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20 julho 2021

Economia e sua medida imperfeita


Qual a razão dos restaurantes estarem abertos, mas as bibliotecas não? Tim Harford responde que o PIB pode explicar:

Restaurantes, sendo uma empresa comercial na qual o dinheiro muda de mãos, contribuem diretamente para o PIB. As outras atividades não. A reabertura total de todas as mesas de uma biblioteca aumentaria, em princípio, o valor dos serviços educacionais produzidos, mas é improvável que essa mudança se registre em nossas contas nacionais. 

(...) Em todo o Reino Unido, as pessoas estão respondendo a incentivos. Para um restaurante, a reabertura é uma questão de sobrevivência e (o atualmente modestos) os riscos do Covid-19 serão tolerados. Por outro lado, a escola local não depende da renda de clubes de natação amadores. As bibliotecas Bodleian da universidade de Oxford, com mais de quatro séculos de idade, não correm perigo iminente se não puderem aumentar a capacidade amanhã. 

(...) Embora algumas das melhores coisas da vida sejam gratuitas, dificilmente deve ser uma surpresa que as pessoas possam ser cautelosas ao acomodar um esforço voluntário enquanto movem montanhas quando seus próprios empregos estão em risco. (...)

Podemos dizer o mesmo do ativo tangível de uma empresa e o seu intangível? 

Foto: Kyle Ryan

Comentários falsos no processo de regulação

O Promarket discute como o processo de audiência pública foi corrompido por participantes falsos. Os casos discutidos pelo site correspondem a discussão sobre a neutralidade da internet nos Estados Unidos, com mais de 8,5 milhões de comentários fraudulentos. 

Diante disso, a Procuradoria Geral da República de Nova York procedeu uma investigação. A conclusão indicou melhorias no processo e considerou os comentários falsos como um incômodo. A conclusão preocupa, já que o mecanismo de audiência pública deveria ter a participação do público e os comentários são relevantes no processo. Além do desperdício de recursos públicos com os comentários "não técnicos" e "não substantivos".

Veja que o procedimento de minuta é muito usado pelos reguladores contábeis. Recentemente a Fundação IFRS lançou uma proposta de discussão sobre a criação de uma entidade voltada para a regulação ambiental. A proposta recebeu mais de 500 comentários. 

Talvez a questão do comentário não seja binária. Se o caso dos EUA considera que os comentários são um estorvo, o procedimento da audiência pública não faz sentido. Por outro lado, se os comentários são considerados, o resultado final pode se afastar do objetivo desejado pelos reguladores. Talvez na prática os comentários sejam do tipo "allegro, ma non troppo". Ou seja, um grande número de comentários contrário a uma proposta, pode fazer com que a entidade repense sua proposta. Mas um número pouco substancial, a proposta deve seguir adiante. 

Os estudos realizados pela pesquisadora Márcia Ferreira, da UFPE, mostram que os comentários podem ser relevantes, mas depende de quem faz.


Links



Obra cortada de Rembrandt (reconstruída pela IA)

Como escolher alguém para dar uma carta de referência para um doutorado (conhecer você pessoalmente, conhecer seu perfil, alguém disponível para escrever a carta, com experiência e sem conflito de interesses)

Como escolher o avaliador de uma tese

A história do dono da OnlyFans (ou picareta tem em todo lugar)

Chá, café ou soda?

 

Os países com a cor escura tem consumo prevalente de café. Vermelho (?) domina o consumo de soda. E na cor verde, o consumo de chá. 

O mapa original está aqui

Rir é o melhor remédio

 Não fume (ou não nade)

Jesus trabalhou muito: transformando água em vinho
Instalação do projetor perfeita
Cada um por si
Mais situações aqui

19 julho 2021

Contabilidade e previsão

 

No Spotify aqui

Reportem em probabilidade?


Robin Hanson comentando sobre a recente divulgação de documentos sobre UFO nos Estados Unidos pede para que o incidente seja divulgado em termos de probabilidade física. 

Isto faz lembrar a solicitação de alguns para que a contabilidade divulgue suas demonstrações em termos de intervalo. Em lugar de um número para o ativo da empresa, um intervalo onde estaria esse valor. 

Há algumas desvantagens importantes nessa ideia. 

Primeiro, a contabilidade perderia a áurea de precisão que passa quando divulga um balanço, onde os totais dos dois lados são idênticos. Muitas vezes a contabilidade é confundida com a matemática. Essa confusão é muito boa para o profissional e para o campo de estudo.

Segundo, as pessoas não sabem lidar com a probabilidade; inclui no amplo grupo também os contadores. A capacidade de cometer erros seria muito maior. Também haveria uma confusão no momento da análise. 

