Colômbia e Peru crescem mais rapidamente do que os outros países. A Argentina enfrenta uma recessão dura e o Brasil está no meio do caminho. O México pertence a outra categoria, por não ser um exportador de commodities e sim um exportador de manufaturados para os EUA.


O ambiente global tornou-se mais arriscado. Os países latino-americanos estão preparados para repentinas fugas de capital? E para preços de commodities mais baixos e possivelmente mais voláteis? A resposta a ambas as perguntas é: mais preparados agora do que no passado. Por quê?

Diversos países da região aproveitaram os anos de ambiente global favorável para aprimorar os fundamentos domésticos. As posições externas ficaram bem mais resistentes. A dívida pública foi reduzida e sua composição se tornou bem mais saudável. Regimes de metas de inflação foram implantados com sucesso, permitindo que as taxas de câmbio absorvam choques vindos de fora. A melhora dos fundamentos macroeconômicos criou espaço para enfrentamento do ambiente externo mais difícil com políticas anticíclicas. Chile, Colômbia, México e Peru se encaixam nessa categoria.

A dívida de curto prazo hoje representa uma parcela pequena das obrigações externas. A maior parte das obrigações é denominada em moeda local, uma vez que investimentos diretos e em carteira representam a maioria dos influxos estrangeiros nos países da América Latina. Além disso, os bancos centrais acumularam reservas internacionais durante o período de bonança, de forma que muitos governos agora são credores líquidos em dólar. As taxas de câmbio retomaram seu papel de garantir o equilíbrio do balanço de pagamentos.


A dívida pública como percentual do PIB recuou significativamente e seu perfil também melhorou: os prazos da dívida se alongaram e a parcela de dívidas denominadas em dólares diminuiu substancialmente. Em alguns países, houve progresso no arcabouço de política fiscal. Os governos começaram a implantar regras fiscais anticíclicas em vez de buscar um nível específico de saldo orçamentário.


Os anos de liquidez global também permitiram aumento da taxa de investimento naqueles países que usaram as condições positivas a seu favor. Nesse contexto, destacam-se Colômbia e Peru, que aumentaram de forma significativa suas taxas de investimento, para níveis maiores do que os observados em seus pares. Ao mesmo tempo, os níveis de investimento na Argentina aumentaram, mas continuam relativamente baixos, enquanto no Brasil a taxa de investimento permaneceu praticamente estável.


A política monetária ganhou mais credibilidade. Os bancos centrais evoluíram de regimes de câmbio fixo para regimes de metas de inflação. As expectativas de inflação são ancoradas na meta de inflação e não na taxa de câmbio. Assim, o repasse da variação cambial à inflação diminuiu bastante. Esses ganhos de credibilidade permitem o uso de política monetária anticíclica.


No entanto, alguns países da região estão em posição pior. Nos anos de bonança, as políticas fiscais e monetárias foram extremamente expansivas e, juntamente com regimes de câmbio fixo, levaram a grandes desequilíbrios internos e externos. Argentina e Venezuela estão nessa categoria.



Ilan Goldfajn
Felipe Salles

Pesquisa macroeconômica - Itaú
Ilan Goldfajn - Economista-Chefe

20 fevereiro 2015

A desigualdade na América Latina tem origens coloniais? Não!

Latin American Inequality: Colonial Origins, Commodity Booms, or a Missed 20th CenturyLeveling?
Jeffrey G. Williamson
NBER Working Paper No. 20915
January 2015
JEL No. D3,N16,N36,O15

ABSTRACT

Most analysts of the modern Latin American economy have held the pessimistic belief in historical
persistence -- they believe that Latin America has always had very high levels of inequality, and that
it’s the Iberian colonists’ fault. Thus, modern analysts see today a more unequal Latin America compared
with Asia and most rich post-industrial nations and assume that this must always have been true. Indeed,
some have argued that high inequality appeared very early in the post-conquest Americas, and that
this fact supported rent-seeking and anti-growth institutions which help explain the disappointing growth
performance we observe there even today. The recent leveling of inequality in the region since the
1990s seems to have done little to erode that pessimism. It is important, therefore, to stress that this
alleged persistence is based on an historical literature which has made little or no effort to be comparative,
and it matters. Compared with the rest of the world, inequality was not high in the century following
1492, and it was not even high in the post-independence decades just prior Latin America’s belle époque
and start with industrialization. It only became high during the commodity boom 1870-1913, by the
end of which it had joined the rich country unequal club that included the US and the UK. Latin America
only became relatively high between 1913 and the 1970s when it missed the Great Egalitarian Leveling
which took place almost everywhere else. That Latin American inequality has its roots in its colonial
past is a myth.


Jeffrey G. Williamson
350 South Hamilton Street #1002
Madison, WI 53703
and Harvard University and CEPR
and also NBER
jwilliam@fas.harvard.edu

12 fevereiro 2015

Brasileira é indicada para ser diretora administrativa do FMI

WASHINGTON  -  (Atualizada às 20h56) Ex-vice-presidente de Recursos Humanos e serviços corporativos da Vale entre 2001 e 2011, Carla Grasso foi indicada para ser vice-diretora-gerente e diretora administrativa (chief administrative officer) do Fundo Monetário Internacional (FMI) pela número 1 da instituição, Christine Lagarde. Carla vai exercer uma nova função no Fundo,” criada para alçar a gestão operacional e administrativa do Fundo ao nível de excelência exigido pelo papel e responsabilidades singulares da instituição em uma economia mundial em rápida transformação”, segundo nota divulgada pela instituição nesta quarta-feira. 

A executiva entrou na Vale em 1997, ano da privatização da companhia. Em 2014, Carla colaborou com a campanha à presidência do senador Aécio Neves (PSDB-MG). 

“Carla traz para sua nova função um legado de liderança extraordinária, raciocínio estratégico e sólida experiência em gestão operacional. Realizamos um extenso processo seletivo de alcance mundial para preencher esta posição nova e crucial para o FMI. Tenho plena confiança de que encontramos uma gestora e líder formidável para integrar nossa equipe”, afirmou Lagarde. 

“Estou feliz por juntar-me ao FMI”, disse Carla, segundo comunicado divulgado pela instituição. “O FMI é uma das organizações internacionais mais respeitadas do mundo e eu estou muito ansiosa em poder trabalhar com meus novos colegas de direção, bem como com o talentoso pessoal do Fundo, para ajudar a fortalecer ainda mais a instituição, em um momento em que a instituição deve responder às necessidades de uma economia mundial em rápida transformação e as de todos os seus países membros.” A executiva afirmou ainda ser “um prazer especial poder voltar a Washington depois de ter trabalhado junto ao FMI e no Banco Mundial no início da minha carreira”.

Carla vai assumir o cargo no FMI em 2 de fevereiro, depois de a indicação ser aprovada pela diretoria-executiva do Fundo. Trata-se de um procedimento normal para todas as nomeações. Ela tem cidadania brasileira e italiana, de acordo com a nota da instituição. A executiva coordenar as áreas de orçamento, recursos humanos, tecnologia, serviços gerais e auditoria interna, além de também supervisionar as atividades do FMI nas áreas de desenvolvimento de capacidades e formação.
Além de trabalhar na Vale, Carla foi secretária de Previdência Complementar entre 1994 e 1997, e também teve  posições de assessoria e coordenação nos ministérios da Previdência, Fazenda e Planejamento, assim como no Gabinete da Presidência da República do Brasil. Ela também foi consultoria do Banco Mundial, quando trabalhou com assuntos ligados a países de baixa renda, tratando da revisão dos gastos públicos. Além disso, Carla foi mulher de Paulo Renato de Souza, ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso, morto em 2011.

Carla Grasso tem mestrado em política econômica pela Universidade de Brasília (UnB). Ela deu aulas de Economia Internacional e Economia Monetária da Pontifícia Universidade Católica de Brasília e de Matemática Econômica do Centro Universitário do Distrito Federal. No ano passado, foi professora de educação executiva no Insper, em São Paulo.

Fonte: aqui
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01 janeiro 2015

O que os guerreiros da desigualdade realmente querem?

What the ‘Inequality’ Warriors Really Want

Progressives decry inequality as the world’s most pressing economic problem. In its name, they urge much greater income and wealth taxation, especially of the reviled top 1% of earners, along with more government spending and controls—higher minimum wages, “living” wages, comparable worth directives, CEO pay caps, etc.

Inequality may be a symptom of economic problems. But why is inequality itself an economic problem? If some get rich and others get richer, who cares? If we all become poor equally, is that not a problem? Why not fix policies and problems that make it harder to earn more?


Yes, the reported taxable income and wealth earned by the top 1% may have grown faster than for the rest. This could be good inequality—entrepreneurs start companies, develop new products and services, and get rich from a tiny fraction of the social benefit. Or it could be bad inequality—crony capitalists who get rich by exploiting favors from government. Most U.S. billionaires are entrepreneurs from modest backgrounds, operating in competitive new industries, suggesting the former.

But there are many other kinds and sources of inequality. The returns to skill have increased. People who can use or program computers, do math or run organizations have enjoyed relative wage increases. But why don’t others observe these returns, get skills and compete away the skill premium? A big reason: awful public schools dominated by teachers unions, which leave kids unprepared even to enter college. Limits on high-skill immigration also raise the skill premium.

Americans stuck in a cycle of terrible early-child experiences, substance abuse, broken families, unemployment and criminality represent a different source of inequality. Their problems have proven immune to floods of government money. And government programs and drug laws are arguably part of the problem.

These problems, and many like them, have nothing to do with a rise in top 1% incomes and wealth.

Recognizing, I think, this logic, inequality warriors go on to argue that inequality is a problem because it causes other social or economic ills. A recent Standard & Poor’s report sums up some of these assertions: “As income inequality increased before the [2008 financial] crisis, less affluent households took on more and more debt to keep up—or, in this case, catch up—with the Joneses. ” In a 2011 Vanity Fair article, Columbia University economist Joe Stiglitz wrote that inequality causes a “lifestyle effect . . . people outside the top 1 percent increasingly live beyond their means.’’ He called it “trickle-down behaviorism.”

