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10 setembro 2014

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Curso de Contabilidade Básica: Calculando o total da Propina

A grande notícia dos últimos dias diz respeito a Petrobrás. O seu ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, afirmou que a propina na empresa correspondia a 3% dos contratos com os fornecedores. O que corresponde a este valor?

O jornal Valor Econômico cravou um valor: 3,37 bilhões de reais (Propinas podem ter chegado a R$3,4 bi, Fernando Torres, André Vieira, Juliano Basile e Maira Magro, 8 de setembro de 2014). O cálculo do jornal foi, aparentemente, usando os números da figura abaixo:

A soma destes valores corresponde a 115 bilhões e 3% do valor é 3,4 bilhões, obtido pelo jornal. O jornal parou em 2012, quando Paulo Costa deixou de ser diretor de abastecimento. Como o jornal chegou a estes números? A figura fala em investimentos e desembolsos, que são coisas distintas. Além disto, Costa parece ter afirmado que a comissão era cobrada dos fornecedores. O que significa “pagamento de fornecedores”, que é diferente de investimentos e desembolsos. Outro aspecto que torna difícil o cálculo é o fato da Petrobrás possui participação no capital de diversas empresas, algumas delas ligadas a área de abastecimento. A comissão referia-se também a estas outras empresas?

Vamos tentar chegar ao valor de 27,4 bilhões de “investimento” ou “desembolso” que o jornal apresenta na figura. Vamos tentar.

O primeiro fato de dificulta a vida do usuário é que o fluxo de caixa da empresa é indireto. Isto impede de saber quanto foi pago aos fornecedores nas atividades operacionais. Mas temos condições de saber quanto foi investido:

O valor do investimento em abastecimento foi de 26,3 bilhões em 2011 e 28,1 bilhões em 2010. São valores próximos aos apresentados pelo jornal. Mas lembrando de que isto não contempla os pagamentos aos fornecedores, nas atividades operacionais.

No relatório de Administração temos a seguinte informação sobre os investimentos:

Ou seja, a área de abastecimento investiu 27,1 bilhões, um número próximo ao apresentado na DFC.

De qualquer forma, com base nos números apresentados ao usuário externo, é impossível saber o valor efetivo dos 3% por não sabemos com precisão sobre qual valor incide a “comissão”: pagamento a fornecedores ou investimentos ou ambos; se contempla somente a controladora ou a controlada; se inclui as operações no exterior; entre outros aspectos. Além disto, como é praxe nos textos jornalísticos, existe uma grande confusão conceitual.

Apesar das demonstrações contábeis serem fontes substanciais de informação, não fornecem todas as respostas que necessitamos. Infelizmente.

Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)

Resenha: Contabilidade: com ênfase em micro, pequenas e médias empresas

Existem alguns temas são espinhosos para um autor. Geralmente nós deixamos esta tarefa para os corajosos que estão dispostos a enfrentar o desafio. Escrever sobre contabilidade tributária (como, diante do grande número de leis?), sobre auditoria (é preciso ir a campo antes para conhecer o assunto) ou análise de balanço são alguns destes temas. Diante da nossa mania de olhar grandes empresas, tratar da contabilidade das pequenas é desafiador. Principalmente em razão do nosso viés de estudar as empresas mais complexas.

O livro de Fernando Santos e Windsor Veiga propõe este desafio. Com cerca de 200 páginas e 12 capítulos, a obra é um interessante complemento para os professores que gostariam de usar exemplos de pequenas empresas ou para o profissional do escritório de contabilidade. O capítulo mais interessante é o décimo, sobre a abertura de empresa. Nele os autores apresentam as nove etapas para regularizar o empreendimento.

A obra deixa duas decepções que espero que sejam corrigidas numa futura edição. A primeira é a ausência de um capítulo sobre o “fechamento” de empresa. Recentemente tive uma experiência de tentar fechar uma empresa e minha conclusão é que isto é muito mais difícil que o processo de abertura. Em razão do grande número de fracassos existentes para este tipo de empresa, o capítulo realmente seria um acréscimo importante que geralmente não se encontra em obras do assunto.