Terceiro, a probabilidade deveria trazer também a informação sobre qual a distribuição mais adequada para a medida e os parâmetros necessários para construção da curva de probabilidade. Se a distribuição for normal, seria necessário informar a média e o desvio. Mas outras curvas de distribuição demandariam mais informações.

Finalmente, a relação custo-benefício deveria ser testada, sendo provavelmente desfavorável. 

Foto: aqui

Avaliação de alunos durante a pandemia


A pandemia fez com que muitas universidades afrouxassem seus padrões de aprovação e reprovação. Em algumas delas, a reprovação virou palavra feia. Isto terá consequências sérias na sinalização para o mercado de trabalho no futuro (vide Bryan Caplan). E para outros processos seletivos, como a entrada em um programa de pós. 

Em outras instituições, a avaliação tornou-se binária. Eis um bom comentário sobre o assunto:

La lógica habitual de esa política es fomentar una actitud orientada al aprendizaje en los estudiantes con el objetivo de que salgan de sus zonas de confort y se atrevan con asignaturas a priori más difíciles y exigentes. Otra razón para implementar una política del aprobado/suspenso tiene que ver con la salud mental de los estudiantes: estudios recientes han demostrado que los niveles de estrés se reducen, mientras que la satisfacción con los estudios aumenta

O texto possui bastante citação e é favorável ao sistema binário. Para quem interessa, vale a pena uma lida. 

E se o periódico fechar?


O Journal of Business foi um dos cinco principais periódicos na área de finanças do mundo. Editado pela Chicago University, boas pesquisas eram publicadas no Journal of Business. Em 2004, a editora decidiu interromper o título por uma questão administrativa. O fechamento oficial ocorreu em 2006 e nada mais foi publicado. 

Um estudo feito a partir do caso do Journal of Business mostra que os artigos que foram publicados no periódico sofreram com a decisão de encerramento do mesmo. Segundo a pesquisa, os artigos recebem até 20% menos citações, quando se compara com citações de artigos semelhantes publicados em periódicos ainda existente. 

Isto significa dizer que não é somente o "valor" da pesquisa que conta no momento da citação. O prestígio atual do periódico também é importante. Usando três mil artigos, a pesquisa rastreou as citações nos anos seguintes e comparou com pesquisas semelhantes. 

Contabilidade - Nos últimos vinte anos, nós tivemos uma proliferação de periódicos no Brasil na área de contabilidade. Cada programa de pós e cada faculdade queria ter o seu. O custo era reduzido, pois eram digitais. Só precisava de algum editor para tocar a tarefa. Agora chegou o momento em que alguns deles irão descontinuar e outros reduzirão sua relevância. As pesquisas desses periódicos irão sofrer com uma provável descontinuidade.  

Rir é o melhor remédio

 


17 julho 2021

Reforma tributária mundial pode ser difícil


Eis uma análise pessimista da taxação mundial:

Como temos dito há um tempo agora, o esforço do governo Biden para criar um novo imposto corporativo mínimo provavelmente nunca terá êxito, apesar de todos os relatórios otimistas da imprensa ocidental 

Uma das razões, e citando a Bloomberg, é que o número de países que precisam aceitar a proposta é muito grande. A estimativa seria de mais de 100 países.

(O mapa coloca o Brasil como membro do G20. Não invalida a análise)

Pandemia de ciberataques


Um estudo da London Business School, prestes a ser publicado, captura as tendências analisando as observações feitas para investidores por 12 mil empresas listadas em 85 países ao longo de duas décadas. O risco cibernético mais do que quadruplicou desde 2002 e triplicou desde 2013. O padrão de atividade tem se tornado mais global e afetado uma gama maior de setores. Aqueles que passaram a se conectar de casa para trabalhar durante a pandemia, provavelmente, fizeram com que os riscos aumentassem. E o número de empresas afetadas atingiu um recorde. 

Diante desse quadro, é natural se preocupar mais com as assombrosas crises causadas por ataques cibernéticos. Todos os países têm nós físicos (pontos conectados) vulneráveis, como oleodutos, usinas de energia e portos, cuja falha pode paralisar grande parte da atividade econômica. O setor financeiro é um foco crescente de crimes cibernéticos: atualmente, os ladrões de banco preferem laptops a balaclavas. As autoridades reguladoras começaram a se preocupar com a possibilidade de um ataque causar o colapso de um banco. (...) 

Uma nuvem de sigilo e vergonha em torno dos ataques cibernéticos aumenta as dificuldades. As empresas não costumam divulgá-los. Os incentivos habituais para que elas e suas contrapartes mitiguem os riscos não funcionam bem. Muitas empresas negligenciam o básico, como a autenticação em dois fatores. A Colonial Pipeline não tinha tomado nem mesmo precauções simples. E a indústria da segurança cibernética tem muitas pessoas desonestas que enganam os clientes. Muito do que é vendido é pouco melhor do que “amuletos mágicos medievais”, nas palavras de uma autoridade de segurança cibernética. 