I see. A fry cook in Fresno hears that more hedge-fund managers are flying in private jets. So he buys a pickup he can’t afford. They are saying that we must tax away wealth to encourage thrift in the lower classes.

Here’s another claim: Inequality is a problem because rich people save too much. So, by transferring money from rich to poor, we can increase overall consumption and escape “secular stagnation.”

I see. Now we need to forcibly transfer wealth to solve our deep problem of national thriftiness.

You can see in these examples that the arguments are made up to justify a pre-existing answer. If these were really the problems to be solved, each has much more natural solutions.
 

[...]

There is a lot of fashionable talk about “redistribution” that’s not really the agenda. Even sky-high income and wealth taxes would not raise much revenue for very long, and any revenue is likely to fund government programs, not checks to the needy. Most inequality warriors, including President Obama, forthrightly advocate taxation to level incomes in the name of “fairness,” even if those taxes raise little or no revenue.

When you get past this kind of balderdash, most inequality warriors get down to the real problem they see: money and politics. They think money is corrupting politics, and they want to take away the money to purify the politics. As Berkeley economist Emmanuel Saez wrote for his 2013 Arrow lecture at Stanford University: “top income shares matter” because the “surge in top incomes gives top earners more ability to influence [the] political process.”

A critique of rent-seeking and political cronyism is well taken, and echoes from the left to libertarians. But if abuse of government power is the problem, increasing government power is a most unlikely solution.

If we increase the top federal income-tax rate to 90%, will that not just dramatically increase the demand for lawyers, lobbyists, loopholes, connections, favors and special deals? Inequality warriors think not. Mr. Stiglitz, for example, writes that “wealth is a main determinant of power.” If the state grabs the wealth, even if fairly earned, then the state can benevolently exercise its power on behalf of the common person.

No. Cronyism results when power determines wealth. Government power inevitably invites the trade of regulatory favors for political support. We limit rent-seeking by limiting the government’s ability to hand out goodies.

So when all is said and done, the inequality warriors want the government to confiscate wealth and control incomes so that wealthy individuals cannot influence politics in directions they don’t like. Koch brothers, no. Public-employee unions, yes. This goal, at least, makes perfect logical sense. And it is truly scary.

Prosperity should be our goal. And the secrets of prosperity are simple and old-fashioned: property rights, rule of law, economic and political freedom. A limited government providing competent institutions. Confiscatory taxation and extensive government control of incomes are not on the list.


Mr. Cochrane is a professor of finance at the University of Chicago Booth School of Business, a senior fellow at the Hoover Institution, and an adjunct scholar at the Cato Institute.

24 dezembro 2014

Ascensão e declínio das Leis Gerais do Capitalismo


Abstract:

Thomas Piketty's (2014) book, Capital in the 21st Century, follows in the tradition of the great classical economists, like Marx and Ricardo, in formulating general laws of capitalism to diagnose and predict the dynamics of inequality. We argue that general economic laws are unhelpful as a guide to understand the past or predict the future, because they ignore the central role of political and economic institutions, as well as the endogenous evolution of technology, in shaping the distribution of resources in society. We use regression evidence to show that the main economic force emphasized in Piketty's book, the gap between the interest rate and the growth rate, does not appear to explain historical patterns of inequality (especially, the share of income accruing to the upper tail of the distribution). We then use the histories of inequality of South Africa and Sweden to illustrate that inequality dynamics cannot be understood without embedding economic factors in the context of economic and political institutions, and also that the focus on the share of top incomes can give a misleading characterization of the true nature of inequality.

Autores: Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson(Harvard)

Artigo Completo:The Rise and Decline of General Laws of Capitalism

08 dezembro 2014

Por que os economistas são tão influentes?

“IF ECONOMISTS could manage to get themselves thought of as humble, competent people, on a level with dentists, that would be splendid!” said John Maynard Keynes, a British economist. Despite their collective failure to predict the financial crisis, let alone follow Keynes’s injunction, economists are still very influential. They write newspaper columns, advise politicians and offer expensive consulting services to business-folk far more than other academics. A new paper* tries to explain why.

One reason, say the authors, is that economists have come to believe that they are superior. A survey in 1985 found that just 9% of graduate students in economics at Harvard strongly believed that economics was “the most scientific of the social sciences”. But as economics became ever more mathematical, its practitioners grew in self-confidence. By 2003 54% of the graduate economists studying at Harvard strongly agreed with the statement. A glance at a popular blog for doctoral students in economics, econjobrumors.com, gives a taste of the contempt in which its users hold other disciplines. Sociologists “play around with big important ideas without too much effort or rigour,” one econo-nerd asserts.
The authors point out that economists demonstrate their self-belief in subtler ways too. Articles in the American Economic Review cite the top 25 political-science journals one-fifth as often as the articles in the American Political Science Review cite the top 25 economics journals. Another study found that American economics professors were less likely than their peers in other subjects to agree with the notion that “interdisciplinary knowledge is better than knowledge obtained by a single discipline.”

The odd thing, the authors argue, is that we believe in economists almost as much as they believe in themselves. Journalists and politicians seek strong arguments and clear answers. Most academics are reticent types: historians, for instance, question whether you can learn anything from history. “For a moderate fee,” jokes Deirdre McCloskey, an economic historian, “an economist will tell you with all the confidence of a witch doctor that interest rates will rise 56 basis points next month or that dropping agricultural subsidies will increase Swiss national income by 14.8%.”

* “The superiority of economists”, by M. Fourcade, E. Ollion and Y. Algan, MaxPo Discussion Paper 14/3.

Fonte: aqui

01 dezembro 2014

Jean Tirole e a economia brasileria



Amigos e colegas de academia de Jean Tirole, professor francês que levou o Nobel de Economia nesta segunda-feira, afirmaram que não se surpreenderam com a premiação — e que muitas de suas pesquisas acabaram influenciando o mercado brasileiro. Tirole é acadêmico da Universidade de Toulouse e é considerado um dos grandes pesquisadores no campo da concorrência e competitividade.

Ao site de VEJA, Patrick Rey, também professor do Instituto de Economia da Universidade de Toulouse, disse que Tirole sempre foi um professor excepcional e que não é de hoje que o colega era um dos favoritos a vencer o Nobel de Economia. Os dois escreveram juntos artigos na área de regulação e competição de mercado, incluindo um voltado ao setor de telecomunicações. Rey mencionou a gratificação que é ter um francês faturando o prêmio, tradicionalmente vencido por americanos, e lembrou o nome dos outros dois compatriotas vencedores: Gérard Debreu, em 1983, e Maurice Allais, em 1988.

Glen Weyl, pesquisador do Microsoft Research New England, falou com entusiasmo sobre a premiação e destacou a contribuição dos estudos de Tirole também para o Brasil. "À medida que o Brasil se desenvolve, ele vai se tornando um dos mais ativos países em questões antitruste, impedindo fusões entre grandes multinacionais e empresas brasileiras. Os princípios por trás dessa política pró-competitividade vêm dos trabalhos de Jean. Muitas reformas dos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma também se beneficiaram de suas pesquisas", disse Weyl. "Olhando por este lado, Jean fez uma contribuição fundamental para a política econômica e economia do Brasil", completou.

[...]

O professor da FGV e do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Aloisio Araújo, citou a influência dos trabalhos de Tirole na abertura do setor elétrico brasileiro à iniciativa privada e a divisão entre geradoras, distribuidoras e transmissoras. O Brasil baseou-se, segundo ele, no modelo inglês, que, por sua vez, foi inspirado pelas pesquisas de Tirole e Jean-Jacques Laffont, seu parceiro de trabalhos sobre regulação.

"Ainda há muito para o Brasil aprender com suas pesquisas, especialmente na área de competição. A pergunta que deveria ser debatida é se o Brasil tem um índice de concentração muito elevado em alguns setores, como o de telefonia celular", disse ao site de VEJA. O estudioso afirma que o tema é pouco discutido no Brasil. Exemplo disso, segundo Araújo, é a inexistência das discussões sobre regulação no debate eleitoral.

Fonte: aqui

15 novembro 2014

Produtividade dos PHDs em Economia



“IF THE objective of graduate training in top-ranked [economics] departments is to produce successful research economists, then these graduate programmes are largely failing.” That’s the startling message from a recent paper published in the Journal of Economic Perspectives.

How did the authors of this paper reach such a pessimistic conclusion? They look at a 14,300 people who received an economics PhD from 154 American and Canadian institutions. They then find a massive database of academic papers published over a two-decade period. From that, they are able to tell how many papers each PhD graduate has produced in the six years after leaving graduate school. (Six years, by the way, is about the average time it takes for a newly-minted PhD to get tenure).

Of course, quantity is not the only measure of success. One great paper is worth more than three bad ones. So the authors create an index that adjusts the number of publications by the quality of the journal it appears in. The authors end up with what they call the "American Economic Review­-equivalent". To get published in the AER is a dream for any economist and so other journals are indexed in relation to it. An article in the Journal of Political Economy, for instance, is worth 0.67 papers in AER. A paper in Economic Theory is worth a quarter.

Some of the results are not terribly surprising. Graduates from the big-hitting universities can be extremely productive. The graduate in the 99th percentile from Harvard or MIT—that is, right at the very top of the graduating class—produces over 4 AER-equivalent papers over six years.

But the vast majority of PhD students, even at top universities, produce nowhere near that much (see chart). The number of AER-equivalent papers of the median PhD student, six years after graduation, is below 0.2 for all universities. Yes, all—even Harvard, MIT and Chicago. The 50th percentile at almost all universities has a score of 0.1. That’s equivalent to publishing one paper in a second-tier field journal over six years. 

AER-equivalent score, by percentile of graduates, after six years

What are the implications of these results? Even if you have been accepted into a top economics department, there is no guarantee that you will be a successful researcher. In fact top researchers come from a range of institutions, not just the best ones. The researcher in the 99th percentile of the typical “non-top-30” institution—that is, the 124 other universities in the authors’ sample—is better than her equivalent from a range of big-hitting institutions like Penn State and the University of Texas at Austin.

