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20 novembro 2010

Auditoria Tempos Difíceis

Os tempos difíceis voltaram para as firmas de auditoria. É quase um movimento cíclico. Quando uma delas cai, é difícil evitar uma contaminação, e as perguntas de praxe, "para quê serve auditoria?", "onde estava o auditor?" etc. voltam a compor o repertório da imprensa.

A Deloitte, uma das quatro maiores do mundo no setor, está sob fogo intenso, mas não se sabe ainda se pelos motivos certos. A firma foi acusada em letras garrafais de ter maquiado o rombo do Banco PanAmericano. Pela lógica dos negócios, seria uma coisa muito estúpida de se fazer. As auditorias só têm uma coisa a perder: o nome. Não faz sentido encobrir uma fraude num banco pequeno no Brasil e colocar em risco uma marca mundial que vale bilhões de dólares.

"A administração é responsável pela elaboração das demonstrações financeiras, não a auditoria", diz Ana María Elorrieta, presidente do Ibracon, instituto que representa os auditores independentes. "O auditor também tem responsabilidades, mas não é ele que gera a informação financeira."

Todas as auditorias têm histórias para contar. Estão na linha de frente e, geralmente, são o bode expiatório de uma análise simplista. Não, eles não são agentes da polícia vigiando executivos escroques. Mas têm o dever de chamar a polícia se esbarrarem numa fraude. Mais que isso: têm que se preparar para encontrar a fraude.

É o que rezam as normas internacionais de auditoria, um avanço em relação à postura de outros tempos em que o profissional limitava-se a checar se os números estavam de acordos com os padrões de contabilidade.

E esses padrões, por sinal, também estão mudando, mas o Banco Central insiste em deixar para amanhã a padronização que colocaria no balanço bilhões em empréstimos que atualmente só aparecem em notas explicativas. "A reticência em mudar os procedimentos contábeis atrapalha", diz Guy Almeida Andrade, membro do Ifac, a federação internacional dos contadores. "Vários bancos pequenos estão na mesma situação."

As auditorias podem, sim, ter voltado a gostar de risco. Depois de anos de crescimento acima dos dois dígitos, os auditores - que fazem também as vezes de consultores - parece que se esqueceram do pesadelo do começo dos anos 2000, quando a americana Enron quebrou, em meio a uma fraude bilionária, e levou junto uma das então cinco grandes do setor, a Arthur Andersen.

A repercussão foi devastadora. A lei caiu pesada sobre a cabeça de todos, a autorregulação se foi, as remanescentes entre as grandes, com exceção da Deloitte, venderam suas áreas de consultoria de sistemas, suspeitas de causar um conflito de interesses - a Andersen recebia mais da Enron pelas consultorias do que pela auditoria dos balanços.

Dez anos depois, todas voltaram a investir no negócio. Os controles internos, alegam os executivos, são mais rígidos, o que evitariam os conflitos do passado. Difícil saber. Transparência ainda é um tabu para as auditorias.

Agora, o PanAmericano dá outra lição. "Qualquer análise ainda é muito prematura", diz Ana Maria. "Não sabemos as circunstâncias".

Porém, admite, a profissão sai abalada, e terá que trabalhar para recuperar a confiança.

A Deloitte foi procurada, mas não quis se pronunciar.


Tempos difíceis voltam para as firmas de auditoria - Nelson Niero -
Fonte: Valor Econômico, via FENACON, via blog do Alexandre Alcantara

Auditoria nos Estados Unidos

O Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB, na sigla em inglês) divulgou ontem um relatório em que diz ter identificado "deficiências de auditoria" em um dos trabalhos realizados pela PricewaterhouseCoopers (PwC) no Brasil.

Essa é a quarta inspeção do regulador americano de contabilidade em firmas que atuam no país que vem a público este ano. Antes, saíram relatórios sobre Deloitte, BDO e Ernst & Young, todos com algum tipo de "deficiência".

O PCAOB, uma entidade privada, foi criado pela Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, depois dos escândalos empresariais do início daquela década, tirando os poderes de autorregulação que as firmas tinham até então.

No documento divulgado ontem em seu site, o PCAOB diz que não foram feitos "procedimentos [de auditoria] suficientes no que diz respeito à valorização dos ativos adquiridos e passivos assumidos em uma combinação de negócios"

O relatório não revela o nome da empresa que estava sendo auditada pela PwC.

A inspeção da equipe do PCAOB foi feita entre 30 de outubro e 9 de novembro de 2007 e envolveu trabalhos em 13 clientes de auditoria.

O relatório ressalva que, em alguns casos, a observação que a empresa de auditoria falhou ao executar um procedimento "pode ser baseada na ausência de documentação e ausência de outras provas convincentes, mesmo que uma empresa alegue ter realizado o procedimento".

"Às vezes o auditor não recebe um documento que solicitou, mas comprova a operação por outros meios", disse Henrique Luz, sócio da PwC.

Para ele, as considerações do PCAOB com relação aos trabalhos da PwC não têm "nenhuma gravidade".

"Se você pegar cem relatórios que o PCAOB fez nos Estados Unidos, mais de 90% vão ter algum comentário desse tipo", disse. "O PCAOB tem uma postura mais acadêmica, o que é compreensível."

Em resposta da PwC que consta do documento, a sócia Ana María Elorrieta argumenta que todo processo de auditoria envolve julgamentos. Segundo ela, os procedimentos da empresa foram suficientes para dar suporte ao parecer de auditoria. "No entanto, reconhecemos que certos aspectos da documentação do trabalho de auditoria feito na operação referida poderiam ter sido melhorados."

Segundo o PCAOB, 2.457 firmas de auditoria americanas e não americanas estão registradas no órgão, que faz "inspeções regulares, periódicas de centenas dessas firmas, mas não de todas". Até o momento, 34 países foram visitados pelas equipes de fiscalização. Em alguns países da Europa e na China as autoridades proibiram a atuação do órgão.


Fiscais americanos apontam falha em trabalho da PwC - Nelson Niero | De São Paulo - Valor Econômico (via blog do Atelmo) - 19/11/2010

Panamericano e a auditoria

Na semana passada, o empresário Silvio Santos deu uma demonstração cabal de que tomaria a dianteira do caso PanAmericano. Colocou todos os seus bens em garantia para obter um empréstimo de R$ 2,5 bilhões junto ao Fundo Garantidor de Crédito e cobrir o rombo do banco.

Nos últimos dias, ele deu novos sinais de que pretende continuar à frente dos acontecimentos. Primeiro, sustou o pagamento de R$ 1,6 milhão que deveria ser feito à Deloitte, auditora responsável por averiguar se os balanços da instituição refletiam a realidade contábil, com um argumento irrefutável: se o serviço não foi prestado, não deve ser pago.

Segundo, iniciou sondagens para contratar uma investigação paralela sobre o que aconteceu no PanAmericano – a suspeita de Silvio é que as fraudes tenham contado com a conivência dos auditores. Luiz Sandoval, braço-direito do dono do SBT, tem dito que Silvio irá às “últimas consequências”, o que deve abrir um precedente positivo para moralizar as relações entre bancos e auditorias.

A tendência é que ele contrate a Kroll, que atuou no caso Enron. É um mau presságio para as auditorias. O escândalo Enron provocou a quebra da Arthur Andersen, que, à época, era a principal empresa de auditoria do mundo – foi essa falência que permitiu à Deloitte assumir o topo do ranking.

A ofensiva contra os auditores não parte apenas do grupo Silvio Santos. O presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Juarez Carneiro, nomeou nesta semana um grupo para investigar uma eventual fraude no processo de análise dos balanços do PanAmericano.