O segundo aspecto é o fato da obra ainda ter um viés, em certos trechos, para a grande empresa. A obra discute mais do que imagino ser o necessário sobre investimentos (CPC18) (página 40 e seguintes), DMPL (p. 80 a 84) e notas explicativas (um capítulo). Outro exemplo onde existe este viés é o balanço patrimonial apresentado na página 53, tipicamente de uma empresa de grande porte.

Vale a Pena? Apesar dos problemas relatados acima, é uma obra útil para quem deseja melhorar seus conhecimentos sobre a contabilidade de pequena empresa.

SANTOS, Fernando de Almeida; VEIGA, Windsor Espenser. Contabilidade: com ênfase em micro, pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2014.

Evidenciação: A obra foi encaminhada pelos editores, sem nenhuma contrapartida solicitada.

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A década-perdida: 2003-2012

Um documento que precisa ser lido
Antonio Delfim Netto
Valor Econômico, 9/09/2014

A sociedade brasileira está num momento de reflexão. Deve escolher quem dará continuidade à construção da sociedade civilizada inscrita na Constituição de 1988. É tempo, portanto, de avaliações. É preciso reconhecer que essas nunca são "neutras", mesmo as que, honestamente, se esforçam para sê-lo usando métodos "objetivos". Mesmo assim, frequentemente, um descuidado adjetivo emerge aqui ou ali, para provar a impossibilidade de qualquer analista de libertar-se dos valores ínsitos na sua "visão do mundo".

Recentemente, três excelentes economistas condicionados, por formação, à análise mais objetiva e menor viés ideológico quanto possível, apresentaram competente e extenso trabalho que vale a pena ler. Trata-se do texto nº 626, do Departamento de Economia da PUC, "A Década Perdida 2003-2012", de Vinícius Carrasco, João M.P. de Mello e Isabela Duarte. O esforço é sério e em larga medida bem-sucedido. A metodologia usada, conhecida pelo nome de "controle sintético", constrói "contrafactuais" agrupando países escolhidos "neutramente" por algoritmos estatísticos para cada item da comparação desejada.

Na comparação da taxa de crescimento do PIB, por exemplo, o método "escolhe" alguns países que antes de um evento conhecido e dado (eleição de Lula), apresentavam crescimento agregado parecido com o Brasil. Esses constituirão o "grupo de controle sintético", contra o qual se medirá o desempenho da economia brasileira.

Trata-se de corajoso avanço da aplicação da inferência causal a problemas sociais, inspirado nos trabalhos do estatístico P.R. Rosenbaum: corrige o óbvio viés que existe quando se compara um novo governo com o antecessor depois da emergência de uma nova política social e econômica.

O problema fundamental é o seguinte: com a política do governo Lula, os cidadãos brasileiros podem "sentir" se melhoraram ou não, social e economicamente, quando comparada a sua situação com a que tinham no governo FHC. O que eles não sabem e nem podem avaliar é "quanto mais" ela poderia ter melhorado, se Lula tivesse adotado políticas diferentes.

O problema não é simples: consiste em mimetizar um efeito causal num experimento bem imaginado, mas que está longe de satisfazer as condições do controle dos experimentos da física ou das ciências biológicas ou da aleatoriedade nos experimentos sociais. Como reconhecem corretamente os autores, "a vitória da oposição (de Lula em 2002) não foi fortuita: havia uma insatisfação com o governo (FHC). O Brasil partia de uma situação relativamente frágil, fragilidade agravada pela própria perspectiva de troca de governo. O fato do Brasil estar na largada, em uma situação diferente dos outros países atrapalha que sejam interpretadas como causais quaisquer diferenças que porventura apareçam entre o Brasil e outros países depois de 2002".

País cresceu 10% menos do que poderia entre 2003 e 2012
Têm ainda razão os autores quando afirmam que o método do controle sintético é o "estado da arte" na inferência causal com dados não experimentais, ainda que, às vezes, a seleção objetiva do grupo de controle recuse a intuição ordinária.

Apenas para dar ao leitor um aperitivo que lhe aguce o paladar pela leitura do trabalho, vamos explorar a análise da taxa de crescimento econômico, ou seja, o crescimento do PIB per capita. O resultado final está no gráfico abaixo. Nele o PIB per capita é medido em dólares constantes de 2005. O grupo de controle sintético é constituído de Tailândia (com peso 0,206), Turquia (0,577), Ucrânia (0,146) e África do Sul (0,071).