The paper probably says something about how economics PhD programmes are taught. Professors may give a disproportionate amount of time to the students that they think are most naturally gifted, while leaving the majority behind. As a result that lucky student is much more likely to have a successful publication record.

Now: the crucial question is whether economics PhD students want to be successful researchers. The authors see this as self-evident:


Our experience suggests that most students, especially at the better programs, enter graduate school planning to seek academic jobs, or at any rate, jobs that require research.

I'm not so sure: many econ PhDs that I know have no intention of becoming an academic but instead want to work for government or an NGO. And lots of people working in the upper echelons of business and government may produce research, but may not publish it in a peer-reviewed journal. Take economists at the IMF, for example, who produce working papers that may never become "proper" academic articles. The same goes for government employees who produce policy analysis.

For the vast majority of economics PhDs there is little point in being more productive. As we have shown before, there are far more PhDs produced each year than there are job openings. America produced more than 100,000 doctoral degrees between 2005 and 2009; in the same period there were just 16,000 new professorships. What's the point in killing yourself to be a productive researcher when finding an academic job is so hard?

Fonte: aqui

31 outubro 2014

5 recomendações para o Brasil

5 steps to kick-start Brazil
Financial Times, October 28, 2014

On October 26, 108m Brazilians voted in the second and final round of the country’s presidential election. Incumbent Dilma Rousseff defeated challenger Aécio Neves by a slim but definitive margin (52 per cent to 48 per cent) and she will now remain in office until 2018. The results suggest that this election was not about change but rather the continuation of helping Brazil’s new middle class pursue upward mobility.

Over the last 20 years, Brazil has taken crucial strides towards achieving its weighty, if elusive, economic potential. Finance minister (later President) Fernando Henrique Cardoso’s Real Plan established a stable macroeconomic foundation in the 1990s, which allowed his successor, President Luiz Inácio Lula da Silva, to implement social programmes that lifted upwards of 40m people out of poverty in the 2000s. Strong growth gave Brasília fiscal leeway during the global financial crisis; an aggressive stimulus package in 2009 led to claims that Brazil was the last country in and first country out of the Great Recession. Investment poured in and many wondered if a new day had finally dawned for the perennial “country of tomorrow”.

Since 2011, however, Brazil’s burgeoning middle class has faced growing pains. For tens of millions of nouveau stable, simply participating in the country’s economy is no longer enough. They seek continued access to opportunity and they fear a return to poverty. A stagnating economy spurs disquiet. Growth, which averaged 4.5 per cent annually from 2004 through 2010, has averaged 1.6 per cent since. When hundreds of thousands took to the streets to protest in 2013, and when 108m visited the voting booths on Sunday, they demanded improved efficiency, transparency and, above all, a return to growth. Here are five ways to accomplish that:

1. Fiscal Rebalancing – Fiscal policy is at the heart of the current Brazilian malaise. Sustainability is key to an environment conducive to growth and investment, yet Brazil’s fiscal balances have eroded over several years. Rebuilding them will likely require a similar amount of time. The country’s public spending (close to 40 per cent of GDP) far exceeds that of other upper-middle income countries. This spending includes world standards in terms of efficiency such as theBolsa Família, but also plenty of pork worth cutting.
The new administration must set a direction early, ideally with a multi-year plan of fiscal consolidation that begins with a focus on transparency. Since 2011, Brasilia has leaned on various accounting measures to manipulate headline fiscal results, making the reported numbers increasingly irrelevant. A significant tax reform — as debated since the 1990s — would be a crucial second step. Such reform could lower growth-dampening compliance costs while remaining revenue neutral. In the long term, pension reform could defuse a fiscal time bomb while encouraging saving, which remains chronically low.

2. Stabilize the Macroeconomic Foundations – Brazil fought hard for macroeconomic stability. That effort must not go to waste. At 6.75 per cent, inflation is currently above the country’s upper target-rate limit and has been near it for several years, creating environment of tolerance and de-anchoring inflation expectations. Perhaps most perniciously, this approach has reduced the perception of central-bank autonomy. While above-target inflation may be unavoidable in the near term, the central bank should be guaranteed the operational autonomy to restore the targeted 4.5 per cent in the medium term, even if this requires further interest rate hikes. Over the long term, lower inflation and enhanced central-bank credibility should allow for lower interest rates — especially if fiscal conditions improve.

3. Closing the Infrastructure Gap – From unpaved streets in the northeast to the overburdened ports of Santos, Brazil’s infrastructure deficit is ubiquitous and costly. Brazilian fields produce grain twice as fast as those elsewhere but getting that grain to port can cost
almost half its value. Meanwhile, vast mineral deposits remain buried deep within the earth (and vast numbers of people remain buried deep in São Paulo’s traffic) for want of better transportation. At roughly 2.45 per cent of GDP, investment in Brazilian infrastructure is below the emerging market average and barely enough to keep up with depreciation.
The good news is that addressing infrastructure can provide large gains. Given fiscal constraints, most of this investment must come from the private sector. Fortunately, investors worldwide have shown keen interest in Brazil, as demonstrated by continued FDI inflows. Securing this investment will require an improved framework for public-private partnerships and the removal of procedural burdens that slow projects (the infamous custo Brasil).

4. Educating a 21st-Century Workforce – Brazil’s Lula-era momentum can partially be attributed to a series of one-off events: the rapid rise of China, the commodity super-cycle and the lifting of millions out of poverty. To sustain this momentum, the country must develop a workforce with expanding skill sets and productivity potential.
Brazil has made impressive progress in universalizing access to primary education, yet the quality of education and achievement remains poor by international standards. Moreover, the quality of education students receive depends greatly on where they live and their racial and socio-economic backgrounds. The country must improve the quality of education not just by investing more but also by systematically evaluating the effectiveness of government programmes from pre-school to university.

5. Trade and competition – Under President Rousseff, Brazil has adopted an increasingly defensive trade policy. Through tariff and non-tariff barriers, the country has protected domestic industry, reflecting policymakers’ belief that the domestic market is large enough to sustain growth. Just as in the 1970s, this approach has created inefficiencies and economic distortions: the quality of the Brazilian product may not be up to snuff, while the imported product may be too expensive.
Elements of the Brazilian private sector have good reason to advocate for the more liberal approach of the Pacific Pumas. Opening to world markets would provide Brazilian firms with an incentive to expand and offer access to technology and inputs. Successful Brazilian firms could compete on quality rather than hide behind sectoral benefits and trade protection.

Moving Forward

These recommendations are not easy to implement and do not translate into growth overnight. They may not appeal to Latin American policy-makers who all too often pursue short-term growth at the expense of long-term reform. Their approach, however, has resulted in cycles of boom followed by the inevitable busts, and centuries of unfulfilled promise. Brazil’s impressive progress means it can no longer stimulate growth by helping families afford a refrigerator—they have one now and do not need another. Brazil’s new middle class needs better jobs, more skills and a dependable economy. By implementing these recommendations the second Rousseff administration could kick-start the process.

30 outubro 2014

O espantalho da crítica heterodoxa

O espantalho da crítica heterodoxa
Marcos Coimbra e Carlos Eduardo Gonçalves
Valor Econômico, 27/10/2014

Há países ricos que possuem sistemas de bem-estar social generosos, como os nórdicos; há países ricos com sistemas de bem-estar pouco generosos, como os EUA. Mas o que definitivamente não existe são países ricos com políticas macro e microeconômicas de viés heterodoxo com a extensão adotada no Brasil nos últimos cinco anos.
A receita dos que conseguiram saltar a difícil barreira do crescimento sustentável – conhecida como armadilha da renda média – é conhecida: plena liberdade política e econômica para amplos setores da sociedade, rigor na condução da área fiscal, estabilidade monetária e financeira, regras e regulamentação estáveis e, finalmente, investimento público eficiente em capital humano (saúde e educação) e infraestrutura.

Há saudável controvérsia sobre o efetivo papel desempenhado por políticas desenvolvimentistas em alguns casos de sucesso, como, por exemplo, as políticas industriais adotadas pelos Tigres Asiáticos, há cerca de três décadas. De um lado alega-se que essas políticas foram cruciais para que eles desenvolvessem parques industriais importantes. De outro, argumenta-se que elas foram irrelevantes, e o que de fato os teria levado aos atuais patamares de renda por habitante foram os investimentos maciços em capital humano. A verdade, possivelmente, está no meio do caminho. Contudo, frise-se que esses casos de sucesso são contrabalançados por um número muito maior de casos de fracasso, como na maioria dos experimentos levados a cabo na América Latina, por exemplo. Por estas bandas, fizemos bastante política industrial, mas não conseguimos os mesmos resultados.
Não avançamos na educação por má governança no setor público e incertezas regulatórias
Políticas de proteção existem, de fato, em muitos países, mas o que nos soa mais significativo é que os detalhes das políticas desenvolvimentistas mais bem sucedidas apresentam diferenças marcantes com a política industrial “à brasileira”, como, por exemplo, a fixação de metas claras de desempenho e a natureza temporária da proteção. O Brasil recente destoa pela extensão da intervenção pública, pela sua longevidade e pela falta de transparência dos benefícios concedidos sem avaliação de resultados.
Voltando à nossa lista de condições necessárias ao desenvolvimento, existe liberdade política no Brasil, mas a nossa democracia ainda é carente de controles sobre a concessão pública de benefícios a grupos escolhidos, além de sujeita a recorrentes casos de corrupção. Tudo isso, claro, afetando a produtividade final da economia. Adicionalmente, são enormes as barreiras burocráticas à entrada nos mercados de bens por parte de empresas novas, fato que, em conjunto com a política de escolha de vencedores via crédito público, restringe o que chamamos de liberdades econômicas.