Se for comprovada má-fé, os envolvidos – incluindo os auditores da Deloitte – poderão ter seus registros cassados. “Já pedimos informações à Deloitte. Vamos analisar tudo com cautela, mas está difícil acreditar em tudo o que está acontecendo”, disse Carneiro à DINHEIRO. “Parece um erro infantil não captar uma fraude de R$ 2,5 bilhões”, disse.

No caso do PanAmericano, o esquema era aparentemente banal. Carteiras de crédito vendidas a outras instituições continuavam no balanço. Ou seja: o banco registrava a receita da venda no seu caixa e mantinha a carteira dos empréstimos no seu ativo, duplicando – de forma artificial – o ganho com as operações. No ano passado, o banco apresentou R$ 174 milhões de lucro líquido, resultado endossado pela auditoria.

Mais do que simplesmente ignorar as fraudes cometidas pelos executivos do PanAmericano, a Deloitte foi acusada na semana passada, pelo jornal Folha de S.Paulo, de tomar parte no esquema, atuando na própria maquiagem dos balanços. Segundo a Folha, os auditores da Deloitte teriam deixado de fazer checagens primárias nos balanços do PanAmericano, como verificar em que condições as carteiras de crédito teriam sido vendidas.

Especulou-se até que a matriz da Deloitte, nos Estados Unidos, poderia descredenciar a filial brasileira, que tem quatro mil funcionários no País, receita anual de R$ 738 milhões e auditava os balanços do PanAmericano havia quatro anos. Procurada pela DINHEIRO, a Deloitte afirmou que não mais se pronunciaria sobre o caso.

Mas um dos sócios da auditoria, Maurício Pires Resende, havia afirmado na véspera que a responsabilidade pelo fechamento dos balanços é da instituição financeira, não da Deloitte. “O nosso trabalho é verificar se o dado está correto. Se alguém maquia, não é o auditor”, disse ele.

É uma colocação questionável, pois o dever do auditor é justamente encontrar eventuais problemas nos balanços. Se não pecou por ação direta, a Deloitte errou por omissão no caso PanAmericano, assim como em outros episódios recentes, envolvendo Parmalat, Aracruz e Bausch & Lomb.

O fato é que os auditores foram colocados na defensiva. “Ao suspender o pagamento da Deloitte, Silvio Santos atribui a culpa à empresa. Mas a história está malcontada e vai muito além de distribuir culpa”, diz Carlos Alberto Safatle, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP).

“Eu nunca vi na história um caso como esse, em que uma auditoria diz que não viu um rombo de R$ 2,5 bilhões”, diz ele. Além da Deloitte, as contas do banco foram endossadas pela KPMG e Banco Fator, que avaliaram o PanAmericano antes que a Caixa Econômica Federal pagasse mais de R$ 700 milhões por 49% das ações do banco.

Seja fraude, erro ou omissão, o fato é que o episódio do PanAmericano ainda promete novos e decisivos capítulos nas próximas semanas. Não se sabe se a batalha poderá inviabilizar as operações da Deloitte no País, mas deve servir ao menos para tornar mais transparentes as relações entre as auditorias e as empresas que as contratam.


Atenção, Deloitte: Silvio Santos vem aí - Por Hugo Cilo - Isto é Dinheiro

Juros do Panamericano

Nas instituições médias, a taxa do crédito pessoal não chega a 3% ao mês; no banco de Silvo Santos juro mensal supera os 4%

A burocracia para conseguir um crédito pessoal no Banco Panamericano é mínima se comparada à exigida em outras instituições. A facilidade ao cliente, no entanto, é compensada com o pagamento de um dos juros mais altos do mercado.

Segundo dados do Banco Central, a taxa média praticada pelo banco de Silvio Santos no crédito pessoal é de 4,15% ao mês. Instituições de porte semelhante não chegam em 3% ao mês. O banco Votorantim, por exemplo, cobra taxa mensal de 2,19%; o Cruzeiro do Sul 1,59%; o BMG 2,20% e o Daycoval 1,97%.

“A instituição, que trabalha com um crédito massificado direcionado para quem tem uma renda mais baixa, assume um risco maior”, explica o professor José Pereira da Silva, do Centro de Contabilidade, Finanças e Controle da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A história da aposentada Maria Carmem Martins, de 56 anos, ilustra bem o nível de risco que o Panamericano assume ao conceder crédito com baixo nível de exigência burocrática. Ela, que já acumula há alguns meses prestações de outros empréstimos atrasadas, saiu animada na tarde de ontem da agência do Panamericano na Avenida Paulista. “Aqui eu consegui empréstimo.”

A ex-funcionária da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) não consegue contar nos dedos de uma mão a quantidade de instituições em que está inadimplente. “Nossa Caixa, agora o Banco do Brasil, no Real, uma outra financeira... E ainda tem outras mais”, diz.

Questionada sobre qual será a taxa de juros cobrada no novo empréstimo, feito no Banco Panamericano, Maria Carmem diz que não sabe. “A atendente esqueceu de me falar essa parte.”

Pereira, da FGV, reforça que “as taxas de juros elevadas cobrem o risco do crédito”. Ele diz que cada vez mais a concorrência nesse mercado tem ficado acirrada o que, de alguma forma, pode beneficiar o consumidor, desde que ele pesquise as melhores taxas.

Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), confirma que os bancos comerciais, como o Panamericano, têm uma política diferente das instituições maiores. “Os grandes bancos adotam regras mais seguras para o empréstimo.”

Profissionais liberais, como taxistas e motoboys, também são atraídos pelo Panamericano, uma vez que não há necessidade de comprovação de renda fixa. Clerto Barbosa financiou seu novo táxi há oito meses por meio do banco. “Foi o vendedor que me levou ao Panamericano para fazer o empréstimo”, conta. “Ele disse que lá o financiamento era liberado mais rápido.” Dito e feito: duas horas depois, Clerto já estava dando a partida no novo carro.

Regulamentação. No Brasil, o Banco Central funciona como o regulador da liberação do crédito. Os principais bancos adotam o que é denominado de ‘boas práticas’. Dessa forma, eles exigem dos clientes comprovação de renda e endereço e fidelidade ao banco, o que torna o empréstimo mais seguro.

Apesar de recomendar as melhores práticas para o empréstimo, o Banco Central libera às instituições para aplicarem as normas de crédito da forma mais conveniente.

Na avaliação do professor Garcia, da USP, ocorre um “afrouxamento nas regras de empréstimo”. “Às vezes uma pessoa tem o nome sujo na praça e o banco não checa o antecedente dela”, afirma.


Banco Panamericano tem a taxa de juro mais alta - Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli - 20 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Caixa no Controle

A Caixa Econômica Federal hoje é responsável por lei pelo que vier a acontecer no Banco PanAmericano. Ela não responde pelo passado, mas depois da nomeação da nova diretoria e do acordo de acionistas, a CEF passa formalmente a integrar o bloco de controle e nesta condição responde até juridicamente por problemas na instituição. Em outras palavras: o risco foi estatizado.

No mercado, ainda existem muitas dúvidas sobre a operação, e ela tem provocado efeitos na relação entre os bancos. “Ainda não conhecemos o fim dessa história”, me disse uma fonte do mercado bancário privado.

O Banco Central está investigando o procedimento das empresas de auditoria neste caso, porque houve falhas em rotinas que as empresas têm que cumprir. Um exemplo é a de mandar circular para todas as contrapartes, no caso de venda de carteiras, um pedido de dados, para conferir o que uma instituição diz que vendeu e a que a outra diz que comprou. O cruzamento das informações dessas transações tem que ser feito. O que se investiga é por que isso não foi feito ou, se foi, por que nada detectou.

