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15 maio 2017

Itaú indica auditor

O Banco Itaú adquiriu a XP. O Valor Econômico fez uma entrevista com o CEO da XP, Benchimol. Num trechos temos o seguinte dialógo entre o jornal e Benchimol:

Valor: Ouvimos que o controle de risco da XP ficará com o Itaú.
Benchimol: A única governança combinada com o Itaú é que hoje temos sete membros no conselho, quatro nossos e três da GA e da Dynamo. Aprovando Cade e Banco Central, passam a ser quatro nossos, um da GA e da Dynamo e dois do Itaú. E o Itaú tem direito a indicar o auditor interno.

Valor: Uma pessoa que vai comandar essa área?
Benchimol: Uma pessoa que é executiva nossa e que reporta ao comitê de auditoria, do qual o Itaú tem maioria, e ao CEO.

Valor: O que fica sob o auditor?
Benchimol: O risco estrutural. Essa é a garantia de que teremos por trás da credibilidade do Itaú.

Valor: Controla o compliance?
Benchimol: É contabilidade, balanço. Não tem interferência na gestão do negócio. Ele indica onde estão as brechas, como a gente indica isso no comitê de auditoria e como o comitê fecha essas brechas. É positivo.


Interessante que no processo deixaram claro que haveria independência para os atuais gestores. Mas a indicação do auditor por parte do Itaú é um sinal de que haverá um controle sobre o que é feito na XP, até sua incorporação definitiva pelo Itaú.

13 maio 2017

Itaú Unibanco e XP Investimentos



Pouquíssimos frequentadores da sede do Itaú Unibanco, no Jabaquara, sabiam da negociação para a compra da XP Investimentos. [...] O negócio seria confirmado na noite da quinta-feira 11, com a compra, por R$ 6,3 bilhões, de 49,9% das ações.

Desse total, R$ 5,7 bilhões vão para os acionistas e R$ 600 milhões de injeção de capital na XP, para pagar investimentos em tecnologia e a compra da corretora Rico, anunciada no fim de 2016.
[...]

A trajetória da XP tinha tudo para dar errado. Benchimol e seu ex-sócio Marcelo Maisonnave haviam sido dispensados da corretora InvestShop, fundada em 1999 pelo banco Bozano, Simonsen. Sem ânimo para trabalhar para os outros, resolveram empreender. Juntaram as economias, alugaram uma salinha no centro de Porto Alegre, compraram quatro computadores usados e tentaram vender ações pela internet. A empresa nasceu sem nome. “Vamos fundar a empresa XPTO”, brincava Benchimol, que depois resolveu economizar duas letras.

No começo, foi difícil atrair à Bolsa um público acostumado à poupança, ainda mais com os solavancos provocados pela primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2002, e pela crise imobiliária americana, em 2008. O começo não era promissor, mas o ultramaratonista e participante de corridas de aventura Benchimol virou o jogo quando passou a oferecer duas coisas que seus clientes não tinham. A primeira foi educação financeira, inicialmente por meio de cursos e palestras, e depois virtualmente, que existe até hoje. A segunda foi acesso a produtos financeiros melhores que os oferecidos pelos bancos de varejo.

A XP ganhou tração ao convencer os investidores que os Certificados de Depósito Bancário (CDB) de bancos médios, que pagavam mais juros, eram seguros. Se o banco quebrasse, explicavam os agentes autônomos da XP, o investidor estava protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). “Isso fez toda a diferença”, diz Paulo Secches, presidente do instituto Officina Sophia, especializado em pesquisa de mercado no setor financeiro. “Quem investe pela internet entende os riscos e os ganhos de diversificar seus investimentos, e a segurança é um dos principais fatores de decisão.”