O rigor fiscal, duramente conquistado após 2000, foi abandonado. O superávit primário real nesse ano, por exemplo, está para perto de 0% do PIB, ou menos. Além disso, os mecanismos criativos reduziram a transparência e a credibilidade da política fiscal, marcos da LRF de 1999. Por sua vez, a condução equivocada da política monetária, reduzindo o juro na base do voluntarismo, resultou em inflação resiliente e em desancoragem das expectativas.
Seguindo na lista: o aumento das restrições ao comércio exterior, por meio de barreiras tarifárias e não tarifárias, isolou ainda mais a economia brasileira do comércio internacional. E as intervenções discricionárias, como no caso da energia, fragilizaram empresas, prejudicaram a produtividade e comprometeram o ambiente de negócios. Por fim, não conseguimos avançar na educação e na infraestrutura por má governança no setor público e incertezas regulatórias.
O resumo é que a produtividade estagnou, o que compromete nosso crescimento econômico sustentado, e a nova matriz macroeconômica resultou apenas em um legado de inflação alta num mundo de inflação baixa, além de graves desequilíbrios fiscais a serem enfrentados nos próximos anos.

Como reagem alguns dos economistas heterodoxos, direta ou indiretamente ligados ao governo, a essa crítica? Criando um argumento-espantalho. A invencionice vai na seguinte linha: os economistas que pregam rigor fiscal e reformas querem na verdade desfazer as conquistas sociais, estão contra a redução de desigualdade, alcançada via programas governamentais como o Bolsa-Família.

Não é verdade, é cortina de fumaça. Não defendemos o fim de programas sociais eficientes para redução da pobreza, nem algo que se assemelhe a “Estado Mínimo”, nem impostos mais baixos para os mais ricos, ou coisas do tipo. Essa tentativa de desqualificação da divergência é instrumento utilizado pelo baixo clero do debate intelectual. Inventam-se pretensos argumentos para rejeitar outros pontos levantados pelos críticos. Inventa-se, enfim, um espantalho.
Defendemos políticas sociais focalizadas nos mais necessitados; a maior qualidade da política pública em educação e saúde por meio da melhora da gestão e do reconhecimento meritocrático, permitindo melhores resultados com os recursos já disponíveis; a volta do rigor fiscal e do combate à inflação; transparência dos subsídios e proteção setoriais, que preferencialmente deveriam ser horizontais e submetidos a constante avaliação de resultados, para que não joguemos mais dinheiro público em empresas ineficientes; maior abertura econômica, que favoreça o consumidor brasileiro e diversas empresas que usam insumos importados, aumentando nossa inserção nas cadeias produtivas globais e, portanto, alavancando a produtividade.

Ser crítico dos equívocos da política econômica dos últimos anos não tem nada a ver com defender o fim das conquistas sociais alcançadas desde 1990. Argumentar nessa direção é fugir do debate sobre a condução da economia nos últimos anos. O espantalho pode ser eficaz para afastar os corvos. O debate, porém, merece mais. O país também.

13 outubro 2014

Previsões para o Nobel de Economia 2014



On Monday, the Royal Swedish Academy of Sciences will name its choice for the Nobel Prize in economics. In the run-up to that announcement, analysts and economists are engaged in some forecasting of their own about who might win.

The prize—officially the Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel—was established in 1968 and is worth around $1.1 million. The shortlist seems to grow a little longer every year.

News and data firm Thomson Reuters publishes predictions every year of Nobel laureates based on the number of research citations those academics receive. This year, their frontrunners for the prize include Philippe Aghion of Harvard University and Peter Howitt of Brown University for their work advancing the growth theory of creative destruction.

William Baumol and Israel Kirzner, both of New York University, are also atop the Thomson Reuters slate for their research on entrepreneurship.

Tyler Cowen of George Mason University is also predicting Mr. Baumol—and possibly William Bowen, the former president of Princeton University—for their work on cost disease, or the phenomenon in which labor costs rise without a corresponding increase in output.

Mr. Baumol’s name comes up in a 1990 study by Eugene Garfield handicapping potential Nobel laureates-to-be. Garfield lists 50 of the most-cited economists between 1966 and 1985, of which 15 had already won the prize. Thomson Reuters notes that Mr. Baumol is 10th on that list, and that only one other economist—Martin Feldstein of Harvard University—is still living and has not won the prize.

Other perennial favorites for the study of economic growth include Paul Romer of NYU and Robert Barro of Harvard. Mr. Barro currently ranks No. 2 in research citations on a database maintained by the Federal Reserve Bank of St. Louis, behind his Harvard colleague Andrei Shleifer.

If the Nobel committee looks to award work on finance and regulation, Jean Tirole at theToulouse School of Economics is often mentioned.

Income inequality has been a hot topic this year, and Oxford’s Sir Tony Atkinson andAngus Deaton of Princeton have in the past been seen as frontrunners in this strand of the economics field.

Thomson Reuters also tabs a sociologist—Mark Granovetter of Stanford University—on its list for his study that the role of social relationships and networks play “a larger role in transactions than admitted in idealized narratives of rational choice with perfect information.”

Since 2002, the Thomson Reuters exercise has identified 36 eventual Nobel laureates in economics, chemistry, physics and medicine. This year, one of the awardees for the Nobel in physics—Shuji Nakamura—had been tabbed by the Thomson Reuters analysis in 2002 as a potential winner.

The WSJ’s Jon Hilsenrath mused earlier this month about whether former Fed Chairman Ben Bernanke might win for his work with NYU professors Mark Gertler andSimon Gilchrist, which looked at the damage done to the broader economy by convulsions in credit markets.

Last year, the prize went to a trio of American scholars—Eugene Fama and Lars Peter Hansen of the University of Chicago and Robert Shiller of Yale University—for their complementary but independent work on asset-price analysis.

Fonte: aqui

10 setembro 2014

A década-perdida: 2003-2012

Um documento que precisa ser lido
Antonio Delfim Netto
Valor Econômico, 9/09/2014

A sociedade brasileira está num momento de reflexão. Deve escolher quem dará continuidade à construção da sociedade civilizada inscrita na Constituição de 1988. É tempo, portanto, de avaliações. É preciso reconhecer que essas nunca são "neutras", mesmo as que, honestamente, se esforçam para sê-lo usando métodos "objetivos". Mesmo assim, frequentemente, um descuidado adjetivo emerge aqui ou ali, para provar a impossibilidade de qualquer analista de libertar-se dos valores ínsitos na sua "visão do mundo".

Recentemente, três excelentes economistas condicionados, por formação, à análise mais objetiva e menor viés ideológico quanto possível, apresentaram competente e extenso trabalho que vale a pena ler. Trata-se do texto nº 626, do Departamento de Economia da PUC, "A Década Perdida 2003-2012", de Vinícius Carrasco, João M.P. de Mello e Isabela Duarte. O esforço é sério e em larga medida bem-sucedido. A metodologia usada, conhecida pelo nome de "controle sintético", constrói "contrafactuais" agrupando países escolhidos "neutramente" por algoritmos estatísticos para cada item da comparação desejada.

Na comparação da taxa de crescimento do PIB, por exemplo, o método "escolhe" alguns países que antes de um evento conhecido e dado (eleição de Lula), apresentavam crescimento agregado parecido com o Brasil. Esses constituirão o "grupo de controle sintético", contra o qual se medirá o desempenho da economia brasileira.

Trata-se de corajoso avanço da aplicação da inferência causal a problemas sociais, inspirado nos trabalhos do estatístico P.R. Rosenbaum: corrige o óbvio viés que existe quando se compara um novo governo com o antecessor depois da emergência de uma nova política social e econômica.

O problema fundamental é o seguinte: com a política do governo Lula, os cidadãos brasileiros podem "sentir" se melhoraram ou não, social e economicamente, quando comparada a sua situação com a que tinham no governo FHC. O que eles não sabem e nem podem avaliar é "quanto mais" ela poderia ter melhorado, se Lula tivesse adotado políticas diferentes.

O problema não é simples: consiste em mimetizar um efeito causal num experimento bem imaginado, mas que está longe de satisfazer as condições do controle dos experimentos da física ou das ciências biológicas ou da aleatoriedade nos experimentos sociais. Como reconhecem corretamente os autores, "a vitória da oposição (de Lula em 2002) não foi fortuita: havia uma insatisfação com o governo (FHC). O Brasil partia de uma situação relativamente frágil, fragilidade agravada pela própria perspectiva de troca de governo. O fato do Brasil estar na largada, em uma situação diferente dos outros países atrapalha que sejam interpretadas como causais quaisquer diferenças que porventura apareçam entre o Brasil e outros países depois de 2002".

País cresceu 10% menos do que poderia entre 2003 e 2012
Têm ainda razão os autores quando afirmam que o método do controle sintético é o "estado da arte" na inferência causal com dados não experimentais, ainda que, às vezes, a seleção objetiva do grupo de controle recuse a intuição ordinária.

Apenas para dar ao leitor um aperitivo que lhe aguce o paladar pela leitura do trabalho, vamos explorar a análise da taxa de crescimento econômico, ou seja, o crescimento do PIB per capita. O resultado final está no gráfico abaixo. Nele o PIB per capita é medido em dólares constantes de 2005. O grupo de controle sintético é constituído de Tailândia (com peso 0,206), Turquia (0,577), Ucrânia (0,146) e África do Sul (0,071).

Intuitivamente a escolha não parece ter explicação fácil, mas os resultados parecem robustos quando comparados com as alternativas apresentadas no trabalho, quando varia o universo da escolha do grupo de controle sintético. Vemos que no período 1995 a 2002, o crescimento do PIB per capita do grupo sintético mimetizou bastante bem o crescimento do Brasil. A partir de 2003 (quando muda a política social e econômica), o crescimento médio do grupo de controle sintético é visivelmente maior do que o nosso.

O Brasil seguramente cresceu entre 2003 e 2012, mas o gráfico mostra que há razões para supor que cresceu 10% menos do que provavelmente poderia ter crescido, com relação ao melhor grupo de comparação. Esse, dizem os autores, "é o nosso resultado principal". Nas comparações sociais que envolvem o crescimento civilizado, por outro lado, o Brasil se sai, em geral, tão bem ou melhor do que os grupos de comparação selecionados pelo algoritmo impessoal. Tanto os ufanistas quanto os céticos devem ler o trabalho. Ele é importante e mais crível do que seu título.

(Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento dos governos militares) 

08 setembro 2014

Nada é tão prático como uma boa teoria

Lindau, Alemania. La economía, como ciencia, ha avanzado enormemente en los apenas dos siglos y medio que tiene de historia. No sólo en sí misma sino en la incorporación de otras disciplinas. Además, como veremos más adelante, se puede decir que ha cambiado muchísimo. Sin embargo, al tratar de definir una de sus propiedades esenciales, su utilidad para la sociedad, tres de los más notables economistas actuales (receptores del premio Nobel) recurren, a propósito pero también inadvertidamente, a las mismas ideas e incluso las frases de los fundadores de esta ciencia que quizá no ha tenido el reconocimiento del público que merecería ni el conocimiento que requiere.

En la última sesión del quinto Lindau Nobel Laureate Meeting, la invitada de honor a la clausura, la reina Silvia de Suecia, llamó a los economistas, sobre todo a la joven generación y en particular a los 450 noveles economistas provenientes de más de 80 países que estaban ahí reunidos (dos de ellos de México), a que no descuidaran su responsabilidad social.

También estaban ahí 17 de los 38 receptores vivos del Premio del Sveriges Riksbank en Ciencias Económicas en Memoria de Alfred Nobel y en particular tres de ellos, que además de ser teóricos destacados (que es a lo que se otorga el premio) han tenido amplia experiencia en la práctica y uso de la economía para beneficio de la sociedad, participaron en el panel de discusión con el tema “Qué tan útil es la ciencia económica y cómo es útil la ciencia económica”.

Más que discutir, Peter Diamond (Nobel 2010 por su descripción de los mercados con “fricciones”), Robert Merton (Nobel 1997 por evaluación del riesgo en productos financieros) y Alvin Roth (Nobel 2012 por su teoría de la locación estable y diseño de mercados) elaboraron argumentaciones en conjunto, quizá porque comparten puntos de vista al ser los tres estadounidenses (la nacionalidad que más premiados tiene) y porque dos de ellos trabajan en la misma universidad (Diamond y Merton están en el Massachusetts Institute of Technology y Roth en Stanford).

Y de alguna manera lo que dijeron recuerda la frase de dijo el padre de la economía teórica moderna, Alfred Marshall (1842-1924): “El deseo de dar a la humanidad las riendas de su destino es la principal motivación de la mayoría de los tratados de economía”.

NO HAGAN UN DESASTRE 
CON SUS PENSIONES

Diamond habló sobre las pensiones, sobre cómo “una gran cantidad de estadounidenses (y de gente en todo el mundo) no están ahorrando adecuadamente para su retiro, definido en términos de lo que tiene sentido tener al retirarse comparado con lo que se tiene en el momento. Y la respuesta de los economistas es tratar de aumentar la educación financiera y enfocarse en las instituciones en las que se hace el ahorro para el retiro.

“Además del ahorro, la recomendación es invertir, pero es complicado y está muy bien estudiado que la mayor parte de la gente hace un desastre con eso. Se ha visto con encuestas que la mitad de los estadounidenses no saben la diferencia entre una bomba y un stock, eso debe complicar hacer tu plan de inversiones.

“Así que hay mucho que hacer para los economistas, no porque tengamos muy claro qué sucede en el mercado de valores, pero sí tenemos una serie de principios bastante robustos sobre la diversificación, los costos, sobre cómo interactúan los riesgos y otras cosas que se pueden enseñar a las personas. Sobre las pensiones, hay que convencer a los empleadores sobre cómo pueden ayudarles a tener una fuerza laboral manejable y a generar incentivos para atraer trabajadores a su compañía”.

Parte del problema es que el impacto que el trabajo de los economistas tienen pasa por la percepción y la comprensión de no economistas. Como ejemplo puso un programa de estímulos que fue percibido como un fracaso, pero que bajo la lógica contrafactual de la economía (comparar los resultados que tienes contra los que tendrías si no hubieras aplicado una determinada política o estrategia) se vio que redujo notablemente el índice de desempleo y por lo tanto “fue enorme éxito”, sin embargo, la lógica contrafactual no es intuitiva y la gente no la usa.

LOS POLÍTICOS ¿REQUIEREN ECONOMISTAS MANCOS?

Merton dice que entró en las ciencias económicas porque se dio cuenta de que “si puedes hacer un poco de bien a un gran número de personas por un largo periodo de tiempo es una gran cosa. Y la perspectiva de poder llegar a hacer algo así, sólo la perspectiva, junto con los retos intelectuales me parecieron fascinantes”.

Merton se dedica a la economía financiera. “Las finanzas ya son globales y se hacen cada vez más globales e interconectadas, por lo que tienes que ser más cuidadoso y tienes más responsabilidad. Los efectos son más grandes”, dice.

Para él, el problema principal está en la educación superior, los doctorados en ciencias económicas están más dirigidos a generar investigadores que gente que se dedique al diseño y la implementación de los modelos. “Y si eso se hace mal, el impacto puede ser terrible, por ejemplo con los modelos de transferencia de riesgo” (su mal uso es generalmente considerado la principal causa de la crisis del 2008).

“La innovación financiera en cualquier dimensión aumenta el riesgo -comentó-. No hay de otra. Y el truco y el reto es poder balancear esos dos factores.

“Esto hace que los economistas siempre están ofreciendo opciones, por un lado (on one hand, ‘en una mano’ es la expresión en inglés) tenemos esto y por otro lado (en la otra mano) esto otro... Por eso hubo un presidente estadounidense que deseaba conocer a un economista manco que sólo le dijera lo que tenía que hacer”.

Merton ofrece una aproximación a ese problema. “El papel de los economistas es ofrecer los dos lados, todas las opciones, pero hay que plantear las opciones en términos de intercambio, como todo en la economía. No está claro que la decisión de qué intercambio es más conveniente le corresponda al economista, sino más bien al político o a los particulares involucrados. Aunque hay veces que los economistas se confunden y dicen el intercambio que ellos en lo personal prefieren” como si fuera el científicamente más deseable.

No se puede pensar en la interacción entre los economistas y los políticos sin entender la relación entre los políticos y el público, comentó Diamond.

“Hay una tendencia de escoger primero la política y luego decir ¿podemos defenderla?”, dijo irónico, dejando implícito que la dirección adecuada es la contraria.

“El presidente de la Unión Europea dijo alguna vez, cito: ‘Todos sabemos lo que hay que hacer, pero no sabemos cómo ser reelectos después de haberlo hecho’. Pero también es cierto que muchos no saben qué hacer. En general no se sabe qué hacer ante una crisis”.

LOS MERCADOS SON 
LO QUE LA GENTE HACE

“La gente ha diseñado mercados desde antes de que se desarrollara la agricultura -dijo Alvin Roth-. Es algo que hacemos, son un artefacto humano, como el lenguaje, pero no pensamos en cambiar el lenguaje, ese lo heredamos y lo usamos, y a veces pensamos así de los mercados, pero conforme aprendemos más sobre cómo funcionan, podemos arreglarlos y hacerlos funcionar mejor”.

También, como con los lenguajes, hay mercados en todos lados y en muchos de ellos el tema no es el dinero, así Roth se ha dedicado a mejorar mercados como el de la donación de riñones (que los pacientes los tengan cuando los requieren), en los primeros trabajos de los egresados de las escuelas de medicina o la asistencia a primarias públicas en algunos lugares de EU (éste, de manera que los niños vayan a escuelas que más les convenga).

“Es como un problema de ingeniería -dice Roth-, pero hay una diferencia importante. Los principios físicos con los que funcionan los barcos no han cambiado desde los primeros barcos, ni van a cambiar”, pero la forma como los usamos sí cambia. “Cuando haces un barco, una carretera, o un puente, el comportamiento de la gente cambia. Ahora más gente los usa y se necesitan barcos, carreteras y puentes más grandes”.

Eso sucede con los mercados, cambian con el tiempo. Así que parte del diseño de mercados implica irlos ajustando al cambio, porque cambia la tecnología, cambia la forma como los usan los grandes participantes. Los mercados son una cosa viva”.

“Esta ingeniería no es exitosa porque le expliquemos a la gente despacio y en voz alta lo que debería hacer. Consiste en colaborar con los participantes en los mercados para conocer los detalles y buscar cómo pueden hacerse más eficientes y beneficiar más a los involucrados”.

Para Roth, como para Albert Marshall hace muchos años, se pueden estudiar los mercados con muchos datos, pero se trata más bien de estudiar sus reglas, implícitas y explícitas, y sus detalles.

“La economía se trata de todo lo que hace la gente así que estamos en posibilidad de aprender mucho de diferentes personas sobre sus negocios, que les vamos a ayudar a mejorar”.

Al final del debate, el moderador, Torsten Persson, del Instituto de Estudios Económicos de la Universidad de Estocolmo, citó a otro de los grandes economistas de la historia, John Maynard Keynes, cuando dijo que los economistas deberían ser como los dentistas. Creo que a lo que se refería era a que enfocándose sólo en una pequeña parte del cuerpo pueden aliviar una gran cantidad de dolor.

Fonte: aqui

04 agosto 2014

Sete lições da Copa para a economia

Sete lições da Copa para a economia
Por Mário Mesquita Valor Econômico, 24/07/2014

 A derrota da seleção brasileira em Belo Horizonte vai demorar a ser esquecida, se é que será um dia, em especial por aqueles que lá estavam. Perder da Alemanha não foi uma vergonha, nem totalmente inesperado, mas a forma como isso ocorreu foi tão surpreendente quanto, sim, vergonhosa. Para não desperdiçar a experiência, cabe tentar extrair lições que, se não aliviam a frustração e tristeza, podem pelo menos conduzir a resultados melhores no futuro. No que segue vou tentar extrair sete (se me permitir a alusão ao algarismo) lições dessa derrota e aplicá-las ao tema que me cabe, a economia.