Tudo isso significa que os mercados financeiros têm dificuldade em definir o preço do risco cibernético e a penalidade paga por empresas mal protegidas é muito pequena. O estudo da London Business School, por exemplo, conclui que o risco cibernético é contagioso e está começando a ser contabilizado nos preços das ações. Mas os dados são tão difíceis de entender que é improvável que o efeito reflita o risco real.

The Economist via Estado de São Paulo

Foto: Max Hopman

Videntes e a indústria do petróleo


Na sua origem, a indústria de petróleo contava com a "ajuda" de pessoas que comunicavam com os espíritos para localizar as primeiras reservas do produto. 

Mas, de acordo com o historiador do petróleo Paul H. Giddens, eles não confiavam nos cientistas para lhes dizer onde perfurar Os poucos geólogos profissionais que tentaram usar "meios científicos" para localizar poços foram "considerados charlatães" pelos práticos petroleiros. 

Em vez disso, os petroleiros confiavam em pessoas que contavam com "fontes espirituais, sensoriais ou extra-sensoriais" para sua autoridade escreve a estudiosa literária Rochelle Ranieri Zuck 

Nos anos 80, um ex-ministro César Cals confiou em Neila Alkimin, uma famosa vidente, para indicar para Petrobras onde estariam as reservas minerais no Brasil. 

Estas fontes espirituais, nos dias atuais, seriam aceitas como "especialistas" por parte da contabilidade? Parece absurda a questão, mas vejam que o uso de uma vidente em uma empresa de grande porte no Brasil aconteceu há cerca de 50 anos. 

Links


Peter Jackson e o documentário dos Beatles em novembro

RollingStone: Billie Eilish e a Felicidade

AI Chinês bate um piloto em um combate simulado

Estados ainda descumprem a LRF e manipulam suas contas

O que conhecemos sobre influência ainda vale nos dias atuais?

Noruega lidera na venda de carros elétricos e o papel dos custos

Rir é o melhor remédio

 

Quando fechou o Balanço

16 julho 2021

Mais sobre PCAOB


A destituição do chefe responsável pela fiscalização das empresas de auditoria nos Estados Unidos, Duhnke, ainda traz muita polêmica:

O Wall Street Journal na Quinta-feira afirma que a SEC está investigando se Duhnke violou alguma regra relacionada ao tratamento de reclamações internas no PCAOB. Duhnke foi removido abruptamente no início deste mês pelo novo presidente da SEC, Gary Gensler, dizendo que a medida “protegeria melhor os investidores” e permitiria que o regulador de auditoria cumprisse sua missão sob a Lei Sarbanes-Oxley. Duhnke foi criticado por não realizar reuniões do Grupo Consultivo para Investidores e do Grupo Consultivo Permanente do PCAOB. (...) 

Além disto, a ex-diretora de administração 

Sue Lee acusou Duhnke de discriminar sua etnia chinesa e usar termos como "gripe kung" e "gripe chinesa" na frente dela e que ele queria substituir os liberais no PCAOB pelos republicanos. A SEC e o PCAOB não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.

A SEC contratou Pitt [ex-presidente da SEC] em julho de 2019 para avaliar as políticas e práticas de governança corporativa do PCAOB e recomendou as alterações apropriadas. O relatório de Pitt, que custou US $ 125.000 aos contribuintes e ainda não foi divulgado, poderia esclarecer se são necessárias reformas no PCAOB e esclarecer se a SEC tem uma base legítima para revisar a participação do conselho

Mensuração do impacto econômico da Cannabis no Canadá


No The Walrus, o esforço que os canadenses fizeram para reconhecer o impacto da maconha na economia.  

Além de estabelecer protocolos semânticos, o StatCan enfrentou dois obstáculos centrais na determinação de como contar a maconha: quanto os canadenses usam? E quanto custa? Mas os economistas do StatCan queriam calcular esses números não apenas para o último trimestre de 2018, quando a maconha se tornou legal, mas para todos os anos desde 1961, que está tão atrás quanto as contas nacionais, pelo menos em sua forma atual. O raciocínio era que a maconha representa um aumento de cerca de US $ 6 bilhões por ano na atividade econômica. Sem considerar o ajuste, parece que o Canadá teve um 2018 extraordinariamente ótimo, uma ofensa contábil que os economistas do StatCan não puderam aceitar. 

Outros países não tiveram tais escrúpulos. Em 2014, depois que os países da União Europeia adicionaram drogas ilegais e trabalho sexual em suas contas, além de incorporar outras mudanças impostas pelas novas diretrizes internacionais, seus PIBs aumentaram, escreve Diane Coyle. O Reino Unido saltou cerca de 4%, a Espanha por 2,5%. Os da Finlândia e da Suécia provavelmente ganharam ainda mais, diz ela.