Intuitivamente a escolha não parece ter explicação fácil, mas os resultados parecem robustos quando comparados com as alternativas apresentadas no trabalho, quando varia o universo da escolha do grupo de controle sintético. Vemos que no período 1995 a 2002, o crescimento do PIB per capita do grupo sintético mimetizou bastante bem o crescimento do Brasil. A partir de 2003 (quando muda a política social e econômica), o crescimento médio do grupo de controle sintético é visivelmente maior do que o nosso.

O Brasil seguramente cresceu entre 2003 e 2012, mas o gráfico mostra que há razões para supor que cresceu 10% menos do que provavelmente poderia ter crescido, com relação ao melhor grupo de comparação. Esse, dizem os autores, "é o nosso resultado principal". Nas comparações sociais que envolvem o crescimento civilizado, por outro lado, o Brasil se sai, em geral, tão bem ou melhor do que os grupos de comparação selecionados pelo algoritmo impessoal. Tanto os ufanistas quanto os céticos devem ler o trabalho. Ele é importante e mais crível do que seu título.

(Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento dos governos militares) 

Alibaba e sua contabilidade

Nos próximos dias a empresa chinesa Alibaba estará apresentando sua oferta pública inicial de ações. A expectativa é que as ações colocadas em negociação possam trazem
US$24,3 bilhões, o que seria um recorde mundial em valores captados. Além disto, com o preço médio proposto, a Alibaba teria um valor de mercado do patrimônio líquido um pouco abaixo da Amazon. (Informações do jornal Valor Econômico, de 8 de setembro de 2014 , Alibaba inicia hoje apresentação da oferta de ações para investidores.)

A empresa chinesa cresceu nos últimos anos através de aquisições agressivas. E isto trouxe sérios problemas para a contabilidade da empresa. Recentemente a empresa divulgou um comunicado sobre a ChinaVision, umas das empresas adquiridas pela Alibaba. A ChinaVision foi um negócio de 804 milhões de dólares e possui o direito de transmissão da Premier League, o campeonato de futebol inglês, e acordo com diretores famosos. Também recentemente, a empresa informou da dificuldade de integrar as operações das empresas que foram adquiridas.

Um dos problemas tem sido a avaliação dos ativos da ChinaVision, que estavam superdimensionados na aquisição. Ou seja, a empresa foi enganada durante o processo de compra da ChinaVision.

Geralmente neste processo de aquisição, a empresa é assessorada por uma auditoria. A Alibaba possui como auditor uma filial da PwC. Mas os problemas contábeis parecem não assustar os investidores.

Tênis

Nos últimos anos, acompanhar o tênis profissional masculino tem sido uma chatice só. Não que as partidas não sejam sensacionais. Mas a disputa está restrita a três ou quatro profissionais somente, conforme estudo feito por Carl Bialik e Nate Silver (aqui e aqui). Os quatro maiores tenistas conquistaram, nos últimos anos, cerca de 75% ou mais dos pontos em disputa nos maiores torneios. O gráfico abaixo ilustra este ponto.



Cada torneio conta pontos no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais, conhecida como ATP. Quanto mais importante o torneio, maior o número de pontos. Se um tenista vence um Roland Garros leva dois mil pontos. O gráfico mostra que dos pontos em disputa, os Big Four levam mais da metade deles desde 2006.

O gráfico a seguir fez uma adaptação considerando a idade de cada tenista e o número de pontos conquistados.

Novamente os quatro maiores tenistas levam mais da metade dos pontos desde que atingiram os vinte anos. No gráfico existe a linha vermelha, com os tenistas de “segunda” linha dos tenistas profissionais. A diferença é enorme.

A seguir as comparações entre o desempenho dos maiores tenistas atuais e os maiores jogadores do ranking desde 1990, o que inclui Kuerten. O desempenho em torneio de Federer, Nadal e Djokovic é muito melhor que os melhores tenistas da década de noventa. E o desempenho de Murray é próximo dos grandes tenistas do passado.