 A primeira lição é que, assim como a tática e treinamento do time no período do torneio não compensam a má qualidade da safra de jogadores, não se deve esperar que a política econômica de curto prazo (fiscal, cambial e monetária) resolva problemas estruturais da economia, como a desaceleração da oferta de mão de obra, a redução do investimento e queda da produtividade total dos fatores de produção. Não devemos esperar demais dos "professores" no futebol, nem de ministros ou soluções milagreiras na economia.

A segunda é que, se não resolve, a política macroeconômica pode atrapalhar. Assim como a escolha de uma tática desastrosa, que deixou o meio de campo livre para a máquina alemã, atrapalhou, erros sequenciais no curto prazo, como vimos frequentemente na história brasileira, em especial no campo fiscal, atrapalharam, pois aumentaram a incerteza macroeconômica, reduziram a previsibilidade e inibiram o investimento.

 A terceira lição é que o que talvez tenha funcionado no passado não necessariamente funciona no presente, seja porque a estrutura da economia é diferente ou porque o ambiente internacional mudou. A tentativa de incentivar setores industriais por meio da surrada combinação de protecionismo com crédito subsidiado, que remete aos anos 70 do século passado, hoje em dia se mostra tão anacrônica quanto algumas das táticas do selecionado nacional.

 A quarta lição é que, assim como no futebol, em economia querer não é poder. Não foi por falta de vontade da equipe que levamos aquela surra, mas por um abismo entre essa vontade e as condições objetivas para alcançar a vitória. Da mesma forma, não foi por falta da chamada vontade política que não atingimos uma das metas-chave desse governo, qual seja a redução permanente das taxas de juros, mas por falta de condições para tal, sejam institucionais (falta de autonomia formal do BC, meta de inflação alta), conjunturais (políticas fiscais e parafiscais expansionistas), ou estruturais (uma complexa estrutura de crédito subsidiado que reduz a eficácia da política monetária), que levaram a Selic de volta ao território de dois dígitos que se queria abandonar.

 A quinta lição é que estudar o exemplo bem sucedido dos outros países ajuda. Pode-se argumentar que a última boa partida da seleção em Copas do Mundo foi contra a Alemanha, na final de 2002, mesmo assim desde então nos recusamos a emular as melhores práticas do futebol. Da mesma forma, quando defrontados com os exemplos dos países da costa oeste, Colômbia, Peru e Chile, que têm conseguido crescer mais com inflação muito menor que a nossa, com políticas econômicas que ajudam o investimento, certas autoridades invariavelmente recorrem a argumentos depreciativos sobre as mesmas, ou ao tradicional "o Brasil é diferente".

 A sexta lição é que o protecionismo gera complacência e inibe, em vez de ajudar, a competitividade. Vitórias sobre adversários fracos ou que eram fortes mas entraram em decadência, que caracterizaram a trajetória da seleção nos últimos anos, dizem muito pouco sobre a capacidade de se competir contra os melhores oponentes. O mesmo ocorre com as indústrias que florescem apenas enquanto estão sob o abrigo de um confortável escudo tarifário.

 A sétima lição é que o primeiro passo para melhorar o desempenho, seja da economia brasileira ou da seleção, é reconhecer que houve problemas de diagnóstico ou implementação. Atribuir o aumento da inflação (mesmo com controles de preços), o aumento das taxas de juros (a primeira vez desde o início do regime de metas que um governo termina com a Selic acima do que recebeu), a desaceleração do crescimento, o aumento do deficit em conta corrente, a piora fiscal e o rebaixamento do crédito soberano exclusivamente à crise internacional ou a uma suposta má vontade do mercado, que por sinal tem índole governista, parece muito similar à atitude de atribuir a derrota de BH a uma pane temporária de uma equipe bem preparada. Mas o saldo da Copa não é só negativo, em que pese o virtual rebaixamento da nossa seleção. Talvez as consequências mais positivas tenham sido a comprovação, para quem tinha dúvida, que mediante incentivos adequados o investimento privado em infraestrutura pode acontecer em ritmo e volume adequados - obviamente, se tivéssemos acertado o modelo mais cedo, teríamos tido menos obras inacabadas. O segundo, mais intangível mas não menos importante, foi a provável melhora da imagem do país, e de suas principais cidades, perante o público e os investidores estrangeiros. Em particular Rio (que ofereceu na final da Copa uma bela propaganda do que podem vir a ser as Olimpíadas) e São Paulo ficaram mais cosmopolitas no últimos trinta dias e poderiam explorar essa dinâmica para alavancar o setor de hospitalidade e lazer, com alto potencial de geração de postos de trabalho.

 Mário Mesquita, economista, é sócio do banco Brasil Plural. Foi diretor de Estudos Especiais e depois diretor de Política Econômica do Banco Central. Escreve quinzenalmente, à

 Leia mais em: http://www.valor.com.br/opiniao/3624438/sete-licoes-da-copa-para-economia#ixzz38RiAFEQf

01 agosto 2014

Caso Santander

Antes de tudo, um alerta: para quem não sabe, fui economista-chefe do Santander entre 2008 e 2011, demitido após discussão pública com o então presidente da Petrobras. Digo isso porque quero hoje tratar do imbróglio que envolveu o banco na semana passada, quando foi publicada análise relacionando o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais ao comportamento da Bolsa, do dólar e de outros ativos.

A análise nada trouxe de controverso. Aqui mesmo na Folha, no dia 19, lia-se na página B3: "Bolsa chega ao maior nível em 16 meses", notando que "as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)". Acrescentou ainda que, "desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...), o mercado de ações nacional, que caía e acentuava queda (...), mudou de tendência".

O governo e o partido podem não concordar com a avaliação do mercado, mas, conforme descrito pelo jornal, trata-se de um fato: para bem ou para mal, a percepção é que uma mudança de orientação de política econômica terá efeitos positivos sobre as empresas brasileiras, em particular as sujeitas a controle acionário governamental.

E é bom notar que o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.

O texto do banco, enviado a correntistas com renda mensal superior a R$ 10 mil, supostamente mais propensos a operar no mercado financeiro, nada mais fez do que compartilhar esses fatos, e por um motivo muito claro. Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.

Em particular, a opinião das áreas de pesquisa deve refletir exatamente esse tipo de preocupação. Analistas não estão certos o tempo todo, mas é claro que suas conclusões não devem ser guiadas pelos interesses da instituição financeira. Não por acaso as regras buscam (nem sempre com sucesso, diga-se) isolar a pesquisa econômica das posições próprias do banco e mesmo de áreas que gerenciam as aplicações de clientes (fundos de investimento), precaução devidamente apelidada de "muralha da China".


Nesse sentido, a decisão de demitir os analistas que expuseram, mais que uma opinião, um fato representa uma violação desse procedimento. A alegação de que a análise conteria "viés político ou partidário" não se sustenta diante da própria diretriz interna que "estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas". Não há, como se viu, a menor dúvida de que as perspectivas acerca da eleição presidencial são mais que relevantes para afetar a vida financeira dos clientes.


A consequência desse comportamento é óbvia (e aqui falo em termos gerais, não do banco em si). Se a autonomia da pesquisa é ameaçada, a credibilidade da análise fica comprometida, a despeito das qualidades do analista. Quem, de agora em diante, pode confiar em relatórios se não sabemos a que tipo de filtros estes se encontram sujeitos?


O maior perdedor é o debate econômico, ainda mais numa conjuntura em que --em face de desafios nada triviais no futuro próximo-- ninguém se aventura a discutir a sério o que precisa ser feito para colocar a economia brasileira de volta nos eixos. Se até o óbvio, amplamente noticiado (ainda bem!) pela imprensa, vira objeto de censura, pouco falta para que fujamos da controvérsia como quem tem um miúra nos calcanhares.

Fonte: Folha de São Paulo - Alexandre Schwartsman

21 julho 2014

O novo capitalismo de Estado

O novo capitalismo de Estado - e o do PT Rolf Kuntz O Estado de S.Paulo, 19 Julho 2014


 Mais uma campeã nutrida com dinheiro público, desta vez R$ 700 milhões de investimento, tenta sair do buraco. Formada em 2010 para ser uma gigante do setor, a LBR Lácteos logo entrou em recuperação judicial. Em mais uma aposta errada, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participou da aventura com 30,3% do capital. A ex-futura campeã estava nos últimos dias ocupada em levantar R$ 740 milhões com a venda de várias unidades de produção. Era uma tentativa de cumprir o plano oficial de recuperação, segundo noticiou o Valor no começo da semana. Enquanto isso, em Brasília, a oposição batalhava para dar sobrevida a investigações sobre negócios muito estranhos da Petrobrás. Para entender bem os dois casos convém juntá-los na mesma narrativa. 

A história é uma só e inclui a escolha de campeões alimentados com dinheiro público, as pressões contra o executivo de uma vitoriosa empresa de mineração, o uso de uma petroleira estatal para projetos políticos e a conversão de bancos públicos em prontos-socorros de grupos escolhidos. O leitor pode rotular esse conjunto como ciência política, teoria administrativa ou pesquisa econômica. Pode também juntar as três qualificações. Todas se aplicam ao livro dos professores Sérgio Lazzarini, do Insper, e Aldo Musacchio, de Harvard. O recém-editado Reinventing State Capitalism (Reinventando o Capitalismo de Estado) é um estudo sobre um novo tipo de Leviatã econômico, sucessor do velho e bem conhecido Estado empresarial encontrado em todos os cantos do mundo na maior parte do século passado. O Estado empreendedor funcionou tanto no mundo socialista quanto no lado capitalista. Controlava e administrava empresas como extensões da burocracia pública. Agonizante nos anos 80, esse modelo foi em grande parte substituído por dois novos tipos de Leviatã econômico. O investidor majoritário mantém o papel de acionista controlador, mas o padrão gerencial pode ser muito mais flexível que o anterior. O investidor minoritário passa o controle a investidores privados, mas conserva influência indireta na administração. Este segundo modelo inclui a atuação de bancos de investimento (como o BNDES) e de fundos, como os de pensão. 

