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05 julho 2019

O dinheiro acabou

Alguns economistas têm criticado a “obsessão” pelo ajuste fiscal em decorrência dos seus efeitos deletérios sobre a atividade econômica, enquanto outros defendem a expansão do investimento em infraestrutura.

A atual política fiscal, no entanto, não é o resultado de uma escolha. O dinheiro acabou e o governo não pode aumentar o gasto público.

O problema decorre de muitas leis que tornaram compulsórios diversos gastos públicos, há décadas crescendo bem mais do que a renda nacional. Faz tempo, a receita corrente não é suficiente para pagar esses gastos, quanto mais as despesas discricionárias necessárias para manter a máquina pública funcionando.

Nos últimos anos, as contas foram pagas com receitas extraordinárias, como a devolução dos empréstimos ao BNDES ou o lucro do Banco Central. Essas fontes, no entanto, estão secando. A saída seria o governo se endividar para pagar as despesas correntes, mas isso é proibido por artigo da Constituição —a regra de ouro.

Por essa razão, o governo teve que pedir ao Congresso a aprovação de crédito suplementar, uma saída que pode ser até legal, mas fere o espírito da regra de ouro. A alternativa seria interromper pagamentos de programas como o Bolsa Família, o que ninguém tem defendido.

Não há mais nada que o governo possa fazer na seara fiscal sem a revisão das leis em vigor.

Parece inevitável rever a regra de ouro. Essa mudança deveria ser acompanhada de medidas adicionais que interrompam o aumento descontrolado do gasto público, a começar pela reforma da Previdência.

Caso o governo tenha que se endividar para pagar despesas correntes, a contrapartida deveria ser proibir o aumento dos gastos com os servidores, a concessão de subsídios e a criação de despesas obrigatórias.

Sem essas medidas, o crescimento da dívida pública levará ao aumento da inflação e das taxas de juros, prejudicando ainda mais a economia.

A expansão da infraestrutura seria bem-vinda, mas vale lembrar alguns dos projetos do governo dos últimos 15 anos, como as refinarias ineficientes, o trem-bala e Angra 3. Se é para fazer isso, melhor mesmo não ter dinheiro para gastar.

O poder público foi, inclusive, incapaz de propor projetos executivos detalhados, o que resultou em falta de previsibilidade das contrapartidas ambientais e sociais, comprometendo severamente os planos iniciais.

Quem vai investir em infraestrutura depois dos seguidos problemas emBelo Monte e no linhão de energia em Roraima? Houve ainda as desastrosas intervenções nos setores de óleo e gás e de energia.

Não faltam recursos privados para os investimentos; faltam, isso sim, regras previsíveis, o que é fácil de diagnosticar, mas difícil de resolver. Os problemas são mais sutis do que sugerem as frases de efeito.

Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

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Fonte: aqui

Bancos Europeus

Na internet, dois gráficos sobre a cotação das ações. O primeiro é o índice Stoxx 600 Banks:
A partir de 2015 o índice das instituições financeiras começaram a cair. O nível mais baixo ocorreu quando tivemos o Brexit ou a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia. Em 2018, a crise com o Deutsche Bank não deixou o índice ter uma recuperação.

Entretanto, uma análise histórica do preço da ação da instituição alemã mostra que o problema é muito anterior:
Na crise financeira a ações do Deutsche caíram de um teto de 120 Euros para 20 Euros. Atualmente está um pouco abaixo dos 7 euros. Mesmo com a volta do lucro, as investigações sobre fraude fiscal e os problemas de controle interno não ajudam.

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04 julho 2019

Liberdade econômica

A medida provisório 881, que trata da liberdade econômica, está sendo ampliada na tramitação no Congresso Nacional. Há uma pressão para simplificação do e-Social - ou sua extinção. A comissão mista deve-se reunir na terça feira, as 14 horas, mas o repórter do jornal Valor afirma que conheceu o parecer do relator.

Segundo o jornal, outra alteração seria a proibição “que conselhos, sociedades, associações e sindicatos profissionais, estabeleçam, por autorregulação, valores mínimos e máximos que serão cobrados por profissionais liberais. Isto atingiria diretamente o CFC, por exemplo.

Mas uma vez que a MP recebeu mais de 300 emendas, talvez o consenso não seja tão fácil assim.

Custo do off-line

O desenvolvimento da internet trouxe novas oportunidades e receitas. Mas criou um problema: a dependência de estar on-line. Quando o consumidor deixa de ter acesso ao site de uma empresa, isto pode representar perda de receita. E o custo da interrupção aumentou nos últimos anos.

Um cálculo feito usando o ABC, em 2010, 2013 e 2016, mostrou o custo por minuto de um data center com problema. Eis o resultado:

Se em 2010 o custo por minuto do inatividade era de 5 mil dólares, em 2016 este valor aumento quase 60%. Como algumas da paradas foram superiores a um minuto, o custo total é muito expressivo. Uma interrupção média custa algo em torno de 740 mil de dólares ou US$9000 x 1hora e 20 minutos.

Como os mercados on-line são cada vez mais representativos, o risco de uma interrupção e o seu custo são relevantes.

Leia mais aqui

Desonestidade

Como as pessoas reagem quando acham uma carteira de alguém? A reação varia conforme o local e também o conteúdo da carteira explica o comportamento das pessoas. Um estudo, publicado na Science tratou deste assunto. Alain Cohn, Michael André Marechal, David Tannenbaum e Christian Lukas usaram assistentes que “acharam” uma carteira em 355 cidades de 40 países do mundo. E verificaram a honestidade das pessoas. No total foram 17 mil carteiras, a um custo de meio milhão de dólares.

Em cada carteira tinham listas de compras, em língua local, e cartões com o nome da pessoa que perdeu (incluindo o e-mail). Em algumas carteiras, nenhum dinheiro. Em outras, cerca de 13 dólares em moeda local. Os assistentes entregaram as carteiras para funcionários de bancos, hotéis, agências dos correios, museus e delegacias de polícia. Afirmavam que tinham encontrado a carteira e estavam com pressa para entrar em contato com o dono. E deram a responsabilidade para que recebeu a carteira. Nas carteiras sem dinheiro, o índice de devolução foi de 40%. Nas carteiras com dinheiro, a devolução foi de 51%.

Este índice variou conforme o país: na Dinamarca o percentual de devolução foi de 82%, mas nos Estados Unidos foi de 57%.



Além disto, os pesquisadores também aumentaram a quantidade de dinheiro em três países (EUA, RU e Polônia) e uma grande surpresa: o percentual de devolução aumentou, em lugar de diminuir. Pela teoria formulada por Gary Becker deveria ser o oposto, já que o comportamento desonesto é uma especie de análise do custo benefício.

Outro fato interessante: algumas carteiras não tinham dinheiro, mas tinha um chave. A presença da chave também aumentou o índice de devolução.

O gráfico mostra em amarelo o percentual de devolução com a carteira sem dinheiro; de vermelho, com dinheiro. Países escandinavos são honestos; China foi o mais desonesto. O Brasil ficou em 26o lugar; nada mal, para quem tem a fama de ser um país dos desonestos.

Um estudo realizado no Brasil mostrou também que os grupos sociais podem afetar esta honestidade das pessoas. Trata-se da tese de doutorado de Mariana Bonfim.

Fonte: Civic honesty around the globe. Science 20 JUN 2019. DOI: 10.1126/science.aau8712

Rir é o melhor remédio


03 julho 2019

Medida não GAAP

A tabela a seguir mostra um crescimento substancial na utilização de métricas não-GAAP nos Estados Unidos desde a crise financeira. Mais de dois terços das empresas estão usando para remunerar seus executivos.


O problema é que a medida não-GAAP é agressiva e pode significar governança ruim.  Um exemplo é uma empresa que, em lugar de usar o Fluxo de Caixa das Operações, utiliza Ebitda ou Ebitda Ajustado. Em situações práticas é muito mais difícil obter um fluxo positivo que um Ebitda.

Alguns defendem que o problema não é a medida, mas a transparência. Uma corrente mais forte defende a proibição desta medidas para fins de remuneração.

Novo contador da SEC

Em maio, Sagar Teotia assumiu provisoriamente o cargo de Contador da SEC, com a saída Wesley Bricker. Hoje a SEC divulgou um comunicado informando que Teotia foi nomeado Contador Chefe, comandando 45 pessoas.

Na SEC desde 2017, originário da Deloitte, sendo bacharel em contabilidade por Illionois (Urbana-Champaign).

The Commission’s Office of the Chief Accountant is responsible for establishing and enforcing accounting and auditing policy as well as improving the professional performance of public company auditors. The office works to enhance the transparency and relevancy of financial reporting and ensure that financial statements are presented fairly and have credibility for the benefit of all investors.

Mudança na frequência das demonstrações contábeis - Parte 2

Postagem de Pedro Correa mostra uma discussão sobre a frequência das demonstrações contábeis.  A discussão começou com um tweet do presidente Trump. Mas a crítica é bem mais antiga: Kaplan já comentava sobre este fato em Relevance Lost (década de 80).

Dillow faz um apanhado de pesquisas que mostram que talvez isto não seja um problema. A simples eliminação das ITRs (demonstrações trimestrais) talvez não seja a solução. O surgimento das mídias sociais e sua utilização por parte das empresas foi estudado, no Brasil, na tese de Souza. Provavelmente as informações contábeis estão sendo cada vez mais relevantes para fins confirmatórios do que preditivos. O grande problema é que os reguladores acreditam o oposto e devem insistir nas demonstrações trimestrais.

Uma solução intermediária seria ITRs simplificadas, sem informações com baixa utilidade.

Crescimento Econômico no tempo

Nos dias de hoje, uma pessoa média no mundo é 4,4 vezes mais rica que um indivíduo que vivia em 1950. Um gráfico deste site mostra esta comparação entre a vida em 1950 e a vida nos dias de hoje. É nítido que esta melhoria na renda das pessoas não ocorreu igualmente no mundo. Um argentino médio hoje é 2,2 mais rico do que em 1950, estando abaixo da evolução mundial. Já um brasileiro seria 8,7 vezes. Alguns poucos países pioraram: Zimbabwe, Afeganistão, Haiti, República Democrática do Congo, Djibouti, Burundi e Niger. Não é coincidência serem países com graves conflitos internos.

Entre aqueles que tiveram melhorias substanciais Taiwan (30x), Cingapura (27,5x), Coréia do Sul (32,2x). A China evoluiu bastante (16,3x), diminuindo a distância de alguns países desenvolvidos (Estados Unidos = 3,5x). Esta evolução já está ajustada pela inflação; ou seja, isto é um ganho real. Mas existe uma conclusão importante que não pode ser esquecida:

Os dados visualizados nesses dois gráficos mostram que o mundo não é a economia de soma zero que foi em nosso passado . Não é mais o caso que o ganho de uma pessoa ou de um país seja automaticamente a perda de outra pessoa. O crescimento econômico transformou o mundo em uma economia de soma positiva, onde mais pessoas podem ter acesso a mais bens e serviços ao mesmo tempo.