Ao atender o desejo de uma parcela crescente dos investidores por produtos financeiros melhores que os dos bancos, a XP estava no local e na hora certas. Os resultados são exuberantes. No fim de abril, a companhia – que preparava uma abertura de capital na bolsa, processo abortado pela venda para o Itaú – acumulava R$ 85 bilhões de ativos sob administração e uma participação de mercado no setor de investimento de pessoa física de 2%. A XP encerrou 2016 com patrimônio líquido de R$ 1,095 bilhão e o lucro líquido passou de R$ 43 milhões, em 2014, para R$ 251 milhões no ano passado, segundo o prospecto protocolado na quarta-feira 10 na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A XP possui 410 mil clientes ativos, atendidos por 2 mil agentes autônomos. A compra vai ocorrer por fases. A participação do Itaú na XP começa com 49,9%, pode subir para 75% em duas etapas até 2022, e chegar em 100% em 2024 ou 2033. Prova do sucesso de Benchimol foram os ganhos de seus sócios. As participações adquiridas pelo Itaú Unibanco pertencem ao fundo de private equity americano General Atlantic (GA) – que estreou no Brasil com o aporte na XP – e à gestora carioca Dynamo. Juntos, eles têm 49,5%. Os 50,5% restantes estão nas mãos de Benchimol e outros sócios da XP. GA e Dynamo compraram 33% da XP por R$ 420 milhões em 2012.

Em 2016, levaram outros 10%, por R$ 450 milhões. Assim, a GA entrou em uma XP que valia R$ 1,2 bilhão e saiu de uma que vale R$ 12 bilhões, alta de 900%. Esse número não veio por acaso. Nos últimos anos, a migração de clientes para investimentos alternativos vinha incomodando os bancos. A contraofensiva passou pela oferta de produtos de outras gestoras, a chamada arquitetura aberta. “A arquitetura aberta é irreversível na indústria de fundos, e as instituições que lutarem contra ela vão perder espaço no mercado”, diz Daniel Maeda, superintendente da CVM.

Assim, para o Itaú, a aquisição visa contornar a perda recente dos investimentos de clientes Personalité, e também cria uma barreira para minar o crescimento de concorrentes da XP. Empresas como Guide Investimentos, Easynvest, Genial e até o BTG Pactual, lançaram suas plataformas virtuais de investimentos. O próprio Itaú incursionou nessa área, com o Itaú 360º, que vende fundos de outros bancos. “Mas levaria anos para conseguirmos ganhar uma participação relevante no mercado, e a compra da XP nos permite economizar esse tempo”, diz um executivo do banco. “Vamos manter a operação independente”, disse Marcelo Kopel, diretor de Relações com Investidores do Itaú, em uma teleconferência com analistas na manhã da sexta-feira 12.

Para ele, as principais vantagens são que a operação consome pouco capital do banco e permite maior flexibilidade. A transação deve movimentar ainda mais esse mercado e fazer outras corretoras tentem trilhar o caminho aberto pela XP. Uma delas é a Guide Investimentos. Aline Sun, sócia da Guide, planeja aproveitar o momento para divulgar sua marca e atrair novos investidores. “A chancela do Itaú Unibanco fortalece as corretoras”, diz ela. “Aumenta a confiança dos investidores e reforça a transformação que estamos promovendo no mercado.” A corretora possui R$ 11 bilhões de ativos sob gestão e 40 mil clientes e Sun, que prepara sua primeira campanha publicitária, resolver acelerar o processo.

Fechada após pouco mais de dois meses de negociação, a compra reforça o sucesso da fórmula desenvolvida pelo Itaú na compra da Porto Seguro, em 2009. Todos no mercado cobiçavam a seguradora, mas o Itaú foi o vencedor ao oferecer o que o controlador Jayme Garfinkel mais queria: autonomia para manter a fórmula de sucesso do negócio. O mesmo valeu para o banco BMG, comprado em 2012 por meio de uma joint-venture negociada em tempo recorde por Setubal e a família mineira Pentagna Guimarães. Agora, o novo desafio para Benchimol será convencer seus clientes que, mesmo sendo controlado por um banco, ele não deixará de lado os princípios que o levaram ao topo do mundo.

Fonte: Aqui