Para começar, os autores propõem uma tipologia de alcance internacional, explorando exemplos de várias partes do mundo. A exposição percorre tanto países tradicionalmente capitalistas quanto economias em transição. O caso chinês aparece com destaque logo no começo, numa referência ao lançamento inicial de ações do Banco Agrícola da China, em 2010, nas Bolsas de Xangai e de Hong Kong. Ainda oficialmente socialista, a China também participou, e continua participando, da renovação do capitalismo de Estado. Os autores evitam - de fato, rejeitam - discutir se as empresas vinculadas total ou parcialmente ao Estado são mais ou menos eficientes que as companhias privadas. Mesmo no tempo do Estado empreendedor as comparações seriam inconclusivas, se se tratasse de desempenho em condições normais. Em crises como a dos anos 1980, no entanto, estatais poderiam ter menos liberdade para demitir. Isso ocorreu, de fato, naquele período. Essa limitação afetou seus resultados e uma das consequências foi a redução de investimentos. Quem acompanhou essa experiência ao vivo e em cores deve lembrar-se de mais um detalhe: com o Tesouro quebrado e sem crédito, estatais brasileiras foram usadas para captação de recursos. Apesar do endividamento, os projetos de expansão e de modernização continuaram parados. Por isso muitas estavam financeiramente arrebentadas e tecnicamente atrasadas quando foram levadas à privatização.

 A passagem do velho modelo para os novos tipos de capitalismo de Estado é examinada com base na experiência de países de todos os continentes. Apesar do cuidado com as nuances, a tipificação deve aplicar-se às economias desenvolvidas - tão diversas quanto as escandinavas e a americana - e também às emergentes e em desenvolvimento. Mas depois do cenário mais amplo o foco se estreita e a discussão se concentra no exemplo brasileiro. A história é recontada a partir das privatizações e da adoção dos novos modelos. A mudança do Leviatã empreendedor para os dois novos tipos - o majoritário e o minoritário - abriu a possibilidade, em todos os países, de alterações importantes na condução das empresas. Como exemplos, maior autonomia, maior transparência e maior profissionalismo gerencial no dia a dia e na fixação de objetivos. No Brasil, boa parte dessas possibilidades ficou inexplorada. 

Sem avaliações, os dois autores descrevem, com distanciamento acadêmico, as interferências na Petrobrás, a escolha de campeões e os estranhos critérios de financiamento e investimento do BNDES, as tentativas de intervenção na Vale (com a campanha contra o presidente Roger Agnelli) e outros fatos bem conhecidos, mas nunca reunidos e articulados numa pesquisa. Os autores talvez pudessem, ou devessem, ter incluído na classificação subtipos de capitalismo de Estado, observáveis tanto no velho modelo do Leviatã empreendedor quanto nos casos dos Leviatãs majoritário e minoritário. O exemplo brasileiro a partir de 2003 seria rotulável como capitalismo de Estado dos cumpanhêro. O subtipo incluiria tanto a gestão subordinada a interesses partidários e eleitorais (com as nomeações segundo cotas) quanto a influência das ambições pessoais do governante (quando candidato, por exemplo, a líder regional). 

Reinventing State Capitalism (Harvard University Press) é uma bela continuação do trabalho iniciado por Sérgio Lazzarini com seu Capitalismo de Laços - Os Donos do Brasil e suas Conexões, lançado em 2011. -

14 julho 2014

Entrevista com Marcos Mendes

Ao longo dos 30 anos de redemocratização do Brasil, o Estado incorporou programas de proteção social aos mais pobres ao mesmo tempo em que ampliou as políticas de proteção e benefícios aos mais ricos e à classe média. Para dar conta de atender a todos – alguns com voto, outros com poder econômico, outros com poder de formar opinião na sociedade -, o gasto público passou de algo próximo a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) para os mais de 35% atuais. Com isso, o Brasil ficou preso na armadilha de país ainda muito desigual e com baixo crescimento, sustenta o economista Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado.
Para voltar a crescer, o Brasil precisa ser menos desigual, e o caminho passa por escolher as reformas que, ao mesmo tempo, tragam mais eficiência e redistribuam renda. Na mira do que precisa ser desmontado, diz Mendes, estão muito mais as transferências de renda via BNDES, do que via Bolsa Família.
A tese de Mendes – que virou o livro “Por que o Brasil cresce pouco? “, editado pela Campus – é de que o conflito distributivo no país ficou tão sério que ninguém sabe quem ganha mais ou quem perde mais, e qual a conta de cada um. Em parte polêmica de sua análise, ele defende que a democracia agravou esse conflito. Mas para quem acha que isso significa uma defesa de governos autoritários, Mendes deixa claro que pensa justamente o contrário. O livro de Mendes, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), começou a ser desenvolvido em 2012, quando esteve no Departamento de Economia da London School of Economics, tem prefácio do ex-diretor de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, e apresentação de Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas Ibre/(FGV). A seguir, os principais trechos da entrevista.
 Valor: Por que o sr. avalia que a combinação de alta desigualdade e democracia afeta o crescimento?
Marcos Mendes: Eu trabalho há 20 anos com política fiscal e há 20 anos eu e todos os economistas fiscais estamos falando que é preciso controlar o crescimento do gasto público, da carga tributária. Você já teve um governo do PSDB que não fez isso, um do PT que não fez isso. Quer dizer, você já teve alternância no poder e as coisas continuam as mesmas. Então não é simplesmente uma opção de política de gastar mais ou gastar menos, de tributar mais, ou tributar menos.
 Valor: Então, o que está em jogo?
Mendes: Tem alguma coisa por trás disso. O que era o Estado brasileiro antes da redemocratização? Só quem tinha acesso ao Estado brasileiro antes da redemocratização eram os grandes grupos econômicos e a classe média alta. Você conseguia atender esse público com uma tributação e um gasto público na faixa de 20% do PIB, e os pobres simplesmente não tinham vez. Os indicadores sociais eram africanos, a assistência à saúde não era integral, a escola pública não era acessível aos pobres. Com a redemocratização, os mais ricos continuaram com canal de acesso ao poder e continuaram obtendo do Estado o que obtinham antes, como crédito subsidiado, proteção comercial às indústrias, perdão às dívidas agrícolas, uma Justiça que favorece quem tem dinheiro para pagar advogado mais caro, regulação fraca, ou seja, uma série de mecanismos favoráveis aos mais ricos. Com a redemocratização, os mais pobres começaram a ter voz, porque o político precisa de voto, que está na mão dos mais pobres. Então, você teve um boom de políticas pró-pobre que se somaram às políticas pró-ricos. E não foi só isso. Você abriu espaço para a pressão dos sindicatos e outras associações, e por meio delas a classe média também teve espaço para demandar mais do Estado. Então, com desigualdade e democracia você tem um Estado que redistribui para os ricos, para os muito pobres e para a classe média, não só através de gasto público, mas também de regulação econômica. E essas duas coisas – gasto público excessivo e regulação que protege a renda de determinados grupos – atuam contra a produtividade e o crescimento econômico.
 Valor: E como se poderia desmontar esse mecanismo do Estado concentrador?
Mendes: A primeira reação das pessoas a esse argumento é: então você está dizendo que tem que acabar coma democracia. Não é isso. Primeiro, porque a democracia tem seu valor intrínseco, de liberdade de opinião, de expressão. Segundo, a não democracia não funciona, vide a crise no governo militar. Quando você não tem transparência, não tem liberdade de imprensa, grupos mais fortes economicamente dominam o Estado e excluem o restante da sociedade. Você precisa, dentro do marco democrático, encontrar políticas que ao mesmo tempo reduzam a desigualdade e estimulem o crescimento econômico. Estamos numa situação de tanta ineficiência que é possível ter políticas que atuem nas duas direções.
 Valor: Quais são essas políticas?
Mendes: Três delas são mais importantes: primeiro, a reforma da Previdência Social, que é altamente concentradora de renda, porque, apesar da grande parcela de benefícios pelo mínimo, tem outra parcela grande, com peso financeiro razoável, que não é de salário mínimo. Também tem uma regra de pensões por morte muito benevolente, e tem a previdência dos servidores públicos. A Previdência tem dois problemas: ela não se sustenta sozinha e ela bloqueia o crescimento, porque absorve poupança da sociedade.
 Valor: Quais as outras políticas?
Mendes: A segunda é educação. Com ela, você aumenta a produtividade do trabalhador, aumenta a produtividade geral da economia e a igualdade de oportunidades. Com uma reforma da educação no Brasil que diminua os custos do Estado com ensino superior e foque no ensino básico, onde a maioria da população pobre está, você tem, no longo prazo, uma melhoria da qualidade da educação e, portanto, maior igualdade de oportunidades. Hoje, o país gasta cinco vezes mais com um aluno na universidade pública que no ciclo fundamental. Por fim, na infraestrutura você tem espaço para fazer gastos que melhorem a qualidade de vida dos mais pobres e melhorem o funcionamento da economia, como transporte público nas grandes cidades e saneamento básico.
 Valor: E qual o caminho para essas reformas?
Mendes: Temos tanta dificuldade para fazer reformas que é preciso estabelecer prioridades. Nenhum presidente eleito pode chegar no governo com uma cesta enorme de reformas, porque o espaço político para fazê-las é muito pequeno. Você tem que escolher reformas, e um critério seria aquelas que ao mesmo tempo tenham um impacto significativo sobre crescimento e redistribuição.
“Com democracia e desigualdade, você tem um Estado que redistribui para os muito pobres, os ricos e para a classe média.”
Valor: Isso passaria por reduzir as políticas que favorecem a concentração pelo lado dos ricos?
Mendes: Exatamente. Não adianta hoje você dizer que vai fazer uma reforma tributária no Brasil. Qualquer reforma vai reduzir a arrecadação, e aí não vai ter dinheiro para pagar todas essas despesas. Primeiro tem que reformar pelo lado do gasto. Tem que reforçar as instituições fiscais, a lei de responsabilidade fiscal, acabar com contabilidade criativa, criar mecanismos de transparência, cumprir metas fiscais. Quando você tem uma restrição fiscal sobra menos espaço para os grupos se organizarem e conseguirem despesas a seu favor. Esse é um ponto. O segundo ponto é colocar muito peso político para bloquear as contrarreformas. No Congresso há uma série de projetos de lei que aumentam as despesas da Previdência e desfazem as reformas feitas no passado, reduzem tempo de contribuição, criam aposentadorias especiais, acabam com o fator previdenciário. Uma série de coisas que, se aprovadas, são uma bomba fiscal.
Valor: Nessas escolhas, algumas políticas que ajudaram na redução da desigualdade nos últimos anos, poderiam ser mantidas?
Mendes: Claro. Você precisa fazer uma escolha das políticas que são mais eficientes. Então, nitidamente, o que os especialistas da área social mostram, é que o Bolsa Família é muito mais eficiente que qualquer outro programa social. Com um custo muito menor, ele tira muito mais gente da pobreza, e reduz muito mais o índice de desigualdade. Agora, você tem políticas que são mais controversas, como a do aumento real do salário mínimo. Ela tem diminuído a desigualdade, mas a um custo fiscal muito alto. Ao mesmo tempo, se você simplesmente acabar com o aumento real do mínimo e não colocar nenhuma outra política social eficaz no lugar, você vai ter problemas com relação ao indicador de desigualdade. Então, é preciso focar nos programas que geram, efetivamente, maior resultado. Mas também não pode pensar só em resultado de curto prazo.
 Valor: Que programas são esses?
Mendes: Você precisa migrar de uma ideia de programa social que coloca dinheiro no bolso das pessoas para programas sociais que dão condições para as pessoas viverem bem e serem produtivas. Qual a ideia? Se a desigualdade está caindo, e cair forte no médio e longo prazo, esse problema pode se resolver por si só. Se a gente continuar reduzindo a desigualdade por mais 15 anos em ritmo razoável, você vai ter uma grande sociedade de classe média no Brasil e essa sociedade vai ser menos dependente de assistência social e vai demandar mais serviços públicos de qualidade. Ela não vai estar interessada em ficar recebendo benefício social, ela vai estar um patamar acima. Esse é o cenário que eu chamo de virtuoso, com a desigualdade caindo fortemente e, no futuro, acaba esse conflito redistributivo. Mas esse não é o único cenário.
 Valor: Qual é o outro cenário?
Mendes: Os dados que os especialistas estão levantando mostram que a desigualdade está estacionando em um patamar ainda muito alto. Então, se a desigualdade parar de cair – e há motivos para ela parar de cair – o Brasil pode ficar nesse modelo de alto conflito distributivo e baixo crescimento por muitos anos.
 Valor: O que estaria levando a esse estacionamento da queda?
Mendes: São vários fatores e aí estou me servindo da literatura da área. Primeiro, as frutas mais fáceis de serem colhidas já foram colhidas. Se você já botou as pessoas na escola, se elas já chegaram ao mercado de trabalho com mais escolaridade, e isso já elevou o salário, daqui pra frente você vai precisar melhorar a qualidade da educação. E melhorar a qualidade da educação é muito mais difícil que colocar as pessoas na escola. Segundo, os programas sociais, como Bolsa Família, já atingiram a universalização, já não tem mais quem incluir, então você só vai melhorar a redução da desigualdade por meio deles se você aumentar o valor desses benefícios. Em terceiro lugar, você passou por um boom de commodities que aumentou a renda do país e havia mais renda para distribuir. Agora, o cenário internacional está mais difícil. Daqui para frente, ou é melhorando a qualidade da educação ou é melhorando a qualidade dos empregos oferecidos. É muito mais difícil do que foi feito até agora.
 Valor: E já existe maturidade no país para desfazer essa política de Estado distribuidor de benefícios?
Mendes: Não acredito. Acho que a polarização política é muito forte, ninguém está disposto a abrir mão dos seus privilégios, dos seus benefícios. E essa tensão tende a aumentar ainda mais com o país crescendo pouco. Quando falo que o Brasil cresce pouco não estou falando desse pibinho dos últimos três anos. O Brasil cresce pouco nos últimos 30 anos. E isso vem de vários fatores que baixam a produtividade da economia e baixam a taxa de investimento. Nossa economia é muito fechada, temos pouca poupança para investir, temos infraestrutura ruim, população com baixo nível de educação, empresas pequenas e pouco produtivas; e todos esses fatores decorrem ou de uma regulação feita para proteger grupos específicos, ou de uma pressão sobre o gasto do Estado que leva a um aumento da carga tributária, que leva a um déficit público que reduz a poupança agregada da economia. E eu não vejo a sociedade brasileira com maturidade para admitir que precisa sentar à mesa, negociar e cada um ceder um pouco.
“Não vejo a sociedade brasileira com maturidade para sentar à mesa, negociar e cada um ceder um pouco.”
 Valor: Algo poderia detonar uma mudança nesse cenário, ou vamos ficar presos no baixo crescimento?
Mendes: O que poderia detonar uma mudança de percepção seria uma crise econômica. Na história recente do Brasil você teve dois grandes momentos de reforma, os dois detonados por crise. Primeiro você teve a crise que levou ao golpe militar, quando a economia estava numa crise forte. E logo depois do golpe, você teve uma reforma que criou o Banco Central, uma reforma tributária que levou ao imposto sobre valor agregado, uma abertura da economia. Mas tão logo a crise se dissipou, os grupos de pressão foram comendo essa reforma. E a outra foi nos anos 90, quando você teve uma crise fiscal forte, de balanço de pagamentos, que forçou o governo a fazer privatização, a controlar o gasto público, a criar o famoso tripé, com câmbio flutuante, meta de inflação e resultado fiscal. Tão logo o período de crise se dissipou, a abertura dos anos 90 foi sendo revertida, a questão fiscal vem se deteriorando, a contrarreforma foi se fazendo e não se consegue reforma nenhuma. Então, a possibilidade de o Brasil fazer um ajuste é uma crise, o que é um perigo, porque a crise traz oportunidade, mas traz também problemas sérios.
 Valor: Esse é o único cenário?
Mendes: Outro cenário é ficarmos muitos anos com baixo crescimento, redistribuindo para rico, para pobre, para classe média, e, à medida que a economia não cresce, o cobertor vai ficando curto e você ruma para uma crise fiscal grave. E no limite até a democracia corre risco. Ou há a possibilidade de, mediante uma coalizão política forte, o país fazer as reformas certas e andar em direção ao círculo virtuoso. Se fizer as reformas que mantenham a queda na desigualdade, permitam o controle do gasto público, e o governo suportar a pressão por alguns anos, você pode puxar o fio da meada. Uma reforma faz a outra reforma ficar mais fácil, você entra no círculo virtuoso, mas eu sou pessimista.