Conta:

Da CFO:

The Magnificent Seven: The U.S., China, Egypt, Bolivia, Guinea-Bissau, Macao and Niger."In 106 countries, all or most domestic public companies are required to report under IFRS, according to a review of 130 countries by the parent of the London-based International Accounting Standards Board. Another 15 countries permit or require the use of IFRS at least for financial-services companies.

São 130 países, sendo 106 que exigem as IFRS e 15 que exigem pelo menos para instituições financeiras. Ou 130 - 106 - 15 = 9. Magnificent Seven?

Listas: Museus por visitantes

1. Louvre, Paris = 9,3 milhões (foto)
2. British Museum, Londres = 6,7 milhões
3. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque = 6,2 milhões
4. National Gallery, Londres = 6 milhões
5. Vaticano Museums, Vaticano = 5,5 milhões
6. Tate Modern, Londres = 4,9 milhões
7. National Palace, Taipei = 4,5 milhões
8. National Gallery of Art, Washington = 4,1 milhões
9. Centre Pompidou, Paris = 3,7 milhões
10. Musée d´Orsay, Paris = 3,5 milhões

As exposições mais visitadas:

1. Dinastia Zhou - Taipei = 10 946 por dia
2. Lingman - Taipei = 10.711 visitantes por dia
3. Impressionistas: Paris e Modernidade - Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro = 8.099
4. Dali - Paris = 7,364
5. Dalí - Madri = 6.615
6. Cai Guo-Qiang - Centro Cultural BB RJ = 6.409

Fonte: Aqu

09 setembro 2014

Lançamento da Apple

A tabela mostra o que ocorre com as ações da empresa quando anuncia um novo produto.

Rir é o melhor remédio

Adaptado daqui

Curso de Contabilidade Básica: Câmbio

O Brasil é uma das economias do mundo com menor contato com o exterior. O volume das exportações e importações corresponde somente uma pequena parcela da nossa economia. Mas existem algumas empresas onde as transações com o exterior é bastante expressiva. Neste tipo de empresa, o comportamento da taxa de câmbio é um elemento crucial. Como a variação do câmbio é, até certo ponto, imprevisível, o usuário das demonstrações contábeis deve ter o cuidado de levar isto em consideração. Quando ocorrer uma grande movimentação no câmbio, estas empresas poderão ter grandes perdas ou ganhos. É bem verdade que algumas empresas tomam cuidado para evitar este tipo de risco, fazendo operações financeiras de proteção.

Vamos olhar o caso da Fibria, a maior empresa de produção de celulose do mundo. A empresa possui ativos em moeda estrangeira, principalmente disponíveis e contas a receber dos clientes. No passivo, os valores em moeda estrangeira está centrado principalmente em empréstimos e financiamentos. Na demonstração do segundo trimestre de 2014 a empresa possuía 1,3 bilhão de ativo e 6,3 bilhões em passivos. Se o real sofrer uma desvalorização em relação a outras moedas, a empresa terá aumento com seus ativos e um aumento também nos seus passivos, em reais. Em outras palavras, a desvalorização será boa para o ativo e ruim para o passivo. Se o valor do passivo for maior que o ativo em moeda estrangeira, o efeito líquido será ruim.


No caso da Fibria, se ocorrer uma desvalorização do real, a empresa terá um efeito ruim, já que a “exposição passiva” é negativa, ou seja, o passivo é maior que o ativo. Mas aqui um cuidado: a exposição do ativo poderá ser diferente daquela do passivo, se as moedas usadas forem diferentes.


Brasileiro: 'analfabeto' científico?


Brasileiro: 'analfabeto' científico?

Novo índice mostra que a ciência influencia a forma de ver o mundo e de lidar com situações complexas de apenas 5% dos avaliados, enquanto mais da metade sequer consegue aplicar o que aprendeu na escola em situações cotidianas.