O Banco Central durante a crise de 2008/2009 deu financiamento para que os grandes bancos comprassem carteiras de bancos médios e pequenos. A compra e venda de carteira de crédito é uma transação que ocorre regularmente entre os bancos, mas durante a crise houve um incentivo para que isso ocorresse mais intensamente, para assim dar liquidez às instituições menores ameaçadas pelo aumento da insegurança do investidor. Mais uma razão para que as auditoras fossem cuidadosas com isso. Uma parte da fraude que produziu o rombo no PanAmericano foi exatamente a venda da carteira, mantendo os créditos vendidos no ativo do banco.

No mercado, uma das dúvidas é por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) emprestou a juros zero ao grupo Silvio Santos. No FGC, que tem no seu conselho grandes nomes do mercado bancário brasileiro, o que se explica é que o Banco PanAmericano pagava um seguro ao Fundo para cobrir aplicações dos investidores institucionais até o limite de R$20 milhões por investidor. Isso, além da cobertura normal que o FGC faz, que é dos depósitos até o valor de R$60 mil. Tudo somado, o custo do Fundo seria de R$1,8 bilhão caso o banco quebrasse. Sem falar no risco de contaminação.

O que o FGC quer é não esperar os três anos de carência e começar logo a vender os ativos. O grupo tem 44 empresas, entre elas algumas mais valiosas como a seguradora, a fábrica de cosméticos e, principalmente, o próprio banco, já posto à venda. O que o Fundo quer deixar por último é o SBT, porque considera que a presença de Silvio Santos na emissora é um ativo em si e um atrativo para receitas publicitárias e audiência. Sem ele, a emissora perderia seu principal nome.

O problema foi descoberto pelo próprio Banco Central. A instituição intensificou o trabalho de supervisão exatamente por causa da crise que se abateu sobre bancos de vários países do mundo, a partir da quebra do Lehman Brothers. Portanto, a autoridade monetária acredita que fez seu trabalho.

No mercado, existem algumas dúvidas e sequelas. Uma das dúvidas é quando exatamente o fato foi conhecido pelo BC. A autoridade monetária elevou a exigência de provisão do PanAmericano após o balanço do segundo trimestre. Outra, e mais complexa, é o fato de que quando um banco origina um crédito ele o faz de forma a criar um casamento entre ativos e passivos. Ao vender a carteira, ele tem receita imediata, mas o passivo continua. Pode haver descasamentos. Além disso, continua sendo corresponsável pelo crédito concedido, mesmo após a venda da carteira. Nos bons momentos, nada disso é problema, mas em uma conjuntura de crescimento forte de crédito e de um evento como esse do PanAmericano, os cuidados precisam ser redobrados e é o que os bancos mais prudentes estão fazendo. Um evento desse sempre produz um aumento da incerteza e da insegurança. Contra esse sentimento é que a autoridade monetária está trabalhando. Bancos vivem de um ativo intangível: a confiança.

O caso foi resolvido neste primeiro momento, mas a um preço alto. Para o FGC, um empréstimo a IGP mais 0% de juros de um fundo cuja principal função não é a de emprestar recursos para uma holding que tem um banco para que ela capitalize a instituição. A principal função do Fundo é garantir depositantes. Para a Caixa Econômica Federal, o custo é de ter que entrar mais fundo na instituição. A criação da CaixaPar gerou muita controvérsia e agora se vê que os críticos estavam certos.

Ainda que o negócio tenha recebido a aprovação do Banco Central em julho, a aprovação da constituição da nova diretoria e a entrada da presidente da Caixa na presidência do conselho de administração só aconteceram após anunciado o rombo. Isso significa que sobre o passado só quem responde é o grupo controlador, Silvio Santos, mas de agora em diante a Caixa também é responsável porque integra o grupo controlador, e o acordo de acionistas consagra isso. Ninguém mais tem dúvidas de que se houver qualquer problema de liquidez no banco quem vai cobrir será a Caixa, o que significa uma estatização do risco futuro da instituição.

O problema dessa solução é que ela não pode ser repetida. O FGC não pode sair por aí distribuindo recursos a juros zero, nem se poderá estatizar o risco de outras instituições. O único remédio é aumentar a vigilância, apertar os controles e elevar as exigências prudenciais sobre o mercado bancário brasileiro.


A Caixa no controle - 20 Nov 2010 - O Globo

Panamericano não está à venda

Em reunião realizada nesta sexta-feira (19/11) com representantes da Caixa Econômica Federal, o Grupo Silvio Santos decretou que o Banco Panamericano não está à venda.

O encontrou, que também contou com representantes do próprio Panamericano, controlado pelo GSS, tratou da entrada efetiva da Caixa na gestão e desenvolvimento do banco.

Outro ponto discutido foi a criação de um plano para distribuição de produtos e serviços da Caixa por meio do Panamericano e vice-versa, tais como cartões, consignado, leasing e crédito imobiliário.

Segundo comunicado, foram estabelecidas diretrizes e a construção de um plano de metas para os próximos meses. A meta é transformar o Panamericano "no maior agente de financiamento para pessoas físicas no país, nos segmentos em que atua".

Silvio Santos define que Panamericano não está à venda - Brasil Econômico - 19/11/10 20:55

Resgate de investimento no Panamericano

O rombo no balanço do Panamericano elevou o grau de ansiedade dos investidores que compram cotas dos dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que o banco oferece nas agências.

Desde que começou o problema, os resgates no Autopan e no Master Panamericano superam as aplicações.

E com folga. Neste mês, até dia 16, os dois FIDCs - também chamados de fundos de recebíveis - perderam um total de R$ 324 milhões em saques líquidos (descontados os depósitos) nas cotas seniores, segundo dados levantados pelas consultorias Fortuna e Risk Office.

Esses fundos têm como política de investimentos a aquisição de créditos originários dos financiamentos de veículos concedidos pelo Panamericano.

O Autopan promete retorno de 108% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto o Master Panamericano tem como rentabilidade alvo 112% do CDI. Os dois possuem liquidez diária, sendo que os resgates são pagos no dia seguinte ao pedido.

Foi valendo-se dessa prerrogativa que, estourado o escândalo no dia 10, os investidores imediatamente intensificaram os saques. Só no dia 11, o Autopan perdeu R$ 18 milhões e o Master Panamericano, R$ 65 milhões.

O auge dos saques ocorreu na terça-feira pós-feriado, quando o primeiro fundo viu R$ 31 milhões escorrerem pelo ralo e o segundo, outros R$ 127 milhões.

Os resgates de R$ 324 milhões representam cerca de 12% do patrimônio total que os dois FIDCs tinham no fim de outubro, de R$ 2,7 bilhões, incluindo as cotas seniores e as subordinadas.

Cerca de R$ 486 milhões eram do Autopan e R$ 2,2 bilhões, do Master Panamericano. Considerando apenas o patrimônio das cotas seniores (de pouco mais de R$ 1,6 bilhão), a perda chega a 20%.

As cotas subordinadas servem de garantia para as seniores em caso de inadimplência. Usualmente, são compradas pelo próprio emissor dos direitos creditórios (nesse caso, o Panamericano).

Se algum dos financiamentos de veículo da carteira dos FIDCs não for honrado, o prejuízo recai primeiro sobre as cotas subordinadas. As seniores - em certo grau, protegidas de calote - são as efetivamente distribuídas aos investidores. O patrimônio dos fundos em cotas seniores está hoje em R$ 1,3 bilhão.

Dificuldades

O número de cotistas nos fundos também reduziu sensivelmente. No Master Panamericano, caiu de quase 400 para 317. No Autopan, foi de 182 para 130.

Segundo dados levantados pela consultoria Economatica, fundos de investimentos de gestores como HSBC, Bradesco, BES, Banestes, Capitânia e Gap estão entre os investidores que compram cotas dos dois FIDCs.

"A liquidez diária dos FIDCs já mostra que o banco tinha certa dificuldade de captação. Não é simples vender créditos para honrar resgates", avalia o consultor de investimentos especializado em fundos Marcelo D'Agosto.

"Se confirmados, os resgates das últimas semanas, significa dizer que mais de R$ 300 milhões do aporte de R$ 2,5 bilhões feito pelo controlador com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foram usados só para comprar créditos incluídos nos FIDCs."

Isso sem contar os resgates nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do banco, sobre os quais não há informações oficiais disponíveis. Sem que as aplicações no fundo sejam retomadas, a tendência, segundo D'Agosto, é de que novos resgates saiam do aporte do controlador.

Procurado, o Panamericano informou que não falará sobre captações e resgates no momento.


Fundos do Panamericano perdem R$ 324 mi no mês - Mariana Segala - Brasil Economico - 19/11/10

19 novembro 2010

Rir é o melhor remédio


O investidor, diante do problema da dívida, encontra o para-quedas. O resultado, as medidas de austeridade. Fonte: The Economist

Teste #384

No período de 1989 a 2009, a Ernest & Young doou 17 milhões de dólares para as campanhas políticas nos Estados Unidos. Este foi o valor aproximado doado pela Deloitte e um pouco acima da quantia doada pela Price (16 milhões). A KPMG foi mais mesquinha, com doações de 11 milhões de dólares. Ou 39o., 47o., 50o. e 75o. lugares entre as empresas. Uma destas empresas fez doações iguais entre os democratas (Obama, Clinton etc) e os republicanos (Bush e partidários), enquanto as outras três doaram mais de 60% para um dos dois grandes partidos políticos dos Estados Unidos. Quais são as três empresas de auditoria que privilegiaram um dos partidos e qual é este partido?

Resposta do Anterior: Adobe = 358; Firefox = 12; iTunes = 46; Sims = 1760. Fonte Gizzmodo

Panamericano: Deloitte fala

Entrevista com Maurício Pires Resende, sócio e auditor da Deloitte. Muito interessante.

No jogo de empurra criado com a descoberta do rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano, ninguém apanhou mais do que a Deloitte, o escritório que audita as contas do banco de Silvio Santos há nove anos. Silvio anunciou que vai processar a empresa, além dos ex-diretores do Panamericano. O Banco Central (BC) apontou o dedo para Silvio e para os auditores. E, no mercado, fala-se em responsabilidade do BC e da Deloitte.

Contratada especialmente para conferir as demonstrações financeiras do Panamericano, a empresa só soube do buraco quando o BC convocou seus auditores para uma reunião na segunda-feira da semana passada (8 de novembro), um dia antes de o assunto vir a público. Como isso aconteceu?

“O auditor verifica as informações que lhe são oferecidas. A base é a boa-fé”, diz o sócio Maurício Pires Resende. Nesta entrevista, o Estado apresenta a versão da Deloitte.

O que houve no Panamericano?

Ficamos muito mais surpresos do que vocês possam imaginar. Nosso negócio está fundado em reputação. No momento em que essa credibilidade é colocada em jogo, é muito difícil. Estamos pagando um preço alto: os clientes estão perguntando o que aconteceu, o mercado pergunta, os bancos querem saber... Estamos apanhando, todo mundo quer explicação.

O que vocês têm respondido?

Como já foi dito pelo BC, a Deloitte não cometeu fraude, não maquiamos balanço. O BC encontrou inconsistências contábeis. Onde está a fonte disso? Está no banco, nas pessoas do banco. O que a administração tem a dizer? O que os controladores têm a dizer? Somos auditores, temos um papel e não vamos nos furtar às responsabilidades. Mas entendemos que, numa situação como essa, todos os componentes têm responsabilidade. O administrador em primeiro lugar.

O sr. está dizendo que trabalharam com fatos que não eram verdadeiros. Mas o trabalho de vocês não é justamente avaliar as informações do banco e dizer se são verdadeiras ou não?

Não preparamos as demonstrações financeiras. Somos contratados para emitir opinião sobre até que ponto uma demonstração está de acordo com práticas contábeis estabelecidas em uma jurisdição. Há o papel da administração. Ela tem de ter um sistema de controle interno que permita capturar e registrar as operações, o que, por sua vez, vai gerar as demonstrações financeiras. Quando o auditor faz seu trabalho, aplica testes para se certificar de que a demonstração é correta.

Vocês não tinham de ter detectado os problemas no banco?

Não. Não é papel do auditor detectar uma fraude. Muitas vezes, uma fraude não envolve só a empresa. Estamos falando de uma série de agentes que podem estar dentro da empresa, fora da empresa... Não temos condições de fazer isso. Aí não se trata mais de trabalho de auditor, mas de polícia. O problema é que, no Brasil, especificamente, a figura do auditor é confundida com a figura de polícia.

Não são polícia...

Nós não somos polícia. A cada um compete sua parte de responsabilidade. Se nós não cumprirmos a nossa, estamos sujeitos a processos éticos, administrativos e criminais em questões mais complicadas - que não é o caso.

Desculpe a insistência, mas o auditor dá um atestado para o que está nas demonstrações. Para isso, não precisa checar tudo, para evitar erros?

O auditor verifica as informações e os sistemas que lhe são oferecidos. A base é a boa-fé. A carta de responsabilidade do administrador é para garantir que ele está oferecendo as informações corretas. É fundamental porque ele assume a responsabilidade pelo que está entregando para a auditoria.

Vocês fizeram a circularização (checagem de informações com clientes e outros bancos)?

É importante deixar bem claro: todos os procedimentos de auditoria foram realizados.

Inclusive a circularização?

Sim. Todos os procedimentos foram realizados. Há procedimentos obrigatórios. Há alguns que dependem do planejamento do auditor. Aplicamos os que entendíamos serem necessários para essa situação.

Não dava para um auditor pegar essa fraude contábil?

Não vou dizer que temos fraude porque não sabemos. Sabemos aquilo que o BC reportou de inconsistências contábeis. Dentro desse universo, ainda não chegamos à conclusão se era algo possível de ser descoberto por um auditor.

Como o BC conseguiu descobrir o problema?

O BC fez um trabalho específico, que identificou que havia uma movimentação grande de cessões de crédito e foi investigar. Os procedimentos, quando adotados, revelaram diversas inconsistências. Até chegar à conclusão de que havia o problema.

O auditor não poderia ter feito a mesma coisa que o BC fez?

Não, porque não temos os dados de todo o sistema.

Desde quando vocês auditam os balanços do Panamericano?

Desde 2001.

Vocês continuam trabalhando no banco?

Sim. A menos que o trabalho seja interrompido. Nossa disposição é de cooperar.

Quantos auditores estavam no Panamericano?

É uma equipe.

Como eles estão?

Como estamos todos.

E como estão todos?

Cansados. Em primeiro lugar, estamos profundamente indignados. A adrenalina sobe quando você se sente assim. Então, fica-se mais forte ainda. Sabemos que temos de continuar lutando. Fechamos contratos todos os dias.

Há semelhanças entre esse caso e o da Enron nos EUA?

São muito diferentes. Mas veja que interessante: dois anos depois, a Arthur Andersen foi absolvida no caso. Isso é o que nos preocupa. É uma história que ninguém conta.

Qual a reação da matriz?

A Deloitte não tem matriz. Somos uma rede de empresas, congregada numa entidade chamada Deloitte. Aqui somos uma empresa brasileira que tem sócios, não temos vinculação. Somos 4.000, com 152 sócios. O faturamento no último ano foi de R$ 738 milhões.

Vocês cogitam processar os responsáveis pelas informações falsas?

Estamos impedidos de fazer isso enquanto eles são clientes. Mas, se houver algum dano, é algo que consideramos. Evitamos ao máximo, mas é uma possibilidade jurídica.


‘Não somos polícia. Cada um tem sua responsabilidade’ - 19 Nov 2010 - O Estado de São

Panamericano: Novo diretor

Um dos indicados pela Caixa Participações (Caixapar) para integrar a nova diretoria do Banco Panamericano já foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por irregularidades na celebração e execução de contratos. Raphael Rezende Neto, até então superintendente nacional de Contabilidade e Tributos da Caixa Econômica Federal, mesmo com a decisão do tribunal, foi escolhido para dirigir a área de Controle e Risco.

A Caixa informou que, respeitando a decisão do TCU, “o empregado Raphael Rezende Neto não cometeu nenhuma irregularidade no desempenho de suas atribuições e que prossegue na defesa do referido empregado nas instâncias competentes”. Além disso, o banco reafirmou a confiança na capacidade de a nova diretoria do Banco Panamericano executar o Plano de Negócios definido pelos acionistas.

Em 2005, o TCU constatou irregularidades em contrato da Caixa com a RiskMaths Consultoria e Participações Ltda., para prestação de serviços técnicos de consultoria e transferência de tecnologia na implantação do sistema de gerenciamento do risco operacional. Dentre as irregularidades investigadas estavam contratação de serviço sem licitação, falta de clareza sobre o que estava sendo contratado e ausência de justificativa de preço.

Na época, Rezende Neto e outros executivos do banco foram condenados a devolver R$ 95.719,07 para pagamento de transporte, hospedagem e consultoria em descumprimento às cláusulas do contrato. Também foi fixada multa individual de R$ 4 mil. Rezende Neto recorreu da decisão e teve o provimento acatado parcialmente. Para o TCU, não há como afastar a responsabilidade do executivo no caso, já que sua participação foi decisiva para a contratação.


Diretor indicado pela Caixa foi condenado pelo TCU - Edna Simão - 19 nov 2010 - O Estado de São Paulo

Panamericano e remessa para Miami

Rafael Palladino, ex-diretor superintendente do PanAmericano, remeteu US$2 milhões aos EUA quatro meses antes de o Banco Central descobrir o rombo de R$2,5 bilhões no banco do Grupo Silvio Santos. Em 14 de maio, uma das empresas de Palladino, a Max América Negócios Imobiliários, registrou na Junta Comercial de São Paulo a decisão dos sócios — ele e a mulher, Ruth Ruivo Palladino — de transferir o montante para outra empresa do casal, a homônima Max America of Florida LLC, sediada em Miami.

O registro da Junta Comercial reproduz ata com a decisão de fazer a remessa: “As sócias, expressamente e por unanimidade, sem restrições ou ressalvas, aprovam a seguinte deliberação: aprovar a sociedade a realizar investimentos no exterior no valor em reais equivalente a US$2 milhões, a serem aportados na Max America of Florida LLC”.

Em um documento anterior, de setembro de 2009, um mês depois da criação da empresa de Miami, há a indicação de uma remessa de US$300 mil.

Executivo está no Grupo SS desde o início dos anos 90

O GLOBO teve acesso a dados da Divisão de Corporações do Departamento de Estado da Flórida que mostram que o casal Palladino registrou a empresa em Miami em 4 de agosto de 2009. O endereço é o mesmo da administradora da empresa em Miami, a NS Corporate Services Inc., de um advogado brasileiro.

A Max América Negócios Imobiliários foi comprada por Palladino em fevereiro de 2007. Originalmente, era uma holding de instituições não financeiras, registrada em 2006 como Marosan e com capital de apenas R$1 mil. Palladino mudou o nome, trocou o objeto social para incorporação de imóveis e injetou R$2,19 milhões no capital.

Palladino tem uma série de empresas particulares, como a Max América Participações, aberta em 2007 com capital de R$4,9 milhões. A empresa é constituída por dois sócios, a Max Control Eventos e a Max Control Assessoria e Investimento, ambas de Palladino e de sua mulher. O capital social dessas duas empresas é baixo, o que não impediu que elas declarassem aportes de R$2,1 milhões na Max América Participações.

Também é de Palladino a RCF Administração e Participações, aberta em 2005, com capital de R$549 mil, para atuar no setor de incorporação imobiliária.

Primo de Íris Abravanel, mulher do empresário Silvio Santos, Palladino entrou no Grupo SS no início dos anos 90. Na época, ele era sócio, em postos de gasolina, de Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio que era o homem forte no SBT e que ontem foi indicado como presidente do Grupo Silvio Santos. O GLOBO não conseguiu localizar Palladino em São Paulo. O banco disse que não se manifestará sobre o assunto.

Outros ex-executivos compraram empresas

A prática de comprar empresas pequenas, alterar nomes e objetos sociais e aportar grandes somas também foi usada por outros dois ex-executivos do banco, Elinton Bobrik e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno. Em dezembro, Bruno comprou a Antillas Empreendimentos e Participações, criada dois meses antes com capital de R$100. Aplicou R$300 mil, mudou o nome para Lagonegro Empreendimentos e o objeto social para aluguel de imóveis próprios.

Na mesma ocasião, Bobrik comprou a Razak e a transformou em Bob Rik Serviços Administrativos. Registrou um capital de R$30 mil e mudou o objeto social para serviços de escritório e apoio administrativo. As duas empresas foram compradas dos mesmos negociadores, Ivan dos Santos Freire e Valdison Amorim dos Santos. A dupla tem dezenas de empresas vendidas a altos executivos de empresas brasileiras.

Outra movimentação que chama a atenção é a do ex-diretor financeiro e de relações com investidores do PanAmericano Wilson de Aro. Ele aparece na Junta Comercial como diretor ou ex-diretor de 25 empresas do Grupo Silvio Santos. Também é sócio do empresário no SBT e dono da TV Studios Vale do Paraíba, uma das firmas do Sistema Brasileiro de Televisão. A companhia foi registrada com capital de R$150 mil, divididos igualmente entre De Aro e Luiz Antonio Droghetti Neto.

De Aro abriu duas empresas de consultoria financeira, Focus e Infocus. Nelas, entrou como sócia a GWM Participações, da mulher e da filha de De Aro, com patrimônio de R$3,1 milhões. A GWM foi aberta em 30 de setembro de 2010 e, em 15 de outubro, comprou a Focus e a Infocus. Dez dias depois, a família abriu a M2GW, de R$3,1 milhões. De Aro e a mulher, Marcia Regina Mazeto de Aro, transferiram todo o patrimônio aos filhos.

Ainda para preservar seu patrimônio de possíveis ordens judiciais, o casal declarou que sua casa, nos Jardins, é bem de família. A casa estava em nome de uma das empresas de consultoria de De Aro.


Ex-diretor do PanAmericano fez remessa aos EUA - 19 Nov 2010 - O Globo
Tatiana Farah

Fundos e o Panamericano

O banco PanAmericano, que teve um rombo de R$2,5 bilhões por fraude, é motivo de conversas nos bastidores do 31º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, que acontece esta semana em Olinda (PE). A instituição financeira era, até três semanas atrás, a queridinha dos gestores de investimentos do país, que compravam ações do banco para montar o portfólio dos fundos de previdência. Nos corredores do evento, realizado pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o comentário, unânime, é de “dar um tempo” no banco para ver o “desenrolar da situação”.

Os papéis do PanAmericano fazem parte da carteira de inúmeros fundos de pensão patrocinados por empresas que oferecem planos de previdência aos seus funcionários. São companhias dos mais variados setores, como automobilísticas, de alimentos e de infraestrutura. Segundo um executivo que participa do evento, o PanAmericano sempre era um dos primeiros bancos a serem lembrados na hora de se escolher uma empresa do setor financeiro para compor a carteira de investimentos.

— Essa situação se inverteu. Antes, colocávamos o banco na nossa carteira, pois era uma instituição com bons indicadores e em crescimento. Mas, mesmo que o banco venha a sofrer ainda mais, não deverá causar estragos no mercado, pois a maioria das empresas compra uma quantidade pequena de ações do PanAmericano — disse o executivo, lembrando que há fundos que venderam os papéis assim que estourou o escândalo, para evitar perdas maiores.

Mesmo que a Caixa Econômica Federal tenha ações que correspondem a 49% do capital votante do PanAmericano, as dúvidas são crescentes:

— Ninguém sabe se o banco será vendido. Não se podem comprar ações ou papéis da companhia nesse ambiente. Hoje, ninguém está olhando mais o banco e, ainda assim, todos estão sendo mais criteriosos em relação a instituições financeiras do mesmo porte -— afirma outro executivo que participa do evento.

Enquanto isso, o PanAmericano tenta levar uma vida normal. No estande do evento, do qual já participa há 15 anos, distribui canetas e apresenta seu portfólio de investimento, como fundo de recebíveis, Certificados de Depósito Bancário e debêntures. Muitos clientes em potencial, como empresas e fundos de pensão, passam ao largo do estande para evitar constrangimento. Executivos do PanAmericano batem ponto na porta do estande, mas não estão concedendo entrevistas.


Fundos vão ‘dar um tempo’ no banco - 19 Nov 2010 - O Globo - Bruno Rosa

Mudança na direção do Grupo Sílvio Santos

SÃO PAULO. O presidente do Grupo Silvio Santos, Luiz Sandoval, pediu demissão do cargo ontem à noite. Braço direito do empresário e apresentador, Sandoval pediu demissão, em caráter irrevogável, num momento de grande desgaste para o grupo. Ele estava na holding há 40 anos e deixa o seu cargo máximo pouco mais de uma semana depois de vir a público a existência de um rombo de R$2,5 bilhões nos balanços do banco PanAmericano, o principal braço financeiro do grupo.

Sandoval era próximo de diretor do PanAmericano

Os problemas no banco levaram Silvio Santos a negociar pessoalmente um empréstimo de R$2,5 bilhões junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para salvar a instituição. Todos os executivos do banco haviam sido demitidos na semana passada. Agora cai Sandoval, que tinha relação próxima com o ex-diretor superintendente do PanAmericano, Rafael Palladino, primo da mulher de Silvio Santos, Íris Abravanel.

Essa foi, assim, a primeira baixa no grupo de um executivo do alto escalão fora do banco PanAmericano.

Rafael Palladino e Wilson de Aro, ex-diretor Financeiro e de Relações com Investidores do PanAmericano, são vistos pelo mercado como principais suspeitos pelas manipulações na contabilidade do banco. Ambos estavam há muito tempo no grupo —- Palladino desde 1992, e de Aro, desde 1974 —- e eram considerados pratas da casa na área financeira. Naturalmente, desfrutavam da confiança de Sandoval.

Há alguns anos, em 2004, Palladino tornou-se sócio de Sandoval na TV Studios Anhanguera, empresa de papel que criaram juntos e que é uma afiliada do SBT. Na mesma época, de Aro também tornou-se sócio da TV Studios Vale do Paraíba.

José Roberto Maciel assume vice-presidência da TV

Ontem à noite mesmo, Silvio Santos nomeou seu sobrinho, Guilherme Stoliar, para assumir a presidência do grupo, um holding que controla 44 empresas. Muito próximo ao tio, Stoliar era diretor de rede SBT.

E em seu primeiro ato à frente da holding SS, Stoliar nomeou José Roberto Maciel para assumir a vice-presidência do SBT, cargo que estava vago há três anos. Maciel, como Stoliar, era diretor executivo da Rede de TV do Grupo SS.


Presidente do Grupo Silvio Santos pede demissão - 19 Nov 2010 - O Globo
Ronaldo D’Ercole

Uma parceria de mais de 40 anos foi encerrada ontem à noite com a saída do executivo Luiz Sebastião Sandoval da presidência do Grupo Silvio Santos. Em comunicado oficial, a empresa apenas informa que ele pediu demissão em caráter irrevogável.

Em seu lugar, assume o sobrinho de Silvio Santos, Guilherme Stoliar, que também acumula 40 anos em várias funções no SBT. Atualmente, ocupava o cargo de diretor executivo da rede de emissoras do empresário.

Stoliar, em conversa com o Estado, demonstrou tranquilidade e disse que todos estão “chateados” com o que aconteceu, mas que assumir o novo posto “é natural na vida de um profissional”.

Sobre a saída de Sandoval, alegou que a motivação é de ordem pessoal e não estaria relacionada com os últimos acontecimentos. “Sandoval está abatido como qualquer um de nós. Tão logo soube da situação no Panamericano, convocou uma reunião com todos os executivos da casa.”

Conflito. Sandoval contou ao Estado que deixou o grupo porque houve um momento de confronto com Silvio Santos. “Ele queria decidir de uma maneira, eu de outra. Virou um conflito. Caso eu não concordasse, ele sugeriu que eu pedisse demissão. E foi o que eu fiz. É uma questão de opinião. Ele aceitou a decisão e, no comunicado, fez um elogio ao meu talento e dedicação ao grupo.”

Segundo Sandoval, a crise do Banco Panamericano está bem resolvida. “O dinheiro do fundo garantidor está depositado no banco e garante o dia a dia da operação. A Caixa Econômica está na sociedade. Em breve, tudo voltará ao normal.”

Não haveria outra razão para a sua saída, além do que definiu como “questão conflitante”, sobre a qual não quis dar detalhes por enquanto. “É como um casamento que vai se desgastando. Fiquei na presidência do grupo por 28 anos. É muita coisa.”

Apesar das diferenças, Sandoval reitera que Silvio Santos “é um sujeito fantástico, correto e leal”. “Sempre tivemos personalidades diferentes e agora pusemos um ponto final nessa convivência.”

Palestras. Com aparente calma na voz, Sandoval disse que vai tirar umas férias e depois volta a advogar. Disse também que tem planos de fazer palestras e escrever um livro.

Na nota divulgada pelo Grupo Silvio Santos, o último parágrafo elogia o executivo.

“Há 40 anos no Grupo Silvio Santos, o dr. Luiz Sebastião Sandoval teve um papel fundamental no crescimento dos negócios, tendo participado ativamente na construção de suas empresas. O Grupo Silvio Santos agradece todo o profissionalismo, dedicação e comprometimento com que exerceu sua função em todos esses anos.”

O comunicado também informa que o novo presidente, Guilherme Stoliar, é um profissional de larga experiência e profundo conhecimento dos negócios do grupo. “Stoliar terá como missão dar continuidade ao trabalho de desenvolvimento do grupo, que reúne 44 empresas.”

A nota informa ainda que Stoliar, “já no uso de suas atribuições”, nomeou José Roberto dos Santos Maciel, então diretor administrativo e financeiro do SBT, para o cargo de vice-presidente da emissora.

Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos, e Leon Abravanel, sobrinho do empresário, continuam nos cargos de diretores executivos.


Sandoval deixa o comando do Grupo SS - Marili Ribeiro - 19 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

PanAmericano e o atrevimento do Bacen

Em texto publicado no seu último número, a revista The Economist (Nothing to see here) afirma que Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil, vangloriou da descoberta que um banco sob sua supervisão tinha avaliado em excesso seus ativos.

Os problemas no PanAmericano, especialista em cartões de crédito e crédito consignado e financiamento de automóveis, se tornou público este mês. O banco parece ter vendido empréstimos empacotados para outros bancos, mantendo-os registrados no ativo. Seu diretores foram amplamente substituído. A polícia está investigando o que o banco chama de "inconsistências contábeis".


O texto cita Meirelles, que afirmou que o Banco Central encontrou o problema antes de todos, através de uma verificação de rotina. Uma questão posta pela revista é qual a razão da investigação do mercado de cessão de crédito. Uma possível resposta é a preocupação com a expansão de crédito no Brasil (gráfico)

Madoff

Duas ex-funcionárias que ajudaram o financista Bernard Madoff a preparar a maior fraude da história de Wall Street foram acusadas em Nova York, anunciou nesta quinta-feira a promotoria.

Anette Bongiorno, de 62 anos e funcionária de Madoff durante 40 anos, e Joan Crupi, de 49 e que trabalhou 25 anos para o fraudador, foram detidas na Flórida e em Nova Jersey, respectivamente, informou a promotoria do distrito sul de Nova York.
Madoff, de 72 anos, cumpre desde o ano passado uma pena de 150 anos de prisão pela fraude estimada em cerca de 65 bilhões de dólares, através do "esquema Ponzi".

Segundo a promotoria, Bongiorno e Crupi foram cúmplices, ajudando Madoff durante anos a construir esse sistema fraudulento e beneficiando-se do mesmo. Podem pegar, respectivamente, até 75 e 65 anos de prisão.

"Como todos sabem, Bernard Madoff realizou a maior fraude financeira da história, mas como demonstramos hoje mais uma vez, outros o ajudaram em seu crime épico", comentou Preet Bharara, procurador-chefe do distrito sul.

Segundo Bharara, "um castelo de cartas quase nunca é obra de apenas um arquiteto" e as duas funcionárias "ano após ano protegeram e perpetuaram a fraude de Madoff, enquanto elas mesmas embolsaram dinheiro".

Outros seis colaboradores de Madoff já haviam sido acusados por fraude: seu braço direito, dois executivos, dois especialistas em informática e um contador
.


Funcionárias que ajudaram Madoff em fraude são detidas - Por AFP

18 novembro 2010

Rir é o melhor remédio

A seguir, uma seleção da coluna do José Simão, humorista da Folha de São Paulo, sobre o caso Panamericano:

E o apocalipse do século? O Silvio Santos? Para provar que dinheiro não traz felicidade, olha o slogan: "SBT, A TV MAIS FELIZ DO BRASIL!" Rarará!

E a filha do Silvio Santos que era casada com o filho do Edemar Ferreira? Se separaram, mas continuam com algo em comum: os pais conseguiram quebrar um banco.
18 Novembro


E o Seu Silvio? A PIPA DO VOVÔ NÃO SOBE MAIS! A pipa do vovô quebrou! E o SBT já mudou o Topa Tudo Por Dinheiro pra TROCA TUDO POR DINHEIRO!

Quero ver eles conseguirem trocar a Cristina Rocha. Quando aperta, afrouxa! Rarará!

E o comentando revela que o Ratinho vai fazer exame de DNA em todos os funcionários do PanAmericano. Pra descobrir quem foi que f@#%&odeu com o patrão! Rarará! E um amigo estava no aeroporto quando viu um "banner" perfeito pro Silvio Santos: massagem anticrise financeira. Rarará!

E por que a Hebe não bota as joias no prego da Caixa Econômica? Um brinco já salvava o SBT! Rarará! E a Dilma vai lançar um PAC pro Silvio Santos: Programa de Auditório Caloteiro! E quem vai fazer a auditoria? O auditório. Auditoria de auditório!

17 Novembro


E adivinha qual o tema do dia? SILVIO SANTOS! Rarará! Com a musiquinha do site Comentando: "Silvio Santos Vende Aí! Lalalalá! Siiilvio Santos veeeende aí!" Rarará! E ninguém precisa se preocupar: o Silvio, a Hebe, o Carlos Alberto de Nóbrega e o Moacyr Franco têm, juntos, 2,5 bilhões. De anos! Rarará!

E eu sei como o Silvio Santos pode resolver o rombo do banco: resgatando o FGTS da Hebe! Rarará! E agora, sim, é que o Silvio Santos vai cantar: "A pipa do vovô não sobe mais". Rarará!

E, no meio desse babado todo, um amigo meu recebeu um e-mail: "Auxílio Funeral Banco PanAmericano". Eles estão oferecendo ou pedindo? Rarará! E já reparou que todo banco que patrocina o Corinthians acaba quebrando? Excel, PanAmericano...

O Silvio vai acabar trabalhando no "Pânico", fazendo o papel dele mesmo! Ou, então, vai acabar na vila da dona Florinda, dividindo um quarto com o Quico. Rarará!

Aliás, diz que a rua 25 de Março inteira já está cantando: "Silvio Santos Vem Aí!". E um outro diz que empresta R$ 2,5 bilhões pro Silvio, se ele transferir a Patricia dos produtos Jequiti. E um outro quer comprar o SBT só pra jogar uma torta na cara do Ratinho! Rarará!

16 Novembro



E chegou 2012! APOCALIPSE NOW! O SILVIO SANTOS QUEBROU! E vai pedir ajuda pros universitários? O banco do seu Silvio tem rombo de 2,5 bilhões! Por que ele não botou a menina Maisa pra tomar conta desse banco?

E, em garantia, ele ofereceu o SBT e o Baú. E o Jaça, a menina Maisa e o Bozo. E, se ele não pagar, o Banco Central fica com o Celso Portiolli! Rarará. E um leitor me disse que, pra salvar o SBT, o Silvio Santos vai ter que lançar o TELETOMBO!

E diz que ele maquiou o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso! É claro que ia quebrar. Uma hora o dinheiro acaba!

De tanto que ele grita "Quem quer dinheiro?". "EU! EU!", gritou o Silvio! Ele devia pagar tudo com aviãozinho de dinheiro. Pegava aquelas notas de R$ 50 e vuuuum! Direto do Banco Central!

E eu sou o maior fã do Silvio Santos, de verdade. Principalmente quando ele combina a cor do cinto com a cor do sapato!

E o Chaves? Tô preocupado com o Chaves! Aliás, o seu Silvio vai acabar vestindo o barril do Chaves. Só vai sobrar o barril do Chaves!

14 de Novembro


E 2012 é hoje! Apocalipse Now! O Silvio Santos quebrou! Vamos fazer uma vaquinha! Vou comprar uma telessena pra ajudar o Silvio Santos. Ou um novo Teleton: Teletombo! E o Eike quer comprar o SBT. "Eike gracinha", gritou a Hebe! Mas o Silvio falou pra colunista da Folha Mônica Bergamo que não sabe quem é o Eike! "Não conheço! Quem é esse Elque?" Deve ser a Elque Maravilha. Elke Maravilha compra o SBT!

O Eike vai contratar a Madonna pra trabalhar no SBT! E o site Sensacionalista revela que o Eike quer comprar A PERUCA DO SILVIO SANTOS! Por R$ 2,5 bi! Intermediada pelo Jassa! O Silvio deu como garantia o SBT e o Baú. O Jassa, a menina Maisa e o Bozo! E, se não pagar, o credor fica com o Celso Portiolli! E ele maquiava o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso. Rarará! Eu amo o Silvio Santos. Eu acho que o Silvio Santos não existe, é ficção!

13 Novembro

Teste #383

Este é sobre informática. Quantos disquestes de 3 1/4 seriam necessários para instalar:

Adobe Photoshop CS4
Firefox 3
iTunes 8.02
Sims 3

Eis as possibilidades:

12
46
358
1760

Resposta do Anterior: PwC. Fonte: aqui

Otimismo e a fiscalização bancária

Desde 2004, quando houve a intervenção no Banco Santos, bancos pequenos e médios passaram a enfrentar dificuldades na captação de recursos. Tornaram-se, então, bastante comuns as cessões de carteiras de crédito desses bancos para instituições maiores, de acordo com as normas do Banco Central (BC). Tudo se processava em clima de normalidade, até vir a público o rombo de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano. Graças à utilização de recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), com garantia dos bens do controlador, foi possível manter o Panamericano em operação, sem prejuízo para os depositantes e aplicadores e sem repercussões danosas para o sistema financeiro e para a economia. Contudo, vieram à tona distorções que exigiram um esforço concentrado de fiscalização nessa área por parte do BC.

Não se pode negar que, pela regulamentação adotada no País, com exigências ainda mais rígidas que as previstas pelos Acordos de Basileia, a autoridade monetária evitou que os bancos do País se envolvessem em operações de alto risco, capazes de abalar o sistema financeiro no período mais agudo da crise de crédito internacional. Mas está hoje claro que, em face da não adoção das melhores práticas bancárias, das deficiências de controle interno e falhas não menos graves das auditorias interna e externa, podem surgir problemas como os que se verificaram no Panamericano.

Isso não significa que a autoridade monetária deva mudar totalmente a sua forma de atuar na supervisão do sistema. A regulamentação pode ser aperfeiçoada, mas como assinalou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista ao Estado, seria operacionalmente inviável substituir todos os controles internos e a auditoria externa. Isso “aumentaria de forma descontrolada o chamado risco moral, aquele do qual todos partem do pressuposto de que o governo está olhando todos os detalhes, substituindo todos os órgãos controladores e auditores. De maneira que os gestores, os auditores, os investidores passam a não fazer o seu trabalho, no pressuposto de que o governo fará por eles”.

É evidente que esse trabalho não foi feito no caso do Panamericano. De fato, em dezembro de 2009, a Caixa Econômica Federal, por meio da Caixapar, adquiriu por R$ 793,27 milhões uma participação de 51% no capital votante do Panamericano, depois de oito meses de negociações, com assessoria da KPMG. Apesar da “due diligence” requerida em casos como este, a venda de ativos, sem a correspondente baixa contábil, não foi acusada pelos órgãos de controle interno e passou despercebida pela empresa auditora.

Da mesma forma, a Deloitte, responsável por auditar os balanços, não identificou manobras contábeis que chegam a ser grosseiras, na opinião de técnicos. Observa-se que, para a transparência necessária, os balanços devem conter notas explicativas sobre cada operação de cessão de crédito, o que não foi observado no caso do Panamericano.

Desde que detectou o problema, o BC agiu com presteza. Há um mês uma equipe de técnicos da instituição vem trabalhando para verificar a lisura dessas operações entre bancos pequenos e médios e as grandes instituições financeiras. E, de agora em diante, passará a ser rotina o cruzamento de dados entre os bancos que vendem ativos com os daqueles que os compram, como declarou ao jornal Valor o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffman.

Ao constatar que os diferentes bancos adotam sistemas operacionais diferentes na compra e venda de carteiras de crédito, o BC enviou um questionário detalhado a 40 bancos mais atuantes nessa área. A partir daí poderá estabelecer padrões que facilitem uma supervisão mais efetiva, sem, contudo, congelar esse mercado, como disse o diretor de Fiscalização do BC.

As responsabilidades apuradas no caso do Panamericano passam à área do Ministério Público e da Justiça. O sistema bancário brasileiro é sólido, mas não pode ser totalmente blindado contra fraudes.


A fiscalização dos bancos - 18 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Panamericano e o Grupo SS

Entre 2006 e 2009, o Banco Panamericano evitou que o Grupo Silvio Santos tivesse prejuízo. Nesse período, o banco lucrou R$ 716,7 milhões, enquanto o grupo como um todo apresentou ganho de R$ 678 milhões. Ou seja, considerando o intervalo inteiro, sem a instituição financeira, o resultado teria sido negativo em quase R$ 40 milhões.

Esses cálculos foram feitos com base nos balanços colocados no site do Panamericano e no Relatório Anual referente ao exercício 2009, disponível no site do Grupo Silvio Santos.

É preciso ressaltar que a descoberta do rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano colocou em dúvida toda a contabilidade do banco. Como lembra um analista do setor bancário, os dados podem ter sido manipulados pela antiga administração do Panamericano para maquiar perdas.

Partindo do princípio de que refletiam minimamente a realidade do banco e do grupo, fica claro por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que emprestou os R$ 2,5 bilhões ao empresário Silvio Santos, e outras instituições envolvidas no negócio acreditam que o Panamericano será o primeiro dos ativos do grupo a ser vendido. A outra candidata principal é a empresa de cosméticos Jequiti, considerada bem sucedida do ramo.

Segundo fontes ligadas ao processo, já existiriam interessados no Panamericano – chegou-se a falar que seriam cinco. No entanto, outra pessoa ligada às negociações pondera que Silvio Santos não deve correr para vender os ativos – apesar da pressão dos credores. Em primeiro lugar, porque é um negociador duro.

Em segundo, porque o acordo que fez com o FGC prevê uma carência de três anos para começar a pagar o empréstimo. Até lá, o crédito será corrigido apenas pela variação do IGP-M, o índice de inflação que corrige a maioria dos aluguéis no Brasil.

Hora ruim. Outra fonte observa que o Panamericano mostrará, nos próximos meses, que tem boa capacidade de gerar lucro. “Se (os controladores do banco) me perguntassem, eu diria a eles com muita segurança que agora não é o melhor momento para falar em vendas, pois o ativo tem muito a valorizar no curto/médio prazo”, afirmou.

Em novembro do ano passado, a Caixa Econômica Federal adquiriu 49% do capital votante do Panamericano por quase R$ 740 milhões. Segundo aquela avaliação, o banco valeria cerca de R$ 1,5 bilhão.

No mercado, muitos analistas e investidores têm levantado dúvidas sobre o futuro do Panamericano, uma vez que, nos últimos dias, o banco assistiu a uma sangria de recursos – principalmente em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs).

O Estado apurou que o ritmo de saques, que alcançou R$ 500 milhões no primeiro dia pós-anúncio da operação de salvamento, caiu “drasticamente” ontem, nas palavras de uma pessoa a par da situação.


Sem Panamericano, Grupo SS teria prejuízo - Leandro Modé - 18 Nov 2010- O Estado de São Paulo - COLABOROU PATRÍCIA CANÇADO