Valor: Se fosse colocar em uma balança, dá para saber onde, de que lado – dos pobres, da classe média ou dos ricos – o Estado gasta mais?
Mendes: Vou fazer uma conta simples. Só o subsídio do BNDES – a diferença entre o que o Tesouro paga para tomar no mercado e o que ele recebe de volta pela taxa subsidiada do BNDES – custa R$ 24 bilhões por ano, que é exatamente o que ele gasta por ano no Bolsa Família. Junta isso com o que a economia perde com o comércio internacional protegido, com agências reguladoras fracas, eu acredito que os benefícios que vão a para a classe média e a classe alta são muito maiores do que o que pinga para os mais pobres.

Valor: Se o Brasil fosse menos desigual, poderíamos crescer mais?
Mendes: Sim. No Brasil hoje, que é muito desigual, o rico quer bolsa-BNDES, o pobre quer Bolsa Família, a classe média quer universidade de graça e mercado de trabalho protegido, isso faz uma pressão sobre o Estado para gastar a favor de todo mundo, e regular a favor de todo mundo, diminuindo não só a poupança, como a eficiência da economia. Quando a sociedade fica mais parecida entre si, primeiro você tem menos necessidade de programas sociais. Segundo, a sociedade vai querer menos programas sociais porque a maior parte dela terá patrimônio, casa, ter poupança, renda fixa, e para gerar mais benefício social, vai ter que tributar isso. Hoje, você tributa só os 10% mais ricos. Se mais gente for classe média, mais gente vai pagar Imposto de Renda e ter restrição a financiar gasto público. De qualquer forma, é preciso transparência para deixar os custos claros para a sociedade, porque aí ela vai ficar mais receptiva às reformas.

Valor: A sociedade tem consciência de quem paga o quê?
Mendes: Não. Nessa situação de alta desigualdade você fica numa confusão distributiva danada. Você pensa, eu estou pagando alguma coisa, mas tenho emprego público, meu avô recebe aposentadoria, o empresário paga, mas recebe algum benefício. Então, ninguém sabe quem está ganhando ou quem está perdendo, quem está pagando mais ou quem está recebendo mais. Todo mundo sabe que depois de uma reforma econômica, vai diminuir o gasto público, vai diminuir a regulação, e que na média o país vai estar melhor. Mas você não sabe se você vai estar acima da média ou abaixo dela. Prefiro ficar como eu estou a dar um salto no escuro, prefiro manter meu benefício para não ficar atrás dos outros. Coordenar esse acordo social, em que todos abrem mão do seu benefício em prol de uma sociedade mais eficiente, menos desigual e com menos custo tributário, é muito difícil.
 Valor: O sr. acha que em algum momento das manifestações estava se caminhando para esse consenso redistributivo?
Mendes: Você pode fazer duas leituras das manifestações do ano passado. Uma delas é: você aumentou a classe média e a gente está chegando no consenso da classe média, que está falando: eu quero educação melhor, quero transporte melhor, quero saúde melhor, quero gasto público melhor, não quero gastar dinheiro com estádio. Poderia ser a maioria da sociedade tendo um pensamento racional em prol do coletivo. Essa é uma leitura positiva, mas tem uma leitura negativa: cada um foi para a rua pedir uma coisa diferente. Como o modelo de distribuir para todo mundo está se extinguindo, vou para a rua defender o meu privilégio. Acaba com o privilégio do outro e mantém o meu. Estou mais propício a enxergar essa leitura.