Por: Marcelo Garcia

Ciência Hoje online, em 18/08/2014

Desempenho brasileiro no primeiro Índice de Letramento Científico mostra que ciência não está integrada ao cotidiano do brasileiro. (foto: Flickr/ Fortimbras - CC BY-NC-ND 2.0)

Como você avalia a sua capacidade de utilizar o conhecimento científico para resolver questões do dia a dia? E para fazer abstrações, criar hipóteses, planejar e inovar? Em um mundo em que a ciência e a tecnologia estão cada vez mais presentes, em que a sociedade é chamada a se posicionar sobre grandes questões como pesquisas com células-tronco e cultivo de transgênicos e no qual inovar é a palavra de ordem das empresas, essas questões são fundamentais. Mas, segundo a primeira edição do Índice de Letramento Científico (ILC), no Brasil é muito baixa a quantidade de pessoas ‘letradas’ em ciências, capazes de empregar os conhecimentos escolares no seu cotidiano e no planejamento do futuro.
Bem diferente das avaliações de ensino existentes no Brasil, a proposta do ILC é medir quanto do conhecimento escolar é de fato aplicado na prática. Para seus criadores, o resultado negativo ajuda a entender alguns gargalos sociopolíticos e econômicos do país, como a baixa capacidade de inovação. O índice, cuja versão completa foi divulgada recentemente, é fruto de uma parceria entre o Instituto Abramundo, o Instituto Paulo Montenegro, responsável pela ação social do Grupo Ibope, e a ONG Ação Educativa.

O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posterioresPara sua construção, foram aplicados questionários a 2002 pessoas entre 15 e 40 anos, com ao menos quatro anos do ensino fundamental completos, em oito capitais estaduais e no Distrito Federal. O questionário era composto por mais de 60 perguntas, que avaliaram a capacidade de identificar simples informações explícitas em texto, tabela ou gráfico (como consumo de energia ou dosagem em bula de remédio), de comparar informações simples para tomar decisões; de empregar informações não explícitas para resolver problemas práticos e processos do cotidiano e, ainda, de propor e analisar hipóteses sobre fenômenos complexos, mesmo não diretamente ligados ao seu dia a dia. A partir das respostas, os participantes foram classificados por nível de letramento: ausente, elementar, básico e proficiente.
O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posteriores. A metodologia aplicada foi adaptada do Índice de Analfabetismo Funcional (IAF), também produzido pelo Instituto Paulo Montenegro e que avalia os conhecimentos de português e matemática na prática. A ideia é que a avaliação seja repetida a cada dois anos.

Resultados preocupantesDe forma geral, 79% dos participantes ficaram na zona intermediária (48% no nível 2 e 31% no nível 3), enquanto 16% apresentaram letramento ausente (nível 1) e apenas 5% do total se mostraram de fato proficientes em ciência. O índice torna clara a dificuldade de grande parte dos entrevistados em realizar tarefas simples: 43% deles declararam ter problemas para compreender gráficos e tabelas, enquanto 48% acham difícil interpretar rótulos de alimentos. Entre aqueles com ILC elementar (mais comum), 58% tem problemas, por exemplo, para consultar dados sobre saúde e medicamentos na internet.

Resultado ruim mesmo entre gestores públicos mostra que pensamento científico pouco influencia suas decisões, o que pode ter consequências negativas em todos os campos, da própria educação à saúde, ao saneamento e ao planejamento urbano, por exemplo. (foto: Flickr/ Samchio – CC BY-NC-SA 2.0)Os resultados também foram relacionados ao nível de formação e à área de atuação dos entrevistados – e ficam ainda mais preocupantes, já que os indivíduos com ensino superior considerados proficientes em ciência foram apenas 11%, enquanto 48% estão no nível 3, 37% no nível 2 e quase inacreditáveis 4% apresentaram letramento ausente.

Em relação ao mercado de trabalho, as áreas de administração pública, educação e saúde alcançaram o melhor resultado, apesar de pouco animador: 43% das pessoas têm letramento básico e 9%, proficiente. Na indústria e na prestação de serviços, 42% e 31% dos trabalhadores ficaram no nível 3, enquanto apenas 5% e 6% eram proficientes, respectivamente.

A diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lucia Lima, diz ter ficado surpresa com a baixa proficiência dos indivíduos mais escolarizados e dos tomadores de decisões, empreendedores e empresários, envolvidos diretamente no investimento e planejamento de atividades que vão desde o descarte do lixo à gestão da saúde e da educação. “Os dados mostram que o aprendizado fica restrito à escola e é preocupante que a ciência influencie tão pouco a visão de mundo dessas pessoas, sua atividade cotidiana e as decisões que tomam”, avalia.

Consequências adversas

Para os responsáveis pelo ILC, os impactos do cenário apontado pelo índice vão desde questões cotidianas a problemas que abrangem a vida econômica e social do país. “No dia a dia, isso se manifesta quando a cabeleireira usa um produto que ela deveria saber que faz mal ou quando os pais medicam os filhos por conta própria sem pensar nos efeitos colaterais ou nas interações entre medicamentos”, exemplifica Lima.

Garcia: “Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo”“Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo”, afirma Ricardo Uzal Garcia, presidente do Instituto Abramundo. “Além disso, o brasileiro não parece, em geral, preparado para opinar sobre grandes temas da ciência nem para tomar decisões cada vez mais necessárias sobre temas como transgênicos e células-tronco.”

Lima aponta ainda a formação de um gargalo de mão de obra no país e faz um alerta para o futuro. “Os empregos no país têm aumentado, mas apenas as vagas pouco especializadas; cargos melhores permanecem ociosos também pela inexistência de um pensamento científico aplicado, necessário para tais posições”, analisa. “Algo precisa ser feito para mudar essa situação, pois se nossos gestores tomam decisões que pouco consideram o conhecimento científico, a ciência nunca será valorizada como deve e isso continuará a impactar a inovação, a saúde, o meio ambiente e todas as áreas.”

Ensino de ciênciasJunto com o índice, também foi feita uma pesquisa de percepção pública da ciência, cujo resultado é significativo: apesar do fraco desempenho no ILC, os participantes reconhecem a importância da ciência para a compreensão de mundo (42% concordam plenamente e 30% concordam em parte) e para obter boas oportunidades de trabalho (41% e 27%, respectivamente). “As pessoas têm interesse e acham a ciência importante, mas não vão a fundo porque não se sentem competentes”, avalia Lima. “É uma pista importante de que há algo errado na formação dos estudantes”, completa Garcia.
Uma olhada em outros indicadores de ensino reforça a má situação do país na área: no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por exemplo, um dos piores desempenhos do Brasil é em ciências (59º entre 65 países).

Para melhorar o índice, segredo pode estar em investir mais no ensino fundamental e buscar maneiras de manter o interesse dos jovens pela ciência. (foto: Flickr/ emeryjl - CC BY 2.0)Lima recupera a história da educação no país para explicar a situação atual. “O ensino se tornou um grande desafio a partir da década de 1990, pois sua universalização incluiu pessoas historicamente segregadas, famílias com níveis muito baixos de escolaridade”, afirma. A mudança, segundo ela, levou a um natural privilégio do ensino de português e de matemática, por serem competências mais básicas. “Em 25 anos, os avanços nessas áreas ainda não foram suficientes, mas ainda assim acredito que já seja hora de avançar para outros campos, e a ciência é a candidata natural para receber mais atenção.”

Lima: “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”Um dado que se destaca no ILC é o desempenho semelhante de indivíduos com ensino fundamental e com ensino médio – 50% de pessoas do primeiro grupo têm letramento elementar, contra 52% no segundo, que também conta com 15% de pessoas com letramento ausente. Para Lima, as conversas com professores dão pistas sobre os motivos por trás desse resultado, por reforçarem que nas séries iniciais as crianças adoram ciências, mas perdem o interesse depois. “O desempenho no ensino médio deveria ser proporcional ao investimento maior, com professores especialistas e maior carga horária”, diz. “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”

Garcia ressalta a necessidade de criação de programas de ensino voltados para as séries mais baixas. “O impacto da iniciação científica de qualidade desde as primeiras séries pode ser fundamental para despertar o gosto por ciências no futuro”, diz. 

Os organizadores também apostam na educação não formal e na parceria com a iniciativa privada para tentar mudar esse quadro. “Precisamos criar museus e centros de ciência para estimular uma cultura científica que hoje não existe”, defende o presidente da Abramundo. “Podemos pensar, por exemplo, em exposições sobre os ciclos do petróleo ou da agricultura, áreas em que atuam empresas enormes.” Lima conclui: “O problema não é só da escola, já que muitas pessoas não voltarão à sala de aula; é aí que a ação de igrejas, sindicatos e empresas pode ser fundamental